Minha reação ao saber que a Netflix lançaria uma minissérie sobre a vida de Fito Páez foi perguntar: "por quê?". Fito é, sem dúvida, um dos artistas argentinos mais conhecidos de sua geração. No entanto, o cantor rosarino jamais esteve à altura dos grandes ícones do rock argentino, como Charly García, Luis Spinetta, Luca Prodan ou mesmo Gustavo Cerati. Após assistir à série, compreendi a escolha do biografado. O início da carreira de Fito Páez oferece um excelente arco narrativo: introdução (a criança órfã responde ao veto do pai, quem mantinha trancado o piano de sua finada esposa; pouco a pouco, o instrumento e a música se convertem numa obsessão); elevação da ação (o jovem instrumentista sai de casa para apostar na carreira musical; primeiro, compondo trovas ao lado de Juan Carlos Baglietto, depois, à sombra da incipiente carreira solo do já consagrado Charly García); clímax (quando começa a dar os primeiros e incertos passos de uma carreira solo, a morte de seu pai e o assassinato de sua avó e sua tia desestabilizam Fito Páez); declínio da ação (vem uma fase marcada por whisky, bromazepan e o fracasso retumbante do disco "Ciudad de pobres corazones"); desfecho (o caso policial envolvendo o assassinato das mulheres que o criaram é resolvido, ele encontra um novo amor - a musa de Almodóvar, Cecilia Roth - e grava o álbum mais vendido na história do rock argentino). Era, enfim, um roteiro pronto. A série parece ter sido produzida por e para os fãs de Fito Páez, o que lhe trouxe vitalidade, mas também algumas fraquezas. De fato, "El amor después del amor" sofre de muitos dos problemas comuns às cinebiografias, especialmente o do anedotário. Em muitas sequências, pude visualizar o que já conhecia através de alguma entrevista do cantor, como se o roteiro tivesse sido escrito a partir de uma coleção de boas histórias. Algumas anedotas aparecem sem qualquer conexão com o enredo, como a do dia em que o professor de Fito descobriu que ele não sabia ler partituras. A tentação de mostrar o que ou quem inspirou determinadas canções produz sequências constrangedoras, nas quais os acordes e letras surgem como num passe de mágica. Tudo isto posto, contudo, comparada às recentes bombas produzidas em Hollywood, como "Bohemian Rhapsody", a cinebiografia de Fito apresenta um saldo bastante positivo, reafirmando o domínio dos argentinos sobre a linguagem naturalista do cinema industrial (ainda mais hegemônica a partir destas produções internacionais das plataformas de streaming). Neste quesito, aliás, vale a pena destacar a qualidade do elenco. Micaela Riera e Andy Chango parecem a reencarnação de Fabiana Cantilo e Charly García, e até personagens menores, como as de Daryna Butryk (Cecilia Roth) e Joaquín Baglietto (Juan Carlos Baglietto), estão impressionantes. Julián Kartun não faz feio, mas erra a mão ao tentar imitar a voz e caricaturar o hippieismo de Spinetta. Iván Hochman, ironicamente, foi a escolha que menos me agradou, apresentando um jovem Fito Páez dado a arroubos de autoafirmação grosseiros e antipáticos. Não há nada ali que recorde o Fito Páez que conhecemos através dos palcos e demais apresentações ao público. Talvez este seja um Fito Páez mais fidedigno, mas, caso seja essa a explicação, era melhor não tê-lo conhecido. De qualquer modo, recomendo muitíssimo a série, especialmente para os apaixonados pelo rock argentino e para os que ainda desejam conhecê-lo.
Do not stand By my grave, and weep. I am not there, I do not sleep - I am the thousand winds that blow I am the diamond glints in snow I am the sunlight on ripened grain, I am the gentle, autumn rain. As you awake with morning’s hush, I am the swift, up-flinging rush Of quiet birds in circling flight, I am the day transcending night. Do not stand By my grave, and cry - I am not there, I did not die.
