Uma ótima jornada, mas com um tropeço feio no final
É preciso antes de tudo elogiar o diretor e a equipe por trás de Round 6. De maneira primorosa eles conseguem criar uma jornada excelente, com ótimas cenas emocionantes, seja pelo drama, suspense e até mesmo humor em alguns momentos. Porém, é impossível não se decepcionar com o último episódio, já que ele quebra com aquilo construído nos outros 8.
No meu ponto de vista, a questão central da série foi o pessimismo enorme com relação ao sistema capitalista. Através da metáfora do jogo fica claro a noção de que o nosso modelo econômico leva a exploração, humilhação e morte daqueles menos favorecidos nele.
Nesse sentido, a cena onde uma pessoa acabou de morrer e o porquinho é abastecido com notas é poderosa, já que, sobretudo para algumas elites, a vida humana se resume basicamente a isso, um valor monetário. Basta lembrar que, conforme os donos de um certo plano de saúde, "óbito também é alta".
Ao encontro disso, ao longo dos 8 episódios nada conseguiu sobreviver a máquina de morte montada na misteriosa ilha. Seja a fé católica (o homem que reza desesperadamente), o casamento (o casal onde um é obrigado a matar o outro) a bondade e ingenuidade (o refugiado paquistanês), a malandragem (a mulher que gritava ser a pessoa mais esperta do lugar) ou mesmo a intimidação e força bruta (o cara com tatuagem de serpente no rosto). Tudo foi moído pelo capitalismo selvagem, onde um grupo minúsculo fica com a renda de centenas a custa da exploração desses últimos, aplicado através dos homens de vermelho.
Por conta disso, achei péssimo que, em primeiro lugar, Seong Gi-hun/número 456 se tornou o "herói". Quer dizer, ele é o único a entrar ali e não se corromper, pois no último segundo se mostra incapaz de matar Cho Sang-woo/número 218. Não que eu desejasse a morte desse último, mas acho muito utópica e irreal essa coisa de colocar ele como alguém tão "virtuoso" que permanece até o final assim, sem se dobrar a imposição assassina daquele lugar.
Somado a isso, não achei sentido na questão de ele sair com o dinheiro. Se de fato a série fosse coerente, não era para ele ter saído de lá vivo. Afinal de contas, se esse é o procedimento deles, como que nenhum dos outros ganhadores bilionários desmascarou tudo? A questão do jogo sempre foi trazer divertimento aos VIPs, logo não faz sentido eles permitirem alguém sair vivo dali, correndo o risco de perderem o seu "entretenimento". Seria muito mais lógico eles imediatamente matarem o ganhador, ou ainda o obrigarem a ficar preso na ilha conduzindo os próximos jogos. A gente tem o exemplo disso no final do episódio "Fifteen Million Merits" de Black Mirror, onde o personagem principal luta contra o sistema, mas ao final se torna parte dele. Esse, na minha opinião, seria um final de acordo com a proposta pessimista da série.
Ainda sobre esse ponto, fiquei dividido com a revelação de que quem organizou tudo foi Oh Il-nam/número 1. Por um lado isso acaba por atenuar toda a maldade cometida naquele lugar, já que foi feita por um simpático senhor idoso. Porém, por outro, acho positivo, já que se relaciona com a ideia de banalidade do mal de Hannah Arendt, de que qualquer um é capaz de cometer atos hediondos, basta agir sem pensar nas consequências. É o caso de 01, que só queria dar um tempo em sua vida entediante ou, trazendo pra realidade, um certo ex-ministro cujo lema é "um manda e o outro obedece".
Por fim, apenas um comentário que achei curioso. Vi muita gente criticando a série por supostamente cair no "clichê" dos homens brancos ricos que são vilões. Eu sinceramente não consegui enxergar algo errado aí, afinal de contas é só a gente olhar a lista das pessoas mais ricas do mundo e vai ver que várias caem nesse perfil, homens brancos (Mark Zuckemberg, Elon Musk, Tim Cook, Jeff Bezos, Bill Gates etc).
Então, isso só reforça como a série tentou em grande medida ser parecida com a realidade e fazer uma crítica da mesma. Mas, infelizmente, no final das contas resolveu encerrar mais como entretenimento do que como crítica.
É preciso reconhecer os méritos de Antonio Tabet, pois ele está muito bem nesse novo filme. Ele consegue manter essa figura do policial miliciano de maneira constante e hilária durante todo o longa.
