11 depois e ainda é incrível! Creio que o primeiro jogo do 'The Last of Us' teve uma inspiraçãozinha nessa ambientação. Até lembra um pouco a computação gráfica das cinemáticas.
Era para sair um longa, mas parece que estão enrolando o Wes Bola.
A empresa em que trabalhavam era um ambiente familiar de verdade, mas o entorno, o barro, a terra que aravam para verem seu plantio emergir é que estava danosa. Fato evidenciar que, praticamente, tudo que vemos nos cinemas é fruto do trabalho de um dos setores menos valorizados da indústria.
Cada um com seu tigre num bote à deriva. Ganhar, não necessariamente, te trás algo bom. Uma mescla de vida imitando a arte - e vice-versa.
Ainda temos de escutar Andy 'Sucks' dizer que a computação gráfica não foi importante para seus personagens no cinema. Talvez por isso, aquela porcaria de Venon 2, pareça tão horrível em efeitos - uma vingança da classe?rs.
Uma pena não ter virado filme... espero que o Zombie Zombie volte e tente executá-lo. Contudo, tem de ter o Nicolas Cage de Fu-Manchu, gritaria e músicas de Elvis.
Esse filme, se mudarem algumas coisa e refizerem outras, caberia como uma cena inicial do filme do 'Resident Evil: Welcome to the Raccoon City'. Será que foi feito para uma certa aprovação do diretor para o projeto?
Gostei desse curtinha. Apesar de baixo orçamento passa uma ideia clara do que quer.
Este filme (junto ao 'Nelson Ninguém') era o filme que mais esperava assistir. Foi a ideia de filme que mais me empolgou nessa via-crúcis do cinema nacional - infestado de obras rasas.
Lembro de acompanhar todas as notícias possíveis que saia na época deste projeto. Enfim, infelizmente, foi cancelado.
Ao menos, o 'Nelson Ninguém', segundo o que conversei com o diretor do projeto, ainda está vivo. Primeiro sairá uma HQ (tenho até umas páginas) e depois o filme. Torcendo.
Quanto ao 'Dobro de Cinco', só resta o meu choro...
Eu ainda nem era nascido quando Jorge Furtado, junto à Casa do Cinema de Porto Alegre, trouxe ao ano de 1989 o “documentário” (sim, entre aspas) ‘Ilha das Flores’. Contudo, em 2011 a Editora J realizou seu documentário (aqui sim sem as aspas) em resposta ao de Jorge Furtado: ‘Ilha das Flores: depois que a sessão acabou’. Nestas letras formadas por um conjunto de zeros e uns existentes num programa de redigir textos no computador, que antes vieram de um papel em branco – que apesar de orgânico, não era de provas escolares –, discorrerei, e compararei as duas obras que falam do mesmo tema, mas com olhares diferentes.
Encabeçando os argumentos para com o filme de Furtado, de pronto menciono o quão hipnotizador foi vê-lo pela primeira vez – sendo até hoje. Impressiona-me a técnica usada para abordar um assunto específico e, mesmo dando várias voltas, eles nunca estão ali para “engordar” a trama somente; não fazem o papel de nos desorientar, mas justamente o contrário. Através de recortes de revistas e jornais, imagens de arquivos e filmes, é traçada uma linha do tempo para dar mais peso ao assunto específico: os moradores da Ilha das Flores. Giba Assis Brasil faz jus aos seus polegares opositores e edita o filme alternando entre o cômico e o sério, antigo e recente (para a época das filmagens), documentário e ficção e o ‘real e não real’. Essa provocação cinematográfica acerta em aromatizar o filme fazendo qualquer pessoa adentrar na história, principalmente por ser bem didático e ao mesmo tempo sofisticado. Usando o humor quase inerente ao brasileiro ele nos fisga com risadas sinceras ao ouvirmos a ótima narração de Paulo José – que também esteve no filme ‘Todas as Mulheres do Mundo’, certamente uma inspiração para Furtado pela semelhança de montagem – ao descrever milimetricamente cada assunto diante da câmera. Outro fator importantíssimo é o emprego do som em cada cena realçando certos atributos como o som de uma moto ao falar do Sr. Suzuki, de um homem gritando ao espetarem um cérebro formolizado e a ópera ‘Hallellujah’ ao falarem dos católicos.
A ousadia na forma como detalha o mostrado pela câmera enaltece um roteiro estudado até hoje. Cada assunto microscópio colocado impulsiona a narrativa para o macroscópico, revelando uma eficaz sinestesia audiovisual. Através desse cuidado fica nítido o quão preciso foi o tempo para construir o roteiro e temperá-lo com assuntos incômodos como o caso do Césio 137 (líquido radioativo que deformou algumas pessoas em Goiânia nos anos 80), pilhas de judeus mortos no holocausto nazista (dando um frio na espinha ao mencionar a palavra 'humano" em contraste com a realidade germânica da época) e ao relacionarem o movimento de pinça com as mãos, devido a exclusividade de polegares opositores aos humanos, e a elevada inteligência humana para criar coisas para melhorar o mundo - nessa hora uma bomba atômica preenche a tela. Mas é aí onde passo a agir mais clinicamente, pois o gesto do polegar mais a mensagem sobre a inteligência, e o cogumelo atômico, me parece uma crítica semi-velada ao capitalismo: como se o capital desse inteligência (e ganância) para a decadência da humanidade.
Amante do cinema, autointitulado, afirmo que 'Ilha das Flores' está no mais alto grau da virtude cinéfila, mas como filme-denúncia, e/ou documento fílmico, peca ao usar de má fé as pessoas ali documentadas - não chega a tanto, mas a atitude dos realizadores lembram as do protagonista do filme Nightcrawler, de 2014. Reverberando assim o título proposto para esta análise: usa de gente pobre para falar como os pobres sofrem, deixando esses pobres que usou sofrendo – dicotomia paradoxal. O que nos leva ao filme da Editora J.
