Narrativamente simples, visualmente memorável. Assim é "Corpo e Alma", segundo filme de Robert Rossen.
Não deixa de ser surpreendente a destreza visual com que Rober Rossen conduz as sequências de lutas, de forma crua, tornando os momentos no ringue, verdadeiros espetáculos.
E a narrativa, ainda que, siga uma receita bastante usual e sem grandes surpresas no que se refere a narrativas de ascensão, poder e cobiça, é suficientemente eficiente em manter o interesse até os minutos finais de projeção.
Assim pode-se descrever o primeiro filme de Robert Rossen como diretor. Ainda que tenha alguma qualidade, o filme não consegue se destacar em nenhum aspecto técnico-narrativo. É uma trama apenas ok, com atuações e uma direção operante, com uma abordagem previsível e que sofre com questões culturais de seu tempo.
É deprimente ver um diretor que fez tudo o que Martin Scorsese fez pelo cinema, praticamente ter de pedir licença para a geração atual, para lançar seu filme com mais de 3h20 de duração, contado do jeito que ele quis, com o elenco que ele quis, enquanto, é de conhecimento público, a comoção que há para que filmes medíocres do subgênero de super-herói, tenham cortes com mais 4h de duração.
"Assassinos da Lua das Flores" eleva ainda mais a maturidade de Scorsese, demonstrada no filme anterior - "O Irlandês" de 2019 - tendo a paciência de destrinchar uma longa narrativa que aborda temas que percorrem desde o conflito racial entre brancos e indígenas nas terras Osage até a criação do FBI. Tudo, com um ritmo lento, progressivamente tenso e jamais desinteressante. Sim, é uma narrativa lenta. Mas, que nunca se permite cenas gratuitas. Assim, é um filme longo, mas sem gorduras narrativas.
O elenco encabeçado por Leonardo DiCaprio, Lily Gladstone e Robert De Niro entrega atuações fortes e com muitas camadas. Não é difícil tentar entender o porque tal personagem confia cegamente no outro, assim como entender porque tal personagem faz o que faz, mas a contrapartida emocional em suas ações. Até mesmo o vilão, jamais é retratado de forma unidimensional.
E o que dizer da enervante trilha sonora, que, na mesma medida que nos proporciona uma imersão cultural, é enervante e surge de forma inquietante, como prenúncio do que está por vir.
"Assassinos da Lua das Flores" é um dos últimos filmes da carreira de um dos diretores norte-americanos mais brilhantes de todos os tempos. E é uma obra-prima que merecia mais reconhecimento e no mínimo, compreensão.
Retorno triunfal de Martin Scorsese ao subgênero que o consagrou, "O Irlandês" atesta a maturidade do diretor, que, ao escolher fazer o filme como o fez. com o elenco que fez e com a duração de 3h30, deixa claro: não deve mais nada ao cinema e irá fazer os filmes que quiser.
E "O Irlandês" é uma grande celebração, não apenas aos fãs do diretor, como ao cinema, que depois de tantos anos, tem um filme nos moldes clássicos da Nova Hollywood. Narrativamente impecável, o filme atravessa. sob um ponto de vista bem específico, cerca de 50 anos da história dos EUA, sem se vangloriar do feito nem por um minuto sequer. Tudo é bem construído e sem a menor pressa.
O trio de protagonistas está perfeitamente a vontade e o único e irrelevante deslize do filme reside justamente no processo de rejuvenescimento dos atores, que é imperfeito, ainda que bem intencionado.
Seguramente, um dos 5 melhores filmes de Martin Scorsese.
É importante que se diga: trata-se de um dos projetos mais pessoais de Martin Scorsese e que expressa um tema recorrente em sua filmografia. Não foi um filme pensado para entreter o grande público.
Dito isso, é um bom filme. Há uma dose de imersão bastante interessante, ainda que, o sotaque dos atores em alguns momentos seja deslocado e sem continuidade. Scorsese filma seus protagonistas com paixão e devoção, mas sem desrespeitar a cultura japonesa. O maior pecado de "Silêncio" encontra-se no fato de que ainda que bem produzido e dirigido, Scorsese em sua paixão, parece esquecer que cinema também é entretenimento.
Com seu ritmo lento e seu enredo pouco envolvente, "Silêncio" é um dos trabalhos mais inacessíveis de Martin Scorsese.
Mais do que entregar uma comédia de humor ácido, em "O Lobo de Wall Street", Martin Scorsese faz uma sátira sobre vícios.
Jordan Belfort (Leonardo DiCaprio, em grande atuação, injustamente não reconhecida pelo Óscar de 2014), é um viciado em dinheiro, drogas e sexo. Não necessariamente nessa ordem. Ao iniciar sua jornada em Wall Stteet, vemos um Belfort ainda iniciante demonstrar cobiça, ambição e ir se aprofundando cada vez mais nos seus próprios vícios. E se a narrativa pode parecer repetitiva, afinal, estamos vivendo o looping de um viciado que entre um abuso e outro vai perdendo tudo, a forma frenética que Scorsese filma algumas sequências, confere fôlego para os 180 minutos de duração.
Um dos grandes acertos do filme é não buscar interferir na visão que se pode ter de seu protagonista. Belfort é um verdadeiro filho da puta e o filme não se isenta de tratá-lo como tal. A grande questão é o seu carisma. Di Caprio transmite todo o cinismo de forma brutal e muito envolvente.
"O Lobo de Wall Street" é um filme muito bom, de um dos maiores diretores de todos os tempos e merece destaque.
Uma bonita e singela homenagem de um dos diretores mais apaixonados pelo cinema.
"A Invenção de Hugo Cabret" é o primeiro longa infanto-juvenil (pode-se dizer) dirigido por Martin Scorsese. Mas, antes de uma história envelopada em aventura e magia, o filme é uma homenagem à Georges Méliès, o pai da ficção científica e dos efeitos visuais no cinema.
O diretor demonstra muita sensibilidade e a habitual elegância em seus planos sequência que mostram o cotidiano da Paris do início do século XX. A fotografia e o design de produção são belíssimos e exercem função importante narrativamente, ao nos mostrar aquele universo pelos olhos de uma criança.
O roteiro opta pela segurança e entrega uma narrativa sem grandes surpresas. Entre uma homenagem e outra, a narrativa progride para uma conclusão que mais serve de homenagem. Scorsese parece se divertir nas sequências que refilmam o trabalho de Méliès, porém não demonstra o mesmo entusiasmo nas sequências que envolvem as demais linhas narrativas.
"A Invenção de Hugo Cabret" é uma bela homenagem e um filme inofensivo de um diretor habituado à violência.
Scorsese se rende ao cinema de plot-twist e realiza seu trabalho mais comercial.
"Ilha do Medo" é um daqueles filmes que sua grande razão de ser é, em essência, o seu plot twist. E bem que Scorsese tenta por meio de uma direção segura e elegante, corrigir as imperfeições narrativas. O diretor lança mão de todos os recursos narrativos possíveis a fim de manipular o espectador. Seja a trilha sonora de terror, a fotografia sombria e os olhares suspeitos.
E o resultado é sem duvida alguma, satisfatório. Como entretenimento, "Ilha do Medo" é um bom filme. Inchado narrativamente, mas com um plot twist impactante o suficiente para valer a sua longa duração.
