Esse episódio 10 da segunda temporada foi uma das coisas mais bem dirigidas que vi pra TV. Em 15 minutos a gente ri, chora de tristeza, de raiva e se irrita, também. Que série maravilhosa!
Realmente é o The Boys da Netflix. A diferença é que o Prime Video já passou da fase de mostrar arco de adolescente problemático e drogado, a Netflix aparentemente ama isso.
Sátira de super-heróis vai muito além de sua aspiração e critica fundamentos do mundo contemporâneo
Lançada em 2019 de forma despretensiosa pela Amazon Prime Video, The Boys parecia ter sido idealizada apenas para completar um nicho que, atualmente, urge ser atendido pelas mais diversas plataformas: os super-heróis. Sem grandes expectativas, a série se mostrou surpreendente, oxigenando o que estava saturado pela nobreza utópica dos protagonistas.
Devido a seus próprios méritos, o segundo ano já era aguardado com certa expectativa. E sua abordagem não poderia ter sido mais acertada. Se no primeiro ano, a obra se preocupou em dispor o cenário e a força motriz dos protagonistas, o segundo ano foi focado em nivelar ambos os lados, dando profundidade e argumentos a eles. O crescimento da trama, realizado de forma orgânica, enche os olhos com a naturalidade que somos conduzidos. Dessa vez, as críticas à sociedade contemporânea são muito mais agudas e assertivas, o que demonstra a ciência dos produtores de que a obra alcançou outro patamar.
Debates como a falácia do genocídio branco, neo-nazismo (e o fato das pessoas idolatrarem o conceito, embora repudiem a palavra), a força comercial da Igreja, e, até mesmo, a formação de opinião através dos memes e das fake news são constantes nesse mundo dominado por, veja só, uma indústria farmacêutica que monopoliza o mercado de segurança. Ora, não precisa ser formado em ciência política para perceber que o discurso populista (maquinado as reais intenções da vilã) de Tempesta é o mais claro retrato de diversos líderes políticos agora.
Ao mesmo tempo que entra de cabeça na sátira, a série reserva tempo, também, para o desenvolvimento psicológico de seus personagens. Apenas para exemplificar, se em um episódio repudiamos as atrocidades do Capitão Pátria, no outro percebemos que ele é apenas um produto desde sua concepção. Billy Bruto, por outro lado, que antes achávamos ser guido tão somente por desejo de vingança, possui feridas que datam de muito antes do próprio Capitão Pátria. Além deles, todos os outros personagens tiverem desenvolvimentos apropriados à sua posição na trama, em especial Kimiko, Francês e Maeve.
Importante destacar também o mérito de como a série foi lançada. O lançamento semanal dos episódios é uma boa fuga para o imediatismo que estamos acostumados hoje: essa semana, queremos uma temporada inteira, e a segunda temporada queremos já semana que vem. Dessa forma, perpetua-se o produto através do debate, do hype.
Ao fim de seu segundo ano, The Boys satisfez expectativas que já não eram baixas. Excelente para nós, espectadores, mas importante frisar que, mais uma vez, eleva-se a régua com a qual o vindouro ano será medido. Nesse momento, acabamos por confiar ainda mais no potencial da série. E eu não vejo a hora de saber onde tudo isso vai dar.
Nota: 5/5
PS: siga @catacresecc no Instagram e fique por dentro de nossas notícias!
De certa forma, Ted Lasso é uma das produções mais comoventes de 2020
Não demora muito para entender sobre o que se trata a sequência de abertura de Ted Lasso, a nova série de comédia da AppleTV+: Lasso senta em uma arquibancada repleta de cadeiras azuis e, a partir dele, pouco a pouco os assentos começam a mudar para um vermelho vivo, livre de pichações ou manchas. Está aí uma produção que falará sobre transformação (contaminação), resiliência e coração.
Produzida e protagonizada por Jason Sudeikis – que, diga-se de passagem, faz o trabalho de sua vida –, a série narra a história de um técnico (Lasso) que treina times de futebol americano nos Estados Unidos, mas que recebe uma proposta para treinar um decadente clube de futebol (soccer) da Premier League, em Londres. Por mais bobo que possa parecer o enredo, a trama vai muito além dos gramados e trata de diversos temas, como empatia, humildade, perseverança e liderança.
A positividade e a resiliência nas quais o personagem é moldado, nos dias de hoje, são um alento para um mundo que precisa cada vez mais de referências positivas. Não se trata de conhecer ou não as regras do jogo que se joga, mas sim conhecer as pessoas que estão envolvidas. Trata-se de se mostrar vulnerável para construir pontes, e, nesse ponto especificamente, o sotaque sulista do personagem junto da personalidade mais distante dos ingleses cria um contraste que flutua do constrangedor para o simpático em questão de segundos.
O protagonista, com toda sua proatividade e pureza, remete-nos a outros grandes personagens: uma mistura de Leslie Knope (Amy Poehler em Parks and Recreation) e Michael Scott (Steve Carrel em The Office). Assim, considerando seu objetivo final, a séria não tem problema algum em se jogar no piegas a fim de ilustrar bem a lição a ser aprendida. E é justamente nessa coragem de abraçar o clichê que mora o maior mérito de produção.
Nascida em meio a um dos maiores desastres biológicos da história, em um mundo cada vez mais totalitário e repleto de discursos de ódio e de intolerância. Ted Lasso surge como um farol de esperança; a esperança de que enquanto ao menos um idealista estiver vivo, o bem há de vencer.
Chris Evans em grande papel de um pai que luta para manter sua família incólume
Sempre foi alvo de grande debate os limites que superamos para proteger nossa família. Um dos filmes mais emblemáticos que me vem a memória é Sobre Meninos e Lobos (2003), de Clint Eastwood. Não estranho essa grande obra me vir a cabeça quando termino Em Defesa de Jacob, considerando que a semelhanças são várias.
Na minissérie exclusiva da AppleTV+, Jacob Barber (Martell) é um adolescente que é acusado de assassinar um colega de classe, e cabe a seu pai, Andy Barber (Evans) lutar para provar a inocência de seu filho. A premissa não é inédita, para olhares mais atentos, remetemo-nos quase que diretamente a Precisamos Falar Sobre Kevin ou Tarde Demais.
Entretanto, ao mesmo tempo que se ampara nessa premissa tão conhecida, a obra luta para manter sua identidade própria. Seja pelo carisma de Evans ou pela grande atuação de Martell – por vezes, essa dubiedade que se constrói lembra a de Edward Norton, em As Duas Faces de um Crime –, Em Defesa de Jacob é um thriller lento, que trabalha bem a evolução da trama, mas que, por ansiar tanto em manter o mistério, acaba que estende demais e pode vir a cansar. Das atuações, contudo, precisamos fazer um destaque especial ao trabalho feito por Michelle Dockery, a mãe da família, que é a responsável maior por ir mostrando a desestruturação psicológica que vai tomando conta de todos na casa.
Importante observar que, embora seja um clássico suspense de tribunal, onde se busca a verdade por trás do assassinato, este não é o (único) objetivo da obra. Há uma série de circunstâncias que a tornam singular dentre as outras já citadas. Considerando que a família afetada é de classe média-alta, existe uma série de recursos que o patriarca lança mão para tentar isentar seu filho de culpa.
Seja através de informações privilegiadas de uma detetive amiga ou até ocultação de provas, Andy, o qual fala nos primeiros minutos que só quer descobrir a verdade do caso, é o primeiro a ingressar nos turvos mares da parcialidade e da manipulação.
Em Defesa de Jacob é uma produção que quer ir além do resultado do julgamento, é sobre colar as peças quebradas, ou reduzi-las a pó, caso seja necessário. Em um dos momentos mais marcantes, Laurie (Dockery), querendo retomar o controle de sua vida, sai para fazer compras no supermercado local e começa a cantarolar para disfarçar a angústia, apenas para no quadro seguinte cruzar com a mãe da vítima, que cospe em seu rosto. Lá fica bem claro o intento da obra. De fato, o julgamento condena antes mesmo da sentença.
Nota: 4/5
PS: siga @catacresecc no Instagram e fique por dentro de nossas outras críticas!
o enredo da série foi muito bom até essa temporada. a decisão preguiçosa de criar mundos paralelos deixa tudo muito fácil de resolver. a solução de resolver tudo apenas salvando os filhos do tannhauss soa quase como um deus ex machina de uma trama emaranhada cujos produtores não sabiam como resolver.
primeira temporada bem desinteressante. esse roteiro novelesco das séries da cw já estão enjoando há um tempo. além disso, o elenco é pouco carismático ressalvada a personagem alice, atuada por rachel skarsten, que, embora marcante, apresenta uma receita batida de coringa genérica.
Adorei a série. Bebe da mesma fonte que Era Uma Vez em Hollywood ao tentar recontar a história como se fosse um conto, mas tenta ser mais socialmente pertinente.
Os atores, grande parte acostumada já com o trabalho do Ryan Murphy, entregam uma performance muito digna.
Aliás não conseguia ver o David Corenswet em tela e não imaginar como ele ficaria excelente em um papel de Superman.
Se tem alguns pontos negativos a ressaltar foram as cenas do tapete vermelho (montagem meio displicente), alguns erros de continuidade (o charuto do Ernie no restaurante com o Jack e o Archie fica pela metade de uma cena pra outra), e claro, o próprio arco pessoal da Camille, como leading actress, deveria ter sido melhor explorado.
Se fosse uma minissérie de dez episódios, talvez pudesse se aprofundar mais e alguns personagens mais esquecidos. Mas o resumo de tudo é muito positivo e é um grande acréscimo no catálogo da Netflix.
o que ficou claro pra mim é que o Dr. Manhattan, na verdade, não é capaz de amar. ele sempre soube disso. ele só amou a Angela pq era ela quem herdaria os poderes dele. o amor dos dois foi instrumento do Jon passar as habilidades deles.
engraçado porque eu vejo essa série, gosto dela, mas eu SEMPRE tenho a impressão que falta mais capricho no roteiro ou que o episódio termina faltando algo. o último episódio deu a entender que a série finalmente vai deslanchar, mas tenho medo que continue sempre nesse 'quase'
"Marvel’s Agents of SHIELD - 5ª Temporada | Crítica
Mais um ano excelente de AoS que a fez garantir uma sexta temporada
Criada por Joss Whedon, Jed Whedon e Maurissa Tancharoen. Com Clark Gregg, Ming-Na Wen, Chloe Bennet, Iain de Caestecker, Elizabeth Henstridge, Henry Simmons, Nick Blood, Ruth Negga, Natalia Cordova-Buckley, Adrian Pasdar, Jeff Ward, J. August Richards, Briana Venskus, Catherine Dent, Dominic Rains, Joel Stoffer, Peter Mensah, Dove Cameron, Florence Faivre.
Aviso: esse texto contém spoilers da trama!
Quanto o quarto ano de AoS terminou, os fãs foram deixados na expectativa com um dos maiores ganchos ao longo da história da série: como raios Coulson & Cia foram parar no espaço? Voltada para esse mistério nos primeiros episódios, Agents of SHIELD começa o que então seria sua última temporada, mas que, merecidamente, foi renovada para mais um ano.
Vinda de um excelente quarto ano, a série tinha o fardo de manter a qualidade a qual conseguiu se alicerçar a partir do terço final do primeiro ano. Para isso, a obra – que há muito tem vida independente dos filmes – resolve ser ainda mais corajosa que o ano anterior e coloca em sua mitologia as viagens no tempo (recurso que poderá vir a ser utilizado em Vingadores 4). Com muita calma, a obra vai inserindo informações para o conhecimento dos fãs, de modo que as coisas vão se assentando com muita naturalidade. Assim, os três arcos que aparentemente são bem independentes, na verdade, se entrelaçam de forma majestosa, assim como no ano passado.
Na verdade, a fórmula do roteiro utilizada foi exatamente a mesma, onde há um primeiro arco, mais enfadonho e cheio de informação (Kasius e a Destruidora de Mundos); o segundo, um pouco mais breve, com bastante ação (Ruby e a nova Hidra); e um terceiro, muito pequeno, com um clímax que aglutina bem os 22 episódios (Graviton e a ameaça de Thanos).
Seguindo os passos do irmão Joss Whedon (diretor dos dois primeiros Vingadores), Jed Whedon continua trabalhando o elenco com maestria. Se, por um lado temos a dupla Coulson/Daisy como principal, em certos momentos, a série consegue trabalhar muito bem Fitz/Simmons e Mack/Yo-yo. Até mesmo por isso, nesse ano, a May fica evidentemente em segundo plano, dando espaço para o crescimento das demais personagens.
Todo o elenco atua de forma uniforme e satisfatória, mas é impossível não destacar o trabalho de Iain de Caestecker. Desde o primeiro ano, Fitz sofre os maiores cliffhangers e os melhores contrastes (o Leopold, do Framework, é espetacular). A questão é que não se sabia se era o ator que era favorecido pelo personagem ou vice-versa. Agora, mesmo tendo poucos grandes momentos Fitz continua roubando as cenas, confirmando o talento do intérprete.
Idealizada como uma temporada conclusiva, o quinto ano de Agents of SHIELD busca informações de todos os outros anos da série com intuito de fechar um círculo perfeito – não por acaso, muitos personagens repetem tudo que fizemos nos trouxe até aqui, testando nossa inteligência e paciência. Portanto, temos de volta o Gravitonium, o soro da centopeia, Deatklock, etc.
O verdadeiro ponto baixo da série é o quão decepcionante é o distanciamento cada vez maior entre cinema e televisão. Mesmo mencionando a vinda de Thanos no arco final, os fãs precisam se contentar com meras menções dos eventos nas televisões e nos jornais, pois não há um envolvimento mais direto entre as mídias. É um verdadeiro anticlímax que a solução achada pelos roteiristas tenha sido finalizar a temporada antes do fatídico estalar de dedos do Titã Louco, de sorte que não podemos ver as consequências de seu ato.
Por mais que a séria tenha sido renovada para mais um ano, a quinta temporada de AoS é um claro final de ciclo. A série que começou mostrando o retorno de Coulson da morte, termina com ele finalmente abraçando seu destino, sabendo que fez o seu papel. Não só salvou o mundo todos os anos, mas também reuniu um grande de time de super-heróis. Parafraseando o querido agente, em seu brinde final: eu tive a oportunidade de viver com muitos super-heróis, nenhum deles maiores que vocês.
Criado por Melissa Rosenberg. Com Krysten Ritter, Rachael Taylor, Eka Darville, Carrie-Anne Moss, Janet McTeer, J.R. Ramirez, Wil Traval, Leah Gibson, Rebecca De Mornay, Terry Chen, Nichole Yannety, Callum Keith Rennie, John Ventimiglia, David Tennant.
Uma das coisas que aprendemos na vida é que, em sagas – especialmente trilogias –, o segundo capítulo é o episódio mais sombrio. O Império Contra-Ataca, As Duas Torres, De Volta para o Futuro II e Batman – O Cavaleiro das Trevas são apenas alguns exemplos que comprovam o argumento. Lógico, existem exceções; Jessica Jones, todavia, que teve uma primeira temporada extremamente impactante mostrando o impacto dos abusos de Kilgrave em sua vida, consegue ser ainda mais melancólica.
O enredo da série é construído a partir das lacunas deixadas pelos anos anteriores, explorando mais a história do acidente de carro na infância de Jessica (Ritter) e as experiências que acabaram deixando-a com poderes meta-humanos. Todos os elementos que cativaram tanto o público ainda estão presentes: a narrativa continua densa e a atmosfera noir ainda se faz presente, embora numa intensidade mais moderada. Nesse ritmo, a séria continua se embrenhando nos traumas da heroína, mostrando que os eventos envolvendo Kilgrave (Tennant) foram apenas uma página de uma vida de rancor.
Novamente, nos deparamos com os mesmos problemas de tantas outras séries da Netflix. Os treze episódios facilmente poderiam ter sido simplificados a quatro, ou até mesmo a um longa-metragem, tamanha a falta de profundidade da trama. Para poder preencher a grade dos treze capítulos (e ser menos enfadonha do que já é), a série acaba lançando mão de subtramas desinteressantes e desnecessárias com Malcolm (Darville), Hogarth (Moss) e Trish (Taylor). Nenhum dos coadjuvantes se escapa, todos tem seu jeitinho especial de serem irritantes.
Aliás, é surpreendente que uma série nos cozinhe em banho-maria, de sete a oito episódios, para definir de forma concreta um vilão. São problemas de texto que foram tão facilmente evitados na segunda temporada de Demolidor – dividir os treze episódios em dois arcos distintos e uni-los nos dois últimos episódios –, que acabam assustando o espectador os enfrenta novamente em um claro retrocesso. Por incrível que pareça, o episódio emblemático vai acontecer no 11º capítulo apenas, onde as discussões mais importantes tomam corpo, para novamente baixar a bola nos últimos dois.
Verdade seja dita, tanto na primeira temporada quando em Os Defensores, as obras terminaram que a personagem enfim tinha aceitado seu manto de super-heroína. Agora, novamente, enfrentamos os mesmos questionamentos e as mesmas negações, um loop que aparentemente não terá fim.