Apenas um ponto que me chamou a atenção é isso que chamei de caráter atemporal do filme. O Porta dos Fundos para mim sempre foi marcado por uma forte relação com a sua época. Eles o tempo todo fazem piadas com situações cotidianas e críticas sociais misturadas com política. Não é o caso aqui, onde com a exceção de um único comentário, a covid-19 não existe nesse universo.
Não que eu tenha desgostado do filme por causa disso, pelo contrário, proporcionou ótimas risadas ao longo de toda a sua uma hora de duração. Apenas foi algo que me chamou a atenção, já que destoa um pouco do que o Porta costuma fazer, principalmente nas suas últimas produções. Meu palpite é que pelo fato de 2020 e 21 terem sido anos bastante pesados, eles não acharam que era hora ainda de tocar no assunto, ou simplesmente não tiveram vontade de falar do mesmo. Até porque eles próprios foram afetados, na medida que tiveram que contratar literalmente uma equipe de biossegurança para as filmagens.
Agora, a única coisa que de fato não curti foi a sequência com a personagem da Evelyn Castro bancando o cachorro farejador com a camisinha do assassino. Eu não sou contra escatologia em filmes, mas depois dos primeiros 15 segundos a piada simplesmente perdeu completamente a graça. Além de que é um tipo de humor que o Porta não costuma fazer, de maneira que ficou um trecho muito deslocado do restante da narrativa.
Por outro lado, gostei muito que eles fugiram do estereótipo de dizer que o assassino ia matar o faxineiro gay porque naquele dia saiu o número 24 no jogo do bicho (veado). Seria péssimo caso tivessem feito isso, além de uma hipocrisia, já que o Porta claramente é ligado ao campo progressista, de maneira que é contra esse tipo de piada homofóbica. Assim, foi uma grata surpresa eles romperem com essa expectativa.
Então, se você quer se divertir bastante, recomendo!
Um primeiro ponto que preciso deixar claro: nunca li os livros da série duna e não assisti a versão da década de 1980. Ou seja, esse é o meu primeiro contato com esse universo.
Dito isso, algo que me chamou muito a atenção e considero primoroso no filme é a construção de mundo.
Especialmente no planeta onde se encontra a especiaria, retratado como extremamente hostil a vida humana. Os recursos tecnológicos que ajudam na sobrevivência, como as roupas especiais, o jeito de caminhar na areia, o aparelho que atrai os vermes gigantes, tudo isso achei incrível, muito criativo e dialoga muito bem com esse cenário inóspito. O detalhe do ratinho que precisa usar o próprio suor para sobreviver foi a cereja do bolo.
O problema é que para mim o personagem principal da trama é esse, duna. Porque fui incapaz de criar qualquer conexão com os protagonistas.
Paul Atreus é a versão empoeirada do meme do Grumpy Cat, a morte do duque Leto Atreides não me impactou em nada, e sei que muita gente idolatra a Zendaya, mas essa personagem dela que lembra o estereótipo da árabe exótica foi totalmente genérico pra mim: uma mulher bela e misteriosa, cheia de segredos e ao mesmo tempo perigosa.
Eu gostaria muito de ver uma história sobre Duncan Idaho, isso sim, e não apenas porque ele é interpretado por Jason "labrador humano" Momoa. A razão é que com ele foi possível criar empatia, de maneira que seria incrível ver como ele se tornou esse grande guerreiro. Da mesma forma, o papel da doutora Kynes também me despertou muito interesse, essa botânica nativa do planeta que trabalha para o império, mas ao mesmo tempo guarda seus segredos e tem interesses próprios.
Nesse sentido, acredito que o único ponto positivo disso tudo é que me despertou bastante a curiosidade de ler os livros, já que várias coisas são simplesmente atiradas na tela.
A mãe de Paul faz parte de uma ordem secreta que aparece por cinco minutos e pronto, mais nenhuma explicação. Por que o tal do barão é deformado e se banha em uma espécie de piche negro? Qual é o real poder da casa Atreides, textualmente colocada como uma das mais poderosas daquele universo, tanto que o imperador tem medo dela, mas que é aniquilada em 10 minutos? O que faz o exército do imperador ser uma força tão poderosa, tem algo a ver com a cerimônia na chuva que vemos por alguns minutos? Aí volta a questão, se esse poderio militar do imperador é tão incrível, porque utilizar a casa do barão?
