Excelente documentário sobre a vida e influência de Pablo Escobar Gaviria , o bom bandido, comandante supremo do Cartel de Medellín, amado pelo povo porque foi dele que o povo recebeu casa, comida, proteção nos bairros sob seu domínio. Carismático, inteligente e articulado, conseguiu entrar na política colombiana, paralelamente às suas atividades criminosas e lá ficou até ser expulso. O documentário mostra de maneira clara e límpida como se conquista o amor dos pobres, mesmo sendo um assassino sanguinário, capaz de derrubar um avião com 120 pessoas a bordo para tentar eliminar um desafeto. Escobar eliminou três candidatos à presidência, vários juízes e políticos e colocou um país de joelhos, coisa que as milícias não haviam conseguido com décadas de guerrilhas. No espaço deixado pelo trololó de políticos “bem intencionados e democráticos”, ele conquistou a fama de pai dos pobres, o verdadeiro Robin Hood dando dinheiro, casa e víveres diretamente às pessoas... sem intermediários institucionais. Toda a população conhecia os crimes de Escobar, pois ele nunca fez qualquer questão de escondê-los, mas nos dias que se vão, os fins justificam totalmente os meios. Alguns moradores de Medellín, ainda hoje , compartilham da crença de que não tivessem impedido, Escobar teria sido o melhor Presidente que a Colômbia jamais teve. Isso não significa que todos os pobres amavam Escobar, longe disto ! Somente aqueles que por ele foram ajudados. O problema de Escobar é que ele era muito impaciente e escolhia explodir logo com tudo ao invés de articular e corromper. Ele oferecia a política da “Plata o Plomo “ – ou aceitava seu dinheiro (plata) ou suas balas (plomo) – e aparentemente ele tinha uma preferencia nítida pelo plomo. Somente os EUA conseguiram parar Escobar. Muita coisa mudou de lá para cá na América Latina, embora muito tenha se aprendido com Dom Pablito : os cartéis continuam, mas evoluíram bastante em seu modus operandi – são mais discretos e financiam facções armadas e partidos políticos em vários países. Aprenderam a desvincular a operação de captação de dinheiro das figuras carismáticas usadas na política e ao invés de bombas e capangas utilizam advogados e militantes. Museu de grandes novidades...
Penso que há uma mensagem sutil por trás de toda a grandiosidade visual deste belo filme : A arte de quem realmente entendeu seu papel no mundo, que é o de escolher uma atividade ou profissão e de exerce-la com excelência, com orgulho em servir ao outro. Num momento tão cinzento deste mundo, onde em todas as atividades humanas nos defrontamos com a soberba, o mal humor, o ódio em ter que servir ao outro, a obra baseada em Zweig resgata a cor e o brilho de quem ama servir ao outro com excelência, com zelo. Pego por duas guerras, o concierge Gustave H. não perde jamais sua educação, sua elegância e nível de exigência com a sua profissão. Um filme raro, com elenco brilhante e atuações precisas ( é muito legal ver verdadeiros monstros das telas, fazendo papéis pequenos, mas com o mesmo zelo de Gustave !!!)
Filme surpreendentemente bom ! Tinha tudo para ser clichê, mas se salvou a partir de uma excelente construção da personagem Cherry que banca suas opções de vida, sem cair no lugar comum do tipo "olha só o que vocês (família e sociedade) me fizeram fazer da minha vida"… Em minha opinião, um filme que prende a atenção até o fim.
São raros os humanos capazes de ir mais fundo nas questões sobre si mesmos, não se conformando com as análises e julgamentos do senso comum e tentando ir nas causas mesmas das coisas. E estes raros humanos, quando são confrontados com temas de clamor universal, sabem que não é nos sentimentos exaltados nem nos rótulos excludentes que encontramos as respostas à nossa perplexidade diante daquilo que não compreendemos. Hannah Arendt foi uma destas raras pessoas e foi muito mal compreendida, porque tudo o que desejavam dela era que ela reverberasse aquilo que já estava fartamente disponível – ódio e vingança. Ela tinha muito mais para oferecer à humanidade : uma reflexão profunda sobre o mal que acomete humanos que simplesmente abrem mão de serem humanos e abdicam de pensar. Ela tentou mostrar que o crime maior do nazismo estava para além dos mortos, mas na extirpação da condição humana tanto dos algozes quanto das vítimas e que não era um episódio histórico isolado. Penso que Arendt imaginava, com angústia, que se as pessoas não pudessem aprender mais sobre o potencial maligno da despersonalização que cada um de nós pode sofrer, o Holocausto fatalmente repetir-se-ia... e ela tinha razão. Grande filme, com interpretação espetacular de Barbara Sukowa.
Lars Von Trier nunca é óbvio e toca em temas universais que podem gerar inúmeras interpretações mas sempre causam uma sensação de desconforto, de uma espécie de vulnerabilidade atávica da qual não conseguimos escapar mesmo com o auxílio de nossa racionalidade. Em minha visão, o filme Melancolia toca justamente no ponto que lhe dá o nome e representa a enorme sensação de vazio que parece invadir a humanidade com uma voracidade crescente nos dias que se vão. A relação entre as irmãs que são acometidas por males antagônicos – uma mergulhada na depressão profunda e a outra mergulhada na “normalopatia”, aquela típica ingenuidade que faz com que as pessoas achem normal o otimismo em relação à vida – serve como excelente figura sobre um fundo no qual se desenvolve a mesma dinâmica – os planetas em rota de colisão : Um cheio de vida e com a presença pululante dos humanos e o outro cheio de mistérios, numa silenciosa trajetória de destruição. Genial a ideia de associar este sentimento tipicamente humano à existência de um planeta (azul como o nosso) que se encontrava escondido atrás do Sol e que se desloca em sua órbita em direção à Terra, em rota de colisão e consequente destruição. O Sol sempre representou para os humanos a fonte de energia e de poder, aos quais nossos ancestrais atribuíam a divindade e nossos contemporâneos apenas o poder pela força – força física, força econômica, força da aparência... força de nossas invenções e significações. O brilho do Sol esconde uma possível verdade inconveniente : A de que estamos sós num Universo sem Deus e que não há qualquer sentido em nossas breves vidas, que podem ser extintas por completo a qualquer momento. O planeta Melancolia funciona no filme como um “duplo” da Terra, sua antítese : Na Terra, temos nossa civilização recheada de nossas invenções e significados que nos conforta e nos faz esquecer a possível falta de sentido de nossas vidas. Melancolia, desconhecido e inexplicável – uma massa azul que vem direto ao nosso encontro – vem se fundir à Terra numa síntese (da mesma forma que as irmãs no final do filme se fundem e se “misturam” como nunca antes), cujo resultado é o nada, a destruição. Depois de Deus, veio a ciência e o racionalismo, o florescimento das correntes filosóficas e políticas, o poder dos homens sobre os homens elevado ao status de ciência seguido pela economia, o consumo e depois disso tudo... temos Melancolia em nosso caminho, como o derradeiro capítulo de nossa patética civilização. É absolutamente incrível a riqueza de detalhes que este diretor espalha por suas películas : Nas cenas finais, no belíssimo campo de golfe da casa de Claire, ela abraçada ao filho e se deslocando em câmera lenta na tentativa de fugir ao inevitável – ao fundo podemos ver a bandeirinha do buraco 19...o buraco inexistente, o limite final (o campo de golfe tem 18 buracos e John chama a atenção para isso no início do filme). Atuações brilhantes que penso terem captado todo o clima que Trier quis transmitir em seu filme... a meu ver imperdível !