Lógico, ainda estão lá os elementos que criaram a identidade da personagem. A fotografia intercalando os tons entre o azul e púrpura, a música noir urbana e a atuação de Krysten Ritter – cada vez mais empática e cativante como heroína – são pontos fora da curva, que vai ladeira abaixo. Outra característica que revitaliza de certa forma a Marvel na televisão é que os easter-eggs são menos contidos; seja em um garotinho comparando Jessica ao Capitão-América ou na detetive brincando com a expressão “com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades”.
Em um artigo, o crítico de cinema Matt Singer é muito feliz em definir uma ideia geral das séries da Netflix: "cada vez mais, quando alguém me recomenda uma séria da Netflix, basicamente a mesma observação é feita: ‘você precisa insistir na série. Os primeiros episódios são bem lentos". Mais uma vez, a empresa de streaming e produtora não nega sua imagem de falta de coesão. Infelizmente, o ápice desse problema aconteceu com uma série que teve um primeiro ano fantástico. Mais um problema a ser enfrentado pela Jessica Jones.
Repetindo alguns erros, O Justiceiro surge como a série mais crítica da parceria Marvel/Netflix
Criada por Steve Lightfoot. Com Jon Bernthal, Amber Rose Revah, Ebon Moss-Bachrach, Ben Barnes, Jaime Ray Newman, Kobi Frumer, Paul Schulze, Michael Nathanson, Ripley Sobo, Daniel Webber, Jason R. Moore, Kelli Barrett, Tony Plana, Deborah Ann Woll.
Um dos maiores orgulhos dos norte-americanos é a chamada Segunda Emenda à Constituição, aprovada em 1791, em meio aos ideais libertários da Revolução Francesa, que é o direito de portar armas de fogo. Mais de duzentos anos se passaram e, cada vez mais, esse diploma legal vem sendo alvo de críticas de juristas e intelectuais por um simples motivo: armas não evitam violência.
O Justiceiro veio para provocar exatamente esse pensamento no espectador. A trama continua o primeiro arco do segundo ano de Demolidor, ou seja, Frank Castle (Bernthal) vai atrás do responsáveis pela morte de sua família. Junto disso, se envolve em uma trama de espionagem militar que coloca toda conduta da CIA em xeque.
Mais visceral que as séries anteriores, a violência aqui é no intuito de causar desconforto. Não sou poucas as vezes o sangue escorre nas telas. Aqui, Castle e seus aliados levam tiros e matam. A mortalidade é uma presença constante na vida de todos. Todo dia pode ser o último.
No que toca ao elenco, a série consegue ser mais cativante de uma forma geral. Bernthal consegue ser brutal e comovente como antiherói, enquanto Barnes (Billy Russo) e Moore (Curtis Hoyle) evidenciam duas formas completamentes diferentes de superar os traumas da guerra; enquanto o último os enfrenta pelo enfrentamente cotidiano, o outro tenta esquecer e justificar suas ações.
Micro (Moss-Bachrach, parecido demais com o Andy Serkis) funciona como um contraponto perfeito à essência de Castle. Enquanto o Justiceiro busca vingança pela morte abrupta de sua família, Micro precisou se afastar deles para mantê-los protegidos, mas, mesmo assim, via-os todos os dias pelos monitores.
Deborah Ann Woll continua uma Karen Page cada vez mais forte e independente e, aqui, é somada com Rose Revah (Dinah Madani), uma agente federal determinada a ir ao fundo do mistério, mesmo que fragilizada pela morte do parceiro. Portanto, continuando o legado das demais séries, o elenco feminino é muito acertado, de sorte que os primeiros diálogos entre Page e Madani são repletos de meias palavras e ameaças veladas.
Webber parece condenado a fazer o papel de soldados traumatizados e frustrados. Repetindo seu papel de Lee Harvey Oswald (em 11.22.63), aqui ele vive Lewis Walcott, que ponto nuclear de uma trama secundária, mas que serve muito para expor as preocupações temáticas de forma clara e didática.
O deslocamento é uma constante ao longo da obra. Nos primeiros episódios, a câmera sempre filmava Castle de forma deslocada, deixando um dos lados vazios, apenas com paisagem, de forma que nos causa uma certa sensação de desequilíbrio. Na medida em que o enredo evolui, Castle é centralizado, evidenciando que o protagonista voltou a encontrar um propósito (I am home).
Repetindo os erros das demais séries, O Justiceiro muitas vezes parece alongar desnecessariamente cenas e tramas para justificar seus treze episódios. Justamente o ponto que foi o maior acerto da segunda temporada de Demolidor (dividir um ano em dois enredos autônomos, mas harmônicos), as demais séries parecem não querer repetir.
Adicionando novos elementos à discussão dos atos de heroísmo, a antiga dicotomia herói/vigilante ganha um novo ponto: o terrorismo.
Em seu primeiro ano na Netflix, O Justiceiro surge como um antiherói simples mas envolto por sombras. Através de seus coadjuvantes, a série foi enriquecida com complexidade e com a lembrança constante de que, embora vá além do razoável, há luz, sim, nas intenções daquele que veste a caveira.
Série vendida como baseada no conto homônimo de Stephen King não cativa e se perde nas suas próprias falhas
Criado por Christian Torpe. Com Morgan Spector, Alyssa Sutherland, Gus Birney, Danica Curcic, Okezie Morro, Luke Cosgrove, Darren Pettie, Russel Posner, Frances Conroy, Irene Bedard, Deborah Allen, Holly Deveaux, Romaine Waite, Isiah Whitlock Jr., Bill Carr, Murlane Carew, Nabeel El Khafif.
É muito nebulosa a definição do que são os limites quando algo se diz “adaptado de” ou “baseado em”. Isso sempre gera uma série de discussões; se tentar ser totalmente fiel ao original, é sem criatividade e previsível, se inova, é desrespeitoso. Entretanto, há sempre o mínimo básico para serem consideradas histórias paralelas: o mesmo background, mesmos personagens e, quiçá, mesmos eventos.
Quando foi anunciado que O Nevoeiro seria adaptado como série televisiva, ao mesmo tempo, foi vendido com o selo de “baseado no conto de Stephen King”. Contudo, finda a primeira temporada, vê-se que tal anúncio foi descaradamente de má-fé, já que, a única coisa congruente entre ambos é famigerada névoa. Com personagens e locais diferentes, os próprios efeitos da névoa em si são completamente aleatórios, o que mostra que não, a série não é baseada na obra homônima.
As personagens, vítimas de um roteiro fraco, não cativam em momento algum. Kevin (Spector) desde o início, tenta ser o herói e bom samaritano, mas nunca convence com sua capacidade. Como a trama se passa em uma cidade, há várias personagens coadjuvantes, deixando impossível de fazer um laço com o espectador.
Na verdade, a obra toda desperdiçou uma boa oportunidade no momento em que optou o caminho que seguiria. Ao ter três núcleos isolados e distintos (igreja, hospital e shopping), poderia ter sido trabalhado um lado que derivasse para o gênero estabelecido por The Walking Dead, isto é, esses núcleos formariam clãs que tentariam se impor entre si, sendo que a névoa seria apenas o pano de fundo, tal como os zumbis são para TWD. Ao invés disso, se fôssemos mater o raciocínio na ideia do comparativo, a obra derivou para um lado mais Fear The Walking Dead, ou seja, prezou os mais os laços familiares em meio à crise, do que a sobrevivência em si.
Com isso, o resultado foi uma temporada insossa, que, na tentativa de manter o mistério, empilhava questionamentos na cabeça do espectador. Sem trazer explicação aparente alguma para a névoa, cada episódio virava uma tortura, já que, em princípio, nada se relacionava. Seria a névoa um evento da natureza? Divino? Estaria o exército por trás? Como o estupro se relaciona a isso? Todas as perguntas ficam sem respostas. Na verdade, esse quê de Lost que a série tentou trazer não se sustenta em segundo algum. Enquanto lá na ilha, os caminhos todos – nas primeiras temporadas – pareciam evoluir rumo à explicação, no nevoeiro, nenhum passo foi dado para isso.
Em meio a essa confusão, temos o CGI ruim e relaxado da neblina. Pelo amor de Cristo, não é como se não houvesse gelo seco ou qualquer outro tipo de fumaça para dar um efeito minimamente mais verossímil. Além disso, enquanto no conto, os demônios que viviam nela eram assustadores (voadores, gigantes, tentáculos, etc), na televisão temos insetos, animais e alucinações.
Produzida e transmitida nos Estados Unidos pelo canal Spike, no Brasil, a série ganhou o selo da Netflix, uma pena, pois muitos irão atribuir sua má qualidade à emissora de streaming. Com a demora para anunciar a renovação, possivelmente, a produtora esteja considerando se vale a pena insistir no erro. Se renovarem, que sejam mais coerentes.
Sátira do gênero de super-heróis cativa com carisma do protagonista que com as infinitas possibilidades que abre perante o espectador
Criada por Ben Edlund. Dirigida por Wally Pfister, Romeo Tirone, Sheree Folkson, Lev L. Spiro. Com Peter Serafinowicz, Griffin Newman, Valorie Curry, Ryan Woodle, Brendan Hines, Yara Martinez, Scott Speiser, Jackie Earle Haley, Michael Cerveris, John Pirkis.
Se pudéssemos definir qual o melhor elemento de uma paródia, esse seria a possibilidade. Com um leque enorme a frente, a paródia nunca se limita a cânones ou resoluções críveis, o absurdo é elementar e, por isso, incontestável. Desde que surgiu, em 1986, The Tick dialogava constantemente com os quadrinhos e os desenhos do gênero, tornando-se um símbolo da sátira.
A origem do super-herói nunca foi explicada da mesma forma em suas mídias. Seja como um louco que escapou de um hospício (quadrinhos), ou um alienígena do espaço (primeira série), a origem do herói sempre foi envolta de mistério. Na trama, em um universo em que super-heróis e vilões são uma realidade, o contador Arthur (Newman) percebe que um grande vilão no passado está vivo. À medida em que se aprofunda nesse mistério, Arthur conhece The Tick (Serafinowicz), um super-herói azul com super-força e aparentemente invulnerável, cujo passado é um mistério.
A melhor forma de analisar a série de 2017, é estabelecendo um comparativo com a falecida série de 2001. Em 2001, o trabalho era feito muito mais no intuito de homenagear os desenhos e os quadrinhos. Outrora as cenas era visivelmente feitas em estúdio, com fundos descaradamente falsos e efeitos sonoros previsíveis, agora, podemos ver ambientes abertos, melhor qualidade de efeitos visuais, e uma série – embora sátira – tentado aparece mais verossímil, com uniformes adaptados à mídia televisiva (em 2001, os vestuários dos heróis era feito de pano e silicone, sem enxertos plástico e/ou tecidos de aparência mais tecnológica).
Enquanto antigamente o carrapato azul era vivido por Patrick Warburton, agora é vivido por Peter Serafinowicz, ambos de vozes profundas, como exige o personagem. Warburton conseguia era fisicamente mais fiel aos desenhos e conseguia destacar muito mais o semblante louco do herói, mas Serafinowicz, embora mais esguio, é muito mais carismático com seu olhar plácido e semblante alegre, que estabelece um bom contraste com o poder do herói azul.
Arthur agora é vivido por Griffin Newman, enquanto no passado era interpretado por David Burke. Nesse ponto, houve um certo passo para trás. Enquanto Burke conseguia ser mais fiel ao cânone, com sua covardia e bom coração (e uniforme igual ao desenho, diga-se de passagem), o Arthur de Newman é somente irritante. A covardia do personagem agora simplesmente dá lugar à sua tosquice.
A presença de alguns personagens foi sentida; claro, trata-se da primeira parte de uma temporada apenas, muito mais deve vir no decorrer da obra, mas em 2001, a obra não tinha medo de introduzir heróis engraçadíssimos, como Batmanuel ou a Capitã Liberdade – seu constante flerte é a melhor metáfora da imigração latina na América do Norte, que já vi.
Contantemente provocando outros heróis, seja da Marvel ou da DC, The Tick faz piadas com o alcoolismo de Tony Stark ou o fato de Bruce Wayne ser um playboy. Nem mesmo Superman escapa com uma cópia escrachada: o Superian. O mundo de super-heróis rotineiros tenta traçar um paralelo com Watchmen, mas enquanto esse era visto do viés pessimista, em The Tick, eles são vistos como pseudocelebridades, conseguindo caminhar tranquilamente nas ruas, mas sendo atacados por um eventual fã pedindo autógrafos.
Feita com total leveza e descompromisso, The Tick é feita para fãs de super-heróis que não se importam de vê-los avacalhados ou debochados. Completamente apegada ao nonsense a série mistura a piada pronta e a improvisada, com um pouco de violência exacerbada. A típica série que não deverá ter uma legião de fãs xiitas, mas com certeza agradará muita gente.
Ambas as séries estão disponíveis no serviço de streaming Amazon Prime Video.
Com heróis cada vez mais complexos, Os Defensores mostra que pode ser o carro chefe dos produtos originais da Netflix
Criada por Douglas Petrie e Marco Ramirez. Com: Charlie Cox, Krysten Ritter, Mike Colter, Finn Jones, Elodie Yung, Jessica Henwick, Scott Glenn, Sigourney Weaver, Wai Ching Ho, Elden Henson, Simone Missick, Rosario Dawson, Yutaka Takeuchi, Ramon Rodriguez, Rachel Taylor, Deborah Ann Woll, Eka Darville, Babs Olusanmokun.
Quando a Netflix anunciou que adaptaria para a televisão os heróis urbanos da Marvel, a maior dúvida sempre foi em como a passagem seria feita. Hoje, passados dois anos desde a primeira temporada do Demolidor, com altos e baixos, a franquia que conquistou os fãs une os heróis em um bom crossover que faz jus ao legado até então.
A trama é bem óbvia; finalmente conhecemos os líderes do Tentáculo e suas reais intenções (embora bem rasas). Assim, unindo elementos dos anos anteriores, o grupo de heróis acaba se juntando na maior ilustração de o inimigo do meu inimigo é meu amigo.
Muito bem costurada às temporadas solo de cada herói, o enredo demora cerca de três episódios para justificar a união do time. Partindo de premissas deixadas claras em suas respectivas séries, a temporada funciona na medida em que o combustível de cada um segue sendo suas respectivas motivações individuais (Luke Cage quer o bem dos jovens do Harlem, enquanto Jessica Jones segue intrigada em um caso investigativo; Punho de Ferro segue na caça do Tentáculo e Demolidor busca uma vizinhança mais segura). Assim, mantendo a linearidade na psiquê dos personagens, o espectador não sente baque algum nos episódios.
Com tempos de tela proporcionais, o quarteto principal atua de forma como já se era esperado. Acertadamente, o roteiro acerta em manter o Tentáculo como antagonista, pois, caso contrário, o Punho de Ferro (Jones) seria esquecido – melhor que na primeira temporada, o herói ainda pena na construção de seu carisma; seu ódio ao grupo terrorista acaba o mantendo em evidência. Colter, embora mostrando-se um Luke Cage menos forçado, funciona muito bem quando divide tela com Jones, contudo, ambos continuam frágeis quando sozinhos em cena. Ritter e Cox constroem de forma muito fluida a relação Jessica Jones/Demolidor. Ambos conseguem brilhar em uma dinâmica divertida entre o estilo sarcástico de Jones e o fato de o Demônio de Hell’s Kitchen se levar a sério de mais.
De uma forma muito inteligente, o texto consegue unir os coadjuvantes para que eles tenham certos momentos de brilho também. Novamente, mantendo os pensamentos de temporadas passadas, o elenco mostra sua importância – com especial destaque a Elden Henson, que está cada vez melhor como Foggy Nelson. Henwick (Colleen Wing) e Ching Ho (Madame Gao) continuam muito caricatas; as diversas caras e bocas que fazem nos trazem um misto de irritação e pena. Dawson, espantosamente, tem menos destaque do que a expectativa criada nas outras cinco temporadas; sempre encarada como um “Nick Fury” da Marvel televisiva, a enfermeira teve uma importância muito menor do que lhe era esperado.
Um destaque à parte durante os oito episódios foi a fotografia. Sempre trazendo elementos de cada um dos protagonistas, em diversos momentos une o vermelho, o amarelo, o verde e o azúl/púrpura. Aliás, de uma forma muito prazerosa, nos vemos em um constante jogo entre o noir, o blaxploitation e a sofisticação. As trocas de cena, mostrando imagens de Nova York através de uma lente, deixam a mudança menos impactante de um tom para outro.
A vilã Alexandra, encarnada por Sigourney Weaver, sofre um pouco pela horizontalidade da organização a qual representa. Não há motivação crível no Tentáculo a não ser o cartunesco, assim, a atriz acaba sendo desperdiçada. A bem da verdade, a escolha não foi bem enquadrada ao papel, para aqueles que esperavam cenas de luta grandiosas, a idade da antagonista foi um empecilho para uma eventual coreografia. Yung, como Elektra, evoluiu muito desde o segundo ano de Demolidor; enquanto na temporada passada, a atriz serviu mais como um recurso para desacelerar o ritmo intenso, aqui, ela foi muito bem utilizada para mudar o status quo estabelecido.
