"É certo que é possível fazer um filme com a proposta de isolar os personagens principais em arcos opostos. Entretanto, fica a sensação de que Travessia perdeu uma grande chance de ganhar uma força ao não colocar pai e filho no mesmo quadro quase nunca. Ver a interação entre Castro e Diaz poderia ter rendido bons momentos e ajudado o público a embarcar naquele drama familiar. Quando a trama enfim engrena, é tarde demais." http://www.adorocinema.com/noticias/filmes/noticia-122157/
"A bússola do filme, entretanto, é a personagem Amsterdã, encarnada com maestria pela atriz Bruna Linzmeyer. Junkie por definição e prostituta pela necessidade de sustentar sua adição, a personagem é a única pessoa pobre do círculo de amigos e, passando por um estado de convulsão pessoal e existencial, serve para apresentar os melhores dilemas do filme. É ela quem se destaca no meio dessa trupe que 'tem a aparência certa e mais porra nenhuma'." http://www.adorocinema.com/noticias/filmes/noticia-122060/
- Uma vez, no colégio, eu te observei pela janela da biblioteca enquanto você conversava com a Sarah. - Oh, meu Deus! Eu estava tão apaixonado por ela! - Eu sei. Você estava flertando com ela e ela te correspondia. - Lembro disso! - Só que assim que você saiu da biblioteca ... ela começou a caçoar de você com a Kim. Foi como se ela estivesse rindo de mim. Você não percebeu? Você parecia tão feliz. - Bem ... eu sabia, eu os ouvi. - Então por que estava tão feliz? - Eu amava Sarah. Aquele amor era meu. Me pertencia. Nem Sarah tinha o direito de tira-lo de mim. Posso a amar quem eu quiser. - Mas ela te achava patético. - (Risos) Isso era problema dela, não meu. Você é aquilo que você ama, não quem ama você. Foi o que eu decidi faz muito tempo.
O filme é tão necessário quanto "A Lista de Schindler", por nos forçar a encarar um retrato nu e cru de uma das práticas mais terríveis que o ser humano já protagonizou. Steve McQueen não cede ao sentimentalismo barato e consegue extrair performances muito autênticas e tocantes de seu afiado elenco, onde é difícil apontar quem brilha mais. Os momentos mais brutais do longa são difíceis de assistir, lembrando a violência gráfica de "A Paixão de Cristo".
Por mais que tenha seus momentos de afetação e seja apresentado num incômodo formato "quadradão"(1:1), Mommy é um filme potente, que surpreende pelas atuações vigorosas de seus protagonistas, a entrelaçada maneira agressiva e afetuosa com que os personagens se relacionam e apuro estético da película.
O longa acompanha a freudiana convivência de uma mãe solteira com seu filho adolescente, dotado de uma personalidade transtornada em ebulição. O garoto tem momentos de descontrole, impulsividade e violência, que sufocam seu lado ocasionalmente dócil e amável (o ator Antoine-Olivier Pilon tira de letra as alterações de humor do personagem). Depois de uma briga entre os dois, a vizinha deles, uma professora licenciada que carrega seus próprios problemas psicológicos, se aproxima da disfuncional família, pela qual desenvolve uma forte empatia.
A montanha russa emocional do filme está não somente nos confrontos físicos e verbais entre mãe e filho, mas também no embate entre a vida estressante que eles levam e todo o universo de possibilidades que eles teriam se fossem "normais", o que é exemplificado na mais mágica cena do filme.
Xavier Dolan consegue provocar as mais distintas emoções na plateia sem forçar a barra. Um destaque é o uso inteligente de canções que já são velhas conhecidas do público, como "Wonderwall", do Oasis, que embala um momento "feel good" do qual é impossível não se contagiar.
Mommy se encerra com o lamento romântico-existencial de "Born To Die", da Lana Dey Rey, que sintetiza: "Às vezes o amor não é o bastante"
Pense na canção "Isn't It A Pity", majestoso hino dos relacionamentos falidos composto por George Harrisson, regravada com a força raivosa e doentia do Nine Inch Nails. Imaginou? Esse é o tom do filme Garota Exemplar, um assombroso suspense sobre a faceta mais sombria dessa complexa instituição chamada casamento.
Disintegration, álbum clássico do The Cure. Quem é fã da banda também vai adorar
. Além disso, Paul Rudd interpreta muito bem o Paul Rudd. Os ótimos efeitos especiais são o carro-chefe do filme e, por si só, valem o ingresso. A noção de escalas é abordada perfeitamente e garante ótimas cenas. Não é a produção mais divertida da Marvel (sou mais Guardiões da Galáxia), mas é reconfortante ver um filme de herói que não precisa recorrer à uma ameaça de fim do mundo para engrenar.
