Últimas opiniões enviadas
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Considerado um dos principais filmes da nouvelle vague é dirigido por uma das mais importantes representantes femininas do cinema. Em um meio em que a mulheres, principalmente na época em que foi feito o filme, eram tratadas de maneira superficial e exagerada, “Clèo de 5 à 7” carrega a síntese: de como uma narrativa que traz uma protagonista feminina pode ser densa e profunda, quando realizada por uma mulher.
Ele retrata a visão de uma artista, uma cantora jovem e bela, considerada por todos como frágil e aparentemente indigna de profundidade. O filme começa com um jogo de cartas de uma senhora que irá brincar com a curiosidade da personagem e da nossa. O tom enigmático que trata o arquétipo da morte, como uma passagem/transformação, nos traz uma ansiedade. A carta provoca medo e curiosidade para Cléo, mas para a cartomante já é uma confirmação do fim. O jogo dura 3 minutos e o filme se passa em 2 horas na vida da personagem, 2 horas de um cotidiano alterado, transformador, místico e singular.
O filme conta com planos fechados nos rostos de vários personagens que julgam Clèo, na insegurança da personagem e nos planos abertos do cotidiano de país que passa por uma guerra. A fotografia do filme joga com a câmara que acompanha a Cléo, em quase todas as cenas. Os ângulos escolhidos e os movimentos da câmara, muitas vezes estáveis, transparecem o olhar da diretora, sua particularidade em ver a vida e o cinema, a visão de uma artista que retrata outra.
Vemos a referência do vidro em todo filme, como um elemento que simboliza o olhar da câmara e a fragilidade do que pode ser quebrado, destruído e transformado. Vemos o reflexo do vidro no espelho do restaurante, nas vitrines das lojas, na janela do carro, até que o vidro começa a romper-se, caindo no chão e quebrado na vitrine da loja. A beleza é modificada no reflexo, como se fosse necessário quebrar a fragilidade do belo e da vida para a aceitação do câncer e de nosso inconsciente.
As superstições também são rompidas, quando Clèo utiliza o chapéu no dia errado. A guerra é vista na personagem em seu desejo de encontrar-se e nas ruas, quando vemos soldados. Para a mulher a guerra é outra, é a própria existência, confrontando os homens em seus ofícios. Temos uma taxista destemida, uma modelo que expões seu corpo e alma e Clèo( uma artista que como todas as outras personagens estão rodeadas por homens) que vão além da dominação masculina.
Em uma cena, uns dos músicos canta “As notas pretas e brancas cantam assim que você toca nas teclas”, uma afirmação de com o Agnès Varda compõe em suas cenas. No preto e branco, a câmara sente com dever mover-se e olhar. A trilha sonora composta principalmente pela música da própria personagem é profunda e poderosa, sua voz e sua interpretação são como uma rasteira, que nos faz encontrar a angústia e lamentos.
O roteiro linear, nos faz caminhar na narrativa junto com Cléo, quase de mãos dadas. O roteiro nos leva a querer abraça-la, por exemplo, quando ela veste preto e percebemos que ela é uma viúva de si, na eminência de uma mutação.
A arte está presente na metalinguagem do cinema, nas esculturas e na música, ela se manifesta em várias áreas, podendo ser considerada um personagem. Na última parte da história, ela é simbolizada pela arte do encontro.
Antoine parece ser o único personagem que desperta a curiosidade de Cléo além de si. Eles divagam sobre a nudez, com olhares distintos que se completam quando ela vê na nudez a doença e ele o nascimento. Um filme único, que reflete o olhar feminino e necessário, ele sempre será atual na valorização da mulher e no entendimento das potencialidades poética do cinema.
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Gostei muito e como cinema faz bem o seu trabalho. Imagens impactantes e lindas. O clima é esquisito mas faz a gente querer correr naquela natureza da Suécia. A transformação e o encontro da personagem, com ela mesma, é muito bem executado pela Fuderosa atriz. Não é para todos, mas acredito que muitas outras pessoas tenham pirado como eu.
Últimos recados
- Nenhum recado para ROSA LEITE MELO.
Um filme para quem tem paciência, interesse e sensibilidade em fundir-se com uma obra que expressa umas das potências máximas de criatividade e beleza, que uma produção cinematográfica logrou produzir.
Uma fotográfica que carrega a assinatura de seu diretor, realizada por Georgy Rerberg, ela apunha-la o coração com uma qualidade que até hoje é considerada quase mística. Não tem como não se perguntar: como ele fez isso? Principalmente considerando a época.
O filme caminha com vários cenários e momentos que expressam tonalidades diferentes (do colorido ao preto e branco). A escolha das cores define a temporalidade, o consciente e o inconsciente do autor, sendo todos estes aspectos apresentados de maneira descontínua.
Vemos um Tarkovski ainda mais maduro e auto biográfico, um filme em que a alma e a vida de seu diretor podem ser vivenciadas em uma profundidade que quase nos afoga em sua sensibilidade.