Minha primeira experiência com Mojica. Reconheço a importância histórica, pela originalidade e o pioneirismo em fazer filmes do gênero no Brasil. Certamente foi bastante audacioso pra sua época e deve ter deixado muita gente aterrorizada, num Brasil que era bastante católico e supersticioso. Entretanto, imaginava que o filme seria um pouco mais subversivo, pois, impressão minha, o resultado final tem certo tom moralista. Não sei se a crítica às superstições e à religiosidade estão muito bem colocadas. Talvez fosse a intenção criticar dogmas e superstições, mas vejo que pode haver um efeito contrário.
O personagem que cometia as blasfêmias e que questionava e duvidava das crendices e superstições (como não se abster de comer carne na sexta-feira santa) era também o que tinha atitudes totalmente condenáveis (violência, abuso sexual, assassinato etc.), enquanto não se dá a nenhum dos personagens crentes tamanha carga de negatividade. Assim, o personagem esquisitão e que não crê é justamente o mau-caráter. Vejo que uma crítica bem construída ao moralismo religioso seria mostrar o discurso hipócrita de muitos que se dizem religiosos, mas cometem diversas atitudes violentas e intolerantes em nome de uma crença. E não vejo isso no filme. E me parece que a punição sofrida pelo personagem no final se deu não apenas por ele ter estuprado e matado mas também por ter duvidado e blasfemado.
Assisti este filme antes de ver Era uma vez em Tóquio, clássico japonês de 1953. Quem viu Era uma vez vai logo reconhece-lo como a grande inspiração para Hanami. Então no meu caso, foi o contrário, reconheci Hanami em Era uma vez. Pode-se dizer que que Hanami é uma grande homenagem a esta outra obra-prima do cinema japonês. Muito além de ser apenas um remake transportado a uma realidade mais atual, Hanami vai além, trazendo uma continuidade à história, e dando a ela uma abordagem diferente, mostrando-a também com grande sensibilidade.
Com belíssimas imagens de uma pequena e bucólica vila com casas de pedra em contraste com as gigantes e poluentes chaminés industriais ao fundo, o filme começa em tom melancólico, com o protagonista já mais velho relembrando suas memórias de infância.
Ao longo do filme vemos através dos olhos do menino os principais acontecimentos de sua infância, e seu processo de amadurecimento, especialmente pela perda do pai, que durante toda a sua vida foi sua principal referência.
Interessante perceber as críticas que o filme faz a um sistema que apesar de parecer amigável (o verde vale), é bastante opressor e violento (as chaminés poluentes), seja através da exploração do trabalhador e da degradação ambiental, do moralismo e hipocrisia da igreja, da sociedade machista e patriarcal, bem como de um sistema educacional segregador e extremamente autoritário. Temas ainda longe de ser superados 80 anos depois do filme.
Mesmo com tantos problemas e perversidades, ainda assim o protagonista guarda boas memórias da infância, pois em sua inocência, não compreendia tudo o que acontecia ao seu redor. Podemos nos questionar então, será que o vale era realmente tão verde como ele lembrava? Ou sua memória o fazia lembrar do vale mais verde do que ele realmente era?
É a velha história do pai que segue rigidamente as tradições e espera o mesmo do filho, enquanto este quer seguir seu próprio caminho, ao mesmo tempo que as tradições e valores familiares também têm importância em sua vida. Surge assim o conflito: seguir as tradições e anular a própria vontade ou enfrentar a família e seguir seu sonho?
Embora o conflito central da história seja um tema batido, já visto em outros filmes, bem como o desfecho seja bastante previsível, o filme é interessante principalmente por levar essa história para dentro de um contexto pouco visto e desconhecido pela maioria das pessoas, retratando uma comunidade de muçulmanos membros da diáspora indiana na África do Sul. A história se fecha em torno dessa comunidade de tal forma, que ao longo do filme se torna quase imperceptível ao espectador que a história se passa em Johannesburg, trazendo assim uma visão diferente sobre a África. Tem também algumas cenas com situações meio forçadas e algumas atuações meio caricatas, mas nada que comprometa. Filme simples, história simples, mas interessante de ser visto.