Filme que trata da questão racial nos EUA quebrando estereótipos com um humor afiado e inteligente. Rico em referências culturais de nosso tempo, Dope tem um pouquinho de Pulp Fiction e Malcon, protagonista da trama, é um Ferris Bueller do gueto que sabe que ninguém o perguntaria por que ele quer ir para Harvard se fosse branco.
Um dos momentos mais divertidos do longa é a cena em que um rapaz branco se questiona se pode ou não usar o termo "nigga". Além de boas risadas, a a cena rende boas reflexões sobre identidade racial e privilégios.
O Apocalipse é tosco. Os figurinos e ambientação são legais. O excesso de CGI incomoda. O excesso de destruição também. O elenco é de primeira e impede que o filme seja um quase fiasco. X-Men: Apocalypse até diverte, mas poderia ser muito melhor.
Para mim, Capitão América: Guerra Civil é o melhor filme da Marvel. Acerta cheio na coesão da trama. Acerta cheio ao ser tão bom no desenvolvimento dos personagens quanto nas cenas de ação. É tudo que Batman Vs Superman não é: consistente, coerente e emocionante.
O estilo contemplativo e filosófico do cineasta Terrence Malick atinge o auge da força narrativa, estilística e imagética (salva de palmas para o triplamente oscarizado Emmanuel Lubezki) em Árvore da Vida, magnum opus que conjuga o melhor da robustez visual de Terra de Ninguém e Cinzas no Paraíso com as questões existenciais de Além da Linha Vermelha.
Com uma poesia etérea em cada frame, a trama explora temas como memória, luto e reconciliação com uma pujança dramática e emotiva, alcançada através das grandes atuações do elenco (Brad Pitt em uma das melhores atuações da carreira) e pelas escolhas não convencionais na forma de Malick contar sua história.
A experiência cinematográfica de assistir a Árvore da Vida pode exigir certa paciência por conta dos devaneios introspectivos do cineasta, mas faz o espectador testemunhar uma obra de arte onde a imensa ambição de seu criador é honradamente justificável num esforço bem sucedido para conciliar dramas típicos da natureza humana com os segredos e mistérios do universo.
Paco de Lucia - A Busca é um deleite para os ouvidos de qualquer pessoa que se interessa por expressões musicais internacionais fora do eixo Estados Unidos - Reino Unido. O longa-metragem não escapa da tradicional fórmula composta por entrevistas com da personalidade que é foco do filme + imagens de arquivo + depoimentos de companheiros na arte e na vida, mas acerta ao retratar o mestre de Andaluzia, morto em 2014, de forma sincera, como alguém que entende e respeita o próprio legado, mas ainda assim tem inseguranças e não consegue hipervalorizar o próprio talento.
O trabalho foca estritamente na vida profissional de Paco, o que causa certa estranheza quando se descobre que o filme é dirigido pelo cineasta estreante Curro Sánchez, filho do lendário músico.
Acompanhamos seis décadas de vida do maior expoente da guitarra flamenca com passagens bastante didáticas sobre a trajetória do músico, o que em nenhum momento se transforma em algo enfadonho graças a maneira quase teatral que Lucía narra os acontecimentos de sua própria vida. Há até espaço para momentos espirituosos, como quando Paco diz que parou de se afirmar de esquerda quando ganhou seus primeiros milhões e guardou tudo no banco, sem fazer doações ou construir escolas.
Para ouvidos desatentos ou desacostumados, a música flamenca pode parecer um tanto derivativa, mas o filme trata de dissecar o gênero, que evoluiu junto com a carreira de Paco de Lucía (o que o fez ser acusado de blasfemar o ritmo espanhol pelos mais puristas quando incorporou influências do jazz, música latina e indiana em seus trabalhos). Aliás, o longa-metragem não priva o artista de ter que falar sobre as críticas ao seu trabalho, que podem ter perdido relevância na avaliação contemporânea da obra do músico, mas, fizeram o artista perder o sono, como ele próprio assume. De acordo com o músico, outros guitarristas flamencos diziam que ele não fazia música, era apenas um instrumentista veloz e mais nada. Em um depoimento breve, o guitarrista Carlos Santana mostra o quanto infundado é esse argumento. Assim como John Coltrane, Paco de Lucía era capaz de se expressar musicalmente com uma precisão técnica impressionante e ter densidade ao mesmo tempo.
