O mal tira férias, passeia de caiaque, tem animais de estimação, ama a natureza, tem sonhos, sonambulismo, come, passa por problemas familiares e apaga as luzes da casa ao anoitecer para dormir. Somos habituados a ver retratos da 2ª Guerra sempre no tom dramático: um grande personagem, uma grande história. Zona de Interesse não entrega isso; o filme entrega rotina. O dia a dia de uma família nazista. É impossível sentir qualquer tipo de empatia por qualquer personagem, até mesmo as crianças, que nada mais são do que produtos daquele ambiente.
Uma mãe que se recusa a deixar seu lar construído com um grande jardim separado apenas por um muro dos gritos dos judeus de Auschwitz; um pai tão cego pela obediência hierárquica e motor da engrenagem nazista, que se torna atônito.
O filme é uma fórmula nova para mostrar que o mal não se reconhece como mal, apenas se convence da própria razão e banaliza o outro ser humano, que, pra ele, sequer é humano. O terror é absoluto para quem assiste.
"[...] a writer is more of a menace to an unsuspecting public than a party hack." (Um roteirista é mais ameaçador do que um partido para um público desavisado).
O homem invisível possibilita o suspense intrincado à ficção, mas prescinde da ficção científica extremamente visual. É um roteiro que funcionaria com ou sem a ideia da invisibilidade como ciência - já que poderia ser um elemento meramente sobrenatural - e isso é bastante interessante. De imediato a premissa do filme já atrai: o espectador o assiste a partir do spoiler. Se nas cenas iniciais há certo embaraço pois não conseguimos decifrar de imediato as boas ou más intenções da personagem Cecília, nas cenas seguintes logo colocamos a consciência no lugar e deciframos que se trata de um relacionamento abusivo. No entanto, como já apontado, sabemos desde o início que Adrian se tornará invisível, e desde o anúncio de seu suposto suicídio já temos em mãos o desenrolar dos acontecimentos. Mesmo com essa informação, o filme consegue sustentar a curiosidade e aflição durante a continuidade da trama. Percebam: durante esses períodos do filme nos quais a personagem ainda não se deu conta da invisibilidade, não há qualquer necessidade de efeitos extremamente rebuscados, pois a narrativa e o suspense sustentam por si só. Então, o substrato é um tema científico, mas a montagem é totalmente autossustentável e o terror é psicologicamente produzido.
E me permito debruçar sobre essa metáfora do filme. Fiquei detida ao pensamento de como a história da alimentação e das formas de se alimentar refletem muito nossa organização social, desde os primórdios. Pensando que chefes tribais podiam ter para si garantidas as melhores porções de comida, que a “aristocracia” pré-medieval aprendeu a realizar grandes banquetes regados a exageros, tendo na abundância sinônimo de riqueza, e que a “aristocracia” pós-medieval começou a prezar pelo requinte das refeições. Hoje, ainda que superadas algumas tradições, continuamos pertencendo a uma sociedade que mata pela fome e reserva a fartura e o requinte para os níveis acima. Ainda que exista alimento em quantidade suficiente para todos os estratos, o egoísmo humano e seu individualismo reforçado pelo sistema capitalista normalmente nutrem no homem médio uma visão indiferente sobre a comunhão de insumos e afastam a visão cósmica de sociedade no real sentido de comunidade. E aqueles que levam o “livro” para o poço, em vez de meios de defesa e sobrevivência mais apurados – como facas e cordas – devem lidar com o peso da injustiça social, a não ser que, ousados o suficiente, arrisquem-se ao martírio da luta pelo bem-estar social. Talvez, se o filme tivesse se preocupado em trabalhar mais esse núcleo, as explicações continuariam em aberto, mas com uma direção um pouco menos atribulada do que se sentiu ao final.
Se me fiz bem entender, a juventude tem algo de primordial na ideia e na necessidade do ineditismo, ou do perfeccionismo plástico das imagens. Por outro lado, a maturidade traz consigo uma liberdade e uma ousadia no estilo de direção e de edição. Ela produz um desapego formal que traz resultado, pois acaba sendo uma consequência de uma vida toda de direção na qual se aperfeiçoa, não a forma e o fundo, mas a personalidade de se fazer o cinema. João Moreira Salles representa essa questão escolhendo takes com sutileza narrativa bastante profunda, cenas simbólicas e aguçadas.
De maneira geral “Adoráveis Mulheres” se constrói como uma bela pintura renascentista. Um filme que toma a sétima arte como mãe de todas as outras – ou herdeira de todas as outras? E ambienta essa estética, principalmente, nos seus planos abertos. Os movimentos de direção das atrizes são teatrais e ensaiados, uma verdadeira emoção dançante que culmina em verdadeiros quadros pintados a mão. Vê-se essa tendência em cenas como a da mãe que traz para perto de si todas as filhas num abraço, e nos encontros das personagens em jardins. A escolha dos figurinos dão o toque essencial para a composição das cenas. Há essa identidade rebuscada entre a narrativa, o espaço e o tempo em que se cultiva a história. De forma complementar apresentam-se corriqueiramente cenas nas quais há velocidade contrastada: uma personagem que corre e confronta o movimento da cidade, a dança ritmada de um salão de festas e os olhares mais lentos trocados entre personagens.
