É, eu sei que na verdade adaptações dos livros do autor nunca realmente saíram de moda, ganhando séries e filmes com uma frequência assustadora, mas um dos maiores mestres do terror não merecia menos. O remake de It foi um sucesso absoluto, só que nos últimos meses tivemos também a versão cinematográfica de A Torre Negra, e uma nova série de O Nevoeiro, ambos longe de alcançar a fama e qualidade do retorno do palhaço Pennywise. E entre esses altos e baixos, surge Jogo Perigoso (Gerald’s Game), a nova aposta da Netflix.
Jogo Perigoso é uma proposta simples e mais direta ao ponto, ou pelo menos é o que ela dá a entender de cara. O filme se passa quase que totalmente dentro de um quarto, onde a protagonista, algemada na cama durante uma tentativa de brincadeira safadinha de casal que acabou dando muito errado, precisa sobreviver e arrumar um jeito de sair dessa situação. Mas o filme tem muito mais temas a serem discutidos do que isso, Jogo Perigoso é um filme sobre superação, traumas, problemas na relação, abuso infantil, relacionamento abusivo e sobre kobe beef, que custa 200 dólares a porção.
A dinâmica da protagonista, sozinha e presa durante o filme (quase) todo é complicada de se acertar, mas o filme consegue pelo menos chegar perto disso. Existe o uso de flashbacks para explorar o passado e os traumas da personagem, mas na maior parte do tempo ela está ali no quarto presa, o que muda é a parte do sozinha.
Existe a interação dela conversando com o “fantasma” do marido e com ela mesma, quase que em uma relação do capetinha e do anjinho, um em cada ombro. Com a diferença que os dois são só ela pirando mesmo. E ainda tem um cachorro ali, fazendo algo completamente repulsivo durante o filme, mas ele está lá. Além de uma aparição bizarra que também vai lá fazer companhia pra ela durante a noite. Esse quarto isolado é mais frequentado que o meu.
Mas mesmo com tudo isso, a história ainda dá uma arrastada em alguns momentos, até porque nem todos os temas presentes no filme são tão bem explorados assim. E essa situação minimalista acaba adicionando uma dificuldade a mais pro próprio filme, já que você sempre vai estar analisando muito bem cada atitude tomada (ou não tomada), e os pequenos furos que você deixaria passar normalmente acabam ganhando um peso maior aqui. Eu mesmo ainda não estou muito confiante se a solução que ela achou para se hidratar realmente funcionaria, e você também vai fazer vários questionamentos desse tipo durante o filme. Aquela cama nem parece tão firme assim.
A tensão existe de qualquer forma, e mesmo quando você estiver cansado do ritmo, ainda consegue te manter instigado para pelo menos saber como (ou se) ela vai sair dessa situação.
Se muitos temas, possibilidades e teorias são levantados durante o filme, no final ele se torna bem expositivo, com uns bons minutos dedicados a explicar tudo que estava acontecendo. Explica até coisas que você talvez nem tenha percebido que estava acontecendo, e explica tanto que chega a te deixar confuso. Talvez você tenha que procurar a explicação da explicação depois de assistir. E se esses 15 minutos finais acabam seguindo uma direção um pouco decepcionante, os outros 15 minutos antes deles ainda compensam. E que fique que fique o aviso aqui, existe umas cenas visualmente fortes em Jogo Perigoso, com uma em especial que meu amigo, fez meu estômago dar uma revirada nervosa aqui. Vá preparado, e não é vergonha nenhuma desviar um pouco o olhar da tela as vezes.
> Vale a pena assistir?
Jogo Perigoso figura entre as boas adaptações do Stephen King. Tenso e abordando temas importantes, o filme pode dar uma arrastada aqui e uma tropeçada lá, além de não realmente precisar do que é feito nos minutos finais, mas ainda consegue entregar uma boa experiência. E por boa experiência quero dizer angustiante, aflitiva e até repulsiva em certos momentos, do jeito que você espera.
Kingsman é uma franquia safada, e que consegue ser safada de um jeito bem legal. O primeiro filme pegou todo mundo de surpresa, você vai esperando mais um filme de espionagem qualquer, e de repente tá lá Colin Firth arrebentando uma galera na porrada, usando um guarda-chuva. Rebelde e sem vergonha nenhuma de todos os seus absurdos, Kingsman foi um sopro de criatividade no gênero. Uma guardachuvada na cara de criatividade. Então a sequência tinha a missão de manter esse espírito e também de manter o nível, expandindo o universo – e dessa vez sem a carta da surpresa do seu lado. E foi bem sucedido nisso? É, mais ou menos.
Kingsman: O Círculo Dourado realmente expande o universo da franquia, introduzindo os Statesman, o braço americano da organização secreta, com chapéus de cowboy, armas desnecessariamente grandes, bebidas e todo o estilo “hell yeah” de vida, que foi uma ideia, pra mim, espetacular para uma sequência. O problema é, parece que pegaram todas as ideias que tinham e colocaram ali juntas, sem perder muito tempo em filtrar e desenvolver melhor elas.
Uma forma deixar isso mais claro, é falando dos personagens. O Círculo Dourado tem os personagens principais do primeiro filme, mais alguns personagens ressuscitados do primeiro filme e também a volta de personagens pequenos do primeiro filme, que você não esperava ver de novo. Nisso você adiciona agora Channing Tatum, Pedro Pascal, Jeff Bridges, Julianne Moore, Halle Berry e mais alguns personagens menores. E Elton John, como ele mesmo. O resultado é um filme mais longo do que deveria, e que mesmo assim não consegue aproveitar nem metade do elenco. E ainda arrumaram espaço pra uma versão do Trump, abrindo a temporada de filmes onde a figura do presidente americano deixa de ser o cara que pilota o próprio avião, mata os bandidos, fala frases de efeito e salva o mundo, para um completo idiota que não tem ideia do que está fazendo. Já sinto saudades da versão antiga.