Curiosamente, o maior sucesso do compositor é uma rumba e não uma peça de música flamenca. Quando o filme aborda a gênese da magnum opus "Entre dos Águas", a montagem une diversas versões ao vivo da faixa em diferentes arranjos, em um grande momento da projeção.
Para os músicos, as reflexões sobre a função do improviso e a revelação de que Paco passou a maior parte de sua carreira aflito por não ter alguns conhecimentos básicos de teoria musical são pontos preciosos.
Há um certo desequilíbrio entre os trechos que falam sobre o passado e os trechos que acompanham a banalidade da rotina de Lucía na época em que o documentário foi rodado. Outra questão problemática é a pouca relevância dada para a relação do instrumentista como seu irmão Ramón de Algeciras, com quem colaborou por muitos anos. Ainda assim, o filme se firma como um competente e importante registro sobre o maior músico espanhol de sua geração no limiar de sua existência.
O clássico disco Pet Sounds foi lançado em 1966, época em que o formato estéreo ainda engatinhava e poucas bandas utilizavam o recurso. Ao longo dos anos, o trabalho mais contundente da história da música pop americana ganhou reedições remasterizadas e dividas em dois canais. Em 2015, na cinebiografia Love & Mercy, podemos ver e ouvir Pet Sounds no "formato 3D", através do grande filme dirigido por Bill Pohlad, que estreia na função após ter produzido filmes como 12 Anos de Escravidão, Na Natureza Selvagem, O Segredo de Brokeback Mountain e A Árvore da Vida.
O longa-metragem narra dois momentos distintos da vida de Brian Wilson. No primeiro momento, nos anos 60, ele é a mente criativa dos Beach Boys, retratado como um pequeno Mozart que levou o rock 'n' roll a um patamar de sofisticação quase erudita sem precedentes na pele de Paul Dano (em atuação inspiradíssima). Ali, Wilson trabalhou minuciosamente, como um artesão sonoro, em Pet Sounds e tentou compor sua pequena sinfonia para Deus no disco Smile, projeto que foi abandonado na medida que a sanidade de seu criador foi abafada pelas crises de sua mente atormentada.
Paralelamente a isso, nos anos 80, o filme mostra Wilson como um letárgico homem de meia idade controlado por um psiquiatra nada ortodoxo (Paul Giamatti), para dizer o mínimo, repleto de traumas e desesperanças na interpretação de John Cusack (que surpreende). Longe de sua família, Brian vê o amor e a compaixão do título do filme chegar ao seu alcance através das mãos de Melinda Ledbetter (Elizabeth Banks), a mulher que conhece por acaso que viria a se tornar sua esposa.
Ao lidar com temas tão delicados quanto transtornos mentais, frustração e a perda das rédeas da própria vida, o filme não hesita em apresentar momentos de maior carga emocional. São áreas sombrias da natureza humana. Sendo assim, fica fácil entender como Brian trocou versos sobre surfe, carros e garotas para pedidos de socorro como "Sometimes I feel very sad / Can't find nothin' I can put my heart and soul into", de "I Just Wasn't Made For These Times". Porém, as cores vivas de Love & Mercy estão na mensagem, pura e simples, sobre o poder de cura do amor em uma obra que também denuncia o quão nocivo pode ser tratar portadores de doenças psiquiátricas de maneira não-humanizada.
Brian Wilson não foi um músico qualquer. O que o diferenciava dos primeiros rockstars era sua capacidade de produzir discos com técnicas audaciosas que deixavam Phill Spector no chinelo. Por isso, ao contrário de outras cinebiografias de artistas musicais que reservam grandes momentos de redenção ou caos para as cenas em que os cantores estão no palco, Love & Mercy triunfa ao mostrar Wilson como um brilhante produtor. O maior momento da vida artística de Wilson foi dentro de quatro paredes e isso fica muito claro para o público.
O aspecto "Pet Sounds 3D" é ressaltado nessas cenas. Para quem está familiarizado com os Beach Boys, será um deleite ver o esmero da produção de Love & Mercy de recriar com exatidão os figurinos e cenários das aparições da banda em programas de TV, entrevistas e videoclipes. A rotina de Brian no estúdio é o aspecto mais interessante do filme para fãs de música, com frames que chegam a reeditar fotos famosas daquele momento.