Do lado brasileiro, a força natural da população de Bacurau. Em livre interpretação, o psicotrópico é apenas o placebo trópico. Temos ali uma força que se desgarra de muito mais do que uma droga ou uma planta alucinógena. A força placebo da erva é na realidade a manifestação da força de conjunto da comunidade. Aquilo que os une é a seca, a dificuldade, é o efetivo sentimento de pertencimento. Tanto o é, que Lunga, ainda que seja o destaque representativo da liderança, insurge bem menos como líder do que possivelmente se imagina. Ele aparece como homenagem ao cangaço, para dar o golpe final e o toque de "crueza". Na realidade, quem sem defende majoritariamente é uma comunidade nua segurando em armas rústicas. Nua de água, de roupas, de urbanidade, mas investida de comunhão.
E afinal, soterrar o vilão sob sua terra é oferecer à natureza o adubo sobre o qual aquela comunidade continuará crescendo: os resquícios e detritos da própria luta incansável. Afinal, desde que o Brasil indígena sucumbiu, não há como não concordar que a guerra nunca acabou. E ela fica mais agressiva e palpável quando vista numa tela de cinema.
ATENÇÃO, MUITOS SPOILERS: A aurora do homem é além de um único momento. A cada era temos em vista o que se considera inovação: a descoberta das ferramentas pelos primatas, o uso tecnológico para atividades espaciais. Conforme as teorias que vi por aí, o monólito surge em sociedades nas quais essas auroras ocorrem. No entanto, também acho importante considerar que o monólito poderia surgir em qualquer sociedade na qual o FIM esteja se aproximando. A cada descoberta, os seres mantêm-se em uma linha tênue entre o começo de uma nova era e o próprio fim, através de atitudes de auto-extermínio. Isso é representado pelo primata que atenta contra outro de sua própria espécie; ou o ser humano que luta contra algo que ele mesmo criara, a tecnologia. Tudo o que há entre o desconhecido e a descoberta contêm um risco inimaginável, e é sobre o risco que Kubrick se debruça. Importante ressaltar a viagem que a personagem faz no espaço-tempo, evidenciada ao final, nas cenas memoráveis e puramente visuais. Isso me trouxe por vezes a sensação de não saber identificar se o início do filme seria realmente o começo de tudo na Terra ou o depois de tudo, depois da destruição, um recomeço em algum outro planeta no qual a sociedade se reconstrói sobre os mesmos patamares da terrestre. O surgimento do feto está, no fim, para representar uma gama de possibilidades. Um clássico é um clássico, por não perder a temporalidade. Portanto, a maestria deste insurge nas inovações técnicas - tanto de formas de produção do filme, como de previsões para uma nova era da sociedade trazidas no interior da história - as quais, imagino, representaram para os espectadores do final dos anos 1960 uma revolução cinematográfica e tecnológica. Além disso, a atualidade do filme se mostra pois vivenciamos uma época na qual discute-se os limites da tecnologia e o quanto somos influenciados e/ou dependentes dela e como ela poderá representar, com o passar dos anos, tanto nossa evolução como a completa dominação de nossa raça por mecanismos de auto destruição. É isto, Kubrick esteve com a câmera erguida a frente do seu tempo, a frente do nosso tempo, e com os pés tocando o solo presente.
Claramente é um filme com pouquíssimas possibilidades de plot. Gente, a ambientação é um tribunal do Júri. Um tribunal pressupõe um processo criminal inteiro pra chegar até o julgamento, e isso nos limita possibilidades de um plot DENTRO da ideia do filme, que é ser passado INTEIRAMENTE no tribunal. Não é nada lógico , por exemplo, o menino trazer uma revelação bombástica sobre quem foi o assassino, porque disso decorreriam entraves jurídicos ALÉM do tribunal, os quais o filme não deseja mostrar; nem seria ideal, apostar em um assassino absolutamente estranho às provas colhidas até então, porque, afinal, um processo inteiro já havia sido instruído. Enfim, seria quase impossível amarrar o final do filme sem atropelar a ideia central de um JULGAMENTO. Entendem como as possibilidades são limitadas para dar o tom necessário de realidade? O bacana é que, ainda sim, a obra consegue sair fora da casinha porque
dá um jeito de mostrar ao espectador a verdade, sem deixá-la ser exposta através da ambientação do filme - o próprio júri,
. E, melhor: de uma forma muito mais interessante do que uma mera revelação bombástica durante o julgamento. O mérito maior, afinal, consiste em conciliar: uma ambientação praticamente inteira dentro de um tribunal e nenhuma margem para o tédio.
Tudo o que Bergman criou tinha inspiração ou representava sua vida - passado e até futuro (Morangos Silvestres). Cara, ele fez UM TANTO de filme ABSOLUTAMENTE diverso e conseguiu se retratar por várias perspectivas e formatos em TODOS. Se por um lado isso é genial, por outro é mais um traço da sua personalidade egoísta. Definitivamente ele dá a alma na obra, o que faz a gente engolir algumas coisas a seco porque não dá pra afastar o artista da obra DE FORMA ALGUMA e como pessoa ele não foi exemplo, digamos.
