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Natal, Rio Grande do Norte (BRA)
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Últimas opiniões enviadas

  • Aécio Santos Dantas

    Moonlight

    Em seu livro mais recente, Como conversar com um fascista, a filósofa Marcia Tiburi debate a importância da alteridade nas relações sociais e políticas. Alteridade nada mais é do que a nossa real capacidade de nos colocar no lugar do outro, de sermos verdadeiramente empáticos com o que é diferente de nós. Em um mundo em que o conservadorismo cresce a cada notícia, o ódio e o medo do estranho geram discursos fascistas carregados de misoginia, racismo e lgbtfobia, e por fim, onde a comoção se torna o vetor de movimento das massas impulsionada por uma mídia movida por interesses sombrios, Moonlight é uma luz a iluminar emoções e mostrar suas veias, um exercício de alteridade fulminante. Tudo que precisamos.

    Moonlight basea-se num texto teatral nunca produzido, para contar a história de Chiron, criança negra que vive em um bairro negro dos EUA, que luta na busca por autoconhecimento num ambiente extremamente hostil. Ele é criado apenas por sua mãe Paula, interpretada de forma visceral pela pouco conhecida Naomie Harries, que entregue ao vício do crack não consegue dar a atenção necessária as angústias do filho, especialmente na ausência do pai. Esta situação é atenuada pelos constantes ataques de Bullings na escola onde é xingado de "Bixa", criando um ambiente de vulnerabilidade muito perigoso. A Jornada de Little(apelido que recebe na sua infância) começa realmente quando ele conhece Juan(Mahershala Ali), traficante de drogas da região, que o "adota" após salva-lo de um grupo de crianças que afugenta o pequeno em um prédio abandonado. Se tornando a única referência paterna do pequeno Chiron. A partir daí a história faz um estudo de personagem brilhante, abordando temas muito preciosos como paternidade, família, homofobia, criminalidade e desigualdade social.

    A escolha de atores pouco conhecidos ou mesmo desconhecidos para esses papéis foi muito importante, ao vermos aquelas pessoas
    a sensação é que poderia ser qualquer um, não temos nenhum laço familiar com eles e reforça um dos principais objetivos do filme, que é forçar o espectador a compreender o turbilhão de emoções vividos por aqueles indivíduos. Esses atores receberam uma difícil tarefa e correspondem de maneira magnífica, digo isso porque a fotografia(voltarei a falar dela depois) constantemente foca nas reações dos personagens, sempre em planos fechados contemplando suas faces na angústia, loucura, silêncio e sorrisos. Algumas interpretações merecem destaque, como Mahershala Ali ao encarnar
    um homem que apesar do forte senso de comunidade sente o peso de suas ações como vendedor de Crack em um ambiente de muita vulnerabilidade. Já Namomie Harries vive uma mulher multidimensional e é incrível ver sua personagem evoluir durante toda película, da decadência a redenção. Mas o brilhantismo mesmo fica por conta do trio que interpreta Chiron na sua infância, adolescência e juventude, os atores são levados ao extremo. Em uma das cenas mais tocantes do filme vemos o pequeno "Little" preparando e tomando seu banho, sozinho em uma banheira. Olhar aquela criança com tantos questionamentos e angústias é simplesmente de rachar o coração. O mesmo acontece quando após um incidente em sua fase adolescente, em prantos olha para a diretora do colégio e diz "Vocês nem ao menos fazem ideia". Um elenco que faz jus as qualidades técnicas do filme.

    Sua fotografia, trilha(possui uma música de Caetano) e montagem têm um papel fundamental em nos colocar em um processo empático com os personagens, e devo dizer que vi poucos filmes que conseguiram fazer essa união com tanta maestria. Sua fotografia é um dos aspectos mais fantásticos do filme, e algumas vezes, especialmente no primeiro ato, nos remete a Terence Mallick e seu belíssimo A Árvore da Vida. Sempre em planos fechados, atenuam a sensação de opressão e chega a ser claustrofóbico em diversos
    momentos. Ao mesmo tempo faz com que nos coloque próximos do protagonista, e em uma das cenas mais minimalistas do filme, vemos "Little" brincando de luta com um amigo, se engalfinhando, num entrelaçar de braços e pernas que denotam as sutilezas do contato físico humano. Ou quando ele toma banho de mar com Juan e este aproveita pra ensiná-lo a nadar, a união de trilha e fotografia compõe uma das cenas mais belas do filme. E quando tudo isso se une a uma edição impecável temos sequências incríveis como a do início do terceiro ato, uma rima visual de tirar o fôlego. Uma direção brilhante, merecedora de todos os prêmios.