"Faz falta à série um viés propriamente documentário, na acepção hodierna do termo que pressupõe, entre outras características, empenho para compreender o que é observado nas gravações e depois estruturado na edição. Isso permitiria dar visão mais profunda das situações apresentadas e das motivações dos personagens." Concordo plenamente com essa opinião de Eduardo Escorel, e também com a opinião de que o documentário peca ao oferecer espaço às narrativas mais disparatadas e oportunistas possíveis. O documentário insere uma fala da Joice Hasselmann como exemplo da espetacularização sobre o assassinato do ex-prefeito de Santo André, mas, ao mesmo tempo, dá espaço à acusação canalha e sem fundamentos de Mara Gabrilli como mais uma versão sobre o caso, aparentemente tão legítima como todas as outras. Ao que parece, o intuito dos realizadores do documentário foi apresentar as múltiplas teorias e hipóteses sobre o caso ao longo desses últimos 20 anos, de modo a construir uma tese - apresentada no último episódio - de que “apontar quem matou Celso Daniel se tornou um jogo de interesses que diz mais sobre quem fala do que sobre o caso em si”. O que não levam em consideração, e este é o grave erro do documentário, é que o público escolherá uma das versões para acreditar. Se os realizadores não assumem o papel de apresentar uma interpretação sobre o caso, o público o fará por eles. Neste caso, alguns podem até defender a escolha como democrática ou benevolente, mas só adotarão essa leitura se desconsiderarem que ela é também leviana e indulgente. Se a ideia era fazer uma coleta de tudo o que já foi dito e inventado sobre o caso, pode-se dizer que a grande deficiência da série foi ter sido concebida. Ora, para se ter uma ideia das diferentes versões sobre o caso, basta dar uma "googada". A série de documentário também se perde em diversos momentos, narrando fatos de importância secundária ou sem importância nenhuma (como o problema no banheiro da casa de Bruno Daniel no exílio). Por fim, o que realmente me fascinou no documentário foi a figura de Bruno Daniel. A impressão que tenho é a de que o PT ocupou o lugar de um "pai simbólico" em sua trajetória. Quando ele rompe com o seu irmão, política e pessoalmente, ele o faz por rígidos princípios éticos. Ele reconhece na conversão de seu irmão (e do partido) à "realpolitik" um caminho imoral, condenável. A briga, pelo visto, foi feia, pois os dois permaneceram brigados até a morte de Celso Daniel. Após o assassinato, Bruno parece ter desejado expiar as culpas do irmão. O PT teria corrompido Celso Daniel, e aqueles que o mataram (ligados direta ou indiretamente ao partido) tinham que pagar. A coisa vai tão longe que, no meio do processo, ele já não consegue sustentar suas hipóteses sem incriminar Celso Daniel. Aquela entrevista no Roda Viva é uma das cenas mais violentas do documentário. Quando Mário Sérgio Conti o inquire duramente (e brilhantemente, como bom jornalista que é), forçando-o a abandonar as meias palavras e eufemismos, o sujeito parece ter uma epifania. "Eu não estava preparado para aquilo", ele diz, referindo-se ao interrogatório dos jornalistas. Mas eu interpreto essas palavras de uma outra forma. Ele realmente não estava preparado para aquilo que saiu de sua boca. A luta por "justiça", para "honrar" a memória de seu irmão, acabou jogando a memória de Celso Daniel (que foi, de fato, uma grande figura política) na lama. Bruno Daniel teria feito um grande favor ao país, e a si mesmo, se tivesse buscado um terapeuta em lugar do MP/SP.
O primeiro episódio é o único comparável à qualidade das primeiras temporadas. Os outros dois episódios navegam pelo lugar comum, tanto na crítica quanto na série de clichês com que trabalham.