As coreografias continuam deixando a desejar. Em algum momento, entre as duas temporadas do Homem Sem Medo e Punho de Ferro, os showrunners perderam a mão nas cenas de luta. Claro, há a clássica cena de luta no corredor, mas aqui, a câmera varia entre muitos ângulos, tirando o impacto da luta. Existe uma boa cena de luta no último episódio, aí sim, com planos sequência longos e panorâmicos de encher os olhos, mostrando o entrosamento da equipe.
Ao fim, como bem anunciado pelo produtores, Os Defensores reservou mudanças para todos os personagens. Quatro mudanças, quatro acertos. Embora sendo a quantidade ideal, com apenas oito episódios, fica aquela vontade de ver ainda mais. Os cliffhangers dos heróis, com exceção do Luke Cage, foram ótimos.
Corrigindo alguns erros do passado, a parceria entre as empresas mostra que está evoluindo. Os atores estão mais confortáveis e os enredos dignos da Era de Ouro dos quadrinhos. Aparentemente, com a confirmação do Justiceiro e boatos de que a Netflix irá adaptar outros heróis, podemos esperar uma sequência com ainda mais heróis.
Das maiores ausências, apenas faltou Come As You Are. Tomara que toque na segunda temporada.
Com grande elenco em teoria, mas sem química alguma, nova série da Netflix demora para mostrar a que veio
Criada por Francesca Delbanco e Nicholas Stoller. Dirigida por Nicholas Stoller. Roteiro por Tiffany Barrett. Com Keegan-Michael Key, Annie Parisse, Jae Suh Park, Fred Savage, Nat Faxon, Cobie Smulders, Billy Eichner, Greg Germann, Kate McKinno, Seth Rogen, Chris Elliott.
Quando há grande expectativa em algum lançamento, por óbvio, existem o ônus e o bônus. Pois então, a Netflix anunciou sua nova série de comédia em que Keegan-Michael Key, Colbie Smulders e Fred Savage, o que causou furor entre os espectadores. Smulders, inclusive, chegou a comparar Friends From College com o já falecido How I Met Your Mother (eterno em nossos corações), dizendo que aquele seria uma versão dark desse. Pura galhofa.
Em oito breves episódios, o enredo mostra o reencontro de um grupo de amigos de Harvard, vinte anos depois de formados. Para dar a carga dramática, muito rapidamente somos expostos ao panorama geral: Ethan (Key) é casado com Lisa (Smulders), mas tem um caso com Annie (Parisse) que desabafa com Marianne (Park). Além disso, Lisa é ex-namorada de Nick (Faxon). Para finalizar, os melhores amigos, Ethan e Max (Savage), trabalham juntos e enfrentam o ciúme do marido de Max, Felix (Eichner).
Um dos elementos mais louváveis da série foi, em um núcleo tão pequeno – apenas seis amigos –, conseguir trazer tamanha diversidade e melhor, tal característica nunca é debatida, simplesmente está lá. Assim, justamente pelo fato de passar desapercebida do espectador, tal característica é excelente pela naturalidade mostrada. Enquanto em Friends e How I Met Your Mother o núcleo era formado brancos e héteros, aqui vemos que o mundo vai muito além dessas delimitações. Key é filho de pai negro e mãe branca, Park é coreana e Savage interpreta um homossexual (casado, para o desespero de muitos).
Infelizmente, a série sofre pelo grande frenesi causado por seu anúncio. O elenco, em teoria é muito bom, mas sofre para entrar em harmonia e se conectar com o público, o que só acontece em meados do sétimo episódio, penúltimo do primeiro ano. Mesmo assim, há muito menos comédia do que fora prometido, de modo que muitos dos risos são gerados pelo famoso sentimento de “rir de nervoso”. Na verdade, são Smulders e Savage aqueles que, individualmente, levam o trabalho até ele começar a evoluir sozinho. Com menos tempo de tela que Key e Parisse, os atores se esforçam em cada minuto que aparecem. Keegan foi muito mal utilizado como Ethan; como seu personagem é naturalmente egocêntrico e adúltero, já há um certo repúdio por parte do espectador, e ele, mesmo com seu carisma, não consegue superar tal barreira.
Outro elemento que não funciona é a dinâmica dos amigos como um grupo. À exceção do episódio dos vinhedos, todas as cenas de jantares e eventos com todos parecem cheias de estranhamento e desconfiança, o que não é natural para amigos de longa data. Contudo, quando estão em núcleos menores, as cenas são muito mais prazerosas e as gags bem mais fáceis de emplacar.
Com coadjuvantes talentosos, a série flui mais fácil quando um deles contracena. As aparições de Kate McKinnon, Seth Rogen e Chris Elliott são hilárias, mas é aí que se percebe a fragilidade dos personagens centrais pois são ofuscados por completo pelos atores convidados.
Devendo em tudo a que se propôs, Friends From College merece uma segunda temporada devido ao seu season finale promissor, mas existe muita coisa a ser trabalhada. Muita coisa boa pode vir na evolução e no amadurecimento da relação dos amigos. Infelizmente, a Netflix, tão bem sucedida em suas séries dramáticas, ainda engatinha na comédia. Faz falta uma sitcom como fora outrora Friends e How I Met Your Mother, com risadas de fundo, câmeras fixas e mise em scène facilmente decorado. E nem venham falar de The Ranch.
"Deuses Americanos — 1ª Temporada | Crítica Fotografia surrealista e excelentes atuações no primeiro ano da série que adapta romance de Neil Gaiman
Criada por Neil Gaiman. Produzida por Bryan Fuller, Neil Gaiman e Michael Green. Com Ricky Whittle, Emily Browning, Crispin Glover, Bruce Langley, Yetide Badaki, Pablo Schreiber, Ian McShane, Gillian Anderson, Demore Barnes, Chris Obi, Omid Abtahi, Cloris Leachman, Orlando Jones, Peter Stormare, Mousa Kraish, Corbin Bernsen, Jonathan Tucker, Kristin Chenoweth, Jeremy Davies.
Esse texto conterá spoilers da primeira temporada.
Certo momento, em meio ao season finale, Mad Sweeney vira para Laura Moon e diz: e o que você acha que os deuses fazem? Fazem o que sempre fizeram: ferram com todos nós. Não leve a mal. Realmente, o leprechaum tinha razão.
Não é novidade a história: o homem acredita no deus, da fé o deus surge e provê ao homem o que ele pediu em oração. Entretanto, mesmo que não inédita, a premissa não deixa de ser menos saborosa. Graças à competência dos produtores, a história da primeira temporada de Deuses Americanos, a qual aborda exatamente esse tópico, mostra meandros e novas cores, fugindo da simples construção lógica exposta.
Construída com diversos personagens, mas particularmente sob o ponto de vista do ex-presidiário Shadow Moon (Whittle), a trama mostra o mundo de Shadow virar do avesso quando, no dia em que sai do cárcere, recebe a notícia da morte de sua esposa (Browning). Sem nada a perder, acaba aceitando o emprego oferecido pelo misterioso Mr. Wednesday (McShane) e embarca em uma viagem surreal pelos Estados Unidos.
Começando pelo ponto negativo, a temporada, com apenas oito episódios, caminha sobre o gelo fino do mistério. Assim, em apenas um arco de descobrimento, ao longo dos episódios, cada vez mais perguntas vão sendo levantadas sem responder aos questionamentos anteriores. Para um telespectador mais impaciente isso pode fazer com que ele desista da jornada, pois os episódios acabam exigindo sua total atenção sem dar nada em troca. Se desconsiderar o excesso de perguntas, as quais serão respondidas em temporadas vindouras, a série é um novo sopro de vida a quem a assiste, considerando sua qualidade técnica e sua estilística única.
O primeiro destaque óbvio trazido pela série foi sua identidade única; com ares de David Lynch, o tom surreal nos faz pensar, muitas vezes, que estamos vendo uma grande pintura de Salvador Dali. Já na abertura podemos ver, através da psicodelia, que o pano de fundo será a dicotomia entre as novas e as velhas crenças — o astronauta crucificado, o Menorá com as diversas entradas de plugue existentes, o Buda em meio aos fármacos, o corvo com rastro de foguete atrás, entre outros. Além disso, os constantes sonhos de Shadow trazem consigo uma paleta colorida que varia entre o rosa e o azul, em luz neon.
Aliás, Shadow é o único ponto real da história. Enquanto em seu carro com Wednesday, participamos da road trip sem desconforto algum, mas no momento em que mais personagens entram em cena, imediatamente o semblante de Shadow (bem como o nosso), se altera para um misto de desconforto e curiosidade, com uma dúvida sobre o que é real e o que não é.
A coragem na quebra de paradigmas foi uma constante em cada episódio. Com enfoques bem definidos a cada semana, em sua estreia a série abordou, ainda que brevemente, os problemas enfrentados por egressos do sistema prisional, a segunda semana foi inaugurada por um discurso fervoroso de racismo estrutural. No terceiro episódio presenciamos uma das cenas de sexo mais íntimas e comoventes veiculadas na televisão (curiosamente, entre dois homens muçulmanos). Houve também um belo episódio que critica a cultura bélica de liberação de armas adotada pelo espírito norte-americano, e finaliza mostrando o empoderamento feminino na pessoa de Bilquis (Badaki), em combate com o machismo e a misoginia.
É indubitável que todos os atores atuam de forma primorosa, mas os maiores destaques ficam por conta de Browning (Laura Moon), Schreiber (Mad Sweeney), Anderson (Media) e, claro, McShane (Wednesday). A química nas cenas entre Laura e Mad Sweeney é evidente, tanto que, no episódio que retrata a história da entidade irlandesa, Browning deu rosto à pessoa responsável por trazê-lo às Américas. McShane mostra toda a canastrice necessária para o papel que exerce. E Anderson protagonizou o melhor episódio da série (Lemon Scented You), onde personificou com esmero as personalidades de David Bowie e Marilyn Monroe.
Outro grande acerto foi (por enquanto) a exclusão dos Mrs. Town, Wood e Stone — personagens do romance original. Ao excluí-los, a série abriu a possibilidade de inserir os Homens Sem Rosto, que, por sua vez, podem personificar o Mr. World (Glover) e ainda adicionam mais tensão à atmosfera lynchiana, com sua total ausência de feições, figurino saliente e movimentos coreografados.
Terminando com um season finale à altura do que foi todo o primeiro ano, Deuses Americanos responde apenas uma das perguntas ao mostrar que Wednesday, na verdade, é Odin, do panteão nórdico. Muitas pontas ficaram soltas nas últimas cenas, como o que Laura Moon irá fazer agora que sabe que foi Odin quem mandou matá-la, ou como vai ser a reação dos humanos agora que a Páscoa minguou todas as plantações?
De qualquer forma, o que antes estava em um patamar de guerra fria passou a ser guerra declarada. E estamos bem no meio dela. Como isso é bom.
"Cara Gente Branca | Crítica (ou não) Oi, meu nome não é Hannah. Isso não está nas minhas fitas, nem no meu feed aparentemente.
Criada por Justin Simien. Dirigida por Justin Simien, Tina Mabry, Barry Jenkins, Charlie McDowell e Steven K. Tsuchida. Roteiro por Justin Simien, Leann Bowen, Chuck Hayward, Njeri Brown, Jack Moore e Nastaran Dibai. Com Logan Browning, Brandon P. Bell, John Patrick Amedori, Antoinette Robertson, DeRon Horton, Marque Richardson, Giancarlo Esposito.
Diferente das demais críticas que escrevo, aqui vou procurar abordar o tom íntimo. Assim, não esperem a mesma impessoalidade em um texto dissertativo como nas demais críticas. Isso me leva a pensar se isso é uma resenha ou não. Não sei como vai terminar. Veremos.
Ambientado dentro da Universidade de Winchester, o enredo acompanha quatro estudantes negros que vivem em uma universidade elitista e caucasiana. Após uma festa blackface de Halloween promovida pelos editores (brancos, óbvio) de uma revista interna e outros eventos que acontecem no decorrer da série, uma discussão quanto ao racismo institucionalizado se instaura nos corredores da universidade.
Os episódios fogem do padrão no momento em que cada um foca em um personagem. A narrativa, embora linear, foca em um personagem diferente por episódio. Isso gera um efeito fantástico já que, embora o preconceito seja objetivo — não existem justificativas para abominar uma etnia por ser o que é –, a forma como ele é encarado é absolutamente subjetiva. A consequência é que texto foge ao máximo de generalizações. Sam (Browning) é extremamente combativa e contestadora, enquanto Colandrea (Robertson) é ciente dos percalços vividos, mas mesmo assim tenta se encaixar no jeito branco de ser. Lionel (Williams) e Troy (Bell), por terem histórias distintas, enxergam o racismo também de formas diferentes.
A fuga do genérico, por exemplo, permite uma total aversão ao maniqueísmo. Não há, de fato, uma divisão simplista de branco, ruim, e negro, bom; na verdade, um dos protagonista, Gabe (Amedori), é branco e se solidariza com esses problemas sociais, isto é, sabe de sua condição privilegiada (caucasiana), mas não tenta justificar o racismo vivido com a batida frase: nem todos os brancos são assim. Há, também, a forma com que Sam reage ao ambiente ao redor; tão acostumada a duvidar e hostilizar ações contra suas origens, ela acaba vendo ofensas em quem é amigo e gostaria de ajudar.
A obra aborda o preconceito racial de uma forma diferente do que vimos até então. Começando pela própria narrativa (na voz pomposa de Esposito), a série duvida de sua própria seriedade, já que o narrador é equidistante dos negros e dos seus problemas vividos. Enquanto os demais trabalhos tentam construir uma crítica de forma didática, aqui vemos tudo com escárnio extremado. Claro, somos convidados a ver o lado de quem sofre com isso rotineiramente. O único efeito que isso pode causar é a exaustão. Cansados, quem sofre com racismo acaba encarando essas situações com raiva, deboche e hostilizando tudo o que vê.
A fotografia é excelente. Abusando de um primeiríssimo plano frontal, constantemente somos encarados pelos personagens, como se eles nos julgassem, assim como eles se sentem julgados dia após dia.
Críticas à parte, o maior espanto que isso causa é como uma série tão bem feita repercutiu tão pouco no meu feed de redes sociais. Enquanto 13 Reasons Why, com todos seus problemas de roteiro, faz até hoje aparecer postagens no meu Facebook, eu conto nos dedos quantas pessoas comentaram Cara Gente Branca.
Claro, cresci em uma família de classe média e estudei em colégios tradicionais onde negros eram minorias. Obviamente isso reflete em um contato menor com pessoas de outras etnias, não só de pele negra. Isso me leva a pensar o seguinte: em 13 Reasons Why, todo o alvoroço se deu porque todos viveram alguma experiência de bullying (ou pelo menos inventaram uma para se encaixar no assunto do momento); aqui, mais da metade dos meus contatos não sofreu com racismo, logo, se sentem confortáveis o suficiente para não repercutir a série.
Aliás, espero que não se sintam confortáveis para isso, por que a outra alternativa seria que eles são indiferentes. E isso seria realmente cruel. É muito fácil abrir a home de seu Facebook e escrever três linhas falando algo que nunca existiu ou descrever algo que nunca sentiu, só para tentar ilustrar que sabe as tragédias que Hannah passou. Agora, não existe como inventar que sofreu por ser negro quando você não é. Apenas quem sofre racismo sabe explicar o que é.
Eu não sei. Sinceramente, tento saber. Queria poder compadecer da dor alheia, ajudar a suportar o fardo e combater o máximo o que eu posso. Isso é ter empatia.
"Arrow — 5ª Temporada | Crítica Série retoma o bom desenvolvimento das primeiras duas temporadas, vislumbrando anos melhores
Criada por Greg Berlanti, Marc Guggenheim e Andrew Kreisberg. Com Stephen Amell, David Ramsey, Willa Holland, Paul Blackthorne, Emily Bett Rickards, Katie Cassidy, Manu Bennett, Echo Kellum, Josh Segarra, Rick Gonzalez, Katrina Law, Juliana Harkavy, John Barrowman.
Durante as duas primeiras temporadas, Arrow demonstrou um nível que até então nunca tinha se imaginado em séries de televisão baseadas em super-heróis. Entretanto, desde que The Flash estreou, a série do arqueiro caiu num marasmo, de sorte que foi difícil de acompanhar a terceira e a quarta temporada.
Dessa vez, a temporada teve basicamente um grande vilão, de forma que fica difícil dividir em arcos, isto é, Prometheus, desde o início, foi muito presente como o arqui-inimigo. Assim, durante grande parte desse ano, a série foi envolvida no mistério por trás da identidade do vilão e guardou algumas boas reviravoltas para aqueles que pensavam que a série seguiria as HQs. Claro, sempre dividindo tempo de tela com os odiosos flashbacks, Arrow, em princípio, finaliza-os no exato ponto em que a série teve seu início. Em diversas entrevistas os produtores da série afirmaram que os flashbacks ficarão no passado (com o perdão do trocadilho).
Com um gancho infinitamente melhor que o de The Flash, a sexta temporada não garante retornos, já que a última cena desse ano surpreende, podendo ser considerada uma das melhores até então. Aliás, para alimentar ainda mais o esperado clímax, alguns personagens de temporadas anteriores retornam em grande estilo para algumas lutas que eram esperadas por todos (Canário contra Canário, e o duelo entre as herdeiras de Ra’s Al Ghul, especialmente).
