O Super-Homem é um dos personagens mais emblemáticos da DC, e do mundo dos quadrinhos em geral, e provavelmente uma das figuras mais lucrativas da indústria de entretenimento mundial. Ainda assim, recentemente a editora vinha encontrando dificuldade em emplacar o personagem no cinema, a falta de qualidade dos filmes era um problema, mas mais que isso, o Homem de Aço parecia não se comunicar com as novas gerações, seu personagem aparentemente obsoleto em uma época de heróis menos maniqueístas, mais ambíguos.
No entanto, após o sucesso estrondoso da releitura que Christopher Nolan fez do Batman e da Marvel ter vendido, com relativo sucesso, o Capitão América (ainda mais anacrônico que o Super-Homem) uma nova tentativa se tornou inevitável. Confesso que fiquei surpresa quando um projeto desse tamanho foi parar nas mãos de um diretor que acabava de sair de um fracasso tão absoluto (não por acaso, todo material de divulgação diz apenas “do diretor de 300 e Watchmen“) e cuja fama nunca foi das melhores. Mas Zack Snyder, com supervisão de Nolan é preciso dizer, assumiu o trabalho de finalmente tornar o Super-Homem um blockbuster.
E Homem de Aço faz exatamente isso: ele torna o personagem palatável, viável para o público de hoje, menos patético e bom moço e entrega um filme com boas sequências de ação e altamente vendável. Não é que a direção exagerada e um tanto sem rumo de Snyder não esteja presente, ela está, mas a impressão é que o diretor foi posto na coleira e essa coleira foi entregue na mão de Nolan.
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No ano de 1990, a italiana Eluana Englaro sofreu um acidente de carro. Esse acidente a deixou em estado vegetativo e fez com que a sua família entrasse com um pedido para que os tubos de alimentação fossem removidos e ela pudesse morrer de um modo natural. O pedido, porém, foi recusado e o que se seguiu a ele foi uma briga judicial, agravada pela presença de grupos pró e contra eutanásia do lado de fora do hospital onde a moça se encontrava. Então, 17 anos depois, a decisão judicial foi revertida e a família de Eluana conquistou o direito de desligar os aparelhos responsáveis por mantê-la viva.
A história de Eluana Englaro é o motor do último longa de Marco Bellocchio, A Bela Que Dorme. O diretor, que sempre busca colocar situações importantes para a história de seu país de origem em seus filmes, cria uma história multinuclear, onde cada um de seus personagens lida com a morte eminente de um ente querido à sua maneira. A religião, sempre muito importante para os italianos, assume um papel primordial nas histórias, mesmo quando as personagens nem têm consciência de que desempenham alguns papéis porque, em algum nível, a religião disse que deveria ser assim.
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Imagine a seguinte situação: você, a ovelha negra da família, volta para sua cidadezinha natal, e, por ser uma pequenina comunidade, praticamente encontra todo mundo nos primeiros minutos. Para cada um, uma explicação diferente sobre os rumos que sua vida tomou nos últimos cinco anos. Sua mãe fica feliz em te ver finalmente depois de tanto tempo! Seu pai não está assim tão animado, principalmente ao saber que você só está de volta pra pegar uma possível herança deixada pelo avô. Seu irmão mais novo, aquele que é considerado o perfeito, olha para você com desaprovação. Tensão.
Você vai embora da cidade #chateado, cheio de mágoas, culpas e segredos. De repente, no horizonte, uma nuvem em forma de cogumelo. Marketing da Nintendo? Não. Explosão nuclear mesmo.
Esta é a história de Jake Green (vivido por Skeet Ulrich) e da cidade de Jericho num Estados Unidos pós-holocausto nuclear. Jake retorna para Jericho e a encontra um caos. Com os meios de comunicação cortados, Jericho fica isolada de tudo. Sem notícias do que realmente está acontecendo, o medo se espalha. Cabe então ao prefeito Johnston Green (Gerald McRaney), o pai de Jake, colocar ordem no lugar e dar um show de liderança e administração. A população então tenta manter-se unida para evitar a escassez de alimentos, a falta de energia elétrica , mais tarde, milícias e uma cidade vizinha que não teve a mesma sorte.
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Sem dúvidas, você vai ver filmes melhores do que Renoir esse ano. Mas as chances de você assistir a algo tão bonito quanto, do ponto de vista imagético, são pequenas. Os cenários e a fotografia do longa são tão bonitos que chegam a comover. Não consigo imaginar alguém olhando aquelas paisagens, marcadas por tons amarelados que transmitem a sensação de constante luminosidade, e não desejando habitar o universo das personagens. E quando você percebe que é tudo criação – tanto de Giles Bourdos, roteirista e diretor do longa, quanto do cinematógrafo Ping Bing Lee (que também é responsável pelo lindíssimo Amor À Flor Da Pele) -, dá pra sentir uma pontinha de frustração.
Claro, aquelas paisagens existem em algum canto da França. Mas não existem salpicadas de tons dourados e não com aquelas cores cuidadosamente pensadas. Nem com os personagens bem caracterizados (e, algumas vezes, sem caracterização nenhuma). A sensação que se tem assistido ao filme é a de se estar preso em uma pintura de Renoir (vivido por Michel Bouquet). Mas é uma impressão mais temporal e espacial do que uma descrição literal das telas do pintor. O filme inteiro combina perfeitamente com uma frase dita por seu personagem título em determinado momento: “Há coisas bastante desagradáveis na vida. Eu não preciso pintar mais coisas desagradáveis”.
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Comecei a assistir Mistressess, o remake norte-americano da série produzida no Reino Unido, porque a sua sinopse prometia algo bem leve. Aquele tipo de coisa que só exige que você sente na frente da TV e se divirta com as intrigas apresentadas. Portanto, se você gosta de programas “de mulherzinha”, daqueles que dá pra ver com a melhor amiga comentando “ai, fulana/fulano não vale nada”, recomendo muito que você assista Mistresses. Se não, pode deixar pra lá porque não é mesmo a sua.
Resumidamente, o programa trata a respeito de um grupo de amigas, Savannah “Savi” Davis (Alyssa Milano), Karen Kim (Yunjin Kim), April Malloy (Rochelle Aytes) e Josslyn Carver (Jes Macallan), que em algum ponto de suas vidas foram amantes de alguém. Savi de um colega de trabalho e, até o presente momento, só por uma noite. Karen, de um de seus pacientes. April, por sua vez, sofre com a presença da amante de seu falecido marido em sua vida. E, por fim, Joss que é a amante convicta, aquela parte do grupo que detesta compromissos e tem múltiplos encontros com muitos homens – que, quanto mais indisponíveis, melhor servem aos seus objetivos.
Mistresses mostra os desdobramentos que todas as traições têm na vida de suas quatro protagonistas de um jeito que parece uma mistura de Sex And The City com Desperate Housewives. Ou uma versão crescida de Pretty Little Liars, já que todas ali têm segredos que, provavelmente, vão fazê-las de reféns em algum ponto da série.
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Até ontem eu nunca tinha ouvido falar em Boris Vian. Antes de ler o nome dele nos créditos de A Espuma dos Dias (L’Écume des Jours, 2013), aliás, achava que o longa partia de uma ideia totalmente original. Hoje, depois de pesquisar um pouco, vi que Boris foi um dos nomes mais marcantes da cultura contemporânea francesa. Há quem diga, inclusive, que dentro de seu país de origem o livro A Espuma dos Dias tomou o lugar de O Apanhador no Campo de Centeio o lugar ‘no coração de toda uma geração’.
O curioso nisso tudo é que depois que assisti ao filme, mesmo já sabendo que ele era baseado no livro de Vian, continuei pensando que se tratava de algo cem por cento autoral. Porque aquilo tudo que eu acabara de ver era Michel Gondry em seu estado mais puro. E quando digo aquilo tudo, meus amigos, estou falando de uma beleza plástica impressionante, de linhas escritas com ternura, e de imagens cheias de imaginação. E excessos.
Para criar um mundo fantástico que parece uma versão do futuro imaginada por alguém dos anos 40, Gondry conta com ferramentas que vão desde móveis especificamente projetados (a direção de arte é estupenda e enche os olhos com o design das peças e dos cenários) a animações em stop-motion. Toda essa alegoria visual combinada com uma câmera que não para e personagens exóticos (há um ratinho que interage com os protagonistas, um cozinheiro que também é mentor e advogado e um chefe de cozinha que vive dentro da tv/geladeira) causa um estranhamento gigante a princípio e promove um distanciamento forçado entre o espectador e as personagens. Tem tanta coisa acontecendo a todo o tempo em todos os espaços da tela que fica difícil se envolver. O que soa paradoxal, uma vez que nossa atenção cresce justamente por esses motivos.
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Celeste e Jesse Para Sempre (Celeste and Jesse Forever, 2012) é um filme bastante agridoce e mais duro do que parece. E isso é reforçado até pelo “para sempre” do título, que pode não representar exatamente aquilo que alguns espectadores vão esperar para o casal protagonista. Não é (500) Dias Com Ela (500 Days Of Summer, 2010), mas bem que poderia vir com um aviso semelhante ao que o filme de Marc Webb traz no começo. Porque “essa não é uma história de amor”. Ou pelo menos não apenas.
Dá pra resumir a sinopse dessa forma: Celeste e Jesse (Rashida Jones e Andy Samberg, com ótima química e defendendo muito bem, em cena, as diferenças que seus personagens possuem) formam um casal, vivendo o auge de sua vida de casados. Com o passar do tempo e com o convívio diário, Celeste frustra-se com o relacionamento e decide se separar do rapaz. Tudo é contado de forma ágil, numa sequência que passa como um slideshow tragicômico diante de nós. Ele não consegue superar o rompimento, e os dois continuam bastante próximos, mas como amigos. A situação muda quando Jesse encontra uma nova mulher e passa a reconstruir sua vida. Celeste está “empacada” na mesmice, reavalia o enlace que tiveram e percebe que, talvez, não deveria ter encerrado as coisas da maneira que fez.
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A Pele Que Habito. Abraços Partidos. Volver. Má Educação. Fale Com Ela. Tudo Sobre Minha Mãe. A Flor do Meu Segredo. Depois de dramas, melodramas e suspenses, Pedro Almodóvar, o diretor espanhol mais aclamado das últimas décadas, volta em Os Amantes Passageiros (Los Amantes Pasajeros, 2013) a um terreno que conhece muito bem: a comédia.
Mesmo tendo momentos pontuais de humor em todos os seus últimos longas, havia muito que Pedro não se entregava ao escracho e ao riso frouxo com tanta vontade. Retomando e abraçando o exagero de personagens incomuns e tramas absurdas, o diretor cria um filme mosaico que se passa num espaço diminuto, e por meio de pequenos esquetes ele faz rir e choca seu público, seja por declarações inesperadas ou por falas e imagens que beiram a escatologia, na mesma medida.
Costurando subtramas irregulares (há o pai que busca a filha que saiu de casa para ser dominatrix; o ator famoso que mente adoidado para suas mulheres; uma figura estranha e paranoica que acha que a eminente tragédia aérea é um golpe a sua vida; o piloto bissexual que é casado, pai de dois filhos e mantém um relacionamento com seu comissário de bordo; a sensitiva que por ser virgem acha que inibe os homens; o recém casal que só faz dormir; entre outros) em uma história de um voo que enfrenta problemas e não consegue aterrissar porque não tem um dos trens de pouso, Almodóvar, que como de hábito além de dirigir escreve, parece mais interessado em criar boas sequências independentes do que unificá-las em um filme.
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Michael Haneke é considerado hoje um dos melhores diretores em atividade. Seus últimos dois filmes ganharam a Palma de Ouro em Cannes e foram celebrados como grandes acontecimentos cinematográficos. A Professora de Piano, filme de 2001, é seu primeiro filme maduro em que ele abandona uma estética de violência extremamente gráfica, cheia de referencias a cultura pop e videogames e adota o ar contido, preciso e denso que lhe valeria tantos prêmios.
Isso não quer dizer que A Professora de Piano não seja um filme violento, ele é, e muito, mas se trata de uma violência interna, do corpo, mas principalmente da alma, motivada e por isso muito mais difícil de escapar do que o banho de sangue gratuito que ele apresentou em Funny Games (não por acaso traduzido no Brasil como Violência Gratuita).
O filme é uma adaptação do romance A Pianista, da ganhadora do Nobel Elfriede Jelinek e tem como protagonista Erika Kohut (Isabelle Huppert), uma professora de piano que vive com a mãe controladora e é dona de desejos sexuais obscuros. Erika não é exatamente reprimida sexualmente, mas emocionalmente, a invasão e o controle da mãe não roubam dela apenas a possibilidade de uma existência física, mas também de uma vida interior, de uma personalidade. Haneke é maravilhoso ao construir a relação entre as duas em sutilezas, como Erika dormir na cama da mãe apesar de ter seu próprio quarto, e na interpretação das atrizes, ao invés de inundar seu filme com clichês psicanalíticos e verborragia, o que muitos diretores fariam.
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Se você vai fazer um filme sobre algum assunto controverso, polêmico ou qualquer coisa nesse campo semântico, uma coisa que eu considero muito necessária é a ausência de julgamentos. E essa é uma das coisas que faz Boogie Nights – Prazer Sem Limites (Boogie Nights, 1997), do Paul Thomas Anderson, funcionar: os fatos são expostos, as pessoas são mostradas indo a extremos bons e ruins, mas ninguém é condenado por suas ações. O olhar do diretor, aliás, reconhece a humanidade e fraqueza de seus personagens e sabe mostrá-los de um modo natural, sem aquele tom irritante de quem quer catequizar o expectador ou expor algo para que a gente perceba que é feio, sujo e blábláblá.
Boogie Nights é sombriamente cômico, muito divertido e totalmente original. Atravessando o auge da era disco, de 1977 a 1984, o diretor oferece uma exploração visual deslumbrante do cenário do entretenimento adulto – ou, num português claro, da indústria pornográfica. Centrado num grupo de atores, produtores de diretores de filmes hardcore, o longa nos mostra que seus integrantes são como uma família unida. Na saúde, na doença, na alegria e na tristeza, eles estão todos ali uns para os outros. E não é só pela abordagem do tema que Boogie Nights chama a atenção, é também pela técnica de P.T.A., que demonstra segurança, paixão pela exploração de possibilidades e por uma nova maneira de se contar histórias: combinando o lado sórdido de suas personagens com o lado humanitário, Paul mostra que todo mundo é composto de valores dúbios e, por isso, os julgamentos não cabem em suas narrativas.
