À parte o exagero do desfecho, é uma puta demonstração do que dá para fazer com o domínio de espaço e tempo no Cinema. Suspensa foda e retorno em grande estilo dos filmes de animais assassinos.
Existe uma armadilha numa ideia preconceituosa de bom gosto, a qual leva a uma distribuição equivocada de etiquetas de qualidade artística. Por que começo citando isso? Porque o diretor desse filme é um realizador um estigmatizado. Sim, de fato, seu trabalho com a franquia Transformers é problemático, mas isso não é tudo que ele fez e o que pode fazer, como no presente filme. É aquele tipo de trabalho com um certo quê experimental. A maior parte da trama se passa dentro de uma ambulância em alta velocidade. Tiros, explosões, correria. Coisas com as quais o diretor está em casa. Mas, aqui, ele parece querer testar as próprias capacidades de operar com o ritmo, acelerando-o bastante e esticando por muito tempo. Nisso, entrega momentos excelentes. Há um em particular, envolvendo a expectativa num assalto a banco, que é impecável. Quando ação explode, fica difícil não reconhecer a habilidade do cara em dar ordem ao caos. Todavia, isso não se estende à condução dos personagens. Suas premissas são boas, mas seu desenvolvimento é truncado. Há bons momentos, muito graças à entrega dos atores. Mas os arcos poderiam ser melhor desenhados. Ele também não acerta no humor, e a maioria dos personagens incluídos para esse fim poderia ser retirada. O que é triste desses problemas não é estragarem a experiência, porque o filme se mantém como um trabalho digno de ser visto, especialmente num Cinema, seu ambiente ideal. Mas são sobras que, caso devidamente aparadas, resultariam num impecável trabalho do gênero. Tomara que no próximo o diretor Bay tenha um pouco mais de comedimento. Pois habilidade ele tem de sobra.
. Esse foi visto por um interesse muito particular meu. Tenho observado com atenção como as pessoas tendem a abraçar muito facilmente as promessas milagrosas, supostamente científicas, que os gurus da internet oferecem para resolver, basicamente, tudo na vida. Não que o longa seja sobre um deles, mas sim uma empresária americana que afirmou ter desenvolvido tecnologia capaz de fazer diversos exames com uma simples gota de sangue. Facilmente, ela fez a cabeça da imprensa, mercado financeiro e grandes corporações, que passaram exaltá-la como novo grande gênio mundial. A história, em si, tem grande impacto e é narrada com eficiência nesse documentário, que apresenta insights bacanas sobre o poder de vender promessas, mesmo que sua estrutura não seja necessariamente inovadora. É um trabalho relevante como alerta sobre a delicada relação entre comércio e saúde, além de trazer um alivio ao mostrar que não somos apenas nós, simples mortais assalariados, que caímos na lábia dos que vendem sonhos. Sejamos cautelosos, amigos.
Quando alguém emenda uma sequencia de trabalho bons, se dá um fenômeno delicado da comparação entre as obras. Todos esperam que as novas superem as anteriores. Enquanto filme de animação, Encanto não tem nenhum grande problema. É uma animação visualmente estonteante e divertida que equilibra aventura, humor e conflitos emocionais num ótimo ritmo, além de trabalhar temas como tradição e amor familiar de forma terna e tocante. Lhe faria bem um aprofundamento maior nos dramas, sobretudo por conta de suas escolhas temáticas, mas ainda têm força o suficiente para emocionar. É um filme muito bom. Entretanto, fica uma nota abaixo de outros trabalhos do estúdio num ponto particular, muito precioso quando se fala de Disney: as cenas musicais. De fato, são inventivas, mas não cativantes como números de outros longas do estúdio, como Frozen e Moana. Sim, pode soar um argumento um tanto covarde, mas é uma opinião sincera uma que cumpre ser dada, ainda que não pareça refletir a das crianças que estavam no Cinema, aparentemente empolgadas. E isso importa mais que meu senso crítico
Um filme pode tomar um problema da realidade e esmiuçá-lo, ajudando que as pessoas os compreendam. Essa capacidade didática é bastante louvável, mas tentar tornas uma problemática mais acessível pode não ser o caminho ideal para alcançar valor como obra. Em Ataque dos Cães, a diretora Jane Champion trilha o caminho contrário. Questões como machismo e homofobia são habilmente complicadas e aprofundadas. É possível que esse caminho torne os personagens inalcançáveis para certos espectadores. Para mim, engrandeceu-os. Fazia um tempo que um longa não entregava figuras tão cheias de camadas, as quais são pinceladas com intensidade pelos atores e cuidado pela direção. Assim, o que temos aqui é uma tapeçaria rica e delicada, em que gestos, cenários, figurinos e fotografia entregam muito fazendo “pouco”. Um feito cinematográfico precioso que mostra a importância de valorizar olhares ousados e corajosos.
Filmes que as baseiam em eventos reais são complicados. Por um lado, existe a cobrança de fidelidade à “realidade” do ocorrido, doutro e expectativa de que funcione cinematograficamente. Diante disso, Casa Gucci é um produto estranho e que, por vias mais estranhas ainda, funciona. Muitas vezes, por sólidas virtudes fílmicas, seus momentos mais pesados, quando direção, fotografia, cenografia, etc, entregam grande impacto. Em outras, na farsa fanfarrona a exagerada com que trata suas situações e mais ainda seus personagens. Os exageros nas caracterizações e acontecimentos geram um inesperado humor do ridículo, o qual traz um elemento de caos ao que se esperava ser uma sombrio, e pesado, o filme policial. Ridley Scott chutou o balde aqui, o que desapontou muita gente, mas me divertiu, ainda que de maneira inesperada, considerando o assunto. Não sei se era o planejado (acho quase impossível que não), mas, enfim, tá valendo!!!