Enfim, o que me parece é que o filme, embora traga um enredo simples e compreensível, é feito para quem leu os livros, isto é, ele só será de fato uma experiência rica e envolvente para quem já tem essa bagagem cultural. Isso porque ele se preocupa tanto em apresentar esse mundo que simplesmente esquece de mostrar quem são as pessoas que habitam ele, de maneira que a aridez do cenário também se manifesta em aridez narrativa, sem elementos de roteiro que façam com que se desperte o interesse em saber para onde aqueles indivíduos irão, o que vão fazer.
Paul Atreides é o futuro imperador, o escolhido. Tá, e daí? Aqui não ocorre algo como em "matrix" ou "star wars", onde essa noção de um indivíduo especial que mudará completamente o mundo é trabalhada desde o início do filme. Não digo que seria o caso deles seguirem rigorosamente a receita da "jornada do herói", mas faltou o mínimo de elaboração do personagem que, teoricamente, é o principal. E entendo que o problema é justamente esse, o personagem principal é aquele que dá nome ao filme
Curti bastante como a premissa do filme foi bem explorada ainda que tenha focado quase que somente nos aspectos biológicos e não dado tanta atenção para os culturais. Não que isso tenha feito eu não gostar do filme, apenas um pensamento de que talvez fosse algo que pudesse ter sido melhor desenvolvido. Mas claro, é bem mais fácil encenar mudanças grotescas no corpo humano, como a cena do tumor, do que alterações psicológicas.
É interessante como é possível relacionar o tema geral com a época em que vivemos. As relações sociais no longa, por causa dos efeitos colaterais da ilha, são rápidas e dinâmicas. Temos o casal Trent e Kara que se conhecem, tem um filho e depois se separam. E o casal principal, Guy e Prisca, que estão prestes a se separar, mas ao final se reconciliam. Isso lembra muito o nosso contexto já que, como defende o sociólogo Zygmunt Bauman, hoje em dias as relações são fluídas, começam e terminam muito rapidamente.
Ainda nessa questão, existe uma cena onde Trent e Kara comentam que não tiveram formatura de Ensino Médio e nem de faculdade, o que também dá para relacionar com o nosso momento histórico onde muitos adultos, especialmente os de classe média, ainda vivem com os pais e continuam estudando.
Outra coisa interessante é a ideia, presente no nosso cotidiano, de que tudo aquilo que é natural é, por consequência, bom, e que muitas empresas usam para vender produtos "100% naturais", por exemplo. Esse discurso aparece no "vilão" gerente do Resort, que tenta justificar o que faz dizendo que a natureza criou aquele lugar para que eles realizassem seus experimentos, logo não estão fazendo nada de errado.
Nesse sentido, é tentador justificar o que eles estão fazendo já que usam seus remédios para salvar vidas. Mas, analisando com mais calma, se eles de fato desejassem curar doenças então deveriam divulgar essa ilha para o mundo inteiro, para que vários laboratórios diferentes a utilizassem. Mas não, afinal de contas, se fizessem isso iriam perder o monopólio de ser a única farmacêutica que pode estudar os efeitos de um medicamento ao longo de décadas.
Enfim, uma experiência bastante satisfatória, com destaque para as atuações do elenco, a trilha sonora e os usos criativos da fotografia (como a imagem desfocada para o personagem que sofre de catarata).
Quando fui assistir os dois últimos episódios estava contente por terminar, pois não aguentava mais o mesmo discurso repetido o tempo todo: não é possível mudar seu destino.
Aí o que acontece, temos o penúltimo episódio mais uma vez reforçando isso (tentativa frustrada de suicídio do Jonas) e daí, no último episódio, abracadabra, temos a solução pra acabar com esses dois universos de sofrimento infinito chamados Winden.
Fora que também houveram 4 pontos que não foram desenvolvidos:
1) COMO o Jonas virou o Adam? Numa cena temos Jonas daí, logo mais adiante, Adam. Sem nenhuma explicação de como foi esse processo de transformação do jovem barbudo em um assassino que mata sua própria mãe de forma fria e calculada.
2) COMO Martha virou Eva? Mesma coisa, nada dessa metamorfose.
3) COMO a Cláudia descobriu a dimensão original? Em um simples diálogo ela conta tudo pro Adam. E o pior, nem por um minuto ele duvida, ao contrário, segue rigorosamente o que ela diz.
4) COMO é essa dimensão original? Simplesmente fizeram uma única cena mostrando a Hannah jantando com a Katharina (como elas viraram amigas???) e a primeira namorando/casada com o personagem azarado. Por que não fazer pelo menos UM episódio explicando essa dimensão e seus personagens?
Enfim, gostei da resolução e da forma como a série, como um todo, utilizou a ideia da viagem no tempo, mas acho que a execução dela foi péssima.
