Clint aqui entrega seu melhor trabalho como diretor no gênero que lhe atribuiu a fama, usando a experiência e o tempo ao seu favor. Por que a experiência e, principalmente, o tempo?
A experiência pois, grande conhecedor do gênero que é, podendo trabalhar lado a lado com Sergio Leone, sabe como ninguém tocar a narrativa explorando seus diversos clichês: um acontecimento pequeno que dá início a uma série de eventos que vão se correlacionando; as tensões nas principais cenas de conflito, onde o personagem principal é posto à prova e deve demonstrar, mesmo em situação desfavorável, a que veio; e, principalmente, o arco de redenção a qual todo anti-herói de faroeste faz jus. Estrutura essa que, depois, veio a ser adaptada e usada nos principais sucessos do diretor, em contextos completamente diferentes, mostrando a visão que Clint tem como diretor. Seguimos.
Já o tempo lhe permitiu usar todos esses elementos e dar um passo à frente, conferindo sobriedade ao enredo e nos mostrando pessoas que são apenas sombra do que já foram, o que dá tom à narrativa inicial: heróis que se encontram exaustos tanto pela idade quanto pelas cicatrizes que tiveram durante as suas vidas, de cowboys cheios de vigor, agora levam suas vidas comuns longe do crime, de modo que desaprendem inclusive a montar em um cavalo, símbolo máximo dos western! E o personagem de Gene Hackman é justamente a figura que entra como quem decreta o fim desses anti-heróis, fazendo valer a lei e deixando claro que, qualquer um que ameace a soberania e paz de sua pacata cidade, sofrerá as consequências.
em que, no fim da trama, ao saber sobre a morte de seu amigo interpretado por Morgan Freeman e chegar no bar, onde havia uma reunião com a finalidade de emboscá-lo, o protagonista ressurja como uma Fênix trazendo de volta todo aquele vigor, sangue frio e periculosidade dignos de um anti-herói de faroeste. Com poucas palavras e expressões, Clint transformou um velho homem que se enrolava em volta da lama com porcos de volta a seu estado natural, um Pistoleiro não sem nome, mas com nome e uma reputação intacta.
Também não deixa de ser um filme sobre a morte, outro fator que sempre esteve nos faroestes, em meio a troca de tiros, mas nunca fora minuciosamente estudada como neste, com direito a diálogos memoráveis e aqui falo não somente da morte física, mas também a interior, seja por solidão, remorso, arrependimento, ira. Novamente, se vocês pensarem um pouco, verão que essa é a fórmula de sucesso de suas principais obras. Considero Clint um dos melhores diretores que o Cinema nos presenteou.
Enfim, um filme sobre o fim do faroeste e também uma homenagem a este. Clint Eastwood, Gene Hackman e Morgan Freeman, nada mais precisa ser dito.
Em A Colina Escarlate, Del Toro volta com os elementos que lhe fizeram a fama, sintetizado na sua obra-prima Labirinto do Fauno: um suspense imagético aliado à fantasia como pretextos para um minucioso estudo de personagens, que tem o mérito de se sobressair a todo o universo criado pelo diretor. Aqui, porém, ele deixa de lado questões políticas para se aprofundar na psique dos personagens, o que se revela uma escolha acertada e que será abordada mais a frente.
Contando com uma excelente design de produção, que recria com maestria as grandes mansões luxuosas da aristocracia e suas decorações não menos chamativa, aliado ao excelente figurino que serve para fazer uma distinção entre o mundo de Edith e dos Sharp, o aspecto visual fica encarregado de dar fluidez e lógica à narrativa do filme, conforme esta vai se desenvolvendo. É interessante notar que o diretor te chama para penetrar neste mundo escuro e sombrio que a protagonista está prestes a enfrentar através das composições de cores e luzes, além de uma fotografia carregada que busca evocar o peso da atmosfera na suntuosa casa dos Sharp, onde a principal ação do filme acontece.
Tendo ainda excelentes atuações, a exceção de Charlie Hunnam, que parece não possuir o perfil ou não ter se esforçado o suficiente para parecer convencível em um papel de época, o destaque fica para Lucille Sharpe, a mais velha dos irmãos, interpretado por Jessica Chastain. Seu semblante sempre duro e ao mesmo tempo calmo, impenetrável e misterioso, ajudam à caracterização de uma personagem complexa que realmente exigisse um ator que pudesse não trabalhar apenas com falas e ações, mas que na maior parte do tempo deixasse que sua expressão e seu olhar denunciassem suas motivações.
