Não é o filme mais cativante do mundo e possui buracos complicados na sua construção geral. Mesmo assim, fiquei surpreso com essa nota baixa e com o teor da maioria dos comentários que li. Imagino que poucas pessoas sacaram que o longa é uma crítica ao Amor Romântico.
Trata-se de uma forte crítica à monogamia, mais do que um enredo dinâmico, o filme faz um retrato dos fundamentos doentios da nossa sociedade. Ao contrário do que os comentários aqui dizem (curiosamente alinhados com as personagens do filme que menos entendem o que está acontecendo rs - os amigos do Vic), NÃO HÁ TRAIÇÃO no casal. O filme não é sobre um "corno" e nem sobre uma mulher "liberal demais".
No aparente acordo do casal, Melinda é livre para se relacionar afetiva e sexualmente com quem quiser, é extremamente feminilizada e sexual: ela se solta, seduz, se diverte, se irrita, etc - basicamente um ser humano saudável. Vic é a representação de um psicopata que nada sente, extremamente manipulador e perigoso. Porém, todos o lêem como um sujeito inofensivo que está sendo feito de trouxa pela esposa. Essa forte contradição é simbolizada no trabalho de Vic (um chip inofensivo, mas que na prática mata milhares de inocentes).
Percebem o que cada personagem representa? Conseguem ver o retrato da nossa sociedade?
Abominamos mulheres livres, abominamos corpas livres - mas queremos vê-las femininas e sensuais, como troféu masculino. Exaltamos homens perigosos, fechados para seus sentimentos, possessivos e controladores. Naturalizamos ciúmes e relacionamentos baseados na posse. Isso tudo é doentio, isso é a monogamia compulsória, isso é o amor romântico.
Essa é a nossa sociedade. Queremos controlar o sexo, sobretudo através dos corpos de mulheres. Nos dizemos liberais, mas não suportamos a liberdade.
O comportamento de Vic não é uma exceção à regra, é típico de homens.
O livro-declaração do "amor da vida" que Vic faz é lindo, sublime, delicado. Mas nós sabemos o custo que Melinda paga para ser o "amor da vida" dele.
Esse é o amor Romântico: se apresenta como algo encantador, desejável e LIVRE, mas não passa de suporte para o patriarcado, controle de corpos, violências e tolhimento de liberdades e autonomias individuais.
PS: está tudo bem você se relacionar com uma só pessoa e querer um único Mozão pra si, rs! Ninguém é obrigado a ter múltiplos parceiros como Melinda. Sintam-se apenas convidades a repensar as formas de relacionamento baseadas na posse. Olhemos para estruturas aparentemente inofensivas, mas que geram tantos problemas graves.
A crítica ao Amor Romântico é excelente: a validação social dada pelo casamento/instituição casal é representada em metáforas hiperbólicas. As justificativas para se aceitar esse imperativo social são cômicas, causando algum estranhamento ver uma aceitação tão passiva dessa norma em cenas como
o teatrinho do hotel, em que formar um casal é "útil" para que o homem não engasgue comendo sozinho ou que a mulher não seja estuprada andando sozinha. Não é difícil perceber a pertinência das críticas, de fato são realidades sociais.
Ainda assim, essa posição crítica à monogamia compulsória tem um limite muito claro no filme. Não me parece ser possível considerar sua mensagem Não Monogâmica. Mesmo entregando todas as condições para se questionar o Amor Romântico, a alternativa encontrada pelas protagonistas reforça o ideal romântico de "amor verdadeiro" e monogâmico. É feita uma crítica à norma, mas sem qualquer ruptura com ela.
É como se o absurdo do hotel de se buscarem parceiros obrigatórios a partir de qualquer ponto em comum fosse retomado como válido[spoiler] na miopia e conexão afetiva das personagens na floresta.
Existem outras formas de amor que não a monogamia compulsória do hotel ou o ultra individualismo da floresta, mas ao fim o filme escolhe por não apresentá-las e se decide pela monogamia - apenas com algumas atenuações em relação a sua imposição social.
A quem possa não concordar, pergunto: a mensagem final não é a mesma do hotel, de que há por aí uma "alma gêmea" para cada pessoa que se disponha a encontrá-la?
que mal experimentaram a vida (A Lisa nunca tinha saído com outra pessoa além do irmão!), que se detém em jogos infantis, que estão absolutamente presos em um mundinho privado, alheios ao que está acontecendo lá fora (mesmo as referências são a filmes de época, não do momento atual francês), são esses mesmos jovens que vão lá e fazem uma "revolução", que se colocam na rua pra combater o sistema. Se trata de uma critica intencional às personagens desse momento de efervescência política, indicando eles não são plenamente conscientes do que fazem, são movidos apenas pelo calor do momento. Mesmo sem nenhuma participação política, ou qualquer envolvimento com as revoltas, eles saem às ruas e se colocam na linha de frente do combate.
O filme denuncia a contradição interna a essas personagens, numa tentativa de indicar incoerências nos agentes revolucionários para que talvez possamos amadurecer a nossa consciência política e, quem sabe, tornarmo-nos agentes de uma revolução mais contundente.
Essa nota baixa não condiz com o filme, é excelente!
Trata-se de um filme extremamente equilibrado na sua proposta. Possui menos de 2h e mantém um tom de comédia leve e divertida do início ao fim, sendo bastante acessível aos mais diversos públicos (18+), não espere densidade ou genialidade. Mesmo assim, apresenta ricas provocações capazes de gerar longas conversas e reflexões.
