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Últimas opiniões enviadas

  • Luís Sirota

    WARNING: Este texto tem SPOILERS EXPLÍCITOS
    Sobre Whiplash, o filme que fez com que eu ficasse com solos de bateria na cabeça por horas.

    Começo reiterando o óbvio: as interpretações aqui realizadas são minhas e respeito aquelas que divergem da minha. Dito isso, começo falando do título deste filme sensacional. Muitos podem pensar que o título "Whiplash" se refere a uma das músicas tocadas no filme, que tem o mesmo nome. Porém, se a escolha do título fosse referência a uma música, eu pessoalmente escolheria "Caravan", pra mim a música icônica deste filme. A primeira coisa que me veio à mente, com o título relacionado à personalidade de Fletcher (J. K. Simmons), foi um chicote. Chicote esse muitas vezes usado para castigar aqueles que não trabalham (ou treinam) da maneira correta ou desejada. Este que em inglês se fala "whip". Acho que não preciso ser mais claro que isso.

    O filme começa com uma cena magnífica, que dá o tom para o que seguirá. Na bateria, temos Neiman (Miles Teller), treinando que nem um condenado. Suor é o que não falta. Em seguida, entra a figura de J. K. Simmons, sem maiores introduções, em um diálogo seco por parte de Simmons, desajeitado por parte de Neiman. Quando achamos que a cena termina, Simmons volta, trazendo esperança de que o protagonista terá a chance que tanto queria, porém ele só esquecera seu casaco. Com um clima de sufoco, diálogos ríspidos, reviravoltas, a cena inicial fantástica, diferente e relativamente curta nos indica o rumo que o filme tomará.

    Fletcher, interpretado por Simmons, é um líder inconsequente, ríspido, bruto, grosseiro, um fácil paralelo ao Sargento Hartman, de "Nascido para Matar". Ambos em posições de superioridade, tratando seus pupilos como capachos e desumanizando-os com seus castigos e berros. Além disso, ambos compartilham uma característica essencial na construção dos personagens: a obstinação. Eles não se contentam com nada que não seja acima do melhor, nem para eles, nem para seus pupilos. Apesar de haverem muitos papéis onde o personagem tem variações extremas de humor e de tom de voz, Simmons faz com que tudo isso soe naturalmente, que tudo isso não tenha um tom artificial. Como se não bastasse, todas as vezes em que essas alternâncias ocorrem, ele atua de maneira que nós criamos um ódio crescente por seu personagem, fator de extrema importância para o decorrer da história. Toda vez que ele é bruto, que ele xinga, que ele encara alguém como se olhasse através de sua alma, o seu ódio por ele cresce.

    Simultaneamente, temos Neiman, um jovem tímido, sem jeito, em seu primeiro ano dos estudos musicais. Dedicado à ser o melhor, esta obstinação torna-se algo próximo do patológico quando este entra em contato com Fletcher, ao ponto de concretizar a expressão "suor e sangue". Não só sua obstinação se torna mais parecida com a do professor, outras de suas características vão, cada vez mais, assemelhando-se às de Flethcer, resultando em uma mudança radical do protagonista. Primeiro, após entrar na banda, Neiman cria coragem para chamar Nicole para sair, ainda assim demonstrando a sua falta de jeito. Em seguida, temos o encontro em si, onde ele, apesar de mostrar-se tímido, apresenta uma grande melhora em suas habilidades sociais, sendo capaz por exemplo de manter contato visual. Momentos depois, na cena do jantar, Neiman responde de maneira ríspida as críticas feitas à sua escolha de ser um músico e não aceita ser desmerecido pelos outros garotos, um jogando futebol americano, outro participando de simulações da ONU. Após uma demonstração de sua recém-adquirida brutalidade, Neiman termina com Nicole, de maneira seca, insensível e arrogante, desumanizando-a ao tratá-la como um mero obstáculo no caminho do sucesso.