Tendo-se revelado uma irmã que desde cedo viu no seu irmão objeto de posse e desejo, proibido de se apaixonar por qualquer mulher, Lucille leva a cabo seu plano de uma vida perfeita e próspera com seu irmão através do novo negócio da família, prática comum entre a burguesia crescente neste período na Europa. Seu sonho, contudo, mais do que apenas um império ou um legado, era alcançar a paz de espírito na vida afetiva com seu irmão. E, para isso, ela é inescrupulosa: nem mesmo sua irmã escapa de sua maquiavélica atração, tendo Del Toro sutilmente deixado no ar que o matricídio ocorrera pela incapacidade da irmã de dividir a atenção e carinho do seu irmão com a própria mãe, semelhante ao Complexo de Electra exposto por Freud, com exceção de que Lucille canaliza seu amor ao irmão, já que descreve o pai como alguém agressivo que sempre fazia uso da força contra os dois, especialmente ela.
Já nos minutos finais, onde parecemos previr que os Sharpe se sairão 'vitoriosos' deste embate e finalmente poderão construir seu império, é que acontece uma reviravolta inusitada que vira completamente o jogo: o irmão não está disposto a ser um brinquedinho da irmã. Tendo desenvolvido sentimentos e aspirações próprias, Thomas finalmente se permite amar alguém sem que precise enganá-la. E, lógico, sua irmã não o deixaria resvalar de suas mãos. São nesses minutos finais de filme que Jessica Chastain mostra por que é uma das melhores atrizes da atualidade: seu ataque de loucura e insanidade ao matar o irmão, já que ninguém pode tê-lo além dela, e logo após a perseguição a Edith em todos níveis da casa que Del Toro teve o cuidado de nos apresentar ao pouco durante a produção. Com ataques descontrolados e capitosos por parte de Lucille, a direção de Del Toro segue os mesmos caminhos de ambas que lutam pela vida: cortes rápidos e direção efusiva quando Edith procura a qualquer custo fugir, sem pensar bem no que está fazendo. Quando chega ao derradeiro andar, que ambas começam a racionalizar a situação, a direção se preocupa em mostrar o nervosismo (ou descontrole) criando uma situação mais de inquietude do que selvageria.
Acertando também ao não fazer uso gratuito de seus personagens fantásticos, um erro comum entre filmes do gênero terror ou suspense fantástico, Del Toro encerra o filme com uma decisão que não soa superficial ao aliar todos os elementos explorados nesta película até então, nos entregando um dos melhores filmes de 2015.
Enquanto um filme que, embora seja bom, possua uma temática extremamente comum para os dias de hoje é consagrado no Oscar, vemos uma obra delicada desta que, se tratando de um filme estoniano-georgiano, independente e de baixo orçamento, dificilmente chegará à vista do público cinéfilo do mundo todo e que o Oscar poderia ter dado um empurrãozinho para alavancar pelo menos o interesse das audiências. Não sou rabugento que reclama de qualquer besteira em premiações, mas nesta realmente a Academia deu uma bola fora.
A Liberdade é Azul é uma desconstrução da família.
Vemos um casal que se trai (Binoche e o marido), a morte da família de ratos, um pai tarado que vai em uma boate de strip, a filha que virou prostituta provavelmente pelo abuso desse pai, o testemunho de traição de um homem com uma prostituta, uma mãe vendo sua vida acabar sozinha no conforto de seu repouso, e, por fim, uma mãe jovem solteira que provavelmente não terá capacidade nenhuma de criar um filho, como vemos aos montes.
Certa parte do filme, vemos o flautista dizer: ''É preciso agarrar-se a algo'', ao passo que, momentos depois, o vemos sendo deixado em seu posto de trabalho pelo que parece ser sua esposa.
Seria, talvez, para o diretor, a verdadeira liberdade o rompimento total das algemas da estrutura familiar?
Se eu disser que faltam palavras para descrever este filme estaria mentindo, afinal, trata-se de um filme-poesia. As memórias, transes, viagens que Tarkovsky traz através de seu retrato e dos espelhos remete-nos a um mundo visceral: todos os horrores e angústias de uma criança frente à guerra, suas poesias narradas -- oral e visualmente -- são de uma riqueza nunca antes vista na arte cinematográfica, o que torna a película de Tarkovsky ainda mais valiosa. Ele desperta em cada um de nós os horrores da infância desencadeando a sua própria - a sua mãe aparece como um ser que parece estar perdido assim como a União Soviética, uma simbologia de uma beleza inacreditável. A edição das cenas de destruição e guerra apontam bem a época retratada, belíssimo trabalho de Lyudmila Feyginova. Por fim, deixo-lhes esta frase de de Maiakóvski que ilustra perfeitamente o filme: ''A arte não é um espelho para refletir o mundo, mas um martelo para forjá-lo.''
Os Imperdoáveis
4.3 654Clint aqui entrega seu melhor trabalho como diretor no gênero que lhe atribuiu a fama, usando a experiência e o tempo ao seu favor. Por que a experiência e, principalmente, o tempo?
