Embora a obra milite politicamente rediscutindo o protagonismo feminino na mitologia azteca - o que não é um demérito, encanta sobretudo com seu sucesso narrativo pela criação de personagens marcantes numa história divertida, cativante e rica historicamente.
Apresenta um viés distinto das típicas narrativas de investigação criminosa, focando na jornada investigativa das mentes criminosas e não no mistério e trágico visual das atrocidades cometidas pelos criminosos.
É por esse caminho que o arco dramático é competentemente construído - porém, a obra pode ser desinteressante para os fãs do aspecto de suspense e visceralidade das tradicionais narrativas.
Missa da Meia Noite é mais um exemplo de sucesso da surpreendente e criativa combinação entre os gêneros de terror e drama.
A série constrói seus personagens pacientemente, de modo a nos fazer refletir e criar empatia pelos seus históricos de vida.
Essa fórmula proporciona uma sensação de horror muito mais fidedigna e próxima com o desenrolar dos misteriosos fatos.
Isto é, o horror dos acontecimentos transcende aos sustos e imagens perturbadoras, chegando ao medo psicólogo que os personagens genuinamente sentem diante de dramas vividos no passado e presente.
Embora o ritmo da narrativa peque no excesso de tempo dos monólogos, a lentidão do início não chega a prejudicar a série como um todo, na medida em que os episódios finais adotam um ritmo eletrizante e compensam a espera pelo desenrolar dos acontecimentos.
Missa da Meia Noite discute fanatismo religioso da forma mais crua e visceral possível, mostrando como o intuito de propagar suas crenças de forma cega e inconsequente pode ser mais prejudicial do que salvadora - certamente o oposto do objetivo da fé cristã.
Mike Flanagan constrói, desse modo, mais uma obra com arco dramático fincado no aspecto íntimo dos personagens, mas com suntuosas doses de terror tanto pelo teor de sua crítica social como pela visceralidade da disseminação sanguinária dos milagres vividos em Crocket Island. Um prato cheio para quem curte terror com algo a mais.
Agradeço sua leitura desde já! :)
Para mais críticas como essa, conheça nosso Instagram: @escapismooficial. Também estamos no Youtube com o Canal Escapismo.
Round 6 entrete pelos seus inventivos e intrigantes jogos, além da visceralidade das consequências destes, mas também proporciona um retrato social de uma oculta Coreia do Sul debilitada.
Agradeço sua leitura desde já! :)
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A 3a e última temporada de Dark nos entrega, paradoxalmente, um final simples, porém digno. A complexidade habilmente edificada ao longo das 3 temporadas foi satisfatoriamente respondida e ostensivamente explicada nesta temporada final.
A dita complexidade é, sem dúvidas, o traço mais marcante da obra. Isso se dá por termos uma narrativa não-linear, com variadas linhas temporais e universos distintos, além da ênfase nas mentiras que os personagens contam uns aos outros e que embaralham até os próprios, quiçá nós, meros espectadores.
Mas essa confusão toda não é gratuita e nem um acessório para dificultar a nossa compreensão. Ela mostra-se precisamente oportuna para um o roteiro que aborda com tanta maestria a angústia e a melancolia que nós, indivíduos, sentimos ao nos deparar com questões temporais complexas que fogem ao nosso entendimento. Isto é, a intenção master da narrativa picotada e intencionalmente labiríntica é demonstrar esse peso emocional que sentimos ao não compreender algo. Golaço de Dark.
Outra riqueza da série são os sutis questionamentos e temas debatidos, bem como as suas utilizações para a construção dos personagens e suas escolhas. Seja com o elegante uso de alegorias bíblicas ou com a filosofia existencialista envolvida, a construção da motivação dos personagens nos faz empatizar com o drama por eles vividos - e tudo isso enlatado numa intrigante ficção científica sobre viagem no tempo.
Tratando especificamente do desenrolar dos fatos da 3a temporada, tivemos, inicialmente, um desenvolvimento que nos direcionava para o crescimento da polarização do conflito entre Adam - com sua tentativa niilista de auto-destruição e destruição do loop, e Eva - com seu eterno-retorno na tentativa de manter o mundo sob seu controle e com a repetição dos acontecimentos de sempre.
A história, contudo, desperta uma 3a via que viria a se tornar a solução para todo aquele caos de Winden, com Claudia Tiedmman, o demônio branco, descobrindo que as realidades de Adam e Eva, com toda árvore genealógica resultante, eram consequências de uma falha na matrix oriunda da "genuína" realidade temporal - O Paraíso. Adam é convencido por Claudia a voltar ao passado com Eva para mudar a história e encerrar o ouroboro que unia a sua realidade ao de sua amada, pondo fim a existência da vida de ambos.
