"Eu sou a criança que ela fora; você é a mulher que ela teria sido."
Desde o início da franquia, há mais de dez anos atrás, sempre foi muito claro que mesmo seguindo uma linha narrativa sólida, cada "Resident Evil" é sua própria obra. Mesmo quando Paul W.S. Anderson retornou à cadeira de diretor no quarto capítulo, trazendo de volta consigo a estilização gamer do original, ele ainda manteve uma clara distinção estética, estrutural e por fim artística entre "Recomeço" e "Retribuição". Sendo isto apenas um dos aspectos que diferencia Resident Evil da sua típica franquia blockbuster - e possivelmente um dos responsáveis pela sua má fama -, "O Capítulo Final" chega como o mais original e resoluto da série.
Desta vez, estamos aprendendo a verdade por trás da história de Alice, e escapando do reino da artificialidade em direção ao da realidade, a estética de W.S. Anderson deixa de ser estável, simétrica, limpa e lenta a nível autocontemplativo, para se tornar mexida, suja e acelerada a nível frenético. Implacável, Anderson coloca seu espectador dentro de seu caos controlado em cenas de ação com infinidades de planos curtos - porém calculados - em um intervalo ínfimo de cortes que, junto com o 3D atmosférico, a soberba trilha synth de Paul Haslinger e o som destruidor transformam cada sequência numa frenesi hipnótica magnífica, fazendo do filme o filho rebelde de "Mad Max: Estrada da Fúria" com "Adrenalina". Ao olho desacostumado, vai inicialmente passar como incompetência dada a dificuldade para entender a ação, mas uma vez ajustada a vista, torna-se perceptível que nada de confuso há na filmagem e na edição, e que o que W.S. Anderson está fazendo é desconstruir o próprio conceito de imagem: ele não mostra imagem aos olhos, ele a implanta na mente.
O longa também conta com os set pieces - ou fases, como preferir - mais marcantes da série, e cada um se aproveita da linguagem à sua própria maneira; a intensidade da trilha, a ausência da mesma, da mixagem de som, a velocidade inacreditável da montagem, a iluminação diegética, etc... Cada aspecto funciona de forma diferente para causar impactos diferentes no público. Empolgação, tensão, sustos, emoção, o pacote completo. A experiência estética se finaliza com a cereja do bolo que são os efeitos visuais espetaculares - uma verdadeira novidade para "Resident Evil" -, que calham a vir neste capítulo, após uma franquia inteira focando em realidades falsas arquitetadas, é conveniente que o filme que finalmente nos traz para a realidade, traga em si um festival de efeitos hiperrealistas.
Este episódio também sucede como o maior êxito de W.S. Anderson como roteirista; há uma significativa melhora em diálogos, mas claro que este não é o foco. Como um verdadeiro apropriador da estrutura de videogames (antes desses se tornarem cinematográficos), Anderson avança sua trama com ação em vez de conversa fiada. Alice, chegando à conclusão de sua jornada, se torna um monumento femininista: ela é posta no centro de um discurso sobre instrumentalidade, tendo sido por todos esses anos perseguida e tratada como uma propriedade de homens corporativos, enfim chega a hora de descobrir quem ela realmente é, e entre a corporação que tenta ditar o que ela deve ser e sua própria imagem sussurrando em sua alma, Alice alcança uma autodescoberta que a solidifica firmemente como um ícone do poder feminino. Seu arco faz de "O Capítulo Final" um filme essencialmente coming-of-age, estando Anderson discursando sobre a maturidade de Alice, traçando um paralelo da história desta com a de todas as mulheres que tiveram suas infâncias roubadas por terem entrado na indústria do entretenimento muito jovens - incluindo da esposa, a própria Alice, Milla Jovovich - e as que são exploradas por empresas capitalistas comandadas por homens de poder. Paul projeta a imagem da mulher na filha, Ever Anderson, e assim transforma Alice em um símbolo de empoderamento tanto para as pequenas garotas que ainda vão crescer, quanto para as mulheres já maduras que sobrevivem a este mundo.
Eu vi apenas três filmes em IMAX 3D até hoje - incluindo "Rogue One: Uma História Star Wars" - e deles, "Resident Evil 6: O Capítulo Final" foi o mais esmagador deles. Ainda mais que uma experiência imersiva extasiante e uma conquista autoral anti-corporativa dentro da indústria Hollywoodiana, "Resident Evil 6: O Capítulo Final" encerra a história de Alice como uma de maturidade - nada mais digno para uma franquia que acompanhou a maturidade da maioria de seus fãs (inclusive a minha) desde crianças.
Retoma o tom satírico do filme original e se prova um dos melhores exemplares do que um filme de ação moderno tem que ser, e a essência da franquia xXx: uma celebração do cinema como diversão absurda, sem fôlego e sem compromisso. Um excelente elenco diversificado liderado pelo latino mais fodão de Hollywood, garotas que são muito mais que rostinhos bonitos, stunts e coreografias alucinantes capturadas por uma direção concreta realçada por um 3D espetacular, e uma autoconsciência que permite ao filme se divertir o máximo possível com a própria galhofa, "xXx: Reativado" é um puta filme do caralho.
Essencialmente poético, extremamente bem dirigido, perfomances poderosas que são o coração e alma do filme - principalmente de Mahershala Ali (criminosamente desperdiçado), linda fotografia e trilha, mas o roteiro não parece conseguir mergulhar completamente na complexidade dos sentimentos desses personagens, majoritariamente porque não houve tempo o suficiente. O filme se apresenta como "a história de uma vida", mas não parece a história de uma vida e sim pequenos seletos pedaços da mesma, que por si próprios não conseguem explorar o potencial completo da trama. O filme não tem nem duas horas de duração, deveria ter sido muito maior que isso. É uma obra de qualidade e competência, mas no fim não é melhor do que o seu típico filme Oscar bait.
31 filmes. Existem 31 filmes de Godzilla. Nós não estamos falando de algum personagem mega carismático com uma personalidade forte que desperta um amor imenso do público que alimenta seu sucesso. Não estamos falando de uma franquia situada num universo hiper rico com infinitas possibilidades de desenvolvimento e portas abertas para incontáveis filmes derivados. Não estamos falando nem de uma gigante sensação comercial em vendas de brinquedos e mídias alternativas. James Bond, Harry Potter, Star Wars, universo Marvel, não é nada desse tipo. Estamos falando de um puta lagartão que cospe laser destruindo a cidade.
TRINTA E UM FILMES DISSO.
E vai ter mais, sempre vai ter mais, nunca vai parar. Por que? Pelo mesmo motivo que todo filme de Godzilla, até mesmo o original de Ishiro Honda, tende a ser criticamente divisivo: Godzilla não é um simples filme. É muito mais que isso. É uma obra livre das regras limitadoras de roteirização.
