O que a Netflix peca na qualidade de seus filmes e séries originais, compensa na qualidade dos documentários! Acho que este, ao lado de The Keepers, são meus docs Netflix preferidos. Me tirou o sono essa noite, mas vamos lá. Com 3 horas de duração (que passam voando), o doc conta toda a caçada virtual em busca do rapaz desconhecido que filmava e publicava vídeos de crueldade com gatos na Internet, a repercução, as reviravoltas e o desfecho deste que foi um dos crimes mais sombrios e perturbadores da história do Canadá, impressionando todo o mundo em 2012. Além do trabalho muito competente e fluido em relação à coleta e narrativa dos fatos, o doc aborda temas polêmicos e delicados como invasão de privacidade, os perigos da Internet, a glamourização da violência e os limites do sadismo humano. Mesmo não havendo a exposição de nenhuma imagem muito gráfica de violência, é uma história que machuca apenas por sua temática. Eu diria que mais do que um documentário, Don't F**k With Cats é um filme de terror. Eu particularmente ainda estou muito abalado emocional e psicologicamente, levarei um tempo para digerir tudo. Para quem tem nervos de aço, fica a dica.
É sempre muito bom acompanhar as histórias mirabolantes da mente do Charlie Brooker, criador de Black Mirror, mas fica cada vez mais notável o desgaste que a série vem arrastando sutilmente desde a quarta temporada. Vemos aqui algumas ideias recicladas, alguns desfechos anticlimáticos, algumas tramas ilógicas, mas acredito que a essência da série ainda se faz presente.
O acidente nuclear de Chernobyl que aconteceu em 1986 é algo que sempre me intrigou, eu já assisti alguns materiais sobre o tema, mas além de poucos documentários, nunca houve nenhuma produção oficial que o abordasse muito a fundo ou que usasse a cidade como cenário, nada além daquele filme de terror horroroso "Chernobyl Diaries". Acredito que agora sim temos uma versão definitiva sobre o acontecido, e que porrada na cara é essa minissérie! Extremamente informativa, a narrativa toma um viés político muito forte que desmascara a forma irresponsável como os governantes soviéticos lidaram com esta que veio a ser uma tragédia sem precedentes na história da humanidade, o preço pego para manter a imagem de que era "apenas um acidente já controlado" foi alto demais. Para os leigos, a série consegue ser incrivelmente didática sem subestimar a capacidade do público de compreensão, ao abordar assuntos complexos sobre química, física e radioatividade de forma acessível e verossímil. Em relação aos aspectos técnicos: a reconstrução de época, os planos de fundo que compõem os cenários e paisagens de Chernobyl e Pripyat, os efeitos visuais e especiais, a maquiagem, a trilha sonora, o figurino e a cinematografia de tons frios são simplesmente impecáveis. E por fim, o trio de protagonistas: Jared Harris, Stellan Skarsgård e principalmente a Emily Watson, entregaram interpretações fortíssimas! Que elenco espetacular! Os três merecem e com justiça um Emmy e um Golden Globe. Chernobyl, mais do que uma série que nos alerta sobre perigos radiológicos e sobre um fato histórico, é uma série que descarna o lado mais sujo do homem, da incompetência, da covardia, do abuso de poder, da ganância, da apatia e da falta de humanidade. É doloroso, é corrosivo, é sofrido, mas é um soco de realidade que todos deveriam experimentar. Deixo aqui as últimas llnhas de diálogo da cena final que são palavras valiosas aplicáveis em qualquer momento da vida.
"Ser cientista é ser ingênuo. Focamos tanto na procura pela verdade que não consideramos que poucos querem que a encontremos. Mas ela está sempre lá, quer a vejamos ou não, escolhamos ou não. A verdade não se importa com o que queremos. Não se importa com os nossos governos, ideologias, religiões. Ela ficará à espera para sempre. E isto, por fim, é a dádiva de Chernobyl. Já temi o preço da verdade, mas agora apenas pergunto, qual é o preço das mentiras?"
E assim, sob a sombra da frustração, se encerra essa odisseia medieval de muita guerra, sangue, fogo e gelo. É amargo testemunhar um desfecho tão pobre e relaxado para uma produção que sempre teve o cuidado de manter um nível mínimo de qualidade em âmbitos como efeitos visuais, trilha sonora, diálogos, tramas imprevisíveis e até mesmo interpretações, tais qualidades que se fizeram quase inexistentes no último episódio, e é uma desilusão porque não parece nem de longe um desfecho de Game of Thrones, levando em consideração tudo que a série representou. Mas, justiça seja feita, apesar de apenas 6 episódios, foi uma ótima temporada (excluindo o episódio The Iron Throne), toda a construção para o estopim do surto da Daenerys em The Bells, apesar de apressada, é muito empolgante pelo seu resultado: o ataque devastador em King's Landing, mas o grande climax da temporada é o sensacional episódio The Long Night, em que acontece a guerra de Winterfell contra os White Walkers, e admito: foi mais assustador que muitos filmes de terror, e boa parte desse mérito vai para a trilha sonora opressora do Ramin Djawadi que cria uma atmosfera de tensão e maus presságios agonizantes, a fotografia lúgubre e mórbida e os efeitos visuais quase imperceptíveis. Vai ficar na memória. Game of Thrones é uma ótima série para quem busca um entretenimento escapista sobre intrigas, traições e guerras medievais com muitos requintes de crueldade, sadismo e fantasia.
Difícil pensar numa produção tão representativa quanto Super Drags, é uma série de animação nacional original Netflix que conta a história de drag queens super heroínas interpretadas por algumas vozes de fortes personalidades do movimento LGBT no Brasil. O elenco também conta com ótimos profissionais da dublagem brasileira como Sérgio Cantú, Sylvia Salustti e Guilherme Briggs, e apesar da Pabllo Vittar e a Silvetty Montilla não serem atrizes e muito menos dubladoras, em nada prejudica a qualidade do trabalho de voz de suas personagens porque elas estão esforçadas. O roteiro é engessado, se sustenta demais em referências para desenvolver sua premissa, mas é calcado em muito humor, muita apropriação da cultura brasileira de memes, uma boa representação do universo colorido e festivo das drag queens (creio eu, apesar de ter poucas referências sobre o assunto) e aborda temas como aceitação, cura gay, padrões estéticos, esteriótipos, religião, de forma bastante genérica e artificial, mas aborda. No geral, é uma animação escapista bem divertida e politicamente incorreta que bate de frente com a onda de conservadorismo que vem inundando nosso país. Se eu fosse drag queen, provavelmente seria como o Ralph, ele adora animes e é avoado de tudo.