    Tal mudança, entretanto, não vêm de graça. Durante todo o filme são intercalados momentos onde coisas boas acontecem e momentos onde coisas ruins acontecem. Apesar de aparentar ser algo genérico, os momentos baixos da vida do protagonistas são extremos. Exemplo disto é quando este, após conseguir chamar Nicole para um encontro, é humilhado e agredido tanto física quanto emocionalmente por Fletcher. Depois, temos cenas do treinamento árduo, até desumano, de Neiman, no qual ele literalmente dedica seu sangue e seu suor, para tentar chegar ao nível que lhe é exigido. Em seguida, temos a cena de seu encontro com Nicole. Outro exemplo desta alternância é o momento em que Teller perde a pasta com as partituras de Tanner, o baterista principal, o que resulta numa série de xingamentos e humilhações pelo mesmo, quando logo em seguida Neiman assume a bateria e garante à banda o primeiro lugar. E para concretizar o extremo inferior, temos a cena do acidente. No auge de sua irritação com as recentes desventuras no trajeto da competição, Neiman sofre um grave acidente de carro, o que não impede que ele, levado pela obstinação e pela teimosia, chegue à competição.

    Além de trazer consigo uma atuação e uma narrativa fantástica, o filme traz também alguns questionamentos, ambos interligados e muito pertinentes. O primeiro trata-se de até onde vai o limite humano, tanto física quanto psicologicamente. Até onde é possível se esforçar, de maneira humana, para chegar ao nível desejado? Ao nível "dos grandes", como é dito várias vezes no filme? Não só o filme traz tal questionamento, como também ele questiona a validade de certos valores que nós temos arraigados à nos mesmos. A grande maioria de nós tem como valor que a chave para o sucesso é o esforço, valor este que é martelado em nossas cabeças desde pequenos. Porém, ao nos mostras a prática de tal valor, seja ela extrema ou não nos faz pensar sobre como que uma pessoa que odiamos tanto quanto Fletcher possui os mesmos valores que eu? Para atingir os meus sonhos devo passar por tarefas desumanas como Neiman passa? Para piorar a situação, no diálogo no bar, Fletcher diz que as coisas hoje em dia não são tão boas quanto costumavam ser, ponto de vista também defendido por muitos. E o questionamento se agrava, como eu posso ser tão parecido com um homem que coloca pessoas a situações tão horrorosas? E, ao contrário de muitos outros filmes que entregam uma resposta moralizante, esta obra deixa tal questão em aberto para que o espectador reflita ao final do filme, para que ele questione valores uma vez tão garantidos.