Mas o fato de que aparentemente é impossível mudar alguma coisa e o destino de todos já está traçado foi frustrante. O auge disso foi o Jonas voltar no tempo pra impedir o pai dele de se matar, e no final é ele que estimula o Michael ao suicídio. Da mesma forma, quando a Cláudia vai ver seu pai eu sabia que aquilo era inútil, e dito e feito, como estava "destinado", ele morreu.
Pelo menos aparentemente haverá dimensões paralelas na próxima temporada. Curioso para ver como irão explorar isso.
A música que resume essa temporada é essa paródia aqui:
Tudo que foi será De novo do jeito que já foi um dia Nada passa, nada sempre passará A morte vem em ondas Como um mar Num indo e vindo infinito
Tudo que se vê é Igual ao que a gente viu há um segundo Nada muda o tempo todo em Winden Não adianta fugir Nem mentir Pra si mesmo agora
Há tanta dor lá fora Aqui dentro sempre Como uma onda no mar Como uma onda no mar
Entendo que foi uma ótima temporada, com momentos emocionalmente muito impactantes, sobretudo na parte final. Entretanto, como várias pessoas já apontaram, a questão do ritmo foi problemática. Para mim houve um grande espaço entre o início e o final que poderia ter sido encolhido.
Nesse sentido, identifiquei alguns pontos que não achei satisfatórios:
[/spoiler] A Jornada de Serena (Yvonne Strahovski) e Fred (Joseph Fiennes). A relação dos dois se mostra abalada inicialmente. Porém, eles vão para Washington, D.C. e, principalmente após a cena de dança dos dois, parece que irão se transformar, se adaptar aquele novo ambiente e se tornarem influentes no mesmo. Porém, de forma abrupta, nada disso acontece, e eles são presos na fronteira do Canadá.
Ainda sobre as cenas que se passaram na capital de Gilead, fiquei com uma forte impressão de que o comandante George Winslow (Christopher Meloni) tinha algum tipo de atração por Fred, o que pareceu transparecer principalmente na cena onde os dois jogam bilhar. Porém, isso não foi explorado posteriormente.
Acho Joseph Lawrence (Bradley Whitford) um personagem fascinante, e o figurino dado ao ator combinou muito bem com a personalidade intelectual atribuída ao comandante. Contudo, a evolução do personagem foi mal conduzida. Ele começa como alguém autoritário, que grita de maneira áspera com June quando ela se preocupa com a esposa dele. Contudo, do meio para o final da temporada, ele se transforma, e fica com um aspecto abatido e resignado, mas isso não é bem construído. Quando June leva Eleanor (Julie Dretzin) para passear e a põem em risco, por exemplo, achei que ele teria uma reação bastante explosiva, mas não foi isso que vimos em tela.
[spoiler]
Pelo menos fico feliz de que já foi anunciado que a quarta temporada terá 3 episódios a menos, num total de 10. Espero que o tempo menor ajude a tornar o enredo mais coeso e direto ao ponto.
-Temáticas atuais e que precisam ser discutidas -Personagens realistas e complexos -Trilha sonora e fotografia muito boas -Divertida, mas com uma abordagem franca de assuntos delicados.
PS: O que a trilogia "O Senhor dos Anéis" fez pelo turismo da Nova Zelândia certamente vai ser similar ao que essa série vai fazer com o País de Gales 😅
Atuações excelentes de Adam Driver e Scarlett Johansson, que conseguem se manter nos seu personagens em cenas mais longas do que o tradicional. O único ponto negativo que encontrei é que não fiquei satisfeito com a forma como o fim do matrimônio dos personagens foi retratada:
Achei problemático que a narrativa parece colocar a responsabilidade pelo fim do casamento somente na Nicole, enquanto que Charlie é retratado como uma vítima, ainda que seja mencionado que ele traiu a esposa e foi bastante egoísta ao longo do relacionamento. Teria achado mais interessante se ficasse bem claro que a relação deles acabou devido ao comportamento dos dois
Round 6 (1ª Temporada)
4.0 1,2K Assista AgoraUma ótima jornada, mas com um tropeço feio no final
É preciso antes de tudo elogiar o diretor e a equipe por trás de Round 6. De maneira primorosa eles conseguem criar uma jornada excelente, com ótimas cenas emocionantes, seja pelo drama, suspense e até mesmo humor em alguns momentos. Porém, é impossível não se decepcionar com o último episódio, já que ele quebra com aquilo construído nos outros 8.
