Na quinta temporada o quarteto principal continua reluzindo e fazendo o sucesso da série, na toada do roteiro sagaz e agudo, cheio de eventos com os quais é impossível o sujeito médio não se identificar. A temporada anterior teve ainda mais episódios icônicos, mas esta não fica muito atrás, com destaque para The Marine Biologist e The Opposite. Agora, em alguns episódios o trecho de stand up ao final é substituído por um diálogo derradeiro entre dois personagens, alteração que caiu bem. Não sei para onde a próxima temporada de Seinfeld nos levará - talvez novamente a nenhum lugar grandioso; talvez apenas ao cotidiano de Seinfeld.
Segura o nível da temporada anterior. Jerry é um bom Renato Aragão, escada de qualidade para o elenco brilhar: Kramer cada mais hilário com suas bizarrices e tiques, George mais hilariantemente mau caráter a cada episódio e Elaine exalando simpatia. É incrível a quantidade de situações retratadas na série que nos fazem rememorar acontecimentos semelhantes que se passaram conosco, mas à crônica do cotidiano juntam-se agora uns eventos metalinguísticos que caem bem. Se as duas primeiras temporadas são razoáveis e na terceira deu um up, a quarta temporada veio pra mostrar que, sim, a essa altura Seinfeld já era uma sitcom perfeitamente senhora de seu domínio.
O episódio que abre a segunda temporada de Fleabag é uma obra-prima de roteiro, interpretações e montagem. O primeiro desses elementos tira de letra o desafio de retomar os conflitos da temporada anterior (lançada três anos antes) e introduzir os vindouros, além de apresentar um personagem importante, mas não é um episódio apenas de retrospectiva, nem preparatório, pois funciona isoladamente de maneira perfeita. Passado inteiramente durante um jantar familiar, o episódio conta um jogo de câmera que enfoca significativamente as expressões e salienta a passivo-agressividade que aumenta o desconforto do evento.
Em diálogos certeiros, os personagens ficam o tempo todo trocando agressões veladas e se ferindo por eufemismos, coisa que em algum momento vai gerar alguma erupção, portanto é uma decisão inteligente inserir pequenos interlúdios que mostram Fleabag fumando na área externa e interagindo com os personagens separadamente - esses entrechos dão uma cadenciada no ritmo do episódio evitando que fique muito arrastado (pois as as outras cenas se passam num só cenário), mas também que haja uma catarse precipitada.
Novamente os personagens são muito bem trabalhados, suas falas são condizentes com as respectivas personalidades e escritas de forma aguda, por ex.
nada poderia expressar melhor a Clare do que "tira a mão do meu aborto! ele é meu!", um achado de acidez e complexo por autossuficiência.
Os demais episódios não desmoralizam o início perfeito, em praticamente todos eles há um ou dois diálogos perfeitos, as divergências entre os personagens se intensificam e surgem alguns dilemas interessantes, alguns deles envolvem os coadjuvantes, outros têm como centro Fleabag e o padre bem interpretado pelo Andrew Scott.
Fiquei com impressões conflitantes sobre esse personagem; de início a série parece dar como suposto que a relação dele com a Fleabag é o abalo mais forte que ele já sofreu no sacerdócio, vislumbrando o final, bem construído mas não muito surpreendente - em que ele prefere continuar sendo padre - eu até considerei que seria mais coerente ele não ter transado com a Fleabag, pelo menos ele manteria a integridade de seus princípios numa série que tem como elemento importante a frustração que as pessoas sentem por estarem constantemente se aviltando, fazendo coisas que acham inadequadas por impulso ou por auto-flagelação; depois lembrei de um diálogo em que ele explica à Fleabag que já passou por essas situações de flerte "muitas e muitas vezes, muitas mesmo", e que ele reza pelas mulheres, dá uma bíblia para elas e espera que sumam. Do que exatamente ele está falando? da cessação do flerte, apenas? Não sei se boto a mão no fogo por esse padre.