Temos uma lotação de personagens que formam um coletivo que é o protagonista: o Japão. Cada político, cada sujeito é uma representação que nos confinamentos do grupo se torna um estudo deste personagem maior que é o país, diante de uma ameaça nuclear beirando a onipotência. Destruição não é um espetáculo, não é entretenimento, é dolorosa e sofrível. E enfrentando uma arma de destruição em massa ambulante, a nação se vê impotente, enrolada em burocracias que a impedem de agir de forma prática - tal como o cinema mainstream é limitado por regras narrativas. A música não comemora o caos, mas sim o anuncia em tons graves de terror e o lamenta através de desesperadas orações por ajuda. A direção do mestre Hideaki Anno captura a tragédia nos olhares desamparados em paralelo ao imparável Deus encarnado que avança para Tokyo sem um motivo nítido, colocando frequentemente a escala colossal da criatura em contraste à diminutividade inofensiva do homem. Anno enquadra Godzilla como se ele fosse um aranha-céu na paisagem de Tóquio, e em muitas vezes sua imagem imprime a sensação de que os humanos estão atacando a própria cidade, e também de que a cidade, num acesso de fúria, está se auto-destruindo. A montagem dita o ritmo desesperado da infraestrutura política japonesa em busca de uma salvação. A fotografia pinta quadros de desastre e luto.
Godzilla é muito mais que um filme. É um réquiem para todas as vidas perdidas nos desastres japoneses. Uma metáfora viva e cuspidora de fogo para a natureza autodestrutiva da humanidade e, como Anno tão brilhantemente declara com este capítulo, um monumento. Um monumento para Hiroshima, Nagasaki, Fukushima, e todos os desastres que o Japão já teve e terá de enfrentar, todas as ruínas das quais eles já se ergueram. Nisto, este "Novo Godzilla" aponta o dedo na cara dos responsáveis por tal sofrimento como nenhum dos (TRINTA!!!!!) filmes anteriores fez; criticando a infraestrutura política japonesa, a exploração americana da mesma, a pressão profissional constante no estilo de vida nipônico. "Faça como quiser", é a chave para deter Godzilla, mas "isso é tão difícil de se fazer neste país". O homem é mais assustador do que Godzilla.
Novo. Verdadeiro. Deus. Os três significados principais da palavra que batiza este filme, essencialmente definem Godzilla como cinema. Cinema novo em seu pós-modernismo; cinema verdadeiro como uma declaração audiovisual que, através da linguagem, transcende limitações técnicas e por fim, atemporal como um conceito e uma ideia, assim como Deus.
Hilariamente caricato e inegavelmente cheio de coração! Eu não conseguia parar de rir pela maior parte do filme! Lotado de piadas em ritmo rápido nas quais as performances do elenco são essenciais, e todos acertam em cheio, principalmente Aoi Miyazaki. Sério, essa garota é o ser mais precioso do planeta Terra. Sua fofura cai como uma luva na personagem, que é desesperada, atrapalhada e gradativamente se torna durona e responsável - mas nunca uma gota menos adorável -, e seu timing cômico é perfeito. Os "Brass Knuckle Boys" também são hilários, suas músicas são terríveis e suas performances ainda piores, o que só complementa ao absurdo do filme, e sua química entre si e com Aoi é incrível, sendo esse improvável relacionamento entre uma jovem diretora kawaii de música e uma banda punk de homens de meia-idade o coração da história. Se embala num filme engraçado e tocante. Possui, porém, vários problemas de ritmo que prejudicam a dinâmica de algumas piadas e do filme em si, fazendo a maior parte de sua primeira metade parecer mais longa do que realmente é. Eventualmente o filme se recompõe e segue de forma estável até o final, impedindo que esse problema arruine a coisa toda. Brass Knuckle Boys é um filmezinho divertido, leve e inofensivo que fala muito sobre fazer o que amamos por amarmos fazê-lo.
Menos preocupado com twists e tecnicismos e mais com relações e introspecções de personagem, o filme de Steins;Gate opta por um ritmo mais lento e paciente que o da série. Ciente do quão perfeito o final do anime foi, ele não tenta alterá-lo de qualquer maneira ou servir como substituto, mas como um aprofundamento. É uma adição mais que bem-vinda ao cânone, tomando Makise Kurisu como a protagonista dessa vez, focando nos devaneios do que Okabe significa para seus companheiros, e por fim, o que significa pra ela - como uma alma gêmea para a série, que tão ferozmente explorou o que esses personagens significam para Okabe. Fala sobre memória, esquecimento, e essencialmente o impacto que uma única existência pode ter em tantos corações. Pode não ser tão épico quando "The Disappearance of Haruhi Suzumiya" (ao qual a trama é curiosamente semelhante) ou arrebatador quanto os filmes de Madoka Magica, mas em sua bonança, encontra seu próprio lugar de qualidade; em vez de climax, valoriza momentos mais tranquilos, dissertativos e poeticos com seus personagens como os pontos chave da narrativa, e resulta numa breve e sentimental extensão do final de Steins;Gate.
Em seu primeiro filme animado, Shunji Iwai conta a história de como Hana e Alice se conheceram, e é tão adorável quanto o primeiro. Conforme as duas investigam um suposto caso de assassinato que ocorreu na escola, seus tropeços as colocam em situações problemáticas e engraçadas, onde se envolvem com diferentes tipos de lugares e pessoas inusitadas, e Iwai usa dos desajeitos de suas personagens pra desenvolver seu comentário humanista focado na juventude de um jeito que só ele sabe fazer. A animação é bem diferenciada do anime de costume, adotando uma pegada mais autoral com a modelagem de seus personagens e lindas pinturas como cenário. Embora eu, pessoalmente, ainda seja mais fã de outros estilos estéticos de anime, não dá pra negar de este é o charme visual da obra.
Tem a sensação de ser o filme mais positivo de Shunji Iwai. Claro, além de sua obra-prima depressiva "Tudo Sobre Lily Chou-Chou", suas outras duas obras que eu vi até agora não são nada que vá te deixar num mal estado após assisti-las, mas ainda sim, elas são relativamente tristes, mesmo que por fim acolhedoras. Hana & Alice é muito mais alegre e seguro, e em como muitos de seus filmes, gira em torno da relação entre duas personagens femininas; as personagens titulares, que vêm a enfrentar seus próprios dilemas sobre família, carreira e enfim, amor. É uma história bonita guiada por atrizes carismáticas e capturada por uma fotografia maravilhosa, com as lentes de Noboru Shinoda mais uma vez destacando o poder da luz natural, com as sútis - mas notáveis - pontuações de cor durante o filme, especialmente o lilás que o céu nublado do fim de tarde pinta sobre a imagem. Peca apenas em ser o filme menos aprofundado de Iwai quando se trata de seus conflitos externos, mas fora isso, é mais uma obra delicada e amável que vale a pena conferir.