GENTE, não confiem na sinopse, ela é MUITO problemática. Após assistir o filme, pude perceber que ele não romantiza, mas retrata a verdadeira faceta de um abusador : MANIPULADOR; e a de uma menina/mulher ABSOLUTAMENTE marcada pelo trauma do abuso, e que se tornou uma adulta conflituosa consigo. Por vezes ela parece acreditar na fala manipuladora do abusador, outras vezes é tomada por ódio, parece querer vingança. É nítido , e isso é exposto em uma das cenas, como a família foi negligente com relação ao trauma dela. Ela joga na cara da mãe: "Vocês só queria abafar tudo o que aconteceu" . A provavel e notável falta de um acompanhamento psicológico gerou MUITAS questões conflituosas nela (inclusive um descontrole sexual - vide o choro após se relacionar com o colega de trabalho do abusador). Vocês estão dizendo que o filme romantiza o abuso, porque é exatamente essa a CRÍTICA que ele quer mostrar: a capacidade de um abusador em conquistar a vítima e convence-la de que tudo FOI amor; enquanto, do outro lado, temos uma vítima TRAUMATIZADA e, obviamente, sujeita, ainda, apesar de tudo o que passou, à fala do abusador.
se o objetivo foi exaltar a exposição e suas consequências, falhou, porque, ao meu ver, isso ficou em segundo plano perto de outros acontecimentos do filme que foram bem mais explorados
Seu Ruben, às vezes menos é mais, não precisava de tanto tempo pra vários acontecimentos desconexos.
É um filme muito sensível, os takes são minimalistas e precisos, enfoca MUITO as amenidades (sol batendo no rosto, jeito do caminhar; ...). Mas me pareceu que o roteiro se perde entre o começo, o meio e o fim, tornando o ritmo arrastado. A história dá uma alavancada nos momentos finais, mas a cena final, precisamente, declina. Por mim, poderia ter acabado, tranquilamente, na cena em que
SPOILERS Roteiro completo, atuações incríveis e uma história definitivamente NÃO maniqueísta e que trata diretamente das mazelas da polícia (profissionais), mas também das mazelas humanas (pessoais, como criação, desespero, luto, angústia). A trilha sonora reflete muito bem o ritmo das cenas. É interessante porque apesar das críticas pertinentes de Mildred à polícia, nem sempre ela estava com a razão; e a chave para entender essa falta de racionalidade frente ao desespero que a invadiu, foi a personagem de Willoughby, ele faz o trâmite perfeito, principalmente a partir de suas cartas pós-morte, entre o que seria justo e injusto. Em nenhum momento culpou Mildred por sentir demais, por ser mãe e querer a "justiça"; apesar de ter que "construir" uma imagem contrária junto à atuação profissional. Ao mesmo tempo que estendeu a mão para Mildred, não deixou de crucificá-la por algumas de suas atitudes. Fez o mesmo com relação ao policial Dixon. Isso é um modelo de trama absolutamente interessante ao meu ver. É complexo mas sutil. Frances merece o Oscar! Obs.: irmãos coen devem estar orgulhosos de uma obra como essa!
Eu não consegui enxergar nada de original ou esplêndido nesse filme. Tem diálogos interessantes e que deixam seu rastro de impacto, com louvor. Mas, no geral, eu não consigo enxergar a exuberância. A história é previsível, é um conto-de-fadas quebrado por algumas cenas/diálogos de conteúdo sexual. As cenas finais têm um apelo daqueles que encontramos em Marvel/DC e enfim, no meu rol de preferências entre filmes do Del Toro este está bem no final. Pra mim foi assistir "A princesa e o sapo" do Tim Burton e do Wes Anderson ambientado no Labirinto do Fauno (aliás, outra fantasia do Del Toro, porém anos luz a frente da Forma da Água; guardadas as proporções podemos até comparar as duas obras e notar pontualmente o abismo).
SPOILERS Eu vim aqui comentar algo pra ser redundante, frente a todos os comentários que já li sobre esse filme: o conteúdo bíblico e sociológico dele me deixaram boquiaberta! É incrível como essa questão da natureza, religião, bem e mal, pecado e ingenuidade, fúria e passividade deixam suas marcas atemporais. Dá até mesmo pra gente encontrar uma crítica a respeito da fama, olhando o filme de modo beeem superficial. Nas camadas ~um pouco~ mais profundas temos patriarcado, questões bíblicas, natureza humana, enfim, metástase de simbologia e metáfora. Uma observação um pouco random e curiosa: acho que em todas as cenas a mãe está descalça. Seria mais um sinal de sua ligação com a "casa", com a "natureza"?
