Antes de The Square, assisti o Triangulo das tristezas e Força maior, e minha impressão é: Caramba, esse cara só faz filme bom! Mais um filme com diversos diálogos interessantíssimos, instigantes, fortes, trilha sonora marcante e que trabalha em favor da narrativa, e uma acidez, e provocações complexas.
Pra mim esse filme escancara como a ideia de responsabilidade social dos ricos é na verdade um compromisso de auto imagem, de auto preservação. A ideia de responsabilidade social é esvaziada e reduzida a "gestos de bondade", a "dar algo para a sociedade" como uma forma de se apaziguar com a inescapável fórmula da lógica liberal Minha riqueza = Pobreza alheia.
Tem algo que me pega muito nos filmes dele, que me parece uma métrica que ele repete, ainda que de formas diferentes, que eu traduziria mais ou menos assim: "Quer expor o lado mais podre de alguém? Deixe essa pessoa tentar se defender". Em The square tem mais de uma cena em que a gente vê essas tentativas de defesa de si, de pessoas que se veem como Éticas, responsáveis sociais, como alguém "bom", mas que não dão conta de digerir as próprias contradições, de agir com alteridade verdadeira, de se colocar em provocação.
- Ah, de uma pessoa que gosta de visitar museus: sensacional o humor ácido com toda a conceitualização de coisas que as vezes só são ruins, ou banais, enfim.
Enfim, dito tudo isso recomendo fortemente o filme <3!
Vi várias críticas ao ritmo do filme, eu achei ótimo pro que ele se propõe. É o segundo filme que vejo do Ruben Östlund e é nítido que ele gosta de explorar as partes mais desconfortáveis das relações humanas, mostrar mediocridade e contradição . Nisso eu acho que o ritmo contribui bastante, se pensarmos que - A avalanche a parte - não é um filme de grandes eventos, mas rachaduras que vão se abrindo nos personagens, um dialogo incômodo aqui, uma inquietação, até a gente poder ver o que acontece quando isso se quebra e quem acaba sustentando o peso das avalanches emocionais
A cena em que o Tomas entra em crise e fala pra Ebba que ela não é a única vítima, que ele é vítima de si, e no fim da cena ela tem que cuidar dele e das crianças. A cena parece ser construída pra dar mesmo a ideia de que ela cria 3 crianças, uma crítica bem direta a dependência masculina e exploração das relações de cuidado
Pra mim, a grande potência crítica desse filme as masculinidades, ao sexismo, a monogamia em certa medida, aparece nos gestos mais cotidianos, mais naturalizados. O Tomas faz gaslighting com a Ebba, tem sérios problemas em lidar com as próprias emoções e o único suporte que parece ser acessível a ele é de um cara que acha que gritar sozinho é melhor do que terapia. Isso me lembrou aqueles vídeo de coach em que os caras ficam berrando, o ápice do exercício de exteriorizar o machão.
Sobre o final do filme, achei controverso, ainda pensando se gostei ou não, mas definitivamente a narrativa num todo vale a pena. Vale uma ressalva enorme pro quão bons são alguns diálogos dos filmes desse diretor!
Acho interessante filmes que buscam fazer um contraponto a eles mesmos, mas nesse caso me pareceu uma saída preguiçosa. Uma interpretação possível que fiz é de que a Ebba tendo feito praticamente a mesma coisa que o Thomas, bateu neles completamente diferente de quando foi o contrário. O Thomas parece até satisfeito de que isso aconteceu, porque o exime da culpa. Não sei se foi essa a intenção do diretor. Percebi que em vários takes o Thomas ta centralizado, especialmente nesse último, então me pareceu que a ideia era mostrar como a autoestima dele é reforçada quando sua companheira se mostra fraca/vulnerável/assustada, assim como na cena da neve. Mesmo se for por esse lado achei um final fraco, já que seria quase uma repetição da cena da neve, e ainda abre margem pra uma interpretação dessa cena como uma inversão - bem pobre - do problema, em que a Ebba no fim das contas é igual o Tomas e que tudo se trata de instinto. Mas prefiro acreditar que a ideia do Ruben Östlund foi mais elaborada do que isso.
Bem interessante a temática Jovens com pais narcisistas se dando conta de que reproduzem as violências e costumes aprendidos pelos pais, mas os últimos 7 minutos arruínam o filme com clichês e desfechos rasos, na minha opinião.