É lá que Dano brilha e incorpora a paixão pela arte com um olhar de uma criança diante de um parque de diversões. A cena da gravação de "God Only Knows" funciona como uma versão decupada da clássica canção de amor. O arranjo da faixa é esmiuçado através dos timbres da trompa, das flautas, do acordeão, quarteto de violino, violoncelo... Durante as sessões de "Good Vibrations", a câmera se move em 360º no estúdio, detalhando a graciosidade do processo criativo, com Brian sempre atento a cada detalhe.
Uma das melhores coisas da direção de Pohlad é oferecer ao espectador a chance de escutar atráves dos ouvidos de Brian Wilson, capaz de "musicalizar" sons como latidos e buzinas, mas também de escutar as vozes desagradáveis em sua mente.
Outra sacada brilhante foi a inesperada alusão à sequência final de 2001: Uma Odisseia no Espaço numa breve reflexão sobre temporalidade em perfeita consonância com o verso "A child is the father of the man", de "Surf's Up", peça central do abortado disco Smile.
Oren Moverman, corroteirista de Love & Mercy, foi um dos roteiristas de Não Estou Lá, filme que trouxe diversos atores no papel de Dylan, em uma das cinebiografias mais originais dos últimos anos. Embora seja um pouco mais convencional do que Não Estou Lá, Love & Mercy tem seu principal trunfo as grandes atuações de Dano e Cusack e maneira honesta como trata seu objeto de análise. Não se trata de um mero filme de ascenção e queda ou de uma mera fábula sobre redenção. Tampouco veremos uma vitimização exacerbada de Wilson ou mesmo uma hagiografia do músico, mas sim a história de um homem real em sua jornada de auto-aceitação e busca por elevação através da arte.
Homens, Mulheres e Filhos surge com o objetivo de ser um filme-zeitgeist, meta que alcança ao retratar, sem maniqueísmo, a maneira como as gerações X e Y se portam na era das redes sociais, das mensagens instantâneas e da overdose de pornografia.
É verdade que os personagens passam por uma crise de incomunicabilidade, mas isso não é, necessáriamente, culpa da internet. Justamente por não forçar essa relação de causa e efeito é que o filme funciona. Afinal, o narcisismo, a tendência ao escapismo e tantos outros "ismos" já existiam na raça humana antes da rede mundial de computadores.
O roteiro se mostra habilidoso ao tecer uma teia de subtramas que se conectam, e a direção de Jason Reitman confere coesão à obra. Outra coisa legal é a presença de Adam Sandler, que atua fora de sua zona de conforto. Entretanto, a melhor performance do elenco é de Jennifer Garner como uma mãe superprotetora capaz de demonstrar uma desolação no olhar quando não consegue rastrear precisamente cada mensagem que sua filha recebeu por inbox.
A trilha sonora minimalista é carregada de inteligência ao usar timbres semelhantes aos de bipes de computadores nas músicas. Não me surpreenderia uma indicação ao Oscar.
O ponto fraco de Homens, Mulheres e Filhos é querer forçar profundas aspirações filosóficas com sucessivas referências ao cientista Carl Sagan. Sim, sabemos que a Terra é só um "pálido ponto azul" no universo, mas pelo menos aqui tem wi-fi.
Comecei o Festival do Rio com pé direito. Acho que Whiplash já é um dos meu filmes favoritos.
Ao acompanhar a história de um prodigioso baterista de jazz que é testado para além dos seus limites pelo tirânico regente da banda que faz parte, o diretor Damien Chazelle expõe com crueza (mas também elegância) o alto custo que se paga para ser um artista de elite e a guerra que um músico trava contra si mesmo. Há algo de muito catártico nas cenas em que o personagem principal, interpretado com firmeza por Miles Teller, toma as baquetas e faz da estridência dos pratos o seu urro contra a mediocridade ("Não existem duas palavras mais prejudiciais do que 'bom trabalho'", ensina o severo mentor).
O filme se aproveita do mito do artista brilhante de alma torturada, com uma certa glorificação dessa figura exemplificada nas recorrentes alusões ao lendário saxofonista Charlie Parker, para refletir sobre a natureza de nossas obsessões e o desejo de se imortalizar através da arte.
p.s.: A infame piada "o baterista é o melhor amigo do músico?" faz ainda menos sentido depois de Whiplash.