De forma modesta, 'Ilha das Flores: depois que a sessão acabou', surgiu como uma voz para os que não tiveram no filme do Furtado. Em comparação com “seu irmão mais velho”, este não possui o mesmo apuro técnico, tão pouco exacerbadas peripécias visuais, mas o objetivo aqui é justamente esse: fugir de firulas utilizadas como maqueio e ser cru. Cruel. Real! Neste fica nítido o descontentamento dos moradores com a abordagem dos realizadores para com eles, o que chega parecer uma estratégia de políticos para eleição: ir a um local pobre, falar/ouvir às mazelas e “documentar” tudo, apenas para benefício próprio.
Escrevo este texto em pleno 2017, sendo o filme mais recente de 2011, logo foram 22 anos para que as mensagens desses moradores fossem ouvidas, mesmo por pouquíssimas pessoas. É difícil não ficar tocado por esse documento e sentir-se cúmplice da enganação proposta por Furtado – e seu sobrenome também paradoxal. Saber que, durante anos, aplaudi o diretor e exaltei sua obra panfletária, foi doloroso. Neste documento não há glamour, não há pinceladas de humor para te relaxar e suavizar o mostrado; não há atores contratados para deixar um filme "fashion" e "cool" para críticos verem e premiarem. Este aqui é um legítimo DOCUMENTÁRIO! ‘Ilha das Flores: depois que a sessão acabou' não inova como obra audiovisual e nem pretende esse feito. Aqui não há uma "briga de egos" para com seu antecessor, e sim, o relato sincero de quem foi usado quase como massa de manobra.
O mais triste é que nada mudou para os moradores - nem no Brasil em sua totalidade. Apenas Furtado galgou degraus mais altos na sociedade e obteve prestígio com o “desprestígio” alheio. Deixo claro que a culpa do universo não é do diretor (apenas), mas nossa política se mantém uma sanguessuga da classe pobre, priorizando interesses elitizados e unitários. Situação essa demonstrada no filme quando, após inúmeras reclamações da região, Furtado volta ao local em 2004 para se "desculpar", prometendo reverter à situação (não falo da questão técnica) com um acordo político para tal, narrando nele às novas benfeitorias que seu regresso traria para a região: uma quadra de esportes! Curiosamente, realizando outro documentário (Fraternidade. 2004) altamente tendencioso. Fica claro a tentativa de um "cala a boca" aos moradores - que a essa altura manchavam a carreira dele -, sendo usados mais uma vez. Conseguem perceber uma dicotomia paradoxal?! É quase como um zoológico mencionar para não irmos aos circos, pois maltratam seus animais, sendo que eles retiram onças e elefantes de seu habitat.
As duas obras valem serem vistas, enaltecidas e criticadas. Sobretudo, pela forma como o tempo deu a possibilidade de releituras a elas. Em 1989, 'Ilha das Flores’ relatava uma (certa) verdade, hoje é evidente a manipulação e quão irreal era aquele retrato - mesmo que existam/existissem pessoas naquelas condições. Valem serem assistidos por suas histórias, técnicas e senso crítico. ' Ilha das Flores: depois que a sessão acabou', em especial, vem como uma agulha penetrada numa ferida recém-feita sobre a derme. Vale muitíssimo por dar voz de fato aos moradores que sofreram por sua própria condição de vida real, e irreal, e pela pergunta que me fiz: "será que silencia-los foi um modo para dar a entender a ignorância do povo?” Pois vendo o Doc de 2011, alguns dos moradores entrevistados, falam bem e parecem ter consciência, não só de sua condição de vida alarmante, como a vergonhosa estratégia de convencimento proposta por Jorge (prometendo melhorias de vida para a região) e ficando imensamente desapontados, entristecidos e envergonhados com toda a falácia - com o povo falando, talvez, não passariam a imagem de coitados que tanto grita no filme de 89. Adicionando mais um ponto dicotômico: ‘ou foi o tempo, junto ao que aconteceu com eles devido a repercussão do documentário, que trouxe essa consciência?’.
Contraditoriamente, o filme com viés de mostrar uma realidade (ainda que forjada) da miséria, e com ela dar mais voz e trazer o olhar, possivelmente, das autoridades para seu indigente modo de vida, acabou os deixando mais sem dignidade que antes - ainda que vivessem tão cruelmente como hoje. A subliminar voz socialista do diretor sussurra ao condenar o capital em cada parte da obra. A mais cruel, a meu ver, é a insinuação de que àqueles moradores só estão daquela maneira por não possuírem um dono como os porcos. A dicotomia se reafirma quando citam a crueldade do sistema regido pelo capital, mesmo que, através dele, Furtado tenha alcançado o sucesso e prestígio que tens (ao qual eu não nego ter), dinheiro para sustentar-se e inúmeros prêmios de sua obra.
Fico sinceramente espantado em ver o apoio da Casa de Cultura de Porto Alegre somente ao diretor, para que esse desenvolvesse cultura com seu cinema, mas não parecer ter investido também na Ilha dos Marinheiros – nome real da Ilha das Flores retratada – que, mesmo exibida na tela para milhões de pessoas, está no ostracismo da humanidade. Arrepia-me saber que 22 anos depois nada mudou naquela região e demonstra que a realidade (em ‘depois que a sessão acabou’) é mais incômoda do que a “realidade” de Furtado. Como uma obra transpirante à inclusão, no fim, acabou os jogando ainda mais na exclusão. Mas como disse, é paradoxal e dicotômico podendo ressaltar o erro em cada letra, palavra e frase supracitada. Todavia, afirmo: meu sentimento é real, eu existo e nada foi forjado. ^^
---Novembro de 2017.---
Crítica originalmente publicada no site da minha produtora audiovisual, página do Facebook da mesma e num trabalho de Faculdade.
luxcyano. com facebook. com / luxcyano
Luciano DeSilva é ator, diretor, dublador, podcaster, aspirante à designer e jornalista por teimosia (e outras cositas mais). Tem 27 anos, adora a poderosa dimensão da música, a possibilidade de filosofar sendo pobretão, jogos de vídeo-games e vê no cinema sua bateria para que ainda continue vivo. Em 2016, criou a ‘Lux Cyano’ sua produtora audiovisual.