Gostei também de o gerente da instituição financeira ter aparecido novamente e encontrado um bom desfecho, apesar do jeito robozão ele é muito carismático e após os eventos do primeiro episódio também a única pessoa da série que sem ter interesse sexual na Fleabag tenta dar uma força pra ela, evitando tripudiar em cima dela quando já está na merda.
Novamente com apenas seis episódios, essa temporada é superior à primeira e não encerra definitivamente a jornada de Fleabag, Clare, Harry, pai, madastra, etc, que poderiam continuar vivendo em novos episódios, embora os criadores já tenham declarado que doze episódios são suficientes e a série fica por aqui. É o estilo inglês.
Então Seinfeld é isso. Após duas temporadas medianas, a série concretiza sua potência criando episódios memoráveis, numa superexploração fina do cotidiano. A duração da temporada - agora são 23 episódios - abona a própria ideia de que estamos vendo se desenrolar a comédia da vida, além do mais, a comicidade geralmente derivar de fatos banais valoriza e até confere alguma credibilidade àqueles episódios mais rasgados, com premissas mirabolantes - como o ótimo episódio do "O'Brien". Viver é isso, coisas extraordinárias acontecem de vez em quando, mas no todo-dia é que somos personagens da nossa série particular.
Vai na metafísica da produção televisiva (e social) do momento: jovens psicologicamente quebrados tomando na cabeça com seus relacionamentos fracassados e suas famílias disfuncionais. Como sempre, protagonista perspicaz, sarcástica, que passa parte da série analisando os outros desajustados (esses, menos irônicos do que ela - a literatura ocidental sempre identificou a derrisão, a galhofa, o escárnio a uma forma superior de inteligência, concedida a poucos espíritos) com um certo distanciamento blasé. Busca-se também uma aproximação com a "comédia de situação", privilegiando construir e explorar ao máximo incidentes constrangedores em detrimento da evolução narrativa (isto é, o avanço da trama é comedido e não consiste nisso o apelo da série).
Fleabag se beneficia bastante da ótima escalação de elenco, pois todos os personagens (cada qual suas peculiaridades bisonhas) são bem defendidos por seus intérpretes, o que dá vida a um roteiro que tem seu forte justamente em causar desconforto enfocando as relações entre essa gente esquisita (e quem não é...). Com poucos episódios e apuro nos diálogos, o tédio não dá as caras. Gostei de como, no final, dos escombros daquela vida fodida desponta um momento de piedade (tanto de certo personagem com a protagonista como da própria narrativa com esse personagem, a quem havia vituperado antes, ao apresentá-lo no primeiro episódio). Desfecho que acalenta um pouco, para encerrar a boa temporada.
Os episódios iniciais são mais parecidos com a primeira temporada, os seguintes são melhores. Parece estar aquecendo os motores. Os que gostei mais são The Statue e The Busboy (o aclamado The Chinese Restaurant s não é um dos mais engraçados, pra mim, embora tenha situações interessantes e tenha sido inovador, na época).
Jerry tenta interpretar as ações de uma conhecida: ela estará interessada? George se recrimina por uma gafe ao fim de um encontro. Elaine busca desesperadamente um apartamento. Se Seinfeld é uma série sobre o nada, então a vida é sobre o nada. Mas há humor no nada, nessas insignificâncias que fazem uma vida e a tornam um épico para o dono dela. Os lugares em que você come, os semi-conhecidos, os flertes, as paranoias cotidianas. A comédia da vida ordinária te conduz a ser o Coringa ou a ser Jerry Seinfeld. Bom, até o momento, mas ainda sem momentos espetaculares. O rio da vida segue correndo.
Se um Louis C.K que se odiasse um pouco menos e aos outros escrevesse/estrelasse uma sitcom um tanto menos dark, o resultado seria algo como Quase Feliz. A consequência dessa relativa leveza é que a série cativará tanto os que gostam do humor existencial pesado do C.K (como eu) como os que preferem um agridoce menos depressivo.
Uma característica admirável (e que foge do clichê) da série é que ela não vilaniza as pessoas da convivência do protagonista, todo mundo é boa gente (inclusive a ex-mulher do Sebá, interpretada de forma divertida e encantadora pela Natalie Pérez) e os conflitos decorrem das circunstâncias da vida, não de maldades folhetinescas.
