Você sabe que algo não está certo com um filme quando quanto mais você pensa nele, pior fica. A prova da mediocridade de Lady Bird é que 80% dos elogios a ele é de gente dizendo: "nossa, me identifiquei bastante", "caramba, lembrou meu relacionamento com minha mãe"
Ou seja, percebe-se que Lady Bird não se sustenta bem como uma obra em-si (obra que é, no máximo, um típico coming-of-age americano acima da média), e sim na relação de identificação do público com aquela história, apostando numa aproximação sentimental entre esses dois polos - e de fato, é quase impossível não se identificar com pelo menos um elemento que o filme aborda. Mas é uma abordagem absurdamente limitada, e até meio desonesta, eu diria.
Pois o filme pega uma história e elementos dela que nos são muito familiares, que estão muito próximos de nós, tornando muito mais palpável para o público curtir, mais fácil de quebrar essa barreira entre os dois polos (público e obra). Tanto que vi muita gente comentando que é um filme "impossível de odiar". Preciso falar mais? Quando eu leio isso, eu já fico com um pé atrás e não vejo pq as pessoas colocam isso necessariamente como um elogio, pois sendo uma típica produção audiovisual "impossível de odiar", escancara claramente uma obra inofensiva, do ponto de vista artístico. É óbvio que um filme pra ser bom (que até acho que Lady Bird seja, de maneira geral) não precisa ser artisticamente profundo, contestador, contemplativo e etc...Mas a questão é: estamos diante de um filme que está sendo cotado pra simplesmente ganhar o maior prêmio do mundo do cinema - tudo bem que a credibilidade do Oscar não é lá essas coisas, mas ainda assim. É claro que o nível de exigência será maior, pois o nível em que ele foi colocado é muito alto.
E também - diante de um roteiro que anda em território tão comum - não ajuda em nada a linguagem totalmente medíocre da obra (você acha estética parecida em qualquer filmezinho indie da Netflix), com uma Greta Gerwig fazendo apenas o feijão com arroz atrás das câmeras (embora devo dar méritos a ela pela boa direção dos atores).
Muitos vão falar que a beleza do filme está na simplicidade e outras baboseiras furadas, mas pra mim, retratar a tal beleza singela é preciso de mais esforço do que foi feito aqui. Isso aqui é medíocre.
Pra endossar meu comentário anterior, passei um tempo analisando o quão fascinante e ao mesmo tempo lamentável é a natureza das críticas negativas que o filme vem recebendo. É fascinante porque denota uma enorme contradição, hipocrisia e também desconhecimento de quem a critica, e me fez refletir muito sobre o poder da arte.
Bom, não é difícil ler por aí gente enchendo a boca pra falar que a arte tem que ser incômoda, subversiva, nos fazer questionar acerca do mundo e blá blá blá...E é aqui que já entra a espetacular hipocrisia: As pessoas que adoram soltar essas palavras, passando-se como "amantes da verdadeira arte", são as mesmas que estão metendo o pau no filme em questão EXATAMENTE porque a obra as incomoda, as tiram da zona de conforto (sobre isso, eu já dissertei mais no meu comentário anterior acerca do filme). Ou seja, a arte aqui está sim causando o que essas pessoas supostamente querem, porém a diferença é que a "vítima" neste caso está sendo exatamente elas, e o pior de tudo é que não conseguem perceber isso, haha!
A conclusão é óbvia: Para essas pessoas, a arte só pode ser incômoda até certo ponto - no caso, para os outros -, pois se bater um pouco de frente com suas visões de mundo (ainda mais com temáticas tão atuais e debatidas, que estão na pauta pública), se perdem totalmente e ficam sem saber onde colocar a cara, restando-os atacar o filme com argumentos desonestos e sem muito embasamento (alguns até criticam a pegada irônica que o McDonagh faz acerca de questões sérias, dizendo que ele supostamente diminui a urgência dos problemas sociais mostrado no filme, sendo que esse tratamento cínico SEMPRE foi o seu estilo como diretor, desde In Bruges. Ele não faz obras panfletárias, amiguinhos) que evidenciam claramente que o problema não é a obra em si, e sim o cidadão que está criticando, que queria uma outra abordagem; uma abordagem que se encaixasse com a narrativa que eles estão acostumados. São covardes e intransigentes.
PS: OBVIAMENTE, me refiro apenas às críticas que criticam certos aspectos do conteúdo do filme (que é de onde vem a maioria da negatividade que a obra vem recebendo). Críticas técnicas são sempre válidas - embora nem sempre corretas -, certamente.
Quanto mais eu penso sobre isso, mais claro fica. O mundo atual está cada vez mais intolerante (em todos os lados), e portanto quando surge algo (uma obra artística, especificamente) que entre em conflito com a visão pessoal de alguém, este não sabe como a absorver, pois está inserido em um contexto de total histeria, onde é obrigado a seguir certas cartilhas toscas que o seu grupinho determina.
Mas sabem o que é o pior de tudo? É que Three Billboards nem é tão polêmico assim, na realidade. Mas ele ganha esse status exagerado exatamente pelo momento tempestuoso em que vivemos, e por isso mesmo eu defini em meu comentário anterior, que se trata de "um filme deveras espinhoso, nos tempos ATUAIS". Principalmente, pois, ao tratar um personagem detestável como um ser humano complexo(ou seja, algo que nem deveria ser motivo de polêmica, pra começo de conversa), algumas pessoas se sentem estranhamente incomodadas pois estão acostumados a ter uma visão completamente maniqueísta do problema, sem capacidade intelectual de analisar o problema geral. Mas, de novo, disso eu já falei em meu comentário anterior também, então não vou prolongar nisso aqui, quem quiser leia lá a pequena análise que faço do personagem do Sam Rockwell.