Se quiserem, curtam a página de Facebook e adentre em nosso site - agora em manutenção.
Eu ainda nem era nascido quando Jorge Furtado, junto à Casa do Cinema de Porto Alegre, trouxe ao ano de 1989 o “documentário” (sim, entre aspas) ‘Ilha das Flores’. Contudo, em 2011 a Editora J realizou seu documentário (aqui sim sem as aspas) em resposta ao de Jorge Furtado: ‘Ilha das Flores: depois que a sessão acabou’. Nestas letras formadas por um conjunto de zeros e uns existentes num programa de redigir textos no computador, que antes vieram de um papel em branco – que apesar de orgânico, não era de provas escolares –, discorrerei, e compararei as duas obras que falam do mesmo tema, mas com olhares diferentes.
Encabeçando os argumentos para com o filme de Furtado, de pronto menciono o quão hipnotizador foi vê-lo pela primeira vez – sendo até hoje. Impressiona-me a técnica usada para abordar um assunto específico e, mesmo dando várias voltas, eles nunca estão ali para “engordar” a trama somente; não fazem o papel de nos desorientar, mas justamente o contrário. Através de recortes de revistas e jornais, imagens de arquivos e filmes, é traçada uma linha do tempo para dar mais peso ao assunto específico: os moradores da Ilha das Flores. Giba Assis Brasil faz jus aos seus polegares opositores e edita o filme alternando entre o cômico e o sério, antigo e recente (para a época das filmagens), documentário e ficção e o ‘real e não real’. Essa provocação cinematográfica acerta em aromatizar o filme fazendo qualquer pessoa adentrar na história, principalmente por ser bem didático e ao mesmo tempo sofisticado. Usando o humor quase inerente ao brasileiro ele nos fisga com risadas sinceras ao ouvirmos a ótima narração de Paulo José – que também esteve no filme ‘Todas as Mulheres do Mundo’, certamente uma inspiração para Furtado pela semelhança de montagem – ao descrever milimetricamente cada assunto diante da câmera. Outro fator importantíssimo é o emprego do som em cada cena realçando certos atributos como o som de uma moto ao falar do Sr. Suzuki, de um homem gritando ao espetarem um cérebro formolizado e a ópera ‘Hallellujah’ ao falarem dos católicos.
A ousadia na forma como detalha o mostrado pela câmera enaltece um roteiro estudado até hoje. Cada assunto microscópio colocado impulsiona a narrativa para o macroscópico, revelando uma eficaz sinestesia audiovisual. Através desse cuidado fica nítido o quão preciso foi o tempo para construir o roteiro e temperá-lo com assuntos incômodos como o caso do Césio 137 (líquido radioativo que deformou algumas pessoas em Goiânia nos anos 80), pilhas de judeus mortos no holocausto nazista (dando um frio na espinha ao mencionar a palavra 'humano" em contraste com a realidade germânica da época) e ao relacionarem o movimento de pinça com as mãos, devido a exclusividade de polegares opositores aos humanos, e a elevada inteligência humana para criar coisas para melhorar o mundo - nessa hora uma bomba atômica preenche a tela. Mas é aí onde passo a agir mais clinicamente, pois o gesto do polegar mais a mensagem sobre a inteligência, e o cogumelo atômico, me parece uma crítica semi-velada ao capitalismo: como se o capital desse inteligência (e ganância) para a decadência da humanidade.
Amante do cinema, autointitulado, afirmo que 'Ilha das Flores' está no mais alto grau da virtude cinéfila, mas como filme-denúncia, e/ou documento fílmico, peca ao usar de má fé as pessoas ali documentadas - não chega a tanto, mas a atitude dos realizadores lembram as do protagonista do filme Nightcrawler, de 2014. Reverberando assim o título proposto para esta análise: usa de gente pobre para falar como os pobres sofrem, deixando esses pobres que usou sofrendo – dicotomia paradoxal. O que nos leva ao filme da Editora J.
De forma modesta, 'Ilha das Flores: depois que a sessão acabou', surgiu como uma voz para os que não tiveram no filme do Furtado. Em comparação com “seu irmão mais velho”, este não possui o mesmo apuro técnico, tão pouco exacerbadas peripécias visuais, mas o objetivo aqui é justamente esse: fugir de firulas utilizadas como maqueio e ser cru. Cruel. Real! Neste fica nítido o descontentamento dos moradores com a abordagem dos realizadores para com eles, o que chega parecer uma estratégia de políticos para eleição: ir a um local pobre, falar/ouvir às mazelas e “documentar” tudo, apenas para benefício próprio.
Escrevo este texto em pleno 2017, sendo o filme mais recente de 2011, logo foram 22 anos para que as mensagens desses moradores fossem ouvidas, mesmo por pouquíssimas pessoas. É difícil não ficar tocado por esse documento e sentir-se cúmplice da enganação proposta por Furtado – e seu sobrenome também paradoxal. Saber que, durante anos, aplaudi o diretor e exaltei sua obra panfletária, foi doloroso. Neste documento não há glamour, não há pinceladas de humor para te relaxar e suavizar o mostrado; não há atores contratados para deixar um filme "fashion" e "cool" para críticos verem e premiarem. Este aqui é um legítimo DOCUMENTÁRIO! ‘Ilha das Flores: depois que a sessão acabou' não inova como obra audiovisual e nem pretende esse feito. Aqui não há uma "briga de egos" para com seu antecessor, e sim, o relato sincero de quem foi usado quase como massa de manobra.