Durante todo o filme eu fiquei atribuindo adjetivos para as personagens e para os momentos contados no presente e passado, os quais, ao meu ver, caracterizam-se como um misto de lúdico, idílico + cortante, realista. Temos visão do que foi a infância de Guido já que, pelo menos até a metade do filme, cenas de seu passado infantil são exibidas e misturam-se ao presente. Quando suas crises de adulto começam a ser exibidas na tela, os momentos de sua infância deixam de ser explorados. Aparentemente isso ocorre com a finalidade de mostrar ao espectador do que é feita a angústia de Guido. Assim, passo a caracterizá-lo: Guido, na minha visão, é uma personagem de "escala"; por vezes, em razão de sua inconstância ele tramita de apreensivo, indeciso, para um alguém completamente covarde. Isso é nítido em duas cenas específicas: 1 - A cena próxima ao fim na qual o mesmo conversa com Cláudia e porta-se como alguém que não quer errar, amedrontado e, portanto, nas conclusões dela, alguém que, nunca soube o significado de amar; 2 - A cena em que ele porta-se como grande conquistador e visualiza, em conjunto, todas as mulheres que despertaram sentimentos nele. Essa cena é extremamente importante porque consigo relacioná-la com a crise profissional de Guido. Ele, nesta cena, coloca-se em uma posição extremamente grandiosa frente às pessoas que julgou amar e assume essa mesma posição frente à sua capacidade criativa e profissional: seu desejo é fazer algo proeminente e de alcance fervoroso, mas, não possui sequer uma história nesse patamar; na verdade, possui a história de sua vida, mas, como diz uma das personagens: "não há qualquer problematização naquilo, não é uma boa história". Ocorre que, por ter essa carga orgulhosa, Guido não consegue despir-se da vontade de montar um filme com a sua "biografia", não suportando as opiniões e palpites alheios dentro de suas ideias. Aponto tal reflexão para a cena final em que ele se esconde sob a mesa e para a cena no início do filme quando não dá atenção a quem desejava conversar com ele a respeito de seu trabalho, estando sempre em movimento de fuga. Finalmente, possuo dois apontamentos esparsos: 1 - Acerca da relação entre Guido e Luísa: de certa forma Luísa é a única mulher que impõe respeito e consegue, modicamente, confrontá-lo. Por isso torna-se uma mulher tão intrigante em sua trajetória. Mesmo na cena em que todas as mulheres de sua vida estão em conjunto, Luísa se destaca como aquela que age com indiferença, escárnio e consegue desmontar o orgulho de Guido. Por isso me questiono, seria Luísa o semblante mais próximo do amor a que chegou Guido?? Pois ela enfraquecia seu ego. Ou então, seria Luísa apenas tão orgulhosa quanto ele e, por essa razão, conseguia combatê-lo à altura? E nada mais? 2 - A cena final: foi a maior inclusão de algo simbólico no filme! A dança ao redor da "obra de alto custo" é MUITO simbólica. Vemos ali um misto do passado com o presente: o lúdico dos palhaços e da magia são, ao meu ver, representações da infância (esta, ceifada pela criação rígida dos padres); por outro lado, as pessoas que participaram de sua vida descendo um protótipo de "escadaria" e fazendo uma ciranda em torno da "obra de alto custo" é uma representação vívida da relação de Guido com sua arte: o círculo está fechado em torno do que foi sua criatividade pomposa e grandiosa! Infelizmente, haverá a queda da obra e da personalidade ambiciosa de Guido; o círculo do ser social fechou-se em torno de suas apostas criativas.
Esse é um dos roteiros mais bem construídos que eu já vi na minha vida! Foi feito em uma hora e quarenta minutos e a sensação que tive foi de um filme bem mais extenso, mas que não extenua! Ou seja, um em um milhão. A ironia dos extremos representada na criação de adolescentes com atenção demais (a mãe superprotetora) e atenção de menos (a mãe que abandona o filho), atrelada à história de uma outra mãe, desolada pela perda. É muito peculiar a maneira que as personagens secundárias assumem papéis temporariamente principais e revelam identidades surpreendentes das principais, colaborando para o encaixe do enredo. Também é irrefutável como a professora se faz personagem principal que, apesar de posta em stand-by na maior parte do filme, encaixa-se perfeitamente dentro das outras cenas; a concisão e coerência do drama não se perdem. É uma obra cirúrgica.
Depois de ver a maneira que ele lidou com a de morte do assistente, senti, que, mesmo provando do próprio veneno (a morte de alguém próximo a ele), Lou não iria ser atingido, pois é um personagem extremamente frio, manipulador e abusivo.
Senti muita angústia na cena em que ele janta com a diretora de programação
Zona de Interesse
3.6 579 Assista AgoraO mal tira férias, passeia de caiaque, tem animais de estimação, ama a natureza, tem sonhos, sonambulismo, come, passa por problemas familiares e apaga as luzes da casa ao anoitecer para dormir.
Somos habituados a ver retratos da 2ª Guerra sempre no tom dramático: um grande personagem, uma grande história. Zona de Interesse não entrega isso; o filme entrega rotina. O dia a dia de uma família nazista. É impossível sentir qualquer tipo de empatia por qualquer personagem, até mesmo as crianças, que nada mais são do que produtos daquele ambiente.
Uma mãe que se recusa a deixar seu lar construído com um grande jardim separado apenas por um muro dos gritos dos judeus de Auschwitz; um pai tão cego pela obediência hierárquica e motor da engrenagem nazista, que se torna atônito.
