Eu amei que o filme é um pouco paródico com o gênero. Adota todas as convenções possíveis, beirando o ridículo. O final é bem satisfatório. Não esperava.
Sensacional. Deboche com classe e inteligência. Será que era um retorno a esse tipo de filme que o Almodóvar estava querendo quando fez o péssimo "Amantes passageiros"? Se sim, passou longe.
Durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff, li uma notícia que comentava a presença de Anna Muylaert no Alvorada durante os últimos dias da presidente no palácio. A expectativa era alta, mas sinto que a diretora pôde, ao fim, filmar muito menos do que gostaria, daí o filme insosso, do qual poucas cenas se salvam. Destaco o final, com as empregadas terceirizadas. Governos erguem-se e caem nesta república e o povo, como em 1889, assiste a tudo como "bestializados".
Mais um pra conta da febra do "terror social". "Nós", "Atlantique", "Bacurau" e cia na lista. A forma do passado que vem cobrar o seu, dentro de uma moldura fantástica, já está ficando batida...
O livro de Jeremias, segundo na lista de profetas posteriores da Bíblia Hebraica, profetiza (e poetiza) a invasão dos reinos de Israel e Judá pelos babilônios. Após um breve período de prosperidade, sustentado pelos governos de Davi e Salomão, o reino unido de Israel se viu dividido entre norte e sul, termos geográficos que encerram diferenças muito mais profundas que suas respectivas posições no mapa. Tanto o norte, que em um curto período deixaria de existir, quanto o sul, futuro da civilização hebraica e berço do judaísmo, foram alvo das terríveis profecias de Jeremias. O profeta, diante da ameaça estrangeira, tinha por missão unir o povo sob a égide da religião hebraica. Este, no entanto, se fez de surdo e conquistou a ira de seu deus. “E clamarão por mim, mas eu não os ouvirei”, diz um dos versos mais célebres do livro. O abandono trágico anunciado em Jeremias 11:11, dois mil e quinhentos anos depois serviria de epígrafe para Jordan Peele em seu “Us”. O filme narra a thebirdiana aparição de duplos malignos por todo o território dos Estados Unidos que, de túneis subterrâneos abandonados, sobem à terra para eliminar os da superfície. O duplo é matéria fértil para escritores e diretores que se prestam a discutir a identidade. Posso me lembrar de Dostoiévski e Saramago, para usar exemplos que conheço de perto. Em Peele, entretanto, fico engasgado ao tentar dizer que a identidade está no centro do debate. Isto é, a identidade é, seguramente, mote da produção de Peele, porém, ao contrário do que ocorre em O duplo e O homem duplicado, sua fragilidade não desponta como discussão principal, e sim suas múltiplas dobras, o que vemos e o que ignoramos em nós mesmos. Nesse sentido, o título do filme é ponto de partida de uma das muitas dicotomias presentes na produção: “Us” pode significar, em inglês, “nós” ou “Estados Unidos”. Individual e social aparecem conjugados, portanto, já no título do longa. Tal relação é reforçada se o espectador tem acesso à referência bíblia de Jr 11:11: as advertências do profeta se dirigiam tanto aos indivíduos quanto ao sujeito-coletivo Israel. Como profeta americano, J. Peele (J. aqui se torna ambíguo), se dirige, assim, tanto ao espectador enquanto indivíduo, quanto como parte de uma coletividade. Se em Jeremias, a invasão babilônica é o motivo da desgraça hebraica, em “Us”, a aparição de duplos sombrios marca a derrocada da nação e da família protagonista. O fantástico, aqui, não é usado apenas como resposta a demandas da indústria, é parte fundamental da constituição do sentido da obra. Este se constrói através da duplicidade. No longa, as tensões se espalham entre brancos e pretos, ricos e pobres, americanos e estrangeiros, todas sob o mesmo denominador comum: Jr 11:11. Não é acessório o papel do versículo no filme. As palavras de Jeremias indagam sobre o pecado e a maldição acarretada por ele. É justamente o pecado o eixo sob o qual se movimentará a obra. Os duplos de Peele retornam do subsolo e reivindicam certa autenticidade. Após anos vivendo em túneis, nos quais repetiam as extadas ações de seus pares, foram libertos para construir uma nova vida. Assinalou-se que os clones de “Us” representam partes ocultas das personalidades dos atacados, interpretação da qual compartilho em partes. Avançaria mais. Acredito que – e nisto reside minha tese – que os duplos de Peele representam, num plano individual e subjetivo, a ideia de uma culpa que, pesada demais para ser carregada, é negada. Matamos algo em nós para podermos viver. Essa parte oculta e desconhecida continua viva no inconsciente e de lá realiza as mais variadas operações. A culpa pela supressão de parte de nossa personalidade imerge da superfície da psique e nos amedronta. O duplo, no filme, funciona como cobrador de uma dívida que jamais poderemos pagar – porque pagá-la seria deixar viver o que tanto lutamos para esconder do outro e de nós mesmos. Essa interpretação, no entanto, dá conta de metade da questão, nos resta ainda refletir sobre o político em “Us” – agora lido como “United States”. “Ai de ti, Jerusalém”, diz o profeta adiante no livro que carrega seu nome. “Ai de ti, América”, está implícito no filme de Peele. Ai de ti que oprime a uns dos teus para que outros possam viver plenamente. O reino do norte ruiu, apenas o sul prosperou. Em um país no qual a simbologia norte-sul é tão forte, a intertextualidade com a Bíblia se torna ainda mais interessante. Há espaço para uma América: qual deve ocupar a superfície? A resposta de ambos os lados é óbvia: “Nós”.