Apesar de todos os dez episódios terem sua qualidade, a temporada fica melhor na segunda metade, quando os laços familiares do Sebá são aprofundados. Se eu fosse aspirante a roteirista, prestaria muita atenção no oitavo episódio, magistral nos diálogos.
Infelizmente a série parece não ter decolado na preferência dos brasileiros, mas merece ser descoberta e estou no aguardo da segunda temporada.
Vi dois episódios e até então continuo achando um espelho da primeira na pobreza da dramaturgia, na direção quadrada e na decupagem de novela global, mas está engraçado ver que os mesmos grupos que anteriormente defendiam ferozmente a série agora a estão tratando como o pior dos panfletos comunistas, hahaha, esse Brasil é uma loucura.
Feliz! constrói sua qualidade por meio da realização bem-sucedida de predicados opostos: é simpático, violento, lúdico, impiedoso, tudo em doses bem distribuídas. O personagem Happy é emblemático dessa segurança em promover boa mistura, porque a maestria da animação e a excelente dublagem do Patton Oswalt conseguem a proeza de transformar o unicórnio num ser adorável, e não ridículo. Christopher Meloni, por sua vez, tira de letra a missão de imprimir timing cômico a um bruto.
Gosto muito de como são explorados os habitats desses dois personagens: o submundo de Nick Sax e o universo de seres imaginários de Happy, ambos com sua própria fauna bizarra de aliados e de vilões sádicos.
Com ligeiras alterações no final (ou mesmo sem elas, para ser cruel), Feliz! podia ser uma série limitada e ficar por aqui mesmo. Porém, já foi renovada e deixa alguns indícios de para onde vai na segunda temporada. Até lá, usufrui do status de surpresa do ano.
Jeremy Saulnier, que originalmente seria o diretor de todos os episódios, teve diferenças criativas com a produção e acabou saindo após a gravação dos dois primeiros. Os restantes ficarão a cargo de Daniel Sackheim (curiosamente, um dos diretores da série Ozark - a terceira temporada de True Detective também se passa naquela região).
Em essência é meia-boca. A princípio parece que vai entrar fundo em todos aqueles nuances complicados de uma relação agressiva (o amor mútuo que degenera em violência, a quase bipolaridade do agressor que transita entre os extremos do carinho e da monstruosidade, os sentimentos do agredido que repelem e ao mesmo tempo são sugados pelo cônjuge agressor e daí para diante), mas, com exceção das cenas com a terapeuta - já que esses diálogos sim ensinam algo sobre a psicologia dos envolvidos e são literariamente bem elaborados -, falta uma verticalização, a sensação de que o roteiro realmente consegue expandir a consciência de quem quer que seja sobre violência doméstica, relacionamento parasitário, passionalidade autocontraditória ou casamento. Big Little Lies não é mais informativa nem tem nada a ensinar a quem viu o cosplay de Tom Hanks dando raquetadas em pleno horário nobre da Globo dez anos atrás.
Nada a favor também da previsível parte investigativa.
Porém, esses defeitos ficam menos visíveis em razão do competente trabalho de direção e principalmente o uso bastante artístico da montagem, que além de deixarem a série visualmente muito bonita, conferem a cada cena uma aura de sugestividade e de verdades ocultas, o que desvia, adia e, em a julgar por diversos comentários, às vezes até suprime a sensação de que a história é pobre.
Sopesando os prós e contras, eu não deixaria de recomendar. É uma produção competente e quase sempre bem atuada. No mais, sempre é uma oportunidade de como o audiovisual é capaz de criar ilusionismos fascinantes.
Apesar de ter visto os três filmes e lido alguns quadrinhos, não sou um grande entendedor do Justiceiro (na verdade, após ter visto a série é que me animei a mais aprofundamentos). Dito isso, achei essa primeira temporada bastante satisfatória, com ação suficiente, alguma tensão e uma dose de drama que não vulgariza o personagem. Não vemos aqui um Justiceiro frenético, sarcástico, que mata com humor e prazer, como em algumas histórias. É um homem imerso na dor da perda e que a revive a cada novo homicídio, e eu não vejo problema nessa abordagem, embora saiba que muitos não pensam assim.