Como amante de cinema e histórias de terror, já me peguei muitas vezes vislumbrando como eu poderia transformar minhas ideias em material audiovisual, e acredito que a visão e o estilo do diretor Mike Flanagan são os que mais se aproximam de algo que eu realmente faria. Me identifico. Ele constrói a atmosfera com um cuidado clínico, os silêncios, ruídos e sussurros têm peso dramático, o terror é pincelado com muita sutileza nas composições cênicas (uma sombra ou um rosto quase imperceptíveis a observar no canto da tela), a manipulação das expectativas, a desconstrução de clichês do gênero, é uma direção refinada, consciente e de muita liberdade artística, nível James Wan. É como eu sempre digo: o melhor terror nasce no drama, e em The Haunting of Hill House (uma mistura ponderada de O Orfanato, Amityville, Invocação do Mal e O Iluminado), além das inacreditáveis qualidades técnicas como a edição minuciosa, a trilha sonora assustadora e a fotografia belíssima, há uma história subjacente pesadíssima sobre uma casa mal-assombrada e uma família lidando com seus próprios fantasmas. E que baita história! O texto é fluido, bem escrito, o roteiro é amarradinho, não apela para explicações baratas e sempre deixa a dúvida no ar, o elenco é afiadíssimo (destaque para Carla Gugino, Kate Siegel e Elizabeth Reaser) e os personagens são reais, relevantes, têm camadas e consistência, o terror está a serviço de seus personagens, não ao contrário, por isso a série funciona tão bem. Ao final cabe a reflexão: estaríamos nós também convivendo com nossos fantasmas?
Esta é uma daquelas histórias que mexe com a gente, cria uma marca, não há como ficar indiferente, não só sufoca e faz chorar ou refletir, mas é uma história que fica, que martela, que perturba, cria uma cicatriz.
Em relação aos detalhes técnicos, é tudo muito impressionante, o trabalho de pesquisa é muito rico, as fotografias, os vídeos encontrados, os contatos, as intersecções, é um documentário muito fluido que apresenta numa narrativa intrincada todo o panorama envolvendo o assassinato, os suspeitos, a geografia do local numa edição muito ponderada e organizada que além de intrigar com tantas dúvidas que até hoje pairam no ar, dá tempo ao público para absorver todos os detalhes. Há segmentos tão pesados e assustadores que vira um filme de terror, os detalhes sórdidos são de tirar o ar, são expostas tantas atrocidades e injustiças envolvendo a polícia, a legislação e a Arquidiocese que destruíram a vida de tantas mulheres e famílias, que a sensação de revolta é inevitável. É admirável a força dessas dezenas de mulheres corajosas que passaram por tantos traumas e humilhações e clamaram a vida toda por justiça, sem nunca obtê-la. Meu coração ainda pesa.
Sim, Black Mirror realmente perdeu parte da sutileza nas críticas sociais e a inventividade que originou a série envolvendo o lado negro da tecnologia já demonstra sinais de desgaste, mas não achei esse desastre todo que andam comentando, ainda há muito do que se aproveitar aqui.
Melhores episódios: - Crocodile: Apesar do desfecho apressado e meio mirabolante, o episódio todo mantém um drama criminal e investigativo muito intenso, mérito da fotografia principalmente.
- Hang the DJ: É o San Junipero da vez, um episódio leve e romântico para aliviar a barra pesada dos demais episódios, e funciona.
- Black Museum: É um aglomerado de várias boas ideias envolvendo inteligência artificial e o julgamento moral sobre a integridade de tal tecnologia é desenvolvido com uma perspicácia que Black Mirror sabe fazer de olhos fechados. A história do macaco de pelúcia me exigiu uma pausa para respirar.
Além de ser um mocumentário a série também é uma sátira aos documentários sobre assassinatos e crimes hediondos ao retratar um caso de vandalismo com a mesma abordagem séria e realista de tais documentários, o que por si só já é muito engraçado. Aqui há um garoto procurando a verdade por trás de um ato de vandalismo e formas de inocentar o único suspeito que se declara inocente. A versatilidade do roteiro é impressionante, as mudanças de perspectiva são constantes, o desenrolar de cada novo suspeito é sempre rico em detalhes, novas possibilidades e a linha do tempo jamais fica embaralhada ou confusa, é uma série muito bem organizada, os atores são convincentes, a trilha sonora acompanha a atmosfera satírica e por mais que seja uma série cômica sobre pintos pichados, ainda tem algo a dizer no final. Uma das melhores surpresas da Netflix este ano.
Fuller House fazendo escola. O retorno (não tão triunfal quanto poderia) da Raven às telinhas deve agradar aos fãs mais fervorosos da série original e aos loucos por referências. O humor desta nova versão está mais escrachado e menos natural, a própria Raven está caricata e forçada demais recorrendo a gritos, surtos e exageros que além de cansativos também não têm a menor graça. Eu gosto da série original, mas há pouco a se salvar aqui, espero que a próxima temporada venha melhor lapidada.
Melhores episódios: - In-Vision of Privacy - Vest in Show
É o tradicional seriado de investigação criminal com uma abordagem que compele o público a tomar partido pela protagonista auto declarada culpada, mas o diferencial aqui está no enigma, na esperança, no mergulho psicológico de uma mente flagelada, num premeditado elemento surpresa que supera as expectativas. Aliás, nunca vi a Jessica Biel tão dedicada a um papel, uma indicação ao Emmy 2018 não seria exagero.
