Muito se fala sobre Black Mirror: sobre como é uma crítica aos males da tecnologia, sobre como é assustadoramente relatável, sobre como é humana. Pretensamente têm se visto circular pela internet a expressão "isso é tão Black Mirror"; julgo forçado e pretensioso, principalmente se analisarmos que é o extremo contrário. Verdade seja dita: não é sobre como somos escravos das nossas tecnologias, acho que o encanto está justamente em não trabalhar questões que já eram exploradas décadas atrás (até Carl Sagan já refletiu a respeito); o grande poder de Black Mirror está em como desenvolve questões de ética/moral vigentes em nossa sociedade a partir das mais diversas ambientações, desde as contemporâneas até as mais distópicas imagináveis. A tecnologia é na maior parte das vezes uma espécie de artifício para estas reflexões, e elas muito têm de contemplativas. Em um espetáculo de concisão e argumento, Charlie Brooker narra histórias de terrorismo moral, anomia, apatia, o ciúme, a solidão, o sentimento de culpa, tudo que há de mais real; real, porque nada há de pessimista nesta retratações, não são o "Nosso futuro": as pessoas rindo do primeiro-ministro transando com um porco somos eu e você, as pessoas animadíssimas com as ideias de revolta contra a indústria e logo após sendo engolidas por ela, somos nós dois, eu que escrevo e você quem lê. Somos nós no aqui e agora, apenas elevadas a situações absurdas que nos expõem isso. Apesar de todas as maravilhas, desde roteiro a atuações que impressionam, devo ressaltar que alguns episódios foram bem mal desenvolvidos, cito como exemplo o terceiro episódio desta primeira temporada, onde a ideia é excelente mas o que vemos é uma premissa clichê e um desenrolar previsível. Sem dúvidas, uma das maiores surpresas que já tive com ficção, altamente recomendável. Para os que procuram coisas semelhantes, recomendaria igualmente o escritor Tcheco Franz Kafka, quem leu há de entender onde estão as semelhanças: as vezes precisamos tragar um pouco de nossa realidade pelas fontes do absurdo.
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Black Mirror (1ª Temporada)
4.4 1,3K Assista AgoraMuito se fala sobre Black Mirror: sobre como é uma crítica aos males da tecnologia, sobre como é assustadoramente relatável, sobre como é humana.
Pretensamente têm se visto circular pela internet a expressão "isso é tão Black Mirror"; julgo forçado e pretensioso, principalmente se analisarmos que é o extremo contrário.
Verdade seja dita: não é sobre como somos escravos das nossas tecnologias, acho que o encanto está justamente em não trabalhar questões que já eram exploradas décadas atrás (até Carl Sagan já refletiu a respeito); o grande poder de Black Mirror está em como desenvolve questões de ética/moral vigentes em nossa sociedade a partir das mais diversas ambientações, desde as contemporâneas até as mais distópicas imagináveis. A tecnologia é na maior parte das vezes uma espécie de artifício para estas reflexões, e elas muito têm de contemplativas.
Em um espetáculo de concisão e argumento, Charlie Brooker narra histórias de terrorismo moral, anomia, apatia, o ciúme, a solidão, o sentimento de culpa, tudo que há de mais real; real, porque nada há de pessimista nesta retratações, não são o "Nosso futuro": as pessoas rindo do primeiro-ministro transando com um porco somos eu e você, as pessoas animadíssimas com as ideias de revolta contra a indústria e logo após sendo engolidas por ela, somos nós dois, eu que escrevo e você quem lê. Somos nós no aqui e agora, apenas elevadas a situações absurdas que nos expõem isso.
Apesar de todas as maravilhas, desde roteiro a atuações que impressionam, devo ressaltar que alguns episódios foram bem mal desenvolvidos, cito como exemplo o terceiro episódio desta primeira temporada, onde a ideia é excelente mas o que vemos é uma premissa clichê e um desenrolar previsível.
Sem dúvidas, uma das maiores surpresas que já tive com ficção, altamente recomendável. Para os que procuram coisas semelhantes, recomendaria igualmente o escritor Tcheco Franz Kafka, quem leu há de entender onde estão as semelhanças: as vezes precisamos tragar um pouco de nossa realidade pelas fontes do absurdo.