A experiência pois, grande conhecedor do gênero que é, podendo trabalhar lado a lado com Sergio Leone, sabe como ninguém tocar a narrativa explorando seus diversos clichês: um acontecimento pequeno que dá início a uma série de eventos que vão se correlacionando; as tensões nas principais cenas de conflito, onde o personagem principal é posto à prova e deve demonstrar, mesmo em situação desfavorável, a que veio; e, principalmente, o arco de redenção a qual todo anti-herói de faroeste faz jus. Estrutura essa que, depois, veio a ser adaptada e usada nos principais sucessos do diretor, em contextos completamente diferentes, mostrando a visão que Clint tem como diretor. Seguimos.
Já o tempo lhe permitiu usar todos esses elementos e dar um passo à frente, conferindo sobriedade ao enredo e nos mostrando pessoas que são apenas sombra do que já foram, o que dá tom à narrativa inicial: heróis que se encontram exaustos tanto pela idade quanto pelas cicatrizes que tiveram durante as suas vidas, de cowboys cheios de vigor, agora levam suas vidas comuns longe do crime, de modo que desaprendem inclusive a montar em um cavalo, símbolo máximo dos western! E o personagem de Gene Hackman é justamente a figura que entra como quem decreta o fim desses anti-heróis, fazendo valer a lei e deixando claro que, qualquer um que ameace a soberania e paz de sua pacata cidade, sofrerá as consequências.
Por isso é genial o momento
em que, no fim da trama, ao saber sobre a morte de seu amigo interpretado por Morgan Freeman e chegar no bar, onde havia uma reunião com a finalidade de emboscá-lo, o protagonista ressurja como uma Fênix trazendo de volta todo aquele vigor, sangue frio e periculosidade dignos de um anti-herói de faroeste. Com poucas palavras e expressões, Clint transformou um velho homem que se enrolava em volta da lama com porcos de volta a seu estado natural, um Pistoleiro não sem nome, mas com nome e uma reputação intacta.
Também não deixa de ser um filme sobre a morte, outro fator que sempre esteve nos faroestes, em meio a troca de tiros, mas nunca fora minuciosamente estudada como neste, com direito a diálogos memoráveis e aqui falo não somente da morte física, mas também a interior, seja por solidão, remorso, arrependimento, ira. Novamente, se vocês pensarem um pouco, verão que essa é a fórmula de sucesso de suas principais obras. Considero Clint um dos melhores diretores que o Cinema nos presenteou.
Enfim, um filme sobre o fim do faroeste e também uma homenagem a este. Clint Eastwood, Gene Hackman e Morgan Freeman, nada mais precisa ser dito.
Caos
4.7 2Vindo relembrar o maior clássico contemporâneo.
A Colina Escarlate
3.3 1,3K Assista AgoraEm A Colina Escarlate, Del Toro volta com os elementos que lhe fizeram a fama, sintetizado na sua obra-prima Labirinto do Fauno: um suspense imagético aliado à fantasia como pretextos para um minucioso estudo de personagens, que tem o mérito de se sobressair a todo o universo criado pelo diretor. Aqui, porém, ele deixa de lado questões políticas para se aprofundar na psique dos personagens, o que se revela uma escolha acertada e que será abordada mais a frente.
Contando com uma excelente design de produção, que recria com maestria as grandes mansões luxuosas da aristocracia e suas decorações não menos chamativa, aliado ao excelente figurino que serve para fazer uma distinção entre o mundo de Edith e dos Sharp, o aspecto visual fica encarregado de dar fluidez e lógica à narrativa do filme, conforme esta vai se desenvolvendo. É interessante notar que o diretor te chama para penetrar neste mundo escuro e sombrio que a protagonista está prestes a enfrentar através das composições de cores e luzes, além de uma fotografia carregada que busca evocar o peso da atmosfera na suntuosa casa dos Sharp, onde a principal ação do filme acontece.
Tendo ainda excelentes atuações, a exceção de Charlie Hunnam, que parece não possuir o perfil ou não ter se esforçado o suficiente para parecer convencível em um papel de época, o destaque fica para Lucille Sharpe, a mais velha dos irmãos, interpretado por Jessica Chastain. Seu semblante sempre duro e ao mesmo tempo calmo, impenetrável e misterioso, ajudam à caracterização de uma personagem complexa que realmente exigisse um ator que pudesse não trabalhar apenas com falas e ações, mas que na maior parte do tempo deixasse que sua expressão e seu olhar denunciassem suas motivações.