Realmente existe uma certa queda de ritmo no segundo terço da temporada. Não concordo que esses episódios são desnecessários, pois é neles que se aprofunda mais a temática dos traumas de guerra, e o terrorismo é uma ameaça que casa bem com a série. A meu ver, o que pode ter atrapalhado é a quantidade de diretores e roteiristas para apenas 13 episódios. Prejudica a homogeneidade do conjunto e dá a impressão de que as subtramas foram enxertadas na coluna vertebral da temporada, quando deviam se acoplar naturalmente a ela.
No mais, lendo os quadrinhos, vi que existe ali material para uma dezena de temporadas. O personagem passou pela mão de escritores de qualidade, que o meteram em roteiros sofisticados, contra vilões icônicos. Mesmo sem neurose por fidelidade absoluta na adaptação, espero que esse potencial seja explorado na série.
David Milch (aclamado roteirista de Deadwood e Luck) será co-roteirista da terceira temporada, ao lado de Nic Pizzolatto, responsável pelas duas anteriores. Muito promissor. Preciso ver os filmes desse Jeremy Saulnier.
A temporada já começa com uma demonstração de força dos coadjuvantes, que provam sua capacidade de estrelar uma série à parte, se fosse o caso, e não é de se duvidar que Bojack Horseman gere algum spin-off. Agora, o segundo episódio foi de uma perfeição dolorosa, quase insuportável.
Curioso, sempre que eu aprecio muito uma série fico magnetizado por ela a ponto de usar o tempo livre para ver episódios em sequência, mas isso não acontece com Bojack Horseman. Desde a terceira temporada, eu só consigo ver um episódio por vez, às vezes dois seguidos, e preciso de um tempo para assimilar emocionalmente o que acabei de ver e refletir sobre. É um impacto perfeitamente orgânico, pois o episódio me satisfaz completamente e eu só vejo o próximo quando sinto que estou pronto para uma nova carga. Só me ocorreu o mesmo quando demorei um ano assistindo ao Sopranos.
Aliás, falando em Sopranos, que referência filha da puta fizeram ao seu showrunner David Chase, no primeiro episódio, quando ele "descobre" o Mr. Peanutbutter. O Chase trabalhou com esse tipo de diversão rasteira por muito tempo, e largar as compensações financeiras disso pra arriscar tudo num drama de máfia foi uma grande virada na vida dele. Entre tantas outras qualidades, é fascinante como Bojack Horseman faz críticas ácidas aos bastidores do cinema/TV em vários niveis, de forma que a gente só capta o que pode e na medida em que tem conhecimento sobre os fatos históricos/curiosidades/ groselhas em geral desse meio.
O terceiro episódio é Closer - Perto Demais num futuro distópico. Excelente roteiro. Também gosto muito do segundo episódio. O primeiro é o que tem a premissa mais provocativa, porém peca em expandir de forma insatisfatória o universo que sugere.
Subestimei essa série ao esperar que fosse apenas boa. É ótima, muito redondinha e bem executada. Muitos paralelos com O Poderoso Chefão sem deixar de ter identidade própria.
Mais uma série que eleva o audiovisual ao seu ápice e estabelece um padrão que há de obrigar a indústria cinematográfica a rever os próprios rumos. Tudo é elaborado e impressiona, mas algo deve ser posto em destaque: como é brilhante em criar e desenvolver personagens, esse Noah Hawley.
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Seinfeld (5ª Temporada)
4.6 56 Assista AgoraNa quinta temporada o quarteto principal continua reluzindo e fazendo o sucesso da série, na toada do roteiro sagaz e agudo, cheio de eventos com os quais é impossível o sujeito médio não se identificar. A temporada anterior teve ainda mais episódios icônicos, mas esta não fica muito atrás, com destaque para The Marine Biologist e The Opposite. Agora, em alguns episódios o trecho de stand up ao final é substituído por um diálogo derradeiro entre dois personagens, alteração que caiu bem. Não sei para onde a próxima temporada de Seinfeld nos levará - talvez novamente a nenhum lugar grandioso; talvez apenas ao cotidiano de Seinfeld.