Melhores episódios: - Part I - Part VII - Part VIII
Esta é a temporada de AHS mais intrigante tematicamente desde Freak Show, a discussão sobre política e misoginia não poderia ser mais pertinente e o paralelo à fobias, paranoias e a ambiguidade da imagem do palhaço só agregou ao tema e à atmosfera do terror psicológico, a Sarah Paulson e a Adina Porter dão muita força ao elenco mas a estrela aqui é o Evan Peters, o resto do elenco é apenas funcional. No geral, teria sido uma temporada memorável não fosse a brusca mudança de tom e foco a partir do sétimo episódio.
Após o auge de Jogos Vorazes e o fracasso de Divergente, Maze Runner e 3%, achei que as histórias sobre distopias não arriscariam dar as caras tão cedo, mas eis que surge The Handmaid's Tale, abordando temas muito delicados como a objetificação da mulher, lavagem cerebral, repressão social e sexual, escravidão e o machismo disfarçado. É um cruel retrato do quão voláteis, contraditórios e frágeis podem ser o caráter e a moral dos indivíduos "mais poderosos" em situações de emergência e por mais surreal que a trama possa parecer, são nítidos os paralelos com a sociedade atual. Isso sem falar nas virtudes estéticas, técnicas e um elenco que dispensa comentários (Elizabeth Moss está magnífica, performance digna de Emmy). Definitivamente um seriado necessário.
As primeiras faíscas que acenderam a chama da vingança do Norte, o prelúdio da guerra real, o despertar das criaturas vermelhas e aladas, a aurora dos mortos-vivos ambulantes, a consagração de uma rainha e a traição de um jovem regicida. Há muitos personagens e muitas tramas, mas são todos significativos e instigantes, é como um vagaroso jogo de xadrez em que cada movimento anuncia a iminente queda do rei, mas não sem antes derramar muito sangue e sujeira. E nunca se esqueça, o inverno está chegando.
A reconstrução visual da Hollywood clássica é modesta e banhada em cores quentes e vibrantes e a trilha sonora é elegante e bastante invocativa, mas o que realmente chama atenção em Feud é a abordagem que o roteiro veste para descarnar como o forte machismo e a manipulação midiática ditavam as regras e a acomodação da figura feminina frente a isso, além da extraordinária composição e desenvolvimento de personagem por parte da Susan Sarandon e Jessica Lange. Aqui contemplamos Bette e Joan por um novo olhar, mais minucioso, íntimo, humano e extremamente sensível, descortinando as feridas e fragilidades infligidas a elas durante anos pela mídia e sem nunca demonizar a figura de Joan ou seu passado complexo. Uma belíssima homenagem ao trabalho de duas atrizes únicas e grandiosas por parte de outras atrizes tão incomparáveis quanto. Ao final eu era só lágrimas.
E aqui encerra a história do garoto Norman Bates. Nesta última temporada ele mergulha no cerne de sua psicose, delimita aos tropeços a fina linha entre realidade e a voz maternal de seu inconsciente. A construção de personagem é extraordinária, um trabalho contínuo ao longo de cinco anos onde é notável no trabalho do Freddie Highmore a ebulição da mente de um psicótico que nunca teve o cordão umbilical cortado, entre gestos, olhares, manias e tom de voz: a pura personificação de sua mãe. Vera Farmiga a matriarca de uma família disfuncional, mulher zelosa, apaixonada, inconstante, imprevisível, uma verdadeira força da natureza em cena que simplesmente me desestabiliza; o irretocável fio condutor da trama e a união perfeita para Norman. Bates Motel pode ter se originado de um filme clássico, mas tem força, presença e personalidade, jamais se dispôs a ser uma mera cópia e é incrível como foi Psicose que se adaptou à série e não ao contrário. Por isso deu certo. Não esquecerei Norma e Norman tão cedo. Já estou com saudades.
Um mistério delicioso de assassinato, um drama intenso sobre estupro, abuso doméstico, um retrato genuíno sobre o veneno e as falsas aparências da classe alta e algumas pinceladas sobre bullying; tudo revestido com uma excelente trilha sonora, uma edição afiadíssima e extremamente funcional e fidedigna à narrativa, uma fotografia fria e glamourosa que oscila entre o sombrio e o poético, uma encorpada e crescente carga dramática e um elenco que dispensa comentários. O nível de veracidade e naturalidade das atuações aqui é formidável, um verdadeiro e cuidadoso trabalho que encontra o âmago da essência entre o ator e seu personagem e a química necessária para transitar entre os demais. Big Little Lies sabe ser socialmente relevante sem ser panfletária, sabe construir e dar espaço e equilíbrio para seus personagens, é livre de típicos vícios e jamais emburrece ou subestima seu público. Reese Witherspoon, Nicole Kidman, Laura Dern e Shailene Woodley estão de parabéns, os jurados já podem dividir o Emmy em quatro pedaços. Isso sim é uma série minha gente.
Ser jovem é doloroso, é a fase em que fundamos nosso alicerce e alçamos voo para a vida adulta, mas às vezes há circunstâncias que transformam essa valiosa experiência num trauma irreparável. Esta é a essência da série 13 Reasons Why, sobre a visão de uma garota que desaba sob o cáustico e obscuro universo dos adolescentes. Retalhado numa afiadíssima edição que transita entre presente e passado, lentamente desvendamos ao lado de Clay, o protagonista, o segredo que levou Hannah Baker ao suicídio. As abordagens dramáticas e os conflitos internos são cortantes e pungentes, a relação entre Hannah e Clay estabelecida através de flashbacks e fitas cassetes é extremamente delicada e íntima, o roteiro é amarradinho e delinea um engenhoso quebra-cabeça de causa e consequência que inevitavelmente inspira profundas reflexões e a atmosfera tóxica do bullying atiça uma inquietação tão enervante a ponto de vestir o público com a carne da garota. Sua personagem é moldada através de tradicionais experiências sobre como encontrar a si mesma em outros núcleos, amadurecer num mar revolto de incertezas, estar em evidência, descobrir seu valor no mundo, é um intenso e perturbador estudo de personagem que esmiucia as dores e inseguranças e a fragilidade violada e banalizada, navega sob temas indigestos como humilhação, invasão de privacidade, injúria, estupro, machismo, suicídio e externa como até o mais singelo boato mal intencionado pode germinar num irrefreável efeito borboleta. Um detalhe: há uma incômoda presença silenciosa e disforme que gradativamente ganha intensidade, silhueta e um tenebroso senso de urgência ao desenrolar dos episódios: a presença do vazio, da devastação... da morte. Estejam preparados para uma completa imersão no subconsciente de uma vítima de abusos. É simplesmente assustador.