A história é realmente impressionante, mas acho que a direção deixou a desejar. Com todas as reviravoltas do caso Lorena Bobbitt, a série ainda consegue se arrastar em alguns momentos, dando a impressão de que poderia ter menos episódios ou que um longa-metragem teria sido uma melhor escolha. Contudo, essa sensação vem mais da dubiedade do diretor Win Rosenfield. Em alguns momentos, ele parece querer assumir uma posição neutra ou parcial, em outros, parece querer aproveitar essas reviravoltas para chocar ou surpreender o espectador. Ambas as posturas são pouco felizes. Talvez fosse a única maneira de conseguir a entrevista com o estuprador
e de apresentar, ao final, a manifestação de apoio a Trump em sua moto, por exemplo. Aliás, essa é outra "sutileza" pouco sutil da série documentário: se o objetivo era construir o perfil de masculinidade interpelado pelo discurso da extrema direita norte-americana (e também brasileira, diga-se de passagem), isso poderia ter sido melhor costurado com o caso Lorena Bobbitt. Mostrando Biden e Sanders lutando por essa causa em diferentes momentos e o apoio do estuprador a Trump no final, o documentário perde a sua força crítica e passa a assumir um tom puramente panfletário. Era possível explorar a dimensão política do caso - até mesmo porque o estupro e a violência contra a mulher são temas extremamente políticos -, mas não dessa forma, não numa leitura maniqueísta do "bem contra o mal".
O liberalismo progressista tem desses simplismos desconcertantes. Fazer o quê? 2.5 pela história de luta de Lorena Bobbitt.
Não é o melhor trabalho de Woody Allen, como muitos já destacaram aqui, mas tudo o que seus fãs buscam em seus trabalhos está aí. Adorei do primeiro episódio ao último. Recordou-me "Doce de Mãe", de Jorge Furtado, filme para televisão que sempre deixava algum clímax para a sequência pós-comercial. Tinha receio que Allen errasse o timing nesse formato, mas, assim como Furtado, ele acertou em cheio. Achei instigante, e muitas das referências aos personagens históricos são hilárias. Woody Allen se vê como um pequeno-burguês de esquerda com conflitos existenciais, e brincou com isso em quase toda sua filmografia. Aqui, ele brinca com essas questões através de uma construção fascinante de alter e superegos. Constrói uma versão de si jovem (e cheio de dúvidas) e uma já idosa (cheia de medos e conflitos). O jovem está entre duas paixões: a esquerdista radical (idealista/idealizada) e a liberal de esquerda (que lhe atrai e lhe desinteressa pelas mesmas razões: é a pessoa "ideal" para ele, com a mesma formação política, social e financeira). A esposa de Sid, sua versão idosa, já indica com qual das duas ele acabará ficando. Enfim, sou um fã dos trabalhos do Woody Allen, raríssimos trabalhos dele não me agradaram. Talvez seja pouco crítico quando se trata de seus trabalhos. Se for, melhor assim. É sempre um regozijo.
Finalmente terminei "13 Reasons Why" e, como dizia Raul Seixas, também resolvi dar uma queixadinha.
