Na manhã da aldeia, uma bruma envolve e desfaz os limites concretos dos corpos, das posições, das idades. A ela juntam-se a fumaça dos fogos caseiros e o cheiro do café coado. Os que ali rodeiam, esperam, convivem devagar, com a certeza de que são donos em sua própria casa. No caminhão em direção à cidade de Batinga, estamos todos invadidos por cortes: cercas, sacos, moedas, movimentos bruscos, palavras ríspidas. Todos eles acusam um maior e primeiro corte: os Tikmu’un ultrapassaram a fronteira, estão no mundo dos mestres dos objetos, numa civilização onde cada coisa tem seu lugar. A presença deles na feira expõe a dura relação entre esses dois mundos. Batinga, uma pequena cidade na fronteira da Bahia, é chamada pelos Tikmu'un - Maxakali como Tatoka, o tatu está caro, como lhe diziam os habitantes da cidade, antigamente, quando os Tikmu'un - Maxakali lhes traziam tatus para vender.