Quem me conhece mais afundo sabe o quanto resisto ao que a mídia atual fez com a nostalgia. Em resumo, acredito que se tornou uma forma fácil e preguiçosa de vender para gente da minha idade ou aproximada. Mas é claro que isso não vale para todos os casos. Aqui, quando tudo poderia desembocar na gratuidade, se levanta uma tocante homenagem na forma de uma bela história sobre legado. É esse coração que diferencia o novo Caça Fantasmas da adulação gratuita e é dele que o diretor (filho de quem dirigiu os originais) parte para apresentar o universo às novas gerações, representadas num ótimo elenco mirim. Talvez o grande “problema” da obra seja constituir menos apresentação e mais um reencontro, que tende a funcionar melhor para que já os já conhecedores. Não dá para negar, também, que o clímax poderia ser mais impactante considerando as possibilidades abertas pela tecnologia atual. Mesmo assim, é difícil atacar o carinho quase singelo com que tudo é feito. Tal emoção é a mais bela homenagem que consigo imaginar e algo sobre a qual a indústria com um todo tem muito a aprender.
Ao fim da sessão, um questionamento muito particular me acometeu. “Será que é tudo isso?” Em tempos de carência do feeling de Cinema, é importante não se deixar levar pelo hype. Vamos aos problemas primeiro. O roteiro deixa pequenas pontas soltas, coisa que afeta o vilão. Não é um mau personagem. Seus trejeitos são muito bem colocados pelo ator e seu conceito geral é muito bom, mas a motivação e background ficaram um tanto mal desenhados. No mais, pensando bastante, só ocorre uma coisa a dizer: impecável! É o melhor trabalho de Craig como Bond e o restante do elenco também está excelente. Os personagens tem um ótimo desenvolvimento emocional. A fotografia entrega um elaborado e estonteante trabalho de clima e cores. Tudo isso orientado pela magnifica direção de Cary Shoji Fukunaga, a mais elegante que vi num filme do agente. Ele acerta em praticamente tudo. Das cenas de ação intensas, mas filmada com rigor, à atmosfera levemente melancólica que permeia boa parte do longa. A minha vontade era dizer que Sem Tempo Para Morrer é o melhor filme de Bond. A prudência me impede. Mas sinto que é aquele filme que eu procurava em 2021. Uma legítima experiência de Cinema, de telona, som trabalhado e pipoca na mão para testemunhar essa excepcional despedida. Eu dava um rim para ver em IMAX.
Lendo comentários sobre, vi um texto que se refere a ele como um filme de linguagem. Acho a definição interessante e, nesse caso em particular, adequada. Em maligno, o comercialmente bem sucedido e habilidoso James Wan entrega um filme quase experimental. Combina slasher com terror físico e trama policial. Emprega malabarismo tanto de câmera quanto de estrutura, esta última milimetricamente planejada, controlando como e quando fazer a revelações. Tudo isso é feito com domínio habitual do realizador que, neste longa, entrega quase uma síntese de sua carreira, trazendo até as mirabolantes tomadas dos seus filmes de ação. Contudo, não posso negar um ruído em minha relação com ele. Maligno mais me empolgou do que assustou, o que, em um longa de terror, deve ser levado em consideração. Ainda sim, é um trabalho que me agradou imensamente.
Eu poderia chegar aqui e falar tudo de bem. Na verdade, eu queria. Acredito que um filme é mais do que a entrega do seu enredo, logo, me amarrei na proposta de partir de uma premissa simples para oferecer um emaranhado de imagens, sensações e ideias. Estas últimas, em particular, incômodas, desenhando um retrato degradante da jornada humana. Para quem estiver disposto, vivenciará duas torturas. A primeira, genial, numa viagem pelas entranhas do ser, de fortíssimo teor onírico e freudiano, composta com primor cinematográfico indescritível. Em seu clímax, entrega imagens tão incríveis que fazem o espectador se perguntar se está alucinando, as quais fazem umas das mais poderosas representações do êxtase sexual vista em filme (bastante explicita, inclusive). Todavia, tamanho brilhantismo é fatigado pela redundância de boa parte da obra, a segunda tortura acima apontada. Mesmo com tamanha perícia, muitos segmentos se tornam redundantes, o que prejudica justamente a ideia de melodia visual presente no longa. Seria fácil ignorar esses problemas em prol da riqueza contida no trabalho, mas, além de desonesto, não é preciso, pois, mesmo com isso, Enter the Void tem muito que ver, sentir e refletir. Problema é que não precisava demorar tanto para isso.
Como jovem crescido na década de 90, tenho lembranças boas dos filmes de assassinos mascarados. Aqui temos uma retomada do “gênero” que tenta lhe acrescentar elementos. No geral, é um trabalho com bastante energia em seu visual estilizado e montagem rítmica, muito boa em criar uma dinâmica sem apelar a cortes supervelozes. Os personagens são divertidos tanto no texto quanto intepretações. Todavia, não são os protagonistas mais empáticos já vistos em obras como essa. O roteiro pega elementos constantes deste tipo de filme e os combina com outras modalidades do terror. No geral, é bem sucedido, mas não deixa de ter suas pequenas incoerências. Além de tudo, Rua do Medo: 1994 constitui uma espécie de experimento entre filme e série, uma vez que seu final lembra final de temporada de seriado e quase exige que se veja suas continuações, as quais serão lançadas uma por semana. Independente do resultado do conjunto, este é bem divertido.
Tenho que admitir uma coisa, não sou o maior fan de musicais. Sim, muitos deles são filmes maravilhosos, mas não tenho aquele que faça parte da minha vida. Digo isso porque é importante alertar que se trata de um, pois vai pesar muito na apreciação de Um Bairro em Nova York. Ele demorou um pouco a me ganhar justamente por se ancorar demasiadamente nos números de canto e dança, o que parece atrasar a formação narrativa do trabalho. A realidade é que o longa fez uma escolha ousada: mostrar os conflitos de uma comunidade (no caso, um bairro latino nos EUA) em forma de música. Com isso, o foco se alterna entre vários personagens. Não é a primeira vez que é feito, mas não lembro de outra nesse gênero específico. Não digo que seja por combinar as duas coisas, mas senti dificuldade de me engajar na jornada daquelas pessoas. O que resgatou a experiencia foi a beleza e inspiração de certos números, belamente dirigidos, fotografados e coreografados. Creio que bastará aos fans do gênero, mas não sei se ganhará quem não for.