- Sobre os comentários ultra-pedantes dos críticos de facebook, que estão desvalorizando o debate sobre depressão/suicídio porque - "em pleno século XXI" - os temas a serem debatidos seguem sendo "impostos pelos grandes meios de comunicação": 1) Quer função melhor para os meios de comunicação do que propôr debates como esse? 2) Ou "em pleno século XXI" vocês ainda acham que depressão é "frescura de branco e rico"? - Acerca dos comentários sobre a "romantização do suicídio" na série ou o problema de abordar o suicídio como uma opção. Sinceramente, a série não teria a força que está tendo se não abordasse o suicídio como uma opção, porque após um certo ponto, pessoas com depressão enxergam o suicídio como uma opção. Agora, admito que achei alguns episódios particularmente fortes, sobretudo para pessoas que já passaram por experiências semelhantes. - Numa entrevista com os atores da série, eles disseram que estão saindo várias notícias nos EUA de pessoas que buscaram ajuda após a série (caso semelhante ocorreu em "Mulheres Apaixonadas", quando a personagem que sofria violência doméstica denunciou o marido). Mesmo assim, muitos seguem acreditando que pessoas irão se matar por causa da série. Quando ouço esse tipo de coisa, lembro sempre da cena final de "Pânico", em que um dos personagens diz que filmes de terror não criam psicopatas, apenas dão boas dicas para pessoas que já são psicopatas. O mesmo se aplica a série. Ela não aumentará o número de suicídios e depressivos, apenas jogou uma luz sobre um problema social que ficará mais visível de agora em diante (pelo menos, por um tempo). - Gostei muito da série e achei os temas abordados muito pertinentes, mas acho que pouco se falou sobre as fitas e a questão da culpa. Não li nenhuma análise sobre as decisões e as escolhas da personagem principal, que, aliás, achei um tanto mal construída. Ela diz o tempo inteiro que sente um vazio existencial, mas as fitas dizem exatamente o contrário. Existe muita mágoa e ódio naquelas fitas, e existe todo um jogo com o sentimento de culpa de cada um dos personagens.
Sobre a segunda temporada, sou capaz de apostar que será na mesma linha do filme "Elefante", de Gus Van Sant.
Sério que o pessoal gostou tanto assim dessa temporada? As duas primeiras são fechadinhas, você acompanha a ascensão, compreende o passo a passo, cria uma empatia (neste caso está mais para cumplicidade) com o Frank Underwood, enfim... Nessa você fica totalmente perdido... o Doug, o escritor, a Claire... tudo fica solto, os personagens parecem todos confusos, podendo ir pra qualquer lado... Não se trata de fazer algo óbvio ou de agradar o público, mas personagens confusos tendem a me incomodar um pouco, porque uma vez que não estão bem definidos, nenhuma ação deles pode te surpreender (por mais absurda que seja).
A propósito, essa é a pior temporada de todas. Parece que a Robin e o Barney tiveram um casamento indiano... aquela porra nunca acabava. Prolongou-se tanto o casamento, que o episódio final ficou super comprimido.
O Ted tinha que ficar com a Robin. A série se chama How I Met Your Mother e a mãe é a que menos aparece. Além disso, foi o Ted que levou a Robin para o grupo.
Tirando o episódio em que Barney e Robin investigam os perfis dos encontros de Ted, achei essa temporada tão pouco memorável quanto as primeiras. A 5ª e a 6ª temporadas seguem sendo as melhores do sitcom. Agora parto para a 8ª temporada. Hasta luego!
Um dos melhores episódios de How I Met Your Mother está nessa temporada: o episódio em que Barney pensa que é negro. kkkkkkk A cena do "Stand by Me" é hilária!
A melhor temporada de HIMYM até agora. Estava gostando razoavelmente do sitcom, assistia mais para matar o saudosismo de Friends. Mas essa temporada proporcionou episódios memoráveis, como o episódio do playbook de Barney, todos cantando a canção do terno, o episódio do "bang bang bang". Tirando o episódio do término da Robin com o Barney, que foi o pior de todas as temporadas, acredito que aqui HIMYM começou a ter uma cara própria. Ansioso para assistir a 6ª temporada.
Amor e Música: Fito Páez (1ª Temporada)
4.2 8 Assista AgoraMinha reação ao saber que a Netflix lançaria uma minissérie sobre a vida de Fito Páez foi perguntar: "por quê?". Fito é, sem dúvida, um dos artistas argentinos mais conhecidos de sua geração. No entanto, o cantor rosarino jamais esteve à altura dos grandes ícones do rock argentino, como Charly García, Luis Spinetta, Luca Prodan ou mesmo Gustavo Cerati.