Em linhas gerais, Boogie Nights trata da ascensão e da queda de Eddie Adams (Mark Wahlberg), um adolescente bonito que trabalha na cozinha de uma boate em San Fernando Valley. Em casa, o ambiente que Edddie encontra não é dos melhores: seu pai é completamente passivo e submisso e sua mãe faz questão de lembrar, a todo tempo, que ele é um fracasso completo. Porém, quando Jack Horner (Burt Reynolds), um produtor pornô de sucesso, o vê na boate em que trabalha, as coisas mudam de figura, já que Jack lhe promete uma carreira promissora no ramo. Ingênuo e manipulável, Eddie, em pouco tempo, fica completamente imerso em seu novo universo que, pelo clima familiar, substitui o afeto de seus pais. E, claro, há também o estilo sedutor de vida, regado a sexo, drogas e rock’n’roll.
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Antes de começar a falar a respeito de Cinderela Baiana, preciso deixar vocês com uma reflexão: haters gonna hate. Sempre. Nada nunca será unânime e estará livre de críticas. Dito isso, a gente pode começar a falar a respeito dessa maravilha esquecida que os anos 90 (sempre eles!) nos proporcionaram.
Quando seu estrelato enquanto dançarina do É O Tchan! atingia o ápice, Carla Perez resolveu que era hora de mostrar ao mundo que era mais do que uma loira gostosa. E o modo que encontrou para fazer isso, foi lançar uma espécie de cinebiografia sua. Narrando a infância pobre no interior da Bahia – e mostrando a pobreza de determinadas regiões do estado -, as dificuldades de perder a mãe ainda na infância e as lutas enfrentadas por Carlinha e seu pai quando partem para Salvador em busca de uma vida melhor, os envolvidos em Cinderela Baiana criaram uma pérola do trash nacional. Embora alguns insistam em dizer que é horrível e não tem mérito nenhum, eu digo que não é bem por aí. Se tem uma coisa que a gente pode bater no peito e falar que diretor, roteirista e atores conseguiram fazer com louvor foi tornar o longa genuíno. Exatamente pela inocência com que tudo é feito. É como se eles não tivessem noção nenhuma do que era necessário. Só contassem mesmo com a vontade de executar o projeto.
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Assim como as tortas feitas por Jenna Hunterson, protagonista de Garçonete, tem um sabor especial, esse filme – que num primeiro contato pode parecer apenas mais uma comédia romântica água com açucar – também possui um algo a mais. Dirigido e escrito pela finada Adrienne Shelly, ele parece feito com o mesmo afeto com que a personagem principal cozinha.
Sua história gira em torno de uma garçonete (a fofa Keri Russell, muito à vontade no papel) que trabalha num bar/restaurante de gosto duvidoso. Casada com um homem negligente e grosseiro, grávida e sem perspectivas de mudança, ela passa a notar que sua vida pode se tornar melhor quando surge a chance de participar de um concurso culinário. Para adicionar um “tempero” a mais na trama, a moça nota ainda que é difícil controlar a queda que possui pelo seu médico – e que ele também retribui todo esse encantamento.
Se a trama não é muito inovadora, Adrienne consegue extrair o melhor dela, mostrando bastante carinho por sua criação. Há personagens cativantes, reviravoltas (quase) sempre convincentes, momentos de humor e drama na mesma medida e, principalmente, sentimento. Mas mesmo com um leve tom de conto de fadas, tudo é bastante pé no chão: Jenna se decepciona, esbarra com diversas frustrações, e o máximo de alívio que a trama possui em determinadas sequências são os flashs sonhadores (e saborosos) da garçonete ou a participação de alguns coadjuvantes, como sua melhor amiga ou o resmungão Old Joe.
É uma vida cotidiana, mas com tanto potencial para ser algo mais – e que a protagonista vez ou outra nem nota existir -, que você torce de verdade pra que ela quebre esse “roteiro” quadradinho, encare outros horizontes e se aventure pela vida que sempre quis ter. É essa empatia sincera que torna a experiência de ver Garçonete marcante.
É daqueles filmes que deixam um gosto bom com você depois que termina, com um apanhado de ingredientes misturado com cuidado e fácil de agradar.
A simples presença de Ian McKellen, o responsável por dar vida ao mago Gandalf na franquia O Senhor dos Anéis e ao Magneto em X-Men, já é o bastante para atrair olhares. Quando você pensa que um papel cômico é uma coisa quase inédita na carreira do ator, fica ainda mais interessado e intrigado sobre o que está por vir. E aí é só somar a presença de Gary Janetti, que esteve envolvido com Family Guy e Will & Grace, e acrescentar a atmosfera de sitcom dos anos 90 que, para os fãs de comédias é sempre bem vinda, e pronto: fica parecendo que o seriado é daqueles que você precisa assistir. Mas é bem isso: tudo fica somente no plano das aparências.
A série conta a história de um casal de homossexuais, Freddie (McKellen) e Stuart (Derek Jacobi) que vive junto há 50 anos. O fato de Ian McKellen também ser homossexual (e ter o simpático hábito de arrancar as páginas da bíblia que fazem alusões negativas a essa orientação em todos os hotéis onde se hospeda), dão a impressão de que ele não se envolveria com um projeto ofensivo, certo? Errado. Eu nunca vi nada tratando do tema que se apoiasse tanto em estereótipos e clichês negativos. Em todas aquelas coisas que os ativistas se esforçam para desconstruir.
Freddie e Stuart são extremamente bitchy – na falta de uma palavra em português que represente melhor o espírito da dupla – e maltratam todos ao seu redor. Violet (Fraces de la Tour, a Madame Maxime de Harry Potter), a suposta melhor amiga dos dois, tem todos os detalhes da sua vida passados por um julgamento constante e cortante, onde coisas como a sua aparência, a sua idade e o número de relacionamentos falhos que ela já teve são expostos e escarnecidos – porque para ser só uma sátira os autores teriam que cortar diversas partes do roteiro. Há até mesmo a presença de uma “piada” relacionada a estupro logo no piloto da série, o que fez meu estômago revirar.
Apostando em situações relacionadas à moda (coisa que Will & Grace e qualquer outro seriado envolvendo homossexuais já fez melhor), Vicious representa os gays fúteis, já que as sua dupla de protagonistas está sempre julgando as pessoas por aquilo que elas vestem. E isso nem é o problema mais grave: a pior parte fica por conta da fobia que Freddie e Stuart possuem de envelhecer e da maneira como precisam sempre parecer melhores, mais bonitos e mais bem sucedidos (mesmo que não sejam) do que todos que os cercam.
Um bom exemplo disso é quando Ash (Iwan Rheon, o Ramsey Bolton, de Game Of Thrones), o vizinho de cima, conta para eles que arrumou um emprego como protagonista de um filme independente. Freddie, um aspirante a ator que nunca conseguiu fazer com que sua carreira decolasse, fica tão mortificado com o fato que começa a tratar as pessoas ao seu redor com educação e o mínimo de carinho, o que faz também com que os gays sejam representados como criaturas invejosas e mesquinhas, coisa corriqueira de se ver, mas que eu não esperaria de um projeto que envolve as pessoas citadas.
Fiquei ofendida e envergonhada assistindo diversas cenas da série. Não sei mesmo como ela vem recebendo tantas críticas positivas de sites voltados para a TV. Acho que as pessoas se acostumaram a ver coisas ofensivas sendo tratadas como normais no que tange a homossexualidade. E nem dá pra dizer que o roteiro tenta te ludibriar para que você solte um sorrisinho ou outro assistindo a Vicious: tudo ali é dito em alto e bom som, para a nossa tristeza.
Vicious Criada por: Mark Ravenhill Onde assistir: por enquanto, nenhum canal do Brasil exibe a série
Bem antes de Lady Gaga tentar se mostrar original devido à sua extravagância. Muito, muito antes que a moça se tornasse um astro pop que toca piano de um modo, hmm, peculiar. Décadas antes que Gaga decidisse que vestir o personagem nas ruas e se comportar como ele era legal, houve Liberace (Michael Douglas). E se em Lady Gaga tudo soa como releitura, pastiche ou forçação de barra, em Liberace tudo era originalidade. Os candelabros em cima do piano, as roupas kitsch, o ego gigantesco (exibido no palco e fora dele), as declarações WTF, o estrelato que sobe a cabeça, a necessidade de superexposição e afeto e, claro, o modo como tudo isso pode se tornar destrutivo.
À primeira vista, Steven Soderbergh não pareceu uma escolha muito certeira para fazer tal filme. O colorido que retratar Liberace exigiria, bem como as doses certeiras de trágico e cômico, soavam como algo com o que Almodóvar poderia trabalhar. Mas, o fato é que Soderbergh conseguiu fazer um filme com a sua cara – no sentido de velocidade, agilidade e um tom bastante analítico – e ainda assim dar conta de tratar a respeito de todos os aspectos citados. Por meio do cuidado, quase obsessivo, com a exposição de detalhes e dos excessos – nos figurinos, na casa e na própria personalidade do biografado – o diretor constrói um filme engraçado, vibrante, triste e, porque não, um pouco perturbador. Todas as figuras ali, em algum nível, causam repulsa e piedade. E isso é exposto sem julgamentos e sem objetivos moralizantes. A ausência de uma tomada de partido de Steven Soderbergh mostra que não há um herói ou um vilão na história de Liberace: há apenas pessoas quebradas, carentes e dependentes de aprovação levando as suas necessidades a um extremo destrutivo.
Liberace, principalmente, por sua obsessão por si mesmo, que fica bastante clara quando ele força Scott (Matt Damon) a passar por uma série de cirurgias plásticas para se parecer com um “jovem Liberace”. Mas, ao mesmo tempo, é inevitável que você lamente pelo quanto a fama – e o seu amor por ela – apagaram de sua personalidade. O único objetivo do pianista é conservar seus fãs, não importando quem ele precisa atropelar no trajeto. Desse modo, ficamos sabendo de sua coleção de ex amantes, todos mais jovens, que eram dispensados por seu empresário tão logo um outro rapaz bonito se aproximava dele. Dentro do longa, isso funciona como uma maneira de demonstrar o medo que Liberace tinha da velhice. Era como se mantendo o ambiente e as pessoas ao redor de si jovens, ele conseguisse, de algum modo, se manter jovem. Outro fator que coopera para que o público não sinta desprezo pelo personagem é o fato de que ele era “obrigado” a sustentar mentiras, como um noivado com uma patinadora, para que a verdade sobre sua sexualidade não se tornasse pública, já que isso simbolizaria um baque em sua popularidade.
Scott, o “amante da vez” e aquele que passou mais tempo ao lado do pianista, também é uma figura que nos provoca sentimentos confusos. Sua submissão e vontade extrema de agradar, aliadas a uma certeza de que ele não tinha absolutamente nada se Liberace perdesse o interesse por ele, fazem com que ele abra mão até mesmo o seu rosto e a sua individualidade para conservar o relacionamento dos dois. Após passar pelas cirurgias plásticas, seu rosto fica completamente desfigurado e, aos poucos, seu corpo vai sendo consumido pela “Dieta Californiana” (que consiste, basicamente, em misturar anfetaminas com álcool), indicada a ele por seu cirurgião Jack Startz (Rob Lowe).
E já que estamos falando em Rob Lowe, aqui é preciso ressaltar o trabalho incrível dos responsáveis pela maquiagem de Behind The Candelabra. Lowe se encontra tão deformado e tão grotesco que levamos alguns minutos para reconhece-lo. E o ator compõe um personagem tão asqueroso e tão frívolo que não podemos deixar também de ressaltar o seu talento. Aliás, indo um pouco além, o grande trunfo de Candelabra são os seus atores. Michael Douglas está tão afetado e tão exagerado que chega a irritar, mas que não poderia ser uma representação melhor de Liberace. Arrisco a dizer que caso o filme não tivesse sido feito para a TV, Michael poderia esperar por uma indicação ao Oscar.
Entre excessos e reflexões, um ritmo ágil e muitos cristais svarowski, Steven Soderbergh entrega uma cinebiografia que tem como principal mérito não tentar justificar quaisquer ações de seu “homenageado”. Nem para o bem, e nem para o mal. Parece que o diretor não se importa se gostamos ou não de Liberace, mas antes quer contar a sua história. Com todos os tropeços e enganos possíveis para que a gente possa ter uma dimensão da grandeza e do sucesso do pianista, mas também seja capaz de enxergar o quanto ele tinha de humano e, exatamente por isso, cheio de defeitos.
Behind The Candelabra, de Steven Sodebergh Behind The Candelabra. Com: Michael Douglas, Matt Daemon, Rob Lowe, Scott Bakula, Randy Lowel, Eric Zuckerman
Recomendável ler o texto abaixo escutando a música de abertura.
Arquivo X, que em Portugal recebeu a tradução (massa!) de Ficheiros Secretos, foi a série mais hipster dos anos 90. Tá, nem era hipster. Porém, foi extremamente cult a ponto de eu ter uma carteirinha de fã, camiseta com a estampa de Mulder e Scully na frente e ler um periódico (sim!) chamado O Pistoleiro Solitário, inspirado/plagiado no jornal que os três personagens loucos por conspiração da série, e também grandes ajudantes nerds de Mulder (Frohike, Byers e Langly) escreviam.
O barato já começava logo no tema de abertura, com música de Mark Snow, e frases que deram o tom ‘teorias da conspiração’ da obra como “a verdade está lá fora”, “não confie em ninguém” (muito pertinente nos dias de hoje) e “eu quero acreditar” (talvez não tão pertinente hoje em dia).
Criada por Chris Carter, conta as peripécias dos agentes do FBI Fox Mulder (David Duchovny) e Dana Scully (Gillian Anderson) nos intitulados Arquivos X; pilhas de casos paranormais que nunca foram explicados e que o FBI simplesmente resolveu arquivar/ignorar porque um, ninguém acreditava mesmo, e dois, era impossível provar qualquer coisa. E três, porque dava uma trama de série massa (tô na vibe dos anos 90).