Só que o charme do primeiro filme ainda está lá. É um charme reciclado, mas ainda funciona. Enquanto o filme vai empilhando ideias, junto com suas piadinhas e cenas de ação deliciosamente exageradas pra tentar manter o ritmo, é no ato final que ele se encontra, quando deixa boa parte do excesso de novidades e personagens de lado, conseguindo se focar em uma coisa só, como deveria ter feito desde o início, e fazendo isso bem. E ai meu amigo, é pura diversão. Nível “Elton John dando voadora na cara de vagabundo” de diversão. Não chega a existir um equivalente à cena da igreja do primeiro filme, mas chega quase lá. E com uma cena em um festival de música pra mostrar que ainda existe rebeldia na franquia.
O Círculo Dourado é uma sequência que parece que teve mais entusiasmo no início da produção do que no processo de transformar todas as ideias em um filme mesmo. Mas a base construída pelo primeiro é sólida o suficiente pra mesmo uma versão mais morna continuar funcionando.
> Vale a pena assistir?
Kingsman: O Círculo Dourado cumpre o seu papel como uma boa expansão pra franquia, mesmo não sendo o seu melhor capítulo. Pode não conseguir entregar tanto quanto o primeiro filme, mas o que ele entrega continua sendo divertido e totalmente sem vergonha. Sorte nossa.
Paguei uma "dívida" antiga, finalmente assisti Blade Runner (sim, pra poder ver o novo, senão teria enrolado um pouco mais).
Rapaz, que filme bonito. Mesmo se a versão for remasterizada, ainda é impressionante demais visualmente (versões remasterizadas de Star Wars são um nojo, por exemplo). Aquela tecnologia super avançada, mas que é antiquada pra cacete é legal demais. Tem Polaroid com 90k de resolução, mas não tem uma touch screen. Tem carro voando, robôs perfeitos, mas não tem uma lâmpada que ilumine direito. Muito bom.
A trilha sonora também é do caralho, complementa muito bem a ambientação, surpreendente como continua atual. É estranho assistir quando tudo isso é tão familiar pra mim por causa de tudo que foi inspirado nele, mas deve ter sido um puta mindblow na época.
E nossa, o barulho dos tiros nesse filme são MUITO altos, e sempre vem sem aviso, tá lá do nada o pessoal conversando e POWWWWWWWW, tomei cada sustão que puta merda.
Boa cena do mamilo também, aparece lá a mulher sem camisa, você sabe que ela está sem nada, mas a câmera fica ali, no limite, mais um centímetro pra baixo e você conseguiria ver, mas não, ela não desce. Porra, você sabe que está ali, você nem estava ligando, mas por causa disso você precisa ver, você torce pra câmera se descuidar por um momento pra você ver. Ela fica conversando e nada, muda de posição e nada, vai tomar banho e nada. Mas você precisa ver aquele mamilo, você não pode desistir dele assim. Até a hora que aparece, tu nem acredita, acha que foi impressão sua. Ai depois tem ele na tela por um bom tempo, livre, a sensação de vitória é indescritível. É cinema no seu melhor.
A parte final é loucura total, ainda to tenteando entender parte do que acontece ali.
É chave de buceta, ai vai quebrar o pescoço do cara mas desiste na metade, dá só uma giradinha, puxa o nariz e volta pra dar piruleta. Depois o cara doidão ficando de cueca do nada, quebrando parede com a cabeça, sacando uma pomba branca. Excelente.
Bom filme, mas achei que é daqueles casos onde o universo construído e o quão influente ele foi são mais interessantes do que a história do filme em si. Com certeza quero ver mais da franquia agora, hype pro novo subiu muito.
Atividade Paranormal + Manchester à Beira-Mar + Omo Multiação, se o filme já é diferentão todo na proposta e no trailer, quando você assiste então vê que é mais diferente ainda do que você espera.
É um filme sobre um tema específico (que é mais legal descobrir assistindo), e é sim uma boa reflexão sobre isso. Tem sutileza, tem sensibilidade e tem cena de uma personagem comendo uma torta por cinco minutos. Na verdade, parece que toda cena tem pelo menos cinco minutos de duração - mesmo isso tendo seu sentido. Pelo menos o filme tem pouco menos de um hora e meia, se fosse na casa de duas horas eu não sei se iria até o fim.
Definitivamente não é ruim, é denso e simples ao mesmo tempo, te dá bastante coisa pra pensar sem tentar dar um passo além do que ele conseguiria entregar. Mas como filme, é bem monótono. BEM monótono.
Mas é um filme honesto, desde os primeiros minutos ele já mostra qual é a dele, então depende de você decidir se encara ou não. Só achei esse formato quadrado da imagem um jeito bem bobo de tentar dar mais personalidade, não acrescenta nada ao filme. Mas se não acrescenta, pelo menos não atrapalha também.
Não vou dar nota porque não é meu tipo de filme, mas se você gosta de algo mais lento, contemplativo, poético e melancólico, mas que vai te fazer pensar e refletir sobre você mesmo depois, assista A Ghost Story. Mas não assista com sono.
O filme mais odiado das últimas semanas, a versão de Death Note feita pela Netflix vem dividindo opiniões desde que foi lançada. Parte do público achou uma péssima adaptação e uma das piores produções do serviço de streaming mais popular do mundo, enquanto a outra parte achou ainda pior. Causando fúria, lágrimas e decepção pela internet, Death Note é mesmo esse desastre?
Surpreendentemente, não achei o filme tão ruim quanto a sua fama, talvez pelas declarações de ódio e revolta terem levado minha expectativa para o chão, ou pela internet ser ótima em odiar coisas, o que acaba fazendo com que tudo pareça ainda pior do que realmente é, mas a minha experiência assistindo o filme foi, veja só, apenas ruim. Importante ressaltar que não, eu não assisti ao material original, apesar de ter ficado evidente pra mim que não é uma boa adaptação (e o que certamente adiciona muitos pontos negativos pra quem é fã do mangá/anime), mas analisando apenas o filme em si e deixando de lado toda a parte de comparação, Death Note continua tendo uma série de problemas e decisões estranhas, sendo um filme muito corrido, com vários elementos e personagens mal desenvolvidos, mas que consegue entregar um certo entretenimento dessa bagunça toda.
A primeira cena do filme é muito bem feita, com um slowmotion mostrando a escola, apresentando os personagens, música combinando, tudo ficou bem classudo e parecia ser o começo de uma ótima adaptação, mas passado esses um a dois minutos iniciais as coisas acabam indo ladeira abaixo.