Após assistir à série, compreendi a escolha do biografado. O início da carreira de Fito Páez oferece um excelente arco narrativo: introdução (a criança órfã responde ao veto do pai, quem mantinha trancado o piano de sua finada esposa; pouco a pouco, o instrumento e a música se convertem numa obsessão); elevação da ação (o jovem instrumentista sai de casa para apostar na carreira musical; primeiro, compondo trovas ao lado de Juan Carlos Baglietto, depois, à sombra da incipiente carreira solo do já consagrado Charly García); clímax (quando começa a dar os primeiros e incertos passos de uma carreira solo, a morte de seu pai e o assassinato de sua avó e sua tia desestabilizam Fito Páez); declínio da ação (vem uma fase marcada por whisky, bromazepan e o fracasso retumbante do disco "Ciudad de pobres corazones"); desfecho (o caso policial envolvendo o assassinato das mulheres que o criaram é resolvido, ele encontra um novo amor - a musa de Almodóvar, Cecilia Roth - e grava o álbum mais vendido na história do rock argentino). Era, enfim, um roteiro pronto.
A série parece ter sido produzida por e para os fãs de Fito Páez, o que lhe trouxe vitalidade, mas também algumas fraquezas. De fato, "El amor después del amor" sofre de muitos dos problemas comuns às cinebiografias, especialmente o do anedotário. Em muitas sequências, pude visualizar o que já conhecia através de alguma entrevista do cantor, como se o roteiro tivesse sido escrito a partir de uma coleção de boas histórias. Algumas anedotas aparecem sem qualquer conexão com o enredo, como a do dia em que o professor de Fito descobriu que ele não sabia ler partituras. A tentação de mostrar o que ou quem inspirou determinadas canções produz sequências constrangedoras, nas quais os acordes e letras surgem como num passe de mágica.
Tudo isto posto, contudo, comparada às recentes bombas produzidas em Hollywood, como "Bohemian Rhapsody", a cinebiografia de Fito apresenta um saldo bastante positivo, reafirmando o domínio dos argentinos sobre a linguagem naturalista do cinema industrial (ainda mais hegemônica a partir destas produções internacionais das plataformas de streaming). Neste quesito, aliás, vale a pena destacar a qualidade do elenco. Micaela Riera e Andy Chango parecem a reencarnação de Fabiana Cantilo e Charly García, e até personagens menores, como as de Daryna Butryk (Cecilia Roth) e Joaquín Baglietto (Juan Carlos Baglietto), estão impressionantes. Julián Kartun não faz feio, mas erra a mão ao tentar imitar a voz e caricaturar o hippieismo de Spinetta. Iván Hochman, ironicamente, foi a escolha que menos me agradou, apresentando um jovem Fito Páez dado a arroubos de autoafirmação grosseiros e antipáticos. Não há nada ali que recorde o Fito Páez que conhecemos através dos palcos e demais apresentações ao público. Talvez este seja um Fito Páez mais fidedigno, mas, caso seja essa a explicação, era melhor não tê-lo conhecido.
De qualquer modo, recomendo muitíssimo a série, especialmente para os apaixonados pelo rock argentino e para os que ainda desejam conhecê-lo.
After Life: Vocês Vão Ter de Me Engolir (3ª Temporada)
4.2 63 Assista AgoraDo not stand
By my grave, and weep.
I am not there,
I do not sleep -
I am the thousand winds that blow
I am the diamond glints in snow
I am the sunlight on ripened grain,
I am the gentle, autumn rain.
As you awake with morning’s hush,
I am the swift, up-flinging rush
Of quiet birds in circling flight,
I am the day transcending night.
Do not stand
By my grave, and cry -
I am not there,
I did not die.
["Immortality", Clare Harner, 1934]
O Caso Celso Daniel
3.7 15"Faz falta à série um viés propriamente documentário, na acepção hodierna do termo que pressupõe, entre outras características, empenho para compreender o que é observado nas gravações e depois estruturado na edição. Isso permitiria dar visão mais profunda das situações apresentadas e das motivações dos personagens."
