Não tem coisa mais fascinante do que assistir alguém mudar seu posicionamento sobre noções de moral e ética. Vimos isso em Breaking Bad com o Walter, vemos isso de novo com o Saul. O Vince Gilligan é meu showrunner favorito, de longe.
A premissa original é interessante, mas acho que ela não é explorada ao máximo. No quarto episódio eu já via que o grosso da temporada seria "personagem X em apuros, personagem Y compartilha habilidades com X e este se salva". A falta de explicações sobre o main plot deixa muito a desejar. Eu entendo que essa falta de explicações é intencional, pra deixar a série com um ar mais Lost, mas em alguns pontos eu achei que muita coisa era pura plot magic, os roteiristas davam uma explicação fantástica pro que acontecia com a desculpa de que tudo seria explicado ao decorrer da trama.
Os personagens realmente são muito cativantes, teoricamente. Eu acho incrível que a Netflix tenha produzido uma serie com um cast tão inclusivo, representação é uma coisa importantíssima e eles acertaram em cheio. Mas meu desconforto com a religião hindu sendo retratada como um grupo de fanáticos violentos e a superficialidade de alguns personagens foi tão grande a ponto de me fazer questionar a qualidade dos roteiros e o mérito da série em tratar questões como homossexualidade e transexualidade com a naturalidade que elas merecem.
Eu imagino que seja muito difícil tratar de oito enredos diferentes em uma única temporada, mas ainda assim eu não posso ignorar o fato de que o ritmo de alguns dos subplots é horrível. Todos os personagens passam por períodos de pura inércia, sem nenhum desenvolvimento de caráter ou de enredo. A verossimilhança é outro problema em Sense8. Ok, é uma série de ficção que conta com minha suspensão de descrença, mas o senso de perigo foi completamente arruinado pela quantidade de vezes em que um personagem desarmado derrotou grupos grandes de outros personagens armados e mais fortes. Sempre que uma situação dessa se formava, eu já esperava que um dos protagonistas se daria bem. Por exemplo, o confronto final entre Wolfgang e Steiner foi completamente exagerado e até um pouco brega. Quase não houve um desenvolvimento da tensão entre os personagens - e ele ter usado uma bazuca pra matar o cara foi um exagero enorme, eu poderia ter dormido sem essa breguice (sem contar a Van Damme chutando um cara no subplot do Capheus).
Enfim, a Netflix acertou na mosca quando percebeu que havia um público carente de uma ficção científica tipo Lost dos irmãos Wachowski com um elenco inclusivo. Mas pra mim, a soma dessas partes resultou numa temporada de ritmo errático, plot holes disfarçados de premissa e um grupo de protagonistas interessantes e com forte apelo popular, mas que são escritos de forma superficial.
Mas tem aquilo né, pode ser que a segunda temporada corrija alguns dos erros da primeira. E os primeiros episódios foram bons, talvez eles consigam repetir a qualidade desses primeiros episódios na segunda temporada.
Se por um lado eu gosto do fato de que os escritores estão escrevendo a série pra não ter protagonistas fixas, por outro eu acho que a falta de foco em certos arcos prejudicou essa temporada. Não parece que a decisão da Piper de se tornar a gângster da prisão foi motivada por algo relevante, ela mudou seu comportamento de forma muito brusca, sem nuances; adorei a Crazy Eyes virando a sensação da prisão, mas a história toda parece não ter tido uma razão importante de ser - a mesma coisa aconteceu com a Norma. O sumiço do Benett (que eu realmente não entendi, será que tem algo a ver com o ator?), a paranoia da Alex com a Lolly, o caso entre Caputo e Fig, o climão entre Red e Healy (não cai na dele não Red, pls), os problemas da Soso, a conversão da Cindy, a prisão do Cesar, o casamento da Lorna... tantas histórias que ou não encaixaram muito bem com o que a gente sabia desses personagens ou simplesmente não encontraram um fim definitivo, isso me incomodou muito durante a temporada. Apesar disso tudo, os flashbacks foram interessantes e as abordagens de temas como estupro e aborto foram ótimas. A cena do lago foi linda, mas não me afetou tanto quanto podia ter afetado caso a temporada tivesse sido mais interessante.
Não foi uma temporada ruim, mas foi muito aquém do que poderia ter sido feito. Talvez isso seja um presságio da dificuldade que vai ser enfrentada pra manter a série em alta; não em termos de audiência ou investimento emocional dos fãs, mas em termos de narrativa.