No meu ponto de vista, a questão central da série foi o pessimismo enorme com relação ao sistema capitalista. Através da metáfora do jogo fica claro a noção de que o nosso modelo econômico leva a exploração, humilhação e morte daqueles menos favorecidos nele.
Nesse sentido, a cena onde uma pessoa acabou de morrer e o porquinho é abastecido com notas é poderosa, já que, sobretudo para algumas elites, a vida humana se resume basicamente a isso, um valor monetário. Basta lembrar que, conforme os donos de um certo plano de saúde, "óbito também é alta".
Ao encontro disso, ao longo dos 8 episódios nada conseguiu sobreviver a máquina de morte montada na misteriosa ilha. Seja a fé católica (o homem que reza desesperadamente), o casamento (o casal onde um é obrigado a matar o outro) a bondade e ingenuidade (o refugiado paquistanês), a malandragem (a mulher que gritava ser a pessoa mais esperta do lugar) ou mesmo a intimidação e força bruta (o cara com tatuagem de serpente no rosto). Tudo foi moído pelo capitalismo selvagem, onde um grupo minúsculo fica com a renda de centenas a custa da exploração desses últimos, aplicado através dos homens de vermelho.
Por conta disso, achei péssimo que, em primeiro lugar, Seong Gi-hun/número 456 se tornou o "herói". Quer dizer, ele é o único a entrar ali e não se corromper, pois no último segundo se mostra incapaz de matar Cho Sang-woo/número 218. Não que eu desejasse a morte desse último, mas acho muito utópica e irreal essa coisa de colocar ele como alguém tão "virtuoso" que permanece até o final assim, sem se dobrar a imposição assassina daquele lugar.
Somado a isso, não achei sentido na questão de ele sair com o dinheiro. Se de fato a série fosse coerente, não era para ele ter saído de lá vivo. Afinal de contas, se esse é o procedimento deles, como que nenhum dos outros ganhadores bilionários desmascarou tudo? A questão do jogo sempre foi trazer divertimento aos VIPs, logo não faz sentido eles permitirem alguém sair vivo dali, correndo o risco de perderem o seu "entretenimento".
Seria muito mais lógico eles imediatamente matarem o ganhador, ou ainda o obrigarem a ficar preso na ilha conduzindo os próximos jogos. A gente tem o exemplo disso no final do episódio "Fifteen Million Merits" de Black Mirror, onde o personagem principal luta contra o sistema, mas ao final se torna parte dele. Esse, na minha opinião, seria um final de acordo com a proposta pessimista da série.
Ainda sobre esse ponto, fiquei dividido com a revelação de que quem organizou tudo foi Oh Il-nam/número 1. Por um lado isso acaba por atenuar toda a maldade cometida naquele lugar, já que foi feita por um simpático senhor idoso. Porém, por outro, acho positivo, já que se relaciona com a ideia de banalidade do mal de Hannah Arendt, de que qualquer um é capaz de cometer atos hediondos, basta agir sem pensar nas consequências. É o caso de 01, que só queria dar um tempo em sua vida entediante ou, trazendo pra realidade, um certo ex-ministro cujo lema é "um manda e o outro obedece".
Por fim, apenas um comentário que achei curioso. Vi muita gente criticando a série por supostamente cair no "clichê" dos homens brancos ricos que são vilões. Eu sinceramente não consegui enxergar algo errado aí, afinal de contas é só a gente olhar a lista das pessoas mais ricas do mundo e vai ver que várias caem nesse perfil, homens brancos (Mark Zuckemberg, Elon Musk, Tim Cook, Jeff Bezos, Bill Gates etc).
Peçanha Contra o Animal
2.6 81Um filme quase atemporal, mas muito engraçado
É preciso reconhecer os méritos de Antonio Tabet, pois ele está muito bem nesse novo filme. Ele consegue manter essa figura do policial miliciano de maneira constante e hilária durante todo o longa.
Apenas um ponto que me chamou a atenção é isso que chamei de caráter atemporal do filme. O Porta dos Fundos para mim sempre foi marcado por uma forte relação com a sua época. Eles o tempo todo fazem piadas com situações cotidianas e críticas sociais misturadas com política. Não é o caso aqui, onde com a exceção de um único comentário, a covid-19 não existe nesse universo.