    O filme ainda é muito honesto ao encarar a passagem do tempo e a impermanência das coisas, o que pode ser visto com certa frieza, mas denota muita maturidade. O que é uma grande qualidade do filme, por exemplo, em nenhum momomento subestima o espectador com diálogos que soem expositivos demais e às vezes usa poucas palavras para demarcar passagens de tempo e mesmo acontecimentos importantes. Isso determina também o rumo da história que estamos vendo, sobre quem e sobre o quê. Ao mesmo tempo, evoca no espectador o desejo de compreender o que está se passando, e não seria esse o ponto central do filme? O desejo de compreensão?

    Moonlight é uma obra-prima, um filme muito contemplativo, avesso a palavras e cuidadoso com as emoções que quer passar. O azul que acompanha todo filme concede um ar de fábula, e quando ouvimos a história que define o título do filme e sua sequência final é maravilhosamente lírico, poético. Moonlight, assim como seu protagonista, é de poucas palavras, mas estas, quando ditas, explodem em sentimento, angústia e por fim, amor.

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  • Aécio Santos Dantas

    Hell or Highwater

    A crise financeira que se abateu nos EUA em 2009, causada pela ganância de banqueiros e bancários, e teve reflexo em todo o globo, deixou a economia do império em frangalhos. Muitos perderam seus empregos, suas terras e muito mais ainda perderam suas casas. Filmes muito bons como Inside Job, Capitalismo: Uma história de amor e os excepcionais Margin Call e A Grande Aposta retratam muito bem esse momento histórico. Muitas coisas vieram a tona desde então, e
    após uma breve análise histórica não é difícl constatar que estamos diante de um império em declínio. As consequências de uma provável mudança no panorama hegemônico mundial ainda são turvas, no entanto, fazer uma avaliação de como está se dando esse processo localmente em terras yanks é um exercício que Hell or Highwater minimamente se propõe a fazer.

    Nesse western moderno Chris Pine interpreta um pai divorciado que decide se aliar ao seu irmão, interpretado pelo sempre ótimo Ben Foster, para assaltar bancos a oeste do
    texas, na tentativa de salvar o rancho de sua família, que está prestes a ser entregue aos bancos devido a dívidas e a crise imobiliária americana. O nosso querido Jeff Bridges interpreta o inteligentíssimo policial Marcus Hamilton, que acompanhado de seu parceiro de raízes indígenas são incumbidos de caçar os dois criminosos. É importante destacar as belíssimas e sensíveis interpretações entregues nesse filme. Chris Pine surpreende mostrando com muita sensibilidade a angústia de um homem cuja a face reflete toda dor de alguém que decide colocar a sua integridade moral e ética em risco em prol do bem-estar de sua família. Já Ben Foster faz o tipo ex-presidiário moralmente deturpado com maestria que, vítima de um sistema penitenciário injusto e violento, não exita em cometer atrocidades para conseguir o que quer. No entanto, graças a profunda entrega do ator, nunca deixamos de ver uma figura humana e que sua reação violenta vêm justamente do contexto de injustiças na qual os personagens estão imersos. Já Bridges surge como um policial veterano de raciocínio rápido representando a lei e a ordem. O que poderia ser um personagem frio, na verdade aqui é encarnado com profunda delicadeza pelo ator veterano, vemos assim um homem que é capaz de tratar seu parceiro com muito carinho e ao mesmo tempo ser implacável em sua busca. A dinâmica entre esses três personagens coloca o espectador em uma balança moral difícil pesar as decisões daqueles homens,
    e essa é sua maior qualidade.

    A fotografia realista é muito bonita, apela para o tom amarelo e reforça o clima árido do texas, tanto quanto o sentimento de pouca esperança que acompanha aqueles homens. Além disso, a decisão de mostrar durante todo o filme casas com placas de "A venda" e também de outdoors de bancos oferecendo empréstimos é essencial na construção de um subtexto que conecta o drama vivido pelos personagens com a realidade da economia estadunidense. O filme peca apenas quando faz isso de forma literal, mastigando demais o que já é óbvio para o espectador. Além disso, eventualmente aparece nas paisagens poços de perfuração de petróleo trazendo de relance o debate sobre a influência do "sangue negro" que a décadas guia os rumos desse país. Devo ressaltar a direção impecável das cenas de ação, realista e visceral. Em umas das cenas mais impressionante do filme os personagens são perseguidos por policiais e civis, é caótico, mas o espectador nunca deixa de entender o que está acontecendo. O fato de nos EUA existir o direito a porte de armas torna cada cidadão em um vigilante em potencial, substitua os cavalos por pickups e temos uma perseguição digna dos filmes de faroeste clássicos.

    Sua trilha, realizada por Nick Cave(ele e sua banda lançaram um dos melhores álbuns de 2016) e Warren Ellis, também é dos pontos fortes do filme. Ela alterna momentos de melancolia e tensão, são pianos e violinos que acessam direto o coração, me remetendo aos melhores momentos das trilhas de Clint Eastwood. Além disso, as músicas countries escolhidas a dedo dão um ar de Road movie ao filme, que eventualmente nos distraem da jornada perigosa na qual os irmãos estão enfrentando.