Better Call Saul (2ª Temporada)
4.3 358 Assista AgoraNão tem coisa mais fascinante do que assistir alguém mudar seu posicionamento sobre noções de moral e ética. Vimos isso em Breaking Bad com o Walter, vemos isso de novo com o Saul. O Vince Gilligan é meu showrunner favorito, de longe.
Sense8 (1ª Temporada)
4.4 2,1K Assista AgoraSense8 pra mim é a prova de que algoritmos sozinhos não fazem boas séries.
A premissa original é interessante, mas acho que ela não é explorada ao máximo. No quarto episódio eu já via que o grosso da temporada seria "personagem X em apuros, personagem Y compartilha habilidades com X e este se salva".
A falta de explicações sobre o main plot deixa muito a desejar. Eu entendo que essa falta de explicações é intencional, pra deixar a série com um ar mais Lost, mas em alguns pontos eu achei que muita coisa era pura plot magic, os roteiristas davam uma explicação fantástica pro que acontecia com a desculpa de que tudo seria explicado ao decorrer da trama.
Os personagens realmente são muito cativantes, teoricamente. Eu acho incrível que a Netflix tenha produzido uma serie com um cast tão inclusivo, representação é uma coisa importantíssima e eles acertaram em cheio. Mas meu desconforto com a religião hindu sendo retratada como um grupo de fanáticos violentos e a superficialidade de alguns personagens foi tão grande a ponto de me fazer questionar a qualidade dos roteiros e o mérito da série em tratar questões como homossexualidade e transexualidade com a naturalidade que elas merecem.
Eu imagino que seja muito difícil tratar de oito enredos diferentes em uma única temporada, mas ainda assim eu não posso ignorar o fato de que o ritmo de alguns dos subplots é horrível. Todos os personagens passam por períodos de pura inércia, sem nenhum desenvolvimento de caráter ou de enredo. A verossimilhança é outro problema em Sense8. Ok, é uma série de ficção que conta com minha suspensão de descrença, mas o senso de perigo foi completamente arruinado pela quantidade de vezes em que um personagem desarmado derrotou grupos grandes de outros personagens armados e mais fortes. Sempre que uma situação dessa se formava, eu já esperava que um dos protagonistas se daria bem. Por exemplo, o confronto final entre Wolfgang e Steiner foi completamente exagerado e até um pouco brega. Quase não houve um desenvolvimento da tensão entre os personagens - e ele ter usado uma bazuca pra matar o cara foi um exagero enorme, eu poderia ter dormido sem essa breguice (sem contar a Van Damme chutando um cara no subplot do Capheus).
Mas tem aquilo né, pode ser que a segunda temporada corrija alguns dos erros da primeira. E os primeiros episódios foram bons, talvez eles consigam repetir a qualidade desses primeiros episódios na segunda temporada.
Orange Is The New Black (3ª Temporada)
4.2 793 Assista AgoraCom certeza a temporada mais fraca.
Se por um lado eu gosto do fato de que os escritores estão escrevendo a série pra não ter protagonistas fixas, por outro eu acho que a falta de foco em certos arcos prejudicou essa temporada. Não parece que a decisão da Piper de se tornar a gângster da prisão foi motivada por algo relevante, ela mudou seu comportamento de forma muito brusca, sem nuances; adorei a Crazy Eyes virando a sensação da prisão, mas a história toda parece não ter tido uma razão importante de ser - a mesma coisa aconteceu com a Norma. O sumiço do Benett (que eu realmente não entendi, será que tem algo a ver com o ator?), a paranoia da Alex com a Lolly, o caso entre Caputo e Fig, o climão entre Red e Healy (não cai na dele não Red, pls), os problemas da Soso, a conversão da Cindy, a prisão do Cesar, o casamento da Lorna... tantas histórias que ou não encaixaram muito bem com o que a gente sabia desses personagens ou simplesmente não encontraram um fim definitivo, isso me incomodou muito durante a temporada.
Apesar disso tudo, os flashbacks foram interessantes e as abordagens de temas como estupro e aborto foram ótimas. A cena do lago foi linda, mas não me afetou tanto quanto podia ter afetado caso a temporada tivesse sido mais interessante.
Não foi uma temporada ruim, mas foi muito aquém do que poderia ter sido feito. Talvez isso seja um presságio da dificuldade que vai ser enfrentada pra manter a série em alta; não em termos de audiência ou investimento emocional dos fãs, mas em termos de narrativa.