Sem nenhum destaque especial nas atuações, quem aparentemente consegue surpreender é Blackthorne, que vive Quentin Lance. Todo seu arco do alcoolismo, aliada à montanha-russa emocional a quem ele é submetido em todas as temporadas (perde filha, volta filha, morre filha, ganha filha) faz com que o ex-detetive se saliente em relação aos demais. Curtis (Kellum) continua sendo o alívio cômico barato e imediato necessário para alienar a obra de sua própria sombriedade e seriedade.
Considerando que Malcolm Merlyn não retornará tão cedo nas temporadas vindouras de séries da DC, seu personagem finalizou sua participação de forma óbvia e satisfatória. Desde o início, ele demonstrou ser muito apegado a Thea e a amava com seu jeito distorcido e doentio.
Não é à toa que o último episódio se chama Lian Yu, os produtores sabem que a série retomou o passo que estava sendo dado nos dois primeiros anos e, para isso, foi preciso revisitar as origens e as motivações do arqueiro.
No verdadeiro clima de destruir para reconstruir do zero, Arrow inicia uma nova jornada. Tomara que ela seja tão boa quanto as primeiras.
"The Flash — 4ª Temporada | Crítica Quase mesmo vilão; quase mesmo drama; quase mesmo enredo; quase mesmo tudo
Criada por Greg Berlanti, Geoff Johns e Andrew Kreisberg. Com Grant Gustin, Candice Patton, Danielle Panabaker, Carlos Valdes, Tom Cavanagh, Jesse L. Martin, Keiynan Lonsdale, Violett Beane, John Wesley Shipp, Tom Felton, Jessica Camacho, Matt Letscher, Anne Dudek.
Pode ser uma incrível coincidência do destino, mas a série The Flash surgiu no exato momento em que Arrow começou a decair de qualidade. Os mais céticos dizem que isso é um mero infortúnio, os crentes dizem que é uma gangorra necessária. Por incrível que pareça, nessa temporada, quando Arrow tenta se reerguer, The Flash despenca na mesmice em uma temporada mediana.
Claro, há altos e baixos. Nem tudo é de se jogar fora, mas não vamos nos esquecer que as apostas eram altíssimas, afinal a temporada passada finalizou com o início do Ponto de Ignição! Nesse ano, devido a uma escolha de Barry, tudo poderia mudar, e era ainda mais inédito pelo fato de que poderia mudar em outras séries também! Mudou? Quase nada.
Quando a série estreou, todos os elogios foram voltados a sua coragem. Afinal, estava absolutamente engessada na mídia um universo DC realista graças aos sucessos de Arrow e a trilogia The Dark Knight, do Nolan. Flash, no entanto, foi além: com uma coragem ímpar, introduziu linha temporais diferentes, multiversos, meta-humanos, mas quando lhe foi exigido, novamente, capitanear as mudanças, falhou rude.
O enredo começo no universo criado depois que Barry salva sua mãe. Ao se dar conta que não tem como conviver nesse espaço, o herói tenta retornar a sua linha universal originária. Entretanto, apenas descobre que criou um terceiro mundo (com pequenas diferenças em relação ao primeiro). Assim, com essa explicação se desenvolvendo ao longo dos episódios — e de forma bem clara; méritos da série — a temporada se dividiu em dois arcos que foram consequências diretas dos atos do velocista: o Alquimia e Savitar.
Com um total de vinte e três episódios, o terceiro ano não escapou de fillers completamente sem sentido, que foram feitos apenas para preencher lacunas das emissoras (como o musical com a Supergirl, piores quarenta minutos da vida). Aliás, na tentativa de criar uma urgência no espectador, a série se torna frustrante já que todos sabemos que Iris West não vai morrer, isto é, não tem urgência alguma no clímax; e se ela morrer, alguém vai trazer uma Iris do passado, da Terra 2, de Marte 1000, do raio que a parta, pra vestir os calçados da falecida. Claro, esse é o ônus e o bônus da própria estrutura diegética estabelecida na série.
O episódio final tenta aglutinar tudo que foi trazido pela temporada, bem como preparar o terreno para o vindouro quarto ano. Novamente, ao invés de criar algo que realmente gerasse expectativa, os produtores desenvolvem uma situação que sabemos que será resolvida, certamente, nos primeiros episódios que virão.
A atriz que mais cresceu sem dúvidas, foi Panabaker, como Caitlin Snow. Toda sua provação (com o fato de enfrentar e evitar um futuro inevitável, bem como começar uma nova jornada como uma Nevasca anti-heroína em vez de vilã) mostra que a personagem pode ser ainda mais complexa e aprofundada na temporada que está por vir. Com certeza, sua história é a mais esperada, justamente por ser a personagem menos maniqueísta.
Absolutamente mediana, a terceira temporada de The Flash só não é ruim porque ainda se vê certa dedicação de todos envolvidos com ela, seja no CGI — cujo investimento é infinitamente mais baixo que no cinema –, seja nas atuações. Rumores indicam que o big bad do ano que vem não será mais um velocista (graças a Deus), o que pode indicar a mudança necessária que a série precisa.
Flash pode ser o homem mais rápido do mundo, mas não vai chegar em nenhum lugar se não for na direção certa.
"Marvel’s Agents of S.H.I.E.L.D. — 4ª Temporada | Crítica AoS mantém a qualidade, sedimentando sua própria mitologia dentro do MCU
Criada por Joss Whedon, Jed Whedon e Maurissa Tancharoen. Com Clark Gregg, Ming-Na Wen, Chloe Bennet, Iain de Caestecker, Elizabeth Henstridge, Henry Simmons, Brett Dalton, John Hannah, Mallory Jensen, Adrian Pasdar, Natalia Cordova-Buckley, Jason O’Mara, Gabriel Luna.
Quando Joss Whedon anunciou que se afastaria da produção de Agents of S.H.I.E.L.D. (AoS), os fãs — já rançosos com o fraco desempenho da obra — praticamente desistiram de apostar na primeira série da Marvel que se passava dentro do MCU. Assim, aproveitando o lançamento de Capitão América: O Soldado Invernal, a primeira temporada passou por uma reestruturação necessária imposta pelas consequências do filme. Tudo mudou.
A série, que até então patinava e perdia audiência, conseguiu se consolidar no novo status quo do universo cinematográfico. A queda da S.H.I.E.L.D. fora um trunfo para alguns plot twists essenciais na sobrevida do trabalho. Com uma boa atuação e bons argumentos nas temporadas seguintes, a série alcançou relativo sucesso a ponto de tomar coragem para ela mesma lançar novos heróis. Na quarta temporada iríamos presenciar o Motorista Fantasma!
Se tem algo que o showrunner Jed Whedon aprendeu com seu irmão (Joss Whedon, diretor de Os Vingadores e criador de Buffy: A Caça-Vampiros) foi como trabalhar um grande equipe. Sabendo dosar as participações do elenco, bem como equilibrar os diversos focos através da temporada, Whedon sabe explorar a história dos protagonistas, dando-os uma verticalidade admirável, além de sedimentar os personagens eventuais e secundários.
Em seu quarto ano a série deixa um pouco de lado Daisy (Bennet), cuja história foi explorada à exaustão nos anos passados, deixando-a somente como suporte para introduzir devidamente o Motorista Fantasma (Luna). Portanto, personagens como Mack (Simmons), Fitz (Caestecker) e Radcliffe (Hannah) acabam tomando os holofotes muitas vezes, cientes de que era o momento explorar seus personagens.
Caestecker, novamente, confirma seu trabalho brilhante como Leopold Fitz. Cada ano que passa, o talentoso ator se supera na reflexão dos traumas e consequências de seus atos. Henstridge, que interpreta Jemma Simmons, acompanha-o com uma dramaturgia excelente. Sem dúvidas o casal engloba os atores mais talentosos, deixando Gregg, Wen e Bennet para trás no que toca à capacidade técnica.
Nessa temporada que terminou, AoS adotou uma postura interessante quanto à sua narrativa. Enquanto no passado as séries com mais de vinte episódios por ano tinha apenas um ou no máximo dois plots (o que as enchiam de episódios insossos, conhecidos como fillers), o seriado da Marvel se construiu em três enredos bem distintos: a introdução do Motorista Fantasma, MVAs (Modelos de Vida Artificiais) e o Framework (uma forma de Matrix do MCU), sempre com pontes muito orgânicas e verossímeis nos episódios de transição.
Claro, existem arcos mais interessantes que outros, sendo o do Motorista Fantasma com certeza o melhor. Luna e Jansen (AIDA) ganharam muito destaque como as novidades do quarto ano, enquanto essa foi uma antagonista convincente, aquele foi o antiherói digno de merecer sua própria série, tal qual o Justiceiro na Netflix.
Terminando com o pior — mas não ruim — entre os três arcos (Framework), um clímax meio decepcionante, e as clássicas pontes para a temporada vindoura, nada pode ser descartado. Caso o Motorista não tenha sua série própria, nada impede que possa atuar como personagem recorrente em AoS, considerando seu sucesso esse ano.
Aliás, os últimos segundos nos induzem a crer que, por mais que seja negado pela ABC, a série da família real dos inumanos vai ter relação com AoS. Os motivos que induzem a esse pensamento são que o cliffhanger praticamente induz a isso e, na primavera, AoS será transmitido no mesmo horário que Inumanos, após seu término, então uma poderá trabalhar com consequências diretas da outra.
Seja por streaming ou por broadcasting a Marvel continua se superando ao expandir o MCU além das telonas. Que venha a quinta temporada! Quanto mais episódios eu vejo, mais eu quero que esses personagens interajam nos cinemas. Será que Kevin Feige atenderá a esse pedido?
"Crítica | 13 Reasons Why Nova série da Netflix é repleta de boas intenções, mas falha em pontos cruciais na construção da trama
Dirigido por Kyle Patrick Alvarez, Gregg Araki, Carl Franklin, Tom McCarthy e Jessica Yu. Roteiro de Brian Yorkey, Elizabeth Benjamin, Diana Son, Thomas Higgins, Nathan Jackson, Nathan Louis Jackson, Nic Sheff, Hayley Tyler. Com: Dylan Minnette, Katherine Langford, Christian Navarro, Justin Prentice, Steven Silver, Miles Heizer, Ajiona Alexus, Michele Selene Ang, Alisha Boe, Ross Butler, Brandon Flynn, Amy Hargreaves, Derek Luke, Brian d’Arcy James, Kate Walsh.
Esse review pode conter spoilers da série.
A adolescência é uma fase conturbada. Independentemente do tamanho dos problemas, o jovem enfrenta-o como se fosse uma situação de vida ou morte. Infelizmente, em alguns casos, é exatamente isso.
A série adapta o romance homônimo do escritor Jay Asher, o qual narra a história de Hannah (Langford), uma jovem que, após de sofrer uma série de traumas, suicidou-se, deixando fitas endereçadas a treze pessoas que ela culpa por isso. Assim, acompanhamos Clay (Minnette) enquanto as ouve e que não entende por que motivo é um dos treze.
Recebida entre críticas e aplausos, é indiscutível que a produção está repleta de boas intenções. Temas como o bullying, abuso sexual, solidão e exposição, são tratados com muita seriedade. A obra é necessária pois traz de forma clara os prejuízos que esse tipo de humilhação e experiência cria na vida de quem a sofre. Entretanto, ao mesmo tempo em que nobre por vir de peito aberto, a série peca em falhas técnicas que quase chegam ao grotesco. Construída em uma estrutura maniqueísta e, muitas vezes, ilógica, a construção da obra sempre tem o intuito de prevalecer a dramatização ao debate. Entretanto, tal opção acaba abafando (e, portanto, diminuindo) o argumento que deveria ser o cerne do trabalho.
O roteiro é sofrível. Nitidamente voltado ao público adolescente, há uma quantidade absurda de sequências nonsense ridículas e uma criação de um suspense patético e inexistente. Afinal, o que Clay fez de tão horrível para estar nas fitas? As inúmeras vezes em que ele foi censurado pelos outros doze indicavam que ele teria sido o pior de todos, o que, ao cabo, não se comprova. Toda a primeira temporada se constrói em um mistério inexistente. Por que todos o questionam se ouviu sua fita — sendo que até mesmo o acusam de ter causado diretamente a morte de Hannah — se na verdade ele foi o único que não merecia estar ali?
As falhas não terminam aí. Por que Tony (Navarro) era o guardião das fitas? O que ele fez? São questionamentos básicos como esse que deixam o roteiro da série risível. As desnecessárias cenas da escalada, ou de ouvir a fita à beira de um penhasco são de uma extravagância absurda que não condizem com absolutamente mais nada na obra. Aliás, em certo momento somos induzidos a questionar a veracidade dos relatos de Hannah; tal abordagem some misteriosamente e, novamente, somos conduzidos à realidade absoluta em que ela fala apenas a verdade — de repente porque questioná-la seria dar complexidade em demasia ao pobre texto. Claro, a única coisa que prospera (e isso, sim, é um acerto) é o que é verdade para Hannah. A subjetividade é elementar para quem tira sua própria vida. Problemas que para uns são mínimos, para quem se matou poderiam ser insuportáveis.
Aliás, Clay, outra vítima do roteiro fajuto, vira um berdamerda diante do excesso de autoflagelação ao ouvir as fitas. Por mais que Dylan Minette seja um ator talentoso, a empatia que criamos por seu personagem dá lugar a uma crescente irritação oriunda de seu comportamento ilógico e alucinações, que apenas servem para gerar uma tensão esdrúxula (garantia de muitas risadas quando ele, literalmente, grita para a voz de Hannah sair de sua cabeça, em meio aos alunos no corredor do colégio).
Isso para não passar páginas discorrendo nos erros crassos. Não falamos aqui na falta de perícia do corpo de Jeff para averiguar se ele estava realmente embriagado; os pais estúpidos que ignoram toda e qualquer reação explosiva ou melancólica dos filhos; e (a cereja do bolo) um vilão que conta todo seu plano maligno para ser pego em um gravador invisível.
O elenco, repleto de estreantes, tem muitos talentos. Minette é um bom ator, que se esforça muito para cativar como Clay; Alisha Boe, como Jessica, é a maior revelação da série, tanto pelas experiências vivenciadas, como a forma que ela as refletiu na obra. Kate Walsh e Brian d’Arcy James, como os pais de Hannah, Olivia e Andy Baker, são o maior destaque de todo o trabalho; incrível a forma que retrataram a perda de um filho, especialmente no momento em que a encontram na banheira.
Uma das maiores preocupações com o lançamento da obra é um fenômeno conhecido como efeito Werther, onde um suicídio que tenha ganhado evidência acaba inspirando outras pessoas a cometerem tal atrocidade nos mesmos moldes. De fato, a exposição visual nas cenas da morte são um verdadeiro bê-a-bá para que outras pessoas possam fazer isso também. O excelente trabalho dos atores envolvidos, bem como a clareza com que tudo foi mostrado, mesmo que com o intuito de chocar o espectador, é uma irresponsabilidade tremenda, que pode resultar em situações irreversíveis.
A bem da verdade, 13 Reasons Why nasce de uma necessidade: debater misoginia, abuso sexual e exclusão de forma clara e séria. O amadorismo de quem a escreveu oblitera todo e qualquer esforço dos atores.
Infelizmente, por certa incompetência de roteiro, o debate que tinha tudo para ser muito proveitoso, virou mais uma temporada de Malhação.
Nota: 3/6 (Regular)"
Comprar Ingressos
Este site usa cookies para oferecer a melhor experiência possível. Ao navegar em nosso site, você concorda com o uso de cookies.
Se você precisar de mais informações e / ou não quiser que os cookies sejam colocados ao usar o site, visite a página da Política de Privacidade.
Ted Lasso (1ª Temporada)
4.4 245 Assista AgoraEsse episódio 10 da segunda temporada foi uma das coisas mais bem dirigidas que vi pra TV. Em 15 minutos a gente ri, chora de tristeza, de raiva e se irrita, também. Que série maravilhosa!
O Legado de Júpiter (1ª Temporada)
2.7 172 Assista AgoraRealmente é o The Boys da Netflix. A diferença é que o Prime Video já passou da fase de mostrar arco de adolescente problemático e drogado, a Netflix aparentemente ama isso.
Fora isso, é boazinha. The Boys meets Malhação.
The Boys (2ª Temporada)
4.3 647 Assista AgoraThe Boys: 2a Temporada - Crítica
Sátira de super-heróis vai muito além de sua aspiração e critica fundamentos do mundo contemporâneo
Lançada em 2019 de forma despretensiosa pela Amazon Prime Video, The Boys parecia ter sido idealizada apenas para completar um nicho que, atualmente, urge ser atendido pelas mais diversas plataformas: os super-heróis. Sem grandes expectativas, a série se mostrou surpreendente, oxigenando o que estava saturado pela nobreza utópica dos protagonistas.
Devido a seus próprios méritos, o segundo ano já era aguardado com certa expectativa. E sua abordagem não poderia ter sido mais acertada. Se no primeiro ano, a obra se preocupou em dispor o cenário e a força motriz dos protagonistas, o segundo ano foi focado em nivelar ambos os lados, dando profundidade e argumentos a eles. O crescimento da trama, realizado de forma orgânica, enche os olhos com a naturalidade que somos conduzidos. Dessa vez, as críticas à sociedade contemporânea são muito mais agudas e assertivas, o que demonstra a ciência dos produtores de que a obra alcançou outro patamar.