Com o desmantelamento do loop, então, também se desmoronou a ilusão do livre arbítrio por parte de Adam e Eva. O niilismo de Adam e o eterno-retorno de Eva estavam a mercê do devir do tempo, imperioso controlador de tudo e de todos. Dark prega uma peça distraindo nosso olhar para a dualidade de Adam e Eva, o bem e o mal, ao mesmo tempo em que nos alerta, com o uso do símbolo da Triquetra (presente desde o início da série) que a realidade é submissa à tridimensionalidade do espaço-tempo e não ao desejo humano.
O segredo para trabalhar toda essa mitologia filosófica paralelamente a uma complexa abordagem teórica da viagem do tempo foi a utilização do melodrama como unidade de coesão narrativa. Para além dos mistérios temporais, o que move nossa curiosidade para o desaguar da história são as relações de amor, desilusões, traição e mentiras envoltas aos dramas familiares que recaem sobre os personagens da série.
O ritmo lento, por vezes maçante, é o único ponto negativo que salta aos olhos, mas não se materializa em algo que comprometa a sede do espectador em desvendar o que vem pela frente na história - até por isso, a 2a e a 3a temporada reduziram os episódios de 10 para 8, a fim de não comprometer o elemento melancólico marcante do enredo, que necessita desse ritmo não tão dinâmico e mais contemplativo para funcionar.
No fim das contas, Dark alcança coerentemente o que se propõe a fazer: ser uma história com fundo complexo, mas amarrada por um fio narrativo simples. O final, sustentado por um argumento teórico intricado, mas solucionado com o encerramento de um vínculo num caso de amor, atende competentemente a esse propósito.
Agradeço sua leitura desde já! :)
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A série alemã apresenta um dos roteiros mais bem elaborados dessa década, dentro desse boom de produções de séries mundo a fora.
Traça o sinuoso caminho de adaptar uma teoria científica aos entrelaços de mistérios em famílias de uma pequena cidade alemã.
Se na 1a temporada toma-se o caminho do suspense, sugerindo que possa haver razões sobrenaturais/macabras quanto aos desaparecimento de crianças em Wniden, na 2a se escancara a grande temática debatida: o tempo e sua influência nas nossas vidas. Realidades temporais distintas e viajantes do tempo se tornam o mote principal do enredo.
"Deus é o tempo". Esse axioma poderia ser a epígrafe da 2a temp., haja vista o fortalecimento da tese de que somos meros acessórios diante dos poderes do tempo em si. Afinal, não importa como, mas quando.
Com essas discussões, Dark é uma competente ficção científica, um produto desses nossos tempos de avanços teóricos e tecnológicos.
Agradeço sua leitura desde já! :)
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A série inglesa é mais um produto com carimbo de qualidade da BBC.
Numa fantástica ambientação industrial, empunhando uma estonteante fotografia da Inglaterra do final do século XIX, a narrativa aborda a existência de gangues e suas dinâmicas de pode em face da sociedade inglesa.
No melhor estilo Robin Hood, o personagem central, Thomas Shelby, comanda uma dessas gangues que mesclavam juventude, tradição familiar e bastante tenacidade em se tornar relevantes naquele contexto pós-revolucão industrial e de guerras.
Honra, violência e política marcam os conflitos que assolam a cidade de Birmingham, colocando as gangues e a polícia em forças diametrais - completamente díspares, ressalte-se, afinal, ao lado da força policial estava a monarquia inglesa.
A deixa para 2a temporada foi dada com a partida de Grace e a implicação que isso acarretará na vida de Thommy. A ver.
Agradeço sua leitura desde já! :)
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Vikingane (Norsemen) é um excelente achado no catálogo da Netflix. A comédia se trata de um verdadeiro lado B da famosa série Vikings, tanto por seu lado apócrifo como por apresentar o povo nórdico de uma forma bastante peculiar.
Nela vemos os guerreiros vikings demonstrados como não necessariamente bravos lutadores. Ao contrário: por vezes são retratados como pessoas extremamente comuns, chegando até mesmo a serem ridicularizados.
Mas calma, esse é o tom que se espera de uma série que trabalha o humor inteligente de forma muito competente - qualquer coincidência com o tipo de humor de Monty Phyton não é mera coincidência, aliás.
