Uma precisa descrição seria incapaz de contar com a mesma intensidade a coesão e força dos três atos deste longa. Barry Jenkins não foi pequeno ao construir a essência gentil do menino Chiron.“Little” entente, assimila, mas calado não transmite seu sentimentalismo machucado. Usa a autopreservação, no olhar desconfiado, como de um animal que se esconde de qualquer um que queira se aproximar. A impecável fotografia de James Laxton reforça essa identificação com o personagem, com os planos subjetivos que nos fazem registrar a hostilidade com que todos parecem encará-lo. Entre a realidade e a imaginação, Moonlight não é um filme que precisa de diálogos. Além do design de texturas, temperaturas e cores diferentes em determinados atos da narrativa, se não tivesse som algum, ainda assim seria compreendido e muito bem explorado. O silêncio soa mais alto que qualquer conversa. O longa cresce pontualmente, e faz com que a continuação da história prossiga na próxima fase como única, usa uma lógica visual, que além de coesa é fascinante. (os azulejos amarelos da parede do banheiro, acima de Little, sendo o azul o resumo do primeiro ato.) A obra visual revela a ideia do título da peça original: “sob a luz da lua, garotos negros parecem azuis” – demonstrando o conceito que é contado no filme pelo personagem Juan, interpretado por Mahershala Ali. A quebra de esteriótipos é outro fator que absorve o peso das ações no longa. A câmera lenta de Jenkins se comporta como uma onde do mar. E não é à toa que - Little, Chiron e Black - os três atos continuam próximos ao mar. Nas ocasiões em que o personagem se entrega a alguma possibilidade de felicidade. Onde poderia flutuar sem a condição de medo, repressão ou julgamento (evidenciando neste contexto a representatividade). O ruído das ondas que passa, na fotografia que demonstra a tendencia de mergulho para a sombra, o filme completo é construído com detalhes sutis e fortes. Como na cena que envolve os quatro elementos, o garoto enxerga o mar à sua frente, tem o fogo do isqueiro, depois vem o comentário de Kevin sobre a brisa que inspira a liberdade, fechando com a terra que assume a forma da areia que ele pega com uma mão. Moonlight é uma obra tão indicada e pouco compreendida. Tem uma delicadeza feroz. A sensibilidade do longa revela o drama, e deixa a veracidade que muitas vezes precisamos apenas de alguém que diga “eu quero saber ou eu sei quem você é”.
Moonlight: Sob a Luz do Luar
4.1 2,4K Assista AgoraUma precisa descrição seria incapaz de contar com a mesma intensidade a coesão e força dos três atos deste longa.
Barry Jenkins não foi pequeno ao construir a essência gentil do menino Chiron.“Little” entente, assimila, mas calado não transmite seu sentimentalismo machucado. Usa a autopreservação, no olhar desconfiado, como de um animal que se esconde de qualquer um que queira se aproximar. A impecável fotografia de James Laxton reforça essa identificação com o personagem, com os planos subjetivos que nos fazem registrar a hostilidade com que todos parecem encará-lo. Entre a realidade e a imaginação, Moonlight não é um filme que precisa de diálogos. Além do design de texturas, temperaturas e cores diferentes em determinados atos da narrativa, se não tivesse som algum, ainda assim seria compreendido e muito bem explorado. O silêncio soa mais alto que qualquer conversa. O longa cresce pontualmente, e faz com que a continuação da história prossiga na próxima fase como única, usa uma lógica visual, que além de coesa é fascinante. (os azulejos amarelos da parede do banheiro, acima de Little, sendo o azul o resumo do primeiro ato.) A obra visual revela a ideia do título da peça original: “sob a luz da lua, garotos negros parecem azuis” – demonstrando o conceito que é contado no filme pelo personagem Juan, interpretado por Mahershala Ali. A quebra de esteriótipos é outro fator que absorve o peso das ações no longa. A câmera lenta de Jenkins se comporta como uma onde do mar. E não é à toa que - Little, Chiron e Black - os três atos continuam próximos ao mar. Nas ocasiões em que o personagem se entrega a alguma possibilidade de felicidade. Onde poderia flutuar sem a condição de medo, repressão ou julgamento (evidenciando neste contexto a representatividade). O ruído das ondas que passa, na fotografia que demonstra a tendencia de mergulho para a sombra, o filme completo é construído com detalhes sutis e fortes. Como na cena que envolve os quatro elementos, o garoto enxerga o mar à sua frente, tem o fogo do isqueiro, depois vem o comentário de Kevin sobre a brisa que inspira a liberdade, fechando com a terra que assume a forma da areia que ele pega com uma mão.
Moonlight é uma obra tão indicada e pouco compreendida. Tem uma delicadeza feroz. A sensibilidade do longa revela o drama, e deixa a veracidade que muitas vezes precisamos apenas de alguém que diga “eu quero saber ou eu sei quem você é”.
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