Inclusive, a parte mais popular do filme, o encontro do Light Turner com o demônio Ryuk, que mesmo se você não assistiu o filme você já viu essa cena milhares de vezes em todas as redes sociais do mundo, que é usada como o ápice da demonstração de quão distorcido esse filme é, não é uma cena ruim. Eu sei, é completamente o oposto de como as coisas acontecem no anime, mas deixando a comparação de lado ela funciona no filme, e é até divertida. O problema é que ela acontece com cerca de 7 minutos de filme, então a construção de personagem, de tensão e da história em si até esse ponto é zero.
Esse ritmo corrido, embolado e que sempre passa a sensação de que tudo está sendo tratado de forma mais superficial do que deveria segue pelo filme todo, tem momentos em que o filme parece um vídeo do YouTube, só que com umas mortes no estilo Premonição entre as cenas.
Mesmo eu não sendo o maior entusiasta de animes do mundo, existe algo que basicamente só essa mídia consegue entregar, que é fazer coisas bem bizarras parecem legais pra caralho. Não adianta, mesmo sem ter assistido eu consigo ver como o personagem do L, sentando daquele jeito peculiar agachadinho, enquanto come doces e fala de um jeito meio estranho deve ser legal demais na versão original, mas a tentativa de fazer tudo isso no filme simplesmente não funciona. Fica só estranho, forçado, fora de lugar, transformando um dos personagens mais ricos em um dos pontos mais baixos do filme.
A grande virtude de Death Note é que a premissa básica, do caderno onde se escreve o nome e a pessoa morre, do conflito moral e da disputa entre dois lados muito inteligentes (apesar de um pouco menos inteligentes nessa adaptação, né) é muito boa. O que não é mérito nenhum do filme, mas sim do material original, mas que consegue manter tudo ainda um pouco interessante de acompanhar. Talvez o grande feito do filme seja mesmo fazer com que muita gente tenha interesse de assistir ao anime, que também está disponível na Netflix. Já entrou na minha lista.
> Vale a pena assistir?
É difícil recomendar, já que se você é fã do anime, você vai assistir uma versão bem diferente e até revoltante em certos momentos, e se você nunca assistiu ao original, é melhor começar por ele de qualquer forma. É feito pra um público que realmente não tem interesse nenhum em assistir ao anime, porque ai você vai ter um filme com uma execução mais ou menos, mas com uma premissa bem interessante.
O retorno do palhaço Pennywise pode ser o filme de terror mais popular da atualidade – inclusive caminha para ser a maior bilheteria do gênero de todos os tempos, mas It vai muito além de ser apenas um filme de terror. E nem digo isso como um elogio ao filme ou demérito ao gênero, mas sim por intencionalmente a história abranger muito mais estilos e temas do que a pura sanguinolência cinematográfica. It é sobre amizade, companheirismo, enfrentar medos, amadurecer, rolé de bike com os amigos, cartinhas de amor pra bonitinha da escola e até problemas familiares. É um filme que está muito próximo de outras produções como Goonies, Conta Comigo e até o mais recente Stranger Things, só que com um palhaço devorando uma galera no meio disso tudo.
É difícil definir o quão pesado o filme realmente é. Sim, tem cenas bem impactantes e que não tem pudor algum de mostrar o que realmente está acontecendo (e cara, geralmente não é algo bom não), com muitos litros de sangue gastos na produção e alguns membros decepados, mas tudo isso vem junto com uma pegada mais leve, em um filme que não tem pressa e que constantemente muda o foco pra momentos mais divertidos e relaxados.
Inclusive, o filme funciona tão bem no humor quanto nas partes de terror, muito devido ao carisma dos personagens, em especial ao Eddie, aquele amigo hipocondríaco criado em apartamento que todo mundo tem, e ao Richie, que só fala besteira o tempo todo e que vai virar seu personagem preferido de qualquer forma. O próprio Pennywise é carismático, de um jeito bem bizarro e grotesco, mas é.
E a interpretação de Bill Skarsgård é excelente também, criando um vilão único, com seus trejeitos estranhos, olhar estrábico e um sorriso que consegue causar repulsa, mas com uma certa ternura. O trabalho de maquiagem é tão bom que o uso de muitos efeitos especiais no palhaço (principalmente nas cenas dele correndo na direção da câmera) algumas vezes até atrapalham, você já teria o suficiente sem eles, e seria até mais assustador. Mas a imagem do Pennywise funciona muito bem na tela, e por ele ter a habilidade de se transformar no medo das suas vítimas, existe uma variedade bem legal de apresentações durante o filme, o que faz com que você não se acostume tanto com a presença dele na cena, e consegue se manter como algo que causa um incômodo até o final.
Sempre penso que filmes de terror são sobre “menos”, você não precisa mostrar e explicar tudo, deixar algumas pontas soltas e janelas abertas são parte da construção da tensão e da graça, e It faz isso bem em alguns pontos, como não realmente explorar o que é o palhaço, ele simplesmente está ali, e vida que segue. Claro que existem algumas descobertas sobre isso ao longo da história, mas sem passar do ponto. Outra ausência bem explorada são dos adultos, tanto dos pais dos personagens, como dos habitantes da cidade em si. É um filme sobre as crianças, e completamente delas, sendo que a presença adulta só vem como mais um elemento de problema, quando ela traz algo as vezes mais perturbador e problemático do que o próprio monstro do filme. Porém, também existem outros momentos em que o “menos” foi deixado de lado, como o excesso de cenas com o Pennywise atacando os personagens na primeira parte do filme, ou mesmo uma quantidade bem grande de sustinhos. Toda vez que existe uma possibilidade de encaixar um jump scare, eles encaixam. As vezes mais de um. Não chegou a me incomodar, mas poderia ter funcionado melhor se tivessem segurado mais a mão nisso.
O filme tem esse ritmo de montanha-russa, alterando entre cenas tensas e momentos mais leves, que ajudam a manter a experiência geral confortável, mas que ao mesmo tempo atrapalha um pouco a construção da tensão. A primeira cena do filme não só é a mais forte, tensa e impactante, como também é talvez a melhor do filme inteiro – mesmo tendo outras muito boas. É legal começar com essa porrada na cara que te faz pensar “puta merda, porque eu vou assistir isso?”, mas te faz esperar coisas que o filme pode não entregar depois. Mas pelo menos ele entrega o suficiente.