Quanto a narrativa em si, não há nada tão inovador: histórias de batalhas, conflitos entre aldeias, casos de amor, traição, etc. O que realmente encanta é a digníssima capacidade de entretenimento que a série oferece.
A quebra de expectativa em discursos aparentemente sérios entretém da 1a à 2a temporada da série. As atuações divertidíssimas dos atores convencem e cativam o público.
Para além dos personagens brilhantemente caricaturados, seja por suas trapalhadas ou inocência, a perspicácia do roteiro na construção dos diálogos também merece o devido destaque, sobretudo com a hilária utilização de gírias empresariais nas mais relevantes discussões políticas e nas mais banais conversas do cotidiano.
Tudo isso ambientado numa cenografia bucólica das aldeias nórdicas medievais e seus esplendorosos cenários que são um verdadeiro deleite aos olhos.
A sagaz ironia de desconstruir os estereótipos comuns aos guerreiros vikings fisga qualquer espectador que tenha chegado à série por acaso em busca de mais uma história dos guerreiros escandinavos.
Vikingane, pois então, é muito competente no que se propõe a fazer: contar uma excêntrica face dos vikings com muita diversão e perspicácia.
Agradeço sua leitura desde já! :)
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Num futuro distópico, um parque temático reproduz as características e costumes do velho oeste americano, onde seres humanos - chamados de visitantes - podem usar e abusar sem limites da inconsciência (será?) dos anfitriões - robôs que contém inteligência artificial e habitam o parque, pois estes não podem ferir os clientes (visitantes) da corporação Delos, empresa responsável por administrar o parque. Os dois criadores responsáveis pelo parque são Dr. Ford e Arnold, engenheiros desenvolvedores do engenhoso mundo temático. Ocorre que ainda durante a concepção do parque, divergências criativas começam a acontecer entre a dupla, e a partir delas o futuro de Westworld ganhou novos contornos dramáticos, incluindo conflitos políticos pelo controle das ações da Delos e redirecionamentos - um tanto violentos - da inteligência artificial dos robôs. Arnold pretendia adicionar os chamados devaneios nos androides - como, por exemplo, em Dolores, Teddy e Maeve, alguns dos mais antigos – que passaram a ser testados de modo que se pudesse verificar se eles poderiam criar consciência da natureza de suas realidades, isto é, terem ciência de que são criaturas manipuladas. Esses devaneios passaram a gerar implicações para toda a história, inclusive para os visitantes que usufruíam do parque. William foi um deles, pois desde sua primeira visita se encantou por notar que naquele mundo havia muito mais do que narrativas sobre guerras, prostíbulos, nativos perigosos e caças a foragidos que premiavam a bravura dos convidados. Havia algo mais profundo do que meramente simular aventuras.
E é nessa linha que a série produzida por Jonathan Nolan e Lisa Joy e todo seu mundo fictício encanta tanto a nós, espectadores, que a princípio podemos nos enganar supondo que a série trata sobre mero escapismo de vidas cotidianas mesclado com inteligência sintética em um mundo de aventuras. Westworld é rica em psicologia e toca no íntimo do âmago humano ao trazer reflexões filosóficas sobre até que ponto temos consciência do que realmente somos. Mais do que isso, o enredo nos faz questionar o que faríamos se tivéssemos total liberdade e nenhuma consequência negativa das nossas ações. A história, através de suas narrativas, nos faz questionar nosso íntimo em busca de respostas através do autoconhecimento: violência, amor, guerra, razão, prazeres e outras infinitas possibilidades. Westworld tem como princípio maior a máxima shakespeariana de que “prazeres violentos tem finais violentos”. Seria essa uma grande alegoria e estímulo à jornada interna ao nosso autoconhecimento? Uma luz na saída da escura caverna que aprisiona o sentido de nossa existência? E essa resposta, iria nos amedrontar ou encher de esperança?
E você, já questionou a natureza da sua realidade? Caso ainda não tenha, não perca tempo e vá agora mesmo assistir Westworld!
Agradeço sua leitura desde já! :)
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Maya e os 3 Guerreiros (1ª Temporada)
4.1 16Embora a obra milite politicamente rediscutindo o protagonismo feminino na mitologia azteca - o que não é um demérito, encanta sobretudo com seu sucesso narrativo pela criação de personagens marcantes numa história divertida, cativante e rica historicamente.
