"I got hurt yesterday (...) the physical part, it's just temporary. I'm here to put on a show, I'm not here to be comfortable. I come and put on a show and make myself unconfortable, so you can get off [gozar] so I can get paid and be confortable on my own time. The same way, the degradating thing: me, that I do it on camera to somebody who's faking it or... that guy or that woman who's been working at that company, busting their ass for shitty benefits, for how many years? Who can't leave, because then what are their kids gonna eat? You know what I mean? People are in those situations outside of porn, all the time, but they don't see that"
Enquanto uma arte de aparências, o cinema tem muito a nos ensinar sobre a realidade.
O mistério dos filmes é o de nos fascinar mesmo sabendo que estamos frente a frente com ficções e histórias inventadas. Apesar de tudo, nos encantamos com o cinema.
Nada impede nossa identificação com as situações encenadas, mesmo quando os filmes se auto-desmascaram enquanto encenações montadas em estúdio (como é o caso de Dogville, em que vemos o cenário reveladamente como uma farsa). Ainda assim nos sensibilizamos diante daquilo que sabemos não ser real; apesar de tudo, a ilusão ainda persiste.
Essa é a mágica fundamental do cinema: apontar como há na ilusão algo mais real que a realidade por trás dela.
Estava aqui preparando um textão sobre a falta de informações sobre a origem dos dados apresentados no documentário (contas, gráficos, tabelas e afins) - o que é algo que me incomoda em muitos documentários que se sustentam sobre uma enxurrada de números - mas!... Acabei descobrindo que existe sim um site em que os realizadores desse filme deixam muito claro as (muuuitas) fontes de todos os dados apresentados:
www. cowspiracy. com /facts/ (se for acessar, apague os espaços, já que o filmow não permite postar links nos comentários)
- o que me fez gostar ainda mais de 'Cownspiracy'! que é ótimo pra contemporaneidade e ainda mais em um país como o Brasil, em que o agronegócio é responsável pela destruição da amazônia, pelo ataque à agricultura familiar, pelo enorme gasto de água e de grãos, pelo assassinatos de ativistas e pelo massacre de populações indígenas... Um agronegócio desenfreado que, devido a seu grande poder político, pouco se responsabiliza e pouco é penalizado por esses crimes.
Ser vegano não é só uma decisão sobre meu hábito alimentar, nem só sobre a compaixão com a vida de outros animais. Ser vegano também é uma escolha política, um posicionamento político de resistência e de luta.
Apesar do gênero documental, que no senso comum é entendido como não-ficcional, os diários David Perlov deixam claro como, na realidade, a realidade é a maior de todas as ficções. Neste cinema-diário, o cotidiano é apresentado a partir de uma narrativa e de recortes de câmera que fluem de forma literária, em que a linguagem poética e a banalidade do do dia a dia convivem naturalmente. Isso que é o mais bonito de perceber nesse filme e no cinema, de modo geral: que a vida bem como nós a entendemos só existe porque somos capazes de criar ficções que estruturam a realidade, tanto individualmente como no palco da vida social.
David Perlov só é personagem de seus filmes na presença da câmera e do recorte cinematográfico (autobiográfico e autoficcional). Na vida, da mesma forma, só existimos na medida em que criamos narrativas e nos ficcionalizamos como personagens de grandes histórias.
SOS, acabei de assistir esse filme! Mano, que experiência mais maluca. Não gostei nem um pouco do que acabei de ver - o que não significa que o filme seja ruim, já que esse desconforto (um baita de um desconforto, diga-se de passagem) faz parte da proposta do filme, que segue a mesma premissa de 'Beleza americana' (que acho que seja um filme mais conhecido): ambos mostram ao espectador - de forma muito explícita e debochada - uma sequência de situações que são moralmente suuuuper condenáveis. Inclusive, a pedofilia como um desejo transbordando num pai de 'família tradicional' por um dos amigos do filho é um tema que destaca em ambos os filmes. Se for pra comparar, no entanto, 'Felicidade' é um filme muito mais repugnante.
Enfim, acho que 'Felicidade' é, de todos os filmes que conheço, aquele que tem o título mais avesso à sensação que se sente ao assisti-lo.
Apesar do filme apresentar diferentes teorias científicas (como a abertura sobre a psicologia behaviorista e os programas televisivos de física quântica), todas elas são só armadilhas pra atiçar nossa vontade de encontrar um sentido em todos os fragmentos caóticos da vida de Nemo. Isso que é o mais bonito em 'Mr. Nobody', mostrar que não há teoria que dê conta de explicar toda a experiência humana; que viver ultrapassa todo entendimento.