It é um filme simplesmente agradável, o que é uma definição totalmente inesperada por mim antes de assistir, como um filme sobre um palhaço que caça e come crianças pode ser agradável, mas ele consegue ser. Pode não ser um filme tão assustador quanto você espera, porque até as cenas de terror vão pra um lado mais de entretenimento do que do sadismo em si – felizmente. Eu nunca gostei de palhaços, e sempre pensei que a franquia It era algo que eu iria passar longe pro resto da vida, mas depois de assistir a nova versão, eu só consigo pensar em assistir mais uma vez.
> Vale a pena assistir?
O novo It veio para garantir seu lugar em várias listas, como melhores filmes de terror modernos, melhores remakes, e melhores filmes de “amigos unidos encarando altas aventuras”, mesmo que não seja na primeira posição. Um dos filmes mais divertidos de se assistir do ano, sem dúvidas vale muito o seu tempo – e o ingresso do cinema.
Essa não é a primeira (nem a segunda) adaptação recente da história de Pablo Escobar, mas dessa vez deixando o famoso traficante como coadjuvante e se focando em Barry Seal, o piloto gringo que sempre entrega. E não é “qualquer Barry Seal”, Feito na América traz Tom Cruise no papel principal, esbanjando seu charme peculiar que te faz gostar e torcer pelo personagem, mesmo ele sendo um belo de um filho da puta, mas um filho da puta carismático demais.
A história do filme mostra a trajetória de Barry como piloto de avião, virando uma espécie de espião para o governo americano, virando traficante de drogas, e virando mais um monte de coisa, a cada 15 minutos ele ganha um cargo novo. O filme tem muita dessa loucura no ritmo da narrativa, quando você ainda está entendendo bem o que acabou de acontecer, a história já está dez passos na frente e aquilo já muitas vezes nem importa mais. É um ritmo acelerado que consegue manter o filme divertido, mas que também acaba deixando muita coisa sem profundidade, com alguns pedaços da história parecendo uma montagem de melhores momentos – na verdade alguns trechos são exatamente isso.
Uma das coisas que deixam tudo interessante é que Barry Seal não é apresentado como um gênio do crime, com ações calculadas, premeditadas, no controle da situação. Na verdade ele acaba sendo um personagem que toma decisões de forma extremamente impulsiva, com ele no meio de um furacão de acontecimentos onde ele usa suas habilidades como piloto e principalmente seu charme para resolver tudo. O que geralmente leva a um novo problema pra ele poucos minutos depois, mas a vida é assim.
E esse definitivamente é o filme do Tom Cruise, ele não só toma conta da tela e guia totalmente a história, como cria um personagem muito cativante, com um senso de moral deturpado, mas que consegue fazer tudo parecer certo no fim das contas. Ele pode não ser nada confiável e levar drogas ilegalmente de um país para outro, mas faz tudo isso com um belo sorriso e muita simpatia. Pena que o preço disso é que todos os outros personagens são mal explorados, com participação bem reduzida e que acaba fazendo falta pra construir uma história mais rica. Mesmo assim, Tom Cruise consegue entregar sozinho o necessário pro filme valer a pena. Sempre entrega.
> Vale a pena assistir?
Feito na América pode não ser um marco, nem um retrato fiel da história real em que ele se inspira, mas é um filme simplesmente divertido de assistir. Tom Cruise pode ser um cara meio excêntrico na vida real, mas continua fazendo a sua mágica na hora de fazer um personagem cativante e que você gosta de torcer por ele, mesmo não merecendo.
Pra mim acabou sendo uma enorme decepção. Mãe! é polêmico, divisivo, ambicioso, mas principalmente, é ruim pra caramba.
É difícil chamar o filme de pretensioso quando ele nem parece estar tentando entregar alguma coisa. Começa bem, com aquela aura de tensão, tudo é bem incômodo no filme, até quando não tem nada demais acontecendo, a sensação de algo errado não vai embora.
Os primeiros acontecimentos estranhos do filme conseguem instigar, até a hora que ele fica só estranho mesmo. Tão estranho que você para de se importar com as coisas estranhas. Então ele fica simplesmente chato, cansativo, não indo a lugar nenhum, só repetindo o mesmo ciclo. Ai vem a parte final como um caminhão carregado de WTFs, atropelando tudo por motivos de "wow, olha isso hein". Ai acaba.
Tinham sete pessoas no cinema além de mim, e ainda assim duas saíram antes do filme terminar. Se eu fosse mais esperto, seriam três.
É um filme pra refletir depois, conversar sobre, buscar teorias, elaborar as suas próprias. O problema é que a experiência de assistir acaba sendo tão frustrante e entendiante que quando acaba, você não quer mais saber de ir atrás de nada disso. Na verdade, chega um ponto do filme que você nem se importa mais em entender, só quer que acabe logo.
Tem vezes que você acaba de assistir algo e vai atrás de vídeos/artigos explicando o final. No caso de Mãe!, vai ter que ver também um explicando o meio, e outro explicando o início. É uma suruba de metáforas.
Sim, existe um significado por trás das maluquices do filmes, é tudo a representação e reconstrução de algo. O ponto é, não é porque é uma metáfora, porque representa outra coisa, que automaticamente faça ser bom, engenhoso, inteligente ou sequer profundo. Quando se entende todas as referências e o que o filme quer mostrar, não sobra uma mensagem, um sentido, na verdade não sobra nem um bom filme. As atuações são ótimas, toda a parte técnica e de produção é boa, não é falta de competência, é falta de conteúdo. E pra terminar, o filme ainda recorre a cenas bem pesadas e grotescas, que estão ali só pra chocar mesmo e completar o pesadelo. Um pesadelo de duas horas que parecem oito.
Em uma época onde o argumento é achar que quem não gosta é burro, ou não entendeu, eu digo com convicção que eu prefiro ser burro do que achar esse filme bom.
Jogo Perigoso
3.5 1,1K Assista AgoraStephen King está em alta.