O resumo disso tudo é que vivemos uma era de mediocridade, e isso está cada vez mais afetando o cinema. Com o mundo cada vez mais porcamente dividido (em especial os EUA, por motivos que todos já conhecem), o ideal/poder artístico acaba sendo sim atingido, e correndo risco se tornar limitado, padronizado. Pois se o artista quiser mostrar um lado de algum problema, o lado contrário vai enchê-lo de rótulos negativos clichês que já conhecemos, enviesando o debate... E isso pode ter consequências futuras sérias.
Three Billboards Outside Ebbing, Missouri é um filme deveras espinhoso, nos tempos atuais. Ao abordar certas temáticas pesadas e que estão em pauta(racismo, brutalidade policial, abuso, violência doméstica e etc) com um estilo cômico e irônico que lhe é peculiar(aliás, percebe-se a forte influência dos Irmãos Coen aqui, não só no humor, mas no próprio desenrolar da narrativa, onde a ação de seus personagens - falhos - é o que conduz a trama, numa espécie de efeito dominó), Martin McDonagh abre espaço para críticas de uma suposta relativização desses problemas, de uma suposta falta de seriedade na retratação desses temas.
Mas felizmente, McDonadh não cai nesse maniqueísmo barato, nos brindando com um roteiro extremamente afiado(a quantidade de bons diálogos aqui é absurda) e cheio de camadas, complexas. E quero dedicar um espaço analisando o arco do personagem Jason Dixon e como o filme ressalta a importância da Intersubjetividade na nossa construção e evolução como indivíduos, a nossa relação com o Outro:
Li certas críticas dizendo que o filme "passa a mão na cabeça" de um policial violento e racista. Isso é uma análise extremamente rasa e desonesta. As atitudes tóxicas de Dixon(vivido brilhantemente por Sam Rockwell) não passam despercebidas - o plano sequência chocante dele indo agredir Red é a prova disso -; a questão é que o McDonagh e o Rockwell o criam de modo propositalmente caricatural, como uma maneira de representar o quão patético ele é, e o resultado é uma retratação cômica e irônica, que sempre foi uma marca do diretor, como já foi dito anteriormente... É uma pena que algumas pessoas não conseguem perceber essas nuances da obra, e partem para conclusões precipitadas, numa busca ridícula de demonizar qualquer coisa que esteja em pauta.
A transformação do personagem também não tem absolutamente nada de forçado; pelo contrário, é bastante palpável. É palpável pois às condições para que ele repensasse seu comportamento são extremamente íntimas, de forte apelo emocional: Primeiramente temos a morte de seu melhor amigo, que lhe deixa uma carta antes de se suicidar, pedindo para que ele melhore como pessoa. Talvez só isso não fosse o bastante para mudar alguém que fora racista a vida inteira, mas em seguida temos a ação desesperada da Mildred(uma inesquecível Frances McDormand) colocando fogo na delegacia, queimando-o e causando um ponto de virada na vida de Dixon.
E aí chegamos numa das cenas mais belas do ano, numa aula de empatia: Quando o Dixon chega no quarto do hospital e vê o Red, ele desaba no choro. Justamente pq Dixon finalmente se vê na pele do outro, da vítima que ele tanto maltratou; ele se encontra em um momento de vulnerabilidade onde enxerga um desafeto como um igual. De certa maneira, em um paradoxo curioso, a ação motivada pelo ódio da Milfred o humanizou(Talvez ódio não só gere ódio, afinal? haha!). E quando Red percebe que aquele é o agressor que o deixou naquele estado, ao invés de caçoar dele ou humilhá-lo, nos entrega um momento emocionalmente belo: Ele se compadece com a situação sofrível do racista Dixon, dando a ele uma tremenda lição de humanidade, esquecendo naquele momento às mágoas passadas.
Dito tudo isto, não é difícil imaginar que esses acontecimentos podem mudar a vida de alguém, como pareceu ter mudado a de Dixon. Não é diminuir a gravidade de comportamentos racistas e violentos, mas sim ter consciência de que pessoas com esse tipo de comportamentos não são necessariamente psicopatas sem sentimentos. E é isso que incomoda muita gente: O fato de que pessoas com caráter horrível serem gente como a gente, com seus sentimentos, sonhos e frustrações... É difícil para nós pensarmos dessa forma, pois é muito mais cômodo tratarmos essas elementos tóxicos como monstros, como seres completamente opostos de nós. Não são, e isso é o que assusta. Eles vivem entre nós, são frutos de uma sociedade capitalista degenerada, imersos na barbárie.
E tal sociedade doente e cheia de conflitos é o verdadeiro causador de quase todas as principais ações do filme. Oras, Mildred se vê forçada a fazer justiça com as próprias mãos pois está diante de um sistema policial ineficiente, de um estado burguês degradado, numa região esquecida da América. E a obra, apesar de afirmar que "Ódio acarreta mais ódio", não parece demonizar a protagonista cheia de raiva, justamente porque o contexto corrompido onde ela vive a força a agir de maneira desesperada. O final do filme é perfeito e reflete isso, com Dixon e Mildred na dúvida sobre o que irão fazer à respeito do estuprador. Neste momento, a obra parece contradizer a mensagem que passou antes, mas é justamente esse o intuito.
Three Billboards Outside Ebbing, Missouri é uma obra incômoda, de complexidade louvável, que nos faz repensar e refletir como seres humanos, e a sociedade em que vivemos. Sem dúvidas, um dos melhores filmes do ano.
Inacreditável alguns comentários criticando a performance do Ryan Gosling. É engraçado como o público sempre tem dificuldade em encontrar grandeza em atuações intimistas(não é a toa que a interpretação magistral do Casey Affleck em Manchester a beira mar encontrou muitos críticos neste recinto, haha!), sempre confundem com "inexpressividade", e "ah, mas ele fica com a mesma cara o filme todo". Erro absurdamente crasso, uma análise rasa, de quem não sabe absolutamente nada sobre o que compõem uma boa performance, que acha que uma atuação de qualidade é necessariamente fazer o maior número de expressões possíveis.
