É uma obra que poderia ser potente, Fathia Youssouf é muito talentosa, e cenas como as do vestido e a própria sequência final são muito bonitas e simbólicas. Penso que a diretora talvez tenha tentado criticar dois extremos que servem, ambos, ao patriarcado: de um lado, o de submissão feminina na cultura tradicional senegalesa, e de outro, a sexualização e objetificação de meninas na cultura ocidental.
Mas os ~~supostos~~ e pretendidos fins não justificam os meios. É possível falar de hipersexualização de meninas sem, ué, hipersexualizar meninas. São excessivas, gratuitas e desnecessárias as cenas de erotização, e o pior: o close da câmera nas regiões íntimas das crianças o tempo inteiro. Esse enfoque me fez questionar a real intenção da diretora, se a pretensão foi mesmo abordar os assuntos que mencionei linhas acima, ou apenas apropriar-se dessas temáticas pra vender mais o filme (a tão atualmente rentável cooptação do discurso feminista pelo capitalismo).
Apenas sei que me senti assistindo pornografia infantil em diversos momentos, e o aperto no peito foi constante. Não podemos normalizar meninas dançando sensualmente e, quase performando sexo. Não é empoderamento se mantém o status quo. É preciso resistir a uma cultura da pedofilia, da fetichização e do estupro contra meninas, e esse filme só serve para fomentar essas culturas, não o contrário.
É bem informativo no tocante à industria de produtos estéticos de clareamento de pele, que até então eu não fazia ideia da potência bilionária que ela tem no mercado atual. Mas me incomodou um pouco como a obra não aprofunda muito as causas, focando apenas nos efeitos. Exemplo: ao serem questionadas sobre por que as mulheres querem clarear a pele, as entrevistadas respondiam sempre "por insegurança, por falta de amor próprio, por falta de auto-estima, pra agradar os homens", e a diretora não acrescentou nenhum comentário a respeito, ratificando o que respondiam durante o desenvolver da obra. Como se o ser insegura, não ter amor próprio, etc, fosse a base e tivesse brotado do nada, sendo que todos esses sintomas são consequências de uma cenário muito maior. Beverly Naya sugere o impacto do racismo, do capitalismo, do machismo e da misoginia, mas não desenvolve nenhum dos temas. Aliás, nenhum desses termos foi utilizado no documentário, nem mesmo "racismo". A própria Naya opta por falar que na infância sofreu "bullying" ao invés de falar que sofreu racismo. Pelo discurso das mulheres entrevistadas, e até do próprio encaminhar da narrativa escolhido pela diretora, o foco acaba sendo uma questão mais individual, se distanciando do debate estrutural. Certamente foi sua escolha e a obra não se propõe mesmo a isso, focando apenas em alguns recortes. Mas acho que seria bem mais rico se se propusesse, porque tem muito potencial. Ainda assim, achei enriquecedor, fiquei emocionada em diversos momentos, é muito bonita a sensibilidade e percepção da Beverly Naya. Muito inteligente quando ela mostra como uma atriz negra não retinta consegue diversos papeis, e logo depois corta para a atriz negra retinta que não conseguia nenhuma papel e depois de quatro anos desistiu de ser atriz. Novamente, e sempre, sempre, retorno ao questionamento: quantas poetas, cientistas, políticas, artistas, etc, perdemos por conta do racismo? Foram silenciadas sem a possibilidade de desenvolverem suas potências.
"Tenho pesadelos horríveis. Estou afundando em areia movediça, as crianças estão tentando me salvar com um galho, mas parece que quanto mais trabalhamos, mais afundamos nesse grande buraco".
As sensações todas que me causou. Quero tomar em goles longos e frios os diálogos, as imagens, as músicas, o silêncio; quero sentir este filme fisicamente como a um tapa, um hematoma dorido que fica depois de uma queda. Uma queda.
Quase consigo.
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O Estranho
3.8 122 Assista Agora"Quem, além de um nazista, iria negar que Karl Marx era alemão por ser judeu?"