Seinfeld (4ª Temporada)
4.6 86 Assista AgoraSegura o nível da temporada anterior. Jerry é um bom Renato Aragão, escada de qualidade para o elenco brilhar: Kramer cada mais hilário com suas bizarrices e tiques, George mais hilariantemente mau caráter a cada episódio e Elaine exalando simpatia. É incrível a quantidade de situações retratadas na série que nos fazem rememorar acontecimentos semelhantes que se passaram conosco, mas à crônica do cotidiano juntam-se agora uns eventos metalinguísticos que caem bem. Se as duas primeiras temporadas são razoáveis e na terceira deu um up, a quarta temporada veio pra mostrar que, sim, a essa altura Seinfeld já era uma sitcom perfeitamente senhora de seu domínio.
Fleabag (2ª Temporada)
4.7 888 Assista AgoraO episódio que abre a segunda temporada de Fleabag é uma obra-prima de roteiro, interpretações e montagem. O primeiro desses elementos tira de letra o desafio de retomar os conflitos da temporada anterior (lançada três anos antes) e introduzir os vindouros, além de apresentar um personagem importante, mas não é um episódio apenas de retrospectiva, nem preparatório, pois funciona isoladamente de maneira perfeita. Passado inteiramente durante um jantar familiar, o episódio conta um jogo de câmera que enfoca significativamente as expressões e salienta a passivo-agressividade que aumenta o desconforto do evento.
Em diálogos certeiros, os personagens ficam o tempo todo trocando agressões veladas e se ferindo por eufemismos, coisa que em algum momento vai gerar alguma erupção, portanto é uma decisão inteligente inserir pequenos interlúdios que mostram Fleabag fumando na área externa e interagindo com os personagens separadamente - esses entrechos dão uma cadenciada no ritmo do episódio evitando que fique muito arrastado (pois as as outras cenas se passam num só cenário), mas também que haja uma catarse precipitada.
Novamente os personagens são muito bem trabalhados, suas falas são condizentes com as respectivas personalidades e escritas de forma aguda, por ex.
nada poderia expressar melhor a Clare do que "tira a mão do meu aborto! ele é meu!", um achado de acidez e complexo por autossuficiência.
Os demais episódios não desmoralizam o início perfeito, em praticamente todos eles há um ou dois diálogos perfeitos, as divergências entre os personagens se intensificam e surgem alguns dilemas interessantes, alguns deles envolvem os coadjuvantes, outros têm como centro Fleabag e o padre bem interpretado pelo Andrew Scott.
Fiquei com impressões conflitantes sobre esse personagem; de início a série parece dar como suposto que a relação dele com a Fleabag é o abalo mais forte que ele já sofreu no sacerdócio, vislumbrando o final, bem construído mas não muito surpreendente - em que ele prefere continuar sendo padre - eu até considerei que seria mais coerente ele não ter transado com a Fleabag, pelo menos ele manteria a integridade de seus princípios numa série que tem como elemento importante a frustração que as pessoas sentem por estarem constantemente se aviltando, fazendo coisas que acham inadequadas por impulso ou por auto-flagelação; depois lembrei de um diálogo em que ele explica à Fleabag que já passou por essas situações de flerte "muitas e muitas vezes, muitas mesmo", e que ele reza pelas mulheres, dá uma bíblia para elas e espera que sumam. Do que exatamente ele está falando? da cessação do flerte, apenas? Não sei se boto a mão no fogo por esse padre.
Gostei também de o gerente da instituição financeira ter aparecido novamente e encontrado um bom desfecho, apesar do jeito robozão ele é muito carismático e após os eventos do primeiro episódio também a única pessoa da série que sem ter interesse sexual na Fleabag tenta dar uma força pra ela, evitando tripudiar em cima dela quando já está na merda.
Novamente com apenas seis episódios, essa temporada é superior à primeira e não encerra definitivamente a jornada de Fleabag, Clare, Harry, pai, madastra, etc, que poderiam continuar vivendo em novos episódios, embora os criadores já tenham declarado que doze episódios são suficientes e a série fica por aqui. É o estilo inglês.
