Não dá. Tudo bem, estamos diante de uma novela, é preciso suspender a descrença e mergulhar com a mente aberta, mas tudo tem limite.
Essa novela está muito longe de ter alguma subversão, como alguns insistem em dizer. Antes de tudo, o JEC (um homem gay), não foi capaz novamente de fazer um personagem LGBT com camadas, não conseguiu nas novelas anteriores, e aqui nem se esforçou mesmo. Raulzito é o personagem LGBT mais sem graça das tramas do JEC, rico, com síndrome de salvador, manipulador e vingativo. Mas por algum motivo, o público da novela, deveria achar os ricos dela com essas características, especialmente o Raulzito e a Guiomar, pessoas com qualidades por terem frieza e paciência para humilharem seus adversários. Uma suposta subversão poderia ser o fato de estar só pra streaming, poderíamos acompanhar os desdobramentos com mais objetividade e nitidez, mas logo o que temos é a repetição comum à linguagem. Outra suposta subversão são as dezenas de personagens pretos. Então vamos lá, Oberdan é o personagem mais desprezível e imaturo de toda a novela, e a Jussara, esposa dele, só existe com o propósito de salientar os conflitos do marido. Lila é rica e casada com o branco Luis Felipe, que só pode transar uma vez na semana e não demonstra nenhum carinho pela esposa, ela discorda, mas aceita, sua narrativa também orbita em torno do marido. Não muito longe disso, a filha segue os passos da mãe, dando uma chance para um criminoso branco. Joca é abusivo com Mauritânia. Darcy encabeça outro núcleo de humor sem graça alguma. E Judite é infinitamente irritante e só não é mais insistente que o próprio Rafael no que se refere ao romance dele com a afilhada. Ela é COMPLETAMENTE pé atrás com o próprio filho, mas com o branco rico Rafael, ela defende de tudo, sem falar que tem um filho com outro branco, Humberto. Por fim, a vilã Vanessa, por mais interessante que possa parecer, não tem background satisfatório. E eu contei ao menos umas 50x o Rafael dizer a frase "a gente precisa conversar", o que faz dele o personagem que mais odiei de longe.
É isso:
Moral nº 1. - quem é rico porque nasceu rico É BOM. Lutou para ter vida de rico? Mau caráter, CLARO.
Moral nº 2. - se você é preto, precisa ter uma relação interracial, se curvar aos brancos ou se curvar aos estereótipos de abusivo, "malandro" ou infiel (e nos casos das mulheres, "cornas", sonsas ou burras).
Moral nº 3. - agora se você é pobre e só quer viver bem, aí é o maior dos pecados, você merece sofrer e lutar pela sua vida e se envolver em tramas psicóticas igual a família do Diego, quem sabe sofrendo MUITO e saindo disso você prove seu valor.
É, o universo das novelas está mesmo distante de mudanças. [Comentário com base nos primeiros 12 capítulos.]
Com exceção da Carminha, os personagens, embora bem interpretados, são quase todos insuportáveis, até mesmo a Nina, e nem precisava mencionar Jorginho e Max (de longe os piores, horríveis em todos os sentidos)... A violência que os dois infligem nas personagens femininas é inaceitável, e olha que a novela é de 2012 (por mais que faça algum sentido, não consegui aceitar o jeito que o Jorginho trata a mãe a novela inteira)! A família Tufão é irritante ao extremo, um teste de paciência. Por outro lado, a armação do roteiro é quase perfeita, o JEC realmente se debruçou na concatenação das histórias (nem parece o mesmo que escreveu Segundo Sol), pena que em uma novela, por vezes, isso é o de menos, já que a maior parte do tempo a gente é obrigado a ver personagens secundários bobos em histórias pouco inspiradas, várias coisas repetitivas e outras pouco prováveis de acontecer... No fim, acredito que o sucesso da novela se deve à personagem Carminha, a entrega da Adriana Esteves é absoluta, e ela é tão bem escrita que a parte da vingança, que achava que seria central, acaba sendo aproveitada aos poucos mais pro ápice que se dá um pouco depois da metade da novela (pra no fim esfriar bastante). O final, claro, é péssimo, mas Avenida Brasil é uma das poucas novelas que consegue mostrar emoção real, em grande parte porque é bem escrita e as interpretações são muito boas.