Ótimo filme sobre o principal período da vida de Antonio Gramsci - a sua prisão por dez anos (originariamente sua pena seria de 22 anos), período no qual escreveu seus cadernos que ficaram famosos primeiro por afrontar as diretrizes e estratégias do Partido Comunista Italiano, que na época estava subjugado à Internacional e consequentemente à Stálin. Posteriormente, os cadernos se tornaram mais famosos ainda por fornecerem um caminho alternativo à revolução armada para a conquista do poder pela classe proletária. Impressionante como se verifica a trajetória do PT no Brasil nas palavras proferidas por Gramsci na prisão - que no filme foram extraídas dos próprios cadernos, como dramatização de seus relacionamentos com outros prisioneiros ligados ao Partido. Uma verdadeira aula de história, complementada por comentários do Prof. Marcos Del Roio, nos Extras. Fotografia muito prejudicada nesta versão da Versátil - cenas muito escuras e inconstância na luminosidade, que num filme P&B é mortal.
Este filme é uma produção bastante tosca, quase ginasiana, mas... a mensagem que carrega é de um homem que cansou de esperar pela justiça das autoridades e resolveu tomar uma atitude, sem sensacionalismos,sem se travestir de Rambo ou de um louco atirador que mata gente inocente para se vingar da sociedade. O alvo dele era bem específico - terroristas assassinos- e o que o motivou foi morte de um rapaz que mal conhecia, num atentado do qual escapou apenas por ter se atrasado para pegar o trem. Apesar da produção fraca e atuações precárias, foi um filme que me prendeu até o fim com um argumento forte, coisa que atualmente muita produção hollywoodiana de ponta não te conseguido.
A temática é boa : A Americanização “vanguardista” de um ritual típico de uma tribo da Indonésia, o Amok ou Runamuck , onde durante o ritual, membros da tribo (normalmente homens) possuídos por espíritos, saem em desembalada carreira destruindo tudo e matando o que estiver pela frente. O espírito maligno malaio é, nesta versão cinematográfica, atribuído à violência natural dos seres humanos que exige uma catarse que é confinada pelas leis dos novos fundadores do Estado, a uma única noite no ano, onde os crimes mais bárbaros serão tolerados, sem qualquer intervenção da polícia, dos bombeiros ou do governo. O filme no entanto, a meu ver, peca pelo zilhão de estereótipos que joga na tela : O caçado que origina todo o desenvolvimento da trama é um negro pobre. O líder dos caçadores insanos é um loiro de olhos azuis vestido com uniforme de escola tradicional com direito a brasão no lado esquerdo do peito e gravata regimental. A família central da tragédia é a típica família “burguesa” americana : Brancos, bonitos, ele – empresário bem sucedido que fica rico com sistemas de segurança para defender as casas na noite do Expurgo (como é chamada a tal noite em que tudo é permitido), ela uma mulher insegura em relação à origem da riqueza do marido e do próprio papel na sociedade local, um filho Geek andrógino (que é o que dispara o problema) e uma filha adolescente, apaixonada por um rapaz mais velho e que tem “preguiça” da burguesia dos pais. Pronto ... tá montado o cenário ideológico e simplista de um problema realmente complexo da humanidade – a violência e a intolerância que reside no íntimo de cada um de nós, independente de raça, sexo ou orientação política e a tentativa do Estado de “regulá-la”. Tirando isso, o filme é bom !
Penso que ficou muito clara a intenção de Joshua Stern - A de colocar no centro de seu roteiro a personalidade singular de Jobs. Conseguiu graças à atuação brilhante de Ashton Kutcher. Parece superficial porque não se trata de sua biografia nem da história da Apple (que foram melhor abordados em Os Piratas do Vale do Silício), mas apenas um roteiro que emoldura a aquilo que o diretor quis destacar.
Um filme diferente sobre o Holocausto, que mostra o ponto de vista de Primo Levi, um químico e escritor italiano que ao mesmo tempo em que teve sua sensibilidade aguçada em Auschwitz , teve também sua alma esmagada como ele mesmo relata num diálogo do filme. Trata-se de um filme diferente sobre esta temática, pois não explora a barbaridade e a violência dos campos de concentração de forma crua e direta, mas o drama, a dor e a angústia dos libertados em sua longa jornada de retorno para um país destruído pela guerra, para uma casa e uma família cuja sobrevivência era incerta. O filme é lento, pois é como se víssemos as cenas e as pessoas sob o ponto de vista de uma alma especialmente sensível que tenta digerir cada significado após a libertação improvável de uma sentença de morte líquida e certa e é pontuado de reflexões do próprio Levi que se tornaram históricas, como "Deus não deve existir, se Auschwitz existe" ... Talvez, o nome da obra de Levi represente não apenas aquela trégua que sucede a uma guerra trágica, onde a humanidade parece reflorescer através da compaixão e da boa vontade para curar suas feridas, até começar outra guerra tempos depois. Penso que a trégua também pode significar, ainda que na época de maneira inconsciente, o espaço entre uma sentença de morte e o fim da da vida, que se estendeu por quarenta anos após a libertação de Auschwitz, pois em 1987, Primo Levi, ao que tudo indica, suicidou-se, atirando-se do alto de um vão de escada. (Há quem diga que Levi morreu em Auschwitz com quarenta anos de atraso). Um belo filme, com ótima interpretação de John Turturro.
Filme que marca pela sua crueza. Diferentemente dos enredos hollywoodianos, o filme não glamoriza nem a vida de aspirantes a bandidos nem os laços fraternos quando o crime é compartilhado entre irmãos. É um filme humano, demasiado humano, que mostra o outro lado da opção "fácil" de se tornar um criminoso : o medo, a inveja, a traição e a dissolução da possibilidade de se manter vínculos amorosos - isto para mim foi mais destacado do que a própria violência contida no filme.
Um dos pontos fortes do filme é o bom gosto de Tornatore nos mínimos detalhes : os ambientes, os objetos de arte, a escolha das locações e até o nome do protagonista não poderia ser mais adequado. Tudo enche os olhos neste excelente filme, que além de tudo tem um roteiro bem bolado e bem amarrado e conta com um elenco de primeira. Geoffrey , Sturgess e Sutherland estão excelentes nos papéis e o enredo do filme mantém uma tensão sutil que não se desfaz mesmo quando a historia parece ter-se revelado. A presença da anã genial pontuando o filme e o final são toques de mestre. Grata surpresa!