Seinfeld (3ª Temporada)
4.5 101 Assista AgoraEntão Seinfeld é isso. Após duas temporadas medianas, a série concretiza sua potência criando episódios memoráveis, numa superexploração fina do cotidiano. A duração da temporada - agora são 23 episódios - abona a própria ideia de que estamos vendo se desenrolar a comédia da vida, além do mais, a comicidade geralmente derivar de fatos banais valoriza e até confere alguma credibilidade àqueles episódios mais rasgados, com premissas mirabolantes - como o ótimo episódio do "O'Brien". Viver é isso, coisas extraordinárias acontecem de vez em quando, mas no todo-dia é que somos personagens da nossa série particular.
Fleabag (1ª Temporada)
4.4 627 Assista AgoraVai na metafísica da produção televisiva (e social) do momento: jovens psicologicamente quebrados tomando na cabeça com seus relacionamentos fracassados e suas famílias disfuncionais. Como sempre, protagonista perspicaz, sarcástica, que passa parte da série analisando os outros desajustados (esses, menos irônicos do que ela - a literatura ocidental sempre identificou a derrisão, a galhofa, o escárnio a uma forma superior de inteligência, concedida a poucos espíritos) com um certo distanciamento blasé. Busca-se também uma aproximação com a "comédia de situação", privilegiando construir e explorar ao máximo incidentes constrangedores em detrimento da evolução narrativa (isto é, o avanço da trama é comedido e não consiste nisso o apelo da série).
Fleabag se beneficia bastante da ótima escalação de elenco, pois todos os personagens (cada qual suas peculiaridades bisonhas) são bem defendidos por seus intérpretes, o que dá vida a um roteiro que tem seu forte justamente em causar desconforto enfocando as relações entre essa gente esquisita (e quem não é...). Com poucos episódios e apuro nos diálogos, o tédio não dá as caras. Gostei de como, no final, dos escombros daquela vida fodida desponta um momento de piedade (tanto de certo personagem com a protagonista como da própria narrativa com esse personagem, a quem havia vituperado antes, ao apresentá-lo no primeiro episódio). Desfecho que acalenta um pouco, para encerrar a boa temporada.
Seinfeld (2ª Temporada)
4.3 93 Assista AgoraOs episódios iniciais são mais parecidos com a primeira temporada, os seguintes são melhores. Parece estar aquecendo os motores. Os que gostei mais são The Statue e The Busboy (o aclamado The Chinese Restaurant s não é um dos mais engraçados, pra mim, embora tenha situações interessantes e tenha sido inovador, na época).
Seinfeld (1ª Temporada)
4.1 180 Assista AgoraJerry tenta interpretar as ações de uma conhecida: ela estará interessada? George se recrimina por uma gafe ao fim de um encontro. Elaine busca desesperadamente um apartamento. Se Seinfeld é uma série sobre o nada, então a vida é sobre o nada. Mas há humor no nada, nessas insignificâncias que fazem uma vida e a tornam um épico para o dono dela. Os lugares em que você come, os semi-conhecidos, os flertes, as paranoias cotidianas. A comédia da vida ordinária te conduz a ser o Coringa ou a ser Jerry Seinfeld. Bom, até o momento, mas ainda sem momentos espetaculares. O rio da vida segue correndo.
Quase Feliz (1ª Temporada)
4.1 11"Estou aprendendo a abraçar."
Se um Louis C.K que se odiasse um pouco menos e aos outros escrevesse/estrelasse uma sitcom um tanto menos dark, o resultado seria algo como Quase Feliz. A consequência dessa relativa leveza é que a série cativará tanto os que gostam do humor existencial pesado do C.K (como eu) como os que preferem um agridoce menos depressivo.
Uma característica admirável (e que foge do clichê) da série é que ela não vilaniza as pessoas da convivência do protagonista, todo mundo é boa gente (inclusive a ex-mulher do Sebá, interpretada de forma divertida e encantadora pela Natalie Pérez) e os conflitos decorrem das circunstâncias da vida, não de maldades folhetinescas.