O tão merecido Óscar da carreira de um dos maiores cineastas norte-americanos de todos os tempos.
Ainda que não seja o melhor filme da carreira de Scorsese, "Os Infiltrados" - remake de um longa produzido em Hong Kong, em 2002 - ocupa posição de destaque na filmografia do diretor.
Com uma narrativa ágil e perspicaz, repleta de intrigas e tensão, o filme celebra o retorno do diretor ao gênero que o notabilizou para Hollywood. E mesmo que tenha aspectos comerciais fortes, Scorsese consegue imprimir sua assinatura com inteligência. É um roteiro simples, mas que em sua condução envolve na eminência de que um dos lados (ou ambos) sofrerão as consequências de seus atos.
Destaque para o uso memorável de Gimme Shelter, dos Rolling Stones, como trilha sonora em uma sequência pra lá de empolgante e que ambienta de forma muito precisa.
Um clássico contemporâneo que fez justiça ao render o primeiro Óscar (e possivelmente único) da carreira de Martin Scorsese.
Um Martin Scorsese contido dirige a cinebiografia do excêntrico cineasta, produtor e aviador, Howard Hughes.
"O Aviador" é um trabalho mais discreto de Scorsese. Embora ostente um grande orçamento, que possibilite cenas grandiosas, o diretor abre mão de seus habituais recursos narrativos e entrega uma direção elegante, mas sem uma assinatura visual tão marcante quanto os seus demais trabalhos.
O roteiro opta por fazer um recorte específico da trajetória de Hughes. Se por um lado a decisão se mostra um acerto, permitindo uma análise mais aprofundada de aspectos psicológicos de seu protagonista, ao mesmo tempo, falta coragem ao longa para mostrar os últimos dias de Hughes, que se tornara uma figura completamente desprendido da realidade.
Leonardo DiCaprio, em sua segunda colaboração com o diretor, se entrega de corpo e alma ao trabalho e realiza uma das melhores atuações de sua carreira. Há muitas camadas e o ator explora todas com muita solidez.
Amparado por uma atuação imponente de seu protagonista, "O Aviador" tem muita qualidade. Mas, posiciona-se como um dos filmes menos memoráveis de seu diretor.
Depois de uma sequência de filmes aquém da sua habitual qualidade, Martin Scorsese retoma o trilho dos grandes filmes com "Gangues de Nova York".
Projeto ambicioso e que se situa entre o olhar histórico de Scorsese para a sua amada cidade e a história de gangues rivais na condição de predecessoras da máfia, o filme se destaca por sua grandiosidade e elenco, mas peca por uma narrativa que não consegue fugir de clichês batidos, como a vingança familiar, a rivalidade carnal e a traição política.
Daniel Day-Lewis merece destaque como um dos maiores vilões da galeria de Scorsese. Sua presença magnética é hostil, intimidadora e ao mesmo tempo, carismática. Leonardo DiCaprio, em sua primeira colaboração com o diretor, entrega um protagonista sólido, mas unidimensional. E Cameron Diaz fecha o trio principal, sem muito brilho.
A ambientação cultural da Nova York do século XIX, por meio de seu design de produção, é um ponto altíssimo na produção. A cidade é diferente de tudo que Scorsese já mostrou antes.
"Gangues de Nova York" é um grande filme. Mas, talvez não tão interessante como deveria ser.
Desde os seus primeiros trabalhos, quando ainda fazia filmes gregos, Yorgos Lanthimos sempre fez - para bem e para mal - o cinema desconforto.
Parecia natural imaginar o diretor realizando um filme de terror psicológico, ainda que seus trabalhos até então fossem voltados para o drama ou o humor obscuro.
Aqui, finalmente Lanthimos abraça ao terror psicológico e entrega um de seus melhores trabalhos.
O filme acerta ao capturar o interesse logo nos primeiros minutos. É curioso notar que diferente dos trabalhos anteriores do diretor, aqui, no centro de tudo há certa funcionalidade. É uma família distante emocionalmente, mas que tem uma aparente normalidade. É na figura de Martin (Barry Keoghan) que vemos essa normalidade ruir pouco a pouco.
E que atuação do jovem ator. Ele é maldoso, sem ser vilanesco. Há uma frieza cruel, mas jamais injustificável em suas ações. E suas ações movimentam a trama. É na sua presença que o diretor causa desconforto.
O desenrolar da trama é lento, mas jamais desinteressante. A trilha sonora desarmoniosa e inquietante, aliada a planos fechados e alguns plano sequências que beiram a opressão, conferem a tensão necessária.
O filme trabalha temas como culpa, injustiça, moralidade e alcoolismo, com muita inteligência, jamais caindo no óbvio. Os personagens são construídos em camadas e despidos pouco a pouco, conforme o medo os consome.
"O Sacrifício do Cervo Sagrado" é um ótimo filme de um diretor divisivo, mas muito talentoso.
Primeiro trabalho Hollywoodiano de Yorgos Lanthimos, é também, seu primeiro acerto.
O diretor finalmente consegue equilibrar sua obsessão em causar desconforto com uma história consistente sobre imposições sociais, padrões de relacionamento, solidão e insegurança.
O diretor não abandona a habitual estranheza com que filma seus personagens e tampouco os preserva dos habituais constrangimentos que são comuns em suas narrativas como roteirista. A grande sacada é que o roteiro e montagem conseguem estabelecer com pouquíssimo tempo as regras desse futuro quase distópico das relações humanas.
Com isso a seu favor, o diretor consegue de maneira sutil investir nos traços de personalidade de seus personagens e pontuar com situações absurdas muito bem costuradas. Vemos a insegurança do protagonista ser uma constante do começo ao fim. Vemos seu caminho cruzar com personagens frios, outros ternos, outros pragmáticos em sua própria filosofia. Tudo de forma clara e compreensível.
O andamento da narrativa é ágil até o fim do segundo ato, quando cria um problema que é a chave da conclusão do filme.
"O Lagosta" é um curioso olhar sobre as relações humanas e convenções sociais estabelecidas. Sobre extremos. Sobre absurdos. E funciona muito bem.
Um pouco menos bizarro que "Dente Canino" e um pouco mais confuso também.
"Alpes" reforça que Yorgos Lanthimos é um propagador do desconforto. Aqui, o diretor nos joga numa história que vai fazendo (algum) sentido (mínimo) de forma bastante gradual e lenta. Entre uma situação bizarra e outra, o diretor, aqui um pouco mais contido, entrega pistas sobre as próprias bizarrices do enredo e propõe de modo distante uma reflexão sobre perda, luto e vazio. A dificuldade que a narrativa encontra é manter o interesse por uma história que não parece ir a lugar nenhum para além de uma rasa reflexão.
O filme até consegue passar sua mensagem, porém depois de um excesso de bizarrices que de todo, não fazem sentido o tempo todo.
"Alpes" é mais inofensivo que o filme anterior de Lanthimos. Mas é menos interessante também.
Talvez um dos filmes de curta duração mais exaustivos que eu já vi.
Dente Canino encontra sua razão de ser numa ideia. Uma única e boa ideia. E esse talvez seja um dos maiores problemas do filme. O que vemos ao longo dos seus 94 minutos é uma sucessão de situações que visam a todo momento reforçar essa ideia, seja pela bizarrice, pelo absurdo ou pelo desconforto. É uma experiência cansativa, pouco inspirada e revoltante. E se temos algumas situações que causam reflexões, outras beiram o puro sadismo.