Traumatizado com a abdução da irmã há mais de vinte anos, o agente Mulder resolve tomar as rédeas desses arquivos e provar que extraterrestres existem sim, que a abdução da irmã não é só fruto de trauma infantil, e que o governo (este safado!), sempre soube de tudo e escondeu a verdade da população por motivos obscuros. Enquanto Mulder é o cara que em tudo acredita, Scully usa sua formação como médica cética para fazer o parceiro ‘cair na real’. Homenzinhos verdes? Ah, vá!
No final, porém, ninguém ri por último. Scully sofre horrores antes de admitir (lá pela sétima temporada), que Mulder estava certo. Demora gente. Bastante. O legal mesmo está nas brigas dos dois, e no fato de que, quando o assunto é religião, quem fica do lado cético é o Mulder. Scully não crê no que diz respeito a ETs, mas acredita em Deus e carrega um pingente com uma cruz. Lá pela sexta temporada você já está meio de saco cheio do ceticismo da Scully, mas ela é uma personagem tão foda que a gente releva. Eu juro.
A série é um deleite para fãs de conspirações e atividades paranormais. Foram nove temporadas de puro sofrimento, episódios de arrepiar, e dois filmes (sendo o último bastante criticado). Só começou a desandar quando o ator David Duchovny resolveu que queria ser ator de cinema (nem virou nada) e abandonou os Arquivo X no final da sétima temporada, aparecendo somente nos episódios finais da oitava e nona. Alguns fãs (eu, inclusive) ficaram tão indignados com isso que pararam de assistir a série. Anos depois, admito que o agente John Dogget (vivido por Robert Patrick), que substituiu Mulder, era um personagem que embora parecesse raso, tinha camadas interessantes. E tinha química com a Scully. Também foi interessante que a Scully virasse ‘o Mulder’ da oitava temporada, e Dogget fosse o tira durão das antigas que não acreditava em absolutamente nada. Todavia continuo achando a nona temporada bastante ruim comparada ao resto da série. A agente Monica Reyes (Annabeth Gish) não emplacou como substituta de Scully, e a parceria Dogget/Reyes foi uma decepção. Não me lembro de nenhum episódio memorável nessa fase, e a trama de super soldados fugiu totalmente ao misticismo da série e ficou bastante ridícula. O episódio final da série também ficou aquém das expectativas, com a volta de Mulder só pra dar uma satisfação para os fãs, e um encontro anticlímax total com o vilão da série, O Canceroso.
No entanto, mesmo com os momentos nem tão legais de sua reta final, Arquivo X continua a ser uma de minhas séries favoritas, com personagens e episódios épicos. Altamente recomendável para fãs do gênero de ficção científica. Cinco estrelinhas, coração com a mão.
Acompanho a história do dr. Hannibal Lecter desde que era criança e cada notícia a respeito do lançamento de outro filme, minha ansiedade atingia níveis absurdos. Esperei ansiosamente por Dragão Vermelho (Red Dragon, 2002), por Hannibal (Hannibal, 2001) e por Hannibal - A Origem do Mal (Hannibal Rising, 2007). De todas essas produções, somente a primeira conseguiu exceder as minhas expectativas. Assim, quando soube que uma série a respeito de Lecter seria lançada, meus sentimentos não poderiam ser mais conflitantes. De um lado, estava a felicidade por conseguirem estender a história. De outro, o medo de que o enredo e a execução fossem tão medíocres quanto os de Hannibal e Hannibal – A Origem do Mal. Porém, após alguns minutos do primeiro episódio, eu fui tranquilizada.
O primeiro acerto de Bryan Fuller e sua trupe está na escolha do protagonista da história, Will Graham (Hugh Dancy), um consultor do FBI. Embora, ao longo dos anos, a relação entre dr. Lecter e Clarice Starling tenha sido mais explorada e, para alguns, seja mais fascinante, ao colocar o fragilizado e instável Will como figura central da trama, tem-se a oportunidade de explorar a faceta psiquiatra de Hannibal (Mads Mikkelsen) – que, até então, não foi abordada senão por meio dos jogos mentais realizados por ele com os seus visitantes na prisão de segurança máxima. Além disso, por meio da parceria dos dois para encontrar um assassino conhecido como Picanço de Minnessota, pode-se ver como a amizade entre eles foi iniciada, como a confiança foi estabelecida e como Lecter conseguiu driblar a percepção de um homem conhecido exatamente pela sua capacidade de reconhecer psicopatas.
Outro acerto, que acrescenta não somente em termos de narrativa, mas como recurso de imagem, é o modo como os criadores de Hannibal escolheram demonstrar a capacidade de Will de analisar as cenas do crime. A fotografia da série, sempre tão sóbria, assume tons mais amarelados e vemos Graham na posição de assassino. Por meio de uma câmera em rewind, que limpa os cenários e nos mostra como funciona o raciocínio de Graham, sua capacidade de empatia fica clara para o público e se mostra como algo primordial para que ele consiga prender os assassinos que caça.
Parte do mérito pelo bom andamento desse início de temporada é do dinamarquês Mads Mikkelsen. Compondo um personagem carismático e manipulador, que se afasta o bastante daquele vivido por Anthony Hopkins, o ator faz com que o público pense se tratar de outro Hannibal Lecter. Um Lecter cuja capacidade de observação, as palavras precisas, o jeito contido e o distanciamento são capazes de dissimular os gostos escusos e suas verdadeiras motivações.
Hannibal mostra um começo promissor. Especialmente por se apoiar em recursos diferentes daqueles apresentados nos filmes e não tentar construir suspense em torno da identidade do canibal. Numa mid-season de séries mornas e que se perdem de seus propósitos, se os criadores não se renderem à tentação de explorar mais os casos do FBI do que os relacionamentos entre Lecter e as demais personagens, Hannibal tem tudo para ser o grande destaque dessa temporada.
Hannibal Criado por: Bryan Fuller Onde assistir: NBC (Estados Unidos) e AXN (Brasil)
A essa altura do campeonato você já deve ter ouvido falar em Mad Men, mas caso você tenha ficado preso dentro de um poço pelos últimos seis anos, farei o meu bondoso papel e explicarei sobre o que a série trata.
Iniciada em 1960, época em que a garotada estava descobrindo as drogas e o rock’n roll, e as mulheres resolveram queimar seus sutiãs em prol dos seus direitos; Mad Men conta a vida dos publicitários da agência Sterling Cooper Draper Pryce. Só isso. Parece meio chato, não? Mas então, só parece.
Conhecemos um cara chamado Don Draper (aqui, vivido pelo dotado talentoso Jon Hamm), casado e com dois filhos, ele exerce o poder de Deus na agência: diretor de criação. Mas logo descobrimos que Don Draper não é bem quem ele diz ser. Adultero e mulherengo, o cara também esconde a sua verdadeira identidade. Mas por que ele esconde? Quem ele verdadeiramente é? O que pretende? Ao mesmo tempo em que ficamos instigados com Draper, vemos também que todos os outros personagens são igualmente vigaristas, mentirosos, e que têm sua sujeira. Melhorou, né?
Com o passar dos episódios, tudo vai virando um novelão de classe. Pense em publicidade, Maria do Bairro e Michelangelo Antonioni ao mesmo tempo. Segredos, mentiras, criações, bebidas, fumaça. Inegavelmente uma das melhores produções televisas no ar.
E não é só a minha opinião. Desde a sua estreia, Mad Men aparece anualmente no topo da lista da crítica internacional como uma das melhores séries do ano. Isso acontece graças aos roteiros do Matthew Weiner, o cara que comanda tudo, o Manuel Carlos americano. Com suas nuances e sutilezas, a história consegue nos surpreender semanalmente, mesmo com o seu ritmo lento. Mad Men também possui o recorde absoluto nos Prêmio Emmy, onde foi eleita como a melhor série dramática por quatro anos consecutivos.
Até agora foram lançadas cinco temporadas. Um trabalhão pra ver? Nem tanto. A HBO exibe a série semanalmente ao longo da tarde. Suas quatro primeiras temporadas estão disponíveis em DVD em solo brasileiro. O Netflix possui as cinco temporadas completas no acervo, com legendas e dublagem, como preferir. E desde a semana, dia 24, a TV Cultura começou a exibi-la desde o primeiro episódio às 22h. Te convenci, hein? Pois não perca tempo e passe a se envolver com as mentiras (e com a vida) desses publicitários.
Mad Men Criado por: Matthew Weiner Onde assistir: AMC (Estados Unidos), TV Cultura, Netflix e HBO (Brasil)
Três coisas me vieram, imediatamente, na cabeça quando li a respeito de The Following: um (excelente) episódio de Masters Of Horror, chamado The Black Cat; o longa O Corvo (The Raven, 2012); e a história de Jim Jones e seus seguidores. O primeiro por retratar muito bem a figura do escritor torturado pelo bloqueio artístico e pela crítica; o segundo pela presença do serial killer que usa a literatura de Edgar Allan Poe como base e justificativa para seus crimes; e, por fim, o terceiro pela presença da alienação massiva de pessoas fragilizadas que sentem a necessidade de pertencimento. Para mim, o somatório desses itens nos dá como resultado o mote do seriado, que mesmo sem muita originalidade consegue soar atrativo.
The Following conta a história de Joe Carrol (James Purefoy), um serial killer que usa os poemas de Poe como inspiração para assassinatos, e de Ryan Hardy (Kevin Bacon), o detetive do FBI responsável por prender Carrol. Tudo se inicia quando Hardy recebe a notícia de Carrol conseguiu escapar de uma prisão de segurança máxima. Por meio de investigações, ele e o restante da equipe responsável por prender Joe, acabam descobrindo que, usando os computadores da prisão, o assassino conseguiu recrutar pessoas para formar uma seita.
Os quatro primeiros episódios da série têm como mérito a imersão completa no imaginário de Poe. Referências a O Corvo, O Gato Preto e outras obras significativas do escritor aparecem por meio da maneira em que Carrol opta por matar as suas vítimas, pelo modo como seus corpos são posicionados na cena do crime, por inscrições nas paredes e por meio das lembranças de Hardy, que nos mostram como a “Teoria Poe” foi desenvolvida e provada por ele anos antes. A trilha sonora também coopera para a criação do clima sombrio e conta com nomes como Marylin Manson, Deftones, Band Of Skulls, Sepultura e Garbage.
Porém, em determinado ponto, fica a impressão de que o roteiro começa a se perder nos seus propósitos iniciais. Edgar Allan Poe tem sua importância diminuída na trama, sendo citado novamente só no décimo quarto episódio, por meio de uma personagem que diz se chamar Annabel Lee. Outro fator que pesa negativamente é o alcance da seita: em dado momento ele se torna tão extensivo que tem-se a impressão de que a tecnologia que seus membros possuem é mais avançada do que a do FBI. E isso não é tudo: estamos a algumas horas do season finale e os objetivos de Carrol e seus seguidores ainda não estão bem delineados. Isso pode ser prejudicial, já que perseguições policias e assassinatos gratuitos têm tudo para cansar o público mais exigente.
Ao fim dos catorze episódios exibidos pela Fox, fica a impressão de que as coisas que funcionavam como força-motora do seriado, o tornavam interessante e representavam o seu diferencial, foram deixadas de lado para dar lugar a uma trama que se apoia em todos os clichês do gênero e sem fazer um bom uso deles. Eu poderia apontar várias maneiras de corrigir os erros cometidos pelo roteiro, mas acho que a chave para The Following se encontra na lembrança de quem era o verdadeiro protagonista do seriado: a obra de Edgar Allan Poe.
The Following Criado por: Kevin Williamson Onde assistir: Fox, segunda-feira às 22h
A primeira vez que tentaram me convencer a assistir How I Met Your Mother, me disseram que se tratava de um Friends 10 anos depois. E, como era de se esperar, despertaram a minha antipatia automaticamente. Porque na época, eu tinha acabado de assistir as 10 temporadas de Friends em sequência e estava completamente apaixonada. Tinha certeza de que não importava o que esse tal How I Met Your Mother pudesse ter para me oferecer, não seria mais engraçado do que a sua “matriz”. Por isso, só fui assistir o seriado no ano passado. Fui conquistada com poucos episódios e por uma série de razões que seria oversharing expor aqui.
Tudo começa quando Ted Mosby (Josh Radnor) decide sentar os seus filhos na sala de casa e contar a história de como conheceu a sua mãe. Somos apresentados a um grupo de amigos que, instantaneamente, justifica a comparação feita. Lily (Alyson Hannigan) e Marshall (Jason Segel), um casal que está junto desde a época da faculdade e Barney Stinson (o lindo do Neil Patrick Harris), um conquistador sem escrúpulos, cuja maturidade pode ser comparada a de uma criança de 10 anos. Eles se reúnem frequentemente num bar, o McLaren’s, para falar sobre a vida, tomar cerveja e esse tipo de coisa. E é exatamente nesse cenário que a trama começa a se desenvolver: Robin Scherbatsky (Cobie Smulders), uma jornalista canadense tão bonita quanto emocionalmente indisponível, entra com um grupo de amigas, chama a atenção de Ted e, depois de um “acidente”, os dois saem juntos. A partir de uma série de situações engraçadíssimas (e um pouco tristes, se a gente for parar para pensar), somos levados a acreditar que aquela é a mãe dos filhos de Ted apenas para sermos interrompidos pela voz do próprio, no futuro, dizendo que essa é a história de como ele conheceu a tia Robin.
Apesar de ser meio frustrante saber disso logo no início, não atrelar o destino de Robin e Ted foi uma escolha esperta. Do contrário, a trama poderia ser resumida a anos e anos de desencontros, no melhor estilo Ross e Rachel, para, ao fim da série, acontecer aquilo que poderia ser previsto de cara. Outro acerto relacionado à Mãe (ela se torna quase uma entidade durante as 8 temporadas e merece a letra maiúscula, acredite) foi deixar pequenas pistas a respeito dela ao longo da série como, por exemplo, o guarda-chuva amarelo. Isso servia para ajudar a compor a personalidade da garota pela qual todos esperávamos ansiosamente e também para ter a certeza de que um dia Ted a encontraria. Em meio a tanta tristeza e frustração amorosa, servia de alento saber que, mesmo que só no fim, as coisas se ajeitariam para o protagonista.