Não foi cheio de ânimo que voltei. Mas aí a telona iluminou e as imagens foram preenchendo minha vista. Aqui, especialmente, do tipo que ficam melhores naquelas proporções. Espetáculos dessa natureza ganham muita força com a projeção, o som. É muito importante ressaltar que isso não dissipa os problemas narrativos. A trama é cheia de facilitações, pequenas e grandes. Os exigentes com a coerência se incomodarão muito com os atalhos do roteiro. Uma queixa justa, mas que não deve cegar para o que o filme mostra de inventivo na sua ação, em que a câmera se posiciona e move de formas inusitadas (por vezes entre os monstros) para brincar com a escala. A luta final merece um brinde particular por suas cores neon estilizadas. Não dá para dizer que essas qualidades apagam o que tem de problemas, mas são fortes o bastante para entregar um retorno divertido aos Cinemas.
O que dizer à respeito deste? Não é fácil divisar a narrativa cinematográfica da outra, muito maior, que a cerca. Em meio à saga de queda e ascensão do diretor e a jornada dos seus fãs para fazer essa produção ser lançada, percebo um filme muito bom, melhor que o anterior, com momentos absolutamente espetaculares (..uma certa cena com Flash), ótimas cenas de ação e boa direção. Muitas das novas passagens desenvolvem os personagens, especialmente Ciborgue, que ganha muita substância, e o vilão, que ficou bem mais ameaçador. Sempre admirei a perícia com Zack Snyder conduz sua câmera e, aqui, ela está em plena forma. Essa habilidade ajuda muito a manter o interesse ao longo de tamanha duração. Mesmo assim, é uma obra auto indulgente que inclui passagens que nada acrescentam, prolongando o filme mais do que o necessário (dava para tirar uma hora sem maiores problemas). No mais, o que temos é uma história geral bem similar não só ao longa anterior, mas a outros crossovers de super-heróis (ameaça, divergências, reunião, vitória). Ainda que tenha grande virtude, o novo Liga da Justiça não constitui um ponto de virada no movimento. Mesmo assim, é filme que vale muito ser visto.
Um filme pode ser inovador pela maneira como a presenta sua história, ainda que ela em si, não seja tão nova. Com isso, não quero dizer que O Som do Silencio tenha um roteiro batido, já que seu texto desenvolve enredo e personagens (que tem um bocado de subtexto, diga-se) com virtude. A jornada do baterista que fica surdo e deve reaprender a viver é, no fim, um conto de recomeço, coisa que já vimos antes. Mas a forma como é visto e, principalmente, ouvido faz a diferença. Ao nos colocar na perspectiva auditiva do protagonista, o longa entrega grandes momentos, promovendo uma ressignificação dos ambientes ao seu redor. Some isso às grandes intepretações, cheias de sutileza, do protagonista e seu par, bem como a sensibilidade da direção em trabalhar essa progressão de sons, imagens e sensações, e temos uma bela obra, daquelas que é difícil imaginar fora do meio cinematográfico.
Voltar aos Cinemas é difícil de definir. Por isso nem tentarei. A intenção é falar de Novos Mutantes. Os trailers me deixaram animado. Fizeram crer num longa subversivo, que puxaria o movimento para o terreno do terror, coisa ainda não feito com super-heróis na sétima arte. Na prática, optaram por enfocar nos dramas do crescimento representados no surgimento dos poderes. Isso não é ruim em si (já foi muito feito nos quadrinhos), mas os conflitos não tem a pujança necessária para emocionar o expectador. Assim, o terror acaba relegado a algumas poucas cenas, onde ele até funciona, mas sem promover a desconstrução que se acreditou. O trabalho como um todo é correto, mas pela expectativa e por ser a obra derradeira de um universo que, mesmo irregular e controverso, ainda entregou alguns dos melhores momentos dos filmes de super-heróis, se esperava algo mais ousado.
Como fan do primeiro dos super heróis, estou sempre na torcida para que suas novas obras façam jus ao seu nome. Homem do Amanhã junta elementos de várias hqs para rerecontar a origem do super (uma segunda-feira no universo de SH). É muito bela a pegada contemplativa escolhida (que casa muito bem com a arte do longa), especialmente na primeira parte, onde a conhecida origem alienígena é evocada em imagens magnificamente compostas. Muito bacana, também, é como o longa reduz a escala da ação sem prejuízo do seu impacto. Mesmo num grau destrutivo menor do que trabalhos recentes do estúdio (e com menos influência dos animes), as lutas funcionam bem. O roteiro acerta em cheio ao focar na formação do caráter do herói e em seu mérito moral. No entanto, a longa peca em conter demais suas emoções. Seu tom contido não é um erro, pelo contrário. Sua sobriedade contemplativa rende momentos de grande poesia. Mas há momentos chave que carecem de emoção maior. Mesmo assim, é um belo recomeço.
O diretor Michael Bay é um dos mais controversos de Hollywood. À despeito do sucesso comercial, seu trabalhado é massacrado pela crítica, mesmo quando apresenta virtudes, como nesse 13 Horas. O.k, entendo quem torce o nariz para essa atitude estadounidense hiperpatriótica. Ela rende momentos delicados, de unfanismo rasgado, que soam incômodas e até constrangedoras. Também sei que outros se doerão pelo aspecto geopolítico da coisa, especialmente a vilanização das populações locais contra as americanos “pacificadores e defensores da democracia”. Sim, tudo isso desafina e subtrai da experiência final. Mas não dá para ignorar as cenas de ação excelentes, em que câmera e corte se coordenam bem para resultar adrenalina. Por mais que se exceda em dados momentos, ainda entrega sequências muito impactantes. Também é necessário reconhecer o que diretor faz na antecipação dos combates, uma virtude inesperada de alguém mais conhecido pelos momentos agitados, mas que acerta em criar expectativa e tensão antes dos tiroteios. Mesmo assim, é inegável Treze Horas é uma obra complicada. Resta ao espectador dizer se sua boa mão para a ação é forte o suficiente para segurar o peso do seu desengonçado patriotismo.