Curti muito o filme, principalmente por gostar dessa temática sobre a juventude da juventude norte-americana - quero dizer, o conceito de 'adolescência' é em grande parte uma criação dos anos 50, quando o cinema e a música (o início do rock'n roll, principalmente) começaram a se voltar para esse público jovem específico. Nesse sentido, me fez lembrar do filme 'Juventude Transviada', com James Dean, já que ambos os filmes apresentam uma juventude que, mesmo sem saber muito bem os rumos que vão tomar, tem certeza que não quer ter a mesma vida careta dos seus pais e dos adultos mais velhos - com a ressalva de que o filme com James Dean é muito mais trágico e transgressor ao tratar disso, o que é mostrado sem grandes conflitos existenciais no filme de George Lucas.
Falando em rock, a trilha sonora do filme é ótima - ela e, de modo geral, o filme todo são bons registros dos costumes e valores de uma época. Além disso, é uma história divertida, com personagens bem estereotipados (com um nerd desajeitado, uma gangue encrenqueira e, como não podia faltar, um casal apaixonado). Só um comentário final: agora que parei pra pensar nos personagens, não consegui lembrar de nenhum personagem minimamente relevante no filme que seja negro... O que é de se esperar, sendo o filme o retrato de um mundo da classe média branca nos Estados Unidos, em uma época bem marcada pela segregação racial.
Quem é o grande alvo de preconceito e opressão em 'Deus não está morto'? Ninguém menos que um adolescente branco, estadunidense, de classe média, homem, heterossexual e cristão. Ou seja, não é nem um pouco difícil entender como esse é o filme mais ridículo que já assisti.
"12 homens e uma sentença" é um ótimo exemplo pra abalar o preconceito de quem pensa que filmes antigos - ainda mais em preto e branco - são todos chatos. Falando em preconceito, os diálogos desse filme formam um poderoso texto sobre à intolerância e, principalmente, a como muitas vezes nossos desejos e visões de mundo mais ardentes podem sustentar discursos de ódio muuuito desagradáveis (ri muito da cena em que as pessoas se retiram da mesa enquanto o jurado mais velho falava umas besteiras de revirar o estômago).
"É sempre difícil deixar os preconceitos fora de uma questão dessas. Não importa para que lado vá, o preconceito sempre obscurece aquilo que analisamos".
Nesse sentido, o filme dialoga bem com a atual situação política brasileira. Nunca discutimos acerca de fatos, mas de interpretações que sempre carregam um certo grau de parcialidade.
Beleza americana: "meu trabalho consiste em disfarçar meu desprezo pelos babacas no poder e, pelo menos uma vez ao dia, ir ao banheiro me masturbar e imaginar uma vida que não se pareça tanto com um inferno".
Acabei de voltar do cinema, fui cheio de expectativas depois de ter ouvido tanto a respeito desse filme - muitas opiniões dividias, comentários de amor ou ódio. Inclusive, um comentário que foi importante pra aumentar o prestígio sobre esse filme foi o que Stephen King escreveu em seu twitter, elogiando como 'A Bruxa' consegue ser uma experiência cinematográfica tão assustadora (mesmo assim, sabendo que King tem sérios problemas com 'O Iluminado' de Kubrick, pra mim a opinião dele sobre um filme de terror não fez a menor diferença).
"A Bruxa" é um filme com fotografia, ambientação e atuações muito boas, que conseguem passar muito bem ao espectador a sensação de isolamento e de desconforto que envolve esse ambiente familiar excessivamente religioso. As falas são em inglês arcaico, os seus poucos diálogos são fortemente marcados pelo imaginário católico e seus planos abertos parecem quadros com paisagens cinzas e bastante deprimentes (em momentos que isso reflete bem o interior dos personagens).
Mas se você pretende ir ao cinema e assistir um filme de terror tradicional - aqueles que apelam pra cenas de susto que te fazer pular da cadeira - "A Bruxa" com certeza não é uma escolha nem um pouco boa. Na sessão em que fui hoje, assim que os créditos finais apareceram na tela, a reação de muita gente foi vaiar aquilo que acabaram de assistir. Nesse sentido, acho errado venderem "A Bruxa" como um filme de terror convencional. É importante entender que a proposta aqui é causar muito mais medo e estranhamento do que ficar dando sustos repetitivos no espectador - a proposta seria a de um filme mais 'amedrontador' do que 'assustador'.
Depois do que vi hoje, senti que "A Bruxa" é um filme esteticamente bonito, mas não achei tão amedrontador como andam comentando.