O filme é construído a partir dos assuntos "relacionamentos e sexualidade" em abordagens relacionadas
Cabaré Biblioteca Pascal
3.8 28Lembra muito Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas do Tim Burton
Águas Profundas
2.5 362 Assista AgoraNão é o filme mais cativante do mundo e possui buracos complicados na sua construção geral. Mesmo assim, fiquei surpreso com essa nota baixa e com o teor da maioria dos comentários que li. Imagino que poucas pessoas sacaram que o longa é uma crítica ao Amor Romântico.
Trata-se de uma forte crítica à monogamia, mais do que um enredo dinâmico, o filme faz um retrato dos fundamentos doentios da nossa sociedade. Ao contrário do que os comentários aqui dizem (curiosamente alinhados com as personagens do filme que menos entendem o que está acontecendo rs - os amigos do Vic), NÃO HÁ TRAIÇÃO no casal. O filme não é sobre um "corno" e nem sobre uma mulher "liberal demais".
No aparente acordo do casal, Melinda é livre para se relacionar afetiva e sexualmente com quem quiser, é extremamente feminilizada e sexual: ela se solta, seduz, se diverte, se irrita, etc - basicamente um ser humano saudável. Vic é a representação de um psicopata que nada sente, extremamente manipulador e perigoso. Porém, todos o lêem como um sujeito inofensivo que está sendo feito de trouxa pela esposa. Essa forte contradição é simbolizada no trabalho de Vic (um chip inofensivo, mas que na prática mata milhares de inocentes).
Percebem o que cada personagem representa?
Conseguem ver o retrato da nossa sociedade?
Abominamos mulheres livres, abominamos corpas livres - mas queremos vê-las femininas e sensuais, como troféu masculino. Exaltamos homens perigosos, fechados para seus sentimentos, possessivos e controladores. Naturalizamos ciúmes e relacionamentos baseados na posse. Isso tudo é doentio, isso é a monogamia compulsória, isso é o amor romântico.
Essa é a nossa sociedade. Queremos controlar o sexo, sobretudo através dos corpos de mulheres. Nos dizemos liberais, mas não suportamos a liberdade.
O comportamento de Vic não é uma exceção à regra, é típico de homens.
O livro-declaração do "amor da vida" que Vic faz é lindo, sublime, delicado. Mas nós sabemos o custo que Melinda paga para ser o "amor da vida" dele.
PS: está tudo bem você se relacionar com uma só pessoa e querer um único Mozão pra si, rs! Ninguém é obrigado a ter múltiplos parceiros como Melinda. Sintam-se apenas convidades a repensar as formas de relacionamento baseadas na posse. Olhemos para estruturas aparentemente inofensivas, mas que geram tantos problemas graves.
O Lagosta
3.8 1,4K Assista AgoraA crítica ao Amor Romântico é excelente: a validação social dada pelo casamento/instituição casal é representada em metáforas hiperbólicas. As justificativas para se aceitar esse imperativo social são cômicas, causando algum estranhamento ver uma aceitação tão passiva dessa norma em cenas como
o teatrinho do hotel, em que formar um casal é "útil" para que o homem não engasgue comendo sozinho ou que a mulher não seja estuprada andando sozinha. Não é difícil perceber a pertinência das críticas, de fato são realidades sociais.
Ainda assim, essa posição crítica à monogamia compulsória tem um limite muito claro no filme. Não me parece ser possível considerar sua mensagem Não Monogâmica. Mesmo entregando todas as condições para se questionar o Amor Romântico, a alternativa encontrada pelas protagonistas reforça o ideal romântico de "amor verdadeiro" e monogâmico. É feita uma crítica à norma, mas sem qualquer ruptura com ela.
É como se o absurdo do hotel de se buscarem parceiros obrigatórios a partir de qualquer ponto em comum fosse retomado como válido[spoiler] na miopia e conexão afetiva das personagens na floresta.
A quem possa não concordar, pergunto: a mensagem final não é a mesma do hotel, de que há por aí uma "alma gêmea" para cada pessoa que se disponha a encontrá-la?
Os Sonhadores
4.1 1,9K Assista AgoraÉ de se notar que esses jovens
que mal experimentaram a vida (A Lisa nunca tinha saído com outra pessoa além do irmão!), que se detém em jogos infantis, que estão absolutamente presos em um mundinho privado, alheios ao que está acontecendo lá fora (mesmo as referências são a filmes de época, não do momento atual francês), são esses mesmos jovens que vão lá e fazem uma "revolução", que se colocam na rua pra combater o sistema. Se trata de uma critica intencional às personagens desse momento de efervescência política, indicando eles não são plenamente conscientes do que fazem, são movidos apenas pelo calor do momento.
Mesmo sem nenhuma participação política, ou qualquer envolvimento com as revoltas, eles saem às ruas e se colocam na linha de frente do combate.
O filme denuncia a contradição interna a essas personagens, numa tentativa de indicar incoerências nos agentes revolucionários para que talvez possamos amadurecer a nossa consciência política e, quem sabe, tornarmo-nos agentes de uma revolução mais contundente.
Se Organizar Direitinho…
3.1 55 Assista AgoraEssa nota baixa não condiz com o filme, é excelente!
Trata-se de um filme extremamente equilibrado na sua proposta. Possui menos de 2h e mantém um tom de comédia leve e divertida do início ao fim, sendo bastante acessível aos mais diversos públicos (18+), não espere densidade ou genialidade. Mesmo assim, apresenta ricas provocações capazes de gerar longas conversas e reflexões.
O filme é construído a partir dos assuntos "relacionamentos e sexualidade" em abordagens relacionadas
à pauta LGBTQIA+ (relações cis homossexuais), casamento, não monogamia, término de relações, fetiches e até o tabu do incesto.
Yesterday: A Trilha do Sucesso
3.4 1,0KO filme tem seus méritos, uma pena o "romance" empobrecer brutalmente o resultado final.