Melhores episódios: - Tape 1, Side A (Reason 1: Justin) - Tape 3, Side A (Reason 5: Courtney) - Tape 4, Side A (Reason 7: Zach) - Tape 5, Side B (Reason 10: Sheri) - Tape 7, Side A (Reason 13: Mr. Porter)
O desenvolvimento dos personagens é muito bem dosado e equilibrado, todos têm seu espaço, seu momento e seu valor. O elenco num geral é afiado e carismático, mas o maior destaque aqui é quase todo da Mandy Moore e o Milo Ventimiglia, ambos estão perfeitos e entregam fortíssimas atuações, o nível de zelo e carinho que ambos transparecem um pelo outro e pelos filhos é extremamente real e natural, rendendo excelentes cenas dramáticas. Golden Globe da Mandy Moore mais que merecido. O trabalho de edição também é fantástico, embaralha inúmeros recortes de diversos momentos na linha do tempo e os organiza aleatoriamente de maneira limpa e organizada sem nunca parecer um mero recurso estético e de estilo, é um trabalho que além de valorizar os fortes laços familiares também fortifica a efemeridade da vida e das memórias. Há momentos em que os discursos pesam e soam moralistas demais, o elenco infantil é consideravelmente menos talentoso, há muitos diálogos expositivos e didatismo gratuito e o roteiro é visivelmente esticado além do necessário, uma enxugada teria caído muito bem. Ainda assim, This is Us é como folhear um álbum de família recheado de fotografias em ordem não linear e ainda fazer você se sentir incluído, é uma série sobre dilemas do casamento e da parentalidade, traumas, culpa, racismo, preconceitos, sonhos, sucesso, fracasso, perdão, e acima de tudo, a celebração do amor pelos entes queridos. Uma bela lição de humanidade e solidariedade. Recomendo.
Nem um ano se passou desde que a Netflix estreou Fuller House e eis que já disponibilizaram mais uma temporada sem nem dar espaço para o público respirar. Consequentemente temos aqui uma temporada mais inconsistente, xarope, preguiçosa, de humor mais apelativo e uma cansativa auto repetição de si mesma. Felizmente a série não abusou tanto das referências à Full House e agora já anda com as próprias pernas, mas as atuações continuam muito fracas, há alguns personagens sem o menor senso de carisma e há um uso indevido, mal intencionado e extremamente exagerado das "risadas de fundo" que chega a ser insuportável. No entanto, não é pior que a maioria das sitcoms de atualmente e desta vez vale a pena pelo elenco infantil que está consideravelmente mais agradável. Melhores episódios: - Fuller Thanksgiving - New Kids in the House
Baseada numa suposta história real de uma antiga colônia desaparecida, a sexta temporada de AHS traz uma roupagem totalmente nova e cheia de liberdade criativa e inventiva, o que manobra a série em rumo a novos ares. Há uma metalinguagem que abusa de diversos formatos dentro de um só: mocumentário, reality show, talk show, tudo dentro de uma série que está dentro de uma série, há diversas referências a clássicos do terror como A Bruxa de Blair, O Massacre da Serra Elétrica, O Iluminado e até uma pitada de terror oriental, os temas sobrenaturais, de paganismo, canibalismo, cobiça midiática e desavenças de bastidores funcionam melhor como mini tramas individuais, mas funcionam e não abafam uns aos outros, e a maior parte do elenco está bastante inspirada, destaque para a Kathy Bates, Sarah Paulson e Adina Porter. Em contrapartida, o nível de gore é instável e contrasta muito entre fortes cenas de carnificina com um péssimo sangue de efeito digital, a edição é horrível e extremamente confusa e amadora, há furos no roteiro que não justificam o plot twist da segunda metade da temporada, o final menospreza injustamente uma possível Final Girl e o epílogo encerra numa conclusão difícil de engolir. Ainda assim, é muito bom ver AHS brincando, rindo de si mesma e arriscando novos formatos.
A celebração do ridículo, o exagero interpretativo proposital, as pitadas audaciosas de humor negro, os personagens aversivos e uma protagonista asquerosa, isso é o que compõe Haters Back Off, uma espécie de casamento grotesco entre Kimmy Schmidt e Fernandona. É o tipo de vergonha alheia que não agradará a todos e só vingará com aqueles que superarem o primeiro impacto das excentricidades e peculiaridades dos personagens, mas sob o ar caricato encontra-se uma divertida reinvenção da tradicional imagem do pobre soberbo e incompetente em busca de seu sonho. Entretenimento leve, gostoso e despretensioso para uma tarde de sábado. Detalhe: a cena do monólogo da Miranda no episódio "Staring in a Musicall" é IMPAGÁVEL.
Don't F**k With Cats: Uma Caçada Online
4.2 326 Assista AgoraO que a Netflix peca na qualidade de seus filmes e séries originais, compensa na qualidade dos documentários! Acho que este, ao lado de The Keepers, são meus docs Netflix preferidos. Me tirou o sono essa noite, mas vamos lá. Com 3 horas de duração (que passam voando), o doc conta toda a caçada virtual em busca do rapaz desconhecido que filmava e publicava vídeos de crueldade com gatos na Internet, a repercução, as reviravoltas e o desfecho deste que foi um dos crimes mais sombrios e perturbadores da história do Canadá, impressionando todo o mundo em 2012. Além do trabalho muito competente e fluido em relação à coleta e narrativa dos fatos, o doc aborda temas polêmicos e delicados como invasão de privacidade, os perigos da Internet, a glamourização da violência e os limites do sadismo humano. Mesmo não havendo a exposição de nenhuma imagem muito gráfica de violência, é uma história que machuca apenas por sua temática. Eu diria que mais do que um documentário, Don't F**k With Cats é um filme de terror. Eu particularmente ainda estou muito abalado emocional e psicologicamente, levarei um tempo para digerir tudo. Para quem tem nervos de aço, fica a dica.
