Vitor de Oliveira

Acho que a parte mais polêmica, definitivamente, foi o fim.
Acredito que vou discordar da maioria aqui e dizer que, na minha visão, o final foi perfeito, abraçando totalmente a ideia de Fausto: Iris vendeu sua alma para ganhar uma recompensa amaldiçoada, e acho que é uma reflexão até certo ponto ética.
Ela teve a chance de permitir que o cara que poupou ela em vários momentos sair vivo ou matá-lo e receber o prêmio, e ela escolheu isso, "vendendo sua alma".
E, mesmo que o irmão não tenha tido muito tempo, o pouco que vimos mostra como ele se sente e porque se matou: ele sabia que era um fardo.
Discussões ética de lado, ele via a si mesmo como algo que impedia ela de viver a própria vida, como vimos na cena da cozinha e é uma interpretação possível do sonho dele, enquanto que também vemos que ele desejava ficar sozinho para fazer isso, algo que evidentemente a irmã dele não fazia de forma alguma, como vemos pela insegurança dela de abandoná-lo.
Uma crítica válida é que os convidados não são desenvolvidos e seus motivos são todos baseados.
Linda era velha e doente, então podemos SUPOR que ela queria dinheiro para pagar contas; temos a menção de que Travis contou algum segredo militar e podemos SUPOR que isso poderia ser o motivo de estar lá; Conway tinha problemas com bebida, então podemos SUPOR que ele também precisava de dinheiro para dívidas; Sloton jogava em Las Vegas, então podemos SUPOR que ele tinha dívidas.
Não me entenda errado, esse tipo de técnica que poupa tempo de filme com explicações longas e mostra até certo nível de respeito do roteirista para com seus espectadores, fazendo com que eles tenham que pensar.
Todavia, isso podia ser executado um pouquinho melhor; não temos a menor ideia do que Cal precisava, nem porque a Amy estava lá.
Agora, o fato de não sabermos porque Lucas estava lá acredito que tenha sido uma das melhores ideias do filme, só sabemos que ele tinha três irmãs, mas não saber porque ele está lá e ele ainda morrer sem dizer, acredito que torna mais impactante a morte dele.
Quanto a nossa personagem principal; achei ela meio superficial, a "mocinha vegetariana boazinha".
Admito que ela me entendiou um pouco, sendo a única coisa que realmente me surpreendeu foi quando ela o matou daquela forma, mas ela serviu seu papel bem: mostrou como os valores são colocados de lado.
Agora, o que mais me incomodou foi o Sheppard Lambrick.
Primeiro, o Sheppard, mesmo que tenha dado um "diabo" decente, ficou muito unidimensional, o cara sádico que só liga pro jogo, sem se importar com nada além de seu trabalho diabólico.
É um cliché muito repetido e com essa premissa, acho que poderiam, de alguma forma, fazer ele melhor, mais humano, mostrando um mínimo de conflito ao fazer as coisas; acredito que a performance dele teria sido muito melhor se ele tivesse tido um mínimo de conflito quando soube do filho ser apunhalado, a parte humana dele entre ter que escolher o próprio filho, único membro vivo de sua família, e a parte Lambrick, como guardião do temível jogo.
Agora, quanto aos plotholes mencionados acima.
O pior deles, na minha opinião, foi não ter tido algum tipo de explicação do porquê do jogo: como começou, quando começou, esse tipo de coisa; o Sheppard fala um pouco a respeito disso, mesmo assim achei muito pouco.
E se isso acontece todo ano, como é dado a entender por uma das conversas com o mordomo (que, aliás, eu esperava a qualquer momento que ele dissesse "mestre manda, Igor obedece", de tão cliché que ele é), como eles cometem erros AMADORES como deixa a porta de jogos aberta, não terem câmeras de segurança pra o caso de alguém invadir tão facilmente, e coisas do tipo; e simplesmente não ficarmos sabendo se o Julian morre ou se foi punido de alguma forma.
Falando nele, no começo, o Sheppard fala que existem "regras" para quem organiza os jogos, falando que eles não podem matar os convidados; não só não temos a menor ideia de quais são essas regras e o que acarretam elas serem quebradas, mas o próprio Sheppard mata o Cal sem hesitar quando seus guardas poderiam fazê-lo.
Agora, a parte mais importante: a premissa.
Acredito que o conceito de fazer as pessoas abandonarem seus valores pessoais é uma das melhores tramas que existem; entretanto, são sempre representadas da mesma forma: machucando os outros.
Seja em Jogos Mortais, 13 Pecados e outros, sempre é infligindo dor aos outros, e sempre por dinheiros e necessidades pessoais.
Quando vi o Sheppard obrigando a Iris comer carne e o Cornwall beber, achei que o filme seria bem interessante e inteligente, mas depois foi pro lugar-comum.
Não que tenha algum problema, mas quando vi diálogos tão inteligentes e alguns pontos bem surpreendentes, criei essa expectativa.
Quanto às cenas de sadismos, elas são o que são: sádicas.
Nada de mais, nada de menos, só a boa e velha tortura, com nada demais, mas acredito que eles ficaram meio hesitantes, além de que, eu já vi algumas dessas torturas em outros filmes.
Na minha opinião, o cartaz é mais agonizante que tudo que vemos no filme, com eles afastando a câmera nos momentos mais tensos.
Pontos forte: diálogo que respeita o espectador como um ser inteligente, uma trama interessante, um ótimo final.
Pontos fracos: edição medonha, plotholes muito grandes, vilão totalmente impossível de criar alguma conexão, falta de desenvolvimento de alguns personagens e uso de muitos clichês de filmes de assassinos anteriores.