É, eu sei que na verdade adaptações dos livros do autor nunca realmente saíram de moda, ganhando séries e filmes com uma frequência assustadora, mas um dos maiores mestres do terror não merecia menos. O remake de It foi um sucesso absoluto, só que nos últimos meses tivemos também a versão cinematográfica de A Torre Negra, e uma nova série de O Nevoeiro, ambos longe de alcançar a fama e qualidade do retorno do palhaço Pennywise. E entre esses altos e baixos, surge Jogo Perigoso (Gerald’s Game), a nova aposta da Netflix.
Jogo Perigoso é uma proposta simples e mais direta ao ponto, ou pelo menos é o que ela dá a entender de cara. O filme se passa quase que totalmente dentro de um quarto, onde a protagonista, algemada na cama durante uma tentativa de brincadeira safadinha de casal que acabou dando muito errado, precisa sobreviver e arrumar um jeito de sair dessa situação. Mas o filme tem muito mais temas a serem discutidos do que isso, Jogo Perigoso é um filme sobre superação, traumas, problemas na relação, abuso infantil, relacionamento abusivo e sobre kobe beef, que custa 200 dólares a porção.
A dinâmica da protagonista, sozinha e presa durante o filme (quase) todo é complicada de se acertar, mas o filme consegue pelo menos chegar perto disso. Existe o uso de flashbacks para explorar o passado e os traumas da personagem, mas na maior parte do tempo ela está ali no quarto presa, o que muda é a parte do sozinha.
Existe a interação dela conversando com o “fantasma” do marido e com ela mesma, quase que em uma relação do capetinha e do anjinho, um em cada ombro. Com a diferença que os dois são só ela pirando mesmo. E ainda tem um cachorro ali, fazendo algo completamente repulsivo durante o filme, mas ele está lá. Além de uma aparição bizarra que também vai lá fazer companhia pra ela durante a noite. Esse quarto isolado é mais frequentado que o meu.
Mas mesmo com tudo isso, a história ainda dá uma arrastada em alguns momentos, até porque nem todos os temas presentes no filme são tão bem explorados assim. E essa situação minimalista acaba adicionando uma dificuldade a mais pro próprio filme, já que você sempre vai estar analisando muito bem cada atitude tomada (ou não tomada), e os pequenos furos que você deixaria passar normalmente acabam ganhando um peso maior aqui. Eu mesmo ainda não estou muito confiante se a solução que ela achou para se hidratar realmente funcionaria, e você também vai fazer vários questionamentos desse tipo durante o filme. Aquela cama nem parece tão firme assim.
A tensão existe de qualquer forma, e mesmo quando você estiver cansado do ritmo, ainda consegue te manter instigado para pelo menos saber como (ou se) ela vai sair dessa situação.
Se muitos temas, possibilidades e teorias são levantados durante o filme, no final ele se torna bem expositivo, com uns bons minutos dedicados a explicar tudo que estava acontecendo. Explica até coisas que você talvez nem tenha percebido que estava acontecendo, e explica tanto que chega a te deixar confuso. Talvez você tenha que procurar a explicação da explicação depois de assistir. E se esses 15 minutos finais acabam seguindo uma direção um pouco decepcionante, os outros 15 minutos antes deles ainda compensam. E que fique que fique o aviso aqui, existe umas cenas visualmente fortes em Jogo Perigoso, com uma em especial que meu amigo, fez meu estômago dar uma revirada nervosa aqui. Vá preparado, e não é vergonha nenhuma desviar um pouco o olhar da tela as vezes.
> Vale a pena assistir?
Jogo Perigoso figura entre as boas adaptações do Stephen King. Tenso e abordando temas importantes, o filme pode dar uma arrastada aqui e uma tropeçada lá, além de não realmente precisar do que é feito nos minutos finais, mas ainda consegue entregar uma boa experiência. E por boa experiência quero dizer angustiante, aflitiva e até repulsiva em certos momentos, do jeito que você espera.
Kingsman: O Círculo Dourado
3.5 885 Assista AgoraKingsman é uma franquia safada, e que consegue ser safada de um jeito bem legal. O primeiro filme pegou todo mundo de surpresa, você vai esperando mais um filme de espionagem qualquer, e de repente tá lá Colin Firth arrebentando uma galera na porrada, usando um guarda-chuva. Rebelde e sem vergonha nenhuma de todos os seus absurdos, Kingsman foi um sopro de criatividade no gênero. Uma guardachuvada na cara de criatividade. Então a sequência tinha a missão de manter esse espírito e também de manter o nível, expandindo o universo – e dessa vez sem a carta da surpresa do seu lado. E foi bem sucedido nisso? É, mais ou menos.
Kingsman: O Círculo Dourado realmente expande o universo da franquia, introduzindo os Statesman, o braço americano da organização secreta, com chapéus de cowboy, armas desnecessariamente grandes, bebidas e todo o estilo “hell yeah” de vida, que foi uma ideia, pra mim, espetacular para uma sequência. O problema é, parece que pegaram todas as ideias que tinham e colocaram ali juntas, sem perder muito tempo em filtrar e desenvolver melhor elas.
Uma forma deixar isso mais claro, é falando dos personagens. O Círculo Dourado tem os personagens principais do primeiro filme, mais alguns personagens ressuscitados do primeiro filme e também a volta de personagens pequenos do primeiro filme, que você não esperava ver de novo. Nisso você adiciona agora Channing Tatum, Pedro Pascal, Jeff Bridges, Julianne Moore, Halle Berry e mais alguns personagens menores. E Elton John, como ele mesmo. O resultado é um filme mais longo do que deveria, e que mesmo assim não consegue aproveitar nem metade do elenco. E ainda arrumaram espaço pra uma versão do Trump, abrindo a temporada de filmes onde a figura do presidente americano deixa de ser o cara que pilota o próprio avião, mata os bandidos, fala frases de efeito e salva o mundo, para um completo idiota que não tem ideia do que está fazendo. Já sinto saudades da versão antiga.
Só que o charme do primeiro filme ainda está lá. É um charme reciclado, mas ainda funciona. Enquanto o filme vai empilhando ideias, junto com suas piadinhas e cenas de ação deliciosamente exageradas pra tentar manter o ritmo, é no ato final que ele se encontra, quando deixa boa parte do excesso de novidades e personagens de lado, conseguindo se focar em uma coisa só, como deveria ter feito desde o início, e fazendo isso bem. E ai meu amigo, é pura diversão. Nível “Elton John dando voadora na cara de vagabundo” de diversão. Não chega a existir um equivalente à cena da igreja do primeiro filme, mas chega quase lá. E com uma cena em um festival de música pra mostrar que ainda existe rebeldia na franquia.
