O filme do espanhol Pedro Almodóvar (Espanha, 2006) fala das voltas que damos pela vida, do caminhar em reverso, como verso que volta (para nós se volta) e nos faz de novo SENTIR.
“Volver a amar”... como Raimunda (Penélope Cruz) que, filha, reencontra o amor da mãe que um dia abandonou. E mãe, a mesma, em sua filha Paula (Yohana Cobo) se encontra.
“Volver a vivir”... Irene (Carmen Maura), o fantasma que revive o passado longe dos Ventos Enlouquecidos do Leste.
“Volver a sentir”... Sole (Lola Dueñas) e Irene_ no abraço tímido _ e sincero_ no retorno do funeral de tia Paula (Chus Lampreave). Ou Raimunda um tanto surpresa ao ver a mãe (debaixo da cama de Sole encolhida feito um animalzinho indefeso) depois de quatro anos.
O roteiro é simples e falho em certos momentos. Só para citar alguns exemplos, não fica muito claro se Raimunda deixa ou não o emprego no aeroporto e estranha-se o fato do desaparecimento de Paco (Antonio de La Torre) permanecer em total desconhecimento por parte de amigos, conhecidos e autoridades; mas erros, possíveis falhas, são compensados pelo envolvimento de elenco e personagens, cena a cena, dando tom à história.
Suspense, drama e comédia pintam ao mesmo tempo a tela almodovariana. E, fantasmas ou não, de nossas poltronas (repletos de cores), somos parte desse quadro. Ou melhor, dessa trama.
Bertolucci nos fez pensar_ pensamento-desejo a confundir-se e se confundir_ em nós. DVD na tela, mãos dadas, o olhar na imagem que se movimenta. (Os olhos quase não se movimentam.) O verde e o vermelho impregnando as retinas. (É Isabelle a colori-las de nova cor.) Olhos trocados: o castanho-escuro no lugar do verde, verde tomando o espaço marrom entre a íris e a córnea, escuro sobre escuro, em sobretons. Olhares alterados: marrom-escuro por laranja, vermelho, limão; verde por maçã, abacate; no preto, tangerina. (Lá vem Isabelle com o pincel.) A escuridão de nossos olhos pelo vermelho intenso, amarelo, fogo, chama. Somos quatro sonhadores _dedosentrelaçadosabraçobocasquesetocamdançaocontatodaslínguascorpo. (Bertolucci nos faz sentir.) A menina francesa sai dos parênteses e, de óculos escuros, fica a nos provocar. Alguém mais vem fazer parte de nossa quadrinha, um quinto elemento sonhador. Beijos, um grande beijo_ fora da tela outra Isabelle ("meus óculos não são escuros nem é turva minha vista") observa a cadência das respirações que se encontram, do roçar de línguas (palavras mudas e várias, ao mesmo tempo) em uma só. Somos Theo, Matthew. E Isabelle. (Eu sou Isabelle.) E desejo profano que se torna Sagrado no toque das peles, no torpor da horas, (silêncio) no calor de cada instante que se renova. A porta é trancada (as fechaduras foram trocadas), é terminada a sessão. Mas_ nós_ ainda temos o sonho. E as chaves.
Em "Os Sonhadores", Bertolucci brinca com os sentidos, compondo uma trama perfeita de opostos que se entrelaçam: sensualidade-inocência-juventude-maturidade. Um filme forte, sensual, impactante!
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O filme do espanhol Pedro Almodóvar (Espanha, 2006) fala das voltas que damos pela vida, do caminhar em reverso, como verso que volta (para nós se volta) e nos faz de novo SENTIR.
“Volver a amar”... como Raimunda (Penélope Cruz) que, filha, reencontra o amor da mãe que um dia abandonou. E mãe, a mesma, em sua filha Paula (Yohana Cobo) se encontra.
“Volver a vivir”... Irene (Carmen Maura), o fantasma que revive o passado longe dos Ventos Enlouquecidos do Leste.
“Volver a sentir”... Sole (Lola Dueñas) e Irene_ no abraço tímido _ e sincero_ no retorno do funeral de tia Paula (Chus Lampreave). Ou Raimunda um tanto surpresa ao ver a mãe (debaixo da cama de Sole encolhida feito um animalzinho indefeso) depois de quatro anos.
O roteiro é simples e falho em certos momentos. Só para citar alguns exemplos, não fica muito claro se Raimunda deixa ou não o emprego no aeroporto e estranha-se o fato do desaparecimento de Paco (Antonio de La Torre) permanecer em total desconhecimento por parte de amigos, conhecidos e autoridades; mas erros, possíveis falhas, são compensados pelo envolvimento de elenco e personagens, cena a cena, dando tom à história.
Suspense, drama e comédia pintam ao mesmo tempo a tela almodovariana. E, fantasmas ou não, de nossas poltronas (repletos de cores), somos parte desse quadro. Ou melhor, dessa trama.
Roberta Nogueira
Publicado em:
Os Sonhadores
4.1 2,0K Assista AgoraThe Dreamers
Bertolucci nos fez pensar_ pensamento-desejo a confundir-se e se confundir_ em nós.
DVD na tela, mãos dadas, o olhar na imagem que se movimenta. (Os olhos quase não se movimentam.) O verde e o vermelho impregnando as retinas. (É Isabelle a colori-las de nova cor.)
Olhos trocados: o castanho-escuro no lugar do verde, verde tomando o espaço marrom entre a íris e a córnea, escuro sobre escuro, em sobretons. Olhares alterados: marrom-escuro por laranja, vermelho, limão; verde por maçã, abacate; no preto, tangerina. (Lá vem Isabelle com o pincel.) A escuridão de nossos olhos pelo vermelho intenso, amarelo, fogo, chama.
Somos quatro sonhadores
_dedosentrelaçadosabraçobocasquesetocamdançaocontatodaslínguascorpo.
(Bertolucci nos faz sentir.) A menina francesa sai dos parênteses e, de óculos escuros, fica a nos provocar.
Alguém mais vem fazer parte de nossa quadrinha, um quinto elemento sonhador. Beijos, um grande beijo_ fora da tela outra Isabelle ("meus óculos não são escuros nem é turva minha vista") observa a cadência das respirações que se encontram, do roçar de línguas (palavras mudas e várias, ao mesmo tempo) em uma só. Somos Theo, Matthew. E Isabelle. (Eu sou Isabelle.) E desejo profano que se torna Sagrado no toque das peles, no torpor da horas,
(silêncio)
no calor de cada instante que se renova.
A porta é trancada (as fechaduras foram trocadas), é terminada a sessão. Mas_ nós_ ainda temos o sonho. E as chaves.
Roberta Nogueira
Publicado em:
Os Sonhadores
4.1 2,0K Assista AgoraEm "Os Sonhadores", Bertolucci brinca com os sentidos, compondo uma trama perfeita de opostos que se entrelaçam: sensualidade-inocência-juventude-maturidade. Um filme forte, sensual, impactante!