    Hell or Highwater(A Qualquer Custo em português) poderia ser mais um filme de ação descerebrado, ao invés disso temos um exemplar do melhor tipo de cinema, profundo e com diversas camadas onde nenhum take é desperdiçado. Depois do perfeito Onde os Fracos Não Têm Vez, eu fico muito feliz de ver um ótimo filme como esse revitalizar um gênero tão desgastado e de forma tão inteligente.

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  • Aécio Santos Dantas

    Sing Street

    Os anos 80 foram estranhos para a música. A inserção Sintetizadores, teclados mexeram muito com os rumos dela. Para alguns isso foi revolucionários e para outros deveras cafona.
    Devo confessar que eu me incluo no segundo grupo. No entanto, do caldo excêntrico dos anos 80, algumas bandas me acessam profundamente. The cure, a-ha, Joy Division, Depeche Mode são algumas delas. E é com carinho, honestidade e doses cavalares de saudosismo que essas músicas são relembradas em Sing Street.

    Terceiro filme de John Carney, segunda incursão dele nos musicais. Depois do excelente Once, Carney decide agora reviver toda atmosfera musical dos anos 80. Sing Street conta a história
    de Conor, garoto de 15 anos que vive em Dublin e que para fugir de dramas familiares e para impressionar uma misteriosa garota decide criar uma banda com seus colegas da escola. Esta retratada de forma extremamente conservadora
    referência óbvia mais do que apropriada a Another Brick on The Wall do Pink Floyd. E em meio a brigas familiares, valentões, "garotas complicadas" e professores fascistas, esse grupo de adolescentes encontram na música
    uma forma não só de fugir de seus dramas pessoais, mas de encontrarem a sua identidade. É muito legal observar a evolução dos personagens, e da própria banda, conforme eles são apresentados
    às principais bandas do momento. Maquiagens a lá Ziggy Stardust e The cure, clipes toscos, cabeleiras e roupas excêntricas e estilos musicais que vão mudando enquanto a história avança. Em uma das melhores sequencias
    do filme alguns personagens discutem sobre o amor alguém diz: "Seu problema é que você não está sendo feliz sendo trsite. Mas isso que é o amor, 'Happy-sad'". E após isso somos apresentados ao álbum do The Cure, "Eles são happy-sad".
    Genial. A construção dos clipes irão arrancar muitas gargalhadas, principalmente porque a forma artesanal e amadora nas quais os clipes são dirigidos são referências diretas aos clipes realizados naquela época.

    Gosto da forma como Sing Street decide abraçar diversos clichês do Gênero, e se em alguns momentos escolhe subvertê-los, em outros abraça-os de forma honesta e nunca entregando-os a pieguice barata e fácil. Ok, o filme possui alguns
    momentos bobos, o que pode desagradar alguns, mas de forma alguma estragam a a beleza do filme. Seu único e grave problema na minha opinião, reside na forma negligente com que trata os outros integrantes da banda, que são tratados como
    meros objetos de alívio cômico ou como mero figurantes e o filme se encerra com a sensação de que gostaríamos de conhecer mais sobre aqueles queridos personagens.

    Sabe aqueles bons filmes da sessão da tarde de antigamente? Esse seria um dos clássicos.

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  • Filmow
    Filmow

    O Oscar 2017 está logo aí e teremos o nosso tradicional BOLÃO DO OSCAR FILMOW!

    Serão 3 vencedores no Bolão com prêmios da loja Chico Rei para os três participantes que mais acertarem nas categorias da premiação. (O 1º lugar vai ganhar um kit da Chico Rei com 01 camiseta + 01 caneca + 01 almofada; o 2º lugar 01 camiseta da Chico Rei; e o 3º lugar 01 almofada da Chico Rei.)

    Vem participar da brincadeira com a gente, acesse https://filmow.com/bolao-do-oscar/ para votar.
    Boa sorte! :)

    * Lembrando que faremos uma transmissão ao vivo via Facebook e Youtube da Casa Filmow na noite da cerimônia, dia 26 de fevereiro. Confirme presença no evento https://www.facebook.com/events/250416102068445/

  • Fabrício
    Fabrício

    E se sihing Aécio!

  • Pedro Paulo Teixeira
    Pedro Paulo Teixeira

    Ei seu moço, adorei seu comentário sobre a vida de 3,14, não poderia ter escrito melhor o que achei =)

    Fica uma dica! Evite ir na página do filme "Amor", tem um "descuidado", pra não dizer outra coisa, que entrega spoiler de bandeja da parte mais importante do filme e que pode estragar sua "assistida". Té mais então!

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