Pela repercussão, parece que fui um dos poucos que gostou desse longa. Ironicamente, critiquei a nostalgia a que seu trailer apelava, quando todos falaram o contrário. Não consigo entender o que esperavam. Scoob é divertido, faz boas referências ao original e outras animações clássicas da Hanna Barbera. Admito ter ficado impressionado com a maneira com que transpuseram o design original para o CG. Além de fiel, conseguiram preservar sua expressividade. Mérito a ser reconhecido e exaltado, pois permitiu que a dinâmica entre Salsicha e Scoob funcionasse perfeitamente, o que é a alma do filme. Agora, de fato, o roteiro traz uma trama genérica. Mais serve para criar situações cômicas para os personagens que, propriamente, desenrolar uma história. Mas, bem, os enredos de Scooby Doo nunca foram seu forte. Assim, o humor a carisma do trabalho, de modo geral, foram o bastante para mim.
É muito comum que a popularidade de cantores gere filmes baseados na sua imagem. Foi assim com Elvis, os Beatles, Michael Jackson. Em alguns casos, saíram longas muito bons (até bem importantes, como os dos Beatles). Não foi bem o que aconteceu em Quem é Essa Garota?, comédia do absurdo feita sob medida para a personalidade excêntrica de Madona. O roteiro, basicamente, costura uma sequência de situações inacreditáveis envolvendo a protagonista e seu par romântico, homem encarregado de leva-la da prisão pra a estação de ônibus. Não é tão transgressor quanto poderia, considerando sua figura central. Na verdade, mais de trinta anos depois, soa bem inocente. Esse é o segredo para ingressar numa história tão inverossímil: ceder à inocência e se permitir ser conduzido pôr sua extravagância e irrealidade. Afinal, esse é o espírito dos 80. Para quem conseguir fazê-lo (e os entusiastas da cantora), pode divertir. Para quem não, melhor evitar.
Já devemos ter visto todos os tipos de heróis de ação. Militares, policiais, matadores, super-heróis, etc. Imortais também tiveram sua vez no clássico Highlander. Como tal, The Old Guard não representa uma ideia necessariamente nova, mas gostei muito de como apresenta os personagens, seu mundo e as dinâmicas que os regem. Charlize Tearon transborda força como a protagonista e o elenco principal é muito bom. A ação padece de certos vícios de câmera na mão, mas a direção a aplica com disciplina e entrega cenas que funcionam. O começo é ótimo, nos envolvendo com aquelas figuras, sua sina e jornada, mas fica previsível do meio em diante graças às viradas facilmente antecipáveis do roteiro. Mas ainda vale a pena pelo universo interessante, ação que funciona e bom protagonismo.
Postei ontem minha opinião sobre o original. Remakes são polêmicos e adam banalizados. No geral, não ponho muita fé. Mas aqui vou nadar contra a minha própria maré e ficar com a refilmagem. Eu poderia simplesmente resumir a uma questão de roteiro, mas vai além. A realidade é que a premissa básica do original, aqui, é levada para outro rumo. Trata-se de uma história bem diferente. Um filme bem diferente. Mesmo sem a inspiração do anterior na ambientação estilizada, ele constrói sua própria de com perecia em criar a sensação de opressão. Aliás, é importante dizer o quanto a condução da coisa toda surpreendeu pela montagem precisa, câmera trabalhada e ótimo elenco que entrega um trabalho excelente de Dakota Johnson e Tilda Swinton (que faz três personagens). Mais uma boa obra da safra recente de terrores autorais, a qual combina elementos assustadores e grotescos com uma interessante carga simbólica de feminilidade (tenho entendimento particular à respeito). Um ótimo trabalho que, supreendentemente, me agradou mais que aquele que o inspirou.
Mais uma vez, a dificuldade de comentar um filme consagrado. Suspiria é clássico absoluto do terror e faz muito por merecer o título. Simplesmente, é uma obra obrigatória no que diz respeito ao uso da cor. Seus tons vibrantes são referência estudada e imitada até hoje, de tão espetacular. A sugestão da violência, do sangue, permeia toda a obra. A direção também entrega momentos muito inspirados, em que a câmera arrojada enquadra cenas poderosas. Sem dúvida, o filme é uma aula de atmosfera e resolve apostar tudo nela, ao ponto de não ter uma trama bem definida. Uma decisão que respeito, mas não funcionou para mim. A falta de uma ameaça melhor definida no roteiro e uma série de revelações comprimidas no ato final me incomodaram bastante. Verdade que precisa ser dita, mesmo diante de tanta virtude a ser admirada em Suspiria.
X: A Marca da Morte
3.4 1,2K Assista AgoraO domínio de gênero que evolui para um olhar sobre suas convenções. Filmaço.
A Fera
2.9 188 Assista AgoraÀ parte o exagero do desfecho, é uma puta demonstração do que dá para fazer com o domínio de espaço e tempo no Cinema. Suspensa foda e retorno em grande estilo dos filmes de animais assassinos.