Mindhunter (1ª Temporada)
4.4 804 Assista AgoraApresenta um viés distinto das típicas narrativas de investigação criminosa, focando na jornada investigativa das mentes criminosas e não no mistério e trágico visual das atrocidades cometidas pelos criminosos.
É por esse caminho que o arco dramático é competentemente construído - porém, a obra pode ser desinteressante para os fãs do aspecto de suspense e visceralidade das tradicionais narrativas.
Missa da Meia-Noite
3.9 730Missa da Meia Noite é mais um exemplo de sucesso da surpreendente e criativa combinação entre os gêneros de terror e drama.
A série constrói seus personagens pacientemente, de modo a nos fazer refletir e criar empatia pelos seus históricos de vida.
Essa fórmula proporciona uma sensação de horror muito mais fidedigna e próxima com o desenrolar dos misteriosos fatos.
Isto é, o horror dos acontecimentos transcende aos sustos e imagens perturbadoras, chegando ao medo psicólogo que os personagens genuinamente sentem diante de dramas vividos no passado e presente.
Embora o ritmo da narrativa peque no excesso de tempo dos monólogos, a lentidão do início não chega a prejudicar a série como um todo, na medida em que os episódios finais adotam um ritmo eletrizante e compensam a espera pelo desenrolar dos acontecimentos.
Missa da Meia Noite discute fanatismo religioso da forma mais crua e visceral possível, mostrando como o intuito de propagar suas crenças de forma cega e inconsequente pode ser mais prejudicial do que salvadora - certamente o oposto do objetivo da fé cristã.
Mike Flanagan constrói, desse modo, mais uma obra com arco dramático fincado no aspecto íntimo dos personagens, mas com suntuosas doses de terror tanto pelo teor de sua crítica social como pela visceralidade da disseminação sanguinária dos milagres vividos em Crocket Island. Um prato cheio para quem curte terror com algo a mais.
Agradeço sua leitura desde já! :)
Para mais críticas como essa, conheça nosso Instagram: @escapismooficial. Também estamos no Youtube com o Canal Escapismo.
Round 6 (1ª Temporada)
4.0 1,2K Assista AgoraRound 6 entrete pelos seus inventivos e intrigantes jogos, além da visceralidade das consequências destes, mas também proporciona um retrato social de uma oculta Coreia do Sul debilitada.
Agradeço sua leitura desde já! :)
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A Queda da Casa de Usher
4.0 287 Assista AgoraAllan Poe + Mike Flanagan = QUERO!
O Clube da Meia-Noite (1ª Temporada)
3.0 142 Assista AgoraMais uma obra prima do Flanaganverso? só vem! =)
Dark (3ª Temporada)
4.3 1,3KA 3a e última temporada de Dark nos entrega, paradoxalmente, um final simples, porém digno. A complexidade habilmente edificada ao longo das 3 temporadas foi satisfatoriamente respondida e ostensivamente explicada nesta temporada final.
A dita complexidade é, sem dúvidas, o traço mais marcante da obra. Isso se dá por termos uma narrativa não-linear, com variadas linhas temporais e universos distintos, além da ênfase nas mentiras que os personagens contam uns aos outros e que embaralham até os próprios, quiçá nós, meros espectadores.
Mas essa confusão toda não é gratuita e nem um acessório para dificultar a nossa compreensão. Ela mostra-se precisamente oportuna para um o roteiro que aborda com tanta maestria a angústia e a melancolia que nós, indivíduos, sentimos ao nos deparar com questões temporais complexas que fogem ao nosso entendimento. Isto é, a intenção master da narrativa picotada e intencionalmente labiríntica é demonstrar esse peso emocional que sentimos ao não compreender algo. Golaço de Dark.
Outra riqueza da série são os sutis questionamentos e temas debatidos, bem como as suas utilizações para a construção dos personagens e suas escolhas. Seja com o elegante uso de alegorias bíblicas ou com a filosofia existencialista envolvida, a construção da motivação dos personagens nos faz empatizar com o drama por eles vividos - e tudo isso enlatado numa intrigante ficção científica sobre viagem no tempo.
Tratando especificamente do desenrolar dos fatos da 3a temporada, tivemos, inicialmente, um desenvolvimento que nos direcionava para o crescimento da polarização do conflito entre Adam - com sua tentativa niilista de auto-destruição e destruição do loop, e Eva - com seu eterno-retorno na tentativa de manter o mundo sob seu controle e com a repetição dos acontecimentos de sempre.