Mank
3.2 462 Assista Agora"[...] a writer is more of a menace to an unsuspecting public than a party hack." (Um roteirista é mais ameaçador do que um partido para um público desavisado).
O Homem Invisível
3.8 2,0K Assista AgoraO homem invisível possibilita o suspense intrincado à ficção, mas prescinde da ficção científica extremamente visual. É um roteiro que funcionaria com ou sem a ideia da invisibilidade como ciência - já que poderia ser um elemento meramente sobrenatural - e isso é bastante interessante. De imediato a premissa do filme já atrai: o espectador o assiste a partir do spoiler. Se nas cenas iniciais há certo embaraço pois não conseguimos decifrar de imediato as boas ou más intenções da personagem Cecília, nas cenas seguintes logo colocamos a consciência no lugar e deciframos que se trata de um relacionamento abusivo. No entanto, como já apontado, sabemos desde o início que Adrian se tornará invisível, e desde o anúncio de seu suposto suicídio já temos em mãos o desenrolar dos acontecimentos. Mesmo com essa informação, o filme consegue sustentar a curiosidade e aflição durante a continuidade da trama. Percebam: durante esses períodos do filme nos quais a personagem ainda não se deu conta da invisibilidade, não há qualquer necessidade de efeitos extremamente rebuscados, pois a narrativa e o suspense sustentam por si só. Então, o substrato é um tema científico, mas a montagem é totalmente autossustentável e o terror é psicologicamente produzido.
O Poço
3.7 2,1K Assista AgoraSe algo me reteve nesse filme, principalmente pela originalidade, é a ideia do banquete.
E me permito debruçar sobre essa metáfora do filme. Fiquei detida ao pensamento de como a história da alimentação e das formas de se alimentar refletem muito nossa organização social, desde os primórdios. Pensando que chefes tribais podiam ter para si garantidas as melhores porções de comida, que a “aristocracia” pré-medieval aprendeu a realizar grandes banquetes regados a exageros, tendo na abundância sinônimo de riqueza, e que a “aristocracia” pós-medieval começou a prezar pelo requinte das refeições. Hoje, ainda que superadas algumas tradições, continuamos pertencendo a uma sociedade que mata pela fome e reserva a fartura e o requinte para os níveis acima. Ainda que exista alimento em quantidade suficiente para todos os estratos, o egoísmo humano e seu individualismo reforçado pelo sistema capitalista normalmente nutrem no homem médio uma visão indiferente sobre a comunhão de insumos e afastam a visão cósmica de sociedade no real sentido de comunidade. E aqueles que levam o “livro” para o poço, em vez de meios de defesa e sobrevivência mais apurados – como facas e cordas – devem lidar com o peso da injustiça social, a não ser que, ousados o suficiente, arrisquem-se ao martírio da luta pelo bem-estar social. Talvez, se o filme tivesse se preocupado em trabalhar mais esse núcleo, as explicações continuariam em aberto, mas com uma direção um pouco menos atribulada do que se sentiu ao final.
Santiago
4.1 134Se me fiz bem entender, a juventude tem algo de primordial na ideia e na necessidade do ineditismo, ou do perfeccionismo plástico das imagens. Por outro lado, a maturidade traz consigo uma liberdade e uma ousadia no estilo de direção e de edição. Ela produz um desapego formal que traz resultado, pois acaba sendo uma consequência de uma vida toda de direção na qual se aperfeiçoa, não a forma e o fundo, mas a personalidade de se fazer o cinema. João Moreira Salles representa essa questão escolhendo takes com sutileza narrativa bastante profunda, cenas simbólicas e aguçadas.
Adoráveis Mulheres
4.0 975 Assista AgoraDe maneira geral “Adoráveis Mulheres” se constrói como uma bela pintura renascentista. Um filme que toma a sétima arte como mãe de todas as outras – ou herdeira de todas as outras? E ambienta essa estética, principalmente, nos seus planos abertos. Os movimentos de direção das atrizes são teatrais e ensaiados, uma verdadeira emoção dançante que culmina em verdadeiros quadros pintados a mão. Vê-se essa tendência em cenas como a da mãe que traz para perto de si todas as filhas num abraço, e nos encontros das personagens em jardins.
A escolha dos figurinos dão o toque essencial para a composição das cenas. Há essa identidade rebuscada entre a narrativa, o espaço e o tempo em que se cultiva a história. De forma complementar apresentam-se corriqueiramente cenas nas quais há velocidade contrastada: uma personagem que corre e confronta o movimento da cidade, a dança ritmada de um salão de festas e os olhares mais lentos trocados entre personagens.
Bacurau
4.3 2,7K Assista AgoraDo lado brasileiro, a força natural da população de Bacurau. Em livre interpretação, o psicotrópico é apenas o placebo trópico. Temos ali uma força que se desgarra de muito mais do que uma droga ou uma planta alucinógena. A força placebo da erva é na realidade a manifestação da força de conjunto da comunidade. Aquilo que os une é a seca, a dificuldade, é o efetivo sentimento de pertencimento. Tanto o é, que Lunga, ainda que seja o destaque representativo da liderança, insurge bem menos como líder do que possivelmente se imagina. Ele aparece como homenagem ao cangaço, para dar o golpe final e o toque de "crueza". Na realidade, quem sem defende majoritariamente é uma comunidade nua segurando em armas rústicas. Nua de água, de roupas, de urbanidade, mas investida de comunhão.
