Entre 1975 e 1979, o regime Khmer vermelho causou a morte de cerca de 1,8 milhões de pessoas, ou seja um quarto da população do Camboja. Kaing Guek Eav, denominado o Duch, dirigiu M13, uma prisão de mato dos khmers vermelhos, durante quatro anos antes de ser nomeado pela Angkar («A Organização», entidade sem rosto e omnipresente que reina despoticamente sobre o destino desse povo) no centro S21 em Phnom Penh. Na qualidade de secretário do partido, no S 21, ele comandou, entre 1975 e 1979 essa máquina de morte khmer vermelha onde faleceram, segundo os arquivos restantes, pelo menos 12 380 pessoas. Mas quantas desapareceram, “esmagadas, reduzidas a pó”, sem nunca se encontrarem vestígios. Em 2009, Kaing Guek Eav foi o primeiro dirigente da organização Khmer vermelha apresentado perante um tribunal de justiça penal internacional. O Duch revela aqui como estima ter cumprido plenamente a sua missão e as razões que o levaram a comandar a M13, e a seguir o S21: - A sua fé na ideologia da Angkar – A sua obsessão pelo trabalho bem feito, o culto da hierarquia e a preocupação de ser apreciado pelos seus chefes. – A sua paixão pelo poder, pela disciplina e pela organização. – Os seus talentos de pedagogo, empenhado em formar os perfeitos operários de um crime colectivo e silencioso. – O seu instinto de sobrevivência, os seus remorsos, o seu medo da morte. Rithy Panh recolhe a nu as palavras deste homem, sem floreios, no isolamento de um face a face. Paralelamente, põe-no em perspectiva com imagens de arquivo e testemunhos dos sobreviventes. Implacavelmente, ao longo da narração, desenha-se a máquina infernal de um sistema de destruição da humanidade através da descrição maníaca das suas minuciosas engrenagens.