Filme angustiante, que começa pelo fim e nos deixa intrigados de como a trama irá justificá-lo. Como a narrativa é do ponto de vista de uma policial que vai investigando cada passo da cena trágica com a qual se deparou, a trama não é linear mas um quebra-cabeças que vai se encaixando lentamente, com idas e vindas que justificam o nome do filme (não sei se o título original corresponde à versão em português), pois o ponto fulcral do drama reside num passado bastante remoto da tragédia, quando as personagens ainda eram crianças. Um triangulo amoroso complicado pois envolve dois irmãos e se desenvolve entre pequenas tragédias que irão culminar no desfecho brutal. Não obstante isso, penso que a diretora foi muito competente na utilização dos ambientes e da sobreposição da condição humana quando retirada dos confortos da urbanidade, com as condições em que vivem os animais na natureza - um habitat que parece não mais nos pertencer e por isso, choca. A contraposição está presente em toda a obra : a oposição de personalidades dos irmãos, a vida familiar urbana e organizada que a protagonista abandona para reviver um amor da juventude, o ambiente idílico com a brutalidade que ceifa vidas animais e humanas, o sexo por amor e por estupro, nascimentos e mortes, a fascinação da policial (ela mesma, grávida) que investiga o passado daquelas relações para encontrar as respostas que nos são apresentadas e que explicam as cenas trágicas do início. Toda esta história nos é contada com uma fotografia irretocável e com atuações fortes e convincentes que, em minha opinião, tornam o filme uma pequena obra-prima.
O filme é interessante em seu argumento, mas fraco no seu desenvolvimento com viés adolescente. Não li o livro, mas se considerar que o filme deve ter uma aderência forte com o livro, penso que a autora parece não ter conseguido fugir da trama do amor adolescente que tanto marcou a série Crepúsculo, para tentar agarrar seu público. Digo isto, porque a ideia de invasores de corpos humanos, embora não seja nada nova, suscita uma reflexão muito mais profunda do que o filme é capaz de mostrar. A reflexão profunda é a tentativa de escapar do pensamento rousseauniano do “bom selvagem”, de que somos bons se permanecermos originais, intocados como os indígenas foram um dia. Somos uma espécie de qualidade muito questionável, se fizermos uma autocrítica sincera : matamos uns aos outros por motivos torpes, somos egoístas, destruímos o meio ambiente, somos cruéis com outras espécies, somos mentirosos e ambiciosos e nos falta o sentido de coletividade, de ecossistema integrado... mas somos humanos, oras ! No filme as almas que eram transferidas para os corpos possuíam atributos morais muito superiores aos dos humanos e tiraram o planeta do caos e da auto-destruição. Obviamente isto foi feito através de uma invasão, de uma tomada de posse dos corpos, embora em alguns casos, a mente humana ainda permanecesse consciente e aprisionada, mas não mais no controle daquilo que havia sido seu próprio corpo. Os seres alienígenas já haviam feito o mesmo com diversos mundos, num esquema de simbiose, mas com os humanos, por causa de suas características violentas e hostis, só foi possível através de invasão. É neste ponto que penso que a obra falhou, pois poderia explorar muito mais esta questão, pois se os humanos não fossem invadidos, destruir-se-iam de qualquer modo. Isto nos coloca outra questão : O que é melhor ? Deixar que nossa vida seja destruída por uma trajetória civilizacional incontornável, porque a vida é nossa e pronto, ou permitir que nossa vida destrutiva se transforme em uma vida mais harmoniosa do ponto de vista cósmico integrando-se a um todo maior ? O filme traz uma solução interessante para este dilema, mas perde muito tempo com o mela-cueca entre os protagonistas adolescentes.
Lore é um ótimo filme que mostra múltiplas facetas de um mesmo drama : O drama de ser prisioneiro de seu momento histórico. Não escolhemos quando nem onde nasceremos e muito menos que tipo de papel nos será dado pelo mundo e certamente procuraremos nos identificar com aquilo que nos foi transmitido por nossos pais, pela nossa cultura, pelo nosso país. O choque de realidade a que muitas vezes somos submetidos, seja através de uma guerra ou outra situação limite, nos arranca subitamente de tudo aquilo que acreditávamos, nos lançando à nossa precariedade – não há nenhuma raça superior que resista à fome, à sede , a dias e dias sem banho e ao medo concreto e iminente da morte. No limite desta precariedade está nossa faceta original e tão igual a todos os humanos : somos animais frágeis que necessitam de cuidados, não importa de que cepo racial tenhamos vindo. Cate Shortland dirige esta história com sensibilidade e nos dá um ângulo pouco explorado pelos milhares de filmes que tratam da Alemanha Nazista ou da 2ª. Guerra : a destruição da vida das famílias alemãs, que de uma hora para outra se viram privadas não apenas de seus bens e posses, mas da identidade que as modelou com base no vigoroso e trágico Romantismo Alemão que foi hipertrofiado com os doze anos de nazismo. Em Lore, esta destruição é ainda mais impactante, pois a protagonista em 1945 tem apenas quatorze anos e em pleno florescimento de sua puberdade, com a sexualidade à flor da pele, perde pai, mãe, sua casa e seu país (que foi ocupado) , recebendo a incumbência de cuidar de seus quatro irmãos, incluindo um bebê em fase de amamentação. Lore vagueia pela Floresta Negra, a caminho de Hamburgo, arrastando pelas mãos sua improvável prole e é obrigada a abrir mão de tudo aquilo que foi ensinada a acreditar, aceitando a ajuda daquele que acreditou ser um judeu (na verdade era um alemão “disfarçado”), inclusive o desejando sexualmente. As cenas com a avó, sua rebeldia em seguir os rituais de educação à mesa e a destruição dos enfeites de porcelana, que eram tão caros às mulheres da família, dão uma medida, ainda que delicada, da devastação sofrida por Lore ao longo de sua trajetória. Merece ser visto sem pressa.