Desandou demais no final, uma vergonha! E quase todas as tentativas de "lacrar" deram errado! O núcleo da "família de Zefa" jogou um pouco de luz sobre a decadência da elite corrupta e racista e, no fim, relativizaram os crimes do patriarca. Sobre drogas, abordagem tímida. Sobre bissexualidade (ou poliamor?), ficou confuso, reforçando o que já pensam. Sobre homossexualidade quase nada, o melhor amigo da protagonista é gay, mas isso não é nem mencionado, já o outro gay é ex-torturador da ditadura (!). Sobre abuso moral (e até sexual) no trabalho, uma vergonha a forma como mostraram. O maior acerto foi a personagem Nice e a trama sobre abuso doméstico. A melhor personagem da novela foi Laureta, porque conseguiu ser uma vilã séria e espirituosa. A maior decepção foi a personagem Rosa, a garota de programa refém do machismo de Ícaro e Valentim, "má" por ser ambiciosa (mas que ia ser "domada" por um dos machos, como a Cacau com o Roberval, que foi horrível com ela). A história girou em torno de planos contra a vida de Luzia que não pareciam críveis, também não desceu muito bem a Luzia como DJ ou as mentiras das mortes de Beto e Remy (a de Beto no decorrer da novela). O casal principal é quase nulo, o Emilio Dantas ainda conseguiu mostrar melhor seu trabalho em alguns arroubos de desespero. Luzia emocionou mais na conversa que tem com Valentim após ele descobrir que é seu filho. A meu ver, só dava pra torcer por Luzia por causa das vilãs. Infelizmente, Segundo Sol colocou, em quase todos os casos, a liberdade como uma permissividade boba, os filhos que não saem da casa dos pais, os jovens na casa dos 20-30 que não estudam ou trabalham, as pessoas que querem "viver de arte" (e os que lucram com os casos de sucesso), a ocupação onde nada acontece (e que tem mesa farta), o casal adulto +40 que mora na casa do pai do marido, o filho que namora (e casa com) a mãe do suposto filho do pai, a mulher com dois maridos, o menino com duas mães, o menino com dois pais que são irmãos, a mulher com uma namorada e um namorado simultaneamente, o patriarca com filhos fora do casamento (com empregada e prostituta) e pasmem, um tio e sobrinha que namoram (sem mencionar toda a relação abusiva pregressa dos dois aparentados). Poderia ter sido mais positivo o fato da relação de Luzia e Beto ser basicamente "sensorial", mas são dois personagens completamente ingênuos. E o pior são todos sendo moralistas e desconfiados o tempo todo, especialmente o personagem Ionan. Relativizaram também os crimes de Remy e Karola. Pelas lentes da novela, a Bahia é um lugar cheio de gente branca com nome exótico, boba e permissiva, além de ter a polícia civil mais inútil da face da Terra (além de corrupta). Não tenho parâmetro de novela de João Emanuel Carneiro, porque só vi outra, mas essa tinha tudo para ser melhor que A Regra do Jogo e não chegou nem perto.
Todas as Flores
3.4 99 Assista AgoraNão dá.
Tudo bem, estamos diante de uma novela, é preciso suspender a descrença e mergulhar com a mente aberta, mas tudo tem limite.
Essa novela está muito longe de ter alguma subversão, como alguns insistem em dizer. Antes de tudo, o JEC (um homem gay), não foi capaz novamente de fazer um personagem LGBT com camadas, não conseguiu nas novelas anteriores, e aqui nem se esforçou mesmo. Raulzito é o personagem LGBT mais sem graça das tramas do JEC, rico, com síndrome de salvador, manipulador e vingativo. Mas por algum motivo, o público da novela, deveria achar os ricos dela com essas características, especialmente o Raulzito e a Guiomar, pessoas com qualidades por terem frieza e paciência para humilharem seus adversários. Uma suposta subversão poderia ser o fato de estar só pra streaming, poderíamos acompanhar os desdobramentos com mais objetividade e nitidez, mas logo o que temos é a repetição comum à linguagem. Outra suposta subversão são as dezenas de personagens pretos. Então vamos lá, Oberdan é o personagem mais desprezível e imaturo de toda a novela, e a Jussara, esposa dele, só existe com o propósito de salientar os conflitos do marido. Lila é rica e casada com o branco Luis Felipe, que só pode transar uma vez na semana e não demonstra nenhum carinho pela esposa, ela discorda, mas aceita, sua narrativa também orbita em torno do marido. Não muito longe disso, a filha segue os passos da mãe, dando uma chance para um criminoso branco. Joca é abusivo com Mauritânia. Darcy encabeça outro núcleo de humor sem graça alguma. E Judite é infinitamente irritante e só não é mais insistente que o próprio Rafael no que se refere ao romance dele com a afilhada. Ela é COMPLETAMENTE pé atrás com o próprio filho, mas com o branco rico Rafael, ela defende de tudo, sem falar que tem um filho com outro branco, Humberto. Por fim, a vilã Vanessa, por mais interessante que possa parecer, não tem background satisfatório. E eu contei ao menos umas 50x o Rafael dizer a frase "a gente precisa conversar", o que faz dele o personagem que mais odiei de longe.
É isso:
Moral nº 1. - quem é rico porque nasceu rico É BOM.
Lutou para ter vida de rico? Mau caráter, CLARO.
Moral nº 2. - se você é preto, precisa ter uma relação interracial, se curvar aos brancos ou se curvar aos estereótipos de abusivo, "malandro" ou infiel (e nos casos das mulheres, "cornas", sonsas ou burras).