É inevitável se identificar com a situação retratada por How I Met Your Mother, especialmente em suas temporadas iniciais. E eu acho que era aí que se encontrava o trunfo dos produtores. Porém, do começo da última temporada para cá, fica a impressão de que o roteiro se tornou preguiçoso e o foco, antes mantido na busca de Ted e nas situações vividas pelo grupo de amigos, se alterna e passa a ser criar situações forçadas que não conseguem atingir o efeito pretendido. Por exemplo, dedicar um episódio inteiro ao Playbook, uma espécie de livro onde Barney anota todas as suas cantadas bem sucedidas, foi desnecessário e não agregou em nada à trama. O mesmo serve para um dos episódios finais da temporada, onde Ted e Barney se encontram sentados no bar tentando se decidir se vão ao Robots vs Wrestlers e, então, surgem diversas versões futuras de ambos os personagens para expor a eles razões conflitantes para ir ou não.
Acho que How I Met Your Mother passa por um desgaste que acontece com todas as séries que ficam muito tempo no ar. Pelo menos, com o aparecimento da Mãe, nos segundos finais da 8ª temporada, pode-se ter a esperança de que o seriado volte para os trilhos. Afinal, reza a lenda de que o 9º ano será o último e o relacionamento entre ela e Ted precisará ser mostrado e bem desenvolvido. O jeito agora é esperar até setembro e ver o que nos aguarda após o fatídico (e muito esperado) casamento de Barney e Robin…
How I Met Your Mother Criado por: Carter Bays e Craig Thomas Onde assistir: na CBS ou na Fox Brasil
House of Cards foi lançada em 1° de fevereiro de 2013 pela Netflix e já veio arrebentando tudo e quebrando paradigmas. Adaptada do livro de Michael Dobbs e da minissérie britânica de Andrew Davies, a série foi uma aposta da Netflix no que o melhor ator Shakespeariano da atualidade, Kevin Spacey, chamou de ‘nova perspectiva’ na forma de como se fará TV daqui pra frente. Com roteiro e produção de Beau Willimon, um craque em assuntos políticos – Willimon foi co-produtor do também brilhante Tudo Pelo Poder (The Ides of March, 2011), e David Fincher, a primeira temporada foi lançada de uma vez só. O fenômeno da vez é o ‘streaming’. Nada de esperar uma semana pra assistir às cenas do próximo capítulo, nem de se descabelar com aqueles hiatos cruéis. Dá pra assistir aos 13 episódios num fim de semana. (Apenas lembre-se de comer nesse meio tempo.)
Cada episódio teve um custo aproximado de 3,8 milhões de dólares, e o pacote inclui uma segunda temporada, já em produção.
A série é sobre os bastidores da política em Washington. Frank Underwood (Kevin Spacey sendo fodão) é aquele politico macaco velho lutando pelo seu status quo. Depois de ter o tapete puxado pelo presidente eleito e ver o tão almejado cargo de Secretário do Estado indo para outra pessoa, Frank começa seu jogo de vingança. A Bonnie para o seu Clyde é sua mulher Claire, maravilhosamente interpretada por Robin Wright, que dá um show de compostura, elegância e muito sangue frio em qualquer situação. No relacionamento de Frank e Claire não há paixão, mas há muita cumplicidade. Ambos são a favor de fazer qualquer coisa pelo poder, inclusive usar o sexo como moeda. Nas palavras de Frank, ‘tudo é sobre sexo, menos o sexo, que é sobre poder’.
Frank narra tudo grande parte do tempo e no meio de uma cena tensa costuma virar-se para a câmera com um sorrisinho cínico e compartilhar com o telespectador seus pensamentos, tramoias e segredos. Sua personalidade amoral só titubeia durante uma homenagem prestada por sua antiga universidade onde descobrimos (surpresa, surpresa!) que ele um dia viveu uma grande uma paixão.
Ganha destaque na série o deputado Peter Russo (o ator revelação Corey Stoll) com suas fraquezas humanas, consciência pesada, sexo, drogas e rock&roll. Peter até se mostra uma pessoa com boas intenções, mas é facilmente manipulado pelo experiente Frank. No fim, os jogos da política acabam soterrando-o. Outra personagem de peso é a jovem jornalista Zoe Barnes (Kate Mara), que para se destacar no mundo cão midiático faz um pacto (do diabo) com Frank e deixa-se ser usada por ele, usando-o também sem a menor cerimônia. Aqui vemos como a política está entrelaçada à mídia, e como uma é mero joguete nas mãos da outra.
No mundo de House of Cards, você ganha ou morre. Não, péra. Show errado. Esse é um dos lemas de Guerra dos Tronos, mas bem que poderia ser o de House of Cards. Fica bastante claro que o eleitor é mero coadjuvante. O que está em jogo em Washington (e no mundo?) não é o interesse de todos, mas o interesse de alguns (como sempre). Todos querem a sua fatia do bolo. E fica claro também que políticos, assim como todos nós, são apenas peças, ou cartas, nas mãos de jogadores ainda mais implacáveis e cruéis, mas muito cruéis. Mas, atenção! Você poderá descobrir na história que há pessoas piores que ele! Principalmente na vida real.
House Of Cards Criado por: Beau Willimon Onde assistir: na Netflix, oras!
Se vocês observarem as minhas postagens sobre TV, vão perceber que eu acabo assistindo qualquer coisa que envolva serial killers. Acho fascinante a maneira como os detetives responsáveis pela investigação de determinado crime vão desenhando, através de pequenas pistas ou da observação de detalhes ínfimos, o perfil dos assassinos até conseguirem reduzir a sua gama de suspeitos a um grupo específico e, por fim, encontrar o responsável pelos crimes. Gosto especialmente dessas histórias quando elas não dedicam tempo demais a esconder a identidade do criminoso, mas antes o apresentam para nós em seus primeiros minutos. Assim nós também somos capazes de criar um perfil, o que torna tudo mais divertido e permite que as teorias de fã – tão interessantes quando surreais – surjam. A britânica The Fall me ofereceu todos esses elementos em seu único episódio já transmitido.
A premissa do seriado não difere muito do que já foi feito na área: um assassino de mulheres (vivido por Jamie Dornan), cujos crimes possuem conotação sexual, se encontra à solta e aterroriza a região de Belfast. A polícia local não possui qualquer pista que leve à revelação da identidade do criminoso. Logo nos primeiros minutos, vemos o sujeito entrar na casa de uma moça, mexer em suas coisas e ainda comer algo na cozinha, como se ele estivesse dizendo, tanto a ela quanto à polícia, que deseja que sua presença a seja notada. Então, por meio de um corte, vemos o mesmo cara a caminho de sua própria casa. Quando ele entra, somos surpreendidos pela primeira vez: um garotinho o espera sentado na escada e o chama de “papai”. Ok, você pode estar pensando: não há surpresa nenhuma em um assassino que se esconde por trás de uma fachada de pai de família. Mas, o surpreendente mesmo, é que o comportamento de Paul, o homem em questão, não parece normal mesmo quando ele se encontra em presença dos filhos (além do garoto, há também uma menina) e da esposa – que não nota as saídas noturnas do marido porque trabalha como enfermeira na UTI neonatal.
É perceptível que há alguma coisa errada com Paul. Seu comportamento misantropo, evidenciado pelas situações sociais que vemos durante o primeiro episódio, a sua frieza ao tratar os filhos e a mulher e o modo como a personagem, às vezes, simplesmente se desliga do mundo e não ouve nada que não esteja dentro da sua cabeça,causa incômodo e aguça a nossa curiosidade acerca do assassino, já que, além do que foi citado, pouco se sabe a respeito dele. Porém, o que mais incomoda é a maneira como ele parece estar sempre presente nos locais que suas vítimas frequentam. Aparentemente, a verdadeira diversão não reside em matar, mas antes em perseguir, em observar. Em fazer de todo o processo uma caçada na qual o alvo sequer percebe que há alguém na espreita.
Do lado da polícia o grande atrativo fica por conta da detetive especial Stella Gibson (Gillian Anderson), enviada pelo FBI para revisar as anotações, relatórios, fotos e etc. do assassinato de Alice Monroe. Até a chegada de Gibson, acredita-se que tal crime é um caso isolado e procura-se por um assassino, não por um serial killer. É por meio da observação de Stella que a polícia de Belfast encontra um link com outro crime, ocorrido cerca o de 3 meses antes, e que já contava com um suspeito. Porém, a teoria não é bem aceita pelas pessoas responsáveis pela investigação, pois sustenta-la significaria dedicar mais recursos e mais pessoas à revisão dos depoimentos do outro assassinato. Stella, porém, mesmo contrariando o chefe da polícia, se mostra determinada a comprovar que o assassino de Alice já havia matado antes. Que aquele não era um “trabalho” de iniciante devido à calma e a precisão com que tudo foi executado. Por isso, pode-se notar que Gibson, assim como Paul, também gosta da perseguição e é bastante boa nela. Sem dúvidas, daqui pra frente, uma das partes mais interessantes será observar como aquele que perseguia vai lidar com o fato de se tornar agora o objeto da caçada.
É complicado dizer se eu apostaria ou não no futuro da série. Primeiramente, porque o formato é diferente daquele ao qual estamos acostumados: em apenas 5 episódios tanto a personalidade de Stella quanto a de Paul, bem como as motivações de ambos, vão ter que ser expostas e desenvolvidas. É um formato mais acelerado, mas a julgar pelos acertos previamente mencionados, os produtores sabem o que estão fazendo e vão entregar uma história que cause tanto incômodo e curiosidade quanto esse primeiro episódio foi capaz de causar. E, caso contrário, pelo menos são 5 horas assistindo a Gillian Anderson ser incrível.
The Fall Criada por: Jakob Verbruggen Onde assistir: na BBC ou no computador mais próximo de você.
A cena de abertura de The Newsroom mostra o âncora Will McAvoy (Jeff Daniels no que talvez seja o melhor papel de sua carreira), do jornal News Night, participando de um debate sobre política, mais precisamente sobre os partidos republicano e democrata. Conforme o embate se intensifica, a câmera foca num silencioso Will, que está tendo um ataque de pânico, e o barulho ao redor vai ficando abafado. No meio da plateia ele tem a impressão de ver um rosto familiar. O mediador do debate o faz voltar a si. Um estudante universitário pergunta a Will se ele se considera republicano, democrata ou independente. Will lhe responde que se considera um fã do New York Jets, time de futebol americano da região metropolitana de Nova York. Risadas.
Will mantém-se em cima do muro por integridade jornalística ou por interesses corporativos? Novamente, Will sai pela tangente. A próxima pergunta vem de outra estudante com jeitinho tímido: ‘o que faz da América o grande país do mundo?’ Will novamente se esquiva, mas outra vez o rosto familiar da mulher na plateia faz com que Will tenha uma epifania, e sua afirmação de que os Estados Unidos não é o maior país do mundo gera espanto (!) geral. E se não bastasse essa declaração bombástica, Will solta a língua e faz uma crítica ferrenha à política e à sociedade americana.
A série é uma produção da HBO e já vinha sendo pensada por Aaron Sorkin, roteirista do filme A Rede Social (The Social Network, 2010) e da premiada série The West Wing, desde 2009. Sua ideia era criar uma obra sobre os bastidores de um telejornal que colocasse a informação acima de interesses políticos e comerciais – algo que definitivamente não se vê (se é que já se viu) nos dias de hoje. Sorkin conseguiu seu intuito. Os dez episódios da primeira temporada foram lançados em 2012, e seu episódio piloto bateu o recorde de audiência, com 2,1 milhões de espectadores.
Embora para os cínicos The Newsroom seja uma série sobre um ‘jornalismo conto de fadas’, o retrato do dia a dia na redação não deixa de ser cativante. Os temas de cada capítulo foram bem pensados e soam atuais, e apesar do sentimentalismo americano por detrás de alguns deles, e do desejo de que os Estados Unidos sejam novamente uma pátria de que não só os americanos, não há como não torcer para que o News Night, o tal telejornal, continue com sua integridade intacta.
A atuação dos atores é um show à parte. Jeff Daniels brilha como Will McAvoy, o polêmico âncora que resolve mandar o status quo para o inferno e comandar um jornal que tenha compromisso apenas com a verdade dos fatos e não com ‘quem paga mais’. Seu braço direito é sua ex-namorada e agora produtora executiva do programa MacKenzie McHale (Emily Mortimer), que parece inspirada em uma personagem de Audrey Hepburn pelos seus trejeitos delicados e cheios de personalidade. O relacionamento entre Will e MacKenzie relembra bastante as comédias românticas do começo dos anos 90, assim como o intrincado triângulo amoroso vivido por Jim Harper (John Gallangher, Jr), Maggie Jordan (Alison Pill) e Don Keefer (Thomas Sadoski). Outros personagens que merecem destaque são o escritor do blog de Will e admirador do Wikileaks, Neal Sampat (Dev Patel), a analista financeira Sloan Sabbith (Olivia Munn), o presidente da divisão de notícias Charlie Skinner (Sam Waterston) e friíssima presidente do canal Leona Lansing (interpretada por Jane Fonda, que dispensa apresentações).
O Homem de Aço
3.6 3,9K Assista AgoraO Super-Homem é um dos personagens mais emblemáticos da DC, e do mundo dos quadrinhos em geral, e provavelmente uma das figuras mais lucrativas da indústria de entretenimento mundial. Ainda assim, recentemente a editora vinha encontrando dificuldade em emplacar o personagem no cinema, a falta de qualidade dos filmes era um problema, mas mais que isso, o Homem de Aço parecia não se comunicar com as novas gerações, seu personagem aparentemente obsoleto em uma época de heróis menos maniqueístas, mais ambíguos.
No entanto, após o sucesso estrondoso da releitura que Christopher Nolan fez do Batman e da Marvel ter vendido, com relativo sucesso, o Capitão América (ainda mais anacrônico que o Super-Homem) uma nova tentativa se tornou inevitável. Confesso que fiquei surpresa quando um projeto desse tamanho foi parar nas mãos de um diretor que acabava de sair de um fracasso tão absoluto (não por acaso, todo material de divulgação diz apenas “do diretor de 300 e Watchmen“) e cuja fama nunca foi das melhores. Mas Zack Snyder, com supervisão de Nolan é preciso dizer, assumiu o trabalho de finalmente tornar o Super-Homem um blockbuster.