Documentário instigante sobre as mensagens subliminares e codificadas que podem ser encontradas no filme O Iluminado - clássico absoluto do horror. Certa vez li uma entrevista com Kubrick, em que o entrevistador quis por fim às polêmicas especulações sobre o monolito que aparece em vários momentos no filme 2001- Uma Odisseia no Espaço. Existem teses bizarras sobre o significado do tal monolito , mas Kubrick se limitou a responder que se divertia com elas, pois ele não quis dizer absolutamente nada com aquele elemento, apenas teve a ideia e sapecou o monolito em pontos cruciais do filme e que tinha o hábito de fazer isso. Pode ser que o próprio Kubrick não tenha sido muito sincero em sua resposta, mas confesso que para mim é uma delícia ver as interpretações de pessoas extremamente observadoras ou obcecadas com uma obra ao ponto de tentar descobrir tudo o que o autor quis transmitir, quando acredito que muitas vezes o próprio autor não saiba conscientemente tudo o que está comunicando em sua obra. É claro que pessoas como Kubrick utilizam-se de multi-linguagens em suas obras e codificam várias mensagens, mas tais mensagens podem ou não ser decodificadas corretamente - depende muito do observador e o alinhamento entre seu contexto cultural e o do autor - por exemplo a tese de que o filme o Iluminado trata do massacre do índios norte-americanos pelo homem branco, a partir de pistas como as latas de fermento que aparecem na dispensa do hotel e outras imagens de índios em quadros espalhados pelo hotel. Tudo é muito maluco e o filme parece ter tantas mensagens, que a obra de Stephen King fica pequena... Mas nada supera a pira do diretor de sobrepor a versão do filme na sequencia correta com seu correspondente invertido, fotograma a fotograma, criando as imagens mais bizarras e dá-lhe teorias da conspiração sobre os resultados ! Se Kubrick pensou em tudo isso ao fazer o filme (alguns eventos apontados são apenas erros de continuidade) é sem dúvida uma das cabeças mais complexas do universo... Para quem gosta de cinema e Kubrick e tenha uma queda por investigações é um prato cheio.
Belo filme. Um motivo de orgulho para o cinema nacional, com atuações sensíveis e muito convincentes. Embora não se atenha muito profundamente aos fatos históricos, afinal não é um documentário, pinça um excerto deles e dá uma boa ideia da cultura japonesa na época de Hiroito e como os japoneses precisavam acreditar na imortalidade do imperador e na impossibilidade do Japão perder uma guerra. Parece absurda a resistência daqueles que se recusavam a admitir a derrota do Japão, mesmo sabendo a verdade. Contudo, é óbvio que não era apenas a vitória ou derrota que estavam em jogo, mas a crença profunda na divindade do imperador que dava sentido às vidas daquelas pessoas. A queda do imperador significava perder tudo aquilo sobre o que os japoneses haviam erigido suas vidas e crenças. É um filme que nos faz refletir sobre a força das crenças na vida humana e pode ser correlacionada às intolerâncias religiosas que ainda assistimos no mundo. É notório como o Japão mudou de lá para cá e podemos ter uma visão desta mudança no pós-guerra, assistindo ao excelente Mishima - Uma vida em quatro tempos, em que vemos o mais famoso escritor japonês praticar o harakiri diante da deterioração dos valores tão caros à cultura japonesa .
Um filme que tinha tudo para ser bom, mas forçou demais a barra e escorregou, tornando-se completamente inverossímil . Tive a sensação de que Brian de Palma quis por um clima de "Dublê de Corpo" no final, que fez o filme todo desandar. Boas atuações de Noomi e Karoline Herfurth, mas a personagem de McAdams não me agradou muito. Detalhe : os atores masculinos são péssimos !
Filminho preguiçoso... Neil Hopkins se sai bem, pois atua sozinho e sua angústia crescente e degeneração de sua aparência chegam a convencer. Mas o roteiro é mal explorado, irregular e deixa a sensação de que ficou devendo por preguiça ... bem diferente do roteiro de "Enterrado Vivo" com o excelente Ryan Reynolds, que embora numa situação similar, nos mantém presos a cada movimento do encaixotado protagonista.
O nome original do filme já dá uma dica da pseudo patriotada (pseudo porque parece que mais depõe contra aquilo que eles querem enaltecer) norte americana que enxerga a Casa Branca como o Olimpo e o presidente como o próprio Zeus governando a Terra a partir do salão oval. Em se tratando de governo e pátria, os americanos piram o cabeção e não conseguem distinguir a realidade do catálogo da Marvel Comics e atribuem a seus presidentes uma têmpera inverossímil aos humanos. Desde o Força Aérea Um, com o próprio Indiana Jones representando o presidente como se fosse Indiana Jones, não se via uma bobagem destas nas telas. Duro mesmo é ver atores tão bons tentando dar conta de papéis medíocres e estereotipados. A Ashley Judd teve sorte pois sua personagem não dura os primeiros dez minutos de filme. Morgan Freeman parece ter sido dopado para fazer o papel que lhe coube e o faz sem um átimo da presença forte que marca suas atuações. Gerard Butler é versátil e está acostumado à alternância - papéis excelentes e outros meia boca - mas mesmo ele não me pareceu confortável nesta "patacoada". Aaron Eckhart só me convenceu como ator no excelente "Obrigado por fumar", e não acrescenta nem atrapalha um filme que já estava condenado em sua ideia original. O roteiro é fraco de dar dó... Norte Coreanos infiltrados na segurança do primeiro ministro da Coréia do Sul ?? Hã ? Avião turbo-hélice invadindo o espaço aéreo da Casa Branca, derrubando o Obelisco e caindo no Quintal... Nem os soviéticos chegaram a tanto no ideário Hollywoodiano. Como sempre o cinema americano precisa dar vazão aos temores que ameaçam o Império e bastou a recente tensão entre as Coréias - com aquele gordinho imprestável travestido de ditador- para que Hollywood se visse na obrigação de filmar um "E se..." Ah... não poderia faltar dois outros clichês irritantes : o esperto filho do presidente, metido a garoto prodígio, que conhece todo o esquema de segurança da Casa Branca e se esgueira entre as paredes enquanto o pau come solto e o final... aqueles aplausos com aquelas caras anais de "nos ferramos, nossa segurança é uma merda, perdemos centenas de vidas, mas afinal, vencemos "
Incrível que um remake feito depois de mais de vinte anos e com tantos recursos, não chegue aos pés da tensão e do clima conseguido pelo então estudante de cinema Sam Raimi, que deve ter feito o original com menos de 10% do orçamento deste. Já começa na chegada do grupo à cabana... no original aquele banco balançando no alpendre que estanca repentinamente e consegue antecipar mais fortemente a presença do mal do que as cenas iniciais da nova versão. Para quem gosta do gênero e não viu o primeiro, o filme não é de todo ruim.
O interessante é que aquilo que apontam como o maior ponto fraco do filme, foi o que mais me agradou... Não se trata de um filme óbvio e se for assistido com a devida atenção, conseguimos entrar no clima sombrio das personagens que se entremeiam por motivos igualmente sombrios - a desejo de vingança de um policial atormentado pela perda do filho, um ex-atirador de elite do exército francês que se tornou assaltante de bancos e um médico psicopata que se impõe na história por uma mera casualidade.
Pablo Escobar, Anjo ou Demônio?