Debates como a falácia do genocídio branco, neo-nazismo (e o fato das pessoas idolatrarem o conceito, embora repudiem a palavra), a força comercial da Igreja, e, até mesmo, a formação de opinião através dos memes e das fake news são constantes nesse mundo dominado por, veja só, uma indústria farmacêutica que monopoliza o mercado de segurança. Ora, não precisa ser formado em ciência política para perceber que o discurso populista (maquinado as reais intenções da vilã) de Tempesta é o mais claro retrato de diversos líderes políticos agora.
Ao mesmo tempo que entra de cabeça na sátira, a série reserva tempo, também, para o desenvolvimento psicológico de seus personagens. Apenas para exemplificar, se em um episódio repudiamos as atrocidades do Capitão Pátria, no outro percebemos que ele é apenas um produto desde sua concepção. Billy Bruto, por outro lado, que antes achávamos ser guido tão somente por desejo de vingança, possui feridas que datam de muito antes do próprio Capitão Pátria. Além deles, todos os outros personagens tiverem desenvolvimentos apropriados à sua posição na trama, em especial Kimiko, Francês e Maeve.
Importante destacar também o mérito de como a série foi lançada. O lançamento semanal dos episódios é uma boa fuga para o imediatismo que estamos acostumados hoje: essa semana, queremos uma temporada inteira, e a segunda temporada queremos já semana que vem. Dessa forma, perpetua-se o produto através do debate, do hype.
Ao fim de seu segundo ano, The Boys satisfez expectativas que já não eram baixas. Excelente para nós, espectadores, mas importante frisar que, mais uma vez, eleva-se a régua com a qual o vindouro ano será medido. Nesse momento, acabamos por confiar ainda mais no potencial da série. E eu não vejo a hora de saber onde tudo isso vai dar.
Nota: 5/5
PS: siga @catacresecc no Instagram e fique por dentro de nossas notícias!
Ted Lasso (1ª Temporada)
4.4 245 Assista AgoraTed Lasso – Crítica
De certa forma, Ted Lasso é uma das produções mais comoventes de 2020
Não demora muito para entender sobre o que se trata a sequência de abertura de Ted Lasso, a nova série de comédia da AppleTV+: Lasso senta em uma arquibancada repleta de cadeiras azuis e, a partir dele, pouco a pouco os assentos começam a mudar para um vermelho vivo, livre de pichações ou manchas. Está aí uma produção que falará sobre transformação (contaminação), resiliência e coração.
Produzida e protagonizada por Jason Sudeikis – que, diga-se de passagem, faz o trabalho de sua vida –, a série narra a história de um técnico (Lasso) que treina times de futebol americano nos Estados Unidos, mas que recebe uma proposta para treinar um decadente clube de futebol (soccer) da Premier League, em Londres. Por mais bobo que possa parecer o enredo, a trama vai muito além dos gramados e trata de diversos temas, como empatia, humildade, perseverança e liderança.
A positividade e a resiliência nas quais o personagem é moldado, nos dias de hoje, são um alento para um mundo que precisa cada vez mais de referências positivas. Não se trata de conhecer ou não as regras do jogo que se joga, mas sim conhecer as pessoas que estão envolvidas. Trata-se de se mostrar vulnerável para construir pontes, e, nesse ponto especificamente, o sotaque sulista do personagem junto da personalidade mais distante dos ingleses cria um contraste que flutua do constrangedor para o simpático em questão de segundos.
O protagonista, com toda sua proatividade e pureza, remete-nos a outros grandes personagens: uma mistura de Leslie Knope (Amy Poehler em Parks and Recreation) e Michael Scott (Steve Carrel em The Office). Assim, considerando seu objetivo final, a séria não tem problema algum em se jogar no piegas a fim de ilustrar bem a lição a ser aprendida. E é justamente nessa coragem de abraçar o clichê que mora o maior mérito de produção.
Nascida em meio a um dos maiores desastres biológicos da história, em um mundo cada vez mais totalitário e repleto de discursos de ódio e de intolerância. Ted Lasso surge como um farol de esperança; a esperança de que enquanto ao menos um idealista estiver vivo, o bem há de vencer.
Nota: 5/5
Em Defesa de Jacob
4.0 229 Assista AgoraEm Defesa de Jacob – Crítica
Chris Evans em grande papel de um pai que luta para manter sua família incólume
Sempre foi alvo de grande debate os limites que superamos para proteger nossa família. Um dos filmes mais emblemáticos que me vem a memória é Sobre Meninos e Lobos (2003), de Clint Eastwood. Não estranho essa grande obra me vir a cabeça quando termino Em Defesa de Jacob, considerando que a semelhanças são várias.
Na minissérie exclusiva da AppleTV+, Jacob Barber (Martell) é um adolescente que é acusado de assassinar um colega de classe, e cabe a seu pai, Andy Barber (Evans) lutar para provar a inocência de seu filho. A premissa não é inédita, para olhares mais atentos, remetemo-nos quase que diretamente a Precisamos Falar Sobre Kevin ou Tarde Demais.
Entretanto, ao mesmo tempo que se ampara nessa premissa tão conhecida, a obra luta para manter sua identidade própria. Seja pelo carisma de Evans ou pela grande atuação de Martell – por vezes, essa dubiedade que se constrói lembra a de Edward Norton, em As Duas Faces de um Crime –, Em Defesa de Jacob é um thriller lento, que trabalha bem a evolução da trama, mas que, por ansiar tanto em manter o mistério, acaba que estende demais e pode vir a cansar. Das atuações, contudo, precisamos fazer um destaque especial ao trabalho feito por Michelle Dockery, a mãe da família, que é a responsável maior por ir mostrando a desestruturação psicológica que vai tomando conta de todos na casa.
Importante observar que, embora seja um clássico suspense de tribunal, onde se busca a verdade por trás do assassinato, este não é o (único) objetivo da obra. Há uma série de circunstâncias que a tornam singular dentre as outras já citadas. Considerando que a família afetada é de classe média-alta, existe uma série de recursos que o patriarca lança mão para tentar isentar seu filho de culpa.
Seja através de informações privilegiadas de uma detetive amiga ou até ocultação de provas, Andy, o qual fala nos primeiros minutos que só quer descobrir a verdade do caso, é o primeiro a ingressar nos turvos mares da parcialidade e da manipulação.
Em Defesa de Jacob é uma produção que quer ir além do resultado do julgamento, é sobre colar as peças quebradas, ou reduzi-las a pó, caso seja necessário. Em um dos momentos mais marcantes, Laurie (Dockery), querendo retomar o controle de sua vida, sai para fazer compras no supermercado local e começa a cantarolar para disfarçar a angústia, apenas para no quadro seguinte cruzar com a mãe da vítima, que cospe em seu rosto. Lá fica bem claro o intento da obra. De fato, o julgamento condena antes mesmo da sentença.
Nota: 4/5
PS: siga @catacresecc no Instagram e fique por dentro de nossas outras críticas!
Dark (3ª Temporada)
4.3 1,3Ko enredo da série foi muito bom até essa temporada. a decisão preguiçosa de criar mundos paralelos deixa tudo muito fácil de resolver. a solução de resolver tudo apenas salvando os filhos do tannhauss soa quase como um deus ex machina de uma trama emaranhada cujos produtores não sabiam como resolver.
Batwoman (1ª Temporada)
3.1 70primeira temporada bem desinteressante. esse roteiro novelesco das séries da cw já estão enjoando há um tempo. além disso, o elenco é pouco carismático ressalvada a personagem alice, atuada por rachel skarsten, que, embora marcante, apresenta uma receita batida de coringa genérica.
Hollywood
4.1 330 Assista AgoraAdorei a série. Bebe da mesma fonte que Era Uma Vez em Hollywood ao tentar recontar a história como se fosse um conto, mas tenta ser mais socialmente pertinente.
Os atores, grande parte acostumada já com o trabalho do Ryan Murphy, entregam uma performance muito digna.
Aliás não conseguia ver o David Corenswet em tela e não imaginar como ele ficaria excelente em um papel de Superman.
Se tem alguns pontos negativos a ressaltar foram as cenas do tapete vermelho (montagem meio displicente), alguns erros de continuidade (o charuto do Ernie no restaurante com o Jack e o Archie fica pela metade de uma cena pra outra), e claro, o próprio arco pessoal da Camille, como leading actress, deveria ter sido melhor explorado.
Se fosse uma minissérie de dez episódios, talvez pudesse se aprofundar mais e alguns personagens mais esquecidos. Mas o resumo de tudo é muito positivo e é um grande acréscimo no catálogo da Netflix.
Arqueiro (8ª Temporada)
3.7 45 Assista Agoradifícil entender até o fim o que é 2020, 2040, speedforce e o diabo. virou um frankestein isso aqui
Watchmen
4.4 562 Assista Agorao que ficou claro pra mim é que o Dr. Manhattan, na verdade, não é capaz de amar. ele sempre soube disso. ele só amou a Angela pq era ela quem herdaria os poderes dele. o amor dos dois foi instrumento do Jon passar as habilidades deles.
Titãs (2ª Temporada)
3.3 214 Assista Agoraengraçado porque eu vejo essa série, gosto dela, mas eu SEMPRE tenho a impressão que falta mais capricho no roteiro ou que o episódio termina faltando algo. o último episódio deu a entender que a série finalmente vai deslanchar, mas tenho medo que continue sempre nesse 'quase'
Agentes da S.H.I.E.L.D. (5ª Temporada)
4.0 75 Assista AgoraCrítica do Catacrese COM SPOILERS!
"Marvel’s Agents of SHIELD - 5ª Temporada | Crítica
Mais um ano excelente de AoS que a fez garantir uma sexta temporada
Criada por Joss Whedon, Jed Whedon e Maurissa Tancharoen. Com Clark Gregg, Ming-Na Wen, Chloe Bennet, Iain de Caestecker, Elizabeth Henstridge, Henry Simmons, Nick Blood, Ruth Negga, Natalia Cordova-Buckley, Adrian Pasdar, Jeff Ward, J. August Richards, Briana Venskus, Catherine Dent, Dominic Rains, Joel Stoffer, Peter Mensah, Dove Cameron, Florence Faivre.
Aviso: esse texto contém spoilers da trama!
Quanto o quarto ano de AoS terminou, os fãs foram deixados na expectativa com um dos maiores ganchos ao longo da história da série: como raios Coulson & Cia foram parar no espaço? Voltada para esse mistério nos primeiros episódios, Agents of SHIELD começa o que então seria sua última temporada, mas que, merecidamente, foi renovada para mais um ano.
Vinda de um excelente quarto ano, a série tinha o fardo de manter a qualidade a qual conseguiu se alicerçar a partir do terço final do primeiro ano. Para isso, a obra – que há muito tem vida independente dos filmes – resolve ser ainda mais corajosa que o ano anterior e coloca em sua mitologia as viagens no tempo (recurso que poderá vir a ser utilizado em Vingadores 4). Com muita calma, a obra vai inserindo informações para o conhecimento dos fãs, de modo que as coisas vão se assentando com muita naturalidade. Assim, os três arcos que aparentemente são bem independentes, na verdade, se entrelaçam de forma majestosa, assim como no ano passado.
Na verdade, a fórmula do roteiro utilizada foi exatamente a mesma, onde há um primeiro arco, mais enfadonho e cheio de informação (Kasius e a Destruidora de Mundos); o segundo, um pouco mais breve, com bastante ação (Ruby e a nova Hidra); e um terceiro, muito pequeno, com um clímax que aglutina bem os 22 episódios (Graviton e a ameaça de Thanos).
Seguindo os passos do irmão Joss Whedon (diretor dos dois primeiros Vingadores), Jed Whedon continua trabalhando o elenco com maestria. Se, por um lado temos a dupla Coulson/Daisy como principal, em certos momentos, a série consegue trabalhar muito bem Fitz/Simmons e Mack/Yo-yo. Até mesmo por isso, nesse ano, a May fica evidentemente em segundo plano, dando espaço para o crescimento das demais personagens.
Todo o elenco atua de forma uniforme e satisfatória, mas é impossível não destacar o trabalho de Iain de Caestecker. Desde o primeiro ano, Fitz sofre os maiores cliffhangers e os melhores contrastes (o Leopold, do Framework, é espetacular). A questão é que não se sabia se era o ator que era favorecido pelo personagem ou vice-versa. Agora, mesmo tendo poucos grandes momentos Fitz continua roubando as cenas, confirmando o talento do intérprete.
Idealizada como uma temporada conclusiva, o quinto ano de Agents of SHIELD busca informações de todos os outros anos da série com intuito de fechar um círculo perfeito – não por acaso, muitos personagens repetem tudo que fizemos nos trouxe até aqui, testando nossa inteligência e paciência. Portanto, temos de volta o Gravitonium, o soro da centopeia, Deatklock, etc.
O verdadeiro ponto baixo da série é o quão decepcionante é o distanciamento cada vez maior entre cinema e televisão. Mesmo mencionando a vinda de Thanos no arco final, os fãs precisam se contentar com meras menções dos eventos nas televisões e nos jornais, pois não há um envolvimento mais direto entre as mídias. É um verdadeiro anticlímax que a solução achada pelos roteiristas tenha sido finalizar a temporada antes do fatídico estalar de dedos do Titã Louco, de sorte que não podemos ver as consequências de seu ato.
Por mais que a séria tenha sido renovada para mais um ano, a quinta temporada de AoS é um claro final de ciclo. A série que começou mostrando o retorno de Coulson da morte, termina com ele finalmente abraçando seu destino, sabendo que fez o seu papel. Não só salvou o mundo todos os anos, mas também reuniu um grande de time de super-heróis. Parafraseando o querido agente, em seu brinde final: eu tive a oportunidade de viver com muitos super-heróis, nenhum deles maiores que vocês.
Melhor que isso, só vendo eles nas telonas.
Nota: 5/6 (Muito Bom)"
Jessica Jones (2ª Temporada)
3.6 286 Assista AgoraConfira a crítica do Catacrese SEM SPOILERS!
"Jessica Jones – 2ª Temporada | Crítica
Os mesmos erros, só que maiores
Criado por Melissa Rosenberg. Com Krysten Ritter, Rachael Taylor, Eka Darville, Carrie-Anne Moss, Janet McTeer, J.R. Ramirez, Wil Traval, Leah Gibson, Rebecca De Mornay, Terry Chen, Nichole Yannety, Callum Keith Rennie, John Ventimiglia, David Tennant.
Uma das coisas que aprendemos na vida é que, em sagas – especialmente trilogias –, o segundo capítulo é o episódio mais sombrio. O Império Contra-Ataca, As Duas Torres, De Volta para o Futuro II e Batman – O Cavaleiro das Trevas são apenas alguns exemplos que comprovam o argumento. Lógico, existem exceções; Jessica Jones, todavia, que teve uma primeira temporada extremamente impactante mostrando o impacto dos abusos de Kilgrave em sua vida, consegue ser ainda mais melancólica.
O enredo da série é construído a partir das lacunas deixadas pelos anos anteriores, explorando mais a história do acidente de carro na infância de Jessica (Ritter) e as experiências que acabaram deixando-a com poderes meta-humanos. Todos os elementos que cativaram tanto o público ainda estão presentes: a narrativa continua densa e a atmosfera noir ainda se faz presente, embora numa intensidade mais moderada. Nesse ritmo, a séria continua se embrenhando nos traumas da heroína, mostrando que os eventos envolvendo Kilgrave (Tennant) foram apenas uma página de uma vida de rancor.
Novamente, nos deparamos com os mesmos problemas de tantas outras séries da Netflix. Os treze episódios facilmente poderiam ter sido simplificados a quatro, ou até mesmo a um longa-metragem, tamanha a falta de profundidade da trama. Para poder preencher a grade dos treze capítulos (e ser menos enfadonha do que já é), a série acaba lançando mão de subtramas desinteressantes e desnecessárias com Malcolm (Darville), Hogarth (Moss) e Trish (Taylor). Nenhum dos coadjuvantes se escapa, todos tem seu jeitinho especial de serem irritantes.
Aliás, é surpreendente que uma série nos cozinhe em banho-maria, de sete a oito episódios, para definir de forma concreta um vilão. São problemas de texto que foram tão facilmente evitados na segunda temporada de Demolidor – dividir os treze episódios em dois arcos distintos e uni-los nos dois últimos episódios –, que acabam assustando o espectador os enfrenta novamente em um claro retrocesso. Por incrível que pareça, o episódio emblemático vai acontecer no 11º capítulo apenas, onde as discussões mais importantes tomam corpo, para novamente baixar a bola nos últimos dois.
Verdade seja dita, tanto na primeira temporada quando em Os Defensores, as obras terminaram que a personagem enfim tinha aceitado seu manto de super-heroína. Agora, novamente, enfrentamos os mesmos questionamentos e as mesmas negações, um loop que aparentemente não terá fim.
Lógico, ainda estão lá os elementos que criaram a identidade da personagem. A fotografia intercalando os tons entre o azul e púrpura, a música noir urbana e a atuação de Krysten Ritter – cada vez mais empática e cativante como heroína – são pontos fora da curva, que vai ladeira abaixo. Outra característica que revitaliza de certa forma a Marvel na televisão é que os easter-eggs são menos contidos; seja em um garotinho comparando Jessica ao Capitão-América ou na detetive brincando com a expressão “com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades”.