Antes de falar sobre o filme propriamente dito, vou me dirigir a um assunto relacionado: "tal coisa vai arruinar a minha infância" é uma das frases mais estúpidas já ditas pelo ser humano, quando discutindo cinema. Um reboot não vai arruinar a sua infância. Mesmo que seja um reboot horrível, o filme que você viu na sua infância ainda vai estar lá, com a mesma qualidade de sempre, muito bem preservado. A única coisa que pode arruinar a sua infância é você rever um filme que você amava quando era criança e descobrir que ele é ruim. Como Mogli 2. Dito isso... "Os Caça-Fantasmas" nunca foram parte da minha infância. O nível de nostalgia que eu tenho com essa franquia é absolutamente zero. Eu assisti pequeno demais pra me lembrar de qualquer coisa do filme além daquele bicho verde e o Marshmallow. Aí saíram as críticas desta nova versão (que até então vinha ganhado um amontoado de ódio inacreditável), e eu li críticas positivas e negativas, mas pra resumir tudo, as positivas afirmavam que é um bom, divertido e original filme mesmo que não seja tão bom quanto o original; já as negativas diziam... "não é tão bom quanto o original". A maioria das opiniões negativas sobre o filme eram uma enrolação de parágrafos que descontruídos não fazem nada além de comparar o filme com seu antepassado. Com isso em vista, eu pensei: "hm, esta é uma ótima oportunidade pra ~não~ reassistir o original". Em certo momento desse filme, que envolve um certo cameo, Abby (Melissa McCarthy) diz "Nós não temos obrigação nenhuma de impressionar ele". Eu achei essa fala bastante 4ª parede. Nem todo reboot é Millennium, ou Dredd. Não tem absolutamente nada de errado um reboot ser inferior ao material original, tá tudo bem em ser só um ótimo filme. Nem que eu lembrasse do primeiro "Caça-Fantasmas" eu iria comparar com a qualidade dessa nova versão, vou apenas dizer que esse filme aqui é um ótimo filme. É divertido, tem excelentes personagens, uma ironia sagaz contra as controvérsias que ele mesmo gerou, muito bem dirigido, efeitos visuais lindos e um 3D que não é um mero artifício lucrativo, mas sim um meio linguagem cinematográfica em prol do filme. É claro que ele tem tropeços, mas a maioria deles são apenas algumas piadas ali e aqui que acabam não funcionando, erros que são logo compensados pela qualidade do filme. É claro que nem todo mundo vai gostar, mas pra dizer que é ruim do jeito que todo mundo acreditou que ia ser... Aí tem que ser muito metido a besta mesmo.
Eu amo as sequências de Rocky - menos o quinto - como qualquer um, mas Creed nocauteia todas elas. Creed sobe ao nível do filme original, e como alguém cujo filme favorito é Rocky, eu não poderia estar mais orgulhoso em dizer que Ryan Coogler fez a fita mais digna, de longe, desse legado lendário. Não apenas isso, o filme funciona por conta própria - assim como seu protagonista, ele honra o legado de seu antecessor ao mesmo tempo que não se prende na sombra dele. Creed é uma história de underdog tão importante para essa geração quanto Rocky foi nos anos 70. O trabalho de personagens é maravilhoso, as atuações fantásticas - vai nessa, Sly! -, a direção e a fotografia são definitivamente as melhores e mais sólidas dessa franquia de 5 décadas de idade. Palmas para Coogler, para Michael B. Jordan e para Sylvester Stallone, por não apenas ter criado um dos melhores e mais amáveis personagens da ficção, mas também por ser um dos únicos (talvez o único) cineasta a cuidar tão bem de uma saga que passou por cada década desde 70 e usou as marcas estéticas de todas elas, fazendo tudo isso possível.
O que era pra ser o novo "X-Men: Primeira Classe" acabou sendo o novo "Hulk" de Ang Lee. O maior problema do filme nem é ele tentar transformar Quarteto Fantástico num sci-fi alternativo cultão - até certa parte do filme, isso funciona e muito bem. O problema é que de repente ele despiroca e ninguém sabe mais o que quer fazer e vira o pior filme do universo. Esse filme é pior do que os piores filmes que já assisti porque esses filmes são ruins do começo ao fim; se eu quisesse eu poderia simplesmente parar de ver porque do primeiro segundo dava pra saber que ia ser tudo um desastre. Esse filme não. Ele começa bem, mostra todo o potencial enorme que tem, te deixa interessado pra continuar vendo, e aí pega todos os seus sonhos e esmaga. Imagine que um filme do Batman começasse sendo um "Batman Begins", e pouco depois do meio, de repente, virasse um "Batman & Robin". Esse é o "Quarteto Fantástico" de Josh Trank.
Um planeta moribundo. Um mundo em que as pessoas se comunicam com violência em vez de palavras. Um mundo do qual os recursos naturais são arrancados pelo homem. Um mundo em que as pessoas matam umas às outras pra conseguirem o que precisam, em vez de se ajudarem pra alcançá-lo juntas. Um mundo em que os homens abusam das mulheres e as veem como nada além de objetos de prazer e reprodução. Isso deve soar familiar, porque afinal, é a realidade. É o mundo em que vivemos que acabei de descrever. Mas é, isso funciona pro mundo de Mad Max também. O quarto filme no universo de George Miller traz um discurso bastante feminista, o que pra mim foi ainda mais interessante do que a imparável e destruidora ação. Ele destaca uma forte personagem feminina principal interpretada por Charlize Theron - que praticamente rouba o filme tanto quanto Christoph Waltz roubou "Django" - e um grupo de garotas mais fragilizadas, vitimizadas, que veem a si mesmas como fracas, mas eventualmente descobrem que lá no fundo podem ser tão fortes quanto a Imperatriz Furiosa de Theron. É um mundo governado por homens, e vê-se nas meninas a grande relutância em confiar o Max de Tom Hardy e seu improvável aliado, porém com o tempo, eles provam ser, acima de homens, seres humanos em sofrimento também - mesmo que de uma forma diferente - e que não se consideram acima de ninguém. Alguns momentos chave bastante chamativos são quando o vilão, Immortan Joe, mostra uma preocupação muito maior com o fato de seu filho ser um homem ou não do que com a vida do bebê em si, e em contraponto à isso, a cena em que a "Dag" diz que seu bebê será Joe Jr., e "ele vai ser tão feio", e a Protetora das Sementes responde: "Pode ser uma menina". Eu poderia enrolar sobre o quão bem feitos os "stunts" são, o quão de-tirar-o-fôlego a ação é, a magnificência da perfomance de Hardy, a excelente trilha sonora, a fotografia maravilhosa, mas pff, não vamos nos aprofundar tanto nisso porque afinal todos sabíamos que isso tudo estaria aqui. O futuro pode pertencer aos loucos, mas esse filme realmente pertence às garotas.