À Meia-Noite Levarei Sua Alma
3.9 286 Assista AgoraMinha primeira experiência com Mojica. Reconheço a importância histórica, pela originalidade e o pioneirismo em fazer filmes do gênero no Brasil. Certamente foi bastante audacioso pra sua época e deve ter deixado muita gente aterrorizada, num Brasil que era bastante católico e supersticioso.
Entretanto, imaginava que o filme seria um pouco mais subversivo, pois, impressão minha, o resultado final tem certo tom moralista.
Não sei se a crítica às superstições e à religiosidade estão muito bem colocadas. Talvez fosse a intenção criticar dogmas e superstições, mas vejo que pode haver um efeito contrário.
O personagem que cometia as blasfêmias e que questionava e duvidava das crendices e superstições (como não se abster de comer carne na sexta-feira santa) era também o que tinha atitudes totalmente condenáveis (violência, abuso sexual, assassinato etc.), enquanto não se dá a nenhum dos personagens crentes tamanha carga de negatividade. Assim, o personagem esquisitão e que não crê é justamente o mau-caráter. Vejo que uma crítica bem construída ao moralismo religioso seria mostrar o discurso hipócrita de muitos que se dizem religiosos, mas cometem diversas atitudes violentas e intolerantes em nome de uma crença. E não vejo isso no filme.
E me parece que a punição sofrida pelo personagem no final se deu não apenas por ele ter estuprado e matado mas também por ter duvidado e blasfemado.
Hanami: Cerejeiras em Flor
4.4 291Assisti este filme antes de ver Era uma vez em Tóquio, clássico japonês de 1953. Quem viu Era uma vez vai logo reconhece-lo como a grande inspiração para Hanami. Então no meu caso, foi o contrário, reconheci Hanami em Era uma vez.
Pode-se dizer que que Hanami é uma grande homenagem a esta outra obra-prima do cinema japonês. Muito além de ser apenas um remake transportado a uma realidade mais atual, Hanami vai além, trazendo uma continuidade à história, e dando a ela uma abordagem diferente, mostrando-a também com grande sensibilidade.
Como Era Verde Meu Vale
4.1 152 Assista AgoraCom belíssimas imagens de uma pequena e bucólica vila com casas de pedra em contraste com as gigantes e poluentes chaminés industriais ao fundo, o filme começa em tom melancólico, com o protagonista já mais velho relembrando suas memórias de infância.
Ao longo do filme vemos através dos olhos do menino os principais acontecimentos de sua infância, e seu processo de amadurecimento, especialmente pela perda do pai, que durante toda a sua vida foi sua principal referência.
Interessante perceber as críticas que o filme faz a um sistema que apesar de parecer amigável (o verde vale), é bastante opressor e violento (as chaminés poluentes), seja através da exploração do trabalhador e da degradação ambiental, do moralismo e hipocrisia da igreja, da sociedade machista e patriarcal, bem como de um sistema educacional segregador e extremamente autoritário. Temas ainda longe de ser superados 80 anos depois do filme.
Mesmo com tantos problemas e perversidades, ainda assim o protagonista guarda boas memórias da infância, pois em sua inocência, não compreendia tudo o que acontecia ao seu redor. Podemos nos questionar então, será que o vale era realmente tão verde como ele lembrava? Ou sua memória o fazia lembrar do vale mais verde do que ele realmente era?
Cassim, O Comediante
3.4 3 Assista AgoraÉ a velha história do pai que segue rigidamente as tradições e espera o mesmo do filho, enquanto este quer seguir seu próprio caminho, ao mesmo tempo que as tradições e valores familiares também têm importância em sua vida. Surge assim o conflito: seguir as tradições e anular a própria vontade ou enfrentar a família e seguir seu sonho?
Embora o conflito central da história seja um tema batido, já visto em outros filmes, bem como o desfecho seja bastante previsível, o filme é interessante principalmente por levar essa história para dentro de um contexto pouco visto e desconhecido pela maioria das pessoas, retratando uma comunidade de muçulmanos membros da diáspora indiana na África do Sul. A história se fecha em torno dessa comunidade de tal forma, que ao longo do filme se torna quase imperceptível ao espectador que a história se passa em Johannesburg, trazendo assim uma visão diferente sobre a África.
Tem também algumas cenas com situações meio forçadas e algumas atuações meio caricatas, mas nada que comprometa. Filme simples, história simples, mas interessante de ser visto.