O personagem é apático pq ele É assim, foi escrito dessa forma. É um homem internamente carregado, cansado, solitário, que não conhece a si mesmo... Junte isso com o seu estressante e exaustivo trabalho, e dá pra entender perfeitamente a sua postura quase impenetrável. O Ryan encarnou esse estoicismo perfeitamente; também lembro de dois momentos no filme em que ele explode, e o faz com uma veracidade muito palpável, como se fossem momentos em que ele realmente tirava todo aquele peso de dentro, pelo menos momentaneamente. Uma em particular é muito tocante, em que a emoção é crescente e vai desabando aos poucos em algumas das lágrimas mais sinceras que já vi em muito tempo no cinema.
Enfim, só queria deixar isso claro pois é algo que estava me incomodando ao ler certos comentários. Tenho um compromisso com a verdade.
Não tinha como dar errado mesmo: Villeneuve, Roger Deakins, Hans Zimmer, Joe Walker... É praticamente o Dream Team do cinema hoje. E junta isso com um elenco absurdo e super estrelado e temos um dos melhores filmes do ano(provavelmente o melhor, até aqui) e uma das melhores ficções científicas do século. Villeneuve não vai parar nunca?
A minha única dúvida era acerca do roteiro, se realmente havia força e coerência para uma sequência de uma das obras mais aclamadas do gênero. Felizmente a resposta também foi positiva.
Blade Runner 2049 não só honra o antecessor nos seus aspectos primordiais(ambientação, estética e temáticas), como também eleva as discussões existencialistas e filosóficas levantadas pelo primeiro filme à outro patamar, oferecendo-nos outra obra de um subtexto muito rico. Aliás, o protagonista K(um Ryan Gosling fantástico, na minha opinião) é muito mais interessante que o Deckard(embora o pouco desenvolvimento do Deckard no original provavelmente tenha sido proposital), a sua jornada é extremamente fascinante de acompanhar, e o seu relacionamento com a Joi é de uma complexidade e sensibilidade muito intrigante.
Houve alguns diálogos expositivos que me incomodaram um pouco, mas nada que diminua a obra, e achei estranho como o personagem do Jared Leto foi inserido, embora eu tenha entendido o motivo.
E nem sei oq falar das pessoas que estão reclamando do ritmo do filme... Fico imaginando esses seres assistindo um Andrei Rublev da vida. Qualquer coisinha é "lento demais" pra esse público de hoje, meu pai do céu. Villeneuve está com muita moral mesmo, pq Blade Runner 2049 é de fato ainda mais cadenciado que o antecessor; se fosse um diretor de menor escalão, não tenho dúvidas de que o estúdio entraria na parada e mandaria cortar algumas cenas ou diminuir outras. Pra mim o filme passou voando e eu realmente achava que teria mais uns 30 minutos ali no final, mas quando pisquei, acabou.
Dois dos melhores filmes de ano pra mim - Get Out e It - são de horror(e que curiosamente são tbm dois dos filmes mais engraçados de 2017, mostrando que um filme do gênero não precisa ter pretensão de assustar pra ser de alto nível, o cinema é muito maior que meros sustos). Outro triunfo de ambos os longas é o fato de colocar os temas propostos(Racismo em Get Out, e amizade e união em It) em primeiro plano, ao invés de simplesmente abusarem do terror e deixarem a história em segundo plano.
Aliás, o gênero vive um grande momento recente, visto que em 2016 foi um ótimo e subestimado ano para as produções de horror. Esse papo de que não se fazem mais filmes bons do gênero é uma baboseira repetida mil vezes que virou verdade.
Arrisco a dizer que é o melhor momento do gênero neste século. Pena que ainda encontra um público limitado e que não conseguem apreciar certas obras por puro anacronismo. É só olhar a reação do público para o excelente e atmosférico "A Bruxa"... No caso de A Bruxa, o mais engraçado é que muitas das pessoas que criticaram, são provavelmente as mesmas que choram pedindo "algo diferente", "q está cansada de clichês", hahaha! Quando recebem o convencional reclamam, quando surge algo diferente, reclamam também.
Mas voltando sobre o filme em questão, é impossível não deixar de falar do elenco infantil. Falando em infantil, é incrível como parece que nos últimos anos o nível de atuação das crianças em Hollywood cresceu exponencialmente. Está cada vez mais comum grandes atuações dignas de indicações a Oscar da molecada... E em "It", destaco o Jaeden Lierbeher, Finn Wolfhard(absurdamente hilário) e a Sophia Lillis(essa garota vai longe). Todos os outros também estão muito bem. Andy Muschietti também merece enormes créditos pela química desses jovens. Muito da atuação de uma criança em um filme depende demais da forma como o diretor o conduz, e percebe-se como o Andy criou um clima propício para eles brilharem.
Porém o destaque individual do filme é mesmo a performance absolutamente fascinante de Bill Skarsgard como Pennywise. A versão do Tim Curry é brincadeira de criança perto deste(embora é necessária salientar q este era limitado pelo material daquela época)... Aliás, quem coloca aquela obra acima deste não tem noção alguma do que está falando.
Sadismo, eloquência, maneirismos bizarros(atenção à maneira como ele movimenta os olhos), carisma... Quando Skarsgard entra em cena(e quando não atrapalhado pelo desnecessário CGI utilizado em alguns momentos), os outros elementos da cena desaparecem. O show é do palhaço dançarino, que quase sempre aparece aleatoriamente no filme, impedindo - propositalmente - o fluxo da narrativa, assim como ele impede o fluxo da vida daquelas crianças. Ele mete medo e diverte ao mesmo tempo, criando, desde já, um dos grandes vilões da história do cinema de horror.