O mais triste é que nada mudou para os moradores - nem no Brasil em sua totalidade. Apenas Furtado galgou degraus mais altos na sociedade e obteve prestígio com o “desprestígio” alheio. Deixo claro que a culpa do universo não é do diretor (apenas), mas nossa política se mantém uma sanguessuga da classe pobre, priorizando interesses elitizados e unitários. Situação essa demonstrada no filme quando, após inúmeras reclamações da região, Furtado volta ao local em 2004 para se "desculpar", prometendo reverter à situação (não falo da questão técnica) com um acordo político para tal, narrando nele às novas benfeitorias que seu regresso traria para a região: uma quadra de esportes! Curiosamente, realizando outro documentário (Fraternidade. 2004) altamente tendencioso. Fica claro a tentativa de um "cala a boca" aos moradores - que a essa altura manchavam a carreira dele -, sendo usados mais uma vez. Conseguem perceber uma dicotomia paradoxal?! É quase como um zoológico mencionar para não irmos aos circos, pois maltratam seus animais, sendo que eles retiram onças e elefantes de seu habitat.
As duas obras valem serem vistas, enaltecidas e criticadas. Sobretudo, pela forma como o tempo deu a possibilidade de releituras a elas. Em 1989, 'Ilha das Flores’ relatava uma (certa) verdade, hoje é evidente a manipulação e quão irreal era aquele retrato - mesmo que existam/existissem pessoas naquelas condições. Valem serem assistidos por suas histórias, técnicas e senso crítico. ' Ilha das Flores: depois que a sessão acabou', em especial, vem como uma agulha penetrada numa ferida recém-feita sobre a derme. Vale muitíssimo por dar voz de fato aos moradores que sofreram por sua própria condição de vida real, e irreal, e pela pergunta que me fiz: "será que silencia-los foi um modo para dar a entender a ignorância do povo?” Pois vendo o Doc de 2011, alguns dos moradores entrevistados, falam bem e parecem ter consciência, não só de sua condição de vida alarmante, como a vergonhosa estratégia de convencimento proposta por Jorge (prometendo melhorias de vida para a região) e ficando imensamente desapontados, entristecidos e envergonhados com toda a falácia - com o povo falando, talvez, não passariam a imagem de coitados que tanto grita no filme de 89. Adicionando mais um ponto dicotômico: ‘ou foi o tempo, junto ao que aconteceu com eles devido a repercussão do documentário, que trouxe essa consciência?’.
Contraditoriamente, o filme com viés de mostrar uma realidade (ainda que forjada) da miséria, e com ela dar mais voz e trazer o olhar, possivelmente, das autoridades para seu indigente modo de vida, acabou os deixando mais sem dignidade que antes - ainda que vivessem tão cruelmente como hoje. A subliminar voz socialista do diretor sussurra ao condenar o capital em cada parte da obra. A mais cruel, a meu ver, é a insinuação de que àqueles moradores só estão daquela maneira por não possuírem um dono como os porcos. A dicotomia se reafirma quando citam a crueldade do sistema regido pelo capital, mesmo que, através dele, Furtado tenha alcançado o sucesso e prestígio que tens (ao qual eu não nego ter), dinheiro para sustentar-se e inúmeros prêmios de sua obra.
Fico sinceramente espantado em ver o apoio da Casa de Cultura de Porto Alegre somente ao diretor, para que esse desenvolvesse cultura com seu cinema, mas não parecer ter investido também na Ilha dos Marinheiros – nome real da Ilha das Flores retratada – que, mesmo exibida na tela para milhões de pessoas, está no ostracismo da humanidade. Arrepia-me saber que 22 anos depois nada mudou naquela região e demonstra que a realidade (em ‘depois que a sessão acabou’) é mais incômoda do que a “realidade” de Furtado. Como uma obra transpirante à inclusão, no fim, acabou os jogando ainda mais na exclusão. Mas como disse, é paradoxal e dicotômico podendo ressaltar o erro em cada letra, palavra e frase supracitada. Todavia, afirmo: meu sentimento é real, eu existo e nada foi forjado. ^^
--------
Crítica originalmente publicada no site da minha produtora audiovisual, página do Facebook da mesma e num trabalho de Faculdade.
www. luxcyano. com www. facebook. com/ luxcyano
Luciano DeSilva é ator, diretor, dublador, podcaster, aspirante à designer e jornalista por teimosia (e outras cositas mais). Tem 27 anos, adora a poderosa dimensão da música, a possibilidade de filosofar sendo pobretão, jogos de vídeo-games e vê no cinema sua bateria para que ainda continue vivo. Em 2016, criou a ‘Lux Cyano’ sua produtora audiovisual.
Direto e simples. Um pouco piegas, mas a mensagem foi passada. Talvez essa mesma mensagem seja para atingir os menores para que não cheguem a crescer como os adultos do filme.
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Let Me Dream Again
3.6 7O tempo é contínuo e infinito, assim como coisas que sonhamos - e não controlamos -, mas desejamos.
Ruin
3.7 3211 depois e ainda é incrível!
Creio que o primeiro jogo do 'The Last of Us' teve uma inspiraçãozinha nessa ambientação. Até lembra um pouco a computação gráfica das cinemáticas.
Era para sair um longa, mas parece que estão enrolando o Wes Bola.
Life After Pi
2.8 1Interessantíssimo!