Em um artigo, o crítico de cinema Matt Singer é muito feliz em definir uma ideia geral das séries da Netflix: "cada vez mais, quando alguém me recomenda uma séria da Netflix, basicamente a mesma observação é feita: ‘você precisa insistir na série. Os primeiros episódios são bem lentos". Mais uma vez, a empresa de streaming e produtora não nega sua imagem de falta de coesão. Infelizmente, o ápice desse problema aconteceu com uma série que teve um primeiro ano fantástico. Mais um problema a ser enfrentado pela Jessica Jones.
Nota: 2/6 (Ruim)"
O Justiceiro (1ª Temporada)
4.2 569Confira a crítica do Catacrese, SEM SPOILERS!
"O Justiceiro | Crítica
Repetindo alguns erros, O Justiceiro surge como a série mais crítica da parceria Marvel/Netflix
Criada por Steve Lightfoot. Com Jon Bernthal, Amber Rose Revah, Ebon Moss-Bachrach, Ben Barnes, Jaime Ray Newman, Kobi Frumer, Paul Schulze, Michael Nathanson, Ripley Sobo, Daniel Webber, Jason R. Moore, Kelli Barrett, Tony Plana, Deborah Ann Woll.
Um dos maiores orgulhos dos norte-americanos é a chamada Segunda Emenda à Constituição, aprovada em 1791, em meio aos ideais libertários da Revolução Francesa, que é o direito de portar armas de fogo. Mais de duzentos anos se passaram e, cada vez mais, esse diploma legal vem sendo alvo de críticas de juristas e intelectuais por um simples motivo: armas não evitam violência.
O Justiceiro veio para provocar exatamente esse pensamento no espectador. A trama continua o primeiro arco do segundo ano de Demolidor, ou seja, Frank Castle (Bernthal) vai atrás do responsáveis pela morte de sua família. Junto disso, se envolve em uma trama de espionagem militar que coloca toda conduta da CIA em xeque.
Mais visceral que as séries anteriores, a violência aqui é no intuito de causar desconforto. Não sou poucas as vezes o sangue escorre nas telas. Aqui, Castle e seus aliados levam tiros e matam. A mortalidade é uma presença constante na vida de todos. Todo dia pode ser o último.
No que toca ao elenco, a série consegue ser mais cativante de uma forma geral. Bernthal consegue ser brutal e comovente como antiherói, enquanto Barnes (Billy Russo) e Moore (Curtis Hoyle) evidenciam duas formas completamentes diferentes de superar os traumas da guerra; enquanto o último os enfrenta pelo enfrentamente cotidiano, o outro tenta esquecer e justificar suas ações.
Micro (Moss-Bachrach, parecido demais com o Andy Serkis) funciona como um contraponto perfeito à essência de Castle. Enquanto o Justiceiro busca vingança pela morte abrupta de sua família, Micro precisou se afastar deles para mantê-los protegidos, mas, mesmo assim, via-os todos os dias pelos monitores.
Deborah Ann Woll continua uma Karen Page cada vez mais forte e independente e, aqui, é somada com Rose Revah (Dinah Madani), uma agente federal determinada a ir ao fundo do mistério, mesmo que fragilizada pela morte do parceiro. Portanto, continuando o legado das demais séries, o elenco feminino é muito acertado, de sorte que os primeiros diálogos entre Page e Madani são repletos de meias palavras e ameaças veladas.
Webber parece condenado a fazer o papel de soldados traumatizados e frustrados. Repetindo seu papel de Lee Harvey Oswald (em 11.22.63), aqui ele vive Lewis Walcott, que ponto nuclear de uma trama secundária, mas que serve muito para expor as preocupações temáticas de forma clara e didática.
O deslocamento é uma constante ao longo da obra. Nos primeiros episódios, a câmera sempre filmava Castle de forma deslocada, deixando um dos lados vazios, apenas com paisagem, de forma que nos causa uma certa sensação de desequilíbrio. Na medida em que o enredo evolui, Castle é centralizado, evidenciando que o protagonista voltou a encontrar um propósito (I am home).
Repetindo os erros das demais séries, O Justiceiro muitas vezes parece alongar desnecessariamente cenas e tramas para justificar seus treze episódios. Justamente o ponto que foi o maior acerto da segunda temporada de Demolidor (dividir um ano em dois enredos autônomos, mas harmônicos), as demais séries parecem não querer repetir.
Adicionando novos elementos à discussão dos atos de heroísmo, a antiga dicotomia herói/vigilante ganha um novo ponto: o terrorismo.
Em seu primeiro ano na Netflix, O Justiceiro surge como um antiherói simples mas envolto por sombras. Através de seus coadjuvantes, a série foi enriquecida com complexidade e com a lembrança constante de que, embora vá além do razoável, há luz, sim, nas intenções daquele que veste a caveira.
Nota: 5/6 (Muito Bom)"
Curtam nossa página no face!
O Nevoeiro (1ª Temporada)
3.0 461 Assista AgoraCrítica do Catacrese:
"O Nevoeiro – 1ª Temporada | Crítica
Série vendida como baseada no conto homônimo de Stephen King não cativa e se perde nas suas próprias falhas
Criado por Christian Torpe. Com Morgan Spector, Alyssa Sutherland, Gus Birney, Danica Curcic, Okezie Morro, Luke Cosgrove, Darren Pettie, Russel Posner, Frances Conroy, Irene Bedard, Deborah Allen, Holly Deveaux, Romaine Waite, Isiah Whitlock Jr., Bill Carr, Murlane Carew, Nabeel El Khafif.
É muito nebulosa a definição do que são os limites quando algo se diz “adaptado de” ou “baseado em”. Isso sempre gera uma série de discussões; se tentar ser totalmente fiel ao original, é sem criatividade e previsível, se inova, é desrespeitoso. Entretanto, há sempre o mínimo básico para serem consideradas histórias paralelas: o mesmo background, mesmos personagens e, quiçá, mesmos eventos.
Quando foi anunciado que O Nevoeiro seria adaptado como série televisiva, ao mesmo tempo, foi vendido com o selo de “baseado no conto de Stephen King”. Contudo, finda a primeira temporada, vê-se que tal anúncio foi descaradamente de má-fé, já que, a única coisa congruente entre ambos é famigerada névoa. Com personagens e locais diferentes, os próprios efeitos da névoa em si são completamente aleatórios, o que mostra que não, a série não é baseada na obra homônima.
As personagens, vítimas de um roteiro fraco, não cativam em momento algum. Kevin (Spector) desde o início, tenta ser o herói e bom samaritano, mas nunca convence com sua capacidade. Como a trama se passa em uma cidade, há várias personagens coadjuvantes, deixando impossível de fazer um laço com o espectador.
Na verdade, a obra toda desperdiçou uma boa oportunidade no momento em que optou o caminho que seguiria. Ao ter três núcleos isolados e distintos (igreja, hospital e shopping), poderia ter sido trabalhado um lado que derivasse para o gênero estabelecido por The Walking Dead, isto é, esses núcleos formariam clãs que tentariam se impor entre si, sendo que a névoa seria apenas o pano de fundo, tal como os zumbis são para TWD. Ao invés disso, se fôssemos mater o raciocínio na ideia do comparativo, a obra derivou para um lado mais Fear The Walking Dead, ou seja, prezou os mais os laços familiares em meio à crise, do que a sobrevivência em si.
Com isso, o resultado foi uma temporada insossa, que, na tentativa de manter o mistério, empilhava questionamentos na cabeça do espectador. Sem trazer explicação aparente alguma para a névoa, cada episódio virava uma tortura, já que, em princípio, nada se relacionava. Seria a névoa um evento da natureza? Divino? Estaria o exército por trás? Como o estupro se relaciona a isso? Todas as perguntas ficam sem respostas. Na verdade, esse quê de Lost que a série tentou trazer não se sustenta em segundo algum. Enquanto lá na ilha, os caminhos todos – nas primeiras temporadas – pareciam evoluir rumo à explicação, no nevoeiro, nenhum passo foi dado para isso.
Em meio a essa confusão, temos o CGI ruim e relaxado da neblina. Pelo amor de Cristo, não é como se não houvesse gelo seco ou qualquer outro tipo de fumaça para dar um efeito minimamente mais verossímil. Além disso, enquanto no conto, os demônios que viviam nela eram assustadores (voadores, gigantes, tentáculos, etc), na televisão temos insetos, animais e alucinações.
Produzida e transmitida nos Estados Unidos pelo canal Spike, no Brasil, a série ganhou o selo da Netflix, uma pena, pois muitos irão atribuir sua má qualidade à emissora de streaming. Com a demora para anunciar a renovação, possivelmente, a produtora esteja considerando se vale a pena insistir no erro. Se renovarem, que sejam mais coerentes.
Nota: 1/6 (Muito Ruim)"
The Tick (1ª Temporada)
3.6 38 Assista AgoraCrítica do Catacres SEM SPOILERS!
"The Tick – 1ª Temporada – 1ª Parte | Crítica
Sátira do gênero de super-heróis cativa com carisma do protagonista que com as infinitas possibilidades que abre perante o espectador
Criada por Ben Edlund. Dirigida por Wally Pfister, Romeo Tirone, Sheree Folkson, Lev L. Spiro. Com Peter Serafinowicz, Griffin Newman, Valorie Curry, Ryan Woodle, Brendan Hines, Yara Martinez, Scott Speiser, Jackie Earle Haley, Michael Cerveris, John Pirkis.
Se pudéssemos definir qual o melhor elemento de uma paródia, esse seria a possibilidade. Com um leque enorme a frente, a paródia nunca se limita a cânones ou resoluções críveis, o absurdo é elementar e, por isso, incontestável. Desde que surgiu, em 1986, The Tick dialogava constantemente com os quadrinhos e os desenhos do gênero, tornando-se um símbolo da sátira.
A origem do super-herói nunca foi explicada da mesma forma em suas mídias. Seja como um louco que escapou de um hospício (quadrinhos), ou um alienígena do espaço (primeira série), a origem do herói sempre foi envolta de mistério. Na trama, em um universo em que super-heróis e vilões são uma realidade, o contador Arthur (Newman) percebe que um grande vilão no passado está vivo. À medida em que se aprofunda nesse mistério, Arthur conhece The Tick (Serafinowicz), um super-herói azul com super-força e aparentemente invulnerável, cujo passado é um mistério.
A melhor forma de analisar a série de 2017, é estabelecendo um comparativo com a falecida série de 2001. Em 2001, o trabalho era feito muito mais no intuito de homenagear os desenhos e os quadrinhos. Outrora as cenas era visivelmente feitas em estúdio, com fundos descaradamente falsos e efeitos sonoros previsíveis, agora, podemos ver ambientes abertos, melhor qualidade de efeitos visuais, e uma série – embora sátira – tentado aparece mais verossímil, com uniformes adaptados à mídia televisiva (em 2001, os vestuários dos heróis era feito de pano e silicone, sem enxertos plástico e/ou tecidos de aparência mais tecnológica).
Enquanto antigamente o carrapato azul era vivido por Patrick Warburton, agora é vivido por Peter Serafinowicz, ambos de vozes profundas, como exige o personagem. Warburton conseguia era fisicamente mais fiel aos desenhos e conseguia destacar muito mais o semblante louco do herói, mas Serafinowicz, embora mais esguio, é muito mais carismático com seu olhar plácido e semblante alegre, que estabelece um bom contraste com o poder do herói azul.
Arthur agora é vivido por Griffin Newman, enquanto no passado era interpretado por David Burke. Nesse ponto, houve um certo passo para trás. Enquanto Burke conseguia ser mais fiel ao cânone, com sua covardia e bom coração (e uniforme igual ao desenho, diga-se de passagem), o Arthur de Newman é somente irritante. A covardia do personagem agora simplesmente dá lugar à sua tosquice.
A presença de alguns personagens foi sentida; claro, trata-se da primeira parte de uma temporada apenas, muito mais deve vir no decorrer da obra, mas em 2001, a obra não tinha medo de introduzir heróis engraçadíssimos, como Batmanuel ou a Capitã Liberdade – seu constante flerte é a melhor metáfora da imigração latina na América do Norte, que já vi.
Contantemente provocando outros heróis, seja da Marvel ou da DC, The Tick faz piadas com o alcoolismo de Tony Stark ou o fato de Bruce Wayne ser um playboy. Nem mesmo Superman escapa com uma cópia escrachada: o Superian. O mundo de super-heróis rotineiros tenta traçar um paralelo com Watchmen, mas enquanto esse era visto do viés pessimista, em The Tick, eles são vistos como pseudocelebridades, conseguindo caminhar tranquilamente nas ruas, mas sendo atacados por um eventual fã pedindo autógrafos.
Feita com total leveza e descompromisso, The Tick é feita para fãs de super-heróis que não se importam de vê-los avacalhados ou debochados. Completamente apegada ao nonsense a série mistura a piada pronta e a improvisada, com um pouco de violência exacerbada. A típica série que não deverá ter uma legião de fãs xiitas, mas com certeza agradará muita gente.
Ambas as séries estão disponíveis no serviço de streaming Amazon Prime Video.
Nota 4/6 (Bom)"
Os Defensores
3.5 500Crítica do Catacrese SEM SPOILERS!
"Os Defensores – 1ª Temporada | Crítica
Com heróis cada vez mais complexos, Os Defensores mostra que pode ser o carro chefe dos produtos originais da Netflix
Criada por Douglas Petrie e Marco Ramirez. Com: Charlie Cox, Krysten Ritter, Mike Colter, Finn Jones, Elodie Yung, Jessica Henwick, Scott Glenn, Sigourney Weaver, Wai Ching Ho, Elden Henson, Simone Missick, Rosario Dawson, Yutaka Takeuchi, Ramon Rodriguez, Rachel Taylor, Deborah Ann Woll, Eka Darville, Babs Olusanmokun.
Quando a Netflix anunciou que adaptaria para a televisão os heróis urbanos da Marvel, a maior dúvida sempre foi em como a passagem seria feita. Hoje, passados dois anos desde a primeira temporada do Demolidor, com altos e baixos, a franquia que conquistou os fãs une os heróis em um bom crossover que faz jus ao legado até então.
A trama é bem óbvia; finalmente conhecemos os líderes do Tentáculo e suas reais intenções (embora bem rasas). Assim, unindo elementos dos anos anteriores, o grupo de heróis acaba se juntando na maior ilustração de o inimigo do meu inimigo é meu amigo.
Muito bem costurada às temporadas solo de cada herói, o enredo demora cerca de três episódios para justificar a união do time. Partindo de premissas deixadas claras em suas respectivas séries, a temporada funciona na medida em que o combustível de cada um segue sendo suas respectivas motivações individuais (Luke Cage quer o bem dos jovens do Harlem, enquanto Jessica Jones segue intrigada em um caso investigativo; Punho de Ferro segue na caça do Tentáculo e Demolidor busca uma vizinhança mais segura). Assim, mantendo a linearidade na psiquê dos personagens, o espectador não sente baque algum nos episódios.
Com tempos de tela proporcionais, o quarteto principal atua de forma como já se era esperado. Acertadamente, o roteiro acerta em manter o Tentáculo como antagonista, pois, caso contrário, o Punho de Ferro (Jones) seria esquecido – melhor que na primeira temporada, o herói ainda pena na construção de seu carisma; seu ódio ao grupo terrorista acaba o mantendo em evidência. Colter, embora mostrando-se um Luke Cage menos forçado, funciona muito bem quando divide tela com Jones, contudo, ambos continuam frágeis quando sozinhos em cena. Ritter e Cox constroem de forma muito fluida a relação Jessica Jones/Demolidor. Ambos conseguem brilhar em uma dinâmica divertida entre o estilo sarcástico de Jones e o fato de o Demônio de Hell’s Kitchen se levar a sério de mais.
De uma forma muito inteligente, o texto consegue unir os coadjuvantes para que eles tenham certos momentos de brilho também. Novamente, mantendo os pensamentos de temporadas passadas, o elenco mostra sua importância – com especial destaque a Elden Henson, que está cada vez melhor como Foggy Nelson. Henwick (Colleen Wing) e Ching Ho (Madame Gao) continuam muito caricatas; as diversas caras e bocas que fazem nos trazem um misto de irritação e pena. Dawson, espantosamente, tem menos destaque do que a expectativa criada nas outras cinco temporadas; sempre encarada como um “Nick Fury” da Marvel televisiva, a enfermeira teve uma importância muito menor do que lhe era esperado.
Um destaque à parte durante os oito episódios foi a fotografia. Sempre trazendo elementos de cada um dos protagonistas, em diversos momentos une o vermelho, o amarelo, o verde e o azúl/púrpura. Aliás, de uma forma muito prazerosa, nos vemos em um constante jogo entre o noir, o blaxploitation e a sofisticação. As trocas de cena, mostrando imagens de Nova York através de uma lente, deixam a mudança menos impactante de um tom para outro.