Travessia
2.6 17"É certo que é possível fazer um filme com a proposta de isolar os personagens principais em arcos opostos. Entretanto, fica a sensação de que Travessia perdeu uma grande chance de ganhar uma força ao não colocar pai e filho no mesmo quadro quase nunca. Ver a interação entre Castro e Diaz poderia ter rendido bons momentos e ajudado o público a embarcar naquele drama familiar. Quando a trama enfim engrena, é tarde demais."
http://www.adorocinema.com/noticias/filmes/noticia-122157/
A Frente Fria que a Chuva Traz
2.5 152 Assista Agora"A bússola do filme, entretanto, é a personagem Amsterdã, encarnada com maestria pela atriz Bruna Linzmeyer. Junkie por definição e prostituta pela necessidade de sustentar sua adição, a personagem é a única pessoa pobre do círculo de amigos e, passando por um estado de convulsão pessoal e existencial, serve para apresentar os melhores dilemas do filme. É ela quem se destaca no meio dessa trupe que 'tem a aparência certa e mais porra nenhuma'."
http://www.adorocinema.com/noticias/filmes/noticia-122060/
Adaptação.
3.9 707 Assista Agora- Uma vez, no colégio, eu te observei pela janela da biblioteca enquanto você conversava com a Sarah.
- Oh, meu Deus! Eu estava tão apaixonado por ela!
- Eu sei. Você estava flertando com ela e ela te correspondia.
- Lembro disso!
- Só que assim que você saiu da biblioteca ... ela começou a caçoar de você com a Kim. Foi como se ela estivesse rindo de mim. Você não percebeu? Você parecia tão feliz.
- Bem ... eu sabia, eu os ouvi.
- Então por que estava tão feliz?
- Eu amava Sarah. Aquele amor era meu. Me pertencia. Nem Sarah tinha o direito de tira-lo de mim. Posso a amar quem eu quiser.
- Mas ela te achava patético.
- (Risos) Isso era problema dela, não meu. Você é aquilo que você ama, não quem ama você. Foi o que eu decidi faz muito tempo.
12 Anos de Escravidão
4.3 3,0KO filme é tão necessário quanto "A Lista de Schindler", por nos forçar a encarar um retrato nu e cru de uma das práticas mais terríveis que o ser humano já protagonizou. Steve McQueen não cede ao sentimentalismo barato e consegue extrair performances muito autênticas e tocantes de seu afiado elenco, onde é difícil apontar quem brilha mais. Os momentos mais brutais do longa são difíceis de assistir, lembrando a violência gráfica de "A Paixão de Cristo".
Mommy
4.3 1,2K Assista AgoraPor mais que tenha seus momentos de afetação e seja apresentado num incômodo formato "quadradão"(1:1), Mommy é um filme potente, que surpreende pelas atuações vigorosas de seus protagonistas, a entrelaçada maneira agressiva e afetuosa com que os personagens se relacionam e apuro estético da película.
O longa acompanha a freudiana convivência de uma mãe solteira com seu filho adolescente, dotado de uma personalidade transtornada em ebulição. O garoto tem momentos de descontrole, impulsividade e violência, que sufocam seu lado ocasionalmente dócil e amável (o ator Antoine-Olivier Pilon tira de letra as alterações de humor do personagem). Depois de uma briga entre os dois, a vizinha deles, uma professora licenciada que carrega seus próprios problemas psicológicos, se aproxima da disfuncional família, pela qual desenvolve uma forte empatia.
A montanha russa emocional do filme está não somente nos confrontos físicos e verbais entre mãe e filho, mas também no embate entre a vida estressante que eles levam e todo o universo de possibilidades que eles teriam se fossem "normais", o que é exemplificado na mais mágica cena do filme.
Xavier Dolan consegue provocar as mais distintas emoções na plateia sem forçar a barra. Um destaque é o uso inteligente de canções que já são velhas conhecidas do público, como "Wonderwall", do Oasis, que embala um momento "feel good" do qual é impossível não se contagiar.
Mommy se encerra com o lamento romântico-existencial de "Born To Die", da Lana Dey Rey, que sintetiza: "Às vezes o amor não é o bastante"
Garota Exemplar
4.2 5,0K Assista AgoraPense na canção "Isn't It A Pity", majestoso hino dos relacionamentos falidos composto por George Harrisson, regravada com a força raivosa e doentia do Nine Inch Nails. Imaginou? Esse é o tom do filme Garota Exemplar, um assombroso suspense sobre a faceta mais sombria dessa complexa instituição chamada casamento.
Homem-Formiga
3.7 2,0K Assista AgoraPirei demais na referência ao
Disintegration, álbum clássico do The Cure. Quem é fã da banda também vai adorar
Dope: Um Deslize Perigoso
4.0 351 Assista AgoraFilme que trata da questão racial nos EUA quebrando estereótipos com um humor afiado e inteligente. Rico em referências culturais de nosso tempo, Dope tem um pouquinho de Pulp Fiction e Malcon, protagonista da trama, é um Ferris Bueller do gueto que sabe que ninguém o perguntaria por que ele quer ir para Harvard se fosse branco.