... E além disso, quando o seu filme cult estrangeiro vanguardista pós-moderno tiver um louco tocando a trilha sonora do filme numa guitarra que solta fogo em cima de um carro durante o filme inteiro, aí a gente conversa.
"Os Vingadores" foi um evento cinematográfico simplesmente histórico. Foi o marco de que esse experimento audacioso da Marvel deu certo. É claro que uma sequência não teria o mesmo exato efeito que o primeiro, pelo motivo simples de que já não é mais a primeira vez. Isso não impede, porém, o filme de ser melhor. E sim, "Vingadores: Era de Ultron" é [muito] superior ao primeiro filme, o que automaticamente o coloca como a obra máxima da Marvel Studios. Se o primeiro longa se focou em dar um desenvolvimento impecável a uma trama sobre união acima das diferenças pelo bem maior, o segundo mergulha num discurso muito mais profundo. O conceito da união ainda está muito presente, afinal é a essência do filme, porém essa trama levanta questões sobre humanidade, medos, interpretações radicais de paz e suas consequências, e a própria existência. É sim mais sombrio, e não é "um pouco"; claro que as piadas ainda estão lá aos montes, mas esse longa trata de assuntos mais sérios, e assim ele é. O trabalho com os personagens aqui é um grande passo à frente do que Whedon fez no antecessor; os conflitos (externos e internos) são maiores e mais inteligentemente plantados, e cada personagem tem seu devido tempo na tela - fãs de um certo arqueiro ficarão satisfeito com o jeito que ele é retratado. Na discussão de "por que Tony Stark é quem cria Ultron?", justifiquei essa questão em várias ocasiões, e a verdade é que o filme se baseia na mesma essência do que falei nessas discussões, mas ele a estrutura de uma forma ainda melhor do que eu esperava. Em resumo, Stark é um personagem que quer estar por cima, e com os eventos de "Os Vingadores" ele é colocado lá em baixo. Em "Homem de Ferro 3" ele persistentemente tenta se colocar por cima novamente (o vício em criar novas armaduras com nova tecnologia, etc), mas dessa vez falha. Em "Era de Ultron", Tony está tão obcecado em estar no topo que ele tem que ser aquele que vai proteger o mundo de ataques alienígenas com o seu "Programa Ultron", e ele leva esse plano adiante sem nenhuma consideração pelas consequências, e eis o resultado. Quanto às novas adições no elenco: Os gêmeos Maximoff estão excelentes - Elizabeth Olsen sendo o destaque com sua Feiticeira Escarlate - e o Visão... Ah, o Visão. Quero tirar um momento, porém, pra fazer a inevitável comparação: Mercúrio de "X-Men: Dias de um Futuro Esquecido" ou Mercúrio de "Era de Ultron"? Vai ser uma afirmação bastante controversa, mas eu vou com o Mercúrio de Aaron Taylor-Johnson nesse filme. Em questão de poderes, claro, DOFP usa o Mercúrio muito melhor, e nenhuma cena aqui bate a cena da cozinha, mas em questão de personagem e interpretação, "Era de Ultron" está bem acima. Pra começar, o Mercúrio do Evan Peters, apesar de todos amarmos, convenhamos, não é um grande personagem. É um moleque engraçadão, carismático e fora-da-lei, e só. Não temos muito desenvolvimento nele, e mesmo que tenhamos todos ficado de queixo caído com o tal, essa impressão toda foi mais pelo uso de seus poderes - se pararmos pra analisar o personagem em si, ele é clichê e não tem nada demais. O Mercúrio de "Era de Ultron" é mais sério, complexo emocionalmente, mórbido, monossilábico, claramente uma pessoa em dor, e muito mais desenvolvido que a versão da Fox; e Taylor-Johnson o interpreta maravilhosamente. Grande parte desse desenvolvimento do personagem se deve inclusive a um detalhe essencial que a outra versão não tem: a irmã, Wanda. Na parte técnica, tudo evolui. A direção de Joss Whedon é mais segura e madura, a montagem e os efeitos muito mais consistentes, e a trilha sonora é o acerto definitivo da Marvel nessa área. Desde o primeiro "Homem de Ferro", apesar de todas as maravilhas, o estúdio têm feito um péssimo trabalho em relação à identidade sonora. Cada filme do Homem de Ferro teve um compositor diferente, e cada compositor mudou o tema dele nos três filmes, e o mesmo ocorreu com Thor. Felizmente, mesmo que Alan Silvestri não tenha retornado aqui, a dupla composta por um dos maiores talentos jovens da área, Brian Tyler, e um dos grandes mestres da música cinematográfica Danny Elfman não só permanece fiel ao trabalho de Silvestri, trabalhando em cima de seu tema composto pro primeiro filme, como também não ignoram que cada Vingador tem sua identidade musical. Os temas do Homem de Ferro (do terceiro filme), Capitão América e Thor (The Dark World) aparecem nos momentos gloriosos de seus personagens, e criam a identidade sonora nostálgica que faltou ao antecessor. Por fim, vou encerrar com a frase que, para mim, foi a mais marcante do filme:
Resident Evil 6: O Capítulo Final
3.0 952 Assista Agora"Eu sou a criança que ela fora; você é a mulher que ela teria sido."
Desde o início da franquia, há mais de dez anos atrás, sempre foi muito claro que mesmo seguindo uma linha narrativa sólida, cada "Resident Evil" é sua própria obra. Mesmo quando Paul W.S. Anderson retornou à cadeira de diretor no quarto capítulo, trazendo de volta consigo a estilização gamer do original, ele ainda manteve uma clara distinção estética, estrutural e por fim artística entre "Recomeço" e "Retribuição". Sendo isto apenas um dos aspectos que diferencia Resident Evil da sua típica franquia blockbuster - e possivelmente um dos responsáveis pela sua má fama -, "O Capítulo Final" chega como o mais original e resoluto da série.