A vilã Alexandra, encarnada por Sigourney Weaver, sofre um pouco pela horizontalidade da organização a qual representa. Não há motivação crível no Tentáculo a não ser o cartunesco, assim, a atriz acaba sendo desperdiçada. A bem da verdade, a escolha não foi bem enquadrada ao papel, para aqueles que esperavam cenas de luta grandiosas, a idade da antagonista foi um empecilho para uma eventual coreografia. Yung, como Elektra, evoluiu muito desde o segundo ano de Demolidor; enquanto na temporada passada, a atriz serviu mais como um recurso para desacelerar o ritmo intenso, aqui, ela foi muito bem utilizada para mudar o status quo estabelecido.
As coreografias continuam deixando a desejar. Em algum momento, entre as duas temporadas do Homem Sem Medo e Punho de Ferro, os showrunners perderam a mão nas cenas de luta. Claro, há a clássica cena de luta no corredor, mas aqui, a câmera varia entre muitos ângulos, tirando o impacto da luta. Existe uma boa cena de luta no último episódio, aí sim, com planos sequência longos e panorâmicos de encher os olhos, mostrando o entrosamento da equipe.
Ao fim, como bem anunciado pelo produtores, Os Defensores reservou mudanças para todos os personagens. Quatro mudanças, quatro acertos. Embora sendo a quantidade ideal, com apenas oito episódios, fica aquela vontade de ver ainda mais. Os cliffhangers dos heróis, com exceção do Luke Cage, foram ótimos.
Corrigindo alguns erros do passado, a parceria entre as empresas mostra que está evoluindo. Os atores estão mais confortáveis e os enredos dignos da Era de Ouro dos quadrinhos. Aparentemente, com a confirmação do Justiceiro e boatos de que a Netflix irá adaptar outros heróis, podemos esperar uma sequência com ainda mais heróis.
Das maiores ausências, apenas faltou Come As You Are. Tomara que toque na segunda temporada.
Nota: 5/6 (Muito Bom)"
Amigos da Faculdade (1ª Temporada)
2.8 117 Assista AgoraCrítica do Catacrese SEM SPOILERS!
"Friends From College – 1ª Temporada | Crítica
Com grande elenco em teoria, mas sem química alguma, nova série da Netflix demora para mostrar a que veio
Criada por Francesca Delbanco e Nicholas Stoller. Dirigida por Nicholas Stoller. Roteiro por Tiffany Barrett. Com Keegan-Michael Key, Annie Parisse, Jae Suh Park, Fred Savage, Nat Faxon, Cobie Smulders, Billy Eichner, Greg Germann, Kate McKinno, Seth Rogen, Chris Elliott.
Quando há grande expectativa em algum lançamento, por óbvio, existem o ônus e o bônus. Pois então, a Netflix anunciou sua nova série de comédia em que Keegan-Michael Key, Colbie Smulders e Fred Savage, o que causou furor entre os espectadores. Smulders, inclusive, chegou a comparar Friends From College com o já falecido How I Met Your Mother (eterno em nossos corações), dizendo que aquele seria uma versão dark desse. Pura galhofa.
Em oito breves episódios, o enredo mostra o reencontro de um grupo de amigos de Harvard, vinte anos depois de formados. Para dar a carga dramática, muito rapidamente somos expostos ao panorama geral: Ethan (Key) é casado com Lisa (Smulders), mas tem um caso com Annie (Parisse) que desabafa com Marianne (Park). Além disso, Lisa é ex-namorada de Nick (Faxon). Para finalizar, os melhores amigos, Ethan e Max (Savage), trabalham juntos e enfrentam o ciúme do marido de Max, Felix (Eichner).
Um dos elementos mais louváveis da série foi, em um núcleo tão pequeno – apenas seis amigos –, conseguir trazer tamanha diversidade e melhor, tal característica nunca é debatida, simplesmente está lá. Assim, justamente pelo fato de passar desapercebida do espectador, tal característica é excelente pela naturalidade mostrada. Enquanto em Friends e How I Met Your Mother o núcleo era formado brancos e héteros, aqui vemos que o mundo vai muito além dessas delimitações. Key é filho de pai negro e mãe branca, Park é coreana e Savage interpreta um homossexual (casado, para o desespero de muitos).
Infelizmente, a série sofre pelo grande frenesi causado por seu anúncio. O elenco, em teoria é muito bom, mas sofre para entrar em harmonia e se conectar com o público, o que só acontece em meados do sétimo episódio, penúltimo do primeiro ano. Mesmo assim, há muito menos comédia do que fora prometido, de modo que muitos dos risos são gerados pelo famoso sentimento de “rir de nervoso”. Na verdade, são Smulders e Savage aqueles que, individualmente, levam o trabalho até ele começar a evoluir sozinho. Com menos tempo de tela que Key e Parisse, os atores se esforçam em cada minuto que aparecem. Keegan foi muito mal utilizado como Ethan; como seu personagem é naturalmente egocêntrico e adúltero, já há um certo repúdio por parte do espectador, e ele, mesmo com seu carisma, não consegue superar tal barreira.
Outro elemento que não funciona é a dinâmica dos amigos como um grupo. À exceção do episódio dos vinhedos, todas as cenas de jantares e eventos com todos parecem cheias de estranhamento e desconfiança, o que não é natural para amigos de longa data. Contudo, quando estão em núcleos menores, as cenas são muito mais prazerosas e as gags bem mais fáceis de emplacar.
Com coadjuvantes talentosos, a série flui mais fácil quando um deles contracena. As aparições de Kate McKinnon, Seth Rogen e Chris Elliott são hilárias, mas é aí que se percebe a fragilidade dos personagens centrais pois são ofuscados por completo pelos atores convidados.
Devendo em tudo a que se propôs, Friends From College merece uma segunda temporada devido ao seu season finale promissor, mas existe muita coisa a ser trabalhada. Muita coisa boa pode vir na evolução e no amadurecimento da relação dos amigos. Infelizmente, a Netflix, tão bem sucedida em suas séries dramáticas, ainda engatinha na comédia. Faz falta uma sitcom como fora outrora Friends e How I Met Your Mother, com risadas de fundo, câmeras fixas e mise em scène facilmente decorado. E nem venham falar de The Ranch.
Nota: 3/6 (Regular)"
Deuses Americanos (1ª Temporada)
4.1 515 Assista AgoraCrítica do Catacrese COM Spoilers!
"Deuses Americanos — 1ª Temporada | Crítica
Fotografia surrealista e excelentes atuações no primeiro ano da série que adapta romance de Neil Gaiman
Criada por Neil Gaiman. Produzida por Bryan Fuller, Neil Gaiman e Michael Green. Com Ricky Whittle, Emily Browning, Crispin Glover, Bruce Langley, Yetide Badaki, Pablo Schreiber, Ian McShane, Gillian Anderson, Demore Barnes, Chris Obi, Omid Abtahi, Cloris Leachman, Orlando Jones, Peter Stormare, Mousa Kraish, Corbin Bernsen, Jonathan Tucker, Kristin Chenoweth, Jeremy Davies.
Esse texto conterá spoilers da primeira temporada.
Certo momento, em meio ao season finale, Mad Sweeney vira para Laura Moon e diz: e o que você acha que os deuses fazem? Fazem o que sempre fizeram: ferram com todos nós. Não leve a mal. Realmente, o leprechaum tinha razão.
Não é novidade a história: o homem acredita no deus, da fé o deus surge e provê ao homem o que ele pediu em oração. Entretanto, mesmo que não inédita, a premissa não deixa de ser menos saborosa. Graças à competência dos produtores, a história da primeira temporada de Deuses Americanos, a qual aborda exatamente esse tópico, mostra meandros e novas cores, fugindo da simples construção lógica exposta.
Construída com diversos personagens, mas particularmente sob o ponto de vista do ex-presidiário Shadow Moon (Whittle), a trama mostra o mundo de Shadow virar do avesso quando, no dia em que sai do cárcere, recebe a notícia da morte de sua esposa (Browning). Sem nada a perder, acaba aceitando o emprego oferecido pelo misterioso Mr. Wednesday (McShane) e embarca em uma viagem surreal pelos Estados Unidos.
Começando pelo ponto negativo, a temporada, com apenas oito episódios, caminha sobre o gelo fino do mistério. Assim, em apenas um arco de descobrimento, ao longo dos episódios, cada vez mais perguntas vão sendo levantadas sem responder aos questionamentos anteriores. Para um telespectador mais impaciente isso pode fazer com que ele desista da jornada, pois os episódios acabam exigindo sua total atenção sem dar nada em troca. Se desconsiderar o excesso de perguntas, as quais serão respondidas em temporadas vindouras, a série é um novo sopro de vida a quem a assiste, considerando sua qualidade técnica e sua estilística única.
O primeiro destaque óbvio trazido pela série foi sua identidade única; com ares de David Lynch, o tom surreal nos faz pensar, muitas vezes, que estamos vendo uma grande pintura de Salvador Dali. Já na abertura podemos ver, através da psicodelia, que o pano de fundo será a dicotomia entre as novas e as velhas crenças — o astronauta crucificado, o Menorá com as diversas entradas de plugue existentes, o Buda em meio aos fármacos, o corvo com rastro de foguete atrás, entre outros. Além disso, os constantes sonhos de Shadow trazem consigo uma paleta colorida que varia entre o rosa e o azul, em luz neon.
Aliás, Shadow é o único ponto real da história. Enquanto em seu carro com Wednesday, participamos da road trip sem desconforto algum, mas no momento em que mais personagens entram em cena, imediatamente o semblante de Shadow (bem como o nosso), se altera para um misto de desconforto e curiosidade, com uma dúvida sobre o que é real e o que não é.
A coragem na quebra de paradigmas foi uma constante em cada episódio. Com enfoques bem definidos a cada semana, em sua estreia a série abordou, ainda que brevemente, os problemas enfrentados por egressos do sistema prisional, a segunda semana foi inaugurada por um discurso fervoroso de racismo estrutural. No terceiro episódio presenciamos uma das cenas de sexo mais íntimas e comoventes veiculadas na televisão (curiosamente, entre dois homens muçulmanos). Houve também um belo episódio que critica a cultura bélica de liberação de armas adotada pelo espírito norte-americano, e finaliza mostrando o empoderamento feminino na pessoa de Bilquis (Badaki), em combate com o machismo e a misoginia.
É indubitável que todos os atores atuam de forma primorosa, mas os maiores destaques ficam por conta de Browning (Laura Moon), Schreiber (Mad Sweeney), Anderson (Media) e, claro, McShane (Wednesday). A química nas cenas entre Laura e Mad Sweeney é evidente, tanto que, no episódio que retrata a história da entidade irlandesa, Browning deu rosto à pessoa responsável por trazê-lo às Américas. McShane mostra toda a canastrice necessária para o papel que exerce. E Anderson protagonizou o melhor episódio da série (Lemon Scented You), onde personificou com esmero as personalidades de David Bowie e Marilyn Monroe.
Outro grande acerto foi (por enquanto) a exclusão dos Mrs. Town, Wood e Stone — personagens do romance original. Ao excluí-los, a série abriu a possibilidade de inserir os Homens Sem Rosto, que, por sua vez, podem personificar o Mr. World (Glover) e ainda adicionam mais tensão à atmosfera lynchiana, com sua total ausência de feições, figurino saliente e movimentos coreografados.
Terminando com um season finale à altura do que foi todo o primeiro ano, Deuses Americanos responde apenas uma das perguntas ao mostrar que Wednesday, na verdade, é Odin, do panteão nórdico. Muitas pontas ficaram soltas nas últimas cenas, como o que Laura Moon irá fazer agora que sabe que foi Odin quem mandou matá-la, ou como vai ser a reação dos humanos agora que a Páscoa minguou todas as plantações?
De qualquer forma, o que antes estava em um patamar de guerra fria passou a ser guerra declarada. E estamos bem no meio dela. Como isso é bom.
Nota: 6/6 (Ótimo)"
Cara Gente Branca (Volume 1)
4.3 304 Assista AgoraCrítica do Catacrese:
"Cara Gente Branca | Crítica (ou não)
Oi, meu nome não é Hannah. Isso não está nas minhas fitas, nem no meu feed aparentemente.
Criada por Justin Simien. Dirigida por Justin Simien, Tina Mabry, Barry Jenkins, Charlie McDowell e Steven K. Tsuchida. Roteiro por Justin Simien, Leann Bowen, Chuck Hayward, Njeri Brown, Jack Moore e Nastaran Dibai. Com Logan Browning, Brandon P. Bell, John Patrick Amedori, Antoinette Robertson, DeRon Horton, Marque Richardson, Giancarlo Esposito.
Diferente das demais críticas que escrevo, aqui vou procurar abordar o tom íntimo. Assim, não esperem a mesma impessoalidade em um texto dissertativo como nas demais críticas. Isso me leva a pensar se isso é uma resenha ou não. Não sei como vai terminar. Veremos.
Ambientado dentro da Universidade de Winchester, o enredo acompanha quatro estudantes negros que vivem em uma universidade elitista e caucasiana. Após uma festa blackface de Halloween promovida pelos editores (brancos, óbvio) de uma revista interna e outros eventos que acontecem no decorrer da série, uma discussão quanto ao racismo institucionalizado se instaura nos corredores da universidade.
Os episódios fogem do padrão no momento em que cada um foca em um personagem. A narrativa, embora linear, foca em um personagem diferente por episódio. Isso gera um efeito fantástico já que, embora o preconceito seja objetivo — não existem justificativas para abominar uma etnia por ser o que é –, a forma como ele é encarado é absolutamente subjetiva. A consequência é que texto foge ao máximo de generalizações. Sam (Browning) é extremamente combativa e contestadora, enquanto Colandrea (Robertson) é ciente dos percalços vividos, mas mesmo assim tenta se encaixar no jeito branco de ser. Lionel (Williams) e Troy (Bell), por terem histórias distintas, enxergam o racismo também de formas diferentes.
A fuga do genérico, por exemplo, permite uma total aversão ao maniqueísmo. Não há, de fato, uma divisão simplista de branco, ruim, e negro, bom; na verdade, um dos protagonista, Gabe (Amedori), é branco e se solidariza com esses problemas sociais, isto é, sabe de sua condição privilegiada (caucasiana), mas não tenta justificar o racismo vivido com a batida frase: nem todos os brancos são assim. Há, também, a forma com que Sam reage ao ambiente ao redor; tão acostumada a duvidar e hostilizar ações contra suas origens, ela acaba vendo ofensas em quem é amigo e gostaria de ajudar.
A obra aborda o preconceito racial de uma forma diferente do que vimos até então. Começando pela própria narrativa (na voz pomposa de Esposito), a série duvida de sua própria seriedade, já que o narrador é equidistante dos negros e dos seus problemas vividos. Enquanto os demais trabalhos tentam construir uma crítica de forma didática, aqui vemos tudo com escárnio extremado. Claro, somos convidados a ver o lado de quem sofre com isso rotineiramente. O único efeito que isso pode causar é a exaustão. Cansados, quem sofre com racismo acaba encarando essas situações com raiva, deboche e hostilizando tudo o que vê.
A fotografia é excelente. Abusando de um primeiríssimo plano frontal, constantemente somos encarados pelos personagens, como se eles nos julgassem, assim como eles se sentem julgados dia após dia.
Críticas à parte, o maior espanto que isso causa é como uma série tão bem feita repercutiu tão pouco no meu feed de redes sociais. Enquanto 13 Reasons Why, com todos seus problemas de roteiro, faz até hoje aparecer postagens no meu Facebook, eu conto nos dedos quantas pessoas comentaram Cara Gente Branca.
Claro, cresci em uma família de classe média e estudei em colégios tradicionais onde negros eram minorias. Obviamente isso reflete em um contato menor com pessoas de outras etnias, não só de pele negra. Isso me leva a pensar o seguinte: em 13 Reasons Why, todo o alvoroço se deu porque todos viveram alguma experiência de bullying (ou pelo menos inventaram uma para se encaixar no assunto do momento); aqui, mais da metade dos meus contatos não sofreu com racismo, logo, se sentem confortáveis o suficiente para não repercutir a série.
Aliás, espero que não se sintam confortáveis para isso, por que a outra alternativa seria que eles são indiferentes. E isso seria realmente cruel. É muito fácil abrir a home de seu Facebook e escrever três linhas falando algo que nunca existiu ou descrever algo que nunca sentiu, só para tentar ilustrar que sabe as tragédias que Hannah passou. Agora, não existe como inventar que sofreu por ser negro quando você não é. Apenas quem sofre racismo sabe explicar o que é.
Eu não sei. Sinceramente, tento saber. Queria poder compadecer da dor alheia, ajudar a suportar o fardo e combater o máximo o que eu posso. Isso é ter empatia.
Faltou muita empatia na minha timeline.
Nota: 6/6 (Ótimo)"
Arqueiro (5ª Temporada)
3.8 108 Assista AgoraCrítica do Catacrese:
"Arrow — 5ª Temporada | Crítica
Série retoma o bom desenvolvimento das primeiras duas temporadas, vislumbrando anos melhores
Criada por Greg Berlanti, Marc Guggenheim e Andrew Kreisberg. Com Stephen Amell, David Ramsey, Willa Holland, Paul Blackthorne, Emily Bett Rickards, Katie Cassidy, Manu Bennett, Echo Kellum, Josh Segarra, Rick Gonzalez, Katrina Law, Juliana Harkavy, John Barrowman.