E afinal, soterrar o vilão sob sua terra é oferecer à natureza o adubo sobre o qual aquela comunidade continuará crescendo: os resquícios e detritos da própria luta incansável. Afinal, desde que o Brasil indígena sucumbiu, não há como não concordar que a guerra nunca acabou. E ela fica mais agressiva e palpável quando vista numa tela de cinema.
Cléo das 5 às 7
4.2 199 Assista AgoraO estado do não-saber e da angústia por vezes é pior do que o da certeza. A conformação é mais facilmente encontrada por meio dessa última.
2001: Uma Odisseia no Espaço
4.2 2,4K Assista AgoraATENÇÃO, MUITOS SPOILERS:
A aurora do homem é além de um único momento. A cada era temos em vista o que se considera inovação: a descoberta das ferramentas pelos primatas, o uso tecnológico para atividades espaciais. Conforme as teorias que vi por aí, o monólito surge em sociedades nas quais essas auroras ocorrem. No entanto, também acho importante considerar que o monólito poderia surgir em qualquer sociedade na qual o FIM esteja se aproximando. A cada descoberta, os seres mantêm-se em uma linha tênue entre o começo de uma nova era e o próprio fim, através de atitudes de auto-extermínio. Isso é representado pelo primata que atenta contra outro de sua própria espécie; ou o ser humano que luta contra algo que ele mesmo criara, a tecnologia. Tudo o que há entre o desconhecido e a descoberta contêm um risco inimaginável, e é sobre o risco que Kubrick se debruça.
Importante ressaltar a viagem que a personagem faz no espaço-tempo, evidenciada ao final, nas cenas memoráveis e puramente visuais. Isso me trouxe por vezes a sensação de não saber identificar se o início do filme seria realmente o começo de tudo na Terra ou o depois de tudo, depois da destruição, um recomeço em algum outro planeta no qual a sociedade se reconstrói sobre os mesmos patamares da terrestre. O surgimento do feto está, no fim, para representar uma gama de possibilidades.
Um clássico é um clássico, por não perder a temporalidade. Portanto, a maestria deste insurge nas inovações técnicas - tanto de formas de produção do filme, como de previsões para uma nova era da sociedade trazidas no interior da história - as quais, imagino, representaram para os espectadores do final dos anos 1960 uma revolução cinematográfica e tecnológica. Além disso, a atualidade do filme se mostra pois vivenciamos uma época na qual discute-se os limites da tecnologia e o quanto somos influenciados e/ou dependentes dela e como ela poderá representar, com o passar dos anos, tanto nossa evolução como a completa dominação de nossa raça por mecanismos de auto destruição.
É isto, Kubrick esteve com a câmera erguida a frente do seu tempo, a frente do nosso tempo, e com os pés tocando o solo presente.
Versões de um Crime
3.2 409 Assista AgoraClaramente é um filme com pouquíssimas possibilidades de plot.
Gente, a ambientação é um tribunal do Júri. Um tribunal pressupõe um processo criminal inteiro pra chegar até o julgamento, e isso nos limita possibilidades de um plot DENTRO da ideia do filme, que é ser passado INTEIRAMENTE no tribunal.
Não é nada lógico , por exemplo, o menino trazer uma revelação bombástica sobre quem foi o assassino, porque disso decorreriam entraves jurídicos ALÉM do tribunal, os quais o filme não deseja mostrar; nem seria ideal, apostar em um assassino absolutamente estranho às provas colhidas até então, porque, afinal, um processo inteiro já havia sido instruído. Enfim, seria quase impossível amarrar o final do filme sem atropelar a ideia central de um JULGAMENTO.
Entendem como as possibilidades são limitadas para dar o tom necessário de realidade? O bacana é que, ainda sim, a obra consegue sair fora da casinha porque
dá um jeito de mostrar ao espectador a verdade, sem deixá-la ser exposta através da ambientação do filme - o próprio júri,
O mérito maior, afinal, consiste em conciliar: uma ambientação praticamente inteira dentro de um tribunal e nenhuma margem para o tédio.
O Autor
3.3 117 Assista AgoraInúmeras referências ao "O Inquilino"
Bergman – 100 Anos
4.0 33 Assista AgoraTudo o que Bergman criou tinha inspiração ou representava sua vida - passado e até futuro (Morangos Silvestres). Cara, ele fez UM TANTO de filme ABSOLUTAMENTE diverso e conseguiu se retratar por várias perspectivas e formatos em TODOS. Se por um lado isso é genial, por outro é mais um traço da sua personalidade egoísta. Definitivamente ele dá a alma na obra, o que faz a gente engolir algumas coisas a seco porque não dá pra afastar o artista da obra DE FORMA ALGUMA e como pessoa ele não foi exemplo, digamos.