Não que eu tenha desgostado do filme por causa disso, pelo contrário, proporcionou ótimas risadas ao longo de toda a sua uma hora de duração. Apenas foi algo que me chamou a atenção, já que destoa um pouco do que o Porta costuma fazer, principalmente nas suas últimas produções. Meu palpite é que pelo fato de 2020 e 21 terem sido anos bastante pesados, eles não acharam que era hora ainda de tocar no assunto, ou simplesmente não tiveram vontade de falar do mesmo. Até porque eles próprios foram afetados, na medida que tiveram que contratar literalmente uma equipe de biossegurança para as filmagens.
Agora, a única coisa que de fato não curti foi a sequência com a personagem da Evelyn Castro bancando o cachorro farejador com a camisinha do assassino. Eu não sou contra escatologia em filmes, mas depois dos primeiros 15 segundos a piada simplesmente perdeu completamente a graça. Além de que é um tipo de humor que o Porta não costuma fazer, de maneira que ficou um trecho muito deslocado do restante da narrativa.
Por outro lado, gostei muito que eles fugiram do estereótipo de dizer que o assassino ia matar o faxineiro gay porque naquele dia saiu o número 24 no jogo do bicho (veado). Seria péssimo caso tivessem feito isso, além de uma hipocrisia, já que o Porta claramente é ligado ao campo progressista, de maneira que é contra esse tipo de piada homofóbica. Assim, foi uma grata surpresa eles romperem com essa expectativa.
Então, se você quer se divertir bastante, recomendo!
Duna: Parte 1
3.8 1,6K Assista AgoraUm filme árido, e não só no cenário
Um primeiro ponto que preciso deixar claro: nunca li os livros da série duna e não assisti a versão da década de 1980. Ou seja, esse é o meu primeiro contato com esse universo.
Dito isso, algo que me chamou muito a atenção e considero primoroso no filme é a construção de mundo.
Especialmente no planeta onde se encontra a especiaria, retratado como extremamente hostil a vida humana. Os recursos tecnológicos que ajudam na sobrevivência, como as roupas especiais, o jeito de caminhar na areia, o aparelho que atrai os vermes gigantes, tudo isso achei incrível, muito criativo e dialoga muito bem com esse cenário inóspito. O detalhe do ratinho que precisa usar o próprio suor para sobreviver foi a cereja do bolo.
O problema é que para mim o personagem principal da trama é esse, duna. Porque fui incapaz de criar qualquer conexão com os protagonistas.
Paul Atreus é a versão empoeirada do meme do Grumpy Cat, a morte do duque Leto Atreides não me impactou em nada, e sei que muita gente idolatra a Zendaya, mas essa personagem dela que lembra o estereótipo da árabe exótica foi totalmente genérico pra mim: uma mulher bela e misteriosa, cheia de segredos e ao mesmo tempo perigosa.
Eu gostaria muito de ver uma história sobre Duncan Idaho, isso sim, e não apenas porque ele é interpretado por Jason "labrador humano" Momoa. A razão é que com ele foi possível criar empatia, de maneira que seria incrível ver como ele se tornou esse grande guerreiro. Da mesma forma, o papel da doutora Kynes também me despertou muito interesse, essa botânica nativa do planeta que trabalha para o império, mas ao mesmo tempo guarda seus segredos e tem interesses próprios.
Nesse sentido, acredito que o único ponto positivo disso tudo é que me despertou bastante a curiosidade de ler os livros, já que várias coisas são simplesmente atiradas na tela.
A mãe de Paul faz parte de uma ordem secreta que aparece por cinco minutos e pronto, mais nenhuma explicação. Por que o tal do barão é deformado e se banha em uma espécie de piche negro? Qual é o real poder da casa Atreides, textualmente colocada como uma das mais poderosas daquele universo, tanto que o imperador tem medo dela, mas que é aniquilada em 10 minutos? O que faz o exército do imperador ser uma força tão poderosa, tem algo a ver com a cerimônia na chuva que vemos por alguns minutos? Aí volta a questão, se esse poderio militar do imperador é tão incrível, porque utilizar a casa do barão?
Enfim, o que me parece é que o filme, embora traga um enredo simples e compreensível, é feito para quem leu os livros, isto é, ele só será de fato uma experiência rica e envolvente para quem já tem essa bagagem cultural. Isso porque ele se preocupa tanto em apresentar esse mundo que simplesmente esquece de mostrar quem são as pessoas que habitam ele, de maneira que a aridez do cenário também se manifesta em aridez narrativa, sem elementos de roteiro que façam com que se desperte o interesse em saber para onde aqueles indivíduos irão, o que vão fazer.