Durante as duas primeiras temporadas, Arrow demonstrou um nível que até então nunca tinha se imaginado em séries de televisão baseadas em super-heróis. Entretanto, desde que The Flash estreou, a série do arqueiro caiu num marasmo, de sorte que foi difícil de acompanhar a terceira e a quarta temporada.
Dessa vez, a temporada teve basicamente um grande vilão, de forma que fica difícil dividir em arcos, isto é, Prometheus, desde o início, foi muito presente como o arqui-inimigo. Assim, durante grande parte desse ano, a série foi envolvida no mistério por trás da identidade do vilão e guardou algumas boas reviravoltas para aqueles que pensavam que a série seguiria as HQs. Claro, sempre dividindo tempo de tela com os odiosos flashbacks, Arrow, em princípio, finaliza-os no exato ponto em que a série teve seu início. Em diversas entrevistas os produtores da série afirmaram que os flashbacks ficarão no passado (com o perdão do trocadilho).
Com um gancho infinitamente melhor que o de The Flash, a sexta temporada não garante retornos, já que a última cena desse ano surpreende, podendo ser considerada uma das melhores até então. Aliás, para alimentar ainda mais o esperado clímax, alguns personagens de temporadas anteriores retornam em grande estilo para algumas lutas que eram esperadas por todos (Canário contra Canário, e o duelo entre as herdeiras de Ra’s Al Ghul, especialmente).
Sem nenhum destaque especial nas atuações, quem aparentemente consegue surpreender é Blackthorne, que vive Quentin Lance. Todo seu arco do alcoolismo, aliada à montanha-russa emocional a quem ele é submetido em todas as temporadas (perde filha, volta filha, morre filha, ganha filha) faz com que o ex-detetive se saliente em relação aos demais. Curtis (Kellum) continua sendo o alívio cômico barato e imediato necessário para alienar a obra de sua própria sombriedade e seriedade.
Considerando que Malcolm Merlyn não retornará tão cedo nas temporadas vindouras de séries da DC, seu personagem finalizou sua participação de forma óbvia e satisfatória. Desde o início, ele demonstrou ser muito apegado a Thea e a amava com seu jeito distorcido e doentio.
Não é à toa que o último episódio se chama Lian Yu, os produtores sabem que a série retomou o passo que estava sendo dado nos dois primeiros anos e, para isso, foi preciso revisitar as origens e as motivações do arqueiro.
No verdadeiro clima de destruir para reconstruir do zero, Arrow inicia uma nova jornada. Tomara que ela seja tão boa quanto as primeiras.
Nota: 5/6 (Muito Bom)"
The Flash (3ª Temporada)
3.6 172 Assista AgoraCrítica do Catacrese:
"The Flash — 4ª Temporada | Crítica
Quase mesmo vilão; quase mesmo drama; quase mesmo enredo; quase mesmo tudo
Criada por Greg Berlanti, Geoff Johns e Andrew Kreisberg. Com Grant Gustin, Candice Patton, Danielle Panabaker, Carlos Valdes, Tom Cavanagh, Jesse L. Martin, Keiynan Lonsdale, Violett Beane, John Wesley Shipp, Tom Felton, Jessica Camacho, Matt Letscher, Anne Dudek.
Pode ser uma incrível coincidência do destino, mas a série The Flash surgiu no exato momento em que Arrow começou a decair de qualidade. Os mais céticos dizem que isso é um mero infortúnio, os crentes dizem que é uma gangorra necessária. Por incrível que pareça, nessa temporada, quando Arrow tenta se reerguer, The Flash despenca na mesmice em uma temporada mediana.
Claro, há altos e baixos. Nem tudo é de se jogar fora, mas não vamos nos esquecer que as apostas eram altíssimas, afinal a temporada passada finalizou com o início do Ponto de Ignição! Nesse ano, devido a uma escolha de Barry, tudo poderia mudar, e era ainda mais inédito pelo fato de que poderia mudar em outras séries também! Mudou? Quase nada.
Quando a série estreou, todos os elogios foram voltados a sua coragem. Afinal, estava absolutamente engessada na mídia um universo DC realista graças aos sucessos de Arrow e a trilogia The Dark Knight, do Nolan. Flash, no entanto, foi além: com uma coragem ímpar, introduziu linha temporais diferentes, multiversos, meta-humanos, mas quando lhe foi exigido, novamente, capitanear as mudanças, falhou rude.
O enredo começo no universo criado depois que Barry salva sua mãe. Ao se dar conta que não tem como conviver nesse espaço, o herói tenta retornar a sua linha universal originária. Entretanto, apenas descobre que criou um terceiro mundo (com pequenas diferenças em relação ao primeiro). Assim, com essa explicação se desenvolvendo ao longo dos episódios — e de forma bem clara; méritos da série — a temporada se dividiu em dois arcos que foram consequências diretas dos atos do velocista: o Alquimia e Savitar.
Com um total de vinte e três episódios, o terceiro ano não escapou de fillers completamente sem sentido, que foram feitos apenas para preencher lacunas das emissoras (como o musical com a Supergirl, piores quarenta minutos da vida). Aliás, na tentativa de criar uma urgência no espectador, a série se torna frustrante já que todos sabemos que Iris West não vai morrer, isto é, não tem urgência alguma no clímax; e se ela morrer, alguém vai trazer uma Iris do passado, da Terra 2, de Marte 1000, do raio que a parta, pra vestir os calçados da falecida. Claro, esse é o ônus e o bônus da própria estrutura diegética estabelecida na série.
O episódio final tenta aglutinar tudo que foi trazido pela temporada, bem como preparar o terreno para o vindouro quarto ano. Novamente, ao invés de criar algo que realmente gerasse expectativa, os produtores desenvolvem uma situação que sabemos que será resolvida, certamente, nos primeiros episódios que virão.
A atriz que mais cresceu sem dúvidas, foi Panabaker, como Caitlin Snow. Toda sua provação (com o fato de enfrentar e evitar um futuro inevitável, bem como começar uma nova jornada como uma Nevasca anti-heroína em vez de vilã) mostra que a personagem pode ser ainda mais complexa e aprofundada na temporada que está por vir. Com certeza, sua história é a mais esperada, justamente por ser a personagem menos maniqueísta.
Absolutamente mediana, a terceira temporada de The Flash só não é ruim porque ainda se vê certa dedicação de todos envolvidos com ela, seja no CGI — cujo investimento é infinitamente mais baixo que no cinema –, seja nas atuações. Rumores indicam que o big bad do ano que vem não será mais um velocista (graças a Deus), o que pode indicar a mudança necessária que a série precisa.
Flash pode ser o homem mais rápido do mundo, mas não vai chegar em nenhum lugar se não for na direção certa.
Nota: 3/6 (Regular)"
Agentes da S.H.I.E.L.D. (4ª Temporada)
4.2 124 Assista AgoraCrítica do Catacrese:
"Marvel’s Agents of S.H.I.E.L.D. — 4ª Temporada | Crítica
AoS mantém a qualidade, sedimentando sua própria mitologia dentro do MCU
Criada por Joss Whedon, Jed Whedon e Maurissa Tancharoen. Com Clark Gregg, Ming-Na Wen, Chloe Bennet, Iain de Caestecker, Elizabeth Henstridge, Henry Simmons, Brett Dalton, John Hannah, Mallory Jensen, Adrian Pasdar, Natalia Cordova-Buckley, Jason O’Mara, Gabriel Luna.
Quando Joss Whedon anunciou que se afastaria da produção de Agents of S.H.I.E.L.D. (AoS), os fãs — já rançosos com o fraco desempenho da obra — praticamente desistiram de apostar na primeira série da Marvel que se passava dentro do MCU. Assim, aproveitando o lançamento de Capitão América: O Soldado Invernal, a primeira temporada passou por uma reestruturação necessária imposta pelas consequências do filme. Tudo mudou.
A série, que até então patinava e perdia audiência, conseguiu se consolidar no novo status quo do universo cinematográfico. A queda da S.H.I.E.L.D. fora um trunfo para alguns plot twists essenciais na sobrevida do trabalho. Com uma boa atuação e bons argumentos nas temporadas seguintes, a série alcançou relativo sucesso a ponto de tomar coragem para ela mesma lançar novos heróis. Na quarta temporada iríamos presenciar o Motorista Fantasma!
Se tem algo que o showrunner Jed Whedon aprendeu com seu irmão (Joss Whedon, diretor de Os Vingadores e criador de Buffy: A Caça-Vampiros) foi como trabalhar um grande equipe. Sabendo dosar as participações do elenco, bem como equilibrar os diversos focos através da temporada, Whedon sabe explorar a história dos protagonistas, dando-os uma verticalidade admirável, além de sedimentar os personagens eventuais e secundários.
Em seu quarto ano a série deixa um pouco de lado Daisy (Bennet), cuja história foi explorada à exaustão nos anos passados, deixando-a somente como suporte para introduzir devidamente o Motorista Fantasma (Luna). Portanto, personagens como Mack (Simmons), Fitz (Caestecker) e Radcliffe (Hannah) acabam tomando os holofotes muitas vezes, cientes de que era o momento explorar seus personagens.
Caestecker, novamente, confirma seu trabalho brilhante como Leopold Fitz. Cada ano que passa, o talentoso ator se supera na reflexão dos traumas e consequências de seus atos. Henstridge, que interpreta Jemma Simmons, acompanha-o com uma dramaturgia excelente. Sem dúvidas o casal engloba os atores mais talentosos, deixando Gregg, Wen e Bennet para trás no que toca à capacidade técnica.
Nessa temporada que terminou, AoS adotou uma postura interessante quanto à sua narrativa. Enquanto no passado as séries com mais de vinte episódios por ano tinha apenas um ou no máximo dois plots (o que as enchiam de episódios insossos, conhecidos como fillers), o seriado da Marvel se construiu em três enredos bem distintos: a introdução do Motorista Fantasma, MVAs (Modelos de Vida Artificiais) e o Framework (uma forma de Matrix do MCU), sempre com pontes muito orgânicas e verossímeis nos episódios de transição.
Claro, existem arcos mais interessantes que outros, sendo o do Motorista Fantasma com certeza o melhor. Luna e Jansen (AIDA) ganharam muito destaque como as novidades do quarto ano, enquanto essa foi uma antagonista convincente, aquele foi o antiherói digno de merecer sua própria série, tal qual o Justiceiro na Netflix.
Terminando com o pior — mas não ruim — entre os três arcos (Framework), um clímax meio decepcionante, e as clássicas pontes para a temporada vindoura, nada pode ser descartado. Caso o Motorista não tenha sua série própria, nada impede que possa atuar como personagem recorrente em AoS, considerando seu sucesso esse ano.
Aliás, os últimos segundos nos induzem a crer que, por mais que seja negado pela ABC, a série da família real dos inumanos vai ter relação com AoS. Os motivos que induzem a esse pensamento são que o cliffhanger praticamente induz a isso e, na primavera, AoS será transmitido no mesmo horário que Inumanos, após seu término, então uma poderá trabalhar com consequências diretas da outra.
Seja por streaming ou por broadcasting a Marvel continua se superando ao expandir o MCU além das telonas. Que venha a quinta temporada! Quanto mais episódios eu vejo, mais eu quero que esses personagens interajam nos cinemas. Será que Kevin Feige atenderá a esse pedido?
Veremos.
Nota: 5/6 (Muito Bom)"
13 Reasons Why (1ª Temporada)
3.8 1,5K Assista AgoraCrítica do Catacrese:
"Crítica | 13 Reasons Why
Nova série da Netflix é repleta de boas intenções, mas falha em pontos cruciais na construção da trama
Dirigido por Kyle Patrick Alvarez, Gregg Araki, Carl Franklin, Tom McCarthy e Jessica Yu. Roteiro de Brian Yorkey, Elizabeth Benjamin, Diana Son, Thomas Higgins, Nathan Jackson, Nathan Louis Jackson, Nic Sheff, Hayley Tyler. Com: Dylan Minnette, Katherine Langford, Christian Navarro, Justin Prentice, Steven Silver, Miles Heizer, Ajiona Alexus, Michele Selene Ang, Alisha Boe, Ross Butler, Brandon Flynn, Amy Hargreaves, Derek Luke, Brian d’Arcy James, Kate Walsh.
Esse review pode conter spoilers da série.
A adolescência é uma fase conturbada. Independentemente do tamanho dos problemas, o jovem enfrenta-o como se fosse uma situação de vida ou morte. Infelizmente, em alguns casos, é exatamente isso.
A série adapta o romance homônimo do escritor Jay Asher, o qual narra a história de Hannah (Langford), uma jovem que, após de sofrer uma série de traumas, suicidou-se, deixando fitas endereçadas a treze pessoas que ela culpa por isso. Assim, acompanhamos Clay (Minnette) enquanto as ouve e que não entende por que motivo é um dos treze.
Recebida entre críticas e aplausos, é indiscutível que a produção está repleta de boas intenções. Temas como o bullying, abuso sexual, solidão e exposição, são tratados com muita seriedade. A obra é necessária pois traz de forma clara os prejuízos que esse tipo de humilhação e experiência cria na vida de quem a sofre. Entretanto, ao mesmo tempo em que nobre por vir de peito aberto, a série peca em falhas técnicas que quase chegam ao grotesco. Construída em uma estrutura maniqueísta e, muitas vezes, ilógica, a construção da obra sempre tem o intuito de prevalecer a dramatização ao debate. Entretanto, tal opção acaba abafando (e, portanto, diminuindo) o argumento que deveria ser o cerne do trabalho.
O roteiro é sofrível. Nitidamente voltado ao público adolescente, há uma quantidade absurda de sequências nonsense ridículas e uma criação de um suspense patético e inexistente. Afinal, o que Clay fez de tão horrível para estar nas fitas? As inúmeras vezes em que ele foi censurado pelos outros doze indicavam que ele teria sido o pior de todos, o que, ao cabo, não se comprova. Toda a primeira temporada se constrói em um mistério inexistente. Por que todos o questionam se ouviu sua fita — sendo que até mesmo o acusam de ter causado diretamente a morte de Hannah — se na verdade ele foi o único que não merecia estar ali?
As falhas não terminam aí. Por que Tony (Navarro) era o guardião das fitas? O que ele fez? São questionamentos básicos como esse que deixam o roteiro da série risível. As desnecessárias cenas da escalada, ou de ouvir a fita à beira de um penhasco são de uma extravagância absurda que não condizem com absolutamente mais nada na obra. Aliás, em certo momento somos induzidos a questionar a veracidade dos relatos de Hannah; tal abordagem some misteriosamente e, novamente, somos conduzidos à realidade absoluta em que ela fala apenas a verdade — de repente porque questioná-la seria dar complexidade em demasia ao pobre texto. Claro, a única coisa que prospera (e isso, sim, é um acerto) é o que é verdade para Hannah. A subjetividade é elementar para quem tira sua própria vida. Problemas que para uns são mínimos, para quem se matou poderiam ser insuportáveis.
Aliás, Clay, outra vítima do roteiro fajuto, vira um berdamerda diante do excesso de autoflagelação ao ouvir as fitas. Por mais que Dylan Minette seja um ator talentoso, a empatia que criamos por seu personagem dá lugar a uma crescente irritação oriunda de seu comportamento ilógico e alucinações, que apenas servem para gerar uma tensão esdrúxula (garantia de muitas risadas quando ele, literalmente, grita para a voz de Hannah sair de sua cabeça, em meio aos alunos no corredor do colégio).
Isso para não passar páginas discorrendo nos erros crassos. Não falamos aqui na falta de perícia do corpo de Jeff para averiguar se ele estava realmente embriagado; os pais estúpidos que ignoram toda e qualquer reação explosiva ou melancólica dos filhos; e (a cereja do bolo) um vilão que conta todo seu plano maligno para ser pego em um gravador invisível.
O elenco, repleto de estreantes, tem muitos talentos. Minette é um bom ator, que se esforça muito para cativar como Clay; Alisha Boe, como Jessica, é a maior revelação da série, tanto pelas experiências vivenciadas, como a forma que ela as refletiu na obra. Kate Walsh e Brian d’Arcy James, como os pais de Hannah, Olivia e Andy Baker, são o maior destaque de todo o trabalho; incrível a forma que retrataram a perda de um filho, especialmente no momento em que a encontram na banheira.
Uma das maiores preocupações com o lançamento da obra é um fenômeno conhecido como efeito Werther, onde um suicídio que tenha ganhado evidência acaba inspirando outras pessoas a cometerem tal atrocidade nos mesmos moldes. De fato, a exposição visual nas cenas da morte são um verdadeiro bê-a-bá para que outras pessoas possam fazer isso também. O excelente trabalho dos atores envolvidos, bem como a clareza com que tudo foi mostrado, mesmo que com o intuito de chocar o espectador, é uma irresponsabilidade tremenda, que pode resultar em situações irreversíveis.
A bem da verdade, 13 Reasons Why nasce de uma necessidade: debater misoginia, abuso sexual e exclusão de forma clara e séria. O amadorismo de quem a escreveu oblitera todo e qualquer esforço dos atores.
Infelizmente, por certa incompetência de roteiro, o debate que tinha tudo para ser muito proveitoso, virou mais uma temporada de Malhação.
Nota: 3/6 (Regular)"