A empresa em que trabalhavam era um ambiente familiar de verdade, mas o entorno, o barro, a terra que aravam para verem seu plantio emergir é que estava danosa.
Fato evidenciar que, praticamente, tudo que vemos nos cinemas é fruto do trabalho de um dos setores menos valorizados da indústria.
Cada um com seu tigre num bote à deriva. Ganhar, não necessariamente, te trás algo bom. Uma mescla de vida imitando a arte - e vice-versa.
Ainda temos de escutar Andy 'Sucks' dizer que a computação gráfica não foi importante para seus personagens no cinema. Talvez por isso, aquela porcaria de Venon 2, pareça tão horrível em efeitos - uma vingança da classe?rs.
https ://ww w.youtube. com/ watch?v=GfeKqJhYNNg
Werewolf Women of the SS
3.8 15Uma pena não ter virado filme... espero que o Zombie Zombie volte e tente executá-lo. Contudo, tem de ter o Nicolas Cage de Fu-Manchu, gritaria e músicas de Elvis.
The Plague
3.3 1Esse filme, se mudarem algumas coisa e refizerem outras, caberia como uma cena inicial do filme do 'Resident Evil: Welcome to the Raccoon City'. Será que foi feito para uma certa aprovação do diretor para o projeto?
Gostei desse curtinha. Apesar de baixo orçamento passa uma ideia clara do que quer.
Gosto de Fel
4.5 1Esse filme chegou a sair?
O Dobro de Cinco
3.8 3Este filme (junto ao 'Nelson Ninguém') era o filme que mais esperava assistir. Foi a ideia de filme que mais me empolgou nessa via-crúcis do cinema nacional - infestado de obras rasas.
Lembro de acompanhar todas as notícias possíveis que saia na época deste projeto. Enfim, infelizmente, foi cancelado.
Ao menos, o 'Nelson Ninguém', segundo o que conversei com o diretor do projeto, ainda está vivo. Primeiro sairá uma HQ (tenho até umas páginas) e depois o filme. Torcendo.
Quanto ao 'Dobro de Cinco', só resta o meu choro...
The Railrodder
3.8 8 Assista AgoraLindeza!
Sou fã incondicional!
Ilha das Flores
4.5 1,0K Assista AgoraILHA DAS FLORES – A DICOTOMIA PARADOXAL
Eu ainda nem era nascido quando Jorge Furtado, junto à Casa do Cinema de Porto Alegre, trouxe ao ano de 1989 o “documentário” (sim, entre aspas) ‘Ilha das Flores’. Contudo, em 2011 a Editora J realizou seu documentário (aqui sim sem as aspas) em resposta ao de Jorge Furtado: ‘Ilha das Flores: depois que a sessão acabou’. Nestas letras formadas por um conjunto de zeros e uns existentes num programa de redigir textos no computador, que antes vieram de um papel em branco – que apesar de orgânico, não era de provas escolares –, discorrerei, e compararei as duas obras que falam do mesmo tema, mas com olhares diferentes.
Encabeçando os argumentos para com o filme de Furtado, de pronto menciono o quão hipnotizador foi vê-lo pela primeira vez – sendo até hoje. Impressiona-me a técnica usada para abordar um assunto específico e, mesmo dando várias voltas, eles nunca estão ali para “engordar” a trama somente; não fazem o papel de nos desorientar, mas justamente o contrário. Através de recortes de revistas e jornais, imagens de arquivos e filmes, é traçada uma linha do tempo para dar mais peso ao assunto específico: os moradores da Ilha das Flores. Giba Assis Brasil faz jus aos seus polegares opositores e edita o filme alternando entre o cômico e o sério, antigo e recente (para a época das filmagens), documentário e ficção e o ‘real e não real’. Essa provocação cinematográfica acerta em aromatizar o filme fazendo qualquer pessoa adentrar na história, principalmente por ser bem didático e ao mesmo tempo sofisticado. Usando o humor quase inerente ao brasileiro ele nos fisga com risadas sinceras ao ouvirmos a ótima narração de Paulo José – que também esteve no filme ‘Todas as Mulheres do Mundo’, certamente uma inspiração para Furtado pela semelhança de montagem – ao descrever milimetricamente cada assunto diante da câmera. Outro fator importantíssimo é o emprego do som em cada cena realçando certos atributos como o som de uma moto ao falar do Sr. Suzuki, de um homem gritando ao espetarem um cérebro formolizado e a ópera ‘Hallellujah’ ao falarem dos católicos.
A ousadia na forma como detalha o mostrado pela câmera enaltece um roteiro estudado até hoje. Cada assunto microscópio colocado impulsiona a narrativa para o macroscópico, revelando uma eficaz sinestesia audiovisual. Através desse cuidado fica nítido o quão preciso foi o tempo para construir o roteiro e temperá-lo com assuntos incômodos como o caso do Césio 137 (líquido radioativo que deformou algumas pessoas em Goiânia nos anos 80), pilhas de judeus mortos no holocausto nazista (dando um frio na espinha ao mencionar a palavra 'humano" em contraste com a realidade germânica da época) e ao relacionarem o movimento de pinça com as mãos, devido a exclusividade de polegares opositores aos humanos, e a elevada inteligência humana para criar coisas para melhorar o mundo - nessa hora uma bomba atômica preenche a tela. Mas é aí onde passo a agir mais clinicamente, pois o gesto do polegar mais a mensagem sobre a inteligência, e o cogumelo atômico, me parece uma crítica semi-velada ao capitalismo: como se o capital desse inteligência (e ganância) para a decadência da humanidade.