Desta vez, estamos aprendendo a verdade por trás da história de Alice, e escapando do reino da artificialidade em direção ao da realidade, a estética de W.S. Anderson deixa de ser estável, simétrica, limpa e lenta a nível autocontemplativo, para se tornar mexida, suja e acelerada a nível frenético. Implacável, Anderson coloca seu espectador dentro de seu caos controlado em cenas de ação com infinidades de planos curtos - porém calculados - em um intervalo ínfimo de cortes que, junto com o 3D atmosférico, a soberba trilha synth de Paul Haslinger e o som destruidor transformam cada sequência numa frenesi hipnótica magnífica, fazendo do filme o filho rebelde de "Mad Max: Estrada da Fúria" com "Adrenalina". Ao olho desacostumado, vai inicialmente passar como incompetência dada a dificuldade para entender a ação, mas uma vez ajustada a vista, torna-se perceptível que nada de confuso há na filmagem e na edição, e que o que W.S. Anderson está fazendo é desconstruir o próprio conceito de imagem: ele não mostra imagem aos olhos, ele a implanta na mente.
O longa também conta com os set pieces - ou fases, como preferir - mais marcantes da série, e cada um se aproveita da linguagem à sua própria maneira; a intensidade da trilha, a ausência da mesma, da mixagem de som, a velocidade inacreditável da montagem, a iluminação diegética, etc... Cada aspecto funciona de forma diferente para causar impactos diferentes no público. Empolgação, tensão, sustos, emoção, o pacote completo. A experiência estética se finaliza com a cereja do bolo que são os efeitos visuais espetaculares - uma verdadeira novidade para "Resident Evil" -, que calham a vir neste capítulo, após uma franquia inteira focando em realidades falsas arquitetadas, é conveniente que o filme que finalmente nos traz para a realidade, traga em si um festival de efeitos hiperrealistas.
Este episódio também sucede como o maior êxito de W.S. Anderson como roteirista; há uma significativa melhora em diálogos, mas claro que este não é o foco. Como um verdadeiro apropriador da estrutura de videogames (antes desses se tornarem cinematográficos), Anderson avança sua trama com ação em vez de conversa fiada. Alice, chegando à conclusão de sua jornada, se torna um monumento femininista: ela é posta no centro de um discurso sobre instrumentalidade, tendo sido por todos esses anos perseguida e tratada como uma propriedade de homens corporativos, enfim chega a hora de descobrir quem ela realmente é, e entre a corporação que tenta ditar o que ela deve ser e sua própria imagem sussurrando em sua alma, Alice alcança uma autodescoberta que a solidifica firmemente como um ícone do poder feminino. Seu arco faz de "O Capítulo Final" um filme essencialmente coming-of-age, estando Anderson discursando sobre a maturidade de Alice, traçando um paralelo da história desta com a de todas as mulheres que tiveram suas infâncias roubadas por terem entrado na indústria do entretenimento muito jovens - incluindo da esposa, a própria Alice, Milla Jovovich - e as que são exploradas por empresas capitalistas comandadas por homens de poder. Paul projeta a imagem da mulher na filha, Ever Anderson, e assim transforma Alice em um símbolo de empoderamento tanto para as pequenas garotas que ainda vão crescer, quanto para as mulheres já maduras que sobrevivem a este mundo.
Eu vi apenas três filmes em IMAX 3D até hoje - incluindo "Rogue One: Uma História Star Wars" - e deles, "Resident Evil 6: O Capítulo Final" foi o mais esmagador deles. Ainda mais que uma experiência imersiva extasiante e uma conquista autoral anti-corporativa dentro da indústria Hollywoodiana, "Resident Evil 6: O Capítulo Final" encerra a história de Alice como uma de maturidade - nada mais digno para uma franquia que acompanhou a maturidade da maioria de seus fãs (inclusive a minha) desde crianças.
xXx: Reativado
2.6 377 Assista AgoraRetoma o tom satírico do filme original e se prova um dos melhores exemplares do que um filme de ação moderno tem que ser, e a essência da franquia xXx: uma celebração do cinema como diversão absurda, sem fôlego e sem compromisso. Um excelente elenco diversificado liderado pelo latino mais fodão de Hollywood, garotas que são muito mais que rostinhos bonitos, stunts e coreografias alucinantes capturadas por uma direção concreta realçada por um 3D espetacular, e uma autoconsciência que permite ao filme se divertir o máximo possível com a própria galhofa, "xXx: Reativado" é um puta filme do caralho.
Moonlight: Sob a Luz do Luar
4.1 2,4K Assista AgoraEssencialmente poético, extremamente bem dirigido, perfomances poderosas que são o coração e alma do filme - principalmente de Mahershala Ali (criminosamente desperdiçado), linda fotografia e trilha, mas o roteiro não parece conseguir mergulhar completamente na complexidade dos sentimentos desses personagens, majoritariamente porque não houve tempo o suficiente. O filme se apresenta como "a história de uma vida", mas não parece a história de uma vida e sim pequenos seletos pedaços da mesma, que por si próprios não conseguem explorar o potencial completo da trama. O filme não tem nem duas horas de duração, deveria ter sido muito maior que isso. É uma obra de qualidade e competência, mas no fim não é melhor do que o seu típico filme Oscar bait.
Shin Godzilla
3.6 153 Assista Agora31 filmes. Existem 31 filmes de Godzilla. Nós não estamos falando de algum personagem mega carismático com uma personalidade forte que desperta um amor imenso do público que alimenta seu sucesso. Não estamos falando de uma franquia situada num universo hiper rico com infinitas possibilidades de desenvolvimento e portas abertas para incontáveis filmes derivados. Não estamos falando nem de uma gigante sensação comercial em vendas de brinquedos e mídias alternativas. James Bond, Harry Potter, Star Wars, universo Marvel, não é nada desse tipo. Estamos falando de um puta lagartão que cospe laser destruindo a cidade.
TRINTA E UM FILMES DISSO.
E vai ter mais, sempre vai ter mais, nunca vai parar. Por que? Pelo mesmo motivo que todo filme de Godzilla, até mesmo o original de Ishiro Honda, tende a ser criticamente divisivo: Godzilla não é um simples filme. É muito mais que isso. É uma obra livre das regras limitadoras de roteirização.
Temos uma lotação de personagens que formam um coletivo que é o protagonista: o Japão. Cada político, cada sujeito é uma representação que nos confinamentos do grupo se torna um estudo deste personagem maior que é o país, diante de uma ameaça nuclear beirando a onipotência. Destruição não é um espetáculo, não é entretenimento, é dolorosa e sofrível. E enfrentando uma arma de destruição em massa ambulante, a nação se vê impotente, enrolada em burocracias que a impedem de agir de forma prática - tal como o cinema mainstream é limitado por regras narrativas. A música não comemora o caos, mas sim o anuncia em tons graves de terror e o lamenta através de desesperadas orações por ajuda. A direção do mestre Hideaki Anno captura a tragédia nos olhares desamparados em paralelo ao imparável Deus encarnado que avança para Tokyo sem um motivo nítido, colocando frequentemente a escala colossal da criatura em contraste à diminutividade inofensiva do homem. Anno enquadra Godzilla como se ele fosse um aranha-céu na paisagem de Tóquio, e em muitas vezes sua imagem imprime a sensação de que os humanos estão atacando a própria cidade, e também de que a cidade, num acesso de fúria, está se auto-destruindo. A montagem dita o ritmo desesperado da infraestrutura política japonesa em busca de uma salvação. A fotografia pinta quadros de desastre e luto.
