essa víscera imagética abundante compactada em nove minutos se autoincrusta naturalmente o relevo que merece. aliás, essa estética (falando, mesmo que não pareça uma coisa associável, em edição sonora, classe no estilo fotográfico e ainda brusquidão do material e o próprio material) me lembrou rimbaud, com o seu je est un autre; essa poça de condicionamento indissolúvel e inevitável em percepção, desejo, absurdez e angústia por simplesmente existir em que às vezes se pisa e suja os pés, e inversões -contrários, incompletudes, sonhar como restituir-se, a função sanatória de tudo aquilo que enlouquece, e sobre sermos, às vezes, como uma fruta sem caroço ou feita só de casca. e claro, sempre, l'autre c'est moi strange world. e curta absolutíssimo, sublimador de mentes
Estranho assolapar material alheio e cutucar minha enxada nisto aqui. E cavar e descobrir novos baús. Para mim, Vito Acconci era antes só um vaguejante do divino design, não um transeunte destas florestas distantes. Não sabia que ele podia ser tão heteróclito e desopilante. Digo, só o conhecia como arquiteto e artista, e não que isto não seja arte, apenas não o tinha visto aqui, nesse pátio ermo, mais escuro e longínquo do que, normalmente, se pressupõe. Mas Acconci está a milhares de órbitas da normalidade. Apreciava bastante alguns feitos como estudos em fotos ou em particular os componentes entre os favoritos de meus parcos estudos a respeito de arquitetura (depois da clássica, renascentista, e depois de Fritz Lang, sim, arquitetura é música petrificada), ao Acconci, pública ou não - ele consegue fazer com que suas obras sejam únicas e conservem-se em sua mente -, como a United Bamboo, a deliciosa e política Instant House, a lisérgica Blown-up Baby Doll, a "litografia sólida" de City of Words ou a terceira escultura da face da terra, e no máximo alguns poemas pospostos ignorados onde, fora o formato, ele tem uma lírica bem esdrúxula e caricata. "No idea without things. No space without time." Jazia, claro, já cônscio de que era um narcisista nato e sujeito autor de alguns atos risíveis mas curiosamente relevantes (tais como a célebre e filosófica masturbação pública no Seedbed). Mas nunca como aqui, em compasso de auto-flagelo com laivos de Marquês de Sade ou pândegas de Masoch. A arte de conhecer o próprio corpo. Sabão nos olhos e punhos em bocas. Ações, reações. Regurgitações. Somente agora que fui exturquir mais algumas obras similares, estas bem psicológicas e truculentas na conexão exclusivamente visual do artista-espectador deste notório sujeito, oriundas de um passado apinhado de filmagens (posteriormente ele usaria o áudio). O Vito vai até nódoas incomodantes e, se me permitem, notas até mesmo behavioristas. Não tanto aqui, mas individual ao Claim Excerpts, fascículo da auto-hipnose até o estado onde ele afrontaria com violência qualquer um que adentrasse sua área. "The talk should drive me into a state where everything is possible." Um dos artistas mais pessoais que eu conheço. Na verdade, antes um artista poético da especulação sobre corpo e mente posta em prática, e depois um explorador instigante e finório dos deleites e da persuasão do nervo óptico. De militar a poeta, e da poesia à ação e conceituais ímpares enraizados em fotografias. Você fica familiarizado até mesmo com o corpo do Acconci, e esse pecúlio de relação com a câmera: de feitio singular, sempre só ele, sempre uma performance com algo a dizer, sempre um cigarro na boca e o ar esfumaçado do tabaco, e sempre com esses rabiscos distintos e essa linda cara de maníaco. Uma orbe a ser descoberta. Agora, numa observação mais análoga ao propósito do que realmente era para ser isto - propriamente, cinema -, aqui permaneço, em meus delírios, abstraindo, absortando e idilizando o que seria se as obras físicas de Vito Acconci fecundassem as filmagens de veemência, como as líricas de Fellini, as faces de Bergman, as abstratas políticas e filosóficas do Kubrick, a inigualável fluidez aticista do Coppola, os oníricos de Lynch, a rigidez e tensão que pressagiam os colapsos de Anderson, ou mesmo um daqueles roteiros à la dostoievski de consciência expandida que o Charles Kaufman faz com maestria. Ah! não só esses. David Lean, Alan Parker, Roman Polanski, Stephen Daldry, Milos Forman, John Schlesinger, Lars von Trier!
Imagine!...
