Pra mim, Lemonade é bem mais um álbum que possui um papel empoderador gigantesco, externalizando (explicitamente) a necessidade feminina de expressão de sua sexualidade e força através do tempo do que um álbum sobre traição; acho que ele foi muito bem recebido mas não entendo muito como a imprensa focou tanto em um suposto bafão sobre o Jay Z quando ele é tão VISUALMENTE voltado p/ uma “questão feminina”, com tantas mulheres e poucos homens. Acho que a infidelidade é tratada como um tema muito importante sim, mas não de uma forma central e sim geral, como reflexo de uma sociedade desigual e consequentemente repressiva (“Did he convince you he was a god? Did you get on your knees daily? Do his eyes close like doors? Are you a slave to the back of his head? Am I talking about your husband or your father?” // “You remind me of my father, a magician ... able to exist in two places at once. In the tradition of men in my blood, you come home at 3 a.m. and lie to me.” // “The most disrespected woman in America, is the black woman. The most un-protected person in America is the black woman. The most neglected person in America, is the black woman”). A relação entre mulher, natureza e ancestralidade é repetidamente abordada e expressa e pra mim funciona como uma tentativa de resgate da nossa verdadeira identidade, sem barreiras sociais. Quando a gente pensa que a pauta pela “liberação sexual feminina” é indispensável para o movimento feminista mas que às vezes não é muito definida e normalmente está condicionada à 01 vontade masculina, esse “resgate” é importantíssimo e nos dá esperança. Perto do final tem uma parte maravilhosa em que um dos poemas fala sobre uma manicure que vê "as filhas das suas filhas" que depois começam a jorrar de dentro dela e acho que tem mt a ver com o esforço que está presente no filme sempre de reunir gerações passadas e futuras, não só com o intuito de recuperar a natureza das mulheres, como de construir uma História mais justa. A proposta de "liberalização" de Lemonade não diz respeito a uma noção de poligamia ou de misandria, mas de construção de uma vida nova baseada em amor, respeito, tolerância, companheirismo e igualdade, em que formas de controle sob o corpo do outro deixam de existir. O filme em si é a coisa mais linda e os fragmentos de poemas da Warsan Shire são intensos d+ e fazem a gente ficar arrepiada o tempo todo. (God was in the room when the man said to the woman, "I love you so much. Wrap your legs around me. Pull me in, pull me in, pull me in.") Uma obra de arte, uma Deusa!
Moonlight é o filme mais sensível e delicado que já assisti. Representa de forma tão bonita e dolorosa a construção de identidade/masculinidade do personagem, sua necessidade de cuidado, conexão, identificação, atração e intimidade sexual. A afinidade com essas questões pelas pessoas é grande, uma vez que são universais. A especificidade delas no filme é que são vividas por um homem negro, pobre e gay, ensinado a não ser vulnerável e exposto. Ele cresce com elas por dois atos e não as negligencia no terceiro, tão lindo e tão doce, carregado de significado em cada gesto: uma porta aberta, uma música, uma foto, tudo representa um embate, um confronto calado entre partir e ficar, se entregar ou reservar. No final das contas ser ridicularizado não significa nada nada perto do que é se permitir sentir e amar (é brega mas é verdade!!) É um filme muito bonito tecnicamente, cheio de silêncios, gestos e cores, com uma trilha sonora e atores incríveis. Não é nem um pouco estereotipado e merece ser ouvido e reverenciado pelo seu conteúdo, especialmente nestes tempos tão cheios de ódio.
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Lemonade
4.6 88Pra mim, Lemonade é bem mais um álbum que possui um papel empoderador gigantesco, externalizando (explicitamente) a necessidade feminina de expressão de sua sexualidade e força através do tempo do que um álbum sobre traição; acho que ele foi muito bem recebido mas não entendo muito como a imprensa focou tanto em um suposto bafão sobre o Jay Z quando ele é tão VISUALMENTE voltado p/ uma “questão feminina”, com tantas mulheres e poucos homens. Acho que a infidelidade é tratada como um tema muito importante sim, mas não de uma forma central e sim geral, como reflexo de uma sociedade desigual e consequentemente repressiva (“Did he convince you he was a god? Did you get on your knees daily? Do his eyes close like doors? Are you a slave to the back of his head? Am I talking about your husband or your father?” // “You remind me of my father, a magician ... able to exist in two places at once. In the tradition of men in my blood, you come home at 3 a.m. and lie to me.” // “The most disrespected woman in America, is the black woman. The most un-protected person in America is the black woman. The most neglected person in America, is the black woman”).
A relação entre mulher, natureza e ancestralidade é repetidamente abordada e expressa e pra mim funciona como uma tentativa de resgate da nossa verdadeira identidade, sem barreiras sociais. Quando a gente pensa que a pauta pela “liberação sexual feminina” é indispensável para o movimento feminista mas que às vezes não é muito definida e normalmente está condicionada à 01 vontade masculina, esse “resgate” é importantíssimo e nos dá esperança. Perto do final tem uma parte maravilhosa em que um dos poemas fala sobre uma manicure que vê "as filhas das suas filhas" que depois começam a jorrar de dentro dela e acho que tem mt a ver com o esforço que está presente no filme sempre de reunir gerações passadas e futuras, não só com o intuito de recuperar a natureza das mulheres, como de construir uma História mais justa.
A proposta de "liberalização" de Lemonade não diz respeito a uma noção de poligamia ou de misandria, mas de construção de uma vida nova baseada em amor, respeito, tolerância, companheirismo e igualdade, em que formas de controle sob o corpo do outro deixam de existir.
O filme em si é a coisa mais linda e os fragmentos de poemas da Warsan Shire são intensos d+ e fazem a gente ficar arrepiada o tempo todo. (God was in the room when the man said to the woman, "I love you so much. Wrap your legs around me. Pull me in, pull me in, pull me in.") Uma obra de arte, uma Deusa!
Moonlight: Sob a Luz do Luar
4.1 2,4K Assista AgoraMoonlight é o filme mais sensível e delicado que já assisti.
Representa de forma tão bonita e dolorosa a construção de identidade/masculinidade do personagem, sua necessidade de cuidado, conexão, identificação, atração e intimidade sexual. A afinidade com essas questões pelas pessoas é grande, uma vez que são universais. A especificidade delas no filme é que são vividas por um homem negro, pobre e gay, ensinado a não ser vulnerável e exposto. Ele cresce com elas por dois atos e não as negligencia no terceiro, tão lindo e tão doce, carregado de significado em cada gesto: uma porta aberta, uma música, uma foto, tudo representa um embate, um confronto calado entre partir e ficar, se entregar ou reservar.
No final das contas ser ridicularizado não significa nada nada perto do que é se permitir sentir e amar (é brega mas é verdade!!)
É um filme muito bonito tecnicamente, cheio de silêncios, gestos e cores, com uma trilha sonora e atores incríveis.
Não é nem um pouco estereotipado e merece ser ouvido e reverenciado pelo seu conteúdo, especialmente nestes tempos tão cheios de ódio.