Quase quinze anos depois do cinema francês dar suas caras em Hollywood a pergunta que fica é: afinal, qual foi o destino de Amelie?
Para o leitor que não conhece, vou situa-lo. “O Fabuloso Destino de Amelie Poulain” é um filme francês de 2001 indicado a cinco estatuetas do Oscar. O filme conta a vida da francesinha Amelie e sua perturbada mente introspectiva. Depois de se cansar de buscar a própria felicidade, a menina resolve trazer alegria para pessoas desconhecidas. Mas quando seu coração bate mais forte por um fracassado atendente de sexy shop, ela resolve dar um jeito na sua própria vida em prol de um novo amor.
Pois é, aparentemente um filme como qualquer drama americano. Mas Amelie traz reviravoltas e descontinuidades em seu texto que com certeza deixou Syd Field – o mestre do roteiro – de cabelo em pé. Jean-Pierre Jeunet trouxe para as telas uma estrutura descompensada e as vezes um pouco manca, que parece criar um lapso no meio do filme, mas, não vou negar, funciona de um modo surpreendente e tão mágico quanto seu enredo.
Aliás, que tamanha flexibilidade desse francês metido a impressionista. Quatro anos antes de pintar essa linda obra de arte para história do cinema, Jeunet estava dirigindo o fracassado blockbuster “Alien, a ressurreição”. Alguns podem dizer que isso é caso de dupla personalidade, mas são apenas exigências do mundo da sétima arte.
Artista também é o quase esquecido Bruno Delbonnel, o fotógrafo do filme. Indicado três vezes ao prémio máximo do cinema, Delbonnel, que também fotografou “Harry Potter e o enigma do príncipe”, compôs cenas tão perfeitas que deixariam Van Gogh de queixo caído. É quase inegável também não reconhecer os quadros do gênio impressionista no filme. Amelie tem fotografia de sonho infantil, imaginação de criança, uma criança inocente em uma França atemporal.
Audrey Tautou é um espetáculo à parte. A francesinha até então desconhecida dos holofotes de Los Angeles criou o etos perfeito para encenar a belíssima Amelie. Ficou quase irreconhecível, seis anos mais tarde, interpretando a fatídica parente renegada de Jesus Cristo em “O Código da Vinci”.
A música do filme em parceria com o desenvolvimento rápido da história dá uma velocidade incomum para o vagaroso e paciente cinema francês. Verdade seja dita, existe uma semelhança cabível entre o início de Amelie e “Ilha das flores” (1989) de Jorge Furtado. Para quem já assistiu ambos, observar o narrador descrevendo gostos e destinos é quase como escutar Paulo José tecer sua continuidade crítica no curta-metragem brasileiro mais famoso da história.
O fabuloso destino de Amelie Poulain parece ser filmado de um mundo que não existe. As imagens luminosas confundidas pelas sobreposições de vermelho e verde quase lembram as belíssimas telas de Juarez Machado – o gênio brasileiro tão esquecido. Aliás, Jeunet admitiu tal inspiração posteriormente.
Amelie Poulant trouxe um novo olhar para se enxergar o cinema. O filme abriu novamente os olhos da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood para a delicadeza e suavidade da imagem. Amelie traz para as telas do cinema um quadro pintado à luz.
Quinze anos depois de seu lançamento, Amelie Poulant ainda é sombra para muitos fotógrafos e diretores que tentam inovar saindo dos padrões clássicos da técnica e do roteiro. A França criada por Jeunet, cheia de dúvidas e pedras no Canal St. Martin, foi eternizada pelas cores do filme. Hoje Amelie é mais do que uma tendência velha, é também uma filosofia de como encarar e levar a monotonia desta vida.
Uma protagonista que sabe viver: essa é a síntese de Amelie. Uma menina que vive na eminência de um sonho que não existe, na espera de alguém que nunca vem, e faz deste tempo um mundo de pura angústia e euforia que só existe para aqueles que são como ela. O destino de Amelie foi mostrar para mundo, mais do que o jeitinho francês, o modo de criar um filme que honre e desperte o cinema novamente enquanto arte.