Concordo plenamente com essa opinião de Eduardo Escorel, e também com a opinião de que o documentário peca ao oferecer espaço às narrativas mais disparatadas e oportunistas possíveis. O documentário insere uma fala da Joice Hasselmann como exemplo da espetacularização sobre o assassinato do ex-prefeito de Santo André, mas, ao mesmo tempo, dá espaço à acusação canalha e sem fundamentos de Mara Gabrilli como mais uma versão sobre o caso, aparentemente tão legítima como todas as outras.
Ao que parece, o intuito dos realizadores do documentário foi apresentar as múltiplas teorias e hipóteses sobre o caso ao longo desses últimos 20 anos, de modo a construir uma tese - apresentada no último episódio - de que “apontar quem matou Celso Daniel se tornou um jogo de interesses que diz mais sobre quem fala do que sobre o caso em si”. O que não levam em consideração, e este é o grave erro do documentário, é que o público escolherá uma das versões para acreditar. Se os realizadores não assumem o papel de apresentar uma interpretação sobre o caso, o público o fará por eles. Neste caso, alguns podem até defender a escolha como democrática ou benevolente, mas só adotarão essa leitura se desconsiderarem que ela é também leviana e indulgente.
Se a ideia era fazer uma coleta de tudo o que já foi dito e inventado sobre o caso, pode-se dizer que a grande deficiência da série foi ter sido concebida. Ora, para se ter uma ideia das diferentes versões sobre o caso, basta dar uma "googada". A série de documentário também se perde em diversos momentos, narrando fatos de importância secundária ou sem importância nenhuma (como o problema no banheiro da casa de Bruno Daniel no exílio).
Por fim, o que realmente me fascinou no documentário foi a figura de Bruno Daniel. A impressão que tenho é a de que o PT ocupou o lugar de um "pai simbólico" em sua trajetória. Quando ele rompe com o seu irmão, política e pessoalmente, ele o faz por rígidos princípios éticos. Ele reconhece na conversão de seu irmão (e do partido) à "realpolitik" um caminho imoral, condenável. A briga, pelo visto, foi feia, pois os dois permaneceram brigados até a morte de Celso Daniel. Após o assassinato, Bruno parece ter desejado expiar as culpas do irmão. O PT teria corrompido Celso Daniel, e aqueles que o mataram (ligados direta ou indiretamente ao partido) tinham que pagar. A coisa vai tão longe que, no meio do processo, ele já não consegue sustentar suas hipóteses sem incriminar Celso Daniel. Aquela entrevista no Roda Viva é uma das cenas mais violentas do documentário. Quando Mário Sérgio Conti o inquire duramente (e brilhantemente, como bom jornalista que é), forçando-o a abandonar as meias palavras e eufemismos, o sujeito parece ter uma epifania. "Eu não estava preparado para aquilo", ele diz, referindo-se ao interrogatório dos jornalistas. Mas eu interpreto essas palavras de uma outra forma. Ele realmente não estava preparado para aquilo que saiu de sua boca. A luta por "justiça", para "honrar" a memória de seu irmão, acabou jogando a memória de Celso Daniel (que foi, de fato, uma grande figura política) na lama.
Bruno Daniel teria feito um grande favor ao país, e a si mesmo, se tivesse buscado um terapeuta em lugar do MP/SP.
Black Mirror (5ª Temporada)
3.2 962O primeiro episódio é o único comparável à qualidade das primeiras temporadas. Os outros dois episódios navegam pelo lugar comum, tanto na crítica quanto na série de clichês com que trabalham.