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  • Luís Sirota

    WARNING: Este texto tem EXPOILERS SPLÍCITOS
    Sobre Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância), um filme que eu vi sob circunstâncias diferentes das quais eu normalmente eu assisto um filme. Ao invés de perder as influências, quase sempre negativas, da expectativa e da opinião alheia, decidi assistir à esse filme tão controverso nas mídias. E o que eu tenho a dizer se resume à duas palavras: do caralho. Tecnicamente, o filme é impecável, isto vindo de um leigo em fotografia, que quase nunca repara em tais detalhes. Meramente o fato de eu ter reparado na maestria técnica de Birdman, já é um sinal de que realmente isso é algo à destacar. Além disso, o mais genial e importante, e ao mesmo tempo uma das maiores falhas do filme, é a crítica à indústria hollywoodiana. O filme tem a capacidade não de cutucar, mas abrir a ferida do que, em minha opinião, um dos maiores problemas da sétima arte atualmente: a falta de inovação. Muitas vezes nos deparamos com obras adaptadas, sequências, reboots, e aqueles que criam algo novo na verdade não ousam a sair do status quo. Maior exemplo disso são os inúmeros filmes de ação, especialmente aqueles que se inspiram nos longas protagonizados pelos clássicos brucutus, como Stallone e Schwarzenegger. Por "se inspiram", leia "moralmente copiam", pois são poucos os detalhes da essência dos filmes que são alteradas. Obviamente existem, felizmente, diversas exceções à regra, mas mesmo assim, a regra é clara. Como se não bastasse, é trazido a tona o papel da audiência diante deste cenário. Há duas cenas em especial que plantaram em mim um grande questionamento sobre o que eu realmente assisto. Primeiro, temos a cena onde Riggan, em uma de suas maiores "alucinações", ouve de Birdman a descrição do que a plateia "realmente" gosta de ver: "apocalyptic porn", sangue e ação. Apesar de muitos gostarem da filosofia, da reflexão que até os filmes mais banais podem gerar, é inegável que a grande maioria compra seus ingressos no cinema para ver exatamente isto (vulgo o sucesso gritante de Michael Bay recentemente). Para agravar a cena mencionada, no ato final na peça de Riggan (sem spoilers), a plateia aplaude vorazmente, o que serve somente para corroborar o ponto colocado por Birdman. Porém, apesar de apresentar onde concordo com as críticas propostas pelo filme, tento, na medida do coerente e do possível para não deixar este texto intragável, apresentar casos de que as generalizações escritas tem suas exceções. Porém, fazendo referência também ao discurso de Iñárrito no Oscar, os filmes blockbuster, por mais padronizados que sejam, não são uma arte inferior ao que ele, por exemplo, produzira. O teatro não se sobrepõe ao cinema, nem a fotografia, nem o contrário é verdadeiro. Não sei se pelo uso de um vocabulário mal escolhido, mas o diretor desmerece de uma maneira gritante e grosseira os filmes que, inegavelmente, alimentam a indústria da qual ele faz parte. E como muito bem dito por James Gunn, não é porque um diretor realiza um filme Hollywoodiano que ele coloca e investe menos amor e paixão nestes filmes. Dito isso, chego ao momento derradeiro deste texto/divagação, que é também o final do filme. Aberto a diversas interpretações, venho por meio deste expor a minha, que provavelmente é compartilhada por muitos. Depois de uma tentativa de suicídio que resulta em um estrago considerável seu nariz, Riggan acorda no hospital, com um gesso em sua cara que assemelha-se muito à um bico, o que será bem importante algumas frases mais à frente. Após retirar o mesmo gesso no banheiro, Birdman aparece como um reflexo no espelho, para depois despedir-se de Riggan. Uma pequena pausa. No filme todo, temos Birdman insistindo na unidade entre o protagonista e o personagem. O fato dele se despedir , na minha concepção, significa que finalmente houve uma separação entre ambos, que é causada pelo sucesso de sua peça. Sucesso este que seria evidenciado à ausência de uma sopa de sangue na calçada quando Sam (Emma Stone) procura por seu pai. Sucesso este representado por estar no céu, ou em algum plano superior, voando junto aos pássaros retratados alguns momentos antes. O plano superior seria o do sucesso de sua peça, mas também o de fazer r parte de uma "arte superior". Porém minha própria concepção não é clara, pois tenho uma visão relativamente ambígua. Ao mesmo tempo que a retirada do gesso pode representar a separação de Riggan e Birdman, a presença da máscara em si pode representar também a ligação entre os dois. E quanto a cena da janela, o fato de este ter "levitado" ou voado junto aos pássaros pode também representar que por ter atingido o sucesso (assim como Birdman), Riggan adquire os poderes do personagem, tornando-se mais semelhante e próximo a ele, revelando também que seu sucesso, apesar de próprio, veio com o apoio, a base (as vezes destrutiva) do sucesso de Birdman.

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  • Filmow
    Filmow

    O Oscar 2017 está logo aí e teremos o nosso tradicional BOLÃO DO OSCAR FILMOW!

    Serão 3 vencedores no Bolão com prêmios da loja Chico Rei para os três participantes que mais acertarem nas categorias da premiação. (O 1º lugar vai ganhar um kit da Chico Rei com 01 camiseta + 01 caneca + 01 almofada; o 2º lugar 01 camiseta da Chico Rei; e o 3º lugar 01 almofada da Chico Rei.)

    Vem participar da brincadeira com a gente, acesse https://filmow.com/bolao-do-oscar/ para votar.
    Boa sorte! :)

    * Lembrando que faremos uma transmissão ao vivo via Facebook e Youtube da Casa Filmow na noite da cerimônia, dia 26 de fevereiro. Confirme presença no evento https://www.facebook.com/events/250416102068445/

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