Casey Affleck deve ser o melhor ator do mundo em fazer atuações contidas, intimistas. Não vejo ator melhor que ele capaz de expressar tantos sentimentos com tão pouco. Não há super gritos, choros e soluços intermináveis...Ele não se rende a esse tipo de atuação "fácil".
Está tudo nos olhares mortos, melancólicos, nos gestos corporais desajeitados, e na voz embargada e sofrida de Lee Chandler...Ele pouco fala, mas quando o faz, parece que vai explodir a qualquer momento. Dolorosamente realista, verdadeiro.
É uma performance cheio de vida e eloquência para um personagem morto por dentro. O Oscar é logo ali.
Que belíssimo filme...Como já citado várias vezes abaixo, é impossível não comparar com "Amour", do Michael Haneke. E arrisco a dizer que não deve em quase nada.
Mas diferentemente do filme francês - onde o foco era igual no casal protagonista -, aqui o filme é segue claramente um personagem, o velho aposentado Hannes. Inicialmente o público tende a sentir antipatia por esse homem amargurado, rabugento e que não trata a família(especialmente a esposa) como deveria...Porém com os acontecimentos durante o filme, consequentemente o seu comportamento sofre alterações, e isso só não aparenta forçado e nos é palpável graças a atuação sensacional do Theodór Júlíusson, que consegue transmitir toda a carga emocional do Hannes com um realismo comovente.
Vale mencionar também como o Rúnar Rúnarsson consegue aproveitar a ambientação aconchegante e nimboso da Islândia, que combina perfeitamente com a narrativa do filme.
Chega em um momento do filme em que ele fica repetitivo e dá uma arrastada, mas não a ponto de atrapalhar a bonita mensagem final.
A maioria dos personagens são cativantes e as três histórias têm níveis parecidos de qualidade...Mas o real protagonista do filme é Memphis, a cidade do Rei do Rock. A bela fotografia ajuda a nos aproximar deste lugar simples, meio decadente, mas que ao mesmo tempo também parece passar um ar acolhedor, belo(atenuada pela boa trilha sonora).
Filme leve, divertido, melancólico... Gostei, me instigou a ver outros trabalhos do Jim Jarmusch.
É um filme que pode ter várias interpretações, mas ao meu ver, Luis Bunuel claramente faz uma crítica bastante ácida e criativa acerca da classe aristocrata espanhola da época. Fechados em sua própria cultura, vivendo em um mundo paralelo em relação aos outros setores da sociedade...Sim, é uma crítica ainda bastante atual.
É necessário observar o modo como o Bunuel satiriza a situação das pessoas naquela sala, colocando-os em más condições e como eles perdem a compostura e a civilidade rapidamente. É engraçado também como a noção de tempo nos parece distorcido, pois em algumas cenas vemos os personagens indagarem sobre como eles estão há bastante tempo(dando a impressão de como se eles estivessem meses lá) sofrendo naquela sala, mas para o público, a realidade é que se passam apenas alguns dias.
Portanto o que ocorre aqui é a degradação moral e a falta de senso de comunidade(percebam o quanto eles brigam e discutem durante o filme) da elite burguesa. É o Bunuel nos revelando às verdadeiras facetas da sociedade aristocrata e suas inúmeras hipocrisias.
O problema de "O Anjo Exterminador" é que o filme não define o seu tom. Uma hora parece ser uma sátira surrealista, depois se torna um drama com os conflitos entre os personagens, e até elementos de terror estão presente...Isso faz o ritmo ficar enfadonho e problemático, o que é um pouco grave para um filme relativamente curto...Creio que se focasse mais nesse humor satírico, dava para absorver melhor.
Inicialmente, achamos que "À Beira da Loucura" é um filme sobre depressão e suicídio. Sim, este temas são utilizados como pano de fundo, mas ao final do filme percebemos que o tema central é essencialmente sobre perda, luto e culpa e como nós lidamos com esses sentimentos. É também como o amor pode ser libertador e nos fazer ter vontade de seguir em frente, assim como pode também ser prejudicial e sofrido caso sofra um abalo.
É interessante notar também como o John Carney brinca com a idealização do suicídio, visto que no início do filme assistimos a tentativa de suicídio do protagonista Jonathan(Cillian Murphy, em uma performance carismática) como se fosse algo belo, libertador e nos trouxesse uma sensação de paz. Mas no decorrer do filme, essa noção parece ser perder quanto mais íntimo o Jonathan se torna dos pacientes do hospital psiquiátrico.
Nem preciso falar do ponto mais alto do filme, que é a trilha sonora de altíssima qualidade. A maioria das músicas são vivas, elétricas, o que traz um contraposto bacana ao tema depressivo do filme(que apesar disso, tem vários momentos cômicos).
Apesar dessas virtudes, o filme cai bastante a partir do segundo ato, onde sofre com a falta de carisma e desenvolvimento necessário dos personagens secundários(aliás, senti falta de mais Stephen Rea no filme, de longe o coadjuvante mais interessante do longa), escorregando também no melodrama exagerado em alguns momentos. Talvez alguns minutos a mais de filme com um desenvolvimento mais bem trabalhado cairia bem. De qualquer maneira, o filme ainda é acima da média e tem seu valor.