Big Little Lies (2ª Temporada)
4.2 480Vivi pra ver a Renata Klein dando umas porradas naquele embuste de marido
Black Mirror (5ª Temporada)
3.2 959É sempre muito bom acompanhar as histórias mirabolantes da mente do Charlie Brooker, criador de Black Mirror, mas fica cada vez mais notável o desgaste que a série vem arrastando sutilmente desde a quarta temporada. Vemos aqui algumas ideias recicladas, alguns desfechos anticlimáticos, algumas tramas ilógicas, mas acredito que a essência da série ainda se faz presente.
Chernobyl
4.7 1,4K Assista AgoraO acidente nuclear de Chernobyl que aconteceu em 1986 é algo que sempre me intrigou, eu já assisti alguns materiais sobre o tema, mas além de poucos documentários, nunca houve nenhuma produção oficial que o abordasse muito a fundo ou que usasse a cidade como cenário, nada além daquele filme de terror horroroso "Chernobyl Diaries". Acredito que agora sim temos uma versão definitiva sobre o acontecido, e que porrada na cara é essa minissérie! Extremamente informativa, a narrativa toma um viés político muito forte que desmascara a forma irresponsável como os governantes soviéticos lidaram com esta que veio a ser uma tragédia sem precedentes na história da humanidade, o preço pego para manter a imagem de que era "apenas um acidente já controlado" foi alto demais. Para os leigos, a série consegue ser incrivelmente didática sem subestimar a capacidade do público de compreensão, ao abordar assuntos complexos sobre química, física e radioatividade de forma acessível e verossímil. Em relação aos aspectos técnicos: a reconstrução de época, os planos de fundo que compõem os cenários e paisagens de Chernobyl e Pripyat, os efeitos visuais e especiais, a maquiagem, a trilha sonora, o figurino e a cinematografia de tons frios são simplesmente impecáveis. E por fim, o trio de protagonistas: Jared Harris, Stellan Skarsgård e principalmente a Emily Watson, entregaram interpretações fortíssimas! Que elenco espetacular! Os três merecem e com justiça um Emmy e um Golden Globe. Chernobyl, mais do que uma série que nos alerta sobre perigos radiológicos e sobre um fato histórico, é uma série que descarna o lado mais sujo do homem, da incompetência, da covardia, do abuso de poder, da ganância, da apatia e da falta de humanidade. É doloroso, é corrosivo, é sofrido, mas é um soco de realidade que todos deveriam experimentar. Deixo aqui as últimas llnhas de diálogo da cena final que são palavras valiosas aplicáveis em qualquer momento da vida.
"Ser cientista é ser ingênuo. Focamos tanto na procura pela verdade que não consideramos que poucos querem que a encontremos. Mas ela está sempre lá, quer a vejamos ou não, escolhamos ou não. A verdade não se importa com o que queremos. Não se importa com os nossos governos, ideologias, religiões. Ela ficará à espera para sempre. E isto, por fim, é a dádiva de Chernobyl. Já temi o preço da verdade, mas agora apenas pergunto, qual é o preço das mentiras?"
Game of Thrones (8ª Temporada)
3.0 2,2K Assista AgoraE assim, sob a sombra da frustração, se encerra essa odisseia medieval de muita guerra, sangue, fogo e gelo. É amargo testemunhar um desfecho tão pobre e relaxado para uma produção que sempre teve o cuidado de manter um nível mínimo de qualidade em âmbitos como efeitos visuais, trilha sonora, diálogos, tramas imprevisíveis e até mesmo interpretações, tais qualidades que se fizeram quase inexistentes no último episódio, e é uma desilusão porque não parece nem de longe um desfecho de Game of Thrones, levando em consideração tudo que a série representou. Mas, justiça seja feita, apesar de apenas 6 episódios, foi uma ótima temporada (excluindo o episódio The Iron Throne), toda a construção para o estopim do surto da Daenerys em The Bells, apesar de apressada, é muito empolgante pelo seu resultado: o ataque devastador em King's Landing, mas o grande climax da temporada é o sensacional episódio The Long Night, em que acontece a guerra de Winterfell contra os White Walkers, e admito: foi mais assustador que muitos filmes de terror, e boa parte desse mérito vai para a trilha sonora opressora do Ramin Djawadi que cria uma atmosfera de tensão e maus presságios agonizantes, a fotografia lúgubre e mórbida e os efeitos visuais quase imperceptíveis. Vai ficar na memória. Game of Thrones é uma ótima série para quem busca um entretenimento escapista sobre intrigas, traições e guerras medievais com muitos requintes de crueldade, sadismo e fantasia.
Super Drags (1ª Temporada)
3.6 210 Assista AgoraDifícil pensar numa produção tão representativa quanto Super Drags, é uma série de animação nacional original Netflix que conta a história de drag queens super heroínas interpretadas por algumas vozes de fortes personalidades do movimento LGBT no Brasil. O elenco também conta com ótimos profissionais da dublagem brasileira como Sérgio Cantú, Sylvia Salustti e Guilherme Briggs, e apesar da Pabllo Vittar e a Silvetty Montilla não serem atrizes e muito menos dubladoras, em nada prejudica a qualidade do trabalho de voz de suas personagens porque elas estão esforçadas. O roteiro é engessado, se sustenta demais em referências para desenvolver sua premissa, mas é calcado em muito humor, muita apropriação da cultura brasileira de memes, uma boa representação do universo colorido e festivo das drag queens (creio eu, apesar de ter poucas referências sobre o assunto) e aborda temas como aceitação, cura gay, padrões estéticos, esteriótipos, religião, de forma bastante genérica e artificial, mas aborda. No geral, é uma animação escapista bem divertida e politicamente incorreta que bate de frente com a onda de conservadorismo que vem inundando nosso país. Se eu fosse drag queen, provavelmente seria como o Ralph, ele adora animes e é avoado de tudo.