O personagem do Brian, o estereótipo do nerd, é o único que tem um fechamento que condiz um pouco com a trajetória dele. Nos momentos finais do filme ele revela a ideação suicida por ser pressionado a sempre tirar 10 e fazer tudo perfeito. O fato dele não ter escrito uma redação "certinha" e que pretendesse se redimir com o diretor, mas ao invés disso ter escrito num sentido de confrontar esse poder institucional que generaliza todos os alunos mostra como ele se transformou, já não se importando tanto em cumprir as expectativas escolares, mas sim interessado em se descobrir e descobrir sobre os colegas.
Já o final dos outros 4 é terrível. Sei que o filme é antigo, mas essa ideia de que tudo se resolve com romance não deixa de ser enjoativa e rasa. O desfecho da personagem da Alisson é literalmente ser "consertada" pra se tornar uma "garota normal". O da Claire é deixar de ser virgem (?). e o dos outros dois caras é ficar com garotas (?).
Esse falso desfecho dos pares românticos ignora uma possível transformação dos personagens: O John reconhece as violências que sofre, ao longo do filme, mas não faz essa conexão com as violências que ele mesmo aprendeu a cometer com as pessoas ao redor, e muito menos se redime por elas. A Claire, que só anda com os descolados, ao invés de se amigar com a Alisson como ela é, tenta transforma-la em uma igual, e perde a oportunidade de reconhecer que o problema está nela mesma ao excluir quem acha que é diferente, em prol de um status. A Allison, ao reconhecer que é ignorada pelos pais e colegas, só passa a ser aceita quando se adequa a uma coisa que ela não é, ao invés de ser compreendida pelos novos amigos. Eles só a veem como uma pessoa relacionável quando ela se "normaliza" E o Andrew só faz cumprir as expectativas do pai machista, que no fim o vê beijando uma garota, mas não tem nenhuma transformação real que nos mostre que ele vá confrontar o pai e o treinador e deixar de treinar a força.
No fim, o Brian parece o único que tirou algo significativo e proveitoso desse encontro, mas sua carta que encerra o filme contradiz o desfecho dos outros 4 e da moral do próprio filme, que quer nos mostrar que eles se tornaram diferentes dos pais, dos adultos, quando na prática eles seguem as mesmas lógicas e ciclos de adequação.
É tão difícil encontrar romances bons que não caiam nos lugares clichês, e que sim falem sobre humanidade, que valorizem os encontros mas também os desencontros. Os ditos mas também os não ditos. Esse é um filme sobre aquilo que foi, aquilo que poderia ser, e toda a poética dolorosa e bonita dessa nossa capacidade de vislumbrar outras vidas, de lembrar outras vidas. Fui assistir sem nenhuma expectativa e saí bem tocada.
- As duas vezes em que eles se reencontram e essa familiaridade tímida, quase surreal, que eles tem um com o outro - A conversa da Nora com o marido em que ele pergunta: Se isso era tudo o que ela esperava da vida, se ele era o que ela esperava, e ela responde dizendo que simplesmente é ali onde ela foi parar. Sinto que ela não fala isso de forma ressentida, mas acho muito bonito como a Nora aceita a vida como aconteceu, as partes boas, as partes dolorosas. Ela tem uma sinceridade em relação a vida que faz dela uma personagem super interessante - A cena do bar em que o Hae Sung diz pra Nora que ele gosta dela TAMBÉM porque ela viajou pra longe, e não a despeito disso, que ela ter ido é parte de quem ela é, de sua personalidade. Ali ele afirma que gosta mesmo dela, e não de uma projeção dela, ou de uma versão dela que teria voltado correndo pra ele. - E a cena final, lógico. Fiquei muuuuito satisfeita quando o marido da Nora abraça e acolhe o choro dela. Ele já esperava ela na porta, ele já sabia de certa forma e isso mostra parte da intimidade dele, mas sobretudo de que, com todas as inseguranças que ele mostrou, ele não foi egoísta e esteve ali pra acolher um sentimento dela que é sobre MUITO mais do que a relação deles, sobre gostar de alguém. É algo existencial e que todo mundo pode sentir, em diferentes contextos, em amizades, em relações que não sejam monogâmicas. É muito bom ver que teve uma valorização desse sentimento ao invés de reduzir a um drama da pessoa "que está com um querendo estar com outro". Porque a vida tem muitas mais camadas de complexidade
Acabei de assistir, ainda digerindo. Amei muito! Em certos momentos me deu a impressão de que iria pra um clichê de terror, mas vai por caminhos que nos surpreendem muito.