Mais agonizante ainda é ler o artigo que realmente foi publicado no jornal do Boston Globe. É só jogar no google: "Church allowed abuse by priest for years". Ótimo filme, muito poderoso.
(créditos finais) "major abuse scandals have been uncovered in the following places: Arapiraca (Brazil) Franca (Brazil) Rio de Janeiro (Brazil) Mariana (Brazil)
A galerinha do Oscar bobeou mesmo em não ter indicado Michael B. Jordan por esse filme, a atuação dele é uma pancada certeira na emoção do espectador. E a primeira luta - todo um plano-sequência com a câmera fazendo os movimentos rápidos dos lutadores - AH! aquilo foi de arrepiar.
E o que dizer da luta final? Foi uma conquista que realmente custou o olho da cara (rs).
Nunca assisti os filmes do Rocky, mas depois de ver 'Creed' já acabei me decidindo por reservar meus próximos cinco dias pra ver o Stallone de sunguinha no ringue.
Resumo do filme: cenas de baixo orçamento intercalando diálogos debochados com muitos palavrões (como os trechos do filme que ficaram famosos no youtube) e muito sexo explícito ao som de músicas de velho oeste (que são trechos do filme que, claro, não estão no youtube).
"Que triste fim: um herói morrer com o cu cheio de balas''.
O cinema produzido na boca do lixo foi uma coisa muito bizarra.
Não, o livro de Stephen King não tem explicações mais claras para os acontecimentos desse filme. Não, o filme de Kubrick não é 'fiel ao livro' de King. É preciso entender que a adaptação cinematográfica de um livro - como é o caso de 'O Iluminado' - nem sempre precisa ter 'fidelidade' com a obra literária. Adaptar para o cinema pressupõe apropriar-se de alguns elementos de uma obra e interpretar ela sobre perspectivas e linguagens artísticas (literatura/cinema) diferentes. Assim, o livro de King e o filme de Kubrick devem ser encarados como duas obras diferentes e, portanto, compreendendo duas histórias diferentes - contadas na perspectiva de dois autores com estilos próprios e visões de mundo bem distintas.
Mas calma, com isso não quero dizer que o filme seja melhor que o livro - acho que nem poderia fazer essa comparação, já que as duas obras apresentam temáticas e objetivos tão distintos. Enquanto King constrói uma boa história em torno do sobrenatural e dos aspectos tradicionais do terror, Kubrick já toma outro rumo e mergulha mais a fundo nos aspectos subjetivos (e psicológicos) da trama, se aprofundando em temas como a loucura, o conflito de consciência e o instinto violento do homem; além de apresentar - como não poderia faltar em um filme de Kubrick - seu perfeccionismo estético com a fotografia.
Juro que eu não queria fazer um textão, mas não deu, realmente não consegui me segurar. Kubrick é um dos meus diretores favoritos - e acho que 'O Iluminado' é um dos seus filmes mais poderosos. Uma leitura que acho bastante interessante pra se compreender melhor esse filme é a de um artigo chamado "Writing The Shining", escrito por Diane Johnson (co-roteirista do filme, junto com Kubrick) que foi publicado no livro "Depth of Field: Stanley Kubrick, Film, and the Uses of History". Nesse texto, a autora explica como Kubrick foi buscar em textos de Freud (principalmente no ensaio "O Estranho") um embasamento teórico pra se pensar no mecanismo psicológico do medo e, assim, construir um filme de terror psicológico a partir desses elementos (o cara é ousado, hein).
O que consegui entender desse e de outros textos que leem Kubrick a partir de Freud é que o estranhamento e a incerteza são dois elementos que potencializam a atmosfera do terror e são importantes pra se pensar esse filme. 'O Iluminado' tem - nos detalhezinhos espalhados pelos cenários ao longo de todo o filme - vários "erros" de continuidade (acho que os mais evidentes são as cadeiras que somem ao fundo da filmagem no salão principal, enquanto Wendy e Jack conversam) e que na verdade não são erros, mas que estão aí pra confundir o espectados e alimentar ainda mais a sua sensação de estranhamento sobre o filme. Ainda, a todo momento sentimos uma forte incerteza sobre a explicação para os acontecimentos do filme - teriam eles uma causa psicológica ou sobrenatural?
"Kubrick was concerned that the movie be scary. We sought in the works of Freud, especially his essay on the uncanny and in other psychological theories, some explanation for why things are frightening, and what things are frightening, for instance the sudden animation of an inanimate figure [estranhamento]. (...) Kubrick wanted an explanation for the nature of horror, wanting to understand the underlying psychological mechanism but also willing to accept the convention of the supernatural [incerteza]".