Godzilla é muito mais que um filme. É um réquiem para todas as vidas perdidas nos desastres japoneses. Uma metáfora viva e cuspidora de fogo para a natureza autodestrutiva da humanidade e, como Anno tão brilhantemente declara com este capítulo, um monumento. Um monumento para Hiroshima, Nagasaki, Fukushima, e todos os desastres que o Japão já teve e terá de enfrentar, todas as ruínas das quais eles já se ergueram. Nisto, este "Novo Godzilla" aponta o dedo na cara dos responsáveis por tal sofrimento como nenhum dos (TRINTA!!!!!) filmes anteriores fez; criticando a infraestrutura política japonesa, a exploração americana da mesma, a pressão profissional constante no estilo de vida nipônico. "Faça como quiser", é a chave para deter Godzilla, mas "isso é tão difícil de se fazer neste país". O homem é mais assustador do que Godzilla.
Novo. Verdadeiro. Deus. Os três significados principais da palavra que batiza este filme, essencialmente definem Godzilla como cinema. Cinema novo em seu pós-modernismo; cinema verdadeiro como uma declaração audiovisual que, através da linguagem, transcende limitações técnicas e por fim, atemporal como um conceito e uma ideia, assim como Deus.
The Shonen Merikensack
3.7 4Hilariamente caricato e inegavelmente cheio de coração! Eu não conseguia parar de rir pela maior parte do filme! Lotado de piadas em ritmo rápido nas quais as performances do elenco são essenciais, e todos acertam em cheio, principalmente Aoi Miyazaki. Sério, essa garota é o ser mais precioso do planeta Terra. Sua fofura cai como uma luva na personagem, que é desesperada, atrapalhada e gradativamente se torna durona e responsável - mas nunca uma gota menos adorável -, e seu timing cômico é perfeito. Os "Brass Knuckle Boys" também são hilários, suas músicas são terríveis e suas performances ainda piores, o que só complementa ao absurdo do filme, e sua química entre si e com Aoi é incrível, sendo esse improvável relacionamento entre uma jovem diretora kawaii de música e uma banda punk de homens de meia-idade o coração da história. Se embala num filme engraçado e tocante. Possui, porém, vários problemas de ritmo que prejudicam a dinâmica de algumas piadas e do filme em si, fazendo a maior parte de sua primeira metade parecer mais longa do que realmente é. Eventualmente o filme se recompõe e segue de forma estável até o final, impedindo que esse problema arruine a coisa toda. Brass Knuckle Boys é um filmezinho divertido, leve e inofensivo que fala muito sobre fazer o que amamos por amarmos fazê-lo.
A Invasora
3.4 705Eu respeito muito a minha mãe pra dar qualquer crédito a esse filme asqueroso.
Steins;Gate Fuka Ryōiki no Déjà vu
4.2 21Menos preocupado com twists e tecnicismos e mais com relações e introspecções de personagem, o filme de Steins;Gate opta por um ritmo mais lento e paciente que o da série. Ciente do quão perfeito o final do anime foi, ele não tenta alterá-lo de qualquer maneira ou servir como substituto, mas como um aprofundamento. É uma adição mais que bem-vinda ao cânone, tomando Makise Kurisu como a protagonista dessa vez, focando nos devaneios do que Okabe significa para seus companheiros, e por fim, o que significa pra ela - como uma alma gêmea para a série, que tão ferozmente explorou o que esses personagens significam para Okabe. Fala sobre memória, esquecimento, e essencialmente o impacto que uma única existência pode ter em tantos corações. Pode não ser tão épico quando "The Disappearance of Haruhi Suzumiya" (ao qual a trama é curiosamente semelhante) ou arrebatador quanto os filmes de Madoka Magica, mas em sua bonança, encontra seu próprio lugar de qualidade; em vez de climax, valoriza momentos mais tranquilos, dissertativos e poeticos com seus personagens como os pontos chave da narrativa, e resulta numa breve e sentimental extensão do final de Steins;Gate.
O Caso de Hana e Alice
3.8 20Em seu primeiro filme animado, Shunji Iwai conta a história de como Hana e Alice se conheceram, e é tão adorável quanto o primeiro. Conforme as duas investigam um suposto caso de assassinato que ocorreu na escola, seus tropeços as colocam em situações problemáticas e engraçadas, onde se envolvem com diferentes tipos de lugares e pessoas inusitadas, e Iwai usa dos desajeitos de suas personagens pra desenvolver seu comentário humanista focado na juventude de um jeito que só ele sabe fazer. A animação é bem diferenciada do anime de costume, adotando uma pegada mais autoral com a modelagem de seus personagens e lindas pinturas como cenário. Embora eu, pessoalmente, ainda seja mais fã de outros estilos estéticos de anime, não dá pra negar de este é o charme visual da obra.
Hana e Alice
3.7 22 Assista AgoraTem a sensação de ser o filme mais positivo de Shunji Iwai. Claro, além de sua obra-prima depressiva "Tudo Sobre Lily Chou-Chou", suas outras duas obras que eu vi até agora não são nada que vá te deixar num mal estado após assisti-las, mas ainda sim, elas são relativamente tristes, mesmo que por fim acolhedoras. Hana & Alice é muito mais alegre e seguro, e em como muitos de seus filmes, gira em torno da relação entre duas personagens femininas; as personagens titulares, que vêm a enfrentar seus próprios dilemas sobre família, carreira e enfim, amor. É uma história bonita guiada por atrizes carismáticas e capturada por uma fotografia maravilhosa, com as lentes de Noboru Shinoda mais uma vez destacando o poder da luz natural, com as sútis - mas notáveis - pontuações de cor durante o filme, especialmente o lilás que o céu nublado do fim de tarde pinta sobre a imagem. Peca apenas em ser o filme menos aprofundado de Iwai quando se trata de seus conflitos externos, mas fora isso, é mais uma obra delicada e amável que vale a pena conferir.
Seu Nome
4.5 1,4K Assista AgoraTodas as lágrimas que eu já reprimi na minha vida... Eu chorei hoje.
The Machine Girl
3.4 56>>>>>>>>>> Boyhood.
Águas Rasas
3.4 1,3K Assista AgoraEu só to aqui me perguntando quando foi a última vez que eu fui no cinema e não ouvi uma música da Sia nos créditos.
Spring Breakers: Garotas Perigosas
2.4 2,0K Assista AgoraEu evitei esse filme por tanto tempo porque todas as pessoas que eu já conheci na minha vida me falaram que ele era horrível, e pra que?