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O Fabuloso Destino de Amélie Poulain
4.3 5,0K Assista AgoraQuase quinze anos depois do cinema francês dar suas caras em Hollywood a pergunta que fica é: afinal, qual foi o destino de Amelie?
Para o leitor que não conhece, vou situa-lo. “O Fabuloso Destino de Amelie Poulain” é um filme francês de 2001 indicado a cinco estatuetas do Oscar. O filme conta a vida da francesinha Amelie e sua perturbada mente introspectiva. Depois de se cansar de buscar a própria felicidade, a menina resolve trazer alegria para pessoas desconhecidas. Mas quando seu coração bate mais forte por um fracassado atendente de sexy shop, ela resolve dar um jeito na sua própria vida em prol de um novo amor.
Pois é, aparentemente um filme como qualquer drama americano. Mas Amelie traz reviravoltas e descontinuidades em seu texto que com certeza deixou Syd Field – o mestre do roteiro – de cabelo em pé. Jean-Pierre Jeunet trouxe para as telas uma estrutura descompensada e as vezes um pouco manca, que parece criar um lapso no meio do filme, mas, não vou negar, funciona de um modo surpreendente e tão mágico quanto seu enredo.
Aliás, que tamanha flexibilidade desse francês metido a impressionista. Quatro anos antes de pintar essa linda obra de arte para história do cinema, Jeunet estava dirigindo o fracassado blockbuster “Alien, a ressurreição”. Alguns podem dizer que isso é caso de dupla personalidade, mas são apenas exigências do mundo da sétima arte.
Artista também é o quase esquecido Bruno Delbonnel, o fotógrafo do filme. Indicado três vezes ao prémio máximo do cinema, Delbonnel, que também fotografou “Harry Potter e o enigma do príncipe”, compôs cenas tão perfeitas que deixariam Van Gogh de queixo caído. É quase inegável também não reconhecer os quadros do gênio impressionista no filme. Amelie tem fotografia de sonho infantil, imaginação de criança, uma criança inocente em uma França atemporal.
Audrey Tautou é um espetáculo à parte. A francesinha até então desconhecida dos holofotes de Los Angeles criou o etos perfeito para encenar a belíssima Amelie. Ficou quase irreconhecível, seis anos mais tarde, interpretando a fatídica parente renegada de Jesus Cristo em “O Código da Vinci”.
A música do filme em parceria com o desenvolvimento rápido da história dá uma velocidade incomum para o vagaroso e paciente cinema francês. Verdade seja dita, existe uma semelhança cabível entre o início de Amelie e “Ilha das flores” (1989) de Jorge Furtado. Para quem já assistiu ambos, observar o narrador descrevendo gostos e destinos é quase como escutar Paulo José tecer sua continuidade crítica no curta-metragem brasileiro mais famoso da história.
O fabuloso destino de Amelie Poulain parece ser filmado de um mundo que não existe. As imagens luminosas confundidas pelas sobreposições de vermelho e verde quase lembram as belíssimas telas de Juarez Machado – o gênio brasileiro tão esquecido. Aliás, Jeunet admitiu tal inspiração posteriormente.
Amelie Poulant trouxe um novo olhar para se enxergar o cinema. O filme abriu novamente os olhos da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood para a delicadeza e suavidade da imagem. Amelie traz para as telas do cinema um quadro pintado à luz.
Quinze anos depois de seu lançamento, Amelie Poulant ainda é sombra para muitos fotógrafos e diretores que tentam inovar saindo dos padrões clássicos da técnica e do roteiro. A França criada por Jeunet, cheia de dúvidas e pedras no Canal St. Martin, foi eternizada pelas cores do filme. Hoje Amelie é mais do que uma tendência velha, é também uma filosofia de como encarar e levar a monotonia desta vida.
Uma protagonista que sabe viver: essa é a síntese de Amelie. Uma menina que vive na eminência de um sonho que não existe, na espera de alguém que nunca vem, e faz deste tempo um mundo de pura angústia e euforia que só existe para aqueles que são como ela. O destino de Amelie foi mostrar para mundo, mais do que o jeitinho francês, o modo de criar um filme que honre e desperte o cinema novamente enquanto arte.