Apesar de todos os dez episódios terem sua qualidade, a temporada fica melhor na segunda metade, quando os laços familiares do Sebá são aprofundados. Se eu fosse aspirante a roteirista, prestaria muita atenção no oitavo episódio, magistral nos diálogos.
Infelizmente a série parece não ter decolado na preferência dos brasileiros, mas merece ser descoberta e estou no aguardo da segunda temporada.
O Mecanismo (2ª Temporada)
3.5 101Vi dois episódios e até então continuo achando um espelho da primeira na pobreza da dramaturgia, na direção quadrada e na decupagem de novela global, mas está engraçado ver que os mesmos grupos que anteriormente defendiam ferozmente a série agora a estão tratando como o pior dos panfletos comunistas, hahaha, esse Brasil é uma loucura.
Feliz! (1ª Temporada)
4.1 79 Assista AgoraFeliz! constrói sua qualidade por meio da realização bem-sucedida de predicados opostos: é simpático, violento, lúdico, impiedoso, tudo em doses bem distribuídas. O personagem Happy é emblemático dessa segurança em promover boa mistura, porque a maestria da animação e a excelente dublagem do Patton Oswalt conseguem a proeza de transformar o unicórnio num ser adorável, e não ridículo. Christopher Meloni, por sua vez, tira de letra a missão de imprimir timing cômico a um bruto.
Gosto muito de como são explorados os habitats desses dois personagens: o submundo de Nick Sax e o universo de seres imaginários de Happy, ambos com sua própria fauna bizarra de aliados e de vilões sádicos.
Com ligeiras alterações no final (ou mesmo sem elas, para ser cruel), Feliz! podia ser uma série limitada e ficar por aqui mesmo. Porém, já foi renovada e deixa alguns indícios de para onde vai na segunda temporada. Até lá, usufrui do status de surpresa do ano.
True Detective (3ª Temporada)
4.0 284Jeremy Saulnier, que originalmente seria o diretor de todos os episódios, teve diferenças criativas com a produção e acabou saindo após a gravação dos dois primeiros. Os restantes ficarão a cargo de Daniel Sackheim (curiosamente, um dos diretores da série Ozark - a terceira temporada de True Detective também se passa naquela região).
Big Little Lies (1ª Temporada)
4.6 1,1K Assista AgoraEm essência é meia-boca. A princípio parece que vai entrar fundo em todos aqueles nuances complicados de uma relação agressiva (o amor mútuo que degenera em violência, a quase bipolaridade do agressor que transita entre os extremos do carinho e da monstruosidade, os sentimentos do agredido que repelem e ao mesmo tempo são sugados pelo cônjuge agressor e daí para diante), mas, com exceção das cenas com a terapeuta - já que esses diálogos sim ensinam algo sobre a psicologia dos envolvidos e são literariamente bem elaborados -, falta uma verticalização, a sensação de que o roteiro realmente consegue expandir a consciência de quem quer que seja sobre violência doméstica, relacionamento parasitário, passionalidade autocontraditória ou casamento. Big Little Lies não é mais informativa nem tem nada a ensinar a quem viu o cosplay de Tom Hanks dando raquetadas em pleno horário nobre da Globo dez anos atrás.
Nada a favor também da previsível parte investigativa.
Porém, esses defeitos ficam menos visíveis em razão do competente trabalho de direção e principalmente o uso bastante artístico da montagem, que além de deixarem a série visualmente muito bonita, conferem a cada cena uma aura de sugestividade e de verdades ocultas, o que desvia, adia e, em a julgar por diversos comentários, às vezes até suprime a sensação de que a história é pobre.
Sopesando os prós e contras, eu não deixaria de recomendar. É uma produção competente e quase sempre bem atuada. No mais, sempre é uma oportunidade de como o audiovisual é capaz de criar ilusionismos fascinantes.
