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Nos indefectíveis anos mil novecentos e oitenta, apesar do cerco cada vez mais impiedoso do cinema pipoqueiro ianque, aquele POLTERGEIST inconsequente, aquele descaramento da exploração-a-torto-e-a-direito ainda assombrava lépido os cinemas ao redor do globo. Para o bem, e para o mal, era legal. E quem diria que o infame Jong-il Kim pudesse rivalizar com Dênis Carvalho e Daniel Filho em matéria de infâmia, breguice e auto-paródia. Entretanto, os voluntários da "Anestesia Internacional" que não me levem a mal: no quesito "Objeto de Culto", o EGOSAURO norte-coreano esmaga fácil qualquer recauchutagem de "Freaky Friday" e "Porta dos Fundos" que a Globolha Filmerdas venha a defecar nos cinemas de shopping centers da vida.

Telefilme de 2004, marinado no coentro (violento) e assado na brasa (da agitação) por Mark Dippé. A coadjuvante China Chow é filha da modelo Tina Chow, que foi reconhecida nos E. U. A. como um dos ícones da moda dos anos 1970. A inspiração primordial veio do fato do formidável actinopterígeo conhecido como cabeça-de-cobra-do-norte (em especial, o Channa argus argus), ser considerado um dos peixes exóticos invasores mais inconvenientes da América do Norte e Europa, por ser um voraz devorador dos filhotes das espécies locais e infestar facilmente qualquer curso de água ou reservatório que o abrigue. O termo "Frankenfish" é usado popularmente nos E. E. U. U. para apelidar os aqueles exemplares adultos que ultrapassam os cinquenta centímetros de comprimento, e que graças a uma câmara supra-branquial pregueada e estufada são capazes de absorver oxigênio extra, garantindo a eles a incrível capacidade de respirar e rastejar para fora da água por longos períodos de tempo. Os produtores executivos do canal norte-americano Syfy ficaram fascinados pelo potencial gráfico e trágico do bicho, e fizeram mais duas variações sobre o tema: "Snakehead Terror" (exibido em 2004, com direção de Paul Ziller) e "Swarm of the Snakehead" (exibido em 2006, com direção de Frank A. Lama e Joel C. Denning).

Isto... é um telefilme de 1984. Mas não manifeste nenhuma ânsia de vômito diante dessa constatação, já que este raro exemplar da categoria é uma obra satisfatória. Mesmo sob o jugo criativo de um daqueles produtores executivos pré-Twin-Peaks e pré-Simpsons, que eram notoriamente alérgicos a violência gráfica explícita e finais infelizes, há alguns momentos inspirados na trama. Alguns dublês de críticos de cinema e T. V. brasileiros de trinta anos atrás, afirmavam que "a notória má-qualidade da televisão norte-americana é irreversível, portanto prefiram um capítulo de melodramerda da Globosta e evitem essas coisas". Nada mais equivocado e precipitado do que isso! Existiam idéias formidáveis e mirabolantes para serem trabalhadas naquela época, e o "MESTRE DAS TELE-ARAPUCAS" Wes Craven conseguiu trabalhar algumas delas aqui com maestria. Surpreenda-se com uma Personificação do Mal de Penteado Volumoso capaz de abater suas vítimas com um "tiro de microondas de longo alcance" desferido por um singelo dedo em riste. Curta uma mistura de "Vampiros de Almas" (Invasion of Body Snatchers, dirigido por Don Siegel) com "Espectro" (Spektre, aquele telefilme de 1975 escrito pelo Gene Roddenberry) sem culpa. Comova-se com a perseverança de um chefe de família indo ao resgate de sua família nas profundezas do "mais indesejável abismo subterrâneo da civilização judaico-cristão-ocidental", bastando ostentar coragem e um ultra traje de astronauta de última geração! Só fica difícil relevar o clímax do telefilme resvalando na pieguice, com um desfecho mais apropiado para um episódio corriqueiro dos "Cavaleiros do Zodíaco" (do Masami Kurumada, lembra?) do que para uma releitura da passagem de Jó diante de um confronto entre Forças Além de Sua Compreensão. Nota seis, PER ARDUA SURGO!