Paul Atreides é o futuro imperador, o escolhido. Tá, e daí? Aqui não ocorre algo como em "matrix" ou "star wars", onde essa noção de um indivíduo especial que mudará completamente o mundo é trabalhada desde o início do filme. Não digo que seria o caso deles seguirem rigorosamente a receita da "jornada do herói", mas faltou o mínimo de elaboração do personagem que, teoricamente, é o principal. E entendo que o problema é justamente esse, o personagem principal é aquele que dá nome ao filme
Tempo
3.1 1,1K Assista AgoraMais um ótimo filme de Shyamalan, ainda que não tenha me causado um impacto emocional tão forte, como em outros dos seus trabalhos.
Curti bastante como a premissa do filme foi bem explorada ainda que tenha focado quase que somente nos aspectos biológicos e não dado tanta atenção para os culturais. Não que isso tenha feito eu não gostar do filme, apenas um pensamento de que talvez fosse algo que pudesse ter sido melhor desenvolvido. Mas claro, é bem mais fácil encenar mudanças grotescas no corpo humano, como a cena do tumor, do que alterações psicológicas.
É interessante como é possível relacionar o tema geral com a época em que vivemos. As relações sociais no longa, por causa dos efeitos colaterais da ilha, são rápidas e dinâmicas. Temos o casal Trent e Kara que se conhecem, tem um filho e depois se separam. E o casal principal, Guy e Prisca, que estão prestes a se separar, mas ao final se reconciliam. Isso lembra muito o nosso contexto já que, como defende o sociólogo Zygmunt Bauman, hoje em dias as relações são fluídas, começam e terminam muito rapidamente.
Ainda nessa questão, existe uma cena onde Trent e Kara comentam que não tiveram formatura de Ensino Médio e nem de faculdade, o que também dá para relacionar com o nosso momento histórico onde muitos adultos, especialmente os de classe média, ainda vivem com os pais e continuam estudando.
Outra coisa interessante é a ideia, presente no nosso cotidiano, de que tudo aquilo que é natural é, por consequência, bom, e que muitas empresas usam para vender produtos "100% naturais", por exemplo. Esse discurso aparece no "vilão" gerente do Resort, que tenta justificar o que faz dizendo que a natureza criou aquele lugar para que eles realizassem seus experimentos, logo não estão fazendo nada de errado.
Nesse sentido, é tentador justificar o que eles estão fazendo já que usam seus remédios para salvar vidas. Mas, analisando com mais calma, se eles de fato desejassem curar doenças então deveriam divulgar essa ilha para o mundo inteiro, para que vários laboratórios diferentes a utilizassem. Mas não, afinal de contas, se fizessem isso iriam perder o monopólio de ser a única farmacêutica que pode estudar os efeitos de um medicamento ao longo de décadas.
Enfim, uma experiência bastante satisfatória, com destaque para as atuações do elenco, a trilha sonora e os usos criativos da fotografia (como a imagem desfocada para o personagem que sofre de catarata).
Dark (3ª Temporada)
4.3 1,3KDark tinha potencial para ser uma série excelente, mas se perdeu na hora de executar suas ideias.
Como em outras temporadas, essa última mantém o mesmo nível ótimo na parte técnica. O problema é a narrativa.
Quando fui assistir os dois últimos episódios estava contente por terminar, pois não aguentava mais o mesmo discurso repetido o tempo todo: não é possível mudar seu destino.
Aí o que acontece, temos o penúltimo episódio mais uma vez reforçando isso (tentativa frustrada de suicídio do Jonas) e daí, no último episódio, abracadabra, temos a solução pra acabar com esses dois universos de sofrimento infinito chamados Winden.
Fora que também houveram 4 pontos que não foram desenvolvidos:
1) COMO o Jonas virou o Adam? Numa cena temos Jonas daí, logo mais adiante, Adam. Sem nenhuma explicação de como foi esse processo de transformação do jovem barbudo em um assassino que mata sua própria mãe de forma fria e calculada.
2) COMO Martha virou Eva? Mesma coisa, nada dessa metamorfose.
3) COMO a Cláudia descobriu a dimensão original? Em um simples diálogo ela conta tudo pro Adam. E o pior, nem por um minuto ele duvida, ao contrário, segue rigorosamente o que ela diz.
4) COMO é essa dimensão original? Simplesmente fizeram uma única cena mostrando a Hannah jantando com a Katharina (como elas viraram amigas???) e a primeira namorando/casada com o personagem azarado. Por que não fazer pelo menos UM episódio explicando essa dimensão e seus personagens?
Enfim, gostei da resolução e da forma como a série, como um todo, utilizou a ideia da viagem no tempo, mas acho que a execução dela foi péssima.