A Maldição da Residência Hill
4.4 1,4K Assista AgoraComo amante de cinema e histórias de terror, já me peguei muitas vezes vislumbrando como eu poderia transformar minhas ideias em material audiovisual, e acredito que a visão e o estilo do diretor Mike Flanagan são os que mais se aproximam de algo que eu realmente faria. Me identifico. Ele constrói a atmosfera com um cuidado clínico, os silêncios, ruídos e sussurros têm peso dramático, o terror é pincelado com muita sutileza nas composições cênicas (uma sombra ou um rosto quase imperceptíveis a observar no canto da tela), a manipulação das expectativas, a desconstrução de clichês do gênero, é uma direção refinada, consciente e de muita liberdade artística, nível James Wan. É como eu sempre digo: o melhor terror nasce no drama, e em The Haunting of Hill House (uma mistura ponderada de O Orfanato, Amityville, Invocação do Mal e O Iluminado), além das inacreditáveis qualidades técnicas como a edição minuciosa, a trilha sonora assustadora e a fotografia belíssima, há uma história subjacente pesadíssima sobre uma casa mal-assombrada e uma família lidando com seus próprios fantasmas. E que baita história! O texto é fluido, bem escrito, o roteiro é amarradinho, não apela para explicações baratas e sempre deixa a dúvida no ar, o elenco é afiadíssimo (destaque para Carla Gugino, Kate Siegel e Elizabeth Reaser) e os personagens são reais, relevantes, têm camadas e consistência, o terror está a serviço de seus personagens, não ao contrário, por isso a série funciona tão bem. Ao final cabe a reflexão: estaríamos nós também convivendo com nossos fantasmas?
The Keepers
4.4 163 Assista AgoraEsta é uma daquelas histórias que mexe com a gente, cria uma marca, não há como ficar indiferente, não só sufoca e faz chorar ou refletir, mas é uma história que fica, que martela, que perturba, cria uma cicatriz.
Em relação aos detalhes técnicos, é tudo muito impressionante, o trabalho de pesquisa é muito rico, as fotografias, os vídeos encontrados, os contatos, as intersecções, é um documentário muito fluido que apresenta numa narrativa intrincada todo o panorama envolvendo o assassinato, os suspeitos, a geografia do local numa edição muito ponderada e organizada que além de intrigar com tantas dúvidas que até hoje pairam no ar, dá tempo ao público para absorver todos os detalhes. Há segmentos tão pesados e assustadores que vira um filme de terror, os detalhes sórdidos são de tirar o ar, são expostas tantas atrocidades e injustiças envolvendo a polícia, a legislação e a Arquidiocese que destruíram a vida de tantas mulheres e famílias, que a sensação de revolta é inevitável. É admirável a força dessas dezenas de mulheres corajosas que passaram por tantos traumas e humilhações e clamaram a vida toda por justiça, sem nunca obtê-la. Meu coração ainda pesa.
Black Mirror (4ª Temporada)
3.8 1,3K Assista AgoraSim, Black Mirror realmente perdeu parte da sutileza nas críticas sociais e a inventividade que originou a série envolvendo o lado negro da tecnologia já demonstra sinais de desgaste, mas não achei esse desastre todo que andam comentando, ainda há muito do que se aproveitar aqui.
Melhores episódios:
- Crocodile:
Apesar do desfecho apressado e meio mirabolante, o episódio todo mantém um drama criminal e investigativo muito intenso, mérito da fotografia principalmente.
- Hang the DJ:
É o San Junipero da vez, um episódio leve e romântico para aliviar a barra pesada dos demais episódios, e funciona.
- Black Museum:
É um aglomerado de várias boas ideias envolvendo inteligência artificial e o julgamento moral sobre a integridade de tal tecnologia é desenvolvido com uma perspicácia que Black Mirror sabe fazer de olhos fechados. A história do macaco de pelúcia me exigiu uma pausa para respirar.
Vândalo Americano (1ª Temporada)
4.1 97 Assista AgoraAlém de ser um mocumentário a série também é uma sátira aos documentários sobre assassinatos e crimes hediondos ao retratar um caso de vandalismo com a mesma abordagem séria e realista de tais documentários, o que por si só já é muito engraçado. Aqui há um garoto procurando a verdade por trás de um ato de vandalismo e formas de inocentar o único suspeito que se declara inocente. A versatilidade do roteiro é impressionante, as mudanças de perspectiva são constantes, o desenrolar de cada novo suspeito é sempre rico em detalhes, novas possibilidades e a linha do tempo jamais fica embaralhada ou confusa, é uma série muito bem organizada, os atores são convincentes, a trilha sonora acompanha a atmosfera satírica e por mais que seja uma série cômica sobre pintos pichados, ainda tem algo a dizer no final. Uma das melhores surpresas da Netflix este ano.
A Casa da Raven (1ª Temporada)
4.0 80Fuller House fazendo escola. O retorno (não tão triunfal quanto poderia) da Raven às telinhas deve agradar aos fãs mais fervorosos da série original e aos loucos por referências. O humor desta nova versão está mais escrachado e menos natural, a própria Raven está caricata e forçada demais recorrendo a gritos, surtos e exageros que além de cansativos também não têm a menor graça. Eu gosto da série original, mas há pouco a se salvar aqui, espero que a próxima temporada venha melhor lapidada.
Melhores episódios:
- In-Vision of Privacy
- Vest in Show
The Sinner (1ª Temporada)
4.2 716 Assista AgoraÉ o tradicional seriado de investigação criminal com uma abordagem que compele o público a tomar partido pela protagonista auto declarada culpada, mas o diferencial aqui está no enigma, na esperança, no mergulho psicológico de uma mente flagelada, num premeditado elemento surpresa que supera as expectativas. Aliás, nunca vi a Jessica Biel tão dedicada a um papel, uma indicação ao Emmy 2018 não seria exagero.