Lorena
4.2 26A história é realmente impressionante, mas acho que a direção deixou a desejar. Com todas as reviravoltas do caso Lorena Bobbitt, a série ainda consegue se arrastar em alguns momentos, dando a impressão de que poderia ter menos episódios ou que um longa-metragem teria sido uma melhor escolha. Contudo, essa sensação vem mais da dubiedade do diretor Win Rosenfield. Em alguns momentos, ele parece querer assumir uma posição neutra ou parcial, em outros, parece querer aproveitar essas reviravoltas para chocar ou surpreender o espectador. Ambas as posturas são pouco felizes. Talvez fosse a única maneira de conseguir a entrevista com o estuprador
e de apresentar, ao final, a manifestação de apoio a Trump em sua moto, por exemplo. Aliás, essa é outra "sutileza" pouco sutil da série documentário: se o objetivo era construir o perfil de masculinidade interpelado pelo discurso da extrema direita norte-americana (e também brasileira, diga-se de passagem), isso poderia ter sido melhor costurado com o caso Lorena Bobbitt. Mostrando Biden e Sanders lutando por essa causa em diferentes momentos e o apoio do estuprador a Trump no final, o documentário perde a sua força crítica e passa a assumir um tom puramente panfletário. Era possível explorar a dimensão política do caso - até mesmo porque o estupro e a violência contra a mulher são temas extremamente políticos -, mas não dessa forma, não numa leitura maniqueísta do "bem contra o mal".
O liberalismo progressista tem desses simplismos desconcertantes. Fazer o quê? 2.5 pela história de luta de Lorena Bobbitt.
Crise em Seis Cenas
3.5 61 Assista AgoraNão é o melhor trabalho de Woody Allen, como muitos já destacaram aqui, mas tudo o que seus fãs buscam em seus trabalhos está aí.
Adorei do primeiro episódio ao último. Recordou-me "Doce de Mãe", de Jorge Furtado, filme para televisão que sempre deixava algum clímax para a sequência pós-comercial. Tinha receio que Allen errasse o timing nesse formato, mas, assim como Furtado, ele acertou em cheio.
Achei instigante, e muitas das referências aos personagens históricos são hilárias. Woody Allen se vê como um pequeno-burguês de esquerda com conflitos existenciais, e brincou com isso em quase toda sua filmografia. Aqui, ele brinca com essas questões através de uma construção fascinante de alter e superegos. Constrói uma versão de si jovem (e cheio de dúvidas) e uma já idosa (cheia de medos e conflitos). O jovem está entre duas paixões: a esquerdista radical (idealista/idealizada) e a liberal de esquerda (que lhe atrai e lhe desinteressa pelas mesmas razões: é a pessoa "ideal" para ele, com a mesma formação política, social e financeira). A esposa de Sid, sua versão idosa, já indica com qual das duas ele acabará ficando.
Enfim, sou um fã dos trabalhos do Woody Allen, raríssimos trabalhos dele não me agradaram. Talvez seja pouco crítico quando se trata de seus trabalhos. Se for, melhor assim. É sempre um regozijo.
13 Reasons Why (1ª Temporada)
3.8 1,5K Assista AgoraFinalmente terminei "13 Reasons Why" e, como dizia Raul Seixas, também resolvi dar uma queixadinha.
- Sobre os comentários ultra-pedantes dos críticos de facebook, que estão desvalorizando o debate sobre depressão/suicídio porque - "em pleno século XXI" - os temas a serem debatidos seguem sendo "impostos pelos grandes meios de comunicação": 1) Quer função melhor para os meios de comunicação do que propôr debates como esse? 2) Ou "em pleno século XXI" vocês ainda acham que depressão é "frescura de branco e rico"?
- Acerca dos comentários sobre a "romantização do suicídio" na série ou o problema de abordar o suicídio como uma opção. Sinceramente, a série não teria a força que está tendo se não abordasse o suicídio como uma opção, porque após um certo ponto, pessoas com depressão enxergam o suicídio como uma opção. Agora, admito que achei alguns episódios particularmente fortes, sobretudo para pessoas que já passaram por experiências semelhantes.