Dark (2ª Temporada)
4.5 897Tecnicamente achei essa temporada tão excelente quanto a anterior.
Mas o fato de que aparentemente é impossível mudar alguma coisa e o destino de todos já está traçado foi frustrante. O auge disso foi o Jonas voltar no tempo pra impedir o pai dele de se matar, e no final é ele que estimula o Michael ao suicídio. Da mesma forma, quando a Cláudia vai ver seu pai eu sabia que aquilo era inútil, e dito e feito, como estava "destinado", ele morreu.
Pelo menos aparentemente haverá dimensões paralelas na próxima temporada. Curioso para ver como irão explorar isso.
A música que resume essa temporada é essa paródia aqui:
Tudo que foi será
De novo do jeito que já foi um dia
Nada passa, nada sempre passará
A morte vem em ondas
Como um mar
Num indo e vindo infinito
Tudo que se vê é
Igual ao que a gente viu há um segundo
Nada muda o tempo todo em Winden
Não adianta fugir
Nem mentir
Pra si mesmo agora
Há tanta dor lá fora
Aqui dentro sempre
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar
O Conto da Aia (3ª Temporada)
4.3 596 Assista AgoraEntendo que foi uma ótima temporada, com momentos emocionalmente muito impactantes, sobretudo na parte final. Entretanto, como várias pessoas já apontaram, a questão do ritmo foi problemática. Para mim houve um grande espaço entre o início e o final que poderia ter sido encolhido.
Nesse sentido, identifiquei alguns pontos que não achei satisfatórios:
[/spoiler]
A Jornada de Serena (Yvonne Strahovski) e Fred (Joseph Fiennes). A relação dos dois se mostra abalada inicialmente. Porém, eles vão para Washington, D.C. e, principalmente após a cena de dança dos dois, parece que irão se transformar, se adaptar aquele novo ambiente e se tornarem influentes no mesmo. Porém, de forma abrupta, nada disso acontece, e eles são presos na fronteira do Canadá.
Ainda sobre as cenas que se passaram na capital de Gilead, fiquei com uma forte impressão de que o comandante George Winslow (Christopher Meloni) tinha algum tipo de atração por Fred, o que pareceu transparecer principalmente na cena onde os dois jogam bilhar. Porém, isso não foi explorado posteriormente.
Acho Joseph Lawrence (Bradley Whitford) um personagem fascinante, e o figurino dado ao ator combinou muito bem com a personalidade intelectual atribuída ao comandante. Contudo, a evolução do personagem foi mal conduzida. Ele começa como alguém autoritário, que grita de maneira áspera com June quando ela se preocupa com a esposa dele. Contudo, do meio para o final da temporada, ele se transforma, e fica com um aspecto abatido e resignado, mas isso não é bem construído. Quando June leva Eleanor (Julie Dretzin) para passear e a põem em risco, por exemplo, achei que ele teria uma reação bastante explosiva, mas não foi isso que vimos em tela.
[spoiler]
Pelo menos fico feliz de que já foi anunciado que a quarta temporada terá 3 episódios a menos, num total de 10. Espero que o tempo menor ajude a tornar o enredo mais coeso e direto ao ponto.
Sex Education (2ª Temporada)
4.3 592 Assista AgoraQue série ótima!
-Temáticas atuais e que precisam ser discutidas
-Personagens realistas e complexos
-Trilha sonora e fotografia muito boas
-Divertida, mas com uma abordagem franca de assuntos delicados.
PS: O que a trilogia "O Senhor dos Anéis" fez pelo turismo da Nova Zelândia certamente vai ser similar ao que essa série vai fazer com o País de Gales 😅
História de um Casamento
4.0 1,9K Assista AgoraAtuações excelentes de Adam Driver e Scarlett Johansson, que conseguem se manter nos seu personagens em cenas mais longas do que o tradicional. O único ponto negativo que encontrei é que não fiquei satisfeito com a forma como o fim do matrimônio dos personagens foi retratada:
Achei problemático que a narrativa parece colocar a responsabilidade pelo fim do casamento somente na Nicole, enquanto que Charlie é retratado como uma vítima, ainda que seja mencionado que ele traiu a esposa e foi bastante egoísta ao longo do relacionamento. Teria achado mais interessante se ficasse bem claro que a relação deles acabou devido ao comportamento dos dois
Chernobyl
4.7 1,4K Assista AgoraSaiu hoje o primeiro trailer dela:
https://www.youtube.com/watch?v=s9APLXM9Ei8