Ambulância: Um Dia de Crime
2.9 200 Assista AgoraExiste uma armadilha numa ideia preconceituosa de bom gosto, a qual leva a uma distribuição equivocada de etiquetas de qualidade artística. Por que começo citando isso? Porque o diretor desse filme é um realizador um estigmatizado. Sim, de fato, seu trabalho com a franquia Transformers é problemático, mas isso não é tudo que ele fez e o que pode fazer, como no presente filme. É aquele tipo de trabalho com um certo quê experimental. A maior parte da trama se passa dentro de uma ambulância em alta velocidade. Tiros, explosões, correria. Coisas com as quais o diretor está em casa. Mas, aqui, ele parece querer testar as próprias capacidades de operar com o ritmo, acelerando-o bastante e esticando por muito tempo. Nisso, entrega momentos excelentes. Há um em particular, envolvendo a expectativa num assalto a banco, que é impecável. Quando ação explode, fica difícil não reconhecer a habilidade do cara em dar ordem ao caos. Todavia, isso não se estende à condução dos personagens. Suas premissas são boas, mas seu desenvolvimento é truncado. Há bons momentos, muito graças à entrega dos atores. Mas os arcos poderiam ser melhor desenhados. Ele também não acerta no humor, e a maioria dos personagens incluídos para esse fim poderia ser retirada. O que é triste desses problemas não é estragarem a experiência, porque o filme se mantém como um trabalho digno de ser visto, especialmente num Cinema, seu ambiente ideal. Mas são sobras que, caso devidamente aparadas, resultariam num impecável trabalho do gênero. Tomara que no próximo o diretor Bay tenha um pouco mais de comedimento. Pois habilidade ele tem de sobra.
A Inventora: À Procura de Sangue no Vale do Silício
3.8 36 Assista Agora. Esse foi visto por um interesse muito particular meu. Tenho observado com atenção como as pessoas tendem a abraçar muito facilmente as promessas milagrosas, supostamente científicas, que os gurus da internet oferecem para resolver, basicamente, tudo na vida. Não que o longa seja sobre um deles, mas sim uma empresária americana que afirmou ter desenvolvido tecnologia capaz de fazer diversos exames com uma simples gota de sangue. Facilmente, ela fez a cabeça da imprensa, mercado financeiro e grandes corporações, que passaram exaltá-la como novo grande gênio mundial. A história, em si, tem grande impacto e é narrada com eficiência nesse documentário, que apresenta insights bacanas sobre o poder de vender promessas, mesmo que sua estrutura não seja necessariamente inovadora. É um trabalho relevante como alerta sobre a delicada relação entre comércio e saúde, além de trazer um alivio ao mostrar que não somos apenas nós, simples mortais assalariados, que caímos na lábia dos que vendem sonhos. Sejamos cautelosos, amigos.
Encanto
3.8 804Quando alguém emenda uma sequencia de trabalho bons, se dá um fenômeno delicado da comparação entre as obras. Todos esperam que as novas superem as anteriores. Enquanto filme de animação, Encanto não tem nenhum grande problema. É uma animação visualmente estonteante e divertida que equilibra aventura, humor e conflitos emocionais num ótimo ritmo, além de trabalhar temas como tradição e amor familiar de forma terna e tocante. Lhe faria bem um aprofundamento maior nos dramas, sobretudo por conta de suas escolhas temáticas, mas ainda têm força o suficiente para emocionar. É um filme muito bom. Entretanto, fica uma nota abaixo de outros trabalhos do estúdio num ponto particular, muito precioso quando se fala de Disney: as cenas musicais. De fato, são inventivas, mas não cativantes como números de outros longas do estúdio, como Frozen e Moana. Sim, pode soar um argumento um tanto covarde, mas é uma opinião sincera uma que cumpre ser dada, ainda que não pareça refletir a das crianças que estavam no Cinema, aparentemente empolgadas. E isso importa mais que meu senso crítico
Ataque dos Cães
3.7 932Um filme pode tomar um problema da realidade e esmiuçá-lo, ajudando que as pessoas os compreendam. Essa capacidade didática é bastante louvável, mas tentar tornas uma problemática mais acessível pode não ser o caminho ideal para alcançar valor como obra. Em Ataque dos Cães, a diretora Jane Champion trilha o caminho contrário. Questões como machismo e homofobia são habilmente complicadas e aprofundadas. É possível que esse caminho torne os personagens inalcançáveis para certos espectadores. Para mim, engrandeceu-os. Fazia um tempo que um longa não entregava figuras tão cheias de camadas, as quais são pinceladas com intensidade pelos atores e cuidado pela direção. Assim, o que temos aqui é uma tapeçaria rica e delicada, em que gestos, cenários, figurinos e fotografia entregam muito fazendo “pouco”. Um feito cinematográfico precioso que mostra a importância de valorizar olhares ousados e corajosos.
Casa Gucci
3.2 706 Assista AgoraFilmes que as baseiam em eventos reais são complicados. Por um lado, existe a cobrança de fidelidade à “realidade” do ocorrido, doutro e expectativa de que funcione cinematograficamente. Diante disso, Casa Gucci é um produto estranho e que, por vias mais estranhas ainda, funciona. Muitas vezes, por sólidas virtudes fílmicas, seus momentos mais pesados, quando direção, fotografia, cenografia, etc, entregam grande impacto. Em outras, na farsa fanfarrona a exagerada com que trata suas situações e mais ainda seus personagens. Os exageros nas caracterizações e acontecimentos geram um inesperado humor do ridículo, o qual traz um elemento de caos ao que se esperava ser uma sombrio, e pesado, o filme policial. Ridley Scott chutou o balde aqui, o que desapontou muita gente, mas me divertiu, ainda que de maneira inesperada, considerando o assunto. Não sei se era o planejado (acho quase impossível que não), mas, enfim, tá valendo!!!