A história, contudo, desperta uma 3a via que viria a se tornar a solução para todo aquele caos de Winden, com Claudia Tiedmman, o demônio branco, descobrindo que as realidades de Adam e Eva, com toda árvore genealógica resultante, eram consequências de uma falha na matrix oriunda da "genuína" realidade temporal - O Paraíso. Adam é convencido por Claudia a voltar ao passado com Eva para mudar a história e encerrar o ouroboro que unia a sua realidade ao de sua amada, pondo fim a existência da vida de ambos.
Com o desmantelamento do loop, então, também se desmoronou a ilusão do livre arbítrio por parte de Adam e Eva. O niilismo de Adam e o eterno-retorno de Eva estavam a mercê do devir do tempo, imperioso controlador de tudo e de todos. Dark prega uma peça distraindo nosso olhar para a dualidade de Adam e Eva, o bem e o mal, ao mesmo tempo em que nos alerta, com o uso do símbolo da Triquetra (presente desde o início da série) que a realidade é submissa à tridimensionalidade do espaço-tempo e não ao desejo humano.
O segredo para trabalhar toda essa mitologia filosófica paralelamente a uma complexa abordagem teórica da viagem do tempo foi a utilização do melodrama como unidade de coesão narrativa. Para além dos mistérios temporais, o que move nossa curiosidade para o desaguar da história são as relações de amor, desilusões, traição e mentiras envoltas aos dramas familiares que recaem sobre os personagens da série.
O ritmo lento, por vezes maçante, é o único ponto negativo que salta aos olhos, mas não se materializa em algo que comprometa a sede do espectador em desvendar o que vem pela frente na história - até por isso, a 2a e a 3a temporada reduziram os episódios de 10 para 8, a fim de não comprometer o elemento melancólico marcante do enredo, que necessita desse ritmo não tão dinâmico e mais contemplativo para funcionar.
No fim das contas, Dark alcança coerentemente o que se propõe a fazer: ser uma história com fundo complexo, mas amarrada por um fio narrativo simples. O final, sustentado por um argumento teórico intricado, mas solucionado com o encerramento de um vínculo num caso de amor, atende competentemente a esse propósito.
Agradeço sua leitura desde já! :)
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Dark (2ª Temporada)
4.5 897A série alemã apresenta um dos roteiros mais bem elaborados dessa década, dentro desse boom de produções de séries mundo a fora.
Traça o sinuoso caminho de adaptar uma teoria científica aos entrelaços de mistérios em famílias de uma pequena cidade alemã.
Se na 1a temporada toma-se o caminho do suspense, sugerindo que possa haver razões sobrenaturais/macabras quanto aos desaparecimento de crianças em Wniden, na 2a se escancara a grande temática debatida: o tempo e sua influência nas nossas vidas. Realidades temporais distintas e viajantes do tempo se tornam o mote principal do enredo.
"Deus é o tempo". Esse axioma poderia ser a epígrafe da 2a temp., haja vista o fortalecimento da tese de que somos meros acessórios diante dos poderes do tempo em si. Afinal, não importa como, mas quando.
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Peaky Blinders: Sangue, Apostas e Navalhas (1ª Temporada)
4.4 461 Assista AgoraA série inglesa é mais um produto com carimbo de qualidade da BBC.
Numa fantástica ambientação industrial, empunhando uma estonteante fotografia da Inglaterra do final do século XIX, a narrativa aborda a existência de gangues e suas dinâmicas de pode em face da sociedade inglesa.
No melhor estilo Robin Hood, o personagem central, Thomas Shelby, comanda uma dessas gangues que mesclavam juventude, tradição familiar e bastante tenacidade em se tornar relevantes naquele contexto pós-revolucão industrial e de guerras.
Honra, violência e política marcam os conflitos que assolam a cidade de Birmingham, colocando as gangues e a polícia em forças diametrais - completamente díspares, ressalte-se, afinal, ao lado da força policial estava a monarquia inglesa.
A deixa para 2a temporada foi dada com a partida de Grace e a implicação que isso acarretará na vida de Thommy. A ver.
Agradeço sua leitura desde já! :)
Para mais críticas como essa, conheça nosso Instagram: @escapismooficial. Também estamos no Youtube com o Canal Escapismo.
Norsemen (1ª Temporada)
3.6 23 Assista AgoraVikingane (Norsemen) é um excelente achado no catálogo da Netflix. A comédia se trata de um verdadeiro lado B da famosa série Vikings, tanto por seu lado apócrifo como por apresentar o povo nórdico de uma forma bastante peculiar.
