Os 13 Porquês é uma série tão arrastada que quase me fez desistir dela no 3º episódio. Só continuei assistindo porque estava realmente muito curiosa para entender a sua grande repercussão. Fico feliz pelos que foram tocados por ela e inspirados a repensarem suas ações para serem pessoas melhores. Porém, é impossível negar que, como produto artístico, a série é muito problemática. E pior: como meio de discussão de problemas sociais, é extremamente nociva e irresponsável; especialmente para aqueles que sofrem com depressão e pensamentos suicidas (que, por precaução, NÃO deveriam assisti-la).
A premissa de todo o enredo é ridícula por si só: como alguém no estado emocional de Hannah teria a lucidez de planejar a gravação de todas aquelas fitas contando, com tranquilidade e em detalhes, tantos acontecimentos traumáticos? Ainda mais inverossímil é o fato de as pessoas citadas nas gravações terem a coragem (ou burrice) de repassá-las umas para as outras, sendo que o conteúdo delas não só expunha o que queriam esconder, mas, de alguma forma, também as incriminava. E o que dizer da relutância patética de Clay para ouvir o que Hannah tinha a dizer e a hesitação de Tony para explicar toda a situação ao primeiro?
O que citei são só alguns dos vários problemas da trama. Refletindo sobre as inúmeras inverossimilhanças ao longo da temporada, a conclusão que se tem é que os personagens dessa história são meros fantoches de um roteiro pessimamente escrito. Mas o que é mais imperdoável em Os 13 Porquês é a maneira absolutamente simplista e descuidada com que temas como o suicídio e a depressão são tratados. O que dizer da cena horrivelmente gráfica da personagem principal se matando (que vai contra todas as recomendações da Organização Mundial da Saúde de como o suicídio deve ser retratado em obras de ficção)? Ou ainda, como aceitar que, através das fitas, o seu autoextermínio não só a eleve ao posto de heroína, mas que também sirva como vingança àqueles que a machucaram em vida, negando a complexidade dos temas e romantizando tudo o que se passa? (E a vingança é, em grande parte, consumada: Alex tenta se suicidar; e Clay, colocado no meio de tudo aquilo por mais uma construção porca do roteiro, quase faz o mesmo).
Além disso, a decepção de Hannah após a conversa com o conselheiro da escola é mais um equívoco dos criadores, pois estabelece uma falsa noção na mente do espectador: de que a busca por ajuda é ineficaz; o que, na maioria esmagadora das vezes, é incorreto. A procura por profissionais como psicólogos, psiquiatras ou conselheiros é extremamente positiva (e necessária) para pessoas que passam por momentos difíceis e traumáticos ou que são acometidas por doenças psicológicas.
Enfim: nessa série, muito é dito e muito é mostrado, mas nada é desenvolvido com a atenção, preocupação e honestidade que se espera. Nem mesmo os personagens.
13 Reasons Why (1ª Temporada)
3.8 1,5K Assista AgoraOs 13 Porquês é uma série tão arrastada que quase me fez desistir dela no 3º episódio. Só continuei assistindo porque estava realmente muito curiosa para entender a sua grande repercussão. Fico feliz pelos que foram tocados por ela e inspirados a repensarem suas ações para serem pessoas melhores. Porém, é impossível negar que, como produto artístico, a série é muito problemática. E pior: como meio de discussão de problemas sociais, é extremamente nociva e irresponsável; especialmente para aqueles que sofrem com depressão e pensamentos suicidas (que, por precaução, NÃO deveriam assisti-la).
A premissa de todo o enredo é ridícula por si só: como alguém no estado emocional de Hannah teria a lucidez de planejar a gravação de todas aquelas fitas contando, com tranquilidade e em detalhes, tantos acontecimentos traumáticos? Ainda mais inverossímil é o fato de as pessoas citadas nas gravações terem a coragem (ou burrice) de repassá-las umas para as outras, sendo que o conteúdo delas não só expunha o que queriam esconder, mas, de alguma forma, também as incriminava. E o que dizer da relutância patética de Clay para ouvir o que Hannah tinha a dizer e a hesitação de Tony para explicar toda a situação ao primeiro?
O que citei são só alguns dos vários problemas da trama. Refletindo sobre as inúmeras inverossimilhanças ao longo da temporada, a conclusão que se tem é que os personagens dessa história são meros fantoches de um roteiro pessimamente escrito. Mas o que é mais imperdoável em Os 13 Porquês é a maneira absolutamente simplista e descuidada com que temas como o suicídio e a depressão são tratados. O que dizer da cena horrivelmente gráfica da personagem principal se matando (que vai contra todas as recomendações da Organização Mundial da Saúde de como o suicídio deve ser retratado em obras de ficção)? Ou ainda, como aceitar que, através das fitas, o seu autoextermínio não só a eleve ao posto de heroína, mas que também sirva como vingança àqueles que a machucaram em vida, negando a complexidade dos temas e romantizando tudo o que se passa? (E a vingança é, em grande parte, consumada: Alex tenta se suicidar; e Clay, colocado no meio de tudo aquilo por mais uma construção porca do roteiro, quase faz o mesmo).
Além disso, a decepção de Hannah após a conversa com o conselheiro da escola é mais um equívoco dos criadores, pois estabelece uma falsa noção na mente do espectador: de que a busca por ajuda é ineficaz; o que, na maioria esmagadora das vezes, é incorreto. A procura por profissionais como psicólogos, psiquiatras ou conselheiros é extremamente positiva (e necessária) para pessoas que passam por momentos difíceis e traumáticos ou que são acometidas por doenças psicológicas.
Enfim: nessa série, muito é dito e muito é mostrado, mas nada é desenvolvido com a atenção, preocupação e honestidade que se espera. Nem mesmo os personagens.
E isso é frustrante.