Não Pare na Pista – A Melhor História de Paulo Coelho é o primeiro longa metragem do diretor Daniel Augusto, que surpreende com sua estética moderna e aprimorada, quando comparada às outras cinebiografias brasileiras, porém, decepciona com um roteiro cansativo por dar muitas voltas tentando contar várias facetas do artista, mas sem conseguir finaliza-las.
A história é contada de uma forma não linear, na qual são exibidas quatro fases da vida de Paulo Coelho. Na primeira, conhecemos o jovem deprimido dos anos 60, em plena Ditadura Militar e que passa por experiências psiquiátricas, como tratamento de choque. Filho de pai extremista e severo e de uma mãe totalmente tolerante aos seus atos, o escritor passa boa parte de sua juventude em um bairro da classe média carioca. A partir daí, o longa segue para os anos 70 e 80, quando Paulo conhece Raul Seixas, que se tornaria seu grande amigo e parceiro, e juntos passam por uma fase de sexo drogas e rock ‘n’ roll. A terceira fase é sobre o cara de 40 anos que leva sua vida de acordo com o universo, tentando mostrar as suas histórias ao mundo. Já na quarta fase, o período atual, é retratado o Paulo Coelho que todos conhecem, famoso e bem sucedido com suas obras, porém, ainda muito confuso e misterioso.
A opção escolhida pela roteirista Carolina Kotscho (2 Filhos de Francisco) de não fazer uma narrativa linear, deu muito mais agilidade à trama, deixando-a menos monótona. Devido a isso, são construídas várias transições de passagens de tempo, em um momento Paulo está no auge de sua juventude, e logo em seguida ele aparece de cabelos brancos. O grande problema desse "vai e vem" de fases são as legendas na tela que instruem o espectador para que se situe sobre qual o período em questão, o que, além de subestimar a inteligência de quem está assistindo, se torna algo chato e repetitivo. Sem contar que várias partes da vida do escritor parecem não ser finalizadas quando as cenas saem do presente e voltam ao passado, por diversas vezes o assunto não é concluído.
Os irmãos Ravel e Júlio Andrade interpretam Paulo Coelho na versão jovem e adulta, respectivamente, e desempenham os papéis de uma forma muito madura e convincente, que conseguem transmitir ao espectador os momentos de angustia e os sentimentos confusos do protagonista. Atuando como o pai de Paulo, temos Enrique Diaz, interpretando um homem que ao mesmo tempo em que trata o filho com a maior rigidez, sofre por dentro por ser tão severo. Diaz protagoniza uma das mais belas cenas dramáticas do filme, sem diálogos e ao som de Raul Seixas, com letra escrita por seu filho, consegue transparecer tudo aquilo que está acomodado em seu peito mostrando a verdadeira magia do cinema e emocionando o público.
Quando Raul Seixas entra em cena, o filme passa a ganhar outra vida, Lucci Ferreira consegue interpretar o baiano demonstrando as principais características do maluco beleza. Graças a ele, os fãs e amantes do cantor viajam no tempo relembrando suas melhores canções e o seu jeito descontraído de ser. Contudo, infelizmente o cantor não tem sua imagem abordada tanto quanto merecia, Raul entra e sai da história sem um desfecho adequado, parecendo ser apenas uma dentre as tantas pessoas na vida de Paulo.
Não Pare na Pista – A Melhor História de Paulo Coelho é uma obra que agrada por sua estética, e se diferencia de outros nacionais por ter Raul Seixas, um dos maiores ícones da música brasileira, presente na trama. Em contrapartida, comete um grande erro ao alongar demais as histórias desnecessárias e encurtando cenas de maior importância sobre a vida do escritor, desta forma muitas vezes o filme se torna um pouco cansativo e repetitivo.
Por : Caroline Venco