E Homem de Aço faz exatamente isso: ele torna o personagem palatável, viável para o público de hoje, menos patético e bom moço e entrega um filme com boas sequências de ação e altamente vendável. Não é que a direção exagerada e um tanto sem rumo de Snyder não esteja presente, ela está, mas a impressão é que o diretor foi posto na coleira e essa coleira foi entregue na mão de Nolan.
Leia mais em: http://www.outrapagina.com/blog/homem-de-aco/
Maria do Bairro
3.8 239Top 5 sobre novelas com Maria do Bairro na lista lá no blog da Outra Página: Top 5: http://www.outrapagina.com/blog/top-5-transformacoes-em-novelas/
A Usurpadora
4.4 757Top 5: Transformações (ou makeovers) em novelas: http://www.outrapagina.com/blog/top-5-transformacoes-em-novelas/
A Bela Que Dorme
3.2 58 Assista AgoraNo ano de 1990, a italiana Eluana Englaro sofreu um acidente de carro. Esse acidente a deixou em estado vegetativo e fez com que a sua família entrasse com um pedido para que os tubos de alimentação fossem removidos e ela pudesse morrer de um modo natural. O pedido, porém, foi recusado e o que se seguiu a ele foi uma briga judicial, agravada pela presença de grupos pró e contra eutanásia do lado de fora do hospital onde a moça se encontrava. Então, 17 anos depois, a decisão judicial foi revertida e a família de Eluana conquistou o direito de desligar os aparelhos responsáveis por mantê-la viva.
A história de Eluana Englaro é o motor do último longa de Marco Bellocchio, A Bela Que Dorme. O diretor, que sempre busca colocar situações importantes para a história de seu país de origem em seus filmes, cria uma história multinuclear, onde cada um de seus personagens lida com a morte eminente de um ente querido à sua maneira. A religião, sempre muito importante para os italianos, assume um papel primordial nas histórias, mesmo quando as personagens nem têm consciência de que desempenham alguns papéis porque, em algum nível, a religião disse que deveria ser assim.
Leia mais em: http://www.outrapagina.com/blog/a-bela-que-dorme/
Jericho (1ª Temporada)
4.0 50Imagine a seguinte situação: você, a ovelha negra da família, volta para sua cidadezinha natal, e, por ser uma pequenina comunidade, praticamente encontra todo mundo nos primeiros minutos. Para cada um, uma explicação diferente sobre os rumos que sua vida tomou nos últimos cinco anos. Sua mãe fica feliz em te ver finalmente depois de tanto tempo! Seu pai não está assim tão animado, principalmente ao saber que você só está de volta pra pegar uma possível herança deixada pelo avô. Seu irmão mais novo, aquele que é considerado o perfeito, olha para você com desaprovação. Tensão.
Você vai embora da cidade #chateado, cheio de mágoas, culpas e segredos. De repente, no horizonte, uma nuvem em forma de cogumelo. Marketing da Nintendo? Não. Explosão nuclear mesmo.
Esta é a história de Jake Green (vivido por Skeet Ulrich) e da cidade de Jericho num Estados Unidos pós-holocausto nuclear.
Jake retorna para Jericho e a encontra um caos. Com os meios de comunicação cortados, Jericho fica isolada de tudo. Sem notícias do que realmente está acontecendo, o medo se espalha. Cabe então ao prefeito Johnston Green (Gerald McRaney), o pai de Jake, colocar ordem no lugar e dar um show de liderança e administração. A população então tenta manter-se unida para evitar a escassez de alimentos, a falta de energia elétrica , mais tarde, milícias e uma cidade vizinha que não teve a mesma sorte.
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Renoir
3.5 208 Assista AgoraSem dúvidas, você vai ver filmes melhores do que Renoir esse ano. Mas as chances de você assistir a algo tão bonito quanto, do ponto de vista imagético, são pequenas. Os cenários e a fotografia do longa são tão bonitos que chegam a comover. Não consigo imaginar alguém olhando aquelas paisagens, marcadas por tons amarelados que transmitem a sensação de constante luminosidade, e não desejando habitar o universo das personagens. E quando você percebe que é tudo criação – tanto de Giles Bourdos, roteirista e diretor do longa, quanto do cinematógrafo Ping Bing Lee (que também é responsável pelo lindíssimo Amor À Flor Da Pele) -, dá pra sentir uma pontinha de frustração.
Claro, aquelas paisagens existem em algum canto da França. Mas não existem salpicadas de tons dourados e não com aquelas cores cuidadosamente pensadas. Nem com os personagens bem caracterizados (e, algumas vezes, sem caracterização nenhuma). A sensação que se tem assistido ao filme é a de se estar preso em uma pintura de Renoir (vivido por Michel Bouquet). Mas é uma impressão mais temporal e espacial do que uma descrição literal das telas do pintor. O filme inteiro combina perfeitamente com uma frase dita por seu personagem título em determinado momento: “Há coisas bastante desagradáveis na vida. Eu não preciso pintar mais coisas desagradáveis”.
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Mistresses - Amantes Revoltadas (1ª Temporada)
3.8 42Comecei a assistir Mistressess, o remake norte-americano da série produzida no Reino Unido, porque a sua sinopse prometia algo bem leve. Aquele tipo de coisa que só exige que você sente na frente da TV e se divirta com as intrigas apresentadas. Portanto, se você gosta de programas “de mulherzinha”, daqueles que dá pra ver com a melhor amiga comentando “ai, fulana/fulano não vale nada”, recomendo muito que você assista Mistresses. Se não, pode deixar pra lá porque não é mesmo a sua.
Resumidamente, o programa trata a respeito de um grupo de amigas, Savannah “Savi” Davis (Alyssa Milano), Karen Kim (Yunjin Kim), April Malloy (Rochelle Aytes) e Josslyn Carver (Jes Macallan), que em algum ponto de suas vidas foram amantes de alguém. Savi de um colega de trabalho e, até o presente momento, só por uma noite. Karen, de um de seus pacientes. April, por sua vez, sofre com a presença da amante de seu falecido marido em sua vida. E, por fim, Joss que é a amante convicta, aquela parte do grupo que detesta compromissos e tem múltiplos encontros com muitos homens – que, quanto mais indisponíveis, melhor servem aos seus objetivos.
Mistresses mostra os desdobramentos que todas as traições têm na vida de suas quatro protagonistas de um jeito que parece uma mistura de Sex And The City com Desperate Housewives. Ou uma versão crescida de Pretty Little Liars, já que todas ali têm segredos que, provavelmente, vão fazê-las de reféns em algum ponto da série.
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A Espuma dos Dias
3.7 478 Assista AgoraAté ontem eu nunca tinha ouvido falar em Boris Vian. Antes de ler o nome dele nos créditos de A Espuma dos Dias (L’Écume des Jours, 2013), aliás, achava que o longa partia de uma ideia totalmente original. Hoje, depois de pesquisar um pouco, vi que Boris foi um dos nomes mais marcantes da cultura contemporânea francesa. Há quem diga, inclusive, que dentro de seu país de origem o livro A Espuma dos Dias tomou o lugar de O Apanhador no Campo de Centeio o lugar ‘no coração de toda uma geração’.
O curioso nisso tudo é que depois que assisti ao filme, mesmo já sabendo que ele era baseado no livro de Vian, continuei pensando que se tratava de algo cem por cento autoral. Porque aquilo tudo que eu acabara de ver era Michel Gondry em seu estado mais puro. E quando digo aquilo tudo, meus amigos, estou falando de uma beleza plástica impressionante, de linhas escritas com ternura, e de imagens cheias de imaginação. E excessos.
Para criar um mundo fantástico que parece uma versão do futuro imaginada por alguém dos anos 40, Gondry conta com ferramentas que vão desde móveis especificamente projetados (a direção de arte é estupenda e enche os olhos com o design das peças e dos cenários) a animações em stop-motion. Toda essa alegoria visual combinada com uma câmera que não para e personagens exóticos (há um ratinho que interage com os protagonistas, um cozinheiro que também é mentor e advogado e um chefe de cozinha que vive dentro da tv/geladeira) causa um estranhamento gigante a princípio e promove um distanciamento forçado entre o espectador e as personagens. Tem tanta coisa acontecendo a todo o tempo em todos os espaços da tela que fica difícil se envolver. O que soa paradoxal, uma vez que nossa atenção cresce justamente por esses motivos.
Leia mais em: http://www.outrapagina.com/blog/a-espuma-dos-dias/
Celeste e Jesse Para Sempre
3.6 479 Assista AgoraCeleste e Jesse Para Sempre (Celeste and Jesse Forever, 2012) é um filme bastante agridoce e mais duro do que parece. E isso é reforçado até pelo “para sempre” do título, que pode não representar exatamente aquilo que alguns espectadores vão esperar para o casal protagonista. Não é (500) Dias Com Ela (500 Days Of Summer, 2010), mas bem que poderia vir com um aviso semelhante ao que o filme de Marc Webb traz no começo. Porque “essa não é uma história de amor”. Ou pelo menos não apenas.
Dá pra resumir a sinopse dessa forma: Celeste e Jesse (Rashida Jones e Andy Samberg, com ótima química e defendendo muito bem, em cena, as diferenças que seus personagens possuem) formam um casal, vivendo o auge de sua vida de casados. Com o passar do tempo e com o convívio diário, Celeste frustra-se com o relacionamento e decide se separar do rapaz. Tudo é contado de forma ágil, numa sequência que passa como um slideshow tragicômico diante de nós. Ele não consegue superar o rompimento, e os dois continuam bastante próximos, mas como amigos. A situação muda quando Jesse encontra uma nova mulher e passa a reconstruir sua vida. Celeste está “empacada” na mesmice, reavalia o enlace que tiveram e percebe que, talvez, não deveria ter encerrado as coisas da maneira que fez.
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Os Amantes Passageiros
3.1 646 Assista AgoraA Pele Que Habito. Abraços Partidos. Volver. Má Educação. Fale Com Ela. Tudo Sobre Minha Mãe. A Flor do Meu Segredo. Depois de dramas, melodramas e suspenses, Pedro Almodóvar, o diretor espanhol mais aclamado das últimas décadas, volta em Os Amantes Passageiros (Los Amantes Pasajeros, 2013) a um terreno que conhece muito bem: a comédia.
Mesmo tendo momentos pontuais de humor em todos os seus últimos longas, havia muito que Pedro não se entregava ao escracho e ao riso frouxo com tanta vontade. Retomando e abraçando o exagero de personagens incomuns e tramas absurdas, o diretor cria um filme mosaico que se passa num espaço diminuto, e por meio de pequenos esquetes ele faz rir e choca seu público, seja por declarações inesperadas ou por falas e imagens que beiram a escatologia, na mesma medida.
Costurando subtramas irregulares (há o pai que busca a filha que saiu de casa para ser dominatrix; o ator famoso que mente adoidado para suas mulheres; uma figura estranha e paranoica que acha que a eminente tragédia aérea é um golpe a sua vida; o piloto bissexual que é casado, pai de dois filhos e mantém um relacionamento com seu comissário de bordo; a sensitiva que por ser virgem acha que inibe os homens; o recém casal que só faz dormir; entre outros) em uma história de um voo que enfrenta problemas e não consegue aterrissar porque não tem um dos trens de pouso, Almodóvar, que como de hábito além de dirigir escreve, parece mais interessado em criar boas sequências independentes do que unificá-las em um filme.
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A Professora de Piano
4.0 688 Assista AgoraMichael Haneke é considerado hoje um dos melhores diretores em atividade. Seus últimos dois filmes ganharam a Palma de Ouro em Cannes e foram celebrados como grandes acontecimentos cinematográficos. A Professora de Piano, filme de 2001, é seu primeiro filme maduro em que ele abandona uma estética de violência extremamente gráfica, cheia de referencias a cultura pop e videogames e adota o ar contido, preciso e denso que lhe valeria tantos prêmios.
Isso não quer dizer que A Professora de Piano não seja um filme violento, ele é, e muito, mas se trata de uma violência interna, do corpo, mas principalmente da alma, motivada e por isso muito mais difícil de escapar do que o banho de sangue gratuito que ele apresentou em Funny Games (não por acaso traduzido no Brasil como Violência Gratuita).
O filme é uma adaptação do romance A Pianista, da ganhadora do Nobel Elfriede Jelinek e tem como protagonista Erika Kohut (Isabelle Huppert), uma professora de piano que vive com a mãe controladora e é dona de desejos sexuais obscuros. Erika não é exatamente reprimida sexualmente, mas emocionalmente, a invasão e o controle da mãe não roubam dela apenas a possibilidade de uma existência física, mas também de uma vida interior, de uma personalidade. Haneke é maravilhoso ao construir a relação entre as duas em sutilezas, como Erika dormir na cama da mãe apesar de ter seu próprio quarto, e na interpretação das atrizes, ao invés de inundar seu filme com clichês psicanalíticos e verborragia, o que muitos diretores fariam.
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Boogie Nights: Prazer Sem Limites
4.0 552 Assista AgoraSe você vai fazer um filme sobre algum assunto controverso, polêmico ou qualquer coisa nesse campo semântico, uma coisa que eu considero muito necessária é a ausência de julgamentos. E essa é uma das coisas que faz Boogie Nights – Prazer Sem Limites (Boogie Nights, 1997), do Paul Thomas Anderson, funcionar: os fatos são expostos, as pessoas são mostradas indo a extremos bons e ruins, mas ninguém é condenado por suas ações. O olhar do diretor, aliás, reconhece a humanidade e fraqueza de seus personagens e sabe mostrá-los de um modo natural, sem aquele tom irritante de quem quer catequizar o expectador ou expor algo para que a gente perceba que é feio, sujo e blábláblá.