Lady Bird: A Hora de Voar
3.8 2,1K Assista AgoraVocê sabe que algo não está certo com um filme quando quanto mais você pensa nele, pior fica. A prova da mediocridade de Lady Bird é que 80% dos elogios a ele é de gente dizendo: "nossa, me identifiquei bastante", "caramba, lembrou meu relacionamento com minha mãe"
Ou seja, percebe-se que Lady Bird não se sustenta bem como uma obra em-si (obra que é, no máximo, um típico coming-of-age americano acima da média), e sim na relação de identificação do público com aquela história, apostando numa aproximação sentimental entre esses dois polos - e de fato, é quase impossível não se identificar com pelo menos um elemento que o filme aborda. Mas é uma abordagem absurdamente limitada, e até meio desonesta, eu diria.
Pois o filme pega uma história e elementos dela que nos são muito familiares, que estão muito próximos de nós, tornando muito mais palpável para o público curtir, mais fácil de quebrar essa barreira entre os dois polos (público e obra). Tanto que vi muita gente comentando que é um filme "impossível de odiar". Preciso falar mais? Quando eu leio isso, eu já fico com um pé atrás e não vejo pq as pessoas colocam isso necessariamente como um elogio, pois sendo uma típica produção audiovisual "impossível de odiar", escancara claramente uma obra inofensiva, do ponto de vista artístico. É óbvio que um filme pra ser bom (que até acho que Lady Bird seja, de maneira geral) não precisa ser artisticamente profundo, contestador, contemplativo e etc...Mas a questão é: estamos diante de um filme que está sendo cotado pra simplesmente ganhar o maior prêmio do mundo do cinema - tudo bem que a credibilidade do Oscar não é lá essas coisas, mas ainda assim. É claro que o nível de exigência será maior, pois o nível em que ele foi colocado é muito alto.
E também - diante de um roteiro que anda em território tão comum - não ajuda em nada a linguagem totalmente medíocre da obra (você acha estética parecida em qualquer filmezinho indie da Netflix), com uma Greta Gerwig fazendo apenas o feijão com arroz atrás das câmeras (embora devo dar méritos a ela pela boa direção dos atores).
Muitos vão falar que a beleza do filme está na simplicidade e outras baboseiras furadas, mas pra mim, retratar a tal beleza singela é preciso de mais esforço do que foi feito aqui. Isso aqui é medíocre.
Três Anúncios Para um Crime
4.2 2,0K Assista AgoraPra endossar meu comentário anterior, passei um tempo analisando o quão fascinante e ao mesmo tempo lamentável é a natureza das críticas negativas que o filme vem recebendo. É fascinante porque denota uma enorme contradição, hipocrisia e também desconhecimento de quem a critica, e me fez refletir muito sobre o poder da arte.
Bom, não é difícil ler por aí gente enchendo a boca pra falar que a arte tem que ser incômoda, subversiva, nos fazer questionar acerca do mundo e blá blá blá...E é aqui que já entra a espetacular hipocrisia: As pessoas que adoram soltar essas palavras, passando-se como "amantes da verdadeira arte", são as mesmas que estão metendo o pau no filme em questão EXATAMENTE porque a obra as incomoda, as tiram da zona de conforto (sobre isso, eu já dissertei mais no meu comentário anterior acerca do filme). Ou seja, a arte aqui está sim causando o que essas pessoas supostamente querem, porém a diferença é que a "vítima" neste caso está sendo exatamente elas, e o pior de tudo é que não conseguem perceber isso, haha!
A conclusão é óbvia: Para essas pessoas, a arte só pode ser incômoda até certo ponto - no caso, para os outros -, pois se bater um pouco de frente com suas visões de mundo (ainda mais com temáticas tão atuais e debatidas, que estão na pauta pública), se perdem totalmente e ficam sem saber onde colocar a cara, restando-os atacar o filme com argumentos desonestos e sem muito embasamento (alguns até criticam a pegada irônica que o McDonagh faz acerca de questões sérias, dizendo que ele supostamente diminui a urgência dos problemas sociais mostrado no filme, sendo que esse tratamento cínico SEMPRE foi o seu estilo como diretor, desde In Bruges. Ele não faz obras panfletárias, amiguinhos) que evidenciam claramente que o problema não é a obra em si, e sim o cidadão que está criticando, que queria uma outra abordagem; uma abordagem que se encaixasse com a narrativa que eles estão acostumados. São covardes e intransigentes.
PS: OBVIAMENTE, me refiro apenas às críticas que criticam certos aspectos do conteúdo do filme (que é de onde vem a maioria da negatividade que a obra vem recebendo). Críticas técnicas são sempre válidas - embora nem sempre corretas -, certamente.
Quanto mais eu penso sobre isso, mais claro fica. O mundo atual está cada vez mais intolerante (em todos os lados), e portanto quando surge algo (uma obra artística, especificamente) que entre em conflito com a visão pessoal de alguém, este não sabe como a absorver, pois está inserido em um contexto de total histeria, onde é obrigado a seguir certas cartilhas toscas que o seu grupinho determina.
Mas sabem o que é o pior de tudo? É que Three Billboards nem é tão polêmico assim, na realidade. Mas ele ganha esse status exagerado exatamente pelo momento tempestuoso em que vivemos, e por isso mesmo eu defini em meu comentário anterior, que se trata de "um filme deveras espinhoso, nos tempos ATUAIS". Principalmente, pois, ao tratar um personagem detestável como um ser humano complexo(ou seja, algo que nem deveria ser motivo de polêmica, pra começo de conversa), algumas pessoas se sentem estranhamente incomodadas pois estão acostumados a ter uma visão completamente maniqueísta do problema, sem capacidade intelectual de analisar o problema geral. Mas, de novo, disso eu já falei em meu comentário anterior também, então não vou prolongar nisso aqui, quem quiser leia lá a pequena análise que faço do personagem do Sam Rockwell.