Nela vemos os guerreiros vikings demonstrados como não necessariamente bravos lutadores. Ao contrário: por vezes são retratados como pessoas extremamente comuns, chegando até mesmo a serem ridicularizados.
Mas calma, esse é o tom que se espera de uma série que trabalha o humor inteligente de forma muito competente - qualquer coincidência com o tipo de humor de Monty Phyton não é mera coincidência, aliás.
Quanto a narrativa em si, não há nada tão inovador: histórias de batalhas, conflitos entre aldeias, casos de amor, traição, etc. O que realmente encanta é a digníssima capacidade de entretenimento que a série oferece.
A quebra de expectativa em discursos aparentemente sérios entretém da 1a à 2a temporada da série. As atuações divertidíssimas dos atores convencem e cativam o público.
Para além dos personagens brilhantemente caricaturados, seja por suas trapalhadas ou inocência, a perspicácia do roteiro na construção dos diálogos também merece o devido destaque, sobretudo com a hilária utilização de gírias empresariais nas mais relevantes discussões políticas e nas mais banais conversas do cotidiano.
Tudo isso ambientado numa cenografia bucólica das aldeias nórdicas medievais e seus esplendorosos cenários que são um verdadeiro deleite aos olhos.
A sagaz ironia de desconstruir os estereótipos comuns aos guerreiros vikings fisga qualquer espectador que tenha chegado à série por acaso em busca de mais uma história dos guerreiros escandinavos.
Vikingane, pois então, é muito competente no que se propõe a fazer: contar uma excêntrica face dos vikings com muita diversão e perspicácia.
Agradeço sua leitura desde já! :)
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Westworld (1ª Temporada)
4.5 1,3KO mundo artificial que questiona o íntimo humano
Num futuro distópico, um parque temático reproduz as características e costumes do velho oeste americano, onde seres humanos - chamados de visitantes - podem usar e abusar sem limites da inconsciência (será?) dos anfitriões - robôs que contém inteligência artificial e habitam o parque, pois estes não podem ferir os clientes (visitantes) da corporação Delos, empresa responsável por administrar o parque.
Os dois criadores responsáveis pelo parque são Dr. Ford e Arnold, engenheiros desenvolvedores do engenhoso mundo temático. Ocorre que ainda durante a concepção do parque, divergências criativas começam a acontecer entre a dupla, e a partir delas o futuro de Westworld ganhou novos contornos dramáticos, incluindo conflitos políticos pelo controle das ações da Delos e redirecionamentos - um tanto violentos - da inteligência artificial dos robôs.
Arnold pretendia adicionar os chamados devaneios nos androides - como, por exemplo, em Dolores, Teddy e Maeve, alguns dos mais antigos – que passaram a ser testados de modo que se pudesse verificar se eles poderiam criar consciência da natureza de suas realidades, isto é, terem ciência de que são criaturas manipuladas. Esses devaneios passaram a gerar implicações para toda a história, inclusive para os visitantes que usufruíam do parque. William foi um deles, pois desde sua primeira visita se encantou por notar que naquele mundo havia muito mais do que narrativas sobre guerras, prostíbulos, nativos perigosos e caças a foragidos que premiavam a bravura dos convidados. Havia algo mais profundo do que meramente simular aventuras.
E é nessa linha que a série produzida por Jonathan Nolan e Lisa Joy e todo seu mundo fictício encanta tanto a nós, espectadores, que a princípio podemos nos enganar supondo que a série trata sobre mero escapismo de vidas cotidianas mesclado com inteligência sintética em um mundo de aventuras. Westworld é rica em psicologia e toca no íntimo do âmago humano ao trazer reflexões filosóficas sobre até que ponto temos consciência do que realmente somos. Mais do que isso, o enredo nos faz questionar o que faríamos se tivéssemos total liberdade e nenhuma consequência negativa das nossas ações.
A história, através de suas narrativas, nos faz questionar nosso íntimo em busca de respostas através do autoconhecimento: violência, amor, guerra, razão, prazeres e outras infinitas possibilidades. Westworld tem como princípio maior a máxima shakespeariana de que “prazeres violentos tem finais violentos”. Seria essa uma grande alegoria e estímulo à jornada interna ao nosso autoconhecimento? Uma luz na saída da escura caverna que aprisiona o sentido de nossa existência? E essa resposta, iria nos amedrontar ou encher de esperança?
E você, já questionou a natureza da sua realidade? Caso ainda não tenha, não perca tempo e vá agora mesmo assistir Westworld!
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