Amante do cinema, autointitulado, afirmo que 'Ilha das Flores' está no mais alto grau da virtude cinéfila, mas como filme-denúncia, e/ou documento fílmico, peca ao usar de má fé as pessoas ali documentadas - não chega a tanto, mas a atitude dos realizadores lembram as do protagonista do filme Nightcrawler, de 2014. Reverberando assim o título proposto para esta análise: usa de gente pobre para falar como os pobres sofrem, deixando esses pobres que usou sofrendo – dicotomia paradoxal. O que nos leva ao filme da Editora J.
De forma modesta, 'Ilha das Flores: depois que a sessão acabou', surgiu como uma voz para os que não tiveram no filme do Furtado. Em comparação com “seu irmão mais velho”, este não possui o mesmo apuro técnico, tão pouco exacerbadas peripécias visuais, mas o objetivo aqui é justamente esse: fugir de firulas utilizadas como maqueio e ser cru. Cruel. Real! Neste fica nítido o descontentamento dos moradores com a abordagem dos realizadores para com eles, o que chega parecer uma estratégia de políticos para eleição: ir a um local pobre, falar/ouvir às mazelas e “documentar” tudo, apenas para benefício próprio.
Escrevo este texto em pleno 2017, sendo o filme mais recente de 2011, logo foram 22 anos para que as mensagens desses moradores fossem ouvidas, mesmo por pouquíssimas pessoas. É difícil não ficar tocado por esse documento e sentir-se cúmplice da enganação proposta por Furtado – e seu sobrenome também paradoxal. Saber que, durante anos, aplaudi o diretor e exaltei sua obra panfletária, foi doloroso. Neste documento não há glamour, não há pinceladas de humor para te relaxar e suavizar o mostrado; não há atores contratados para deixar um filme "fashion" e "cool" para críticos verem e premiarem. Este aqui é um legítimo DOCUMENTÁRIO! ‘Ilha das Flores: depois que a sessão acabou' não inova como obra audiovisual e nem pretende esse feito. Aqui não há uma "briga de egos" para com seu antecessor, e sim, o relato sincero de quem foi usado quase como massa de manobra.
O mais triste é que nada mudou para os moradores - nem no Brasil em sua totalidade. Apenas Furtado galgou degraus mais altos na sociedade e obteve prestígio com o “desprestígio” alheio. Deixo claro que a culpa do universo não é do diretor (apenas), mas nossa política se mantém uma sanguessuga da classe pobre, priorizando interesses elitizados e unitários. Situação essa demonstrada no filme quando, após inúmeras reclamações da região, Furtado volta ao local em 2004 para se "desculpar", prometendo reverter à situação (não falo da questão técnica) com um acordo político para tal, narrando nele às novas benfeitorias que seu regresso traria para a região: uma quadra de esportes! Curiosamente, realizando outro documentário (Fraternidade. 2004) altamente tendencioso. Fica claro a tentativa de um "cala a boca" aos moradores - que a essa altura manchavam a carreira dele -, sendo usados mais uma vez. Conseguem perceber uma dicotomia paradoxal?! É quase como um zoológico mencionar para não irmos aos circos, pois maltratam seus animais, sendo que eles retiram onças e elefantes de seu habitat.
As duas obras valem serem vistas, enaltecidas e criticadas. Sobretudo, pela forma como o tempo deu a possibilidade de releituras a elas. Em 1989, 'Ilha das Flores’ relatava uma (certa) verdade, hoje é evidente a manipulação e quão irreal era aquele retrato - mesmo que existam/existissem pessoas naquelas condições. Valem serem assistidos por suas histórias, técnicas e senso crítico. ' Ilha das Flores: depois que a sessão acabou', em especial, vem como uma agulha penetrada numa ferida recém-feita sobre a derme. Vale muitíssimo por dar voz de fato aos moradores que sofreram por sua própria condição de vida real, e irreal, e pela pergunta que me fiz: "será que silencia-los foi um modo para dar a entender a ignorância do povo?” Pois vendo o Doc de 2011, alguns dos moradores entrevistados, falam bem e parecem ter consciência, não só de sua condição de vida alarmante, como a vergonhosa estratégia de convencimento proposta por Jorge (prometendo melhorias de vida para a região) e ficando imensamente desapontados, entristecidos e envergonhados com toda a falácia - com o povo falando, talvez, não passariam a imagem de coitados que tanto grita no filme de 89. Adicionando mais um ponto dicotômico: ‘ou foi o tempo, junto ao que aconteceu com eles devido a repercussão do documentário, que trouxe essa consciência?’.
Contraditoriamente, o filme com viés de mostrar uma realidade (ainda que forjada) da miséria, e com ela dar mais voz e trazer o olhar, possivelmente, das autoridades para seu indigente modo de vida, acabou os deixando mais sem dignidade que antes - ainda que vivessem tão cruelmente como hoje. A subliminar voz socialista do diretor sussurra ao condenar o capital em cada parte da obra. A mais cruel, a meu ver, é a insinuação de que àqueles moradores só estão daquela maneira por não possuírem um dono como os porcos. A dicotomia se reafirma quando citam a crueldade do sistema regido pelo capital, mesmo que, através dele, Furtado tenha alcançado o sucesso e prestígio que tens (ao qual eu não nego ter), dinheiro para sustentar-se e inúmeros prêmios de sua obra.