3.6 7A POLÍTICA DE PABLO ESCOBAR
Excelente documentário sobre a vida e influência de Pablo Escobar Gaviria , o bom bandido, comandante supremo do Cartel de Medellín, amado pelo povo porque foi dele que o povo recebeu casa, comida, proteção nos bairros sob seu domínio. Carismático, inteligente e articulado, conseguiu entrar na política colombiana, paralelamente às suas atividades criminosas e lá ficou até ser expulso. O documentário mostra de maneira clara e límpida como se conquista o amor dos pobres, mesmo sendo um assassino sanguinário, capaz de derrubar um avião com 120 pessoas a bordo para tentar eliminar um desafeto. Escobar eliminou três candidatos à presidência, vários juízes e políticos e colocou um país de joelhos, coisa que as milícias não haviam conseguido com décadas de guerrilhas. No espaço deixado pelo trololó de políticos “bem intencionados e democráticos”, ele conquistou a fama de pai dos pobres, o verdadeiro Robin Hood dando dinheiro, casa e víveres diretamente às pessoas... sem intermediários institucionais. Toda a população conhecia os crimes de Escobar, pois ele nunca fez qualquer questão de escondê-los, mas nos dias que se vão, os fins justificam totalmente os meios. Alguns moradores de Medellín, ainda hoje , compartilham da crença de que não tivessem impedido, Escobar teria sido o melhor Presidente que a Colômbia jamais teve. Isso não significa que todos os pobres amavam Escobar, longe disto ! Somente aqueles que por ele foram ajudados. O problema de Escobar é que ele era muito impaciente e escolhia explodir logo com tudo ao invés de articular e corromper. Ele oferecia a política da “Plata o Plomo “ – ou aceitava seu dinheiro (plata) ou suas balas (plomo) – e aparentemente ele tinha uma preferencia nítida pelo plomo. Somente os EUA conseguiram parar Escobar. Muita coisa mudou de lá para cá na América Latina, embora muito tenha se aprendido com Dom Pablito : os cartéis continuam, mas evoluíram bastante em seu modus operandi – são mais discretos e financiam facções armadas e partidos políticos em vários países. Aprenderam a desvincular a operação de captação de dinheiro das figuras carismáticas usadas na política e ao invés de bombas e capangas utilizam advogados e militantes. Museu de grandes novidades...
O Grande Hotel Budapeste
4.2 3,0KPenso que há uma mensagem sutil por trás de toda a grandiosidade visual deste belo filme : A arte de quem realmente entendeu seu papel no mundo, que é o de escolher uma atividade ou profissão e de exerce-la com excelência, com orgulho em servir ao outro. Num momento tão cinzento deste mundo, onde em todas as atividades humanas nos defrontamos com a soberba, o mal humor, o ódio em ter que servir ao outro, a obra baseada em Zweig resgata a cor e o brilho de quem ama servir ao outro com excelência, com zelo. Pego por duas guerras, o concierge Gustave H. não perde jamais sua educação, sua elegância e nível de exigência com a sua profissão. Um filme raro, com elenco brilhante e atuações precisas ( é muito legal ver verdadeiros monstros das telas, fazendo papéis pequenos, mas com o mesmo zelo de Gustave !!!)
Doce Tentação
2.4 163 Assista AgoraFilme surpreendentemente bom ! Tinha tudo para ser clichê, mas se salvou a partir de uma excelente construção da personagem Cherry que banca suas opções de vida, sem cair no lugar comum do tipo "olha só o que vocês (família e sociedade) me fizeram fazer da minha vida"… Em minha opinião, um filme que prende a atenção até o fim.
Hannah Arendt - Ideias Que Chocaram o Mundo
4.0 196São raros os humanos capazes de ir mais fundo nas questões sobre si mesmos, não se conformando com as análises e julgamentos do senso comum e tentando ir nas causas mesmas das coisas. E estes raros humanos, quando são confrontados com temas de clamor universal, sabem que não é nos sentimentos exaltados nem nos rótulos excludentes que encontramos as respostas à nossa perplexidade diante daquilo que não compreendemos. Hannah Arendt foi uma destas raras pessoas e foi muito mal compreendida, porque tudo o que desejavam dela era que ela reverberasse aquilo que já estava fartamente disponível – ódio e vingança. Ela tinha muito mais para oferecer à humanidade : uma reflexão profunda sobre o mal que acomete humanos que simplesmente abrem mão de serem humanos e abdicam de pensar. Ela tentou mostrar que o crime maior do nazismo estava para além dos mortos, mas na extirpação da condição humana tanto dos algozes quanto das vítimas e que não era um episódio histórico isolado. Penso que Arendt imaginava, com angústia, que se as pessoas não pudessem aprender mais sobre o potencial maligno da despersonalização que cada um de nós pode sofrer, o Holocausto fatalmente repetir-se-ia... e ela tinha razão. Grande filme, com interpretação espetacular de Barbara Sukowa.
Melancolia
3.8 3,1K Assista AgoraLars Von Trier nunca é óbvio e toca em temas universais que podem gerar inúmeras interpretações mas sempre causam uma sensação de desconforto, de uma espécie de vulnerabilidade atávica da qual não conseguimos escapar mesmo com o auxílio de nossa racionalidade. Em minha visão, o filme Melancolia toca justamente no ponto que lhe dá o nome e representa a enorme sensação de vazio que parece invadir a humanidade com uma voracidade crescente nos dias que se vão. A relação entre as irmãs que são acometidas por males antagônicos – uma mergulhada na depressão profunda e a outra mergulhada na “normalopatia”, aquela típica ingenuidade que faz com que as pessoas achem normal o otimismo em relação à vida – serve como excelente figura sobre um fundo no qual se desenvolve a mesma dinâmica – os planetas em rota de colisão : Um cheio de vida e com a presença pululante dos humanos e o outro cheio de mistérios, numa silenciosa trajetória de destruição. Genial a ideia de associar este sentimento tipicamente humano à existência de um planeta (azul como o nosso) que se encontrava escondido atrás do Sol e que se desloca em sua órbita em direção à Terra, em rota de colisão e consequente destruição. O Sol sempre representou para os humanos a fonte de energia e de poder, aos quais nossos ancestrais atribuíam a divindade e nossos contemporâneos apenas o poder pela força – força física, força econômica, força da aparência... força de nossas invenções e significações. O brilho do Sol esconde uma possível verdade inconveniente : A de que estamos sós num Universo sem Deus e que não há qualquer sentido em nossas breves vidas, que podem ser extintas por completo a qualquer momento. O planeta Melancolia funciona no filme como um “duplo” da Terra, sua antítese : Na Terra, temos nossa civilização recheada de nossas invenções e significados que nos conforta e nos faz esquecer a possível falta de sentido de nossas vidas. Melancolia, desconhecido e inexplicável – uma massa azul que vem direto ao nosso encontro – vem se fundir à Terra numa síntese (da mesma forma que as irmãs no final do filme se fundem e se “misturam” como nunca antes), cujo resultado é o nada, a destruição. Depois de Deus, veio a ciência e o racionalismo, o florescimento das correntes filosóficas e políticas, o poder dos homens sobre os homens elevado ao status de ciência seguido pela economia, o consumo e depois disso tudo... temos Melancolia em nosso caminho, como o derradeiro capítulo de nossa patética civilização. É absolutamente incrível a riqueza de detalhes que este diretor espalha por suas películas : Nas cenas finais, no belíssimo campo de golfe da casa de Claire, ela abraçada ao filho e se deslocando em câmera lenta na tentativa de fugir ao inevitável – ao fundo podemos ver a bandeirinha do buraco 19...o buraco inexistente, o limite final (o campo de golfe tem 18 buracos e John chama a atenção para isso no início do filme). Atuações brilhantes que penso terem captado todo o clima que Trier quis transmitir em seu filme... a meu ver imperdível !