Lindinhas
3.0 195 Assista AgoraÉ uma obra que poderia ser potente, Fathia Youssouf é muito talentosa, e cenas como as do vestido e a própria sequência final são muito bonitas e simbólicas. Penso que a diretora talvez tenha tentado criticar dois extremos que servem, ambos, ao patriarcado: de um lado, o de submissão feminina na cultura tradicional senegalesa, e de outro, a sexualização e objetificação de meninas na cultura ocidental.
Mas os ~~supostos~~ e pretendidos fins não justificam os meios. É possível falar de hipersexualização de meninas sem, ué, hipersexualizar meninas. São excessivas, gratuitas e desnecessárias as cenas de erotização, e o pior: o close da câmera nas regiões íntimas das crianças o tempo inteiro. Esse enfoque me fez questionar a real intenção da diretora, se a pretensão foi mesmo abordar os assuntos que mencionei linhas acima, ou apenas apropriar-se dessas temáticas pra vender mais o filme (a tão atualmente rentável cooptação do discurso feminista pelo capitalismo).
Apenas sei que me senti assistindo pornografia infantil em diversos momentos, e o aperto no peito foi constante. Não podemos normalizar meninas dançando sensualmente e, quase performando sexo. Não é empoderamento se mantém o status quo. É preciso resistir a uma cultura da pedofilia, da fetichização e do estupro contra meninas, e esse filme só serve para fomentar essas culturas, não o contrário.
Skin
4.2 6É bem informativo no tocante à industria de produtos estéticos de clareamento de pele, que até então eu não fazia ideia da potência bilionária que ela tem no mercado atual. Mas me incomodou um pouco como a obra não aprofunda muito as causas, focando apenas nos efeitos.
Exemplo: ao serem questionadas sobre por que as mulheres querem clarear a pele, as entrevistadas respondiam sempre "por insegurança, por falta de amor próprio, por falta de auto-estima, pra agradar os homens", e a diretora não acrescentou nenhum comentário a respeito, ratificando o que respondiam durante o desenvolver da obra. Como se o ser insegura, não ter amor próprio, etc, fosse a base e tivesse brotado do nada, sendo que todos esses sintomas são consequências de uma cenário muito maior.
Beverly Naya sugere o impacto do racismo, do capitalismo, do machismo e da misoginia, mas não desenvolve nenhum dos temas. Aliás, nenhum desses termos foi utilizado no documentário, nem mesmo "racismo". A própria Naya opta por falar que na infância sofreu "bullying" ao invés de falar que sofreu racismo.
Pelo discurso das mulheres entrevistadas, e até do próprio encaminhar da narrativa escolhido pela diretora, o foco acaba sendo uma questão mais individual, se distanciando do debate estrutural. Certamente foi sua escolha e a obra não se propõe mesmo a isso, focando apenas em alguns recortes. Mas acho que seria bem mais rico se se propusesse, porque tem muito potencial.
Ainda assim, achei enriquecedor, fiquei emocionada em diversos momentos, é muito bonita a sensibilidade e percepção da Beverly Naya. Muito inteligente quando ela mostra como uma atriz negra não retinta consegue diversos papeis, e logo depois corta para a atriz negra retinta que não conseguia nenhuma papel e depois de quatro anos desistiu de ser atriz. Novamente, e sempre, sempre, retorno ao questionamento: quantas poetas, cientistas, políticas, artistas, etc, perdemos por conta do racismo? Foram silenciadas sem a possibilidade de desenvolverem suas potências.
Você Não Estava Aqui
4.1 242 Assista Agora"Tenho pesadelos horríveis. Estou afundando em areia movediça, as crianças estão tentando me salvar com um galho, mas parece que quanto mais trabalhamos, mais afundamos nesse grande buraco".
O nome desse pesadelo é capitalismo.
O Abraço da Serpente
4.4 237 Assista Agora“Se os barões da borracha são homens, eu sou uma cobra”
A Vida Secreta das Palavras
4.1 247 Assista AgoraAs sensações todas que me causou. Quero tomar em goles longos e frios os diálogos, as imagens, as músicas, o silêncio; quero sentir este filme fisicamente como a um tapa, um hematoma dorido que fica depois de uma queda.
Uma queda.
Quase consigo.