Fico sinceramente espantado em ver o apoio da Casa de Cultura de Porto Alegre somente ao diretor, para que esse desenvolvesse cultura com seu cinema, mas não parecer ter investido também na Ilha dos Marinheiros – nome real da Ilha das Flores retratada – que, mesmo exibida na tela para milhões de pessoas, está no ostracismo da humanidade. Arrepia-me saber que 22 anos depois nada mudou naquela região e demonstra que a realidade (em ‘depois que a sessão acabou’) é mais incômoda do que a “realidade” de Furtado. Como uma obra transpirante à inclusão, no fim, acabou os jogando ainda mais na exclusão. Mas como disse, é paradoxal e dicotômico podendo ressaltar o erro em cada letra, palavra e frase supracitada. Todavia, afirmo: meu sentimento é real, eu existo e nada foi forjado. ^^
---Novembro de 2017.---
Crítica originalmente publicada no site da minha produtora audiovisual, página do Facebook da mesma e num trabalho de Faculdade.
luxcyano. com
facebook. com / luxcyano
Luciano DeSilva é ator, diretor, dublador, podcaster, aspirante à designer e jornalista por teimosia (e outras cositas mais). Tem 27 anos, adora a poderosa dimensão da música, a possibilidade de filosofar sendo pobretão, jogos de vídeo-games e vê no cinema sua bateria para que ainda continue vivo. Em 2016, criou a ‘Lux Cyano’ sua produtora audiovisual.
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Ilha das Flores: Depois que a Sessão Acabou
3.7 15ILHA DAS FLORES – A DICOTOMIA PARADOXAL
Eu ainda nem era nascido quando Jorge Furtado, junto à Casa do Cinema de Porto Alegre, trouxe ao ano de 1989 o “documentário” (sim, entre aspas) ‘Ilha das Flores’. Contudo, em 2011 a Editora J realizou seu documentário (aqui sim sem as aspas) em resposta ao de Jorge Furtado: ‘Ilha das Flores: depois que a sessão acabou’. Nestas letras formadas por um conjunto de zeros e uns existentes num programa de redigir textos no computador, que antes vieram de um papel em branco – que apesar de orgânico, não era de provas escolares –, discorrerei, e compararei as duas obras que falam do mesmo tema, mas com olhares diferentes.
Encabeçando os argumentos para com o filme de Furtado, de pronto menciono o quão hipnotizador foi vê-lo pela primeira vez – sendo até hoje. Impressiona-me a técnica usada para abordar um assunto específico e, mesmo dando várias voltas, eles nunca estão ali para “engordar” a trama somente; não fazem o papel de nos desorientar, mas justamente o contrário. Através de recortes de revistas e jornais, imagens de arquivos e filmes, é traçada uma linha do tempo para dar mais peso ao assunto específico: os moradores da Ilha das Flores. Giba Assis Brasil faz jus aos seus polegares opositores e edita o filme alternando entre o cômico e o sério, antigo e recente (para a época das filmagens), documentário e ficção e o ‘real e não real’. Essa provocação cinematográfica acerta em aromatizar o filme fazendo qualquer pessoa adentrar na história, principalmente por ser bem didático e ao mesmo tempo sofisticado. Usando o humor quase inerente ao brasileiro ele nos fisga com risadas sinceras ao ouvirmos a ótima narração de Paulo José – que também esteve no filme ‘Todas as Mulheres do Mundo’, certamente uma inspiração para Furtado pela semelhança de montagem – ao descrever milimetricamente cada assunto diante da câmera. Outro fator importantíssimo é o emprego do som em cada cena realçando certos atributos como o som de uma moto ao falar do Sr. Suzuki, de um homem gritando ao espetarem um cérebro formolizado e a ópera ‘Hallellujah’ ao falarem dos católicos.
A ousadia na forma como detalha o mostrado pela câmera enaltece um roteiro estudado até hoje. Cada assunto microscópio colocado impulsiona a narrativa para o macroscópico, revelando uma eficaz sinestesia audiovisual. Através desse cuidado fica nítido o quão preciso foi o tempo para construir o roteiro e temperá-lo com assuntos incômodos como o caso do Césio 137 (líquido radioativo que deformou algumas pessoas em Goiânia nos anos 80), pilhas de judeus mortos no holocausto nazista (dando um frio na espinha ao mencionar a palavra 'humano" em contraste com a realidade germânica da época) e ao relacionarem o movimento de pinça com as mãos, devido a exclusividade de polegares opositores aos humanos, e a elevada inteligência humana para criar coisas para melhorar o mundo - nessa hora uma bomba atômica preenche a tela. Mas é aí onde passo a agir mais clinicamente, pois o gesto do polegar mais a mensagem sobre a inteligência, e o cogumelo atômico, me parece uma crítica semi-velada ao capitalismo: como se o capital desse inteligência (e ganância) para a decadência da humanidade.
Amante do cinema, autointitulado, afirmo que 'Ilha das Flores' está no mais alto grau da virtude cinéfila, mas como filme-denúncia, e/ou documento fílmico, peca ao usar de má fé as pessoas ali documentadas - não chega a tanto, mas a atitude dos realizadores lembram as do protagonista do filme Nightcrawler, de 2014. Reverberando assim o título proposto para esta análise: usa de gente pobre para falar como os pobres sofrem, deixando esses pobres que usou sofrendo – dicotomia paradoxal. O que nos leva ao filme da Editora J.
De forma modesta, 'Ilha das Flores: depois que a sessão acabou', surgiu como uma voz para os que não tiveram no filme do Furtado. Em comparação com “seu irmão mais velho”, este não possui o mesmo apuro técnico, tão pouco exacerbadas peripécias visuais, mas o objetivo aqui é justamente esse: fugir de firulas utilizadas como maqueio e ser cru. Cruel. Real! Neste fica nítido o descontentamento dos moradores com a abordagem dos realizadores para com eles, o que chega parecer uma estratégia de políticos para eleição: ir a um local pobre, falar/ouvir às mazelas e “documentar” tudo, apenas para benefício próprio.