O resumo disso tudo é que vivemos uma era de mediocridade, e isso está cada vez mais afetando o cinema. Com o mundo cada vez mais porcamente dividido (em especial os EUA, por motivos que todos já conhecem), o ideal/poder artístico acaba sendo sim atingido, e correndo risco se tornar limitado, padronizado. Pois se o artista quiser mostrar um lado de algum problema, o lado contrário vai enchê-lo de rótulos negativos clichês que já conhecemos, enviesando o debate... E isso pode ter consequências futuras sérias.
Três Anúncios Para um Crime
4.2 2,0K Assista AgoraThree Billboards Outside Ebbing, Missouri é um filme deveras espinhoso, nos tempos atuais. Ao abordar certas temáticas pesadas e que estão em pauta(racismo, brutalidade policial, abuso, violência doméstica e etc) com um estilo cômico e irônico que lhe é peculiar(aliás, percebe-se a forte influência dos Irmãos Coen aqui, não só no humor, mas no próprio desenrolar da narrativa, onde a ação de seus personagens - falhos - é o que conduz a trama, numa espécie de efeito dominó), Martin McDonagh abre espaço para críticas de uma suposta relativização desses problemas, de uma suposta falta de seriedade na retratação desses temas.
Mas felizmente, McDonadh não cai nesse maniqueísmo barato, nos brindando com um roteiro extremamente afiado(a quantidade de bons diálogos aqui é absurda) e cheio de camadas, complexas. E quero dedicar um espaço analisando o arco do personagem Jason Dixon e como o filme ressalta a importância da Intersubjetividade na nossa construção e evolução como indivíduos, a nossa relação com o Outro:
Li certas críticas dizendo que o filme "passa a mão na cabeça" de um policial violento e racista. Isso é uma análise extremamente rasa e desonesta. As atitudes tóxicas de Dixon(vivido brilhantemente por Sam Rockwell) não passam despercebidas - o plano sequência chocante dele indo agredir Red é a prova disso -; a questão é que o McDonagh e o Rockwell o criam de modo propositalmente caricatural, como uma maneira de representar o quão patético ele é, e o resultado é uma retratação cômica e irônica, que sempre foi uma marca do diretor, como já foi dito anteriormente... É uma pena que algumas pessoas não conseguem perceber essas nuances da obra, e partem para conclusões precipitadas, numa busca ridícula de demonizar qualquer coisa que esteja em pauta.
A transformação do personagem também não tem absolutamente nada de forçado; pelo contrário, é bastante palpável. É palpável pois às condições para que ele repensasse seu comportamento são extremamente íntimas, de forte apelo emocional: Primeiramente temos a morte de seu melhor amigo, que lhe deixa uma carta antes de se suicidar, pedindo para que ele melhore como pessoa. Talvez só isso não fosse o bastante para mudar alguém que fora racista a vida inteira, mas em seguida temos a ação desesperada da Mildred(uma inesquecível Frances McDormand) colocando fogo na delegacia, queimando-o e causando um ponto de virada na vida de Dixon.
E aí chegamos numa das cenas mais belas do ano, numa aula de empatia: Quando o Dixon chega no quarto do hospital e vê o Red, ele desaba no choro. Justamente pq Dixon finalmente se vê na pele do outro, da vítima que ele tanto maltratou; ele se encontra em um momento de vulnerabilidade onde enxerga um desafeto como um igual. De certa maneira, em um paradoxo curioso, a ação motivada pelo ódio da Milfred o humanizou(Talvez ódio não só gere ódio, afinal? haha!). E quando Red percebe que aquele é o agressor que o deixou naquele estado, ao invés de caçoar dele ou humilhá-lo, nos entrega um momento emocionalmente belo: Ele se compadece com a situação sofrível do racista Dixon, dando a ele uma tremenda lição de humanidade, esquecendo naquele momento às mágoas passadas.
Dito tudo isto, não é difícil imaginar que esses acontecimentos podem mudar a vida de alguém, como pareceu ter mudado a de Dixon. Não é diminuir a gravidade de comportamentos racistas e violentos, mas sim ter consciência de que pessoas com esse tipo de comportamentos não são necessariamente psicopatas sem sentimentos. E é isso que incomoda muita gente: O fato de que pessoas com caráter horrível serem gente como a gente, com seus sentimentos, sonhos e frustrações... É difícil para nós pensarmos dessa forma, pois é muito mais cômodo tratarmos essas elementos tóxicos como monstros, como seres completamente opostos de nós. Não são, e isso é o que assusta. Eles vivem entre nós, são frutos de uma sociedade capitalista degenerada, imersos na barbárie.
E tal sociedade doente e cheia de conflitos é o verdadeiro causador de quase todas as principais ações do filme. Oras, Mildred se vê forçada a fazer justiça com as próprias mãos pois está diante de um sistema policial ineficiente, de um estado burguês degradado, numa região esquecida da América. E a obra, apesar de afirmar que "Ódio acarreta mais ódio", não parece demonizar a protagonista cheia de raiva, justamente porque o contexto corrompido onde ela vive a força a agir de maneira desesperada. O final do filme é perfeito e reflete isso, com Dixon e Mildred na dúvida sobre o que irão fazer à respeito do estuprador. Neste momento, a obra parece contradizer a mensagem que passou antes, mas é justamente esse o intuito.
Three Billboards Outside Ebbing, Missouri é uma obra incômoda, de complexidade louvável, que nos faz repensar e refletir como seres humanos, e a sociedade em que vivemos. Sem dúvidas, um dos melhores filmes do ano.
Blade Runner 2049
4.0 1,7K Assista AgoraInacreditável alguns comentários criticando a performance do Ryan Gosling. É engraçado como o público sempre tem dificuldade em encontrar grandeza em atuações intimistas(não é a toa que a interpretação magistral do Casey Affleck em Manchester a beira mar encontrou muitos críticos neste recinto, haha!), sempre confundem com "inexpressividade", e "ah, mas ele fica com a mesma cara o filme todo". Erro absurdamente crasso, uma análise rasa, de quem não sabe absolutamente nada sobre o que compõem uma boa performance, que acha que uma atuação de qualidade é necessariamente fazer o maior número de expressões possíveis.