Um dos momentos mais divertidos do longa é a cena em que um rapaz branco se questiona se pode ou não usar o termo "nigga". Além de boas risadas, a a cena rende boas reflexões sobre identidade racial e privilégios.
X-Men: Apocalipse
3.5 2,1K Assista AgoraO Apocalipse é tosco. Os figurinos e ambientação são legais. O excesso de CGI incomoda. O excesso de destruição também. O elenco é de primeira e impede que o filme seja um quase fiasco. X-Men: Apocalypse até diverte, mas poderia ser muito melhor.
Capitão América: Guerra Civil
3.9 2,4K Assista AgoraPara mim, Capitão América: Guerra Civil é o melhor filme da Marvel. Acerta cheio na coesão da trama. Acerta cheio ao ser tão bom no desenvolvimento dos personagens quanto nas cenas de ação. É tudo que Batman Vs Superman não é: consistente, coerente e emocionante.
O Ódio
4.2 316 Assista AgoraSoco no estômago. Foi direto pra minha lista de favoritos.
A Árvore da Vida
3.4 3,1K Assista AgoraO estilo contemplativo e filosófico do cineasta Terrence Malick atinge o auge da força narrativa, estilística e imagética (salva de palmas para o triplamente oscarizado Emmanuel Lubezki) em Árvore da Vida, magnum opus que conjuga o melhor da robustez visual de Terra de Ninguém e Cinzas no Paraíso com as questões existenciais de Além da Linha Vermelha.
Com uma poesia etérea em cada frame, a trama explora temas como memória, luto e reconciliação com uma pujança dramática e emotiva, alcançada através das grandes atuações do elenco (Brad Pitt em uma das melhores atuações da carreira) e pelas escolhas não convencionais na forma de Malick contar sua história.
A experiência cinematográfica de assistir a Árvore da Vida pode exigir certa paciência por conta dos devaneios introspectivos do cineasta, mas faz o espectador testemunhar uma obra de arte onde a imensa ambição de seu criador é honradamente justificável num esforço bem sucedido para conciliar dramas típicos da natureza humana com os segredos e mistérios do universo.
Los Angeles: Cidade Proibida
4.1 528 Assista AgoraCínico e sexy como todo bom film-noir
Paco de Lucía
4.2 1Paco de Lucia - A Busca é um deleite para os ouvidos de qualquer pessoa que se interessa por expressões musicais internacionais fora do eixo Estados Unidos - Reino Unido. O longa-metragem não escapa da tradicional fórmula composta por entrevistas com da personalidade que é foco do filme + imagens de arquivo + depoimentos de companheiros na arte e na vida, mas acerta ao retratar o mestre de Andaluzia, morto em 2014, de forma sincera, como alguém que entende e respeita o próprio legado, mas ainda assim tem inseguranças e não consegue hipervalorizar o próprio talento.
O trabalho foca estritamente na vida profissional de Paco, o que causa certa estranheza quando se descobre que o filme é dirigido pelo cineasta estreante Curro Sánchez, filho do lendário músico.
Acompanhamos seis décadas de vida do maior expoente da guitarra flamenca com passagens bastante didáticas sobre a trajetória do músico, o que em nenhum momento se transforma em algo enfadonho graças a maneira quase teatral que Lucía narra os acontecimentos de sua própria vida. Há até espaço para momentos espirituosos, como quando Paco diz que parou de se afirmar de esquerda quando ganhou seus primeiros milhões e guardou tudo no banco, sem fazer doações ou construir escolas.
Para ouvidos desatentos ou desacostumados, a música flamenca pode parecer um tanto derivativa, mas o filme trata de dissecar o gênero, que evoluiu junto com a carreira de Paco de Lucía (o que o fez ser acusado de blasfemar o ritmo espanhol pelos mais puristas quando incorporou influências do jazz, música latina e indiana em seus trabalhos). Aliás, o longa-metragem não priva o artista de ter que falar sobre as críticas ao seu trabalho, que podem ter perdido relevância na avaliação contemporânea da obra do músico, mas, fizeram o artista perder o sono, como ele próprio assume. De acordo com o músico, outros guitarristas flamencos diziam que ele não fazia música, era apenas um instrumentista veloz e mais nada. Em um depoimento breve, o guitarrista Carlos Santana mostra o quanto infundado é esse argumento. Assim como John Coltrane, Paco de Lucía era capaz de se expressar musicalmente com uma precisão técnica impressionante e ter densidade ao mesmo tempo.
