Venho me sentindo, ultimamente, um tanto quanto aborrecido com as produções originais Netflix. Chega a ser mesmo um pouco cansativo ver tantas opções novas no catálogo do serviço de streaming a cada semana, sendo algumas, claramente, de gosto muito duvidoso.
Todavia, assim como Sex Education, Russian Doll foi uma surpresa agradabilíssima entre essas tantas produções originais. Com uma sinopse um tanto quanto batida, essa parecia uma boa opção para uma sexta-feira em casa, sobretudo pela presença de Natasha Lyonne (que interpreta Nadia Vulvokov, uma das protagonistas da série), a quem passei a admirar através de Orange Is the New Black. Assim, despretensiosamente, comecei a assisti-la, já gostando muito do piloto. Confesso, no entanto, que não esperava o nível de profundidade que viria a ser apresentado nos episódios seguintes.
Ao longo da trama, fica claro o quanto o título da série é apropriado - de inúmeras maneiras. Russian Doll não possui um ritmo cansativo, algo que se deve à duração dos episódios (que contam com no máximo 30 minutos), mas, principalmente, à maneira como a narrativa vai se desenvolvendo. Se o tom de comédia dark se faz muito presente no início, quando vemos Nadia tentando descobrir, por conta, o motivo de, após cada morte que sofre, se encontrar novamente em sua festa de aniversário de 36 anos, o surgimento de Alan Zaveri (o outro protagonista da série, interpretado por Charlie Barnett), confere à história um outro tom.
A partir daí, é como se fôssemos vendo surgir, a cada episódio, novas matrioskas, subvertendo, de diferentes formas, narrativas similares, como Groundhog Day, e revelando mais e mais camadas dos dois protagonistas. Não que as brilhantes falas sarcásticas de Nadia deixem de se fazer presentes, sobretudo porque ela e Alan são tão distintos um do outro. O que acontece é que a sagacidade do roteiro começa a servir um novo propósito, mostrando que em seu âmago, Nadia e Alan, talvez, não sejam tão diferentes assim, justamente por tentarem manter, a todo custo, o controle de suas vidas, não se abrindo para aquilo que grita dentro deles. Esse, pra mim, é o grande trunfo da história apresentada: a compreensão, dos personagens principais, de que devem parar de tentar agir apenas sobre o mundo a sua volta, como insistem em fazer. Ao invés disso, eles devem também agir sobre si, o que significa demonstrar abertura mesmo para suas partes menos queridas. Tenho visto outras pessoas destacarem esse aspecto da série, que, aliás, me remete muito às diferentes filosofias espirituais orientais.
Muito pode ser falado sobre Russian Doll, incluindo a atuação apaixonante de Natasha Lyonne e sua química com Charlie Barnett, além do protagonismo feminino e do modo como a história foi notavelmente bem elaborada. Em suma, contudo, digo que a série vale muito a pena e que pretendo inclusive revê-la, atentando-me aos easter eggs e a toda a simbologia que ela contém. Parabéns para Natasha Lyonne, Amy Poehler e Leslye Headland por essa bela criação!
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Boneca Russa (1ª Temporada)
4.0 398Venho me sentindo, ultimamente, um tanto quanto aborrecido com as produções originais Netflix. Chega a ser mesmo um pouco cansativo ver tantas opções novas no catálogo do serviço de streaming a cada semana, sendo algumas, claramente, de gosto muito duvidoso.
Todavia, assim como Sex Education, Russian Doll foi uma surpresa agradabilíssima entre essas tantas produções originais. Com uma sinopse um tanto quanto batida, essa parecia uma boa opção para uma sexta-feira em casa, sobretudo pela presença de Natasha Lyonne (que interpreta Nadia Vulvokov, uma das protagonistas da série), a quem passei a admirar através de Orange Is the New Black. Assim, despretensiosamente, comecei a assisti-la, já gostando muito do piloto. Confesso, no entanto, que não esperava o nível de profundidade que viria a ser apresentado nos episódios seguintes.
Ao longo da trama, fica claro o quanto o título da série é apropriado - de inúmeras maneiras. Russian Doll não possui um ritmo cansativo, algo que se deve à duração dos episódios (que contam com no máximo 30 minutos), mas, principalmente, à maneira como a narrativa vai se desenvolvendo. Se o tom de comédia dark se faz muito presente no início, quando vemos Nadia tentando descobrir, por conta, o motivo de, após cada morte que sofre, se encontrar novamente em sua festa de aniversário de 36 anos, o surgimento de Alan Zaveri (o outro protagonista da série, interpretado por Charlie Barnett), confere à história um outro tom.
A partir daí, é como se fôssemos vendo surgir, a cada episódio, novas matrioskas, subvertendo, de diferentes formas, narrativas similares, como Groundhog Day, e revelando mais e mais camadas dos dois protagonistas. Não que as brilhantes falas sarcásticas de Nadia deixem de se fazer presentes, sobretudo porque ela e Alan são tão distintos um do outro. O que acontece é que a sagacidade do roteiro começa a servir um novo propósito, mostrando que em seu âmago, Nadia e Alan, talvez, não sejam tão diferentes assim, justamente por tentarem manter, a todo custo, o controle de suas vidas, não se abrindo para aquilo que grita dentro deles. Esse, pra mim, é o grande trunfo da história apresentada: a compreensão, dos personagens principais, de que devem parar de tentar agir apenas sobre o mundo a sua volta, como insistem em fazer. Ao invés disso, eles devem também agir sobre si, o que significa demonstrar abertura mesmo para suas partes menos queridas. Tenho visto outras pessoas destacarem esse aspecto da série, que, aliás, me remete muito às diferentes filosofias espirituais orientais.
Muito pode ser falado sobre Russian Doll, incluindo a atuação apaixonante de Natasha Lyonne e sua química com Charlie Barnett, além do protagonismo feminino e do modo como a história foi notavelmente bem elaborada. Em suma, contudo, digo que a série vale muito a pena e que pretendo inclusive revê-la, atentando-me aos easter eggs e a toda a simbologia que ela contém. Parabéns para Natasha Lyonne, Amy Poehler e Leslye Headland por essa bela criação!