O personagem é apático pq ele É assim, foi escrito dessa forma. É um homem internamente carregado, cansado, solitário, que não conhece a si mesmo... Junte isso com o seu estressante e exaustivo trabalho, e dá pra entender perfeitamente a sua postura quase impenetrável. O Ryan encarnou esse estoicismo perfeitamente; também lembro de dois momentos no filme em que ele explode, e o faz com uma veracidade muito palpável, como se fossem momentos em que ele realmente tirava todo aquele peso de dentro, pelo menos momentaneamente. Uma em particular é muito tocante, em que a emoção é crescente e vai desabando aos poucos em algumas das lágrimas mais sinceras que já vi em muito tempo no cinema.
Enfim, só queria deixar isso claro pois é algo que estava me incomodando ao ler certos comentários. Tenho um compromisso com a verdade.
Blade Runner 2049
4.0 1,7K Assista AgoraNão tinha como dar errado mesmo: Villeneuve, Roger Deakins, Hans Zimmer, Joe Walker... É praticamente o Dream Team do cinema hoje. E junta isso com um elenco absurdo e super estrelado e temos um dos melhores filmes do ano(provavelmente o melhor, até aqui) e uma das melhores ficções científicas do século. Villeneuve não vai parar nunca?
A minha única dúvida era acerca do roteiro, se realmente havia força e coerência para uma sequência de uma das obras mais aclamadas do gênero. Felizmente a resposta também foi positiva.
Blade Runner 2049 não só honra o antecessor nos seus aspectos primordiais(ambientação, estética e temáticas), como também eleva as discussões existencialistas e filosóficas levantadas pelo primeiro filme à outro patamar, oferecendo-nos outra obra de um subtexto muito rico. Aliás, o protagonista K(um Ryan Gosling fantástico, na minha opinião) é muito mais interessante que o Deckard(embora o pouco desenvolvimento do Deckard no original provavelmente tenha sido proposital), a sua jornada é extremamente fascinante de acompanhar, e o seu relacionamento com a Joi é de uma complexidade e sensibilidade muito intrigante.
Houve alguns diálogos expositivos que me incomodaram um pouco, mas nada que diminua a obra, e achei estranho como o personagem do Jared Leto foi inserido, embora eu tenha entendido o motivo.
E nem sei oq falar das pessoas que estão reclamando do ritmo do filme... Fico imaginando esses seres assistindo um Andrei Rublev da vida. Qualquer coisinha é "lento demais" pra esse público de hoje, meu pai do céu. Villeneuve está com muita moral mesmo, pq Blade Runner 2049 é de fato ainda mais cadenciado que o antecessor; se fosse um diretor de menor escalão, não tenho dúvidas de que o estúdio entraria na parada e mandaria cortar algumas cenas ou diminuir outras. Pra mim o filme passou voando e eu realmente achava que teria mais uns 30 minutos ali no final, mas quando pisquei, acabou.
It: A Coisa
3.9 3,0K Assista AgoraDois dos melhores filmes de ano pra mim - Get Out e It - são de horror(e que curiosamente são tbm dois dos filmes mais engraçados de 2017, mostrando que um filme do gênero não precisa ter pretensão de assustar pra ser de alto nível, o cinema é muito maior que meros sustos). Outro triunfo de ambos os longas é o fato de colocar os temas propostos(Racismo em Get Out, e amizade e união em It) em primeiro plano, ao invés de simplesmente abusarem do terror e deixarem a história em segundo plano.
Aliás, o gênero vive um grande momento recente, visto que em 2016 foi um ótimo e subestimado ano para as produções de horror. Esse papo de que não se fazem mais filmes bons do gênero é uma baboseira repetida mil vezes que virou verdade.
Arrisco a dizer que é o melhor momento do gênero neste século. Pena que ainda encontra um público limitado e que não conseguem apreciar certas obras por puro anacronismo. É só olhar a reação do público para o excelente e atmosférico "A Bruxa"... No caso de A Bruxa, o mais engraçado é que muitas das pessoas que criticaram, são provavelmente as mesmas que choram pedindo "algo diferente", "q está cansada de clichês", hahaha! Quando recebem o convencional reclamam, quando surge algo diferente, reclamam também.
Mas voltando sobre o filme em questão, é impossível não deixar de falar do elenco infantil. Falando em infantil, é incrível como parece que nos últimos anos o nível de atuação das crianças em Hollywood cresceu exponencialmente. Está cada vez mais comum grandes atuações dignas de indicações a Oscar da molecada... E em "It", destaco o Jaeden Lierbeher, Finn Wolfhard(absurdamente hilário) e a Sophia Lillis(essa garota vai longe). Todos os outros também estão muito bem. Andy Muschietti também merece enormes créditos pela química desses jovens. Muito da atuação de uma criança em um filme depende demais da forma como o diretor o conduz, e percebe-se como o Andy criou um clima propício para eles brilharem.
Porém o destaque individual do filme é mesmo a performance absolutamente fascinante de Bill Skarsgard como Pennywise. A versão do Tim Curry é brincadeira de criança perto deste(embora é necessária salientar q este era limitado pelo material daquela época)... Aliás, quem coloca aquela obra acima deste não tem noção alguma do que está falando.
Sadismo, eloquência, maneirismos bizarros(atenção à maneira como ele movimenta os olhos), carisma... Quando Skarsgard entra em cena(e quando não atrapalhado pelo desnecessário CGI utilizado em alguns momentos), os outros elementos da cena desaparecem. O show é do palhaço dançarino, que quase sempre aparece aleatoriamente no filme, impedindo - propositalmente - o fluxo da narrativa, assim como ele impede o fluxo da vida daquelas crianças. Ele mete medo e diverte ao mesmo tempo, criando, desde já, um dos grandes vilões da história do cinema de horror.