Boogie Nights é sombriamente cômico, muito divertido e totalmente original. Atravessando o auge da era disco, de 1977 a 1984, o diretor oferece uma exploração visual deslumbrante do cenário do entretenimento adulto – ou, num português claro, da indústria pornográfica. Centrado num grupo de atores, produtores de diretores de filmes hardcore, o longa nos mostra que seus integrantes são como uma família unida. Na saúde, na doença, na alegria e na tristeza, eles estão todos ali uns para os outros. E não é só pela abordagem do tema que Boogie Nights chama a atenção, é também pela técnica de P.T.A., que demonstra segurança, paixão pela exploração de possibilidades e por uma nova maneira de se contar histórias: combinando o lado sórdido de suas personagens com o lado humanitário, Paul mostra que todo mundo é composto de valores dúbios e, por isso, os julgamentos não cabem em suas narrativas.
Em linhas gerais, Boogie Nights trata da ascensão e da queda de Eddie Adams (Mark Wahlberg), um adolescente bonito que trabalha na cozinha de uma boate em San Fernando Valley. Em casa, o ambiente que Edddie encontra não é dos melhores: seu pai é completamente passivo e submisso e sua mãe faz questão de lembrar, a todo tempo, que ele é um fracasso completo. Porém, quando Jack Horner (Burt Reynolds), um produtor pornô de sucesso, o vê na boate em que trabalha, as coisas mudam de figura, já que Jack lhe promete uma carreira promissora no ramo. Ingênuo e manipulável, Eddie, em pouco tempo, fica completamente imerso em seu novo universo que, pelo clima familiar, substitui o afeto de seus pais. E, claro, há também o estilo sedutor de vida, regado a sexo, drogas e rock’n’roll.
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Cinderela Baiana
2.0 1,1KAntes de começar a falar a respeito de Cinderela Baiana, preciso deixar vocês com uma reflexão: haters gonna hate. Sempre. Nada nunca será unânime e estará livre de críticas. Dito isso, a gente pode começar a falar a respeito dessa maravilha esquecida que os anos 90 (sempre eles!) nos proporcionaram.
Quando seu estrelato enquanto dançarina do É O Tchan! atingia o ápice, Carla Perez resolveu que era hora de mostrar ao mundo que era mais do que uma loira gostosa. E o modo que encontrou para fazer isso, foi lançar uma espécie de cinebiografia sua. Narrando a infância pobre no interior da Bahia – e mostrando a pobreza de determinadas regiões do estado -, as dificuldades de perder a mãe ainda na infância e as lutas enfrentadas por Carlinha e seu pai quando partem para Salvador em busca de uma vida melhor, os envolvidos em Cinderela Baiana criaram uma pérola do trash nacional. Embora alguns insistam em dizer que é horrível e não tem mérito nenhum, eu digo que não é bem por aí. Se tem uma coisa que a gente pode bater no peito e falar que diretor, roteirista e atores conseguiram fazer com louvor foi tornar o longa genuíno. Exatamente pela inocência com que tudo é feito. É como se eles não tivessem noção nenhuma do que era necessário. Só contassem mesmo com a vontade de executar o projeto.
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Garçonete
3.5 217Assim como as tortas feitas por Jenna Hunterson, protagonista de Garçonete, tem um sabor especial, esse filme – que num primeiro contato pode parecer apenas mais uma comédia romântica água com açucar – também possui um algo a mais. Dirigido e escrito pela finada Adrienne Shelly, ele parece feito com o mesmo afeto com que a personagem principal cozinha.
Sua história gira em torno de uma garçonete (a fofa Keri Russell, muito à vontade no papel) que trabalha num bar/restaurante de gosto duvidoso. Casada com um homem negligente e grosseiro, grávida e sem perspectivas de mudança, ela passa a notar que sua vida pode se tornar melhor quando surge a chance de participar de um concurso culinário. Para adicionar um “tempero” a mais na trama, a moça nota ainda que é difícil controlar a queda que possui pelo seu médico – e que ele também retribui todo esse encantamento.
Se a trama não é muito inovadora, Adrienne consegue extrair o melhor dela, mostrando bastante carinho por sua criação. Há personagens cativantes, reviravoltas (quase) sempre convincentes, momentos de humor e drama na mesma medida e, principalmente, sentimento. Mas mesmo com um leve tom de conto de fadas, tudo é bastante pé no chão: Jenna se decepciona, esbarra com diversas frustrações, e o máximo de alívio que a trama possui em determinadas sequências são os flashs sonhadores (e saborosos) da garçonete ou a participação de alguns coadjuvantes, como sua melhor amiga ou o resmungão Old Joe.
É uma vida cotidiana, mas com tanto potencial para ser algo mais – e que a protagonista vez ou outra nem nota existir -, que você torce de verdade pra que ela quebre esse “roteiro” quadradinho, encare outros horizontes e se aventure pela vida que sempre quis ter. É essa empatia sincera que torna a experiência de ver Garçonete marcante.
É daqueles filmes que deixam um gosto bom com você depois que termina, com um apanhado de ingredientes misturado com cuidado e fácil de agradar.
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Vicious (1ª Temporada)
4.3 94Vicious é uma grande promessa não cumprida.
A simples presença de Ian McKellen, o responsável por dar vida ao mago Gandalf na franquia O Senhor dos Anéis e ao Magneto em X-Men, já é o bastante para atrair olhares. Quando você pensa que um papel cômico é uma coisa quase inédita na carreira do ator, fica ainda mais interessado e intrigado sobre o que está por vir. E aí é só somar a presença de Gary Janetti, que esteve envolvido com Family Guy e Will & Grace, e acrescentar a atmosfera de sitcom dos anos 90 que, para os fãs de comédias é sempre bem vinda, e pronto: fica parecendo que o seriado é daqueles que você precisa assistir. Mas é bem isso: tudo fica somente no plano das aparências.
A série conta a história de um casal de homossexuais, Freddie (McKellen) e Stuart (Derek Jacobi) que vive junto há 50 anos. O fato de Ian McKellen também ser homossexual (e ter o simpático hábito de arrancar as páginas da bíblia que fazem alusões negativas a essa orientação em todos os hotéis onde se hospeda), dão a impressão de que ele não se envolveria com um projeto ofensivo, certo? Errado. Eu nunca vi nada tratando do tema que se apoiasse tanto em estereótipos e clichês negativos. Em todas aquelas coisas que os ativistas se esforçam para desconstruir.
Freddie e Stuart são extremamente bitchy – na falta de uma palavra em português que represente melhor o espírito da dupla – e maltratam todos ao seu redor. Violet (Fraces de la Tour, a Madame Maxime de Harry Potter), a suposta melhor amiga dos dois, tem todos os detalhes da sua vida passados por um julgamento constante e cortante, onde coisas como a sua aparência, a sua idade e o número de relacionamentos falhos que ela já teve são expostos e escarnecidos – porque para ser só uma sátira os autores teriam que cortar diversas partes do roteiro. Há até mesmo a presença de uma “piada” relacionada a estupro logo no piloto da série, o que fez meu estômago revirar.
Apostando em situações relacionadas à moda (coisa que Will & Grace e qualquer outro seriado envolvendo homossexuais já fez melhor), Vicious representa os gays fúteis, já que as sua dupla de protagonistas está sempre julgando as pessoas por aquilo que elas vestem. E isso nem é o problema mais grave: a pior parte fica por conta da fobia que Freddie e Stuart possuem de envelhecer e da maneira como precisam sempre parecer melhores, mais bonitos e mais bem sucedidos (mesmo que não sejam) do que todos que os cercam.
Um bom exemplo disso é quando Ash (Iwan Rheon, o Ramsey Bolton, de Game Of Thrones), o vizinho de cima, conta para eles que arrumou um emprego como protagonista de um filme independente. Freddie, um aspirante a ator que nunca conseguiu fazer com que sua carreira decolasse, fica tão mortificado com o fato que começa a tratar as pessoas ao seu redor com educação e o mínimo de carinho, o que faz também com que os gays sejam representados como criaturas invejosas e mesquinhas, coisa corriqueira de se ver, mas que eu não esperaria de um projeto que envolve as pessoas citadas.
Fiquei ofendida e envergonhada assistindo diversas cenas da série. Não sei mesmo como ela vem recebendo tantas críticas positivas de sites voltados para a TV. Acho que as pessoas se acostumaram a ver coisas ofensivas sendo tratadas como normais no que tange a homossexualidade. E nem dá pra dizer que o roteiro tenta te ludibriar para que você solte um sorrisinho ou outro assistindo a Vicious: tudo ali é dito em alto e bom som, para a nossa tristeza.
Vicious
Criada por: Mark Ravenhill
Onde assistir: por enquanto, nenhum canal do Brasil exibe a série
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Minha Vida com Liberace
3.7 203 Assista AgoraBem antes de Lady Gaga tentar se mostrar original devido à sua extravagância. Muito, muito antes que a moça se tornasse um astro pop que toca piano de um modo, hmm, peculiar. Décadas antes que Gaga decidisse que vestir o personagem nas ruas e se comportar como ele era legal, houve Liberace (Michael Douglas). E se em Lady Gaga tudo soa como releitura, pastiche ou forçação de barra, em Liberace tudo era originalidade. Os candelabros em cima do piano, as roupas kitsch, o ego gigantesco (exibido no palco e fora dele), as declarações WTF, o estrelato que sobe a cabeça, a necessidade de superexposição e afeto e, claro, o modo como tudo isso pode se tornar destrutivo.
À primeira vista, Steven Soderbergh não pareceu uma escolha muito certeira para fazer tal filme. O colorido que retratar Liberace exigiria, bem como as doses certeiras de trágico e cômico, soavam como algo com o que Almodóvar poderia trabalhar. Mas, o fato é que Soderbergh conseguiu fazer um filme com a sua cara – no sentido de velocidade, agilidade e um tom bastante analítico – e ainda assim dar conta de tratar a respeito de todos os aspectos citados. Por meio do cuidado, quase obsessivo, com a exposição de detalhes e dos excessos – nos figurinos, na casa e na própria personalidade do biografado – o diretor constrói um filme engraçado, vibrante, triste e, porque não, um pouco perturbador. Todas as figuras ali, em algum nível, causam repulsa e piedade. E isso é exposto sem julgamentos e sem objetivos moralizantes. A ausência de uma tomada de partido de Steven Soderbergh mostra que não há um herói ou um vilão na história de Liberace: há apenas pessoas quebradas, carentes e dependentes de aprovação levando as suas necessidades a um extremo destrutivo.
Liberace, principalmente, por sua obsessão por si mesmo, que fica bastante clara quando ele força Scott (Matt Damon) a passar por uma série de cirurgias plásticas para se parecer com um “jovem Liberace”. Mas, ao mesmo tempo, é inevitável que você lamente pelo quanto a fama – e o seu amor por ela – apagaram de sua personalidade. O único objetivo do pianista é conservar seus fãs, não importando quem ele precisa atropelar no trajeto. Desse modo, ficamos sabendo de sua coleção de ex amantes, todos mais jovens, que eram dispensados por seu empresário tão logo um outro rapaz bonito se aproximava dele. Dentro do longa, isso funciona como uma maneira de demonstrar o medo que Liberace tinha da velhice. Era como se mantendo o ambiente e as pessoas ao redor de si jovens, ele conseguisse, de algum modo, se manter jovem. Outro fator que coopera para que o público não sinta desprezo pelo personagem é o fato de que ele era “obrigado” a sustentar mentiras, como um noivado com uma patinadora, para que a verdade sobre sua sexualidade não se tornasse pública, já que isso simbolizaria um baque em sua popularidade.
Scott, o “amante da vez” e aquele que passou mais tempo ao lado do pianista, também é uma figura que nos provoca sentimentos confusos. Sua submissão e vontade extrema de agradar, aliadas a uma certeza de que ele não tinha absolutamente nada se Liberace perdesse o interesse por ele, fazem com que ele abra mão até mesmo o seu rosto e a sua individualidade para conservar o relacionamento dos dois. Após passar pelas cirurgias plásticas, seu rosto fica completamente desfigurado e, aos poucos, seu corpo vai sendo consumido pela “Dieta Californiana” (que consiste, basicamente, em misturar anfetaminas com álcool), indicada a ele por seu cirurgião Jack Startz (Rob Lowe).
E já que estamos falando em Rob Lowe, aqui é preciso ressaltar o trabalho incrível dos responsáveis pela maquiagem de Behind The Candelabra. Lowe se encontra tão deformado e tão grotesco que levamos alguns minutos para reconhece-lo. E o ator compõe um personagem tão asqueroso e tão frívolo que não podemos deixar também de ressaltar o seu talento. Aliás, indo um pouco além, o grande trunfo de Candelabra são os seus atores. Michael Douglas está tão afetado e tão exagerado que chega a irritar, mas que não poderia ser uma representação melhor de Liberace. Arrisco a dizer que caso o filme não tivesse sido feito para a TV, Michael poderia esperar por uma indicação ao Oscar.
Entre excessos e reflexões, um ritmo ágil e muitos cristais svarowski, Steven Soderbergh entrega uma cinebiografia que tem como principal mérito não tentar justificar quaisquer ações de seu “homenageado”. Nem para o bem, e nem para o mal. Parece que o diretor não se importa se gostamos ou não de Liberace, mas antes quer contar a sua história. Com todos os tropeços e enganos possíveis para que a gente possa ter uma dimensão da grandeza e do sucesso do pianista, mas também seja capaz de enxergar o quanto ele tinha de humano e, exatamente por isso, cheio de defeitos.
Behind The Candelabra, de Steven Sodebergh
Behind The Candelabra. Com: Michael Douglas, Matt Daemon, Rob Lowe, Scott Bakula, Randy Lowel, Eric Zuckerman
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Arquivo X (9ª Temporada)
3.9 72 Assista AgoraRecomendável ler o texto abaixo escutando a música de abertura.
Arquivo X, que em Portugal recebeu a tradução (massa!) de Ficheiros Secretos, foi a série mais hipster dos anos 90. Tá, nem era hipster. Porém, foi extremamente cult a ponto de eu ter uma carteirinha de fã, camiseta com a estampa de Mulder e Scully na frente e ler um periódico (sim!) chamado O Pistoleiro Solitário, inspirado/plagiado no jornal que os três personagens loucos por conspiração da série, e também grandes ajudantes nerds de Mulder (Frohike, Byers e Langly) escreviam.
O barato já começava logo no tema de abertura, com música de Mark Snow, e frases que deram o tom ‘teorias da conspiração’ da obra como “a verdade está lá fora”, “não confie em ninguém” (muito pertinente nos dias de hoje) e “eu quero acreditar” (talvez não tão pertinente hoje em dia).