E ainda que Yorgos Lanthimos saiba mostrar detalhes que tem impacto na narrativa e seja hábil em extrair boas atuações do elenco, sua falta de sensibilidade se confunde com o desconforto gratuito.
A narrativa é conduzida de forma excessivamente lenta e alguns desfechos acabam se mostrando óbvios a partir do acúmulo de absurdos.
Dente Canino tinha tudo para ser um filme reflexivo, impactante e perturbador. Mas, pela sua insensibilidade e insistência no absurdo, consegue ser apenas bizarro.
Parece que os anos 90 foram um período realmente difícil para Martin Scorsese. A exceção de "Os Bons Companheiros" em 1990 e "Cassino" em 1995, os demais filmes do diretor, deixaram bastante a desejar. E este "Vivendo No Limite" é sem sombra de duvida, o pior do período e um dos piores de toda a sua carreira,
Com roteiro de Paul Schrader (de Táxi Driver e Touro Indomável), "Vivendo No Limite" decepciona ainda mais por se tratar de uma parceria que rendeu dois dos melhores trabalhos de Scorsese. E é notável em dados momentos, a inspiração narrativa, seja no fato do protagonista ser um motorista, seja pela narração, pelo estado mental delirante ou a Nova York suja. Contudo, diferente do filme de 1976, nada aqui funciona.
Ainda que o primeiro ato seja promissor e desperte a curiosidade, a narrativa não se sustenta e aos poucos fica mais como delírio criativo com picos de energia. Os pensamentos e reflexões soam vazios e Nicolas Cage, que está comprometido com o papel, não tem o mesmo carisma doentio de Robert De Niro.
A trilha sonora é enérgica, mas acompanha o visual num sentimento de algo barato. E talvez seja esse o adjetivo que descreva o filme de forma mais objetiva.
Filme menos hollywoodiano de Scorsese peca por ser uma biografia formulaica, sem entusiasmo e que se contenta em prestar homenagem, sem adentrar nas polêmicas em torno de seu protagonista.
Kundun conta a história do surgimento e educação do menino que se tornaria o 14º Dalai Lama, avançando até os conflitos com a China Comunista. Sem a presença de atores conhecidos, o filme realmente passa uma sensação de ser um trabalho menor, mais barato e menos vistoso.
O diretor foca bastante em aspectos da cultura Tibetana e na fotografia, que de fato, é muito bonita com tons dourados e alaranjados, enaltecendo a importância da figura do Dalai Lama para o seu povo.
Sem grandes virtudes, mas também sem grandes erros, Kundun peca por uma história sem profundidade, sem coragem e sem energia, sendo um trabalho apenas aceitável de Scorsese.
5 anos depois e Scorsese retorna a temática que o consagrou como um dos maiores cineastas.
E talvez o pouco tempo de diferença entre o lançamento de "Os Bons Companheiros" e "Cassino" crie uma comparação cruel, visto que, o primeiro é sua obra-prima máxima. Fato é, o filme de 1995 é inferior ao primeiro.
Cassino apresenta a história de Ace Rothstein, um judeu viciado em jogatina que foi promovido pela máfia a gerente de um dos maiores cassinos de Las Vegas e se apaixona por Ginger (Sheron Stone, em grande colaboração). Para isso, ele conta com a ajuda do perigoso Nicky (Joe Pesci, em papel vagamente familiar).
Scorsese reedita a parceria entre a dupla e acrescenta a figura de Stone. Novamente, temos a trajetória de ascensão e queda, só que dessa vez do próprio cassino. E novamente, tudo desanda. Sangue, mortes e traições. E talvez essa seja a grande questão de "Cassino" em comparação aos "Os Bons Companheiros". Tudo é muito familiar e já visto antes.
E por incrível que possa parecer, a longa duração (178 minutos) jamais chega perto de ser um problema. A grande questão é a sensação de repetição.
A direção segue brilhante, com todos os seus recursos narrativos, uso de trilha sonora empolgante, mas não consegue evitar a sensação de deja vu e de que aquilo já foi visto anteriormente.
"Cassino" é um grande filme, feito num momento inadequado na filmografia do diretor.
Cinema também é entretenimento. E talvez esse seja um dos maiores pecados de "A Época da Inocência".
Apresentando uma Nova York da realeza de meados do século XVIII, o filme explora convenções políticas e sociais da época da mesma forma como códigos de conduta adotados por gangsters e criminosos. E por mais compreensível que seja, dado o fato de que ainda hoje temos códigos comportamentais que são fatais, principalmente na internet, o filme tem dificuldade em apresentar isso de uma forma atrativa.
Há muita beleza no design de produção, na fotografia. O trio de protagonistas está impecável, ainda que, contido. E esse é de fato, um propósito do filme. Nada é permitido. Tudo deve ser contido. Inclusive, as paixões.
Contudo, esse ritmo excessivamente lento torna a experiência um pouco desgastante e mais difícil apreciar os aspectos artísticos do filme, que são maravilhosos.
Longe de ser um filme ruim, "Á Época da Inocência" mostra um domínio artístico invejável de Scorsese, mas peca por não conseguir ser interessante para sua longa duração.
Um ano depois de lançar sua maior obra-prima, Martin Scorsese decide se aventurar pelo thriller psicológico e homenagear Alfred Hitchcock. O resultado, infelizmente, deixou a desejar. Cabo do Medo, remake de filme de 1962, é um bom filme, mas muito abaixo do que o diretor é capaz.
Reeditando a parceira com Robert De Niro mais uma vez, Scorsese encontra na atuação do veterano ator, a maior virtude do filme. Max Cady é um vilão repulsivo, astuto e intimidador e sua presença em cena é magnética. O mesmo não pode ser dito do protagonista Sam Bawden (Nick Nolte, canastrão e sem carisma, tentando defender um personagem que é mal escrito). Ainda no elenco, encontram-se Jessica Lange, em atuação de respeito, porém mal aproveitada, Juliette Lewis ainda iniciante, mas com bastante destaque e, por fim, Gregory Peck (que atuou no filme original de 62) em uma pequena participação.
[/spoiler] Curiosamente, embora o roteiro relegue a ambas a condição de coadjuvantes no embate central entre Max e Sam, é graças as duas que Sam sobrevive. [spoiler]
Narrativamente sem surpresas, o filme segue batidas tradicionais do gênero. Destaca-se positivamente, ainda que, com certo exagero, a cena que apresenta Cady. É difícil esquecer a barulhenta, exagerada, mas memorável trilha sonora de Bernard Hermann crescendo enquanto a câmera se aproxima das costas tatuadas de um rosto ainda desconhecido.
Scorsese se contém na direção e opta por pequenas homenagens a Hitchcock. O resultado não chega a incomodar, mas está longe dos seus melhores trabalhos.
O roteiro tem dificuldade em justificar as ações de seu protagonista e isso gera um distanciamento. Não é difícil simpatizar em alguns momentos mais com Cady do que com Sam.
A sequência final causa tensão, mas é um pouco esticada e faz uso de vários clichês e facilitadores do gênero
[/spoiler] O vilão que nunca morre é um deles. [spoiler]
Cabo do Medo é um filme memorável e tem bons momentos de tensão, em grande parte, pela atuação impecável do seu antagonista. Contudo, comete exageros e tem um protagonista sem carisma e com falhas de caráter incomodas.