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Harvey
4.1 115essa víscera imagética abundante compactada em nove minutos se autoincrusta naturalmente o relevo que merece. aliás, essa estética (falando, mesmo que não pareça uma coisa associável, em edição sonora, classe no estilo fotográfico e ainda brusquidão do material e o próprio material) me lembrou rimbaud, com o seu je est un autre; essa poça de condicionamento indissolúvel e inevitável em percepção, desejo, absurdez e angústia por simplesmente existir em que às vezes se pisa e suja os pés, e inversões -contrários, incompletudes, sonhar como restituir-se, a função sanatória de tudo aquilo que enlouquece, e sobre sermos, às vezes, como uma fruta sem caroço ou feita só de casca.
e claro, sempre, l'autre c'est moi
strange world. e curta absolutíssimo, sublimador de mentes
Three Adaptation Studies
3.5 2Estranho assolapar material alheio e cutucar minha enxada nisto aqui. E cavar e descobrir novos baús. Para mim, Vito Acconci era antes só um vaguejante do divino design, não um transeunte destas florestas distantes. Não sabia que ele podia ser tão heteróclito e desopilante. Digo, só o conhecia como arquiteto e artista, e não que isto não seja arte, apenas não o tinha visto aqui, nesse pátio ermo, mais escuro e longínquo do que, normalmente, se pressupõe.
Mas Acconci está a milhares de órbitas da normalidade.
Apreciava bastante alguns feitos como estudos em fotos ou em particular os componentes entre os favoritos de meus parcos estudos a respeito de arquitetura (depois da clássica, renascentista, e depois de Fritz Lang, sim, arquitetura é música petrificada), ao Acconci, pública ou não - ele consegue fazer com que suas obras sejam únicas e conservem-se em sua mente -, como a United Bamboo, a deliciosa e política Instant House, a lisérgica Blown-up Baby Doll, a "litografia sólida" de City of Words ou a terceira escultura da face da terra, e no máximo alguns poemas pospostos ignorados onde, fora o formato, ele tem uma lírica bem esdrúxula e caricata.
"No idea without things. No space without time."
Jazia, claro, já cônscio de que era um narcisista nato e sujeito autor de alguns atos risíveis mas curiosamente relevantes (tais como a célebre e filosófica masturbação pública no Seedbed). Mas nunca como aqui, em compasso de auto-flagelo com laivos de Marquês de Sade ou pândegas de Masoch. A arte de conhecer o próprio corpo. Sabão nos olhos e punhos em bocas. Ações, reações. Regurgitações.
Somente agora que fui exturquir mais algumas obras similares, estas bem psicológicas e truculentas na conexão exclusivamente visual do artista-espectador deste notório sujeito, oriundas de um passado apinhado de filmagens (posteriormente ele usaria o áudio).
O Vito vai até nódoas incomodantes e, se me permitem, notas até mesmo behavioristas. Não tanto aqui, mas individual ao Claim Excerpts, fascículo da auto-hipnose até o estado onde ele afrontaria com violência qualquer um que adentrasse sua área. "The talk should drive me into a state where everything is possible."
Um dos artistas mais pessoais que eu conheço. Na verdade, antes um artista poético da especulação sobre corpo e mente posta em prática, e depois um explorador instigante e finório dos deleites e da persuasão do nervo óptico. De militar a poeta, e da poesia à ação e conceituais ímpares enraizados em fotografias.
Você fica familiarizado até mesmo com o corpo do Acconci, e esse pecúlio de relação com a câmera: de feitio singular, sempre só ele, sempre uma performance com algo a dizer, sempre um cigarro na boca e o ar esfumaçado do tabaco, e sempre com esses rabiscos distintos e essa linda cara de maníaco.
Uma orbe a ser descoberta.
Agora, numa observação mais análoga ao propósito do que realmente era para ser isto - propriamente, cinema -, aqui permaneço, em meus delírios, abstraindo, absortando e idilizando o que seria se as obras físicas de Vito Acconci fecundassem as filmagens de veemência, como as líricas de Fellini, as faces de Bergman, as abstratas políticas e filosóficas do Kubrick, a inigualável fluidez aticista do Coppola, os oníricos de Lynch, a rigidez e tensão que pressagiam os colapsos de Anderson, ou mesmo um daqueles roteiros à la dostoievski de consciência expandida que o Charles Kaufman faz com maestria. Ah! não só esses. David Lean, Alan Parker, Roman Polanski, Stephen Daldry, Milos Forman, John Schlesinger, Lars von Trier!
Imagine!...