O Justiceiro (1ª Temporada)
4.2 569Apesar de ter visto os três filmes e lido alguns quadrinhos, não sou um grande entendedor do Justiceiro (na verdade, após ter visto a série é que me animei a mais aprofundamentos). Dito isso, achei essa primeira temporada bastante satisfatória, com ação suficiente, alguma tensão e uma dose de drama que não vulgariza o personagem. Não vemos aqui um Justiceiro frenético, sarcástico, que mata com humor e prazer, como em algumas histórias. É um homem imerso na dor da perda e que a revive a cada novo homicídio, e eu não vejo problema nessa abordagem, embora saiba que muitos não pensam assim.
Realmente existe uma certa queda de ritmo no segundo terço da temporada. Não concordo que esses episódios são desnecessários, pois é neles que se aprofunda mais a temática dos traumas de guerra, e o terrorismo é uma ameaça que casa bem com a série. A meu ver, o que pode ter atrapalhado é a quantidade de diretores e roteiristas para apenas 13 episódios. Prejudica a homogeneidade do conjunto e dá a impressão de que as subtramas foram enxertadas na coluna vertebral da temporada, quando deviam se acoplar naturalmente a ela.
No mais, lendo os quadrinhos, vi que existe ali material para uma dezena de temporadas. O personagem passou pela mão de escritores de qualidade, que o meteram em roteiros sofisticados, contra vilões icônicos. Mesmo sem neurose por fidelidade absoluta na adaptação, espero que esse potencial seja explorado na série.
True Detective (3ª Temporada)
4.0 284David Milch (aclamado roteirista de Deadwood e Luck) será co-roteirista da terceira temporada, ao lado de Nic Pizzolatto, responsável pelas duas anteriores. Muito promissor. Preciso ver os filmes desse Jeremy Saulnier.
BoJack Horseman (4ª Temporada)
4.5 240 Assista AgoraA temporada já começa com uma demonstração de força dos coadjuvantes, que provam sua capacidade de estrelar uma série à parte, se fosse o caso, e não é de se duvidar que Bojack Horseman gere algum spin-off. Agora, o segundo episódio foi de uma perfeição dolorosa, quase insuportável.
Curioso, sempre que eu aprecio muito uma série fico magnetizado por ela a ponto de usar o tempo livre para ver episódios em sequência, mas isso não acontece com Bojack Horseman. Desde a terceira temporada, eu só consigo ver um episódio por vez, às vezes dois seguidos, e preciso de um tempo para assimilar emocionalmente o que acabei de ver e refletir sobre. É um impacto perfeitamente orgânico, pois o episódio me satisfaz completamente e eu só vejo o próximo quando sinto que estou pronto para uma nova carga. Só me ocorreu o mesmo quando demorei um ano assistindo ao Sopranos.
Aliás, falando em Sopranos, que referência filha da puta fizeram ao seu showrunner David Chase, no primeiro episódio, quando ele "descobre" o Mr. Peanutbutter. O Chase trabalhou com esse tipo de diversão rasteira por muito tempo, e largar as compensações financeiras disso pra arriscar tudo num drama de máfia foi uma grande virada na vida dele. Entre tantas outras qualidades, é fascinante como Bojack Horseman faz críticas ácidas aos bastidores do cinema/TV em vários niveis, de forma que a gente só capta o que pode e na medida em que tem conhecimento sobre os fatos históricos/curiosidades/ groselhas em geral desse meio.
Black Mirror (1ª Temporada)
4.4 1,3K Assista AgoraO terceiro episódio é Closer - Perto Demais num futuro distópico. Excelente roteiro. Também gosto muito do segundo episódio. O primeiro é o que tem a premissa mais provocativa, porém peca em expandir de forma insatisfatória o universo que sugere.
Filhos do Carnaval (1ª Temporada)
4.3 17Subestimei essa série ao esperar que fosse apenas boa. É ótima, muito redondinha e bem executada. Muitos paralelos com O Poderoso Chefão sem deixar de ter identidade própria.
Fargo (1ª Temporada)
4.5 511Mais uma série que eleva o audiovisual ao seu ápice e estabelece um padrão que há de obrigar a indústria cinematográfica a rever os próprios rumos. Tudo é elaborado e impressiona, mas algo deve ser posto em destaque: como é brilhante em criar e desenvolver personagens, esse Noah Hawley.