China Miéville é considerado um dos melhores atores de literatura fantástica da atualidade. "Estação Perdido" é uma de suas obras mais conhecidas e desafia a classificação dentro de um gênero.
Trata-se de uma mistura equilibrada de elementos de ficção científica e horror que tem suas origens tanto no cinema como na literatura. Quem ficar atento vai perceber que o autor constrói o enredo do romance fortemente influenciado por obras de H. P. Lovecraft - talvez uma de suas maiores influências, romances de Charles Dickens e de Stephen King, narrativas de Borges, filmes dirigidos por David Cronenberg.
"Estação Perdido" é verdadeira "colcha de retalhos", que embora muito bem costurada deixa algumas pontas soltas, talvez porque é o primeiro livro de um trilogia. O que mais chama a atenção na obra é a forma verossímil como o autor descreve o cenário, no qual se passa toda a narrativa: a imensa cidade de Nova Crobuzon. É impressionante a quantidade de detalhes que Mieville utiliza para descrevê-lo. É por meio de sua prosa caótica cheia de neologismos que conseguimos visualizar as ruas, os prédios e até mesmo temos a impressão de sentirmos o mau cheiro de alguns lugares. Mieville também demonstra talento na composição de personagens: todos eles são críveis e os protagonistas conseguem cativar o leitor. É notável a maneira como o autor descreve as etnias de raças que vivem em Nova Crobuzon. Todos os seres monstruosos, embora nem todos maus têm características específicas e são descritos de modo que o leitor possa identificá-los.
Destaque entre eles para Lin - a personagem mais interessante de "Estação Perdido" - uma criatura com corpo de mulher e cabeça de besouro que mantém um relacionamento amoroso secreto com Issac, um cientista desbocado e bonachão que está desenvolvendo um estranho experimento científico. Inicialmente, o leitor pode até ficar um pouco impaciente com as descrições minuciosas do cenário e dos personagens, mas em determinado trecho a trama vai ficando mais complexa e o autor nos recompensa com muitas cenas empolgantes de ação e horror que são capazes de causar genuínos arrepios no leitor.
Sendo Miéville de formação marxista, em uma algumas passagens do romance podemos ver a existência de um discurso que pode ser definido como "socialista" que procura denunciar o conflito entre classes sociais. No entanto, "Estação Perdido" não se torna um texto ideológico, visando passar uma mensagem política (o que é um alívio). Miéville somente cria algumas situações para criar uma certa tensão na narrativa, embora deixe sugerido nas entrelinhas de seu romance que os mais fracos estão fadados a serem sempre subordinados aos poderosos que em "Estação Perdido são líderes de um governo corrupto e injusto.
Embora um pouco irregular em alguns trechos, "Estação Perdido" é uma obra inovadora que definiu os novos rumos da literatura fantástica. Um livro cheio de imagens impressionantes que nos transporta para uma realidade assustadora e fascinante ao mesmo tempo, que demonstra o grande talento de Miéville para criar mundos imaginários que instigam nossa imaginação.