Pra descobrir que é uma das maiores e mais importantes obras-primas desse século.
Esquadrão Suicida
2.8 4,0K Assista AgoraDeu
tudo
errado.
https://www.youtube.com/watch?v=FkZJ5cZyYeU
Caça-Fantasmas
3.2 1,3K Assista AgoraAntes de falar sobre o filme propriamente dito, vou me dirigir a um assunto relacionado: "tal coisa vai arruinar a minha infância" é uma das frases mais estúpidas já ditas pelo ser humano, quando discutindo cinema. Um reboot não vai arruinar a sua infância. Mesmo que seja um reboot horrível, o filme que você viu na sua infância ainda vai estar lá, com a mesma qualidade de sempre, muito bem preservado. A única coisa que pode arruinar a sua infância é você rever um filme que você amava quando era criança e descobrir que ele é ruim. Como Mogli 2.
Dito isso... "Os Caça-Fantasmas" nunca foram parte da minha infância. O nível de nostalgia que eu tenho com essa franquia é absolutamente zero. Eu assisti pequeno demais pra me lembrar de qualquer coisa do filme além daquele bicho verde e o Marshmallow. Aí saíram as críticas desta nova versão (que até então vinha ganhado um amontoado de ódio inacreditável), e eu li críticas positivas e negativas, mas pra resumir tudo, as positivas afirmavam que é um bom, divertido e original filme mesmo que não seja tão bom quanto o original; já as negativas diziam... "não é tão bom quanto o original". A maioria das opiniões negativas sobre o filme eram uma enrolação de parágrafos que descontruídos não fazem nada além de comparar o filme com seu antepassado. Com isso em vista, eu pensei: "hm, esta é uma ótima oportunidade pra ~não~ reassistir o original".
Em certo momento desse filme, que envolve um certo cameo, Abby (Melissa McCarthy) diz "Nós não temos obrigação nenhuma de impressionar ele". Eu achei essa fala bastante 4ª parede. Nem todo reboot é Millennium, ou Dredd. Não tem absolutamente nada de errado um reboot ser inferior ao material original, tá tudo bem em ser só um ótimo filme.
Nem que eu lembrasse do primeiro "Caça-Fantasmas" eu iria comparar com a qualidade dessa nova versão, vou apenas dizer que esse filme aqui é um ótimo filme. É divertido, tem excelentes personagens, uma ironia sagaz contra as controvérsias que ele mesmo gerou, muito bem dirigido, efeitos visuais lindos e um 3D que não é um mero artifício lucrativo, mas sim um meio linguagem cinematográfica em prol do filme.
É claro que ele tem tropeços, mas a maioria deles são apenas algumas piadas ali e aqui que acabam não funcionando, erros que são logo compensados pela qualidade do filme.
É claro que nem todo mundo vai gostar, mas pra dizer que é ruim do jeito que todo mundo acreditou que ia ser... Aí tem que ser muito metido a besta mesmo.
Que venham as sequências!
Creed: Nascido para Lutar
4.0 1,1K Assista AgoraEu amo as sequências de Rocky - menos o quinto - como qualquer um, mas Creed nocauteia todas elas. Creed sobe ao nível do filme original, e como alguém cujo filme favorito é Rocky, eu não poderia estar mais orgulhoso em dizer que Ryan Coogler fez a fita mais digna, de longe, desse legado lendário. Não apenas isso, o filme funciona por conta própria - assim como seu protagonista, ele honra o legado de seu antecessor ao mesmo tempo que não se prende na sombra dele. Creed é uma história de underdog tão importante para essa geração quanto Rocky foi nos anos 70.
O trabalho de personagens é maravilhoso, as atuações fantásticas - vai nessa, Sly! -, a direção e a fotografia são definitivamente as melhores e mais sólidas dessa franquia de 5 décadas de idade. Palmas para Coogler, para Michael B. Jordan e para Sylvester Stallone, por não apenas ter criado um dos melhores e mais amáveis personagens da ficção, mas também por ser um dos únicos (talvez o único) cineasta a cuidar tão bem de uma saga que passou por cada década desde 70 e usou as marcas estéticas de todas elas, fazendo tudo isso possível.
Cyborg She
3.9 48 Assista AgoraÉ demais pro meu kokoro.
O Agente da U.N.C.L.E.
3.6 538 Assista AgoraEspero que não caia no destino do (ótimo) Esquadrão Classe-A, e ganhe sequências.
Doce Vingança 3: A Vingança é Minha
2.7 392Melhor que o segundo, não tão bom quanto o primeiro.
Quarteto Fantástico
2.2 1,7K Assista AgoraO que era pra ser o novo "X-Men: Primeira Classe" acabou sendo o novo "Hulk" de Ang Lee. O maior problema do filme nem é ele tentar transformar Quarteto Fantástico num sci-fi alternativo cultão - até certa parte do filme, isso funciona e muito bem. O problema é que de repente ele despiroca e ninguém sabe mais o que quer fazer e vira o pior filme do universo. Esse filme é pior do que os piores filmes que já assisti porque esses filmes são ruins do começo ao fim; se eu quisesse eu poderia simplesmente parar de ver porque do primeiro segundo dava pra saber que ia ser tudo um desastre. Esse filme não. Ele começa bem, mostra todo o potencial enorme que tem, te deixa interessado pra continuar vendo, e aí pega todos os seus sonhos e esmaga. Imagine que um filme do Batman começasse sendo um "Batman Begins", e pouco depois do meio, de repente, virasse um "Batman & Robin". Esse é o "Quarteto Fantástico" de Josh Trank.
Chappie
3.6 1,1K Assista AgoraMega-análise em vídeo https://www.youtube.com/watch?v=myNPh4KLp04
Mad Max: Estrada da Fúria
4.2 4,7K Assista AgoraUm planeta moribundo. Um mundo em que as pessoas se comunicam com violência em vez de palavras. Um mundo do qual os recursos naturais são arrancados pelo homem. Um mundo em que as pessoas matam umas às outras pra conseguirem o que precisam, em vez de se ajudarem pra alcançá-lo juntas. Um mundo em que os homens abusam das mulheres e as veem como nada além de objetos de prazer e reprodução. Isso deve soar familiar, porque afinal, é a realidade. É o mundo em que vivemos que acabei de descrever. Mas é, isso funciona pro mundo de Mad Max também.