A obra-prima máxima de um dos maiores diretores de todos os tempos.
O sonho americano pelos olhos de um garoto com ambição de ser um gangster. Não por necessidade, mas por idealização. "Os Bons Companheiros" acompanha a trajetória de ascensão e queda de Henry (Ray Liotta, na melhor atuação de sua carreira) e dos "Goodfellas" Jimmy (De Niro, brilhante como sempre) e Tommy (Joe Pesci, em papel intimidador).
E aqui, Scorsese usa todos os seus recursos habituais na sua forma mais pura e significativa. Temos a narração constante de seu protagonista, plano sequência longo e memorável (a cena do restaurante é brilhante), o uso de rock na trilha sonora que casa perfeitamente com a narrativa (eternizando Sunshine Of Your Love de Eric Clapton), zoom in para evocar urgência e tensão, cortes rápidos e secos e violência abrupta filmada com naturalidade.
Os Bons Companheiros é, sem dúvida, o auge criativo de um dos maiores diretores do cinema.
Fé e religião são temas recorrentes na filmografia de Martin Scorsese. Contudo, em nenhum filme o diretor foi tão longe quanto em "A Última Tentação de Cristo".
Polêmico por natureza e também, principalmente, pelo culto a ignorância coletiva, visto que, logo na abertura do longa é informado que o filme não se baseia na bíblia e sim no livro ficcional de mesmo nome, o longa promove quase que um estudo de personagem acerca de episódios amplamente explorados pela cultura cristã, sobre Jesus Cristo.
E ainda que a polêmica seja inevitável, é notório o respeito e admiração que Scorsese aborda todos os temas, mesmo os mais espinhosos.
No roteiro, Jesus é tratado simplesmente pelo que ele de fato era: um homem, de carne e osso. Entre medos e incertezas, Jesus (Willem Defoe, em uma atuação injustamente pouco lembrada e reconhecida) expõe seu lado mais humano, enquanto se aceita como Messias. Em nenhum momento, o roteiro põe em cheque a figura de Jesus. Pelo contrário, sua imagem é tratada com admiração.
Mas o que gera tanta polêmica então? Simples. Certos acontecimentos que sempre tiveram explicações fantasiosas, aqui são tratados com explicações, ainda que especulativas, realistas e pautadas pelo contexto histórico da época.
Jesus ainda é loiro e de olhos azuis, mas o contexto político entre o povo judeu e os romanos não é ignorado.
[/spoiler] Um exemplo disso, é que Jesus enquanto carpinteiro era quem fazia as cruzes usadas nas crucificações. Algo simples, mas que faz todo o sentido do mundo. [spoiler]
Quanto a produção, é notável que Scorsese direciona toda a sua atenção para os elementos narrativos. Seus recursos narrativos habituais são deixados de lado em prol de uma produção quase que minimalista.
E ainda que seja um filme de longa duração (164 minutos) e com um ritmo mais lento, o longa jamais se torna desinteressante de fato. É uma proposta interessantíssima e que convida a uma reflexão sobre o real papel de Jesus para o cristianismo e como ele foi o símbolo de algo muito maior que sua própria existência.
Um filme simples, necessário, desafiador e reflexivo. O melhor já feito sobre Jesus Cristo e um dos melhores de Martin Scorsese.
Após flertar com a comédia em "O Rei da Comédia", Scorsese aprofunda-se de vez no cômico absurdo em conto alucinante de uma noite.
"Depois de Horas" retrata de maneira muito simbólica os EUA do Neoliberalismo e da Era Ronald Reagan, seja pelo trabalho robótico do protagonista (e bastante comum para os anos 80) - estabelecido de forma brilhantemente ágil pela montadora Thelma Schoonmaker, que em pouquíssimo tempo estabelece protagonismo e motivações - seja, pelas ruas de Soho, onde vemos pobreza, o movimento punk, o medo da violência e a paranoia.
Paul (Griffin Dunne), inicialmente é apenas vítima de sua inquietação enquanto homem jovem e solteiro, de um tempo impiedosamente robótico, no auge do neoliberalismo norte-americano.
[/spoiler] O próprio gesto de sair de casa para divertir-se e acabar sem dinheiro para voltar para casa é simbólico na sua condição de refém [spoiler]
E ao trabalhar com isso, a narrativa consegue criar um vínculo com seu protagonista, gerando engajamento. Não deixa de ser trágico-cômico o seu desfecho.
Negativamente, talvez destaque-se, e isso é um problema discutível na filmografia do diretor, a falta de cuidado e um uso estereotipado das figuras femininas, que aqui, são majoritariamente caracterizadas de forma negativa como loucas, ansiosas, dependentes e hostis.
A direção de Scorsese - hoje conhecido por filmes de longa duração e de ritmo lento - é uma aula de dinamismo e energia, imprimindo um ritmo frenético, mas sem perder de vista seu olhar aos detalhes.
Mais um clássico na filmografia de Martin Scorsese, "O Rei da Comédia", distancia-se bastante dos demais trabalhos do diretor até então.
Comédia de humor obscuro por vocação, ainda que, o humor seja atrelado ao constrangimento constante gerado pelo protagonista, o que causa um desconforto calculado em quem assiste, o filme é um curioso estudo sobre obsessão e delírio.
[/spoiler] Rupert Pupkin (o habitualmente brilhante Robert De Niro) é o retrato da mediocridade e do deslocamento social. Ainda morando com a mãe, sem vida social e com traumas evidentes em seus próprios "números", Pupkin almeja o puro e simples reconhecimento. Ele não admira Langford (Jerry Lewis, muito a vontade em seu papel), ele o inveja.
Em contrapartida, ao se deparar com Masha, que realmente tem uma obsessão pela figura de Jerry, Pupkin a enxerga de maneira inferiorizada em relação a si mesmo.
[spoiler]
Scorsese trabalha de forma muito eficiente com os delírios de seu protagonista e faz críticas muito pertinentes à indústria de entretenimento e a obsessão vazia gerada por esses produtos.
E ainda que seja um filme menor, menos desenvolvido e com uma resolução menos emblemática, "O Rei da Comédia" é um trabalho de destaque de Scorsese, que serviu de inspiração nítida para "Coringa" de Todd Philips.
Corpo e Alma
3.9 14 Assista AgoraNarrativamente simples, visualmente memorável. Assim é "Corpo e Alma", segundo filme de Robert Rossen.
Não deixa de ser surpreendente a destreza visual com que Rober Rossen conduz as sequências de lutas, de forma crua, tornando os momentos no ringue, verdadeiros espetáculos.
E a narrativa, ainda que, siga uma receita bastante usual e sem grandes surpresas no que se refere a narrativas de ascensão, poder e cobiça, é suficientemente eficiente em manter o interesse até os minutos finais de projeção.
Um grande trabalho de Rossen.
Nota: 8,1
Dama, Valete e Rei
3.7 8Esquecível.
Assim pode-se descrever o primeiro filme de Robert Rossen como diretor. Ainda que tenha alguma qualidade, o filme não consegue se destacar em nenhum aspecto técnico-narrativo. É uma trama apenas ok, com atuações e uma direção operante, com uma abordagem previsível e que sofre com questões culturais de seu tempo.
