A principal mensagem do filme é a de que todos os afetos são políticos. O protagonista perfaz - de sua posição de exclusão e negação inicial, até o adentramento no microcosmo familiar e a obtenção do reconhecimento almejado - um trajeto de violência crescente e gradual perda de sua identificação com a figura amada.
Atuações, trilha sonora e tudo o mais não me desagradaram, mas sim a veiculação dúbia dos conteúdos políticos explícitos e a turbidez em que ficou perdida a mensagem porventura intentada. Lembra-me, por isso, de outro filme recentíssimo, "The hunt" (2020), em que uma elite intelectual pintada como "liberal" encarna a total frivolidade e crueza, o que a leva, literalmente, a caçar "haters"; neste caso, militantes digitais identificados com movimentos fascistas.
Enfim, o filme se encerra com o silêncio trágico que demarca o trauma vivido, e o gesto acolhedor de um estender de mãos acaba se configurando como o reconhecimento tribal da ostentação de capitais culturais que dotam o clã da coesão avessa ao barbarismo exterior.
Essa dicotomia do dentro/fora não deixa de ser explorada no filme. O dentro, redoma da elite cultural deslumbrada com os signos da violência importada como lixo e exportada como luxo. O fora, como antro de violência abrupta e extrusiva.
O silêncio do final aberto e do olhar opaco do protagonista/hater parece preencher a lacuna da pergunta... o que causou a ascensão de tamanho ódio?
A resposta, que jaz implícita, mas que ouso resgatar como válida, é a seguinte: a falta de reconhecimento. Eis o fenômeno que é capaz de despertar nos ressentidos o ódio inflamado, caótico, anárquico e sem emblemas. O ódio tribal do filho que, abandonado, cego, sem pai e sem pátria, cruza, em uma esquina do mundo, com o destino que lhe fora decretado desde a nascença. E então ele cumpre o vaticínio. E mata seu pai.
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Rede de Ódio
3.7 363 Assista AgoraA principal mensagem do filme é a de que todos os afetos são políticos. O protagonista perfaz - de sua posição de exclusão e negação inicial, até o adentramento no microcosmo familiar e a obtenção do reconhecimento almejado - um trajeto de violência crescente e gradual perda de sua identificação com a figura amada.
Atuações, trilha sonora e tudo o mais não me desagradaram, mas sim a veiculação dúbia dos conteúdos políticos explícitos e a turbidez em que ficou perdida a mensagem porventura intentada. Lembra-me, por isso, de outro filme recentíssimo, "The hunt" (2020), em que uma elite intelectual pintada como "liberal" encarna a total frivolidade e crueza, o que a leva, literalmente, a caçar "haters"; neste caso, militantes digitais identificados com movimentos fascistas.
Enfim, o filme se encerra com o silêncio trágico que demarca o trauma vivido, e o gesto acolhedor de um estender de mãos acaba se configurando como o reconhecimento tribal da ostentação de capitais culturais que dotam o clã da coesão avessa ao barbarismo exterior.
Essa dicotomia do dentro/fora não deixa de ser explorada no filme. O dentro, redoma da elite cultural deslumbrada com os signos da violência importada como lixo e exportada como luxo. O fora, como antro de violência abrupta e extrusiva.
O silêncio do final aberto e do olhar opaco do protagonista/hater parece preencher a lacuna da pergunta... o que causou a ascensão de tamanho ódio?
A resposta, que jaz implícita, mas que ouso resgatar como válida, é a seguinte: a falta de reconhecimento. Eis o fenômeno que é capaz de despertar nos ressentidos o ódio inflamado, caótico, anárquico e sem emblemas. O ódio tribal do filho que, abandonado, cego, sem pai e sem pátria, cruza, em uma esquina do mundo, com o destino que lhe fora decretado desde a nascença. E então ele cumpre o vaticínio. E mata seu pai.