Antonio Gramsci - Os Dias do Cárcere
3.9 4Ótimo filme sobre o principal período da vida de Antonio Gramsci - a sua prisão por dez anos (originariamente sua pena seria de 22 anos), período no qual escreveu seus cadernos que ficaram famosos primeiro por afrontar as diretrizes e estratégias do Partido Comunista Italiano, que na época estava subjugado à Internacional e consequentemente à Stálin. Posteriormente, os cadernos se tornaram mais famosos ainda por fornecerem um caminho alternativo à revolução armada para a conquista do poder pela classe proletária. Impressionante como se verifica a trajetória do PT no Brasil nas palavras proferidas por Gramsci na prisão - que no filme foram extraídas dos próprios cadernos, como dramatização de seus relacionamentos com outros prisioneiros ligados ao Partido. Uma verdadeira aula de história, complementada por comentários do Prof. Marcos Del Roio, nos Extras. Fotografia muito prejudicada nesta versão da Versátil - cenas muito escuras e inconstância na luminosidade, que num filme P&B é mortal.
Um Homem Comum
2.6 47Este filme é uma produção bastante tosca, quase ginasiana, mas... a mensagem que carrega é de um homem que cansou de esperar pela justiça das autoridades e resolveu tomar uma atitude, sem sensacionalismos,sem se travestir de Rambo ou de um louco atirador que mata gente inocente para se vingar da sociedade. O alvo dele era bem específico - terroristas assassinos- e o que o motivou foi morte de um rapaz que mal conhecia, num atentado do qual escapou apenas por ter se atrasado para pegar o trem. Apesar da produção fraca e atuações precárias, foi um filme que me prendeu até o fim com um argumento forte, coisa que atualmente muita produção hollywoodiana de ponta não te conseguido.
Uma Noite de Crime
3.2 2,2K Assista AgoraA temática é boa : A Americanização “vanguardista” de um ritual típico de uma tribo da Indonésia, o Amok ou Runamuck , onde durante o ritual, membros da tribo (normalmente homens) possuídos por espíritos, saem em desembalada carreira destruindo tudo e matando o que estiver pela frente. O espírito maligno malaio é, nesta versão cinematográfica, atribuído à violência natural dos seres humanos que exige uma catarse que é confinada pelas leis dos novos fundadores do Estado, a uma única noite no ano, onde os crimes mais bárbaros serão tolerados, sem qualquer intervenção da polícia, dos bombeiros ou do governo. O filme no entanto, a meu ver, peca pelo zilhão de estereótipos que joga na tela : O caçado que origina todo o desenvolvimento da trama é um negro pobre. O líder dos caçadores insanos é um loiro de olhos azuis vestido com uniforme de escola tradicional com direito a brasão no lado esquerdo do peito e gravata regimental. A família central da tragédia é a típica família “burguesa” americana : Brancos, bonitos, ele – empresário bem sucedido que fica rico com sistemas de segurança para defender as casas na noite do Expurgo (como é chamada a tal noite em que tudo é permitido), ela uma mulher insegura em relação à origem da riqueza do marido e do próprio papel na sociedade local, um filho Geek andrógino (que é o que dispara o problema) e uma filha adolescente, apaixonada por um rapaz mais velho e que tem “preguiça” da burguesia dos pais. Pronto ... tá montado o cenário ideológico e simplista de um problema realmente complexo da humanidade – a violência e a intolerância que reside no íntimo de cada um de nós, independente de raça, sexo ou orientação política e a tentativa do Estado de “regulá-la”. Tirando isso, o filme é bom !
Jobs
3.1 750 Assista AgoraPenso que ficou muito clara a intenção de Joshua Stern - A de colocar no centro de seu roteiro a personalidade singular de Jobs. Conseguiu graças à atuação brilhante de Ashton Kutcher. Parece superficial porque não se trata de sua biografia nem da história da Apple (que foram melhor abordados em Os Piratas do Vale do Silício), mas apenas um roteiro que emoldura a aquilo que o diretor quis destacar.
A Trégua
3.7 15Um filme diferente sobre o Holocausto, que mostra o ponto de vista de Primo Levi, um químico e escritor italiano que ao mesmo tempo em que teve sua sensibilidade aguçada em Auschwitz , teve também sua alma esmagada como ele mesmo relata num diálogo do filme. Trata-se de um filme diferente sobre esta temática, pois não explora a barbaridade e a violência dos campos de concentração de forma crua e direta, mas o drama, a dor e a angústia dos libertados em sua longa jornada de retorno para um país destruído pela guerra, para uma casa e uma família cuja sobrevivência era incerta. O filme é lento, pois é como se víssemos as cenas e as pessoas sob o ponto de vista de uma alma especialmente sensível que tenta digerir cada significado após a libertação improvável de uma sentença de morte líquida e certa e é pontuado de reflexões do próprio Levi que se tornaram históricas, como "Deus não deve existir, se Auschwitz existe" ... Talvez, o nome da obra de Levi represente não apenas aquela trégua que sucede a uma guerra trágica, onde a humanidade parece reflorescer através da compaixão e da boa vontade para curar suas feridas, até começar outra guerra tempos depois. Penso que a trégua também pode significar, ainda que na época de maneira inconsciente, o espaço entre uma sentença de morte e o fim da da vida, que se estendeu por quarenta anos após a libertação de Auschwitz, pois em 1987, Primo Levi, ao que tudo indica, suicidou-se, atirando-se do alto de um vão de escada. (Há quem diga que Levi morreu em Auschwitz com quarenta anos de atraso). Um belo filme, com ótima interpretação de John Turturro.
Nordvest
3.3 10Filme que marca pela sua crueza. Diferentemente dos enredos hollywoodianos, o filme não glamoriza nem a vida de aspirantes a bandidos nem os laços fraternos quando o crime é compartilhado entre irmãos. É um filme humano, demasiado humano, que mostra o outro lado da opção "fácil" de se tornar um criminoso : o medo, a inveja, a traição e a dissolução da possibilidade de se manter vínculos amorosos - isto para mim foi mais destacado do que a própria violência contida no filme.
O Melhor Lance
4.1 366 Assista AgoraUm dos pontos fortes do filme é o bom gosto de Tornatore nos mínimos detalhes : os ambientes, os objetos de arte, a escolha das locações e até o nome do protagonista não poderia ser mais adequado. Tudo enche os olhos neste excelente filme, que além de tudo tem um roteiro bem bolado e bem amarrado e conta com um elenco de primeira. Geoffrey , Sturgess e Sutherland estão excelentes nos papéis e o enredo do filme mantém uma tensão sutil que não se desfaz mesmo quando a historia parece ter-se revelado. A presença da anã genial pontuando o filme e o final são toques de mestre. Grata surpresa!