Melhores episódios:
- Part I
- Part VII
- Part VIII
American Horror Story: Cult (7ª Temporada)
3.6 483 Assista AgoraEsta é a temporada de AHS mais intrigante tematicamente desde Freak Show, a discussão sobre política e misoginia não poderia ser mais pertinente e o paralelo à fobias, paranoias e a ambiguidade da imagem do palhaço só agregou ao tema e à atmosfera do terror psicológico, a Sarah Paulson e a Adina Porter dão muita força ao elenco mas a estrela aqui é o Evan Peters, o resto do elenco é apenas funcional. No geral, teria sido uma temporada memorável não fosse a brusca mudança de tom e foco a partir do sétimo episódio.
Melhores episódios:
- 11/9
- Holes
- Mid-Western Assassin
Cinco que Voltaram
4.5 35 Assista Agoraponham a Meryl Streep no elenco aqui na ficha do Filmow, por favor
O Conto da Aia (1ª Temporada)
4.7 1,5K Assista AgoraApós o auge de Jogos Vorazes e o fracasso de Divergente, Maze Runner e 3%, achei que as histórias sobre distopias não arriscariam dar as caras tão cedo, mas eis que surge The Handmaid's Tale, abordando temas muito delicados como a objetificação da mulher, lavagem cerebral, repressão social e sexual, escravidão e o machismo disfarçado. É um cruel retrato do quão voláteis, contraditórios e frágeis podem ser o caráter e a moral dos indivíduos "mais poderosos" em situações de emergência e por mais surreal que a trama possa parecer, são nítidos os paralelos com a sociedade atual. Isso sem falar nas virtudes estéticas, técnicas e um elenco que dispensa comentários (Elizabeth Moss está magnífica, performance digna de Emmy). Definitivamente um seriado necessário.
Melhores episódios:
- Offred
- The Bridge
- Night
Game of Thrones (1ª Temporada)
4.6 2,3K Assista AgoraAs primeiras faíscas que acenderam a chama da vingança do Norte, o prelúdio da guerra real, o despertar das criaturas vermelhas e aladas, a aurora dos mortos-vivos ambulantes, a consagração de uma rainha e a traição de um jovem regicida. Há muitos personagens e muitas tramas, mas são todos significativos e instigantes, é como um vagaroso jogo de xadrez em que cada movimento anuncia a iminente queda do rei, mas não sem antes derramar muito sangue e sujeira. E nunca se esqueça, o inverno está chegando.
Feud: Bette and Joan (1ª Temporada)
4.6 283 Assista AgoraA reconstrução visual da Hollywood clássica é modesta e banhada em cores quentes e vibrantes e a trilha sonora é elegante e bastante invocativa, mas o que realmente chama atenção em Feud é a abordagem que o roteiro veste para descarnar como o forte machismo e a manipulação midiática ditavam as regras e a acomodação da figura feminina frente a isso, além da extraordinária composição e desenvolvimento de personagem por parte da Susan Sarandon e Jessica Lange. Aqui contemplamos Bette e Joan por um novo olhar, mais minucioso, íntimo, humano e extremamente sensível, descortinando as feridas e fragilidades infligidas a elas durante anos pela mídia e sem nunca demonizar a figura de Joan ou seu passado complexo. Uma belíssima homenagem ao trabalho de duas atrizes únicas e grandiosas por parte de outras atrizes tão incomparáveis quanto. Ao final eu era só lágrimas.
Bates Motel (5ª Temporada)
4.4 757E aqui encerra a história do garoto Norman Bates. Nesta última temporada ele mergulha no cerne de sua psicose, delimita aos tropeços a fina linha entre realidade e a voz maternal de seu inconsciente. A construção de personagem é extraordinária, um trabalho contínuo ao longo de cinco anos onde é notável no trabalho do Freddie Highmore a ebulição da mente de um psicótico que nunca teve o cordão umbilical cortado, entre gestos, olhares, manias e tom de voz: a pura personificação de sua mãe. Vera Farmiga a matriarca de uma família disfuncional, mulher zelosa, apaixonada, inconstante, imprevisível, uma verdadeira força da natureza em cena que simplesmente me desestabiliza; o irretocável fio condutor da trama e a união perfeita para Norman. Bates Motel pode ter se originado de um filme clássico, mas tem força, presença e personalidade, jamais se dispôs a ser uma mera cópia e é incrível como foi Psicose que se adaptou à série e não ao contrário. Por isso deu certo.
Não esquecerei Norma e Norman tão cedo. Já estou com saudades.
Big Little Lies (1ª Temporada)
4.6 1,1K Assista AgoraUm mistério delicioso de assassinato, um drama intenso sobre estupro, abuso doméstico, um retrato genuíno sobre o veneno e as falsas aparências da classe alta e algumas pinceladas sobre bullying; tudo revestido com uma excelente trilha sonora, uma edição afiadíssima e extremamente funcional e fidedigna à narrativa, uma fotografia fria e glamourosa que oscila entre o sombrio e o poético, uma encorpada e crescente carga dramática e um elenco que dispensa comentários. O nível de veracidade e naturalidade das atuações aqui é formidável, um verdadeiro e cuidadoso trabalho que encontra o âmago da essência entre o ator e seu personagem e a química necessária para transitar entre os demais. Big Little Lies sabe ser socialmente relevante sem ser panfletária, sabe construir e dar espaço e equilíbrio para seus personagens, é livre de típicos vícios e jamais emburrece ou subestima seu público. Reese Witherspoon, Nicole Kidman, Laura Dern e Shailene Woodley estão de parabéns, os jurados já podem dividir o Emmy em quatro pedaços. Isso sim é uma série minha gente.