Ghostbusters: Mais Além
3.5 404 Assista AgoraQuem me conhece mais afundo sabe o quanto resisto ao que a mídia atual fez com a nostalgia. Em resumo, acredito que se tornou uma forma fácil e preguiçosa de vender para gente da minha idade ou aproximada. Mas é claro que isso não vale para todos os casos. Aqui, quando tudo poderia desembocar na gratuidade, se levanta uma tocante homenagem na forma de uma bela história sobre legado. É esse coração que diferencia o novo Caça Fantasmas da adulação gratuita e é dele que o diretor (filho de quem dirigiu os originais) parte para apresentar o universo às novas gerações, representadas num ótimo elenco mirim. Talvez o grande “problema” da obra seja constituir menos apresentação e mais um reencontro, que tende a funcionar melhor para que já os já conhecedores. Não dá para negar, também, que o clímax poderia ser mais impactante considerando as possibilidades abertas pela tecnologia atual. Mesmo assim, é difícil atacar o carinho quase singelo com que tudo é feito. Tal emoção é a mais bela homenagem que consigo imaginar e algo sobre a qual a indústria com um todo tem muito a aprender.
007: Sem Tempo para Morrer
3.6 564 Assista AgoraAo fim da sessão, um questionamento muito particular me acometeu. “Será que é tudo isso?” Em tempos de carência do feeling de Cinema, é importante não se deixar levar pelo hype. Vamos aos problemas primeiro. O roteiro deixa pequenas pontas soltas, coisa que afeta o vilão. Não é um mau personagem. Seus trejeitos são muito bem colocados pelo ator e seu conceito geral é muito bom, mas a motivação e background ficaram um tanto mal desenhados. No mais, pensando bastante, só ocorre uma coisa a dizer: impecável! É o melhor trabalho de Craig como Bond e o restante do elenco também está excelente. Os personagens tem um ótimo desenvolvimento emocional. A fotografia entrega um elaborado e estonteante trabalho de clima e cores. Tudo isso orientado pela magnifica direção de Cary Shoji Fukunaga, a mais elegante que vi num filme do agente. Ele acerta em praticamente tudo. Das cenas de ação intensas, mas filmada com rigor, à atmosfera levemente melancólica que permeia boa parte do longa. A minha vontade era dizer que Sem Tempo Para Morrer é o melhor filme de Bond. A prudência me impede. Mas sinto que é aquele filme que eu procurava em 2021. Uma legítima experiência de Cinema, de telona, som trabalhado e pipoca na mão para testemunhar essa excepcional despedida. Eu dava um rim para ver em IMAX.
Maligno
3.3 1,2KLendo comentários sobre, vi um texto que se refere a ele como um filme de linguagem. Acho a definição interessante e, nesse caso em particular, adequada. Em maligno, o comercialmente bem sucedido e habilidoso James Wan entrega um filme quase experimental. Combina slasher com terror físico e trama policial. Emprega malabarismo tanto de câmera quanto de estrutura, esta última milimetricamente planejada, controlando como e quando fazer a revelações. Tudo isso é feito com domínio habitual do realizador que, neste longa, entrega quase uma síntese de sua carreira, trazendo até as mirabolantes tomadas dos seus filmes de ação. Contudo, não posso negar um ruído em minha relação com ele. Maligno mais me empolgou do que assustou, o que, em um longa de terror, deve ser levado em consideração. Ainda sim, é um trabalho que me agradou imensamente.
Enter The Void: Viagem Alucinante
4.0 871 Assista AgoraEu poderia chegar aqui e falar tudo de bem. Na verdade, eu queria. Acredito que um filme é mais do que a entrega do seu enredo, logo, me amarrei na proposta de partir de uma premissa simples para oferecer um emaranhado de imagens, sensações e ideias. Estas últimas, em particular, incômodas, desenhando um retrato degradante da jornada humana. Para quem estiver disposto, vivenciará duas torturas. A primeira, genial, numa viagem pelas entranhas do ser, de fortíssimo teor onírico e freudiano, composta com primor cinematográfico indescritível. Em seu clímax, entrega imagens tão incríveis que fazem o espectador se perguntar se está alucinando, as quais fazem umas das mais poderosas representações do êxtase sexual vista em filme (bastante explicita, inclusive). Todavia, tamanho brilhantismo é fatigado pela redundância de boa parte da obra, a segunda tortura acima apontada. Mesmo com tamanha perícia, muitos segmentos se tornam redundantes, o que prejudica justamente a ideia de melodia visual presente no longa. Seria fácil ignorar esses problemas em prol da riqueza contida no trabalho, mas, além de desonesto, não é preciso, pois, mesmo com isso, Enter the Void tem muito que ver, sentir e refletir. Problema é que não precisava demorar tanto para isso.
Rua do Medo: 1994 - Parte 1
3.1 773 Assista AgoraComo jovem crescido na década de 90, tenho lembranças boas dos filmes de assassinos mascarados. Aqui temos uma retomada do “gênero” que tenta lhe acrescentar elementos. No geral, é um trabalho com bastante energia em seu visual estilizado e montagem rítmica, muito boa em criar uma dinâmica sem apelar a cortes supervelozes. Os personagens são divertidos tanto no texto quanto intepretações. Todavia, não são os protagonistas mais empáticos já vistos em obras como essa. O roteiro pega elementos constantes deste tipo de filme e os combina com outras modalidades do terror. No geral, é bem sucedido, mas não deixa de ter suas pequenas incoerências. Além de tudo, Rua do Medo: 1994 constitui uma espécie de experimento entre filme e série, uma vez que seu final lembra final de temporada de seriado e quase exige que se veja suas continuações, as quais serão lançadas uma por semana. Independente do resultado do conjunto, este é bem divertido.
Em um Bairro de Nova York
3.6 125 Assista AgoraTenho que admitir uma coisa, não sou o maior fan de musicais. Sim, muitos deles são filmes maravilhosos, mas não tenho aquele que faça parte da minha vida. Digo isso porque é importante alertar que se trata de um, pois vai pesar muito na apreciação de Um Bairro em Nova York. Ele demorou um pouco a me ganhar justamente por se ancorar demasiadamente nos números de canto e dança, o que parece atrasar a formação narrativa do trabalho. A realidade é que o longa fez uma escolha ousada: mostrar os conflitos de uma comunidade (no caso, um bairro latino nos EUA) em forma de música. Com isso, o foco se alterna entre vários personagens. Não é a primeira vez que é feito, mas não lembro de outra nesse gênero específico. Não digo que seja por combinar as duas coisas, mas senti dificuldade de me engajar na jornada daquelas pessoas. O que resgatou a experiencia foi a beleza e inspiração de certos números, belamente dirigidos, fotografados e coreografados. Creio que bastará aos fans do gênero, mas não sei se ganhará quem não for.