Tendo-se revelado uma irmã que desde cedo viu no seu irmão objeto de posse e desejo, proibido de se apaixonar por qualquer mulher, Lucille leva a cabo seu plano de uma vida perfeita e próspera com seu irmão através do novo negócio da família, prática comum entre a burguesia crescente neste período na Europa. Seu sonho, contudo, mais do que apenas um império ou um legado, era alcançar a paz de espírito na vida afetiva com seu irmão. E, para isso, ela é inescrupulosa: nem mesmo sua irmã escapa de sua maquiavélica atração, tendo Del Toro sutilmente deixado no ar que o matricídio ocorrera pela incapacidade da irmã de dividir a atenção e carinho do seu irmão com a própria mãe, semelhante ao Complexo de Electra exposto por Freud, com exceção de que Lucille canaliza seu amor ao irmão, já que descreve o pai como alguém agressivo que sempre fazia uso da força contra os dois, especialmente ela.
Já nos minutos finais, onde parecemos previr que os Sharpe se sairão 'vitoriosos' deste embate e finalmente poderão construir seu império, é que acontece uma reviravolta inusitada que vira completamente o jogo: o irmão não está disposto a ser um brinquedinho da irmã. Tendo desenvolvido sentimentos e aspirações próprias, Thomas finalmente se permite amar alguém sem que precise enganá-la. E, lógico, sua irmã não o deixaria resvalar de suas mãos. São nesses minutos finais de filme que Jessica Chastain mostra por que é uma das melhores atrizes da atualidade: seu ataque de loucura e insanidade ao matar o irmão, já que ninguém pode tê-lo além dela, e logo após a perseguição a Edith em todos níveis da casa que Del Toro teve o cuidado de nos apresentar ao pouco durante a produção. Com ataques descontrolados e capitosos por parte de Lucille, a direção de Del Toro segue os mesmos caminhos de ambas que lutam pela vida: cortes rápidos e direção efusiva quando Edith procura a qualquer custo fugir, sem pensar bem no que está fazendo. Quando chega ao derradeiro andar, que ambas começam a racionalizar a situação, a direção se preocupa em mostrar o nervosismo (ou descontrole) criando uma situação mais de inquietude do que selvageria.
Acertando também ao não fazer uso gratuito de seus personagens fantásticos, um erro comum entre filmes do gênero terror ou suspense fantástico, Del Toro encerra o filme com uma decisão que não soa superficial ao aliar todos os elementos explorados nesta película até então, nos entregando um dos melhores filmes de 2015.
Tangerinas
4.3 243Enquanto um filme que, embora seja bom, possua uma temática extremamente comum para os dias de hoje é consagrado no Oscar, vemos uma obra delicada desta que, se tratando de um filme estoniano-georgiano, independente e de baixo orçamento, dificilmente chegará à vista do público cinéfilo do mundo todo e que o Oscar poderia ter dado um empurrãozinho para alavancar pelo menos o interesse das audiências. Não sou rabugento que reclama de qualquer besteira em premiações, mas nesta realmente a Academia deu uma bola fora.
O Barco: Inferno no Mar
4.2 175 Assista AgoraUm dos melhores finais que eu já vi, Nolan deveria assistir pra aprender como se faz um sem reviravoltas fantasiosas.
A Liberdade é Azul
4.1 649 Assista AgoraA Liberdade é Azul é uma desconstrução da família.
Vemos um casal que se trai (Binoche e o marido), a morte da família de ratos, um pai tarado que vai em uma boate de strip, a filha que virou prostituta provavelmente pelo abuso desse pai, o testemunho de traição de um homem com uma prostituta, uma mãe vendo sua vida acabar sozinha no conforto de seu repouso, e, por fim, uma mãe jovem solteira que provavelmente não terá capacidade nenhuma de criar um filho, como vemos aos montes.
Certa parte do filme, vemos o flautista dizer: ''É preciso agarrar-se a algo'', ao passo que, momentos depois, o vemos sendo deixado em seu posto de trabalho pelo que parece ser sua esposa.
Seria, talvez, para o diretor, a verdadeira liberdade o rompimento total das algemas da estrutura familiar?
O Espelho
4.3 264 Assista AgoraSe eu disser que faltam palavras para descrever este filme estaria mentindo, afinal, trata-se de um filme-poesia. As memórias, transes, viagens que Tarkovsky traz através de seu retrato e dos espelhos remete-nos a um mundo visceral: todos os horrores e angústias de uma criança frente à guerra, suas poesias narradas -- oral e visualmente -- são de uma riqueza nunca antes vista na arte cinematográfica, o que torna a película de Tarkovsky ainda mais valiosa. Ele desperta em cada um de nós os horrores da infância desencadeando a sua própria - a sua mãe aparece como um ser que parece estar perdido assim como a União Soviética, uma simbologia de uma beleza inacreditável. A edição das cenas de destruição e guerra apontam bem a época retratada, belíssimo trabalho de Lyudmila Feyginova. Por fim, deixo-lhes esta frase de de Maiakóvski que ilustra perfeitamente o filme: ''A arte não é um espelho para refletir o mundo, mas um martelo para forjá-lo.''