Um filme apenas aceitável.
Nota: 6,0
Assassinos da Lua das Flores
4.1 607 Assista AgoraÉ deprimente ver um diretor que fez tudo o que Martin Scorsese fez pelo cinema, praticamente ter de pedir licença para a geração atual, para lançar seu filme com mais de 3h20 de duração, contado do jeito que ele quis, com o elenco que ele quis, enquanto, é de conhecimento público, a comoção que há para que filmes medíocres do subgênero de super-herói, tenham cortes com mais 4h de duração.
"Assassinos da Lua das Flores" eleva ainda mais a maturidade de Scorsese, demonstrada no filme anterior - "O Irlandês" de 2019 - tendo a paciência de destrinchar uma longa narrativa que aborda temas que percorrem desde o conflito racial entre brancos e indígenas nas terras Osage até a criação do FBI. Tudo, com um ritmo lento, progressivamente tenso e jamais desinteressante. Sim, é uma narrativa lenta. Mas, que nunca se permite cenas gratuitas. Assim, é um filme longo, mas sem gorduras narrativas.
O elenco encabeçado por Leonardo DiCaprio, Lily Gladstone e Robert De Niro entrega atuações fortes e com muitas camadas. Não é difícil tentar entender o porque tal personagem confia cegamente no outro, assim como entender porque tal personagem faz o que faz, mas a contrapartida emocional em suas ações. Até mesmo o vilão, jamais é retratado de forma unidimensional.
E o que dizer da enervante trilha sonora, que, na mesma medida que nos proporciona uma imersão cultural, é enervante e surge de forma inquietante, como prenúncio do que está por vir.
"Assassinos da Lua das Flores" é um dos últimos filmes da carreira de um dos diretores norte-americanos mais brilhantes de todos os tempos. E é uma obra-prima que merecia mais reconhecimento e no mínimo, compreensão.
Nota: 10,0
O Irlandês
4.0 1,5K Assista AgoraRetorno triunfal de Martin Scorsese ao subgênero que o consagrou, "O Irlandês" atesta a maturidade do diretor, que, ao escolher fazer o filme como o fez. com o elenco que fez e com a duração de 3h30, deixa claro: não deve mais nada ao cinema e irá fazer os filmes que quiser.
E "O Irlandês" é uma grande celebração, não apenas aos fãs do diretor, como ao cinema, que depois de tantos anos, tem um filme nos moldes clássicos da Nova Hollywood. Narrativamente impecável, o filme atravessa. sob um ponto de vista bem específico, cerca de 50 anos da história dos EUA, sem se vangloriar do feito nem por um minuto sequer. Tudo é bem construído e sem a menor pressa.
O trio de protagonistas está perfeitamente a vontade e o único e irrelevante deslize do filme reside justamente no processo de rejuvenescimento dos atores, que é imperfeito, ainda que bem intencionado.
Seguramente, um dos 5 melhores filmes de Martin Scorsese.
Nota: 9,9
Silêncio
3.8 576É importante que se diga: trata-se de um dos projetos mais pessoais de Martin Scorsese e que expressa um tema recorrente em sua filmografia. Não foi um filme pensado para entreter o grande público.
Dito isso, é um bom filme. Há uma dose de imersão bastante interessante, ainda que, o sotaque dos atores em alguns momentos seja deslocado e sem continuidade. Scorsese filma seus protagonistas com paixão e devoção, mas sem desrespeitar a cultura japonesa. O maior pecado de "Silêncio" encontra-se no fato de que ainda que bem produzido e dirigido, Scorsese em sua paixão, parece esquecer que cinema também é entretenimento.
Com seu ritmo lento e seu enredo pouco envolvente, "Silêncio" é um dos trabalhos mais inacessíveis de Martin Scorsese.
Um bom filme, mas não para todos.
Nota: 7,0
O Lobo de Wall Street
4.1 3,4K Assista AgoraMais do que entregar uma comédia de humor ácido, em "O Lobo de Wall Street", Martin Scorsese faz uma sátira sobre vícios.
Jordan Belfort (Leonardo DiCaprio, em grande atuação, injustamente não reconhecida pelo Óscar de 2014), é um viciado em dinheiro, drogas e sexo. Não necessariamente nessa ordem. Ao iniciar sua jornada em Wall Stteet, vemos um Belfort ainda iniciante demonstrar cobiça, ambição e ir se aprofundando cada vez mais nos seus próprios vícios. E se a narrativa pode parecer repetitiva, afinal, estamos vivendo o looping de um viciado que entre um abuso e outro vai perdendo tudo, a forma frenética que Scorsese filma algumas sequências, confere fôlego para os 180 minutos de duração.
Um dos grandes acertos do filme é não buscar interferir na visão que se pode ter de seu protagonista. Belfort é um verdadeiro filho da puta e o filme não se isenta de tratá-lo como tal. A grande questão é o seu carisma. Di Caprio transmite todo o cinismo de forma brutal e muito envolvente.
"O Lobo de Wall Street" é um filme muito bom, de um dos maiores diretores de todos os tempos e merece destaque.
Nota: 8,4
A Invenção de Hugo Cabret
4.0 3,6K Assista AgoraUma bonita e singela homenagem de um dos diretores mais apaixonados pelo cinema.
"A Invenção de Hugo Cabret" é o primeiro longa infanto-juvenil (pode-se dizer) dirigido por Martin Scorsese. Mas, antes de uma história envelopada em aventura e magia, o filme é uma homenagem à Georges Méliès, o pai da ficção científica e dos efeitos visuais no cinema.
O diretor demonstra muita sensibilidade e a habitual elegância em seus planos sequência que mostram o cotidiano da Paris do início do século XX. A fotografia e o design de produção são belíssimos e exercem função importante narrativamente, ao nos mostrar aquele universo pelos olhos de uma criança.
O roteiro opta pela segurança e entrega uma narrativa sem grandes surpresas. Entre uma homenagem e outra, a narrativa progride para uma conclusão que mais serve de homenagem. Scorsese parece se divertir nas sequências que refilmam o trabalho de Méliès, porém não demonstra o mesmo entusiasmo nas sequências que envolvem as demais linhas narrativas.
"A Invenção de Hugo Cabret" é uma bela homenagem e um filme inofensivo de um diretor habituado à violência.
Nota: 7,8
Ilha do Medo
4.2 4,0K Assista AgoraScorsese se rende ao cinema de plot-twist e realiza seu trabalho mais comercial.
"Ilha do Medo" é um daqueles filmes que sua grande razão de ser é, em essência, o seu plot twist. E bem que Scorsese tenta por meio de uma direção segura e elegante, corrigir as imperfeições narrativas. O diretor lança mão de todos os recursos narrativos possíveis a fim de manipular o espectador. Seja a trilha sonora de terror, a fotografia sombria e os olhares suspeitos.
E o resultado é sem duvida alguma, satisfatório. Como entretenimento, "Ilha do Medo" é um bom filme. Inchado narrativamente, mas com um plot twist impactante o suficiente para valer a sua longa duração.
Nota: 7,6
Os Infiltrados
4.2 1,7K Assista AgoraO tão merecido Óscar da carreira de um dos maiores cineastas norte-americanos de todos os tempos.
Ainda que não seja o melhor filme da carreira de Scorsese, "Os Infiltrados" - remake de um longa produzido em Hong Kong, em 2002 - ocupa posição de destaque na filmografia do diretor.