O quarto filme no universo de George Miller traz um discurso bastante feminista, o que pra mim foi ainda mais interessante do que a imparável e destruidora ação. Ele destaca uma forte personagem feminina principal interpretada por Charlize Theron - que praticamente rouba o filme tanto quanto Christoph Waltz roubou "Django" - e um grupo de garotas mais fragilizadas, vitimizadas, que veem a si mesmas como fracas, mas eventualmente descobrem que lá no fundo podem ser tão fortes quanto a Imperatriz Furiosa de Theron. É um mundo governado por homens, e vê-se nas meninas a grande relutância em confiar o Max de Tom Hardy e seu improvável aliado, porém com o tempo, eles provam ser, acima de homens, seres humanos em sofrimento também - mesmo que de uma forma diferente - e que não se consideram acima de ninguém. Alguns momentos chave bastante chamativos são quando o vilão, Immortan Joe, mostra uma preocupação muito maior com o fato de seu filho ser um homem ou não do que com a vida do bebê em si, e em contraponto à isso, a cena em que a "Dag" diz que seu bebê será Joe Jr., e "ele vai ser tão feio", e a Protetora das Sementes responde: "Pode ser uma menina".
Eu poderia enrolar sobre o quão bem feitos os "stunts" são, o quão de-tirar-o-fôlego a ação é, a magnificência da perfomance de Hardy, a excelente trilha sonora, a fotografia maravilhosa, mas pff, não vamos nos aprofundar tanto nisso porque afinal todos sabíamos que isso tudo estaria aqui. O futuro pode pertencer aos loucos, mas esse filme realmente pertence às garotas.
... E além disso, quando o seu filme cult estrangeiro vanguardista pós-moderno tiver um louco tocando a trilha sonora do filme numa guitarra que solta fogo em cima de um carro durante o filme inteiro, aí a gente conversa.
Vingadores: Era de Ultron
3.7 3,0K Assista AgoraReview em vídeo. https://www.youtube.com/watch?v=30pEYF_Joa0
Vingadores: Era de Ultron
3.7 3,0K Assista Agora"Os Vingadores" foi um evento cinematográfico simplesmente histórico. Foi o marco de que esse experimento audacioso da Marvel deu certo. É claro que uma sequência não teria o mesmo exato efeito que o primeiro, pelo motivo simples de que já não é mais a primeira vez. Isso não impede, porém, o filme de ser melhor. E sim, "Vingadores: Era de Ultron" é [muito] superior ao primeiro filme, o que automaticamente o coloca como a obra máxima da Marvel Studios. Se o primeiro longa se focou em dar um desenvolvimento impecável a uma trama sobre união acima das diferenças pelo bem maior, o segundo mergulha num discurso muito mais profundo. O conceito da união ainda está muito presente, afinal é a essência do filme, porém essa trama levanta questões sobre humanidade, medos, interpretações radicais de paz e suas consequências, e a própria existência. É sim mais sombrio, e não é "um pouco"; claro que as piadas ainda estão lá aos montes, mas esse longa trata de assuntos mais sérios, e assim ele é. O trabalho com os personagens aqui é um grande passo à frente do que Whedon fez no antecessor; os conflitos (externos e internos) são maiores e mais inteligentemente plantados, e cada personagem tem seu devido tempo na tela - fãs de um certo arqueiro ficarão satisfeito com o jeito que ele é retratado. Na discussão de "por que Tony Stark é quem cria Ultron?", justifiquei essa questão em várias ocasiões, e a verdade é que o filme se baseia na mesma essência do que falei nessas discussões, mas ele a estrutura de uma forma ainda melhor do que eu esperava. Em resumo, Stark é um personagem que quer estar por cima, e com os eventos de "Os Vingadores" ele é colocado lá em baixo. Em "Homem de Ferro 3" ele persistentemente tenta se colocar por cima novamente (o vício em criar novas armaduras com nova tecnologia, etc), mas dessa vez falha. Em "Era de Ultron", Tony está tão obcecado em estar no topo que ele tem que ser aquele que vai proteger o mundo de ataques alienígenas com o seu "Programa Ultron", e ele leva esse plano adiante sem nenhuma consideração pelas consequências, e eis o resultado.
Quanto às novas adições no elenco: Os gêmeos Maximoff estão excelentes - Elizabeth Olsen sendo o destaque com sua Feiticeira Escarlate - e o Visão... Ah, o Visão. Quero tirar um momento, porém, pra fazer a inevitável comparação: Mercúrio de "X-Men: Dias de um Futuro Esquecido" ou Mercúrio de "Era de Ultron"? Vai ser uma afirmação bastante controversa, mas eu vou com o Mercúrio de Aaron Taylor-Johnson nesse filme. Em questão de poderes, claro, DOFP usa o Mercúrio muito melhor, e nenhuma cena aqui bate a cena da cozinha, mas em questão de personagem e interpretação, "Era de Ultron" está bem acima. Pra começar, o Mercúrio do Evan Peters, apesar de todos amarmos, convenhamos, não é um grande personagem. É um moleque engraçadão, carismático e fora-da-lei, e só. Não temos muito desenvolvimento nele, e mesmo que tenhamos todos ficado de queixo caído com o tal, essa impressão toda foi mais pelo uso de seus poderes - se pararmos pra analisar o personagem em si, ele é clichê e não tem nada demais. O Mercúrio de "Era de Ultron" é mais sério, complexo emocionalmente, mórbido, monossilábico, claramente uma pessoa em dor, e muito mais desenvolvido que a versão da Fox; e Taylor-Johnson o interpreta maravilhosamente. Grande parte desse desenvolvimento do personagem se deve inclusive a um detalhe essencial que a outra versão não tem: a irmã, Wanda.
Na parte técnica, tudo evolui. A direção de Joss Whedon é mais segura e madura, a montagem e os efeitos muito mais consistentes, e a trilha sonora é o acerto definitivo da Marvel nessa área. Desde o primeiro "Homem de Ferro", apesar de todas as maravilhas, o estúdio têm feito um péssimo trabalho em relação à identidade sonora. Cada filme do Homem de Ferro teve um compositor diferente, e cada compositor mudou o tema dele nos três filmes, e o mesmo ocorreu com Thor. Felizmente, mesmo que Alan Silvestri não tenha retornado aqui, a dupla composta por um dos maiores talentos jovens da área, Brian Tyler, e um dos grandes mestres da música cinematográfica Danny Elfman não só permanece fiel ao trabalho de Silvestri, trabalhando em cima de seu tema composto pro primeiro filme, como também não ignoram que cada Vingador tem sua identidade musical. Os temas do Homem de Ferro (do terceiro filme), Capitão América e Thor (The Dark World) aparecem nos momentos gloriosos de seus personagens, e criam a identidade sonora nostálgica que faltou ao antecessor.
Por fim, vou encerrar com a frase que, para mim, foi a mais marcante do filme:
"I am not Jarvis, and I am not Ultron. I am... I am".
"Vingadores: Era de Ultron" não correspondeu minhas expectativas. Longe disso, ele as superou.