Maligno
3.3 1,2KEu amei que o filme é um pouco paródico com o gênero. Adota todas as convenções possíveis, beirando o ridículo. O final é bem satisfatório. Não esperava.
Maus Hábitos
3.6 187Sensacional. Deboche com classe e inteligência. Será que era um retorno a esse tipo de filme que o Almodóvar estava querendo quando fez o péssimo "Amantes passageiros"? Se sim, passou longe.
Evita
3.2 250 Assista AgoraNossa, que lixo radioativo.
Orgulho e Preconceito
4.2 2,8K Assista AgoraAi, Mr. Darcy, QUE SABOR!
Feitiço do Tempo
3.9 754 Assista AgoraQue barato! Vi "Palm Springs" antes.
Uma Vida Oculta
3.9 154E ainda se ouvem ecos do Livro de Jó em Malick.
Clímax
3.6 1,1K Assista AgoraQue bobeira. Que chatice.
Fuja
3.4 1,1K Assista AgoraO retorno de Baby Jane. Que bomba.
Cabras da Peste
3.2 255Falcão: a.
Eu: KKKKKKK.
Alvorada
3.2 25Durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff, li uma notícia que comentava a presença de Anna Muylaert no Alvorada durante os últimos dias da presidente no palácio. A expectativa era alta, mas sinto que a diretora pôde, ao fim, filmar muito menos do que gostaria, daí o filme insosso, do qual poucas cenas se salvam. Destaco o final, com as empregadas terceirizadas. Governos erguem-se e caem nesta república e o povo, como em 1889, assiste a tudo como "bestializados".
Greyhound: Na Mira do Inimigo
3.3 248 Assista AgoraLembra "A linha de sombra", do Conrad. Sempre é difícil comandar pela primeira vez. Muito lindo.
O Homem Que Vendeu Sua Pele
3.5 99 Assista AgoraUm barato de filme. E só tem gente bonita.
Dias Melhores
3.9 139 Assista AgoraSó desgraça neste filme. Não sei se entendi o final...
Os Guarda-Chuvas do Amor
3.9 158 Assista AgoraO pai do "La La Land".
A Chorona
3.4 90 Assista AgoraMais um pra conta da febra do "terror social". "Nós", "Atlantique", "Bacurau" e cia na lista. A forma do passado que vem cobrar o seu, dentro de uma moldura fantástica, já está ficando batida...
Palm Springs
3.7 468 Assista AgoraFazia tempo que não via um filme tão gostoso.
Soul
4.3 1,4KQue delicada a cena da morte.
De Salto Alto
3.7 175 Assista AgoraMistura de "Volver" e "La Mala Educación".
Downton Abbey: O Filme
4.0 161 Assista AgoraO puro suco da alienação. Que delícia!
Jaque Mate
2.5 1Simples e direto, mas, sobretudo, vago.
O Anjo
3.6 189Repleto de imagens fálicas e o título sugere ausência de desejo.
Dumbo
3.4 611 Assista AgoraA primeira metade do filme chega a ser amadora. Cenas muito mal encadeadas, montagem cafona.
Nós
3.8 2,3K Assista AgoraO livro de Jeremias, segundo na lista de profetas posteriores da Bíblia Hebraica, profetiza (e poetiza) a invasão dos reinos de Israel e Judá pelos babilônios. Após um breve período de prosperidade, sustentado pelos governos de Davi e Salomão, o reino unido de Israel se viu dividido entre norte e sul, termos geográficos que encerram diferenças muito mais profundas que suas respectivas posições no mapa.
