Batismo de Sangue, filme baseado no livro de Frei Betto e dirigido por Helvécio Ratton em 2007, inicia-se com o suicido do Frei Tito, que até então não sabemos de quem se trata, contudo o diretor já nos insere nesta angustiante atmosfera de um sofrimento psíquico e espiritual. O filme retrata um pequeno mas profundo momento das vidas de cinco jovens frades universitários que acabam padecendo do sofrimento imposto pelo regime militar na década de 60 à uma parcela da população brasileira. Todos estão firmes em suas convicções e sentem que precisam organiza-se politicamente dentro da Igreja, assim como faziam na Universidade, a exemplo disto temos o Congresso da UNE em Ibiuna, no qual alguns frades da mesma congregação estavam envolvidos e que foi desmantelado através de uma ação militar. Neste momento, Ratton mostra como um movimento estudantil que não era desde a sua gênese alinhado com a luta armada do país, passar a integrar este pensamento de cunho guerrilheiro impulsionado por algumas figuras como o Carlos Marighella e o Lamarca. Ao longo do filme são mostradas as prisões arbitrárias, acusações de envolvimento dos jovens frades com o movimento comunista brasileiro, como também cenas cruas de tortura estão nesta obra cinematográfica. O aparelho militar chamado DOI-CODI é citado no filme algumas vezes, o mesmo que capturou e torturou Frei Tito. Acredito que uma das intenções do diretor nesta adaptação foi não só transmutar com tamanha sensibilidade a realidade encontrada na obra do Frei Betto para outra linguagem, mas também de nos comunicar o sofrimento psíquico e espiritual remanescente nas pessoas que passaram por dias penosos de tortura dentro do DOI-CODI.
O espantoso, mas não surpreendente, caso relatado no documentário Menino 23 nos mostra claramente o envolvimento de uma parte da elite brasileira da década de 30 com movimentos de caráter fascista como a Ação Integralista Brasileira. Não obstante, a família Rocha Miranda abordada no documentário detinha em sua propriedade objetos marcados com uma suástica, símbolo usado pelo partido alemão nazista. Os indícios do envolvimento dos Rocha Miranda com esta organização de caráter fascista se confirma quando é descoberto a remoção de 50 crianças do gênero masculino de um orfanato no Rio de Janeiro para a fazenda da família. Onde essas crianças em sua maioria eram negras, foram privadas da sua liberdade e sujeitadas a um trabalho análogo a escravidão durante 10 anos de suas vidas. Dado ao contexto em que este fato ocorreu é entendível o plano que desenhava-se para o Brasil daquele momento em diante; seria a higienização da sociedade, onde as elites que performavam dentro do padrão pré-estabelecido pela Ação Integralista Brasileira estaria no posto dominante. Por outro lado, o restante da sociedade brasileira seria aniquilado ou transformado em uma massa escravizada nas propriedades destas famílias, sejam elas rurais ou não. De todas as formas ocorreria a aniquilação do sujeito e das suas subjetividades caso o mesmo não correspondesse ao arquétipo lançado pela Ação Integralista Brasileira, arquétipo este que muito assimilava-se ao arquétipo proposto pelo partido nazista alemão.
O elenco indiano realmente é composto por atrizes e atores indianos o que acabou sendo um ponto positivo para a obra, mas o Sidhartha - personagem central desse reduto indiano -, é interpretado por um ator branco e americano pintado de marrom. Outro ponto interessante para se observar seria que, ao longo da iluminação do Sidhartha ele vai literalmente perdendo a sua cor, tornando-se branco ao fim da sua jornada, que é quando o mesmo se torna Buddha. É só mais uma daquelas vergonhas alheias que o cinema racista muitas vezes nos proporciona. No mais, o filme tem uma boa perspectiva do tempo entrelaçando a história do Sidhartha com a dos outros personagens, o que não o torna enfadonho.