Moral nº 3. - agora se você é pobre e só quer viver bem, aí é o maior dos pecados, você merece sofrer e lutar pela sua vida e se envolver em tramas psicóticas igual a família do Diego, quem sabe sofrendo MUITO e saindo disso você prove seu valor.
É, o universo das novelas está mesmo distante de mudanças.
[Comentário com base nos primeiros 12 capítulos.]
Avenida Brasil
4.1 838Com exceção da Carminha, os personagens, embora bem interpretados, são quase todos insuportáveis, até mesmo a Nina, e nem precisava mencionar Jorginho e Max (de longe os piores, horríveis em todos os sentidos)... A violência que os dois infligem nas personagens femininas é inaceitável, e olha que a novela é de 2012 (por mais que faça algum sentido, não consegui aceitar o jeito que o Jorginho trata a mãe a novela inteira)! A família Tufão é irritante ao extremo, um teste de paciência. Por outro lado, a armação do roteiro é quase perfeita, o JEC realmente se debruçou na concatenação das histórias (nem parece o mesmo que escreveu Segundo Sol), pena que em uma novela, por vezes, isso é o de menos, já que a maior parte do tempo a gente é obrigado a ver personagens secundários bobos em histórias pouco inspiradas, várias coisas repetitivas e outras pouco prováveis de acontecer... No fim, acredito que o sucesso da novela se deve à personagem Carminha, a entrega da Adriana Esteves é absoluta, e ela é tão bem escrita que a parte da vingança, que achava que seria central, acaba sendo aproveitada aos poucos mais pro ápice que se dá um pouco depois da metade da novela (pra no fim esfriar bastante). O final, claro, é péssimo, mas Avenida Brasil é uma das poucas novelas que consegue mostrar emoção real, em grande parte porque é bem escrita e as interpretações são muito boas.
Segundo Sol
3.2 26Desandou demais no final, uma vergonha! E quase todas as tentativas de "lacrar" deram errado! O núcleo da "família de Zefa" jogou um pouco de luz sobre a decadência da elite corrupta e racista e, no fim, relativizaram os crimes do patriarca. Sobre drogas, abordagem tímida. Sobre bissexualidade (ou poliamor?), ficou confuso, reforçando o que já pensam. Sobre homossexualidade quase nada, o melhor amigo da protagonista é gay, mas isso não é nem mencionado, já o outro gay é ex-torturador da ditadura (!). Sobre abuso moral (e até sexual) no trabalho, uma vergonha a forma como mostraram. O maior acerto foi a personagem Nice e a trama sobre abuso doméstico. A melhor personagem da novela foi Laureta, porque conseguiu ser uma vilã séria e espirituosa. A maior decepção foi a personagem Rosa, a garota de programa refém do machismo de Ícaro e Valentim, "má" por ser ambiciosa (mas que ia ser "domada" por um dos machos, como a Cacau com o Roberval, que foi horrível com ela). A história girou em torno de planos contra a vida de Luzia que não pareciam críveis, também não desceu muito bem a Luzia como DJ ou as mentiras das mortes de Beto e Remy (a de Beto no decorrer da novela). O casal principal é quase nulo, o Emilio Dantas ainda conseguiu mostrar melhor seu trabalho em alguns arroubos de desespero. Luzia emocionou mais na conversa que tem com Valentim após ele descobrir que é seu filho. A meu ver, só dava pra torcer por Luzia por causa das vilãs. Infelizmente, Segundo Sol colocou, em quase todos os casos, a liberdade como uma permissividade boba, os filhos que não saem da casa dos pais, os jovens na casa dos 20-30 que não estudam ou trabalham, as pessoas que querem "viver de arte" (e os que lucram com os casos de sucesso), a ocupação onde nada acontece (e que tem mesa farta), o casal adulto +40 que mora na casa do pai do marido, o filho que namora (e casa com) a mãe do suposto filho do pai, a mulher com dois maridos, o menino com duas mães, o menino com dois pais que são irmãos, a mulher com uma namorada e um namorado simultaneamente, o patriarca com filhos fora do casamento (com empregada e prostituta) e pasmem, um tio e sobrinha que namoram (sem mencionar toda a relação abusiva pregressa dos dois aparentados). Poderia ter sido mais positivo o fato da relação de Luzia e Beto ser basicamente "sensorial", mas são dois personagens completamente ingênuos. E o pior são todos sendo moralistas e desconfiados o tempo todo, especialmente o personagem Ionan. Relativizaram também os crimes de Remy e Karola. Pelas lentes da novela, a Bahia é um lugar cheio de gente branca com nome exótico, boba e permissiva, além de ter a polícia civil mais inútil da face da Terra (além de corrupta). Não tenho parâmetro de novela de João Emanuel Carneiro, porque só vi outra, mas essa tinha tudo para ser melhor que A Regra do Jogo e não chegou nem perto.
Tudo Pela Audiência (1ª Temporada)
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a Narcisa caindo!