Ao contrário de outras séries e filmes que tratam de bissexualidade, neste não é ela que é vista como dilema, mas as escolhas de vida dos personagens. Aparentemente, Jean não teve prévias relações homossexuais, mas ainda sim isto não é problematizado, podemos já partir do desejo assumido para outras questões existenciais. Da parte de Sidney, a bissexualidade é aceita e vivida sem maiores dilemas de cunho sexual. É muito satisfatório que a “discussão” parta daí, sem se perder em divagações mais ou menos adolescentes (“e agora, sou gay? socorro!”), como em “Eu, tu e ela”, pra citar um exemplo recente.
Diria que a mentira contraposta à honestidade é o tema central da série, e é este o trajeto mais ou menos falhado da protagonista ao longo da temporada. Incapaz de fazer sentido pra si mesma e atuar no mundo com uma só personalidade, se desdobra em vários personagens, às vezes com uma motivação altruísta (caso de Alisson, principalmente), outras vezes obscura e apaixonada, como no caso central, do paciente Sam e a obsessão por Sidney. Ela cria uma persona para parecer interessante a Sidney: “Me chamo Diane Hart. Sou jornalista. Status de relacionamento: solteira.” Chama atenção o nome escolhido para esta personagem - não há como não evocar a Diane que faz Naomi em Mullholand Drive.
Esse jogo de inúmeras máscaras vai sendo mantido com certo esforço até o fim da temporada. Admitir uma enganação, ela apenas o faz com relação ao apartamento 309, quando conta ao marido que não o vendeu na realidade. A partir daí, a traição é suspeitada por ele, mas não é admitida. Mas até a última cena do último episódio, a relação dela com Sidney ainda é uma promessa, no sentido em que a honestidade e portanto a entrega de si mesma ainda não foram realizadas. Mas Sidney se entrega de fato com paixão a esse mistério Diane, talvez justamente pela “inapreensibilidade” desse objeto, e por si mesma desenrola o novelo de mentiras. Ao final, seu olhar para Jean que conclui a temporada parece dizer que está ainda contente com aquilo que vê, e da parte de Jean, o olhar parece dizer que o medo foi vencido.
Adorei a série, achei envolvente, muito sexy, especialmente o capítulo 7 (!)
Aquela cena inicial no bar, tocando Carmen de Bizet numa versão contemporânea... L'amour est un oiseau rebelle (!)
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Gypsy (1ª Temporada)
3.6 312 Assista AgoraAo contrário de outras séries e filmes que tratam de bissexualidade, neste não é ela que é vista como dilema, mas as escolhas de vida dos personagens. Aparentemente, Jean não teve prévias relações homossexuais, mas ainda sim isto não é problematizado, podemos já partir do desejo assumido para outras questões existenciais. Da parte de Sidney, a bissexualidade é aceita e vivida sem maiores dilemas de cunho sexual. É muito satisfatório que a “discussão” parta daí, sem se perder em divagações mais ou menos adolescentes (“e agora, sou gay? socorro!”), como em “Eu, tu e ela”, pra citar um exemplo recente.
Diria que a mentira contraposta à honestidade é o tema central da série, e é este o trajeto mais ou menos falhado da protagonista ao longo da temporada. Incapaz de fazer sentido pra si mesma e atuar no mundo com uma só personalidade, se desdobra em vários personagens, às vezes com uma motivação altruísta (caso de Alisson, principalmente), outras vezes obscura e apaixonada, como no caso central, do paciente Sam e a obsessão por Sidney. Ela cria uma persona para parecer interessante a Sidney: “Me chamo Diane Hart. Sou jornalista. Status de relacionamento: solteira.” Chama atenção o nome escolhido para esta personagem - não há como não evocar a Diane que faz Naomi em Mullholand Drive.
Esse jogo de inúmeras máscaras vai sendo mantido com certo esforço até o fim da temporada. Admitir uma enganação, ela apenas o faz com relação ao apartamento 309, quando conta ao marido que não o vendeu na realidade. A partir daí, a traição é suspeitada por ele, mas não é admitida. Mas até a última cena do último episódio, a relação dela com Sidney ainda é uma promessa, no sentido em que a honestidade e portanto a entrega de si mesma ainda não foram realizadas. Mas Sidney se entrega de fato com paixão a esse mistério Diane, talvez justamente pela “inapreensibilidade” desse objeto, e por si mesma desenrola o novelo de mentiras. Ao final, seu olhar para Jean que conclui a temporada parece dizer que está ainda contente com aquilo que vê, e da parte de Jean, o olhar parece dizer que o medo foi vencido.
Adorei a série, achei envolvente, muito sexy, especialmente o capítulo 7 (!)
Aquela cena inicial no bar, tocando Carmen de Bizet numa versão contemporânea... L'amour est un oiseau rebelle (!)