Criada por Chris Carter, conta as peripécias dos agentes do FBI Fox Mulder (David Duchovny) e Dana Scully (Gillian Anderson) nos intitulados Arquivos X; pilhas de casos paranormais que nunca foram explicados e que o FBI simplesmente resolveu arquivar/ignorar porque um, ninguém acreditava mesmo, e dois, era impossível provar qualquer coisa. E três, porque dava uma trama de série massa (tô na vibe dos anos 90).
Traumatizado com a abdução da irmã há mais de vinte anos, o agente Mulder resolve tomar as rédeas desses arquivos e provar que extraterrestres existem sim, que a abdução da irmã não é só fruto de trauma infantil, e que o governo (este safado!), sempre soube de tudo e escondeu a verdade da população por motivos obscuros. Enquanto Mulder é o cara que em tudo acredita, Scully usa sua formação como médica cética para fazer o parceiro ‘cair na real’. Homenzinhos verdes? Ah, vá!
No final, porém, ninguém ri por último. Scully sofre horrores antes de admitir (lá pela sétima temporada), que Mulder estava certo. Demora gente. Bastante. O legal mesmo está nas brigas dos dois, e no fato de que, quando o assunto é religião, quem fica do lado cético é o Mulder. Scully não crê no que diz respeito a ETs, mas acredita em Deus e carrega um pingente com uma cruz. Lá pela sexta temporada você já está meio de saco cheio do ceticismo da Scully, mas ela é uma personagem tão foda que a gente releva. Eu juro.
A série é um deleite para fãs de conspirações e atividades paranormais. Foram nove temporadas de puro sofrimento, episódios de arrepiar, e dois filmes (sendo o último bastante criticado). Só começou a desandar quando o ator David Duchovny resolveu que queria ser ator de cinema (nem virou nada) e abandonou os Arquivo X no final da sétima temporada, aparecendo somente nos episódios finais da oitava e nona. Alguns fãs (eu, inclusive) ficaram tão indignados com isso que pararam de assistir a série. Anos depois, admito que o agente John Dogget (vivido por Robert Patrick), que substituiu Mulder, era um personagem que embora parecesse raso, tinha camadas interessantes. E tinha química com a Scully. Também foi interessante que a Scully virasse ‘o Mulder’ da oitava temporada, e Dogget fosse o tira durão das antigas que não acreditava em absolutamente nada. Todavia continuo achando a nona temporada bastante ruim comparada ao resto da série. A agente Monica Reyes (Annabeth Gish) não emplacou como substituta de Scully, e a parceria Dogget/Reyes foi uma decepção. Não me lembro de nenhum episódio memorável nessa fase, e a trama de super soldados fugiu totalmente ao misticismo da série e ficou bastante ridícula. O episódio final da série também ficou aquém das expectativas, com a volta de Mulder só pra dar uma satisfação para os fãs, e um encontro anticlímax total com o vilão da série, O Canceroso.
No entanto, mesmo com os momentos nem tão legais de sua reta final, Arquivo X continua a ser uma de minhas séries favoritas, com personagens e episódios épicos. Altamente recomendável para fãs do gênero de ficção científica. Cinco estrelinhas, coração com a mão.
Arquivo X
Criado por: Chris Carter
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Hannibal (1ª Temporada)
4.4 984 Assista AgoraAcompanho a história do dr. Hannibal Lecter desde que era criança e cada notícia a respeito do lançamento de outro filme, minha ansiedade atingia níveis absurdos. Esperei ansiosamente por Dragão Vermelho (Red Dragon, 2002), por Hannibal (Hannibal, 2001) e por Hannibal - A Origem do Mal (Hannibal Rising, 2007). De todas essas produções, somente a primeira conseguiu exceder as minhas expectativas. Assim, quando soube que uma série a respeito de Lecter seria lançada, meus sentimentos não poderiam ser mais conflitantes. De um lado, estava a felicidade por conseguirem estender a história. De outro, o medo de que o enredo e a execução fossem tão medíocres quanto os de Hannibal e Hannibal – A Origem do Mal. Porém, após alguns minutos do primeiro episódio, eu fui tranquilizada.
O primeiro acerto de Bryan Fuller e sua trupe está na escolha do protagonista da história, Will Graham (Hugh Dancy), um consultor do FBI. Embora, ao longo dos anos, a relação entre dr. Lecter e Clarice Starling tenha sido mais explorada e, para alguns, seja mais fascinante, ao colocar o fragilizado e instável Will como figura central da trama, tem-se a oportunidade de explorar a faceta psiquiatra de Hannibal (Mads Mikkelsen) – que, até então, não foi abordada senão por meio dos jogos mentais realizados por ele com os seus visitantes na prisão de segurança máxima. Além disso, por meio da parceria dos dois para encontrar um assassino conhecido como Picanço de Minnessota, pode-se ver como a amizade entre eles foi iniciada, como a confiança foi estabelecida e como Lecter conseguiu driblar a percepção de um homem conhecido exatamente pela sua capacidade de reconhecer psicopatas.
Outro acerto, que acrescenta não somente em termos de narrativa, mas como recurso de imagem, é o modo como os criadores de Hannibal escolheram demonstrar a capacidade de Will de analisar as cenas do crime. A fotografia da série, sempre tão sóbria, assume tons mais amarelados e vemos Graham na posição de assassino. Por meio de uma câmera em rewind, que limpa os cenários e nos mostra como funciona o raciocínio de Graham, sua capacidade de empatia fica clara para o público e se mostra como algo primordial para que ele consiga prender os assassinos que caça.
Parte do mérito pelo bom andamento desse início de temporada é do dinamarquês Mads Mikkelsen. Compondo um personagem carismático e manipulador, que se afasta o bastante daquele vivido por Anthony Hopkins, o ator faz com que o público pense se tratar de outro Hannibal Lecter. Um Lecter cuja capacidade de observação, as palavras precisas, o jeito contido e o distanciamento são capazes de dissimular os gostos escusos e suas verdadeiras motivações.
Hannibal mostra um começo promissor. Especialmente por se apoiar em recursos diferentes daqueles apresentados nos filmes e não tentar construir suspense em torno da identidade do canibal. Numa mid-season de séries mornas e que se perdem de seus propósitos, se os criadores não se renderem à tentação de explorar mais os casos do FBI do que os relacionamentos entre Lecter e as demais personagens, Hannibal tem tudo para ser o grande destaque dessa temporada.
Hannibal
Criado por: Bryan Fuller
Onde assistir: NBC (Estados Unidos) e AXN (Brasil)
Publicada originalmente em:
Mad Men (6ª Temporada)
4.5 165A essa altura do campeonato você já deve ter ouvido falar em Mad Men, mas caso você tenha ficado preso dentro de um poço pelos últimos seis anos, farei o meu bondoso papel e explicarei sobre o que a série trata.
Iniciada em 1960, época em que a garotada estava descobrindo as drogas e o rock’n roll, e as mulheres resolveram queimar seus sutiãs em prol dos seus direitos; Mad Men conta a vida dos publicitários da agência Sterling Cooper Draper Pryce. Só isso. Parece meio chato, não? Mas então, só parece.
Conhecemos um cara chamado Don Draper (aqui, vivido pelo dotado talentoso Jon Hamm), casado e com dois filhos, ele exerce o poder de Deus na agência: diretor de criação. Mas logo descobrimos que Don Draper não é bem quem ele diz ser. Adultero e mulherengo, o cara também esconde a sua verdadeira identidade. Mas por que ele esconde? Quem ele verdadeiramente é? O que pretende? Ao mesmo tempo em que ficamos instigados com Draper, vemos também que todos os outros personagens são igualmente vigaristas, mentirosos, e que têm sua sujeira. Melhorou, né?
Com o passar dos episódios, tudo vai virando um novelão de classe. Pense em publicidade, Maria do Bairro e Michelangelo Antonioni ao mesmo tempo. Segredos, mentiras, criações, bebidas, fumaça. Inegavelmente uma das melhores produções televisas no ar.
E não é só a minha opinião. Desde a sua estreia, Mad Men aparece anualmente no topo da lista da crítica internacional como uma das melhores séries do ano. Isso acontece graças aos roteiros do Matthew Weiner, o cara que comanda tudo, o Manuel Carlos americano. Com suas nuances e sutilezas, a história consegue nos surpreender semanalmente, mesmo com o seu ritmo lento. Mad Men também possui o recorde absoluto nos Prêmio Emmy, onde foi eleita como a melhor série dramática por quatro anos consecutivos.
Até agora foram lançadas cinco temporadas. Um trabalhão pra ver? Nem tanto. A HBO exibe a série semanalmente ao longo da tarde. Suas quatro primeiras temporadas estão disponíveis em DVD em solo brasileiro. O Netflix possui as cinco temporadas completas no acervo, com legendas e dublagem, como preferir. E desde a semana, dia 24, a TV Cultura começou a exibi-la desde o primeiro episódio às 22h. Te convenci, hein? Pois não perca tempo e passe a se envolver com as mentiras (e com a vida) desses publicitários.
Mad Men
Criado por: Matthew Weiner
Onde assistir: AMC (Estados Unidos), TV Cultura, Netflix e HBO (Brasil)
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The Following (1ª Temporada)
4.0 946Três coisas me vieram, imediatamente, na cabeça quando li a respeito de The Following: um (excelente) episódio de Masters Of Horror, chamado The Black Cat; o longa O Corvo (The Raven, 2012); e a história de Jim Jones e seus seguidores. O primeiro por retratar muito bem a figura do escritor torturado pelo bloqueio artístico e pela crítica; o segundo pela presença do serial killer que usa a literatura de Edgar Allan Poe como base e justificativa para seus crimes; e, por fim, o terceiro pela presença da alienação massiva de pessoas fragilizadas que sentem a necessidade de pertencimento. Para mim, o somatório desses itens nos dá como resultado o mote do seriado, que mesmo sem muita originalidade consegue soar atrativo.
The Following conta a história de Joe Carrol (James Purefoy), um serial killer que usa os poemas de Poe como inspiração para assassinatos, e de Ryan Hardy (Kevin Bacon), o detetive do FBI responsável por prender Carrol. Tudo se inicia quando Hardy recebe a notícia de Carrol conseguiu escapar de uma prisão de segurança máxima. Por meio de investigações, ele e o restante da equipe responsável por prender Joe, acabam descobrindo que, usando os computadores da prisão, o assassino conseguiu recrutar pessoas para formar uma seita.
Os quatro primeiros episódios da série têm como mérito a imersão completa no imaginário de Poe. Referências a O Corvo, O Gato Preto e outras obras significativas do escritor aparecem por meio da maneira em que Carrol opta por matar as suas vítimas, pelo modo como seus corpos são posicionados na cena do crime, por inscrições nas paredes e por meio das lembranças de Hardy, que nos mostram como a “Teoria Poe” foi desenvolvida e provada por ele anos antes. A trilha sonora também coopera para a criação do clima sombrio e conta com nomes como Marylin Manson, Deftones, Band Of Skulls, Sepultura e Garbage.
Porém, em determinado ponto, fica a impressão de que o roteiro começa a se perder nos seus propósitos iniciais. Edgar Allan Poe tem sua importância diminuída na trama, sendo citado novamente só no décimo quarto episódio, por meio de uma personagem que diz se chamar Annabel Lee. Outro fator que pesa negativamente é o alcance da seita: em dado momento ele se torna tão extensivo que tem-se a impressão de que a tecnologia que seus membros possuem é mais avançada do que a do FBI. E isso não é tudo: estamos a algumas horas do season finale e os objetivos de Carrol e seus seguidores ainda não estão bem delineados. Isso pode ser prejudicial, já que perseguições policias e assassinatos gratuitos têm tudo para cansar o público mais exigente.
Ao fim dos catorze episódios exibidos pela Fox, fica a impressão de que as coisas que funcionavam como força-motora do seriado, o tornavam interessante e representavam o seu diferencial, foram deixadas de lado para dar lugar a uma trama que se apoia em todos os clichês do gênero e sem fazer um bom uso deles. Eu poderia apontar várias maneiras de corrigir os erros cometidos pelo roteiro, mas acho que a chave para The Following se encontra na lembrança de quem era o verdadeiro protagonista do seriado: a obra de Edgar Allan Poe.
The Following
Criado por: Kevin Williamson
Onde assistir: Fox, segunda-feira às 22h
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Como Eu Conheci Sua Mãe (8ª Temporada)
4.4 504 Assista AgoraA primeira vez que tentaram me convencer a assistir How I Met Your Mother, me disseram que se tratava de um Friends 10 anos depois. E, como era de se esperar, despertaram a minha antipatia automaticamente. Porque na época, eu tinha acabado de assistir as 10 temporadas de Friends em sequência e estava completamente apaixonada. Tinha certeza de que não importava o que esse tal How I Met Your Mother pudesse ter para me oferecer, não seria mais engraçado do que a sua “matriz”. Por isso, só fui assistir o seriado no ano passado. Fui conquistada com poucos episódios e por uma série de razões que seria oversharing expor aqui.
Tudo começa quando Ted Mosby (Josh Radnor) decide sentar os seus filhos na sala de casa e contar a história de como conheceu a sua mãe. Somos apresentados a um grupo de amigos que, instantaneamente, justifica a comparação feita. Lily (Alyson Hannigan) e Marshall (Jason Segel), um casal que está junto desde a época da faculdade e Barney Stinson (o lindo do Neil Patrick Harris), um conquistador sem escrúpulos, cuja maturidade pode ser comparada a de uma criança de 10 anos. Eles se reúnem frequentemente num bar, o McLaren’s, para falar sobre a vida, tomar cerveja e esse tipo de coisa. E é exatamente nesse cenário que a trama começa a se desenvolver: Robin Scherbatsky (Cobie Smulders), uma jornalista canadense tão bonita quanto emocionalmente indisponível, entra com um grupo de amigas, chama a atenção de Ted e, depois de um “acidente”, os dois saem juntos. A partir de uma série de situações engraçadíssimas (e um pouco tristes, se a gente for parar para pensar), somos levados a acreditar que aquela é a mãe dos filhos de Ted apenas para sermos interrompidos pela voz do próprio, no futuro, dizendo que essa é a história de como ele conheceu a tia Robin.