- Numa entrevista com os atores da série, eles disseram que estão saindo várias notícias nos EUA de pessoas que buscaram ajuda após a série (caso semelhante ocorreu em "Mulheres Apaixonadas", quando a personagem que sofria violência doméstica denunciou o marido). Mesmo assim, muitos seguem acreditando que pessoas irão se matar por causa da série. Quando ouço esse tipo de coisa, lembro sempre da cena final de "Pânico", em que um dos personagens diz que filmes de terror não criam psicopatas, apenas dão boas dicas para pessoas que já são psicopatas. O mesmo se aplica a série. Ela não aumentará o número de suicídios e depressivos, apenas jogou uma luz sobre um problema social que ficará mais visível de agora em diante (pelo menos, por um tempo).
- Gostei muito da série e achei os temas abordados muito pertinentes, mas acho que pouco se falou sobre as fitas e a questão da culpa. Não li nenhuma análise sobre as decisões e as escolhas da personagem principal, que, aliás, achei um tanto mal construída. Ela diz o tempo inteiro que sente um vazio existencial, mas as fitas dizem exatamente o contrário. Existe muita mágoa e ódio naquelas fitas, e existe todo um jogo com o sentimento de culpa de cada um dos personagens.
Sobre a segunda temporada, sou capaz de apostar que será na mesma linha do filme "Elefante", de Gus Van Sant.
House of Cards (3ª Temporada)
4.4 413Sério que o pessoal gostou tanto assim dessa temporada?
As duas primeiras são fechadinhas, você acompanha a ascensão, compreende o passo a passo, cria uma empatia (neste caso está mais para cumplicidade) com o Frank Underwood, enfim... Nessa você fica totalmente perdido... o Doug, o escritor, a Claire... tudo fica solto, os personagens parecem todos confusos, podendo ir pra qualquer lado... Não se trata de fazer algo óbvio ou de agradar o público, mas personagens confusos tendem a me incomodar um pouco, porque uma vez que não estão bem definidos, nenhuma ação deles pode te surpreender (por mais absurda que seja).
Em Terapia
3.7 1Muito melhor que a versão brasileira... Sem mais!
Como Eu Conheci Sua Mãe (9ª Temporada)
4.1 1,3K Assista AgoraA propósito, essa é a pior temporada de todas. Parece que a Robin e o Barney tiveram um casamento indiano... aquela porra nunca acabava. Prolongou-se tanto o casamento, que o episódio final ficou super comprimido.
Como Eu Conheci Sua Mãe (9ª Temporada)
4.1 1,3K Assista AgoraO final original é melhor que o alternativo...
O Ted tinha que ficar com a Robin. A série se chama How I Met Your Mother e a mãe é a que menos aparece. Além disso, foi o Ted que levou a Robin para o grupo.
Como Eu Conheci Sua Mãe (7ª Temporada)
4.5 385 Assista AgoraTirando o episódio em que Barney e Robin investigam os perfis dos encontros de Ted, achei essa temporada tão pouco memorável quanto as primeiras. A 5ª e a 6ª temporadas seguem sendo as melhores do sitcom. Agora parto para a 8ª temporada. Hasta luego!
Como Eu Conheci Sua Mãe (6ª Temporada)
4.5 350 Assista AgoraUm dos melhores episódios de How I Met Your Mother está nessa temporada: o episódio em que Barney pensa que é negro. kkkkkkk
A cena do "Stand by Me" é hilária!
Como Eu Conheci Sua Mãe (5ª Temporada)
4.5 285 Assista AgoraA melhor temporada de HIMYM até agora. Estava gostando razoavelmente do sitcom, assistia mais para matar o saudosismo de Friends. Mas essa temporada proporcionou episódios memoráveis, como o episódio do playbook de Barney, todos cantando a canção do terno, o episódio do "bang bang bang". Tirando o episódio do término da Robin com o Barney, que foi o pior de todas as temporadas, acredito que aqui HIMYM começou a ter uma cara própria. Ansioso para assistir a 6ª temporada.