Pra mim o ápice do filme é o momento que nomeia ele. OJ tá no carro, embaixo no bicho, e... "Nope". Nunca vi filmes de terror que explorassem essa ideia de que - Okay, tem um bicho macabro me caçando, não vou olhar, não tem a ver comigo, vou seguir a minha vida - e isso encaixa perfeitamente com a personalidade do OJ.
É muito "relatable" esse sentimento de quase um estado de negação da realidade pra poder lidar com coisas que simplesmente não podemos lidar. Num primeiro momento o OJ não faz isso como uma estratégia racional, ele não olha quase como uma forma de dizer "não faço parte disso".
E a virada pra eles quererem pegar o bicho também se encaixa bem na história, já que o OJ entende, por essa experiência, que o "OVNI" é na verdade um animal, e age como um. Aí o "Nope" deixa de ser um estado de negação pra ser uma estratégia de como lidar com esse bicho perigoso
Dira Paes perfeita de crente burocrata. Adoro como esse filme retrata os fetiches dessas igrejas evangélicas. Em certos momentos a postura da Joana no seu trabalho parece que cria um limiar entre 1: ela estar sendo muito fiel a deus e tentando (compulsoriamente) ajudar os outros com base em suas próprias crenças e 2: ela saber que trazer esses casais pro Divino amor significa transar com esses caras.
Achei o conflito da grávida de deus bem esperado, mas interessante. É uma forma de mostrar essa hipocrisia das religiões de acreditar em coisas difusas do passado, mas duvidar e imputar pecado em pessoas que em teoria estariam vivenciando histórias parecidas com as que eles acreditam (Joana poderia estar grávida de Jesus). O que no fim escancara que a crença é muito mais ritualística e estética do que concreta.
É forte que no fim ela passe por um descarte social dentro da própria igreja e tenha que abandonar o filho porque a estrutura só te ampara enquanto você cumpre todos os protocolos. Ela, como burocrata, no fim sofre por conta dos processos burocráticos dos quais ela tinha tanta crença, não podendo mais entrar no divino amor por não ser mais um casal, não podendo registrar seu filho porque não tem um pai, etc.
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The Square - A Arte da Discórdia
3.6 318 Assista AgoraAntes de The Square, assisti o Triangulo das tristezas e Força maior, e minha impressão é: Caramba, esse cara só faz filme bom! Mais um filme com diversos diálogos interessantíssimos, instigantes, fortes, trilha sonora marcante e que trabalha em favor da narrativa, e uma acidez, e provocações complexas.
Pra mim esse filme escancara como a ideia de responsabilidade social dos ricos é na verdade um compromisso de auto imagem, de auto preservação. A ideia de responsabilidade social é esvaziada e reduzida a "gestos de bondade", a "dar algo para a sociedade" como uma forma de se apaziguar com a inescapável fórmula da lógica liberal Minha riqueza = Pobreza alheia.
Tem algo que me pega muito nos filmes dele, que me parece uma métrica que ele repete, ainda que de formas diferentes, que eu traduziria mais ou menos assim: "Quer expor o lado mais podre de alguém? Deixe essa pessoa tentar se defender". Em The square tem mais de uma cena em que a gente vê essas tentativas de defesa de si, de pessoas que se veem como Éticas, responsáveis sociais, como alguém "bom", mas que não dão conta de digerir as próprias contradições, de agir com alteridade verdadeira, de se colocar em provocação.
- Ah, de uma pessoa que gosta de visitar museus: sensacional o humor ácido com toda a conceitualização de coisas que as vezes só são ruins, ou banais, enfim.
Enfim, dito tudo isso recomendo fortemente o filme <3!
Força Maior
3.6 241Vi várias críticas ao ritmo do filme, eu achei ótimo pro que ele se propõe. É o segundo filme que vejo do Ruben Östlund e é nítido que ele gosta de explorar as partes mais desconfortáveis das relações humanas, mostrar mediocridade e contradição . Nisso eu acho que o ritmo contribui bastante, se pensarmos que - A avalanche a parte - não é um filme de grandes eventos, mas rachaduras que vão se abrindo nos personagens, um dialogo incômodo aqui, uma inquietação, até a gente poder ver o que acontece quando isso se quebra e quem acaba sustentando o peso das avalanches emocionais
A cena em que o Tomas entra em crise e fala pra Ebba que ela não é a única vítima, que ele é vítima de si, e no fim da cena ela tem que cuidar dele e das crianças. A cena parece ser construída pra dar mesmo a ideia de que ela cria 3 crianças, uma crítica bem direta a dependência masculina e exploração das relações de cuidado
Pra mim, a grande potência crítica desse filme as masculinidades, ao sexismo, a monogamia em certa medida, aparece nos gestos mais cotidianos, mais naturalizados. O Tomas faz gaslighting com a Ebba, tem sérios problemas em lidar com as próprias emoções e o único suporte que parece ser acessível a ele é de um cara que acha que gritar sozinho é melhor do que terapia. Isso me lembrou aqueles vídeo de coach em que os caras ficam berrando, o ápice do exercício de exteriorizar o machão.