Com uma narrativa ágil e perspicaz, repleta de intrigas e tensão, o filme celebra o retorno do diretor ao gênero que o notabilizou para Hollywood. E mesmo que tenha aspectos comerciais fortes, Scorsese consegue imprimir sua assinatura com inteligência. É um roteiro simples, mas que em sua condução envolve na eminência de que um dos lados (ou ambos) sofrerão as consequências de seus atos.
Destaque para o uso memorável de Gimme Shelter, dos Rolling Stones, como trilha sonora em uma sequência pra lá de empolgante e que ambienta de forma muito precisa.
Um clássico contemporâneo que fez justiça ao render o primeiro Óscar (e possivelmente único) da carreira de Martin Scorsese.
Nota: 9,0
O Aviador
3.7 735 Assista AgoraUm Martin Scorsese contido dirige a cinebiografia do excêntrico cineasta, produtor e aviador, Howard Hughes.
"O Aviador" é um trabalho mais discreto de Scorsese. Embora ostente um grande orçamento, que possibilite cenas grandiosas, o diretor abre mão de seus habituais recursos narrativos e entrega uma direção elegante, mas sem uma assinatura visual tão marcante quanto os seus demais trabalhos.
O roteiro opta por fazer um recorte específico da trajetória de Hughes. Se por um lado a decisão se mostra um acerto, permitindo uma análise mais aprofundada de aspectos psicológicos de seu protagonista, ao mesmo tempo, falta coragem ao longa para mostrar os últimos dias de Hughes, que se tornara uma figura completamente desprendido da realidade.
Leonardo DiCaprio, em sua segunda colaboração com o diretor, se entrega de corpo e alma ao trabalho e realiza uma das melhores atuações de sua carreira. Há muitas camadas e o ator explora todas com muita solidez.
Amparado por uma atuação imponente de seu protagonista, "O Aviador" tem muita qualidade. Mas, posiciona-se como um dos filmes menos memoráveis de seu diretor.
Nota: 8,0
Gangues de Nova York
3.8 790Depois de uma sequência de filmes aquém da sua habitual qualidade, Martin Scorsese retoma o trilho dos grandes filmes com "Gangues de Nova York".
Projeto ambicioso e que se situa entre o olhar histórico de Scorsese para a sua amada cidade e a história de gangues rivais na condição de predecessoras da máfia, o filme se destaca por sua grandiosidade e elenco, mas peca por uma narrativa que não consegue fugir de clichês batidos, como a vingança familiar, a rivalidade carnal e a traição política.
Daniel Day-Lewis merece destaque como um dos maiores vilões da galeria de Scorsese. Sua presença magnética é hostil, intimidadora e ao mesmo tempo, carismática. Leonardo DiCaprio, em sua primeira colaboração com o diretor, entrega um protagonista sólido, mas unidimensional. E Cameron Diaz fecha o trio principal, sem muito brilho.
A ambientação cultural da Nova York do século XIX, por meio de seu design de produção, é um ponto altíssimo na produção. A cidade é diferente de tudo que Scorsese já mostrou antes.
"Gangues de Nova York" é um grande filme. Mas, talvez não tão interessante como deveria ser.
Nota: 8,3
O Sacrifício do Cervo Sagrado
3.7 1,2K Assista AgoraDesde os seus primeiros trabalhos, quando ainda fazia filmes gregos, Yorgos Lanthimos sempre fez - para bem e para mal - o cinema desconforto.
Parecia natural imaginar o diretor realizando um filme de terror psicológico, ainda que seus trabalhos até então fossem voltados para o drama ou o humor obscuro.
Aqui, finalmente Lanthimos abraça ao terror psicológico e entrega um de seus melhores trabalhos.
O filme acerta ao capturar o interesse logo nos primeiros minutos. É curioso notar que diferente dos trabalhos anteriores do diretor, aqui, no centro de tudo há certa funcionalidade. É uma família distante emocionalmente, mas que tem uma aparente normalidade. É na figura de Martin (Barry Keoghan) que vemos essa normalidade ruir pouco a pouco.
E que atuação do jovem ator. Ele é maldoso, sem ser vilanesco. Há uma frieza cruel, mas jamais injustificável em suas ações. E suas ações movimentam a trama. É na sua presença que o diretor causa desconforto.
O desenrolar da trama é lento, mas jamais desinteressante. A trilha sonora desarmoniosa e inquietante, aliada a planos fechados e alguns plano sequências que beiram a opressão, conferem a tensão necessária.
O filme trabalha temas como culpa, injustiça, moralidade e alcoolismo, com muita inteligência, jamais caindo no óbvio. Os personagens são construídos em camadas e despidos pouco a pouco, conforme o medo os consome.
"O Sacrifício do Cervo Sagrado" é um ótimo filme de um diretor divisivo, mas muito talentoso.
Nota: 9,3
O Lagosta
3.8 1,4K Assista AgoraPrimeiro trabalho Hollywoodiano de Yorgos Lanthimos, é também, seu primeiro acerto.
O diretor finalmente consegue equilibrar sua obsessão em causar desconforto com uma história consistente sobre imposições sociais, padrões de relacionamento, solidão e insegurança.
O diretor não abandona a habitual estranheza com que filma seus personagens e tampouco os preserva dos habituais constrangimentos que são comuns em suas narrativas como roteirista. A grande sacada é que o roteiro e montagem conseguem estabelecer com pouquíssimo tempo as regras desse futuro quase distópico das relações humanas.
Com isso a seu favor, o diretor consegue de maneira sutil investir nos traços de personalidade de seus personagens e pontuar com situações absurdas muito bem costuradas. Vemos a insegurança do protagonista ser uma constante do começo ao fim. Vemos seu caminho cruzar com personagens frios, outros ternos, outros pragmáticos em sua própria filosofia. Tudo de forma clara e compreensível.
O andamento da narrativa é ágil até o fim do segundo ato, quando cria um problema que é a chave da conclusão do filme.
"O Lagosta" é um curioso olhar sobre as relações humanas e convenções sociais estabelecidas. Sobre extremos. Sobre absurdos. E funciona muito bem.
Nota: 8,3
Alpes
3.5 89Um pouco menos bizarro que "Dente Canino" e um pouco mais confuso também.
"Alpes" reforça que Yorgos Lanthimos é um propagador do desconforto. Aqui, o diretor nos joga numa história que vai fazendo (algum) sentido (mínimo) de forma bastante gradual e lenta. Entre uma situação bizarra e outra, o diretor, aqui um pouco mais contido, entrega pistas sobre as próprias bizarrices do enredo e propõe de modo distante uma reflexão sobre perda, luto e vazio. A dificuldade que a narrativa encontra é manter o interesse por uma história que não parece ir a lugar nenhum para além de uma rasa reflexão.
O filme até consegue passar sua mensagem, porém depois de um excesso de bizarrices que de todo, não fazem sentido o tempo todo.
"Alpes" é mais inofensivo que o filme anterior de Lanthimos. Mas é menos interessante também.
Nota: 5,5
Dente Canino
3.8 1,2KTalvez um dos filmes de curta duração mais exaustivos que eu já vi.