Tudo o Que Importa é o Passado
3.5 13Filme angustiante, que começa pelo fim e nos deixa intrigados de como a trama irá justificá-lo. Como a narrativa é do ponto de vista de uma policial que vai investigando cada passo da cena trágica com a qual se deparou, a trama não é linear mas um quebra-cabeças que vai se encaixando lentamente, com idas e vindas que justificam o nome do filme (não sei se o título original corresponde à versão em português), pois o ponto fulcral do drama reside num passado bastante remoto da tragédia, quando as personagens ainda eram crianças. Um triangulo amoroso complicado pois envolve dois irmãos e se desenvolve entre pequenas tragédias que irão culminar no desfecho brutal. Não obstante isso, penso que a diretora foi muito competente na utilização dos ambientes e da sobreposição da condição humana quando retirada dos confortos da urbanidade, com as condições em que vivem os animais na natureza - um habitat que parece não mais nos pertencer e por isso, choca. A contraposição está presente em toda a obra : a oposição de personalidades dos irmãos, a vida familiar urbana e organizada que a protagonista abandona para reviver um amor da juventude, o ambiente idílico com a brutalidade que ceifa vidas animais e humanas, o sexo por amor e por estupro, nascimentos e mortes, a fascinação da policial (ela mesma, grávida) que investiga o passado daquelas relações para encontrar as respostas que nos são apresentadas e que explicam as cenas trágicas do início. Toda esta história nos é contada com uma fotografia irretocável e com atuações fortes e convincentes que, em minha opinião, tornam o filme uma pequena obra-prima.
A Hospedeira
3.2 2,2KO filme é interessante em seu argumento, mas fraco no seu desenvolvimento com viés adolescente. Não li o livro, mas se considerar que o filme deve ter uma aderência forte com o livro, penso que a autora parece não ter conseguido fugir da trama do amor adolescente que tanto marcou a série Crepúsculo, para tentar agarrar seu público. Digo isto, porque a ideia de invasores de corpos humanos, embora não seja nada nova, suscita uma reflexão muito mais profunda do que o filme é capaz de mostrar. A reflexão profunda é a tentativa de escapar do pensamento rousseauniano do “bom selvagem”, de que somos bons se permanecermos originais, intocados como os indígenas foram um dia. Somos uma espécie de qualidade muito questionável, se fizermos uma autocrítica sincera : matamos uns aos outros por motivos torpes, somos egoístas, destruímos o meio ambiente, somos cruéis com outras espécies, somos mentirosos e ambiciosos e nos falta o sentido de coletividade, de ecossistema integrado... mas somos humanos, oras ! No filme as almas que eram transferidas para os corpos possuíam atributos morais muito superiores aos dos humanos e tiraram o planeta do caos e da auto-destruição. Obviamente isto foi feito através de uma invasão, de uma tomada de posse dos corpos, embora em alguns casos, a mente humana ainda permanecesse consciente e aprisionada, mas não mais no controle daquilo que havia sido seu próprio corpo. Os seres alienígenas já haviam feito o mesmo com diversos mundos, num esquema de simbiose, mas com os humanos, por causa de suas características violentas e hostis, só foi possível através de invasão. É neste ponto que penso que a obra falhou, pois poderia explorar muito mais esta questão, pois se os humanos não fossem invadidos, destruir-se-iam de qualquer modo. Isto nos coloca outra questão : O que é melhor ? Deixar que nossa vida seja destruída por uma trajetória civilizacional incontornável, porque a vida é nossa e pronto, ou permitir que nossa vida destrutiva se transforme em uma vida mais harmoniosa do ponto de vista cósmico integrando-se a um todo maior ? O filme traz uma solução interessante para este dilema, mas perde muito tempo com o mela-cueca entre os protagonistas adolescentes.
Lore
3.8 128 Assista AgoraLore é um ótimo filme que mostra múltiplas facetas de um mesmo drama : O drama de ser prisioneiro de seu momento histórico. Não escolhemos quando nem onde nasceremos e muito menos que tipo de papel nos será dado pelo mundo e certamente procuraremos nos identificar com aquilo que nos foi transmitido por nossos pais, pela nossa cultura, pelo nosso país. O choque de realidade a que muitas vezes somos submetidos, seja através de uma guerra ou outra situação limite, nos arranca subitamente de tudo aquilo que acreditávamos, nos lançando à nossa precariedade – não há nenhuma raça superior que resista à fome, à sede , a dias e dias sem banho e ao medo concreto e iminente da morte. No limite desta precariedade está nossa faceta original e tão igual a todos os humanos : somos animais frágeis que necessitam de cuidados, não importa de que cepo racial tenhamos vindo. Cate Shortland dirige esta história com sensibilidade e nos dá um ângulo pouco explorado pelos milhares de filmes que tratam da Alemanha Nazista ou da 2ª. Guerra : a destruição da vida das famílias alemãs, que de uma hora para outra se viram privadas não apenas de seus bens e posses, mas da identidade que as modelou com base no vigoroso e trágico Romantismo Alemão que foi hipertrofiado com os doze anos de nazismo. Em Lore, esta destruição é ainda mais impactante, pois a protagonista em 1945 tem apenas quatorze anos e em pleno florescimento de sua puberdade, com a sexualidade à flor da pele, perde pai, mãe, sua casa e seu país (que foi ocupado) , recebendo a incumbência de cuidar de seus quatro irmãos, incluindo um bebê em fase de amamentação. Lore vagueia pela Floresta Negra, a caminho de Hamburgo, arrastando pelas mãos sua improvável prole e é obrigada a abrir mão de tudo aquilo que foi ensinada a acreditar, aceitando a ajuda daquele que acreditou ser um judeu (na verdade era um alemão “disfarçado”), inclusive o desejando sexualmente. As cenas com a avó, sua rebeldia em seguir os rituais de educação à mesa e a destruição dos enfeites de porcelana, que eram tão caros às mulheres da família, dão uma medida, ainda que delicada, da devastação sofrida por Lore ao longo de sua trajetória. Merece ser visto sem pressa.
Terapia de Risco
3.6 1,0K Assista AgoraBelo filme, com roteiro bem amarrado que prende até o final. Boas atuações e Mara espetacular. Há tempos não via um desses.