O Círculo Dourado é uma sequência que parece que teve mais entusiasmo no início da produção do que no processo de transformar todas as ideias em um filme mesmo. Mas a base construída pelo primeiro é sólida o suficiente pra mesmo uma versão mais morna continuar funcionando.
> Vale a pena assistir?
Kingsman: O Círculo Dourado cumpre o seu papel como uma boa expansão pra franquia, mesmo não sendo o seu melhor capítulo. Pode não conseguir entregar tanto quanto o primeiro filme, mas o que ele entrega continua sendo divertido e totalmente sem vergonha. Sorte nossa.
Blade Runner: O Caçador de Andróides
4.1 1,6K Assista AgoraPaguei uma "dívida" antiga, finalmente assisti Blade Runner (sim, pra poder ver o novo, senão teria enrolado um pouco mais).
Rapaz, que filme bonito. Mesmo se a versão for remasterizada, ainda é impressionante demais visualmente (versões remasterizadas de Star Wars são um nojo, por exemplo). Aquela tecnologia super avançada, mas que é antiquada pra cacete é legal demais. Tem Polaroid com 90k de resolução, mas não tem uma touch screen. Tem carro voando, robôs perfeitos, mas não tem uma lâmpada que ilumine direito. Muito bom.
A trilha sonora também é do caralho, complementa muito bem a ambientação, surpreendente como continua atual. É estranho assistir quando tudo isso é tão familiar pra mim por causa de tudo que foi inspirado nele, mas deve ter sido um puta mindblow na época.
E nossa, o barulho dos tiros nesse filme são MUITO altos, e sempre vem sem aviso, tá lá do nada o pessoal conversando e POWWWWWWWW, tomei cada sustão que puta merda.
Algumas considerações sobre cenas específicas:
Boa cena do mamilo também, aparece lá a mulher sem camisa, você sabe que ela está sem nada, mas a câmera fica ali, no limite, mais um centímetro pra baixo e você conseguiria ver, mas não, ela não desce. Porra, você sabe que está ali, você nem estava ligando, mas por causa disso você precisa ver, você torce pra câmera se descuidar por um momento pra você ver. Ela fica conversando e nada, muda de posição e nada, vai tomar banho e nada. Mas você precisa ver aquele mamilo, você não pode desistir dele assim. Até a hora que aparece, tu nem acredita, acha que foi impressão sua. Ai depois tem ele na tela por um bom tempo, livre, a sensação de vitória é indescritível. É cinema no seu melhor.
A parte final é loucura total, ainda to tenteando entender parte do que acontece ali.
É chave de buceta, ai vai quebrar o pescoço do cara mas desiste na metade, dá só uma giradinha, puxa o nariz e volta pra dar piruleta. Depois o cara doidão ficando de cueca do nada, quebrando parede com a cabeça, sacando uma pomba branca. Excelente.
Bom filme, mas achei que é daqueles casos onde o universo construído e o quão influente ele foi são mais interessantes do que a história do filme em si. Com certeza quero ver mais da franquia agora, hype pro novo subiu muito.
Sombras da Vida
3.8 1,3K Assista AgoraAtividade Paranormal + Manchester à Beira-Mar + Omo Multiação, se o filme já é diferentão todo na proposta e no trailer, quando você assiste então vê que é mais diferente ainda do que você espera.
É um filme sobre um tema específico (que é mais legal descobrir assistindo), e é sim uma boa reflexão sobre isso. Tem sutileza, tem sensibilidade e tem cena de uma personagem comendo uma torta por cinco minutos. Na verdade, parece que toda cena tem pelo menos cinco minutos de duração - mesmo isso tendo seu sentido. Pelo menos o filme tem pouco menos de um hora e meia, se fosse na casa de duas horas eu não sei se iria até o fim.
Definitivamente não é ruim, é denso e simples ao mesmo tempo, te dá bastante coisa pra pensar sem tentar dar um passo além do que ele conseguiria entregar. Mas como filme, é bem monótono. BEM monótono.
Mas é um filme honesto, desde os primeiros minutos ele já mostra qual é a dele, então depende de você decidir se encara ou não. Só achei esse formato quadrado da imagem um jeito bem bobo de tentar dar mais personalidade, não acrescenta nada ao filme. Mas se não acrescenta, pelo menos não atrapalha também.
Não vou dar nota porque não é meu tipo de filme, mas se você gosta de algo mais lento, contemplativo, poético e melancólico, mas que vai te fazer pensar e refletir sobre você mesmo depois, assista A Ghost Story. Mas não assista com sono.
Death Note
1.8 1,5K Assista AgoraO filme mais odiado das últimas semanas, a versão de Death Note feita pela Netflix vem dividindo opiniões desde que foi lançada. Parte do público achou uma péssima adaptação e uma das piores produções do serviço de streaming mais popular do mundo, enquanto a outra parte achou ainda pior. Causando fúria, lágrimas e decepção pela internet, Death Note é mesmo esse desastre?
Surpreendentemente, não achei o filme tão ruim quanto a sua fama, talvez pelas declarações de ódio e revolta terem levado minha expectativa para o chão, ou pela internet ser ótima em odiar coisas, o que acaba fazendo com que tudo pareça ainda pior do que realmente é, mas a minha experiência assistindo o filme foi, veja só, apenas ruim. Importante ressaltar que não, eu não assisti ao material original, apesar de ter ficado evidente pra mim que não é uma boa adaptação (e o que certamente adiciona muitos pontos negativos pra quem é fã do mangá/anime), mas analisando apenas o filme em si e deixando de lado toda a parte de comparação, Death Note continua tendo uma série de problemas e decisões estranhas, sendo um filme muito corrido, com vários elementos e personagens mal desenvolvidos, mas que consegue entregar um certo entretenimento dessa bagunça toda.
A primeira cena do filme é muito bem feita, com um slowmotion mostrando a escola, apresentando os personagens, música combinando, tudo ficou bem classudo e parecia ser o começo de uma ótima adaptação, mas passado esses um a dois minutos iniciais as coisas acabam indo ladeira abaixo.