Dente Canino encontra sua razão de ser numa ideia. Uma única e boa ideia. E esse talvez seja um dos maiores problemas do filme. O que vemos ao longo dos seus 94 minutos é uma sucessão de situações que visam a todo momento reforçar essa ideia, seja pela bizarrice, pelo absurdo ou pelo desconforto. É uma experiência cansativa, pouco inspirada e revoltante. E se temos algumas situações que causam reflexões, outras beiram o puro sadismo.
E ainda que Yorgos Lanthimos saiba mostrar detalhes que tem impacto na narrativa e seja hábil em extrair boas atuações do elenco, sua falta de sensibilidade se confunde com o desconforto gratuito.
A narrativa é conduzida de forma excessivamente lenta e alguns desfechos acabam se mostrando óbvios a partir do acúmulo de absurdos.
Dente Canino tinha tudo para ser um filme reflexivo, impactante e perturbador. Mas, pela sua insensibilidade e insistência no absurdo, consegue ser apenas bizarro.
Nota: 5,6
Vivendo no Limite
3.4 163 Assista AgoraParece que os anos 90 foram um período realmente difícil para Martin Scorsese. A exceção de "Os Bons Companheiros" em 1990 e "Cassino" em 1995, os demais filmes do diretor, deixaram bastante a desejar. E este "Vivendo No Limite" é sem sombra de duvida, o pior do período e um dos piores de toda a sua carreira,
Com roteiro de Paul Schrader (de Táxi Driver e Touro Indomável), "Vivendo No Limite" decepciona ainda mais por se tratar de uma parceria que rendeu dois dos melhores trabalhos de Scorsese. E é notável em dados momentos, a inspiração narrativa, seja no fato do protagonista ser um motorista, seja pela narração, pelo estado mental delirante ou a Nova York suja. Contudo, diferente do filme de 1976, nada aqui funciona.
Ainda que o primeiro ato seja promissor e desperte a curiosidade, a narrativa não se sustenta e aos poucos fica mais como delírio criativo com picos de energia. Os pensamentos e reflexões soam vazios e Nicolas Cage, que está comprometido com o papel, não tem o mesmo carisma doentio de Robert De Niro.
A trilha sonora é enérgica, mas acompanha o visual num sentimento de algo barato. E talvez seja esse o adjetivo que descreva o filme de forma mais objetiva.
Um filme barato.
Nota: 5,9
Kundun
3.4 52Filme menos hollywoodiano de Scorsese peca por ser uma biografia formulaica, sem entusiasmo e que se contenta em prestar homenagem, sem adentrar nas polêmicas em torno de seu protagonista.
Kundun conta a história do surgimento e educação do menino que se tornaria o 14º Dalai Lama, avançando até os conflitos com a China Comunista. Sem a presença de atores conhecidos, o filme realmente passa uma sensação de ser um trabalho menor, mais barato e menos vistoso.
O diretor foca bastante em aspectos da cultura Tibetana e na fotografia, que de fato, é muito bonita com tons dourados e alaranjados, enaltecendo a importância da figura do Dalai Lama para o seu povo.
Sem grandes virtudes, mas também sem grandes erros, Kundun peca por uma história sem profundidade, sem coragem e sem energia, sendo um trabalho apenas aceitável de Scorsese.
Nota: 6,4
Cassino
4.2 649 Assista Agora5 anos depois e Scorsese retorna a temática que o consagrou como um dos maiores cineastas.
E talvez o pouco tempo de diferença entre o lançamento de "Os Bons Companheiros" e "Cassino" crie uma comparação cruel, visto que, o primeiro é sua obra-prima máxima. Fato é, o filme de 1995 é inferior ao primeiro.
Cassino apresenta a história de Ace Rothstein, um judeu viciado em jogatina que foi promovido pela máfia a gerente de um dos maiores cassinos de Las Vegas e se apaixona por Ginger (Sheron Stone, em grande colaboração). Para isso, ele conta com a ajuda do perigoso Nicky (Joe Pesci, em papel vagamente familiar).
Scorsese reedita a parceria entre a dupla e acrescenta a figura de Stone. Novamente, temos a trajetória de ascensão e queda, só que dessa vez do próprio cassino. E novamente, tudo desanda. Sangue, mortes e traições. E talvez essa seja a grande questão de "Cassino" em comparação aos "Os Bons Companheiros". Tudo é muito familiar e já visto antes.
E por incrível que possa parecer, a longa duração (178 minutos) jamais chega perto de ser um problema. A grande questão é a sensação de repetição.
A direção segue brilhante, com todos os seus recursos narrativos, uso de trilha sonora empolgante, mas não consegue evitar a sensação de deja vu e de que aquilo já foi visto anteriormente.
"Cassino" é um grande filme, feito num momento inadequado na filmografia do diretor.
Nota: 8,5
A Época da Inocência
3.5 249 Assista AgoraCinema também é entretenimento. E talvez esse seja um dos maiores pecados de "A Época da Inocência".
Apresentando uma Nova York da realeza de meados do século XVIII, o filme explora convenções políticas e sociais da época da mesma forma como códigos de conduta adotados por gangsters e criminosos. E por mais compreensível que seja, dado o fato de que ainda hoje temos códigos comportamentais que são fatais, principalmente na internet, o filme tem dificuldade em apresentar isso de uma forma atrativa.
Há muita beleza no design de produção, na fotografia. O trio de protagonistas está impecável, ainda que, contido. E esse é de fato, um propósito do filme. Nada é permitido. Tudo deve ser contido. Inclusive, as paixões.
Contudo, esse ritmo excessivamente lento torna a experiência um pouco desgastante e mais difícil apreciar os aspectos artísticos do filme, que são maravilhosos.
Longe de ser um filme ruim, "Á Época da Inocência" mostra um domínio artístico invejável de Scorsese, mas peca por não conseguir ser interessante para sua longa duração.
Nota: 7,5
Cabo do Medo
3.8 907 Assista AgoraUm ano depois de lançar sua maior obra-prima, Martin Scorsese decide se aventurar pelo thriller psicológico e homenagear Alfred Hitchcock. O resultado, infelizmente, deixou a desejar. Cabo do Medo, remake de filme de 1962, é um bom filme, mas muito abaixo do que o diretor é capaz.
Reeditando a parceira com Robert De Niro mais uma vez, Scorsese encontra na atuação do veterano ator, a maior virtude do filme. Max Cady é um vilão repulsivo, astuto e intimidador e sua presença em cena é magnética. O mesmo não pode ser dito do protagonista Sam Bawden (Nick Nolte, canastrão e sem carisma, tentando defender um personagem que é mal escrito). Ainda no elenco, encontram-se Jessica Lange, em atuação de respeito, porém mal aproveitada, Juliette Lewis ainda iniciante, mas com bastante destaque e, por fim, Gregory Peck (que atuou no filme original de 62) em uma pequena participação.
[/spoiler] Curiosamente, embora o roteiro relegue a ambas a condição de coadjuvantes no embate central entre Max e Sam, é graças as duas que Sam sobrevive.
[spoiler]
Narrativamente sem surpresas, o filme segue batidas tradicionais do gênero. Destaca-se positivamente, ainda que, com certo exagero, a cena que apresenta Cady. É difícil esquecer a barulhenta, exagerada, mas memorável trilha sonora de Bernard Hermann crescendo enquanto a câmera se aproxima das costas tatuadas de um rosto ainda desconhecido.