Curiosamente, o maior sucesso do compositor é uma rumba e não uma peça de música flamenca. Quando o filme aborda a gênese da magnum opus "Entre dos Águas", a montagem une diversas versões ao vivo da faixa em diferentes arranjos, em um grande momento da projeção.
Para os músicos, as reflexões sobre a função do improviso e a revelação de que Paco passou a maior parte de sua carreira aflito por não ter alguns conhecimentos básicos de teoria musical são pontos preciosos.
Há um certo desequilíbrio entre os trechos que falam sobre o passado e os trechos que acompanham a banalidade da rotina de Lucía na época em que o documentário foi rodado. Outra questão problemática é a pouca relevância dada para a relação do instrumentista como seu irmão Ramón de Algeciras, com quem colaborou por muitos anos. Ainda assim, o filme se firma como um competente e importante registro sobre o maior músico espanhol de sua geração no limiar de sua existência.
The Beach Boys: Uma História de Sucesso
3.9 169 Assista AgoraO clássico disco Pet Sounds foi lançado em 1966, época em que o formato estéreo ainda engatinhava e poucas bandas utilizavam o recurso. Ao longo dos anos, o trabalho mais contundente da história da música pop americana ganhou reedições remasterizadas e dividas em dois canais. Em 2015, na cinebiografia Love & Mercy, podemos ver e ouvir Pet Sounds no "formato 3D", através do grande filme dirigido por Bill Pohlad, que estreia na função após ter produzido filmes como 12 Anos de Escravidão, Na Natureza Selvagem, O Segredo de Brokeback Mountain e A Árvore da Vida.
O longa-metragem narra dois momentos distintos da vida de Brian Wilson. No primeiro momento, nos anos 60, ele é a mente criativa dos Beach Boys, retratado como um pequeno Mozart que levou o rock 'n' roll a um patamar de sofisticação quase erudita sem precedentes na pele de Paul Dano (em atuação inspiradíssima). Ali, Wilson trabalhou minuciosamente, como um artesão sonoro, em Pet Sounds e tentou compor sua pequena sinfonia para Deus no disco Smile, projeto que foi abandonado na medida que a sanidade de seu criador foi abafada pelas crises de sua mente atormentada.
Paralelamente a isso, nos anos 80, o filme mostra Wilson como um letárgico homem de meia idade controlado por um psiquiatra nada ortodoxo (Paul Giamatti), para dizer o mínimo, repleto de traumas e desesperanças na interpretação de John Cusack (que surpreende). Longe de sua família, Brian vê o amor e a compaixão do título do filme chegar ao seu alcance através das mãos de Melinda Ledbetter (Elizabeth Banks), a mulher que conhece por acaso que viria a se tornar sua esposa.
Ao lidar com temas tão delicados quanto transtornos mentais, frustração e a perda das rédeas da própria vida, o filme não hesita em apresentar momentos de maior carga emocional. São áreas sombrias da natureza humana. Sendo assim, fica fácil entender como Brian trocou versos sobre surfe, carros e garotas para pedidos de socorro como "Sometimes I feel very sad / Can't find nothin' I can put my heart and soul into", de "I Just Wasn't Made For These Times". Porém, as cores vivas de Love & Mercy estão na mensagem, pura e simples, sobre o poder de cura do amor em uma obra que também denuncia o quão nocivo pode ser tratar portadores de doenças psiquiátricas de maneira não-humanizada.
Brian Wilson não foi um músico qualquer. O que o diferenciava dos primeiros rockstars era sua capacidade de produzir discos com técnicas audaciosas que deixavam Phill Spector no chinelo. Por isso, ao contrário de outras cinebiografias de artistas musicais que reservam grandes momentos de redenção ou caos para as cenas em que os cantores estão no palco, Love & Mercy triunfa ao mostrar Wilson como um brilhante produtor. O maior momento da vida artística de Wilson foi dentro de quatro paredes e isso fica muito claro para o público.
O aspecto "Pet Sounds 3D" é ressaltado nessas cenas. Para quem está familiarizado com os Beach Boys, será um deleite ver o esmero da produção de Love & Mercy de recriar com exatidão os figurinos e cenários das aparições da banda em programas de TV, entrevistas e videoclipes. A rotina de Brian no estúdio é o aspecto mais interessante do filme para fãs de música, com frames que chegam a reeditar fotos famosas daquele momento.