Una
3.0 139 Assista AgoraSPOILERS
GENTE, não confiem na sinopse, ela é MUITO problemática. Após assistir o filme, pude perceber que ele não romantiza, mas retrata a verdadeira faceta de um abusador : MANIPULADOR; e a de uma menina/mulher ABSOLUTAMENTE marcada pelo trauma do abuso, e que se tornou uma adulta conflituosa consigo. Por vezes ela parece acreditar na fala manipuladora do abusador, outras vezes é tomada por ódio, parece querer vingança. É nítido , e isso é exposto em uma das cenas, como a família foi negligente com relação ao trauma dela. Ela joga na cara da mãe: "Vocês só queria abafar tudo o que aconteceu" . A provavel e notável falta de um acompanhamento psicológico gerou MUITAS questões conflituosas nela (inclusive um descontrole sexual - vide o choro após se relacionar com o colega de trabalho do abusador).
Vocês estão dizendo que o filme romantiza o abuso, porque é exatamente essa a CRÍTICA que ele quer mostrar: a capacidade de um abusador em conquistar a vítima e convence-la de que tudo FOI amor; enquanto, do outro lado, temos uma vítima TRAUMATIZADA e, obviamente, sujeita, ainda, apesar de tudo o que passou, à fala do abusador.
The Square - A Arte da Discórdia
3.6 318 Assista AgoraAchei essa sinopse meio desonesta,
se o objetivo foi exaltar a exposição e suas consequências, falhou, porque, ao meu ver, isso ficou em segundo plano perto de outros acontecimentos do filme que foram bem mais explorados
Seu Ruben, às vezes menos é mais, não precisava de tanto tempo pra vários acontecimentos desconexos.
Corpo e Alma
3.6 222 Assista AgoraÉ um filme muito sensível, os takes são minimalistas e precisos, enfoca MUITO as amenidades (sol batendo no rosto, jeito do caminhar; ...). Mas me pareceu que o roteiro se perde entre o começo, o meio e o fim, tornando o ritmo arrastado. A história dá uma alavancada nos momentos finais, mas a cena final, precisamente, declina. Por mim, poderia ter acabado, tranquilamente, na cena em que
os dois dormem.
elidir de forma MUITO aparente e consistente a síndrome de Asperger
Blade Runner 2049
4.0 1,7K Assista AgoraPor vezes para amar alguém, você tem que ser um estranho
O Destino de Uma Nação
3.7 723 Assista AgoraGary Oldman Hour, porque carregou o filme sozinho.
Três Anúncios Para um Crime
4.2 2,0K Assista AgoraSPOILERS
Roteiro completo, atuações incríveis e uma história definitivamente NÃO maniqueísta e que trata diretamente das mazelas da polícia (profissionais), mas também das mazelas humanas (pessoais, como criação, desespero, luto, angústia). A trilha sonora reflete muito bem o ritmo das cenas.
É interessante porque apesar das críticas pertinentes de Mildred à polícia, nem sempre ela estava com a razão; e a chave para entender essa falta de racionalidade frente ao desespero que a invadiu, foi a personagem de Willoughby, ele faz o trâmite perfeito, principalmente a partir de suas cartas pós-morte, entre o que seria justo e injusto. Em nenhum momento culpou Mildred por sentir demais, por ser mãe e querer a "justiça"; apesar de ter que "construir" uma imagem contrária junto à atuação profissional. Ao mesmo tempo que estendeu a mão para Mildred, não deixou de crucificá-la por algumas de suas atitudes. Fez o mesmo com relação ao policial Dixon.
Isso é um modelo de trama absolutamente interessante ao meu ver. É complexo mas sutil.
Frances merece o Oscar!
Obs.: irmãos coen devem estar orgulhosos de uma obra como essa!
A Forma da Água
3.9 2,7KEu não consegui enxergar nada de original ou esplêndido nesse filme. Tem diálogos interessantes e que deixam seu rastro de impacto, com louvor. Mas, no geral, eu não consigo enxergar a exuberância. A história é previsível, é um conto-de-fadas quebrado por algumas cenas/diálogos de conteúdo sexual. As cenas finais têm um apelo daqueles que encontramos em Marvel/DC e enfim, no meu rol de preferências entre filmes do Del Toro este está bem no final. Pra mim foi assistir "A princesa e o sapo" do Tim Burton e do Wes Anderson ambientado no Labirinto do Fauno (aliás, outra fantasia do Del Toro, porém anos luz a frente da Forma da Água; guardadas as proporções podemos até comparar as duas obras e notar pontualmente o abismo).
Mãe!
4.0 3,9K Assista AgoraSPOILERS
Eu vim aqui comentar algo pra ser redundante, frente a todos os comentários que já li sobre esse filme: o conteúdo bíblico e sociológico dele me deixaram boquiaberta! É incrível como essa questão da natureza, religião, bem e mal, pecado e ingenuidade, fúria e passividade deixam suas marcas atemporais. Dá até mesmo pra gente encontrar uma crítica a respeito da fama, olhando o filme de modo beeem superficial. Nas camadas ~um pouco~ mais profundas temos patriarcado, questões bíblicas, natureza humana, enfim, metástase de simbologia e metáfora.
Uma observação um pouco random e curiosa: acho que em todas as cenas a mãe está descalça. Seria mais um sinal de sua ligação com a "casa", com a "natureza"?