Sobre o final do filme, achei controverso, ainda pensando se gostei ou não, mas definitivamente a narrativa num todo vale a pena. Vale uma ressalva enorme pro quão bons são alguns diálogos dos filmes desse diretor!
Ainda sobre o final:
Acho interessante filmes que buscam fazer um contraponto a eles mesmos, mas nesse caso me pareceu uma saída preguiçosa. Uma interpretação possível que fiz é de que a Ebba tendo feito praticamente a mesma coisa que o Thomas, bateu neles completamente diferente de quando foi o contrário. O Thomas parece até satisfeito de que isso aconteceu, porque o exime da culpa. Não sei se foi essa a intenção do diretor. Percebi que em vários takes o Thomas ta centralizado, especialmente nesse último, então me pareceu que a ideia era mostrar como a autoestima dele é reforçada quando sua companheira se mostra fraca/vulnerável/assustada, assim como na cena da neve. Mesmo se for por esse lado achei um final fraco, já que seria quase uma repetição da cena da neve, e ainda abre margem pra uma interpretação dessa cena como uma inversão - bem pobre - do problema, em que a Ebba no fim das contas é igual o Tomas e que tudo se trata de instinto. Mas prefiro acreditar que a ideia do Ruben Östlund foi mais elaborada do que isso.
Clube dos Cinco
4.2 2,6K Assista AgoraBem interessante a temática Jovens com pais narcisistas se dando conta de que reproduzem as violências e costumes aprendidos pelos pais, mas os últimos 7 minutos arruínam o filme com clichês e desfechos rasos, na minha opinião.
O personagem do Brian, o estereótipo do nerd, é o único que tem um fechamento que condiz um pouco com a trajetória dele. Nos momentos finais do filme ele revela a ideação suicida por ser pressionado a sempre tirar 10 e fazer tudo perfeito. O fato dele não ter escrito uma redação "certinha" e que pretendesse se redimir com o diretor, mas ao invés disso ter escrito num sentido de confrontar esse poder institucional que generaliza todos os alunos mostra como ele se transformou, já não se importando tanto em cumprir as expectativas escolares, mas sim interessado em se descobrir e descobrir sobre os colegas.
Já o final dos outros 4 é terrível. Sei que o filme é antigo, mas essa ideia de que tudo se resolve com romance não deixa de ser enjoativa e rasa. O desfecho da personagem da Alisson é literalmente ser "consertada" pra se tornar uma "garota normal". O da Claire é deixar de ser virgem (?). e o dos outros dois caras é ficar com garotas (?).
Esse falso desfecho dos pares românticos ignora uma possível transformação dos personagens:
O John reconhece as violências que sofre, ao longo do filme, mas não faz essa conexão com as violências que ele mesmo aprendeu a cometer com as pessoas ao redor, e muito menos se redime por elas.
A Claire, que só anda com os descolados, ao invés de se amigar com a Alisson como ela é, tenta transforma-la em uma igual, e perde a oportunidade de reconhecer que o problema está nela mesma ao excluir quem acha que é diferente, em prol de um status.
A Allison, ao reconhecer que é ignorada pelos pais e colegas, só passa a ser aceita quando se adequa a uma coisa que ela não é, ao invés de ser compreendida pelos novos amigos. Eles só a veem como uma pessoa relacionável quando ela se "normaliza"
E o Andrew só faz cumprir as expectativas do pai machista, que no fim o vê beijando uma garota, mas não tem nenhuma transformação real que nos mostre que ele vá confrontar o pai e o treinador e deixar de treinar a força.
No fim, o Brian parece o único que tirou algo significativo e proveitoso desse encontro, mas sua carta que encerra o filme contradiz o desfecho dos outros 4 e da moral do próprio filme, que quer nos mostrar que eles se tornaram diferentes dos pais, dos adultos, quando na prática eles seguem as mesmas lógicas e ciclos de adequação.