Inclusive, a parte mais popular do filme, o encontro do Light Turner com o demônio Ryuk, que mesmo se você não assistiu o filme você já viu essa cena milhares de vezes em todas as redes sociais do mundo, que é usada como o ápice da demonstração de quão distorcido esse filme é, não é uma cena ruim. Eu sei, é completamente o oposto de como as coisas acontecem no anime, mas deixando a comparação de lado ela funciona no filme, e é até divertida. O problema é que ela acontece com cerca de 7 minutos de filme, então a construção de personagem, de tensão e da história em si até esse ponto é zero.
Esse ritmo corrido, embolado e que sempre passa a sensação de que tudo está sendo tratado de forma mais superficial do que deveria segue pelo filme todo, tem momentos em que o filme parece um vídeo do YouTube, só que com umas mortes no estilo Premonição entre as cenas.
Mesmo eu não sendo o maior entusiasta de animes do mundo, existe algo que basicamente só essa mídia consegue entregar, que é fazer coisas bem bizarras parecem legais pra caralho. Não adianta, mesmo sem ter assistido eu consigo ver como o personagem do L, sentando daquele jeito peculiar agachadinho, enquanto come doces e fala de um jeito meio estranho deve ser legal demais na versão original, mas a tentativa de fazer tudo isso no filme simplesmente não funciona. Fica só estranho, forçado, fora de lugar, transformando um dos personagens mais ricos em um dos pontos mais baixos do filme.
A grande virtude de Death Note é que a premissa básica, do caderno onde se escreve o nome e a pessoa morre, do conflito moral e da disputa entre dois lados muito inteligentes (apesar de um pouco menos inteligentes nessa adaptação, né) é muito boa. O que não é mérito nenhum do filme, mas sim do material original, mas que consegue manter tudo ainda um pouco interessante de acompanhar. Talvez o grande feito do filme seja mesmo fazer com que muita gente tenha interesse de assistir ao anime, que também está disponível na Netflix. Já entrou na minha lista.
> Vale a pena assistir?
É difícil recomendar, já que se você é fã do anime, você vai assistir uma versão bem diferente e até revoltante em certos momentos, e se você nunca assistiu ao original, é melhor começar por ele de qualquer forma. É feito pra um público que realmente não tem interesse nenhum em assistir ao anime, porque ai você vai ter um filme com uma execução mais ou menos, mas com uma premissa bem interessante.
It: A Coisa
3.9 3,0K Assista AgoraO retorno do palhaço Pennywise pode ser o filme de terror mais popular da atualidade – inclusive caminha para ser a maior bilheteria do gênero de todos os tempos, mas It vai muito além de ser apenas um filme de terror. E nem digo isso como um elogio ao filme ou demérito ao gênero, mas sim por intencionalmente a história abranger muito mais estilos e temas do que a pura sanguinolência cinematográfica. It é sobre amizade, companheirismo, enfrentar medos, amadurecer, rolé de bike com os amigos, cartinhas de amor pra bonitinha da escola e até problemas familiares. É um filme que está muito próximo de outras produções como Goonies, Conta Comigo e até o mais recente Stranger Things, só que com um palhaço devorando uma galera no meio disso tudo.
É difícil definir o quão pesado o filme realmente é. Sim, tem cenas bem impactantes e que não tem pudor algum de mostrar o que realmente está acontecendo (e cara, geralmente não é algo bom não), com muitos litros de sangue gastos na produção e alguns membros decepados, mas tudo isso vem junto com uma pegada mais leve, em um filme que não tem pressa e que constantemente muda o foco pra momentos mais divertidos e relaxados.
Inclusive, o filme funciona tão bem no humor quanto nas partes de terror, muito devido ao carisma dos personagens, em especial ao Eddie, aquele amigo hipocondríaco criado em apartamento que todo mundo tem, e ao Richie, que só fala besteira o tempo todo e que vai virar seu personagem preferido de qualquer forma. O próprio Pennywise é carismático, de um jeito bem bizarro e grotesco, mas é.
E a interpretação de Bill Skarsgård é excelente também, criando um vilão único, com seus trejeitos estranhos, olhar estrábico e um sorriso que consegue causar repulsa, mas com uma certa ternura. O trabalho de maquiagem é tão bom que o uso de muitos efeitos especiais no palhaço (principalmente nas cenas dele correndo na direção da câmera) algumas vezes até atrapalham, você já teria o suficiente sem eles, e seria até mais assustador. Mas a imagem do Pennywise funciona muito bem na tela, e por ele ter a habilidade de se transformar no medo das suas vítimas, existe uma variedade bem legal de apresentações durante o filme, o que faz com que você não se acostume tanto com a presença dele na cena, e consegue se manter como algo que causa um incômodo até o final.
Sempre penso que filmes de terror são sobre “menos”, você não precisa mostrar e explicar tudo, deixar algumas pontas soltas e janelas abertas são parte da construção da tensão e da graça, e It faz isso bem em alguns pontos, como não realmente explorar o que é o palhaço, ele simplesmente está ali, e vida que segue. Claro que existem algumas descobertas sobre isso ao longo da história, mas sem passar do ponto. Outra ausência bem explorada são dos adultos, tanto dos pais dos personagens, como dos habitantes da cidade em si. É um filme sobre as crianças, e completamente delas, sendo que a presença adulta só vem como mais um elemento de problema, quando ela traz algo as vezes mais perturbador e problemático do que o próprio monstro do filme. Porém, também existem outros momentos em que o “menos” foi deixado de lado, como o excesso de cenas com o Pennywise atacando os personagens na primeira parte do filme, ou mesmo uma quantidade bem grande de sustinhos. Toda vez que existe uma possibilidade de encaixar um jump scare, eles encaixam. As vezes mais de um. Não chegou a me incomodar, mas poderia ter funcionado melhor se tivessem segurado mais a mão nisso.
O filme tem esse ritmo de montanha-russa, alterando entre cenas tensas e momentos mais leves, que ajudam a manter a experiência geral confortável, mas que ao mesmo tempo atrapalha um pouco a construção da tensão. A primeira cena do filme não só é a mais forte, tensa e impactante, como também é talvez a melhor do filme inteiro – mesmo tendo outras muito boas. É legal começar com essa porrada na cara que te faz pensar “puta merda, porque eu vou assistir isso?”, mas te faz esperar coisas que o filme pode não entregar depois. Mas pelo menos ele entrega o suficiente.