8½
4.3 409 Assista AgoraCONTÉM SPOILERS
Durante todo o filme eu fiquei atribuindo adjetivos para as personagens e para os momentos contados no presente e passado, os quais, ao meu ver, caracterizam-se como um misto de lúdico, idílico + cortante, realista.
Temos visão do que foi a infância de Guido já que, pelo menos até a metade do filme, cenas de seu passado infantil são exibidas e misturam-se ao presente. Quando suas crises de adulto começam a ser exibidas na tela, os momentos de sua infância deixam de ser explorados. Aparentemente isso ocorre com a finalidade de mostrar ao espectador do que é feita a angústia de Guido.
Assim, passo a caracterizá-lo: Guido, na minha visão, é uma personagem de "escala"; por vezes, em razão de sua inconstância ele tramita de apreensivo, indeciso, para um alguém completamente covarde. Isso é nítido em duas cenas específicas:
1 - A cena próxima ao fim na qual o mesmo conversa com Cláudia e porta-se como alguém que não quer errar, amedrontado e, portanto, nas conclusões dela, alguém que, nunca soube o significado de amar;
2 - A cena em que ele porta-se como grande conquistador e visualiza, em conjunto, todas as mulheres que despertaram sentimentos nele. Essa cena é extremamente importante porque consigo relacioná-la com a crise profissional de Guido. Ele, nesta cena, coloca-se em uma posição extremamente grandiosa frente às pessoas que julgou amar e assume essa mesma posição frente à sua capacidade criativa e profissional: seu desejo é fazer algo proeminente e de alcance fervoroso, mas, não possui sequer uma história nesse patamar; na verdade, possui a história de sua vida, mas, como diz uma das personagens: "não há qualquer problematização naquilo, não é uma boa história". Ocorre que, por ter essa carga orgulhosa, Guido não consegue despir-se da vontade de montar um filme com a sua "biografia", não suportando as opiniões e palpites alheios dentro de suas ideias. Aponto tal reflexão para a cena final em que ele se esconde sob a mesa e para a cena no início do filme quando não dá atenção a quem desejava conversar com ele a respeito de seu trabalho, estando sempre em movimento de fuga.
Finalmente, possuo dois apontamentos esparsos:
1 - Acerca da relação entre Guido e Luísa: de certa forma Luísa é a única mulher que impõe respeito e consegue, modicamente, confrontá-lo. Por isso torna-se uma mulher tão intrigante em sua trajetória. Mesmo na cena em que todas as mulheres de sua vida estão em conjunto, Luísa se destaca como aquela que age com indiferença, escárnio e consegue desmontar o orgulho de Guido. Por isso me questiono, seria Luísa o semblante mais próximo do amor a que chegou Guido?? Pois ela enfraquecia seu ego. Ou então, seria Luísa apenas tão orgulhosa quanto ele e, por essa razão, conseguia combatê-lo à altura? E nada mais?
2 - A cena final: foi a maior inclusão de algo simbólico no filme! A dança ao redor da "obra de alto custo" é MUITO simbólica. Vemos ali um misto do passado com o presente: o lúdico dos palhaços e da magia são, ao meu ver, representações da infância (esta, ceifada pela criação rígida dos padres); por outro lado, as pessoas que participaram de sua vida descendo um protótipo de "escadaria" e fazendo uma ciranda em torno da "obra de alto custo" é uma representação vívida da relação de Guido com sua arte: o círculo está fechado em torno do que foi sua criatividade pomposa e grandiosa! Infelizmente, haverá a queda da obra e da personalidade ambiciosa de Guido; o círculo do ser social fechou-se em torno de suas apostas criativas.
Confissões
4.2 854Esse é um dos roteiros mais bem construídos que eu já vi na minha vida! Foi feito em uma hora e quarenta minutos e a sensação que tive foi de um filme bem mais extenso, mas que não extenua! Ou seja, um em um milhão.
A ironia dos extremos representada na criação de adolescentes com atenção demais (a mãe superprotetora) e atenção de menos (a mãe que abandona o filho), atrelada à história de uma outra mãe, desolada pela perda.
É muito peculiar a maneira que as personagens secundárias assumem papéis temporariamente principais e revelam identidades surpreendentes das principais, colaborando para o encaixe do enredo.
Também é irrefutável como a professora se faz personagem principal que, apesar de posta em stand-by na maior parte do filme, encaixa-se perfeitamente dentro das outras cenas; a concisão e coerência do drama não se perdem.
É uma obra cirúrgica.
O Abutre
4.0 2,5K Assista AgoraFiquei pensando no decorrer do filme que o Lou ia provar do próprio veneno e alguma liçãozinha de moral ia aparecer.
ÓBVIO QUE FUI TROUXA
Depois de ver a maneira que ele lidou com a de morte do assistente, senti, que, mesmo provando do próprio veneno (a morte de alguém próximo a ele), Lou não iria ser atingido, pois é um personagem extremamente frio, manipulador e abusivo.
Senti muita angústia na cena em que ele janta com a diretora de programação
. A abusividade é cortante!
O Abutre
4.0 2,5K Assista AgoraFaltou um "baseado em fatos reais"