Tanto o norte, que em um curto período deixaria de existir, quanto o sul, futuro da civilização hebraica e berço do judaísmo, foram alvo das terríveis profecias de Jeremias. O profeta, diante da ameaça estrangeira, tinha por missão unir o povo sob a égide da religião hebraica. Este, no entanto, se fez de surdo e conquistou a ira de seu deus.
“E clamarão por mim, mas eu não os ouvirei”, diz um dos versos mais célebres do livro. O abandono trágico anunciado em Jeremias 11:11, dois mil e quinhentos anos depois serviria de epígrafe para Jordan Peele em seu “Us”.
O filme narra a thebirdiana aparição de duplos malignos por todo o território dos Estados Unidos que, de túneis subterrâneos abandonados, sobem à terra para eliminar os da superfície.
O duplo é matéria fértil para escritores e diretores que se prestam a discutir a identidade. Posso me lembrar de Dostoiévski e Saramago, para usar exemplos que conheço de perto. Em Peele, entretanto, fico engasgado ao tentar dizer que a identidade está no centro do debate.
Isto é, a identidade é, seguramente, mote da produção de Peele, porém, ao contrário do que ocorre em O duplo e O homem duplicado, sua fragilidade não desponta como discussão principal, e sim suas múltiplas dobras, o que vemos e o que ignoramos em nós mesmos.
Nesse sentido, o título do filme é ponto de partida de uma das muitas dicotomias presentes na produção: “Us” pode significar, em inglês, “nós” ou “Estados Unidos”. Individual e social aparecem conjugados, portanto, já no título do longa. Tal relação é reforçada se o espectador tem acesso à referência bíblia de Jr 11:11: as advertências do profeta se dirigiam tanto aos indivíduos quanto ao sujeito-coletivo Israel.
Como profeta americano, J. Peele (J. aqui se torna ambíguo), se dirige, assim, tanto ao espectador enquanto indivíduo, quanto como parte de uma coletividade.
Se em Jeremias, a invasão babilônica é o motivo da desgraça hebraica, em “Us”, a aparição de duplos sombrios marca a derrocada da nação e da família protagonista. O fantástico, aqui, não é usado apenas como resposta a demandas da indústria, é parte fundamental da constituição do sentido da obra.
Este se constrói através da duplicidade. No longa, as tensões se espalham entre brancos e pretos, ricos e pobres, americanos e estrangeiros, todas sob o mesmo denominador comum: Jr 11:11.
Não é acessório o papel do versículo no filme. As palavras de Jeremias indagam sobre o pecado e a maldição acarretada por ele. É justamente o pecado o eixo sob o qual se movimentará a obra.
Os duplos de Peele retornam do subsolo e reivindicam certa autenticidade. Após anos vivendo em túneis, nos quais repetiam as extadas ações de seus pares, foram libertos para construir uma nova vida.
Assinalou-se que os clones de “Us” representam partes ocultas das personalidades dos atacados, interpretação da qual compartilho em partes. Avançaria mais. Acredito que – e nisto reside minha tese – que os duplos de Peele representam, num plano individual e subjetivo, a ideia de uma culpa que, pesada demais para ser carregada, é negada.
Matamos algo em nós para podermos viver. Essa parte oculta e desconhecida continua viva no inconsciente e de lá realiza as mais variadas operações. A culpa pela supressão de parte de nossa personalidade imerge da superfície da psique e nos amedronta. O duplo, no filme, funciona como cobrador de uma dívida que jamais poderemos pagar – porque pagá-la seria deixar viver o que tanto lutamos para esconder do outro e de nós mesmos.
Essa interpretação, no entanto, dá conta de metade da questão, nos resta ainda refletir sobre o político em “Us” – agora lido como “United States”.
“Ai de ti, Jerusalém”, diz o profeta adiante no livro que carrega seu nome. “Ai de ti, América”, está implícito no filme de Peele. Ai de ti que oprime a uns dos teus para que outros possam viver plenamente.
O reino do norte ruiu, apenas o sul prosperou. Em um país no qual a simbologia norte-sul é tão forte, a intertextualidade com a Bíblia se torna ainda mais interessante. Há espaço para uma América: qual deve ocupar a superfície? A resposta de ambos os lados é óbvia: “Nós”.
Poderia Me Perdoar?
3.6 266Atuações maravilhosas e um roteiro excelente. Filme delicioso.