It é um filme simplesmente agradável, o que é uma definição totalmente inesperada por mim antes de assistir, como um filme sobre um palhaço que caça e come crianças pode ser agradável, mas ele consegue ser. Pode não ser um filme tão assustador quanto você espera, porque até as cenas de terror vão pra um lado mais de entretenimento do que do sadismo em si – felizmente. Eu nunca gostei de palhaços, e sempre pensei que a franquia It era algo que eu iria passar longe pro resto da vida, mas depois de assistir a nova versão, eu só consigo pensar em assistir mais uma vez.
> Vale a pena assistir?
O novo It veio para garantir seu lugar em várias listas, como melhores filmes de terror modernos, melhores remakes, e melhores filmes de “amigos unidos encarando altas aventuras”, mesmo que não seja na primeira posição. Um dos filmes mais divertidos de se assistir do ano, sem dúvidas vale muito o seu tempo – e o ingresso do cinema.
Feito na América
3.6 357 Assista AgoraEssa não é a primeira (nem a segunda) adaptação recente da história de Pablo Escobar, mas dessa vez deixando o famoso traficante como coadjuvante e se focando em Barry Seal, o piloto gringo que sempre entrega. E não é “qualquer Barry Seal”, Feito na América traz Tom Cruise no papel principal, esbanjando seu charme peculiar que te faz gostar e torcer pelo personagem, mesmo ele sendo um belo de um filho da puta, mas um filho da puta carismático demais.
A história do filme mostra a trajetória de Barry como piloto de avião, virando uma espécie de espião para o governo americano, virando traficante de drogas, e virando mais um monte de coisa, a cada 15 minutos ele ganha um cargo novo. O filme tem muita dessa loucura no ritmo da narrativa, quando você ainda está entendendo bem o que acabou de acontecer, a história já está dez passos na frente e aquilo já muitas vezes nem importa mais. É um ritmo acelerado que consegue manter o filme divertido, mas que também acaba deixando muita coisa sem profundidade, com alguns pedaços da história parecendo uma montagem de melhores momentos – na verdade alguns trechos são exatamente isso.
Uma das coisas que deixam tudo interessante é que Barry Seal não é apresentado como um gênio do crime, com ações calculadas, premeditadas, no controle da situação. Na verdade ele acaba sendo um personagem que toma decisões de forma extremamente impulsiva, com ele no meio de um furacão de acontecimentos onde ele usa suas habilidades como piloto e principalmente seu charme para resolver tudo. O que geralmente leva a um novo problema pra ele poucos minutos depois, mas a vida é assim.
E esse definitivamente é o filme do Tom Cruise, ele não só toma conta da tela e guia totalmente a história, como cria um personagem muito cativante, com um senso de moral deturpado, mas que consegue fazer tudo parecer certo no fim das contas. Ele pode não ser nada confiável e levar drogas ilegalmente de um país para outro, mas faz tudo isso com um belo sorriso e muita simpatia. Pena que o preço disso é que todos os outros personagens são mal explorados, com participação bem reduzida e que acaba fazendo falta pra construir uma história mais rica. Mesmo assim, Tom Cruise consegue entregar sozinho o necessário pro filme valer a pena. Sempre entrega.
> Vale a pena assistir?
Feito na América pode não ser um marco, nem um retrato fiel da história real em que ele se inspira, mas é um filme simplesmente divertido de assistir. Tom Cruise pode ser um cara meio excêntrico na vida real, mas continua fazendo a sua mágica na hora de fazer um personagem cativante e que você gosta de torcer por ele, mesmo não merecendo.
Mãe!
4.0 3,9K Assista AgoraPra mim acabou sendo uma enorme decepção. Mãe! é polêmico, divisivo, ambicioso, mas principalmente, é ruim pra caramba.
É difícil chamar o filme de pretensioso quando ele nem parece estar tentando entregar alguma coisa. Começa bem, com aquela aura de tensão, tudo é bem incômodo no filme, até quando não tem nada demais acontecendo, a sensação de algo errado não vai embora.
Os primeiros acontecimentos estranhos do filme conseguem instigar, até a hora que ele fica só estranho mesmo. Tão estranho que você para de se importar com as coisas estranhas. Então ele fica simplesmente chato, cansativo, não indo a lugar nenhum, só repetindo o mesmo ciclo. Ai vem a parte final como um caminhão carregado de WTFs, atropelando tudo por motivos de "wow, olha isso hein". Ai acaba.
Tinham sete pessoas no cinema além de mim, e ainda assim duas saíram antes do filme terminar. Se eu fosse mais esperto, seriam três.
É um filme pra refletir depois, conversar sobre, buscar teorias, elaborar as suas próprias. O problema é que a experiência de assistir acaba sendo tão frustrante e entendiante que quando acaba, você não quer mais saber de ir atrás de nada disso. Na verdade, chega um ponto do filme que você nem se importa mais em entender, só quer que acabe logo.
Tem vezes que você acaba de assistir algo e vai atrás de vídeos/artigos explicando o final. No caso de Mãe!, vai ter que ver também um explicando o meio, e outro explicando o início. É uma suruba de metáforas.
Sim, existe um significado por trás das maluquices do filmes, é tudo a representação e reconstrução de algo. O ponto é, não é porque é uma metáfora, porque representa outra coisa, que automaticamente faça ser bom, engenhoso, inteligente ou sequer profundo. Quando se entende todas as referências e o que o filme quer mostrar, não sobra uma mensagem, um sentido, na verdade não sobra nem um bom filme. As atuações são ótimas, toda a parte técnica e de produção é boa, não é falta de competência, é falta de conteúdo. E pra terminar, o filme ainda recorre a cenas bem pesadas e grotescas, que estão ali só pra chocar mesmo e completar o pesadelo. Um pesadelo de duas horas que parecem oito.
Em uma época onde o argumento é achar que quem não gosta é burro, ou não entendeu, eu digo com convicção que eu prefiro ser burro do que achar esse filme bom.