Scorsese se contém na direção e opta por pequenas homenagens a Hitchcock. O resultado não chega a incomodar, mas está longe dos seus melhores trabalhos.
O roteiro tem dificuldade em justificar as ações de seu protagonista e isso gera um distanciamento. Não é difícil simpatizar em alguns momentos mais com Cady do que com Sam.
A sequência final causa tensão, mas é um pouco esticada e faz uso de vários clichês e facilitadores do gênero
[/spoiler] O vilão que nunca morre é um deles.
[spoiler]
Cabo do Medo é um filme memorável e tem bons momentos de tensão, em grande parte, pela atuação impecável do seu antagonista. Contudo, comete exageros e tem um protagonista sem carisma e com falhas de caráter incomodas.
Nota: 7,7
Os Bons Companheiros
4.4 1,2K Assista AgoraA obra-prima máxima de um dos maiores diretores de todos os tempos.
O sonho americano pelos olhos de um garoto com ambição de ser um gangster. Não por necessidade, mas por idealização. "Os Bons Companheiros" acompanha a trajetória de ascensão e queda de Henry (Ray Liotta, na melhor atuação de sua carreira) e dos "Goodfellas" Jimmy (De Niro, brilhante como sempre) e Tommy (Joe Pesci, em papel intimidador).
E aqui, Scorsese usa todos os seus recursos habituais na sua forma mais pura e significativa. Temos a narração constante de seu protagonista, plano sequência longo e memorável (a cena do restaurante é brilhante), o uso de rock na trilha sonora que casa perfeitamente com a narrativa (eternizando Sunshine Of Your Love de Eric Clapton), zoom in para evocar urgência e tensão, cortes rápidos e secos e violência abrupta filmada com naturalidade.
Os Bons Companheiros é, sem dúvida, o auge criativo de um dos maiores diretores do cinema.
Nota: 10,0
A Última Tentação de Cristo
4.0 296 Assista AgoraFé e religião são temas recorrentes na filmografia de Martin Scorsese. Contudo, em nenhum filme o diretor foi tão longe quanto em "A Última Tentação de Cristo".
Polêmico por natureza e também, principalmente, pelo culto a ignorância coletiva, visto que, logo na abertura do longa é informado que o filme não se baseia na bíblia e sim no livro ficcional de mesmo nome, o longa promove quase que um estudo de personagem acerca de episódios amplamente explorados pela cultura cristã, sobre Jesus Cristo.
E ainda que a polêmica seja inevitável, é notório o respeito e admiração que Scorsese aborda todos os temas, mesmo os mais espinhosos.
No roteiro, Jesus é tratado simplesmente pelo que ele de fato era: um homem, de carne e osso. Entre medos e incertezas, Jesus (Willem Defoe, em uma atuação injustamente pouco lembrada e reconhecida) expõe seu lado mais humano, enquanto se aceita como Messias. Em nenhum momento, o roteiro põe em cheque a figura de Jesus. Pelo contrário, sua imagem é tratada com admiração.
Mas o que gera tanta polêmica então? Simples. Certos acontecimentos que sempre tiveram explicações fantasiosas, aqui são tratados com explicações, ainda que especulativas, realistas e pautadas pelo contexto histórico da época.
Jesus ainda é loiro e de olhos azuis, mas o contexto político entre o povo judeu e os romanos não é ignorado.
[/spoiler] Um exemplo disso, é que Jesus enquanto carpinteiro era quem fazia as cruzes usadas nas crucificações. Algo simples, mas que faz todo o sentido do mundo.
[spoiler]
Quanto a produção, é notável que Scorsese direciona toda a sua atenção para os elementos narrativos. Seus recursos narrativos habituais são deixados de lado em prol de uma produção quase que minimalista.
E ainda que seja um filme de longa duração (164 minutos) e com um ritmo mais lento, o longa jamais se torna desinteressante de fato. É uma proposta interessantíssima e que convida a uma reflexão sobre o real papel de Jesus para o cristianismo e como ele foi o símbolo de algo muito maior que sua própria existência.
Um filme simples, necessário, desafiador e reflexivo. O melhor já feito sobre Jesus Cristo e um dos melhores de Martin Scorsese.
Nota: 9,5
Depois de Horas
4.0 453 Assista AgoraApós flertar com a comédia em "O Rei da Comédia", Scorsese aprofunda-se de vez no cômico absurdo em conto alucinante de uma noite.
"Depois de Horas" retrata de maneira muito simbólica os EUA do Neoliberalismo e da Era Ronald Reagan, seja pelo trabalho robótico do protagonista (e bastante comum para os anos 80) - estabelecido de forma brilhantemente ágil pela montadora Thelma Schoonmaker, que em pouquíssimo tempo estabelece protagonismo e motivações - seja, pelas ruas de Soho, onde vemos pobreza, o movimento punk, o medo da violência e a paranoia.
Paul (Griffin Dunne), inicialmente é apenas vítima de sua inquietação enquanto homem jovem e solteiro, de um tempo impiedosamente robótico, no auge do neoliberalismo norte-americano.
[/spoiler] O próprio gesto de sair de casa para divertir-se e acabar sem dinheiro para voltar para casa é simbólico na sua condição de refém
[spoiler]
E ao trabalhar com isso, a narrativa consegue criar um vínculo com seu protagonista, gerando engajamento. Não deixa de ser trágico-cômico o seu desfecho.
Negativamente, talvez destaque-se, e isso é um problema discutível na filmografia do diretor, a falta de cuidado e um uso estereotipado das figuras femininas, que aqui, são majoritariamente caracterizadas de forma negativa como loucas, ansiosas, dependentes e hostis.
A direção de Scorsese - hoje conhecido por filmes de longa duração e de ritmo lento - é uma aula de dinamismo e energia, imprimindo um ritmo frenético, mas sem perder de vista seu olhar aos detalhes.
Um grande e peculiar trabalho de Martin Scorsese.
Nota: 8,9
O Rei da Comédia
4.0 366 Assista AgoraMais um clássico na filmografia de Martin Scorsese, "O Rei da Comédia", distancia-se bastante dos demais trabalhos do diretor até então.
Comédia de humor obscuro por vocação, ainda que, o humor seja atrelado ao constrangimento constante gerado pelo protagonista, o que causa um desconforto calculado em quem assiste, o filme é um curioso estudo sobre obsessão e delírio.
[/spoiler]
Rupert Pupkin (o habitualmente brilhante Robert De Niro) é o retrato da mediocridade e do deslocamento social. Ainda morando com a mãe, sem vida social e com traumas evidentes em seus próprios "números", Pupkin almeja o puro e simples reconhecimento. Ele não admira Langford (Jerry Lewis, muito a vontade em seu papel), ele o inveja.
Em contrapartida, ao se deparar com Masha, que realmente tem uma obsessão pela figura de Jerry, Pupkin a enxerga de maneira inferiorizada em relação a si mesmo.
[spoiler]
Scorsese trabalha de forma muito eficiente com os delírios de seu protagonista e faz críticas muito pertinentes à indústria de entretenimento e a obsessão vazia gerada por esses produtos.
E ainda que seja um filme menor, menos desenvolvido e com uma resolução menos emblemática, "O Rei da Comédia" é um trabalho de destaque de Scorsese, que serviu de inspiração nítida para "Coringa" de Todd Philips.
Um clássico.
Nota: 8,2