13 Reasons Why (1ª Temporada)
3.8 1,5K Assista AgoraSer jovem é doloroso, é a fase em que fundamos nosso alicerce e alçamos voo para a vida adulta, mas às vezes há circunstâncias que transformam essa valiosa experiência num trauma irreparável. Esta é a essência da série 13 Reasons Why, sobre a visão de uma garota que desaba sob o cáustico e obscuro universo dos adolescentes. Retalhado numa afiadíssima edição que transita entre presente e passado, lentamente desvendamos ao lado de Clay, o protagonista, o segredo que levou Hannah Baker ao suicídio. As abordagens dramáticas e os conflitos internos são cortantes e pungentes, a relação entre Hannah e Clay estabelecida através de flashbacks e fitas cassetes é extremamente delicada e íntima, o roteiro é amarradinho e delinea um engenhoso quebra-cabeça de causa e consequência que inevitavelmente inspira profundas reflexões e a atmosfera tóxica do bullying atiça uma inquietação tão enervante a ponto de vestir o público com a carne da garota. Sua personagem é moldada através de tradicionais experiências sobre como encontrar a si mesma em outros núcleos, amadurecer num mar revolto de incertezas, estar em evidência, descobrir seu valor no mundo, é um intenso e perturbador estudo de personagem que esmiucia as dores e inseguranças e a fragilidade violada e banalizada, navega sob temas indigestos como humilhação, invasão de privacidade, injúria, estupro, machismo, suicídio e externa como até o mais singelo boato mal intencionado pode germinar num irrefreável efeito borboleta. Um detalhe: há uma incômoda presença silenciosa e disforme que gradativamente ganha intensidade, silhueta e um tenebroso senso de urgência ao desenrolar dos episódios: a presença do vazio, da devastação... da morte. Estejam preparados para uma completa imersão no subconsciente de uma vítima de abusos. É simplesmente assustador.
Melhores episódios:
- Tape 1, Side A (Reason 1: Justin)
- Tape 3, Side A (Reason 5: Courtney)
- Tape 4, Side A (Reason 7: Zach)
- Tape 5, Side B (Reason 10: Sheri)
- Tape 7, Side A (Reason 13: Mr. Porter)
This Is Us (1ª Temporada)
4.7 779 Assista AgoraO desenvolvimento dos personagens é muito bem dosado e equilibrado, todos têm seu espaço, seu momento e seu valor. O elenco num geral é afiado e carismático, mas o maior destaque aqui é quase todo da Mandy Moore e o Milo Ventimiglia, ambos estão perfeitos e entregam fortíssimas atuações, o nível de zelo e carinho que ambos transparecem um pelo outro e pelos filhos é extremamente real e natural, rendendo excelentes cenas dramáticas. Golden Globe da Mandy Moore mais que merecido. O trabalho de edição também é fantástico, embaralha inúmeros recortes de diversos momentos na linha do tempo e os organiza aleatoriamente de maneira limpa e organizada sem nunca parecer um mero recurso estético e de estilo, é um trabalho que além de valorizar os fortes laços familiares também fortifica a efemeridade da vida e das memórias. Há momentos em que os discursos pesam e soam moralistas demais, o elenco infantil é consideravelmente menos talentoso, há muitos diálogos expositivos e didatismo gratuito e o roteiro é visivelmente esticado além do necessário, uma enxugada teria caído muito bem. Ainda assim, This is Us é como folhear um álbum de família recheado de fotografias em ordem não linear e ainda fazer você se sentir incluído, é uma série sobre dilemas do casamento e da parentalidade, traumas, culpa, racismo, preconceitos, sonhos, sucesso, fracasso, perdão, e acima de tudo, a celebração do amor pelos entes queridos. Uma bela lição de humanidade e solidariedade. Recomendo.
Fuller House (2ª Temporada)
4.1 102Nem um ano se passou desde que a Netflix estreou Fuller House e eis que já disponibilizaram mais uma temporada sem nem dar espaço para o público respirar. Consequentemente temos aqui uma temporada mais inconsistente, xarope, preguiçosa, de humor mais apelativo e uma cansativa auto repetição de si mesma. Felizmente a série não abusou tanto das referências à Full House e agora já anda com as próprias pernas, mas as atuações continuam muito fracas, há alguns personagens sem o menor senso de carisma e há um uso indevido, mal intencionado e extremamente exagerado das "risadas de fundo" que chega a ser insuportável. No entanto, não é pior que a maioria das sitcoms de atualmente e desta vez vale a pena pelo elenco infantil que está consideravelmente mais agradável.
Melhores episódios:
- Fuller Thanksgiving
- New Kids in the House
American Horror Story: Roanoke (6ª Temporada)
3.9 716 Assista AgoraBaseada numa suposta história real de uma antiga colônia desaparecida, a sexta temporada de AHS traz uma roupagem totalmente nova e cheia de liberdade criativa e inventiva, o que manobra a série em rumo a novos ares. Há uma metalinguagem que abusa de diversos formatos dentro de um só: mocumentário, reality show, talk show, tudo dentro de uma série que está dentro de uma série, há diversas referências a clássicos do terror como A Bruxa de Blair, O Massacre da Serra Elétrica, O Iluminado e até uma pitada de terror oriental, os temas sobrenaturais, de paganismo, canibalismo, cobiça midiática e desavenças de bastidores funcionam melhor como mini tramas individuais, mas funcionam e não abafam uns aos outros, e a maior parte do elenco está bastante inspirada, destaque para a Kathy Bates, Sarah Paulson e Adina Porter. Em contrapartida, o nível de gore é instável e contrasta muito entre fortes cenas de carnificina com um péssimo sangue de efeito digital, a edição é horrível e extremamente confusa e amadora, há furos no roteiro que não justificam o plot twist da segunda metade da temporada, o final menospreza injustamente uma possível Final Girl e o epílogo encerra numa conclusão difícil de engolir. Ainda assim, é muito bom ver AHS brincando, rindo de si mesma e arriscando novos formatos.
Haters Back Off (1ª Temporada)
3.0 95 Assista AgoraA celebração do ridículo, o exagero interpretativo proposital, as pitadas audaciosas de humor negro, os personagens aversivos e uma protagonista asquerosa, isso é o que compõe Haters Back Off, uma espécie de casamento grotesco entre Kimmy Schmidt e Fernandona. É o tipo de vergonha alheia que não agradará a todos e só vingará com aqueles que superarem o primeiro impacto das excentricidades e peculiaridades dos personagens, mas sob o ar caricato encontra-se uma divertida reinvenção da tradicional imagem do pobre soberbo e incompetente em busca de seu sonho. Entretenimento leve, gostoso e despretensioso para uma tarde de sábado. Detalhe: a cena do monólogo da Miranda no episódio "Staring in a Musicall" é IMPAGÁVEL.