É lá que Dano brilha e incorpora a paixão pela arte com um olhar de uma criança diante de um parque de diversões. A cena da gravação de "God Only Knows" funciona como uma versão decupada da clássica canção de amor. O arranjo da faixa é esmiuçado através dos timbres da trompa, das flautas, do acordeão, quarteto de violino, violoncelo... Durante as sessões de "Good Vibrations", a câmera se move em 360º no estúdio, detalhando a graciosidade do processo criativo, com Brian sempre atento a cada detalhe.
Uma das melhores coisas da direção de Pohlad é oferecer ao espectador a chance de escutar atráves dos ouvidos de Brian Wilson, capaz de "musicalizar" sons como latidos e buzinas, mas também de escutar as vozes desagradáveis em sua mente.
Outra sacada brilhante foi a inesperada alusão à sequência final de 2001: Uma Odisseia no Espaço numa breve reflexão sobre temporalidade em perfeita consonância com o verso "A child is the father of the man", de "Surf's Up", peça central do abortado disco Smile.
Oren Moverman, corroteirista de Love & Mercy, foi um dos roteiristas de Não Estou Lá, filme que trouxe diversos atores no papel de Dylan, em uma das cinebiografias mais originais dos últimos anos. Embora seja um pouco mais convencional do que Não Estou Lá, Love & Mercy tem seu principal trunfo as grandes atuações de Dano e Cusack e maneira honesta como trata seu objeto de análise. Não se trata de um mero filme de ascenção e queda ou de uma mera fábula sobre redenção. Tampouco veremos uma vitimização exacerbada de Wilson ou mesmo uma hagiografia do músico, mas sim a história de um homem real em sua jornada de auto-aceitação e busca por elevação através da arte.
Micróbio & Gasolina
3.8 17Um dos melhores filmes de Michel Gondry
Homens, Mulheres & Filhos
3.6 670 Assista AgoraHomens, Mulheres e Filhos surge com o objetivo de ser um filme-zeitgeist, meta que alcança ao retratar, sem maniqueísmo, a maneira como as gerações X e Y se portam na era das redes sociais, das mensagens instantâneas e da overdose de pornografia.
É verdade que os personagens passam por uma crise de incomunicabilidade, mas isso não é, necessáriamente, culpa da internet. Justamente por não forçar essa relação de causa e efeito é que o filme funciona. Afinal, o narcisismo, a tendência ao escapismo e tantos outros "ismos" já existiam na raça humana antes da rede mundial de computadores.
O roteiro se mostra habilidoso ao tecer uma teia de subtramas que se conectam, e a direção de Jason Reitman confere coesão à obra. Outra coisa legal é a presença de Adam Sandler, que atua fora de sua zona de conforto. Entretanto, a melhor performance do elenco é de Jennifer Garner como uma mãe superprotetora capaz de demonstrar uma desolação no olhar quando não consegue rastrear precisamente cada mensagem que sua filha recebeu por inbox.
A trilha sonora minimalista é carregada de inteligência ao usar timbres semelhantes aos de bipes de computadores nas músicas. Não me surpreenderia uma indicação ao Oscar.
O ponto fraco de Homens, Mulheres e Filhos é querer forçar profundas aspirações filosóficas com sucessivas referências ao cientista Carl Sagan. Sim, sabemos que a Terra é só um "pálido ponto azul" no universo, mas pelo menos aqui tem wi-fi.
Four Corners
3.2 1Há uma boa dose de previsibilidade na trama que prejudica o filme.
Whiplash: Em Busca da Perfeição
4.4 4,1K Assista AgoraComecei o Festival do Rio com pé direito. Acho que Whiplash já é um dos meu filmes favoritos.
Ao acompanhar a história de um prodigioso baterista de jazz que é testado para além dos seus limites pelo tirânico regente da banda que faz parte, o diretor Damien Chazelle expõe com crueza (mas também elegância) o alto custo que se paga para ser um artista de elite e a guerra que um músico trava contra si mesmo.
Há algo de muito catártico nas cenas em que o personagem principal, interpretado com firmeza por Miles Teller, toma as baquetas e faz da estridência dos pratos o seu urro contra a mediocridade ("Não existem duas palavras mais prejudiciais do que 'bom trabalho'", ensina o severo mentor).
O filme se aproveita do mito do artista brilhante de alma torturada, com uma certa glorificação dessa figura exemplificada nas recorrentes alusões ao lendário saxofonista Charlie Parker, para refletir sobre a natureza de nossas obsessões e o desejo de se imortalizar através da arte.
p.s.: A infame piada "o baterista é o melhor amigo do músico?" faz ainda menos sentido depois de Whiplash.