Escrevo este texto em pleno 2017, sendo o filme mais recente de 2011, logo foram 22 anos para que as mensagens desses moradores fossem ouvidas, mesmo por pouquíssimas pessoas. É difícil não ficar tocado por esse documento e sentir-se cúmplice da enganação proposta por Furtado – e seu sobrenome também paradoxal. Saber que, durante anos, aplaudi o diretor e exaltei sua obra panfletária, foi doloroso. Neste documento não há glamour, não há pinceladas de humor para te relaxar e suavizar o mostrado; não há atores contratados para deixar um filme "fashion" e "cool" para críticos verem e premiarem. Este aqui é um legítimo DOCUMENTÁRIO! ‘Ilha das Flores: depois que a sessão acabou' não inova como obra audiovisual e nem pretende esse feito. Aqui não há uma "briga de egos" para com seu antecessor, e sim, o relato sincero de quem foi usado quase como massa de manobra.
O mais triste é que nada mudou para os moradores - nem no Brasil em sua totalidade. Apenas Furtado galgou degraus mais altos na sociedade e obteve prestígio com o “desprestígio” alheio. Deixo claro que a culpa do universo não é do diretor (apenas), mas nossa política se mantém uma sanguessuga da classe pobre, priorizando interesses elitizados e unitários. Situação essa demonstrada no filme quando, após inúmeras reclamações da região, Furtado volta ao local em 2004 para se "desculpar", prometendo reverter à situação (não falo da questão técnica) com um acordo político para tal, narrando nele às novas benfeitorias que seu regresso traria para a região: uma quadra de esportes! Curiosamente, realizando outro documentário (Fraternidade. 2004) altamente tendencioso. Fica claro a tentativa de um "cala a boca" aos moradores - que a essa altura manchavam a carreira dele -, sendo usados mais uma vez. Conseguem perceber uma dicotomia paradoxal?! É quase como um zoológico mencionar para não irmos aos circos, pois maltratam seus animais, sendo que eles retiram onças e elefantes de seu habitat.
As duas obras valem serem vistas, enaltecidas e criticadas. Sobretudo, pela forma como o tempo deu a possibilidade de releituras a elas. Em 1989, 'Ilha das Flores’ relatava uma (certa) verdade, hoje é evidente a manipulação e quão irreal era aquele retrato - mesmo que existam/existissem pessoas naquelas condições. Valem serem assistidos por suas histórias, técnicas e senso crítico. ' Ilha das Flores: depois que a sessão acabou', em especial, vem como uma agulha penetrada numa ferida recém-feita sobre a derme. Vale muitíssimo por dar voz de fato aos moradores que sofreram por sua própria condição de vida real, e irreal, e pela pergunta que me fiz: "será que silencia-los foi um modo para dar a entender a ignorância do povo?” Pois vendo o Doc de 2011, alguns dos moradores entrevistados, falam bem e parecem ter consciência, não só de sua condição de vida alarmante, como a vergonhosa estratégia de convencimento proposta por Jorge (prometendo melhorias de vida para a região) e ficando imensamente desapontados, entristecidos e envergonhados com toda a falácia - com o povo falando, talvez, não passariam a imagem de coitados que tanto grita no filme de 89. Adicionando mais um ponto dicotômico: ‘ou foi o tempo, junto ao que aconteceu com eles devido a repercussão do documentário, que trouxe essa consciência?’.
Contraditoriamente, o filme com viés de mostrar uma realidade (ainda que forjada) da miséria, e com ela dar mais voz e trazer o olhar, possivelmente, das autoridades para seu indigente modo de vida, acabou os deixando mais sem dignidade que antes - ainda que vivessem tão cruelmente como hoje. A subliminar voz socialista do diretor sussurra ao condenar o capital em cada parte da obra. A mais cruel, a meu ver, é a insinuação de que àqueles moradores só estão daquela maneira por não possuírem um dono como os porcos. A dicotomia se reafirma quando citam a crueldade do sistema regido pelo capital, mesmo que, através dele, Furtado tenha alcançado o sucesso e prestígio que tens (ao qual eu não nego ter), dinheiro para sustentar-se e inúmeros prêmios de sua obra.
Fico sinceramente espantado em ver o apoio da Casa de Cultura de Porto Alegre somente ao diretor, para que esse desenvolvesse cultura com seu cinema, mas não parecer ter investido também na Ilha dos Marinheiros – nome real da Ilha das Flores retratada – que, mesmo exibida na tela para milhões de pessoas, está no ostracismo da humanidade. Arrepia-me saber que 22 anos depois nada mudou naquela região e demonstra que a realidade (em ‘depois que a sessão acabou’) é mais incômoda do que a “realidade” de Furtado. Como uma obra transpirante à inclusão, no fim, acabou os jogando ainda mais na exclusão. Mas como disse, é paradoxal e dicotômico podendo ressaltar o erro em cada letra, palavra e frase supracitada. Todavia, afirmo: meu sentimento é real, eu existo e nada foi forjado. ^^
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Crítica originalmente publicada no site da minha produtora audiovisual, página do Facebook da mesma e num trabalho de Faculdade.
www. luxcyano. com
www. facebook. com/ luxcyano
Luciano DeSilva é ator, diretor, dublador, podcaster, aspirante à designer e jornalista por teimosia (e outras cositas mais). Tem 27 anos, adora a poderosa dimensão da música, a possibilidade de filosofar sendo pobretão, jogos de vídeo-games e vê no cinema sua bateria para que ainda continue vivo. Em 2016, criou a ‘Lux Cyano’ sua produtora audiovisual.
Snow Steam Iron
4.1 12SNYGOD - SNYDEUS!
<3
A Espera
2.8 3Filme visto em uma aula de Cinema com a própria apresentação do Diretor - e meu professor!
Meados de 2006...
Fish Heads
3.0 3Surrealienalismo rs
Final Curtain
2.8 5 Assista AgoraUma pérola perdida.
Let's Love Hate
3.8 2Direto e simples. Um pouco piegas, mas a mensagem foi passada.
Talvez essa mesma mensagem seja para atingir os menores para que não cheguem a crescer como os adultos do filme.