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Batismo de Sangue
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Batismo de Sangue, filme baseado no livro de Frei Betto e dirigido por Helvécio Ratton em 2007, inicia-se com o suicido do Frei Tito, que até então não sabemos de quem se trata, contudo o diretor já nos insere nesta angustiante atmosfera de um sofrimento psíquico e espiritual.
O filme retrata um pequeno mas profundo momento das vidas de cinco jovens frades universitários que acabam padecendo do sofrimento imposto pelo regime militar na década de 60 à uma parcela da população brasileira. Todos estão firmes em suas convicções e sentem que precisam organiza-se politicamente dentro da Igreja, assim como faziam na Universidade, a exemplo disto temos o Congresso da UNE em Ibiuna, no qual alguns frades da mesma congregação estavam envolvidos e que foi desmantelado através de uma ação militar. Neste momento, Ratton mostra como um movimento estudantil que não era desde a sua gênese alinhado com a luta armada do país, passar a integrar este pensamento de cunho guerrilheiro impulsionado por algumas figuras como o Carlos Marighella e o Lamarca.
Ao longo do filme são mostradas as prisões arbitrárias, acusações de envolvimento dos jovens frades com o movimento comunista brasileiro, como também cenas cruas de tortura estão nesta obra cinematográfica. O aparelho militar chamado DOI-CODI é citado no filme algumas vezes, o mesmo que capturou e torturou Frei Tito.
Acredito que uma das intenções do diretor nesta adaptação foi não só transmutar com tamanha sensibilidade a realidade encontrada na obra do Frei Betto para outra linguagem, mas também de nos comunicar o sofrimento psíquico e espiritual remanescente nas pessoas que passaram por dias penosos de tortura dentro do DOI-CODI.
Menino 23: Infâncias Perdidas no Brasil
4.4 86[spoiler][/spoiler]
O espantoso, mas não surpreendente, caso relatado no documentário Menino 23 nos mostra claramente o envolvimento de uma parte da elite brasileira da década de 30 com movimentos de caráter fascista como a Ação Integralista Brasileira. Não obstante, a família Rocha Miranda abordada no documentário detinha em sua propriedade objetos marcados com uma suástica, símbolo usado pelo partido alemão nazista. Os indícios do envolvimento dos Rocha Miranda com esta organização de caráter fascista se confirma quando é descoberto a remoção de 50 crianças do gênero masculino de um orfanato no Rio de Janeiro para a fazenda da família. Onde essas crianças em sua maioria eram negras, foram privadas da sua liberdade e sujeitadas a um trabalho análogo a escravidão durante 10 anos de suas vidas.
Dado ao contexto em que este fato ocorreu é entendível o plano que desenhava-se para o Brasil daquele momento em diante; seria a higienização da sociedade, onde as elites que performavam dentro do padrão pré-estabelecido pela Ação Integralista Brasileira estaria no posto dominante. Por outro lado, o restante da sociedade brasileira seria aniquilado ou transformado em uma massa escravizada nas propriedades destas famílias, sejam elas rurais ou não. De todas as formas ocorreria a aniquilação do sujeito e das suas subjetividades caso o mesmo não correspondesse ao arquétipo lançado pela Ação Integralista Brasileira, arquétipo este que muito assimilava-se ao arquétipo proposto pelo partido nazista alemão.
O Pequeno Buda
3.6 78O elenco indiano realmente é composto por atrizes e atores indianos o que acabou sendo um ponto positivo para a obra, mas o Sidhartha - personagem central desse reduto indiano -, é interpretado por um ator branco e americano pintado de marrom. Outro ponto interessante para se observar seria que, ao longo da iluminação do Sidhartha ele vai literalmente perdendo a sua cor, tornando-se branco ao fim da sua jornada, que é quando o mesmo se torna Buddha. É só mais uma daquelas vergonhas alheias que o cinema racista muitas vezes nos proporciona.
No mais, o filme tem uma boa perspectiva do tempo entrelaçando a história do Sidhartha com a dos outros personagens, o que não o torna enfadonho.
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