Apesar de ser meio frustrante saber disso logo no início, não atrelar o destino de Robin e Ted foi uma escolha esperta. Do contrário, a trama poderia ser resumida a anos e anos de desencontros, no melhor estilo Ross e Rachel, para, ao fim da série, acontecer aquilo que poderia ser previsto de cara. Outro acerto relacionado à Mãe (ela se torna quase uma entidade durante as 8 temporadas e merece a letra maiúscula, acredite) foi deixar pequenas pistas a respeito dela ao longo da série como, por exemplo, o guarda-chuva amarelo. Isso servia para ajudar a compor a personalidade da garota pela qual todos esperávamos ansiosamente e também para ter a certeza de que um dia Ted a encontraria. Em meio a tanta tristeza e frustração amorosa, servia de alento saber que, mesmo que só no fim, as coisas se ajeitariam para o protagonista.
É inevitável se identificar com a situação retratada por How I Met Your Mother, especialmente em suas temporadas iniciais. E eu acho que era aí que se encontrava o trunfo dos produtores. Porém, do começo da última temporada para cá, fica a impressão de que o roteiro se tornou preguiçoso e o foco, antes mantido na busca de Ted e nas situações vividas pelo grupo de amigos, se alterna e passa a ser criar situações forçadas que não conseguem atingir o efeito pretendido. Por exemplo, dedicar um episódio inteiro ao Playbook, uma espécie de livro onde Barney anota todas as suas cantadas bem sucedidas, foi desnecessário e não agregou em nada à trama. O mesmo serve para um dos episódios finais da temporada, onde Ted e Barney se encontram sentados no bar tentando se decidir se vão ao Robots vs Wrestlers e, então, surgem diversas versões futuras de ambos os personagens para expor a eles razões conflitantes para ir ou não.
Acho que How I Met Your Mother passa por um desgaste que acontece com todas as séries que ficam muito tempo no ar. Pelo menos, com o aparecimento da Mãe, nos segundos finais da 8ª temporada, pode-se ter a esperança de que o seriado volte para os trilhos. Afinal, reza a lenda de que o 9º ano será o último e o relacionamento entre ela e Ted precisará ser mostrado e bem desenvolvido. O jeito agora é esperar até setembro e ver o que nos aguarda após o fatídico (e muito esperado) casamento de Barney e Robin…
How I Met Your Mother
Criado por: Carter Bays e Craig Thomas
Onde assistir: na CBS ou na Fox Brasil
Publicado originalmente em:
House of Cards (1ª Temporada)
4.5 609 Assista AgoraHouse of Cards foi lançada em 1° de fevereiro de 2013 pela Netflix e já veio arrebentando tudo e quebrando paradigmas. Adaptada do livro de Michael Dobbs e da minissérie britânica de Andrew Davies, a série foi uma aposta da Netflix no que o melhor ator Shakespeariano da atualidade, Kevin Spacey, chamou de ‘nova perspectiva’ na forma de como se fará TV daqui pra frente. Com roteiro e produção de Beau Willimon, um craque em assuntos políticos – Willimon foi co-produtor do também brilhante Tudo Pelo Poder (The Ides of March, 2011), e David Fincher, a primeira temporada foi lançada de uma vez só. O fenômeno da vez é o ‘streaming’. Nada de esperar uma semana pra assistir às cenas do próximo capítulo, nem de se descabelar com aqueles hiatos cruéis. Dá pra assistir aos 13 episódios num fim de semana. (Apenas lembre-se de comer nesse meio tempo.)
Cada episódio teve um custo aproximado de 3,8 milhões de dólares, e o pacote inclui uma segunda temporada, já em produção.
A série é sobre os bastidores da política em Washington. Frank Underwood (Kevin Spacey sendo fodão) é aquele politico macaco velho lutando pelo seu status quo. Depois de ter o tapete puxado pelo presidente eleito e ver o tão almejado cargo de Secretário do Estado indo para outra pessoa, Frank começa seu jogo de vingança. A Bonnie para o seu Clyde é sua mulher Claire, maravilhosamente interpretada por Robin Wright, que dá um show de compostura, elegância e muito sangue frio em qualquer situação. No relacionamento de Frank e Claire não há paixão, mas há muita cumplicidade. Ambos são a favor de fazer qualquer coisa pelo poder, inclusive usar o sexo como moeda. Nas palavras de Frank, ‘tudo é sobre sexo, menos o sexo, que é sobre poder’.
Frank narra tudo grande parte do tempo e no meio de uma cena tensa costuma virar-se para a câmera com um sorrisinho cínico e compartilhar com o telespectador seus pensamentos, tramoias e segredos. Sua personalidade amoral só titubeia durante uma homenagem prestada por sua antiga universidade onde descobrimos (surpresa, surpresa!) que ele um dia viveu uma grande uma paixão.
Ganha destaque na série o deputado Peter Russo (o ator revelação Corey Stoll) com suas fraquezas humanas, consciência pesada, sexo, drogas e rock&roll. Peter até se mostra uma pessoa com boas intenções, mas é facilmente manipulado pelo experiente Frank. No fim, os jogos da política acabam soterrando-o. Outra personagem de peso é a jovem jornalista Zoe Barnes (Kate Mara), que para se destacar no mundo cão midiático faz um pacto (do diabo) com Frank e deixa-se ser usada por ele, usando-o também sem a menor cerimônia. Aqui vemos como a política está entrelaçada à mídia, e como uma é mero joguete nas mãos da outra.
No mundo de House of Cards, você ganha ou morre. Não, péra. Show errado. Esse é um dos lemas de Guerra dos Tronos, mas bem que poderia ser o de House of Cards. Fica bastante claro que o eleitor é mero coadjuvante. O que está em jogo em Washington (e no mundo?) não é o interesse de todos, mas o interesse de alguns (como sempre). Todos querem a sua fatia do bolo. E fica claro também que políticos, assim como todos nós, são apenas peças, ou cartas, nas mãos de jogadores ainda mais implacáveis e cruéis, mas muito cruéis. Mas, atenção! Você poderá descobrir na história que há pessoas piores que ele! Principalmente na vida real.
House Of Cards
Criado por: Beau Willimon
Onde assistir: na Netflix, oras!
Publicado originalmente em:
The Fall (1ª Temporada)
4.3 210Se vocês observarem as minhas postagens sobre TV, vão perceber que eu acabo assistindo qualquer coisa que envolva serial killers. Acho fascinante a maneira como os detetives responsáveis pela investigação de determinado crime vão desenhando, através de pequenas pistas ou da observação de detalhes ínfimos, o perfil dos assassinos até conseguirem reduzir a sua gama de suspeitos a um grupo específico e, por fim, encontrar o responsável pelos crimes. Gosto especialmente dessas histórias quando elas não dedicam tempo demais a esconder a identidade do criminoso, mas antes o apresentam para nós em seus primeiros minutos. Assim nós também somos capazes de criar um perfil, o que torna tudo mais divertido e permite que as teorias de fã – tão interessantes quando surreais – surjam. A britânica The Fall me ofereceu todos esses elementos em seu único episódio já transmitido.
A premissa do seriado não difere muito do que já foi feito na área: um assassino de mulheres (vivido por Jamie Dornan), cujos crimes possuem conotação sexual, se encontra à solta e aterroriza a região de Belfast. A polícia local não possui qualquer pista que leve à revelação da identidade do criminoso. Logo nos primeiros minutos, vemos o sujeito entrar na casa de uma moça, mexer em suas coisas e ainda comer algo na cozinha, como se ele estivesse dizendo, tanto a ela quanto à polícia, que deseja que sua presença a seja notada. Então, por meio de um corte, vemos o mesmo cara a caminho de sua própria casa. Quando ele entra, somos surpreendidos pela primeira vez: um garotinho o espera sentado na escada e o chama de “papai”. Ok, você pode estar pensando: não há surpresa nenhuma em um assassino que se esconde por trás de uma fachada de pai de família. Mas, o surpreendente mesmo, é que o comportamento de Paul, o homem em questão, não parece normal mesmo quando ele se encontra em presença dos filhos (além do garoto, há também uma menina) e da esposa – que não nota as saídas noturnas do marido porque trabalha como enfermeira na UTI neonatal.
É perceptível que há alguma coisa errada com Paul. Seu comportamento misantropo, evidenciado pelas situações sociais que vemos durante o primeiro episódio, a sua frieza ao tratar os filhos e a mulher e o modo como a personagem, às vezes, simplesmente se desliga do mundo e não ouve nada que não esteja dentro da sua cabeça,causa incômodo e aguça a nossa curiosidade acerca do assassino, já que, além do que foi citado, pouco se sabe a respeito dele. Porém, o que mais incomoda é a maneira como ele parece estar sempre presente nos locais que suas vítimas frequentam. Aparentemente, a verdadeira diversão não reside em matar, mas antes em perseguir, em observar. Em fazer de todo o processo uma caçada na qual o alvo sequer percebe que há alguém na espreita.
Do lado da polícia o grande atrativo fica por conta da detetive especial Stella Gibson (Gillian Anderson), enviada pelo FBI para revisar as anotações, relatórios, fotos e etc. do assassinato de Alice Monroe. Até a chegada de Gibson, acredita-se que tal crime é um caso isolado e procura-se por um assassino, não por um serial killer. É por meio da observação de Stella que a polícia de Belfast encontra um link com outro crime, ocorrido cerca o de 3 meses antes, e que já contava com um suspeito. Porém, a teoria não é bem aceita pelas pessoas responsáveis pela investigação, pois sustenta-la significaria dedicar mais recursos e mais pessoas à revisão dos depoimentos do outro assassinato. Stella, porém, mesmo contrariando o chefe da polícia, se mostra determinada a comprovar que o assassino de Alice já havia matado antes. Que aquele não era um “trabalho” de iniciante devido à calma e a precisão com que tudo foi executado. Por isso, pode-se notar que Gibson, assim como Paul, também gosta da perseguição e é bastante boa nela. Sem dúvidas, daqui pra frente, uma das partes mais interessantes será observar como aquele que perseguia vai lidar com o fato de se tornar agora o objeto da caçada.
É complicado dizer se eu apostaria ou não no futuro da série. Primeiramente, porque o formato é diferente daquele ao qual estamos acostumados: em apenas 5 episódios tanto a personalidade de Stella quanto a de Paul, bem como as motivações de ambos, vão ter que ser expostas e desenvolvidas. É um formato mais acelerado, mas a julgar pelos acertos previamente mencionados, os produtores sabem o que estão fazendo e vão entregar uma história que cause tanto incômodo e curiosidade quanto esse primeiro episódio foi capaz de causar. E, caso contrário, pelo menos são 5 horas assistindo a Gillian Anderson ser incrível.
The Fall
Criada por: Jakob Verbruggen
Onde assistir: na BBC ou no computador mais próximo de você.
Publicado originalmente em:
The Newsroom (1ª Temporada)
4.5 144 Assista AgoraA cena de abertura de The Newsroom mostra o âncora Will McAvoy (Jeff Daniels no que talvez seja o melhor papel de sua carreira), do jornal News Night, participando de um debate sobre política, mais precisamente sobre os partidos republicano e democrata. Conforme o embate se intensifica, a câmera foca num silencioso Will, que está tendo um ataque de pânico, e o barulho ao redor vai ficando abafado. No meio da plateia ele tem a impressão de ver um rosto familiar. O mediador do debate o faz voltar a si. Um estudante universitário pergunta a Will se ele se considera republicano, democrata ou independente. Will lhe responde que se considera um fã do New York Jets, time de futebol americano da região metropolitana de Nova York. Risadas.
Will mantém-se em cima do muro por integridade jornalística ou por interesses corporativos? Novamente, Will sai pela tangente. A próxima pergunta vem de outra estudante com jeitinho tímido: ‘o que faz da América o grande país do mundo?’ Will novamente se esquiva, mas outra vez o rosto familiar da mulher na plateia faz com que Will tenha uma epifania, e sua afirmação de que os Estados Unidos não é o maior país do mundo gera espanto (!) geral. E se não bastasse essa declaração bombástica, Will solta a língua e faz uma crítica ferrenha à política e à sociedade americana.
A série é uma produção da HBO e já vinha sendo pensada por Aaron Sorkin, roteirista do filme A Rede Social (The Social Network, 2010) e da premiada série The West Wing, desde 2009. Sua ideia era criar uma obra sobre os bastidores de um telejornal que colocasse a informação acima de interesses políticos e comerciais – algo que definitivamente não se vê (se é que já se viu) nos dias de hoje. Sorkin conseguiu seu intuito. Os dez episódios da primeira temporada foram lançados em 2012, e seu episódio piloto bateu o recorde de audiência, com 2,1 milhões de espectadores.
Embora para os cínicos The Newsroom seja uma série sobre um ‘jornalismo conto de fadas’, o retrato do dia a dia na redação não deixa de ser cativante. Os temas de cada capítulo foram bem pensados e soam atuais, e apesar do sentimentalismo americano por detrás de alguns deles, e do desejo de que os Estados Unidos sejam novamente uma pátria de que não só os americanos, não há como não torcer para que o News Night, o tal telejornal, continue com sua integridade intacta.
A atuação dos atores é um show à parte. Jeff Daniels brilha como Will McAvoy, o polêmico âncora que resolve mandar o status quo para o inferno e comandar um jornal que tenha compromisso apenas com a verdade dos fatos e não com ‘quem paga mais’. Seu braço direito é sua ex-namorada e agora produtora executiva do programa MacKenzie McHale (Emily Mortimer), que parece inspirada em uma personagem de Audrey Hepburn pelos seus trejeitos delicados e cheios de personalidade. O relacionamento entre Will e MacKenzie relembra bastante as comédias românticas do começo dos anos 90, assim como o intrincado triângulo amoroso vivido por Jim Harper (John Gallangher, Jr), Maggie Jordan (Alison Pill) e Don Keefer (Thomas Sadoski). Outros personagens que merecem destaque são o escritor do blog de Will e admirador do Wikileaks, Neal Sampat (Dev Patel), a analista financeira Sloan Sabbith (Olivia Munn), o presidente da divisão de notícias Charlie Skinner (Sam Waterston) e friíssima presidente do canal Leona Lansing (interpretada por Jane Fonda, que dispensa apresentações).
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