Godzilla vs. Kong
3.1 794 Assista AgoraNão foi cheio de ânimo que voltei. Mas aí a telona iluminou e as imagens foram preenchendo minha vista. Aqui, especialmente, do tipo que ficam melhores naquelas proporções. Espetáculos dessa natureza ganham muita força com a projeção, o som. É muito importante ressaltar que isso não dissipa os problemas narrativos. A trama é cheia de facilitações, pequenas e grandes. Os exigentes com a coerência se incomodarão muito com os atalhos do roteiro. Uma queixa justa, mas que não deve cegar para o que o filme mostra de inventivo na sua ação, em que a câmera se posiciona e move de formas inusitadas (por vezes entre os monstros) para brincar com a escala. A luta final merece um brinde particular por suas cores neon estilizadas. Não dá para dizer que essas qualidades apagam o que tem de problemas, mas são fortes o bastante para entregar um retorno divertido aos Cinemas.
Liga da Justiça de Zack Snyder
4.0 1,3KO que dizer à respeito deste? Não é fácil divisar a narrativa cinematográfica da outra, muito maior, que a cerca. Em meio à saga de queda e ascensão do diretor e a jornada dos seus fãs para fazer essa produção ser lançada, percebo um filme muito bom, melhor que o anterior, com momentos absolutamente espetaculares (..uma certa cena com Flash), ótimas cenas de ação e boa direção. Muitas das novas passagens desenvolvem os personagens, especialmente Ciborgue, que ganha muita substância, e o vilão, que ficou bem mais ameaçador. Sempre admirei a perícia com Zack Snyder conduz sua câmera e, aqui, ela está em plena forma. Essa habilidade ajuda muito a manter o interesse ao longo de tamanha duração. Mesmo assim, é uma obra auto indulgente que inclui passagens que nada acrescentam, prolongando o filme mais do que o necessário (dava para tirar uma hora sem maiores problemas). No mais, o que temos é uma história geral bem similar não só ao longa anterior, mas a outros crossovers de super-heróis (ameaça, divergências, reunião, vitória). Ainda que tenha grande virtude, o novo Liga da Justiça não constitui um ponto de virada no movimento. Mesmo assim, é filme que vale muito ser visto.
O Som do Silêncio
4.1 986 Assista AgoraUm filme pode ser inovador pela maneira como a presenta sua história, ainda que ela em si, não seja tão nova. Com isso, não quero dizer que O Som do Silencio tenha um roteiro batido, já que seu texto desenvolve enredo e personagens (que tem um bocado de subtexto, diga-se) com virtude. A jornada do baterista que fica surdo e deve reaprender a viver é, no fim, um conto de recomeço, coisa que já vimos antes. Mas a forma como é visto e, principalmente, ouvido faz a diferença. Ao nos colocar na perspectiva auditiva do protagonista, o longa entrega grandes momentos, promovendo uma ressignificação dos ambientes ao seu redor. Some isso às grandes intepretações, cheias de sutileza, do protagonista e seu par, bem como a sensibilidade da direção em trabalhar essa progressão de sons, imagens e sensações, e temos uma bela obra, daquelas que é difícil imaginar fora do meio cinematográfico.
Os Novos Mutantes
2.6 719 Assista AgoraVoltar aos Cinemas é difícil de definir. Por isso nem tentarei. A intenção é falar de Novos Mutantes. Os trailers me deixaram animado. Fizeram crer num longa subversivo, que puxaria o movimento para o terreno do terror, coisa ainda não feito com super-heróis na sétima arte. Na prática, optaram por enfocar nos dramas do crescimento representados no surgimento dos poderes. Isso não é ruim em si (já foi muito feito nos quadrinhos), mas os conflitos não tem a pujança necessária para emocionar o expectador. Assim, o terror acaba relegado a algumas poucas cenas, onde ele até funciona, mas sem promover a desconstrução que se acreditou. O trabalho como um todo é correto, mas pela expectativa e por ser a obra derradeira de um universo que, mesmo irregular e controverso, ainda entregou alguns dos melhores momentos dos filmes de super-heróis, se esperava algo mais ousado.
Superman: O Homem do Amanhã
3.2 71Como fan do primeiro dos super heróis, estou sempre na torcida para que suas novas obras façam jus ao seu nome. Homem do Amanhã junta elementos de várias hqs para rerecontar a origem do super (uma segunda-feira no universo de SH). É muito bela a pegada contemplativa escolhida (que casa muito bem com a arte do longa), especialmente na primeira parte, onde a conhecida origem alienígena é evocada em imagens magnificamente compostas. Muito bacana, também, é como o longa reduz a escala da ação sem prejuízo do seu impacto. Mesmo num grau destrutivo menor do que trabalhos recentes do estúdio (e com menos influência dos animes), as lutas funcionam bem. O roteiro acerta em cheio ao focar na formação do caráter do herói e em seu mérito moral. No entanto, a longa peca em conter demais suas emoções. Seu tom contido não é um erro, pelo contrário. Sua sobriedade contemplativa rende momentos de grande poesia. Mas há momentos chave que carecem de emoção maior. Mesmo assim, é um belo recomeço.