Vidas Passadas
4.2 729 Assista AgoraÉ tão difícil encontrar romances bons que não caiam nos lugares clichês, e que sim falem sobre humanidade, que valorizem os encontros mas também os desencontros. Os ditos mas também os não ditos. Esse é um filme sobre aquilo que foi, aquilo que poderia ser, e toda a poética dolorosa e bonita dessa nossa capacidade de vislumbrar outras vidas, de lembrar outras vidas. Fui assistir sem nenhuma expectativa e saí bem tocada.
Highlights do filme, pra mim:
- As duas vezes em que eles se reencontram e essa familiaridade tímida, quase surreal, que eles tem um com o outro
- A conversa da Nora com o marido em que ele pergunta: Se isso era tudo o que ela esperava da vida, se ele era o que ela esperava, e ela responde dizendo que simplesmente é ali onde ela foi parar. Sinto que ela não fala isso de forma ressentida, mas acho muito bonito como a Nora aceita a vida como aconteceu, as partes boas, as partes dolorosas. Ela tem uma sinceridade em relação a vida que faz dela uma personagem super interessante
- A cena do bar em que o Hae Sung diz pra Nora que ele gosta dela TAMBÉM porque ela viajou pra longe, e não a despeito disso, que ela ter ido é parte de quem ela é, de sua personalidade. Ali ele afirma que gosta mesmo dela, e não de uma projeção dela, ou de uma versão dela que teria voltado correndo pra ele.
- E a cena final, lógico. Fiquei muuuuito satisfeita quando o marido da Nora abraça e acolhe o choro dela. Ele já esperava ela na porta, ele já sabia de certa forma e isso mostra parte da intimidade dele, mas sobretudo de que, com todas as inseguranças que ele mostrou, ele não foi egoísta e esteve ali pra acolher um sentimento dela que é sobre MUITO mais do que a relação deles, sobre gostar de alguém. É algo existencial e que todo mundo pode sentir, em diferentes contextos, em amizades, em relações que não sejam monogâmicas. É muito bom ver que teve uma valorização desse sentimento ao invés de reduzir a um drama da pessoa "que está com um querendo estar com outro". Porque a vida tem muitas mais camadas de complexidade
Não! Não Olhe!
3.5 1,3K Assista AgoraAcabei de assistir, ainda digerindo. Amei muito! Em certos momentos me deu a impressão de que iria pra um clichê de terror, mas vai por caminhos que nos surpreendem muito.
Pra mim o ápice do filme é o momento que nomeia ele. OJ tá no carro, embaixo no bicho, e... "Nope". Nunca vi filmes de terror que explorassem essa ideia de que - Okay, tem um bicho macabro me caçando, não vou olhar, não tem a ver comigo, vou seguir a minha vida - e isso encaixa perfeitamente com a personalidade do OJ.
É muito "relatable" esse sentimento de quase um estado de negação da realidade pra poder lidar com coisas que simplesmente não podemos lidar. Num primeiro momento o OJ não faz isso como uma estratégia racional, ele não olha quase como uma forma de dizer "não faço parte disso".
E a virada pra eles quererem pegar o bicho também se encaixa bem na história, já que o OJ entende, por essa experiência, que o "OVNI" é na verdade um animal, e age como um. Aí o "Nope" deixa de ser um estado de negação pra ser uma estratégia de como lidar com esse bicho perigoso
Enfim, adorei, nem vi o tempo passar! 🩷
Divino Amor
3.3 240Dira Paes perfeita de crente burocrata. Adoro como esse filme retrata os fetiches dessas igrejas evangélicas. Em certos momentos a postura da Joana no seu trabalho parece que cria um limiar entre 1: ela estar sendo muito fiel a deus e tentando (compulsoriamente) ajudar os outros com base em suas próprias crenças e 2: ela saber que trazer esses casais pro Divino amor significa transar com esses caras.
Achei o conflito da grávida de deus bem esperado, mas interessante. É uma forma de mostrar essa hipocrisia das religiões de acreditar em coisas difusas do passado, mas duvidar e imputar pecado em pessoas que em teoria estariam vivenciando histórias parecidas com as que eles acreditam (Joana poderia estar grávida de Jesus). O que no fim escancara que a crença é muito mais ritualística e estética do que concreta.
É forte que no fim ela passe por um descarte social dentro da própria igreja e tenha que abandonar o filho porque a estrutura só te ampara enquanto você cumpre todos os protocolos. Ela, como burocrata, no fim sofre por conta dos processos burocráticos dos quais ela tinha tanta crença, não podendo mais entrar no divino amor por não ser mais um casal, não podendo registrar seu filho porque não tem um pai, etc.