O Labirinto de Kubrick
3.4 181Documentário instigante sobre as mensagens subliminares e codificadas que podem ser encontradas no filme O Iluminado - clássico absoluto do horror. Certa vez li uma entrevista com Kubrick, em que o entrevistador quis por fim às polêmicas especulações sobre o monolito que aparece em vários momentos no filme 2001- Uma Odisseia no Espaço. Existem teses bizarras sobre o significado do tal monolito , mas Kubrick se limitou a responder que se divertia com elas, pois ele não quis dizer absolutamente nada com aquele elemento, apenas teve a ideia e sapecou o monolito em pontos cruciais do filme e que tinha o hábito de fazer isso. Pode ser que o próprio Kubrick não tenha sido muito sincero em sua resposta, mas confesso que para mim é uma delícia ver as interpretações de pessoas extremamente observadoras ou obcecadas com uma obra ao ponto de tentar descobrir tudo o que o autor quis transmitir, quando acredito que muitas vezes o próprio autor não saiba conscientemente tudo o que está comunicando em sua obra. É claro que pessoas como Kubrick utilizam-se de multi-linguagens em suas obras e codificam várias mensagens, mas tais mensagens podem ou não ser decodificadas corretamente - depende muito do observador e o alinhamento entre seu contexto cultural e o do autor - por exemplo a tese de que o filme o Iluminado trata do massacre do índios norte-americanos pelo homem branco, a partir de pistas como as latas de fermento que aparecem na dispensa do hotel e outras imagens de índios em quadros espalhados pelo hotel. Tudo é muito maluco e o filme parece ter tantas mensagens, que a obra de Stephen King fica pequena... Mas nada supera a pira do diretor de sobrepor a versão do filme na sequencia correta com seu correspondente invertido, fotograma a fotograma, criando as imagens mais bizarras e dá-lhe teorias da conspiração sobre os resultados ! Se Kubrick pensou em tudo isso ao fazer o filme (alguns eventos apontados são apenas erros de continuidade) é sem dúvida uma das cabeças mais complexas do universo... Para quem gosta de cinema e Kubrick e tenha uma queda por investigações é um prato cheio.
Corações Sujos
3.6 264 Assista AgoraBelo filme. Um motivo de orgulho para o cinema nacional, com atuações sensíveis e muito convincentes. Embora não se atenha muito profundamente aos fatos históricos, afinal não é um documentário, pinça um excerto deles e dá uma boa ideia da cultura japonesa na época de Hiroito e como os japoneses precisavam acreditar na imortalidade do imperador e na impossibilidade do Japão perder uma guerra. Parece absurda a resistência daqueles que se recusavam a admitir a derrota do Japão, mesmo sabendo a verdade. Contudo, é óbvio que não era apenas a vitória ou derrota que estavam em jogo, mas a crença profunda na divindade do imperador que dava sentido às vidas daquelas pessoas. A queda do imperador significava perder tudo aquilo sobre o que os japoneses haviam erigido suas vidas e crenças. É um filme que nos faz refletir sobre a força das crenças na vida humana e pode ser correlacionada às intolerâncias religiosas que ainda assistimos no mundo. É notório como o Japão mudou de lá para cá e podemos ter uma visão desta mudança no pós-guerra, assistindo ao excelente Mishima - Uma vida em quatro tempos, em que vemos o mais famoso escritor japonês praticar o harakiri diante da deterioração dos valores tão caros à cultura japonesa .
Paixão
2.7 333Um filme que tinha tudo para ser bom, mas forçou demais a barra e escorregou, tornando-se completamente inverossímil . Tive a sensação de que Brian de Palma quis por um clima de "Dublê de Corpo" no final, que fez o filme todo desandar. Boas atuações de Noomi e Karoline Herfurth, mas a personagem de McAdams não me agradou muito. Detalhe : os atores masculinos são péssimos !
Desvio
2.5 10Filminho preguiçoso... Neil Hopkins se sai bem, pois atua sozinho e sua angústia crescente e degeneração de sua aparência chegam a convencer. Mas o roteiro é mal explorado, irregular e deixa a sensação de que ficou devendo por preguiça ... bem diferente do roteiro de "Enterrado Vivo" com o excelente Ryan Reynolds, que embora numa situação similar, nos mantém presos a cada movimento do encaixotado protagonista.
Invasão à Casa Branca
3.3 786 Assista AgoraO nome original do filme já dá uma dica da pseudo patriotada (pseudo porque parece que mais depõe contra aquilo que eles querem enaltecer) norte americana que enxerga a Casa Branca como o Olimpo e o presidente como o próprio Zeus governando a Terra a partir do salão oval. Em se tratando de governo e pátria, os americanos piram o cabeção e não conseguem distinguir a realidade do catálogo da Marvel Comics e atribuem a seus presidentes uma têmpera inverossímil aos humanos. Desde o Força Aérea Um, com o próprio Indiana Jones representando o presidente como se fosse Indiana Jones, não se via uma bobagem destas nas telas. Duro mesmo é ver atores tão bons tentando dar conta de papéis medíocres e estereotipados. A Ashley Judd teve sorte pois sua personagem não dura os primeiros dez minutos de filme.
Morgan Freeman parece ter sido dopado para fazer o papel que lhe coube e o faz sem um átimo da presença forte que marca suas atuações. Gerard Butler é versátil e está acostumado à alternância - papéis excelentes e outros meia boca - mas mesmo ele não me pareceu confortável nesta "patacoada". Aaron Eckhart só me convenceu como ator no excelente "Obrigado por fumar", e não acrescenta nem atrapalha um filme que já estava condenado em sua ideia original. O roteiro é fraco de dar dó... Norte Coreanos infiltrados na segurança do primeiro ministro da Coréia do Sul ?? Hã ? Avião turbo-hélice invadindo o espaço aéreo da Casa Branca, derrubando o Obelisco e caindo no Quintal... Nem os soviéticos chegaram a tanto no ideário Hollywoodiano. Como sempre o cinema americano precisa dar vazão aos temores que ameaçam o Império e bastou a recente tensão entre as Coréias - com aquele gordinho imprestável travestido de ditador- para que Hollywood se visse na obrigação de filmar um "E se..."
Ah... não poderia faltar dois outros clichês irritantes : o esperto filho do presidente, metido a garoto prodígio, que conhece todo o esquema de segurança da Casa Branca e se esgueira entre as paredes enquanto o pau come solto e o final... aqueles aplausos com aquelas caras anais de "nos ferramos, nossa segurança é uma merda, perdemos centenas de vidas, mas afinal, vencemos "
A Morte do Demônio
3.2 3,9K Assista AgoraIncrível que um remake feito depois de mais de vinte anos e com tantos recursos, não chegue aos pés da tensão e do clima conseguido pelo então estudante de cinema Sam Raimi, que deve ter feito o original com menos de 10% do orçamento deste. Já começa na chegada do grupo à cabana... no original aquele banco balançando no alpendre que estanca repentinamente e consegue antecipar mais fortemente a presença do mal do que as cenas iniciais da nova versão. Para quem gosta do gênero e não viu o primeiro, o filme não é de todo ruim.
Atirador de Elite
2.6 19 Assista AgoraO interessante é que aquilo que apontam como o maior ponto fraco do filme, foi o que mais me agradou... Não se trata de um filme óbvio e se for assistido com a devida atenção, conseguimos entrar no clima sombrio das personagens que se entremeiam por motivos igualmente sombrios - a desejo de vingança de um policial atormentado pela perda do filho, um ex-atirador de elite do exército francês que se tornou assaltante de bancos e um médico psicopata que se impõe na história por uma mera casualidade.