Manchester à Beira-Mar
3.8 1,4K Assista AgoraCasey Affleck deve ser o melhor ator do mundo em fazer atuações contidas, intimistas. Não vejo ator melhor que ele capaz de expressar tantos sentimentos com tão pouco. Não há super gritos, choros e soluços intermináveis...Ele não se rende a esse tipo de atuação "fácil".
Está tudo nos olhares mortos, melancólicos, nos gestos corporais desajeitados, e na voz embargada e sofrida de Lee Chandler...Ele pouco fala, mas quando o faz, parece que vai explodir a qualquer momento. Dolorosamente realista, verdadeiro.
É uma performance cheio de vida e eloquência para um personagem morto por dentro. O Oscar é logo ali.
Vulcão
3.8 31Que belíssimo filme...Como já citado várias vezes abaixo, é impossível não comparar com "Amour", do Michael Haneke. E arrisco a dizer que não deve em quase nada.
Mas diferentemente do filme francês - onde o foco era igual no casal protagonista -, aqui o filme é segue claramente um personagem, o velho aposentado Hannes. Inicialmente o público tende a sentir antipatia por esse homem amargurado, rabugento e que não trata a família(especialmente a esposa) como deveria...Porém com os acontecimentos durante o filme, consequentemente o seu comportamento sofre alterações, e isso só não aparenta forçado e nos é palpável graças a atuação sensacional do Theodór Júlíusson, que consegue transmitir toda a carga emocional do Hannes com um realismo comovente.
Vale mencionar também como o Rúnar Rúnarsson consegue aproveitar a ambientação aconchegante e nimboso da Islândia, que combina perfeitamente com a narrativa do filme.
Chega em um momento do filme em que ele fica repetitivo e dá uma arrastada, mas não a ponto de atrapalhar a bonita mensagem final.
Trem Mistério
4.0 51 Assista AgoraA maioria dos personagens são cativantes e as três histórias têm níveis parecidos de qualidade...Mas o real protagonista do filme é Memphis, a cidade do Rei do Rock. A bela fotografia ajuda a nos aproximar deste lugar simples, meio decadente, mas que ao mesmo tempo também parece passar um ar acolhedor, belo(atenuada pela boa trilha sonora).
Filme leve, divertido, melancólico... Gostei, me instigou a ver outros trabalhos do Jim Jarmusch.
O Anjo Exterminador
4.3 376 Assista AgoraÉ um filme que pode ter várias interpretações, mas ao meu ver, Luis Bunuel claramente faz uma crítica bastante ácida e criativa acerca da classe aristocrata espanhola da época. Fechados em sua própria cultura, vivendo em um mundo paralelo em relação aos outros setores da sociedade...Sim, é uma crítica ainda bastante atual.
É necessário observar o modo como o Bunuel satiriza a situação das pessoas naquela sala, colocando-os em más condições e como eles perdem a compostura e a civilidade rapidamente. É engraçado também como a noção de tempo nos parece distorcido, pois em algumas cenas vemos os personagens indagarem sobre como eles estão há bastante tempo(dando a impressão de como se eles estivessem meses lá) sofrendo naquela sala, mas para o público, a realidade é que se passam apenas alguns dias.
Portanto o que ocorre aqui é a degradação moral e a falta de senso de comunidade(percebam o quanto eles brigam e discutem durante o filme) da elite burguesa. É o Bunuel nos revelando às verdadeiras facetas da sociedade aristocrata e suas inúmeras hipocrisias.
O problema de "O Anjo Exterminador" é que o filme não define o seu tom. Uma hora parece ser uma sátira surrealista, depois se torna um drama com os conflitos entre os personagens, e até elementos de terror estão presente...Isso faz o ritmo ficar enfadonho e problemático, o que é um pouco grave para um filme relativamente curto...Creio que se focasse mais nesse humor satírico, dava para absorver melhor.
À Beira da Loucura
3.8 96Inicialmente, achamos que "À Beira da Loucura" é um filme sobre depressão e suicídio. Sim, este temas são utilizados como pano de fundo, mas ao final do filme percebemos que o tema central é essencialmente sobre perda, luto e culpa e como nós lidamos com esses sentimentos. É também como o amor pode ser libertador e nos fazer ter vontade de seguir em frente, assim como pode também ser prejudicial e sofrido caso sofra um abalo.
É interessante notar também como o John Carney brinca com a idealização do suicídio, visto que no início do filme assistimos a tentativa de suicídio do protagonista Jonathan(Cillian Murphy, em uma performance carismática) como se fosse algo belo, libertador e nos trouxesse uma sensação de paz. Mas no decorrer do filme, essa noção parece ser perder quanto mais íntimo o Jonathan se torna dos pacientes do hospital psiquiátrico.
Nem preciso falar do ponto mais alto do filme, que é a trilha sonora de altíssima qualidade. A maioria das músicas são vivas, elétricas, o que traz um contraposto bacana ao tema depressivo do filme(que apesar disso, tem vários momentos cômicos).
Apesar dessas virtudes, o filme cai bastante a partir do segundo ato, onde sofre com a falta de carisma e desenvolvimento necessário dos personagens secundários(aliás, senti falta de mais Stephen Rea no filme, de longe o coadjuvante mais interessante do longa), escorregando também no melodrama exagerado em alguns momentos. Talvez alguns minutos a mais de filme com um desenvolvimento mais bem trabalhado cairia bem. De qualquer maneira, o filme ainda é acima da média e tem seu valor.
Taxi Driver
4.2 2,5K Assista AgoraÉ o melhor filme da história, não adianta.