13 Horas - Os Soldados Secretos de Benghazi
3.5 309O diretor Michael Bay é um dos mais controversos de Hollywood. À despeito do sucesso comercial, seu trabalhado é massacrado pela crítica, mesmo quando apresenta virtudes, como nesse 13 Horas. O.k, entendo quem torce o nariz para essa atitude estadounidense hiperpatriótica. Ela rende momentos delicados, de unfanismo rasgado, que soam incômodas e até constrangedoras. Também sei que outros se doerão pelo aspecto geopolítico da coisa, especialmente a vilanização das populações locais contra as americanos “pacificadores e defensores da democracia”. Sim, tudo isso desafina e subtrai da experiência final. Mas não dá para ignorar as cenas de ação excelentes, em que câmera e corte se coordenam bem para resultar adrenalina. Por mais que se exceda em dados momentos, ainda entrega sequências muito impactantes. Também é necessário reconhecer o que diretor faz na antecipação dos combates, uma virtude inesperada de alguém mais conhecido pelos momentos agitados, mas que acerta em criar expectativa e tensão antes dos tiroteios. Mesmo assim, é inegável Treze Horas é uma obra complicada. Resta ao espectador dizer se sua boa mão para a ação é forte o suficiente para segurar o peso do seu desengonçado patriotismo.
Scooby! - O Filme
3.3 243Pela repercussão, parece que fui um dos poucos que gostou desse longa. Ironicamente, critiquei a nostalgia a que seu trailer apelava, quando todos falaram o contrário. Não consigo entender o que esperavam. Scoob é divertido, faz boas referências ao original e outras animações clássicas da Hanna Barbera. Admito ter ficado impressionado com a maneira com que transpuseram o design original para o CG. Além de fiel, conseguiram preservar sua expressividade. Mérito a ser reconhecido e exaltado, pois permitiu que a dinâmica entre Salsicha e Scoob funcionasse perfeitamente, o que é a alma do filme. Agora, de fato, o roteiro traz uma trama genérica. Mais serve para criar situações cômicas para os personagens que, propriamente, desenrolar uma história. Mas, bem, os enredos de Scooby Doo nunca foram seu forte. Assim, o humor a carisma do trabalho, de modo geral, foram o bastante para mim.
Quem é Essa Garota?
3.0 193 Assista AgoraÉ muito comum que a popularidade de cantores gere filmes baseados na sua imagem. Foi assim com Elvis, os Beatles, Michael Jackson. Em alguns casos, saíram longas muito bons (até bem importantes, como os dos Beatles). Não foi bem o que aconteceu em Quem é Essa Garota?, comédia do absurdo feita sob medida para a personalidade excêntrica de Madona. O roteiro, basicamente, costura uma sequência de situações inacreditáveis envolvendo a protagonista e seu par romântico, homem encarregado de leva-la da prisão pra a estação de ônibus. Não é tão transgressor quanto poderia, considerando sua figura central. Na verdade, mais de trinta anos depois, soa bem inocente. Esse é o segredo para ingressar numa história tão inverossímil: ceder à inocência e se permitir ser conduzido pôr sua extravagância e irrealidade. Afinal, esse é o espírito dos 80. Para quem conseguir fazê-lo (e os entusiastas da cantora), pode divertir. Para quem não, melhor evitar.
The Old Guard
3.5 662 Assista AgoraJá devemos ter visto todos os tipos de heróis de ação. Militares, policiais, matadores, super-heróis, etc. Imortais também tiveram sua vez no clássico Highlander. Como tal, The Old Guard não representa uma ideia necessariamente nova, mas gostei muito de como apresenta os personagens, seu mundo e as dinâmicas que os regem. Charlize Tearon transborda força como a protagonista e o elenco principal é muito bom. A ação padece de certos vícios de câmera na mão, mas a direção a aplica com disciplina e entrega cenas que funcionam. O começo é ótimo, nos envolvendo com aquelas figuras, sua sina e jornada, mas fica previsível do meio em diante graças às viradas facilmente antecipáveis do roteiro. Mas ainda vale a pena pelo universo interessante, ação que funciona e bom protagonismo.
Suspíria: A Dança do Medo
3.7 1,2K Assista AgoraPostei ontem minha opinião sobre o original. Remakes são polêmicos e adam banalizados. No geral, não ponho muita fé. Mas aqui vou nadar contra a minha própria maré e ficar com a refilmagem. Eu poderia simplesmente resumir a uma questão de roteiro, mas vai além. A realidade é que a premissa básica do original, aqui, é levada para outro rumo. Trata-se de uma história bem diferente. Um filme bem diferente. Mesmo sem a inspiração do anterior na ambientação estilizada, ele constrói sua própria de com perecia em criar a sensação de opressão. Aliás, é importante dizer o quanto a condução da coisa toda surpreendeu pela montagem precisa, câmera trabalhada e ótimo elenco que entrega um trabalho excelente de Dakota Johnson e Tilda Swinton (que faz três personagens). Mais uma boa obra da safra recente de terrores autorais, a qual combina elementos assustadores e grotescos com uma interessante carga simbólica de feminilidade (tenho entendimento particular à respeito). Um ótimo trabalho que, supreendentemente, me agradou mais que aquele que o inspirou.
Suspiria
3.8 979 Assista AgoraMais uma vez, a dificuldade de comentar um filme consagrado. Suspiria é clássico absoluto do terror e faz muito por merecer o título. Simplesmente, é uma obra obrigatória no que diz respeito ao uso da cor. Seus tons vibrantes são referência estudada e imitada até hoje, de tão espetacular. A sugestão da violência, do sangue, permeia toda a obra. A direção também entrega momentos muito inspirados, em que a câmera arrojada enquadra cenas poderosas. Sem dúvida, o filme é uma aula de atmosfera e resolve apostar tudo nela, ao ponto de não ter uma trama bem definida. Uma decisão que respeito, mas não funcionou para mim. A falta de uma ameaça melhor definida no roteiro e uma série de revelações comprimidas no ato final me incomodaram bastante. Verdade que precisa ser dita, mesmo diante de tanta virtude a ser admirada em Suspiria.