E, pra finalizar, esse mesmo sentimento de incerteza perturba os três personagens confinados no hotel Overlook a todo momento, principalmente pelo medo reprimido que eles guardam em relação àqueles mais próximos: "é mais fácil aceitar que há um monstro no estranho que mora longe das nossas casas do que compreender que ele pode residir em alguém de nossa família ou em nós mesmos" (trecho do texto "Quando Kubrick encontra Freud", escrito e publicado na internet por Parcilene Fernandes, que também é muito bom pra se pensar esse filme).
Eu disse que não poderia comparar o filme com o livro do Stephen King - mas depois desse textinho, vocês já devem ter uma ideia de qual deles eu gosto mais (rs).
Incrível, incrível - puta filme poderoso! Seus momentos de tensão são de arrepiar, mas pra bem além de seu aspecto formal, dou destaque principalmente ao espírito empoderador que é aqui transmitido de forma muito bem sucedida, como uma bela pancada na alma: as suas mensagens de desobediência civil e luta por igualdade têm muito a nos dizer atualmente - um momento em que vemos distorções e discursos de ódio sendo tão reproduzidos em relação aos movimentos feministas (quem usa o facebook sabe como é...)
"As sufragistas" é um ótimo filme: tenso e empolgante do começo ao fim, com questões políticas, históricas e sociais poderosas e muito bem representadas ~ "We are here not because we are law-breakers; we are here in our efforts to become law-makers" (Emmeline Pankhurst).
Quando esse filme acabou, me senti da mesma forma que sinto ao escutar alguma música como as do The Cure: um sentimento que é ao mesmo tempo um pouquinho triste e alegre. "Eu, você e a garota que vai morrer" é um filme muito sensível e inovador na abordagem de um tema que, convencionalmente, é tratado em blockbusters de maneira bem melodramática e apelativa - como é o caso de um filme como "A culpa é das estrelas". Aqui não há grandes romances, paixões profundas, grandes redenções, grandes heróis... Só a vida como ela é, ou melhor, como nela um adolescente se sente em meio a conflitos, situações patéticas e ausências de sentido sem fazer disso um grande drama existencial - vivendo sem grandes projetos e vendo beleza em pequenas e insignificantes coisinhas: em filmes caseiros, no microuniverso escolar, na paixão pelo cinema... (inclusive, as várias referências a outros filmes já consagrados - como "Os incompreendidos" e "Laranja mecânica" - são aqui bem engraçadinhas e divertidas, rs).
Também consigo pensar em "Pequena miss sunshine" como outro filme que acho bastante bonito e sensível nesse sentido - ao mesmo tempo um pouquinho alegre e triste - que faz pesar na alma uma leveza (um tipo de 'Insustentável leveza do ser') e que me ajuda a compreender, por fim, a pequena grande beleza que pode ter o cinema.
MDS ME SEGURA! Que filme magnífico, faz muito tempo que eu não dava tanta risada em uma comédia tão inusitada como essa. "What We Do in the Shadows" é um filme genial! - e não só por ter uma história maluca e super divertida - mas principalmente pelo formato (tão maluco quanto) em que essa história é contada. O que acontece aqui é uma subversão muito muito debochada da maneira como é filmado o tipo mais tradicional (e muitas vezes sensacionalista e melodramático) de programa televisivo confessional (como, em parte, é um programa como o Big Brother) - em que geralmente importa mais a expressividade do testemunho que o próprio conteúdo expresso por ele. O lugar confessional é aquele que se alça na publicização de informações que em princípio pertenceriam ao âmbito privado - no caso desse filme, elas dizem respeito ao dia a dia de um grupo de vampiros que vivem juntos e ocasionalmente dão uns rolês para se divertirem pela cidade.
É um filme nada convencional - mesmo assim ele faz referência a vários outros filmes bem reconhecidos no cinema, tanto academicamente (como 'Nosferatu', que é claramente referenciado na figura do vampiro Petyr) assim como pelo grande público (como quando os vampiros fazem comentários irônicos se comparando com os personagens da saga 'Crepúsculo'). "What We Do in the Shadows" é um filme genial e perfeito pra quem estiver procurado uma comédia divertidida e - ao mesmo tempo - inteligente e super debochada.
"I go for a look which I call: dead but delicious".
A atitude de Nina Simone é de deixar qualquer um de boca aberta. 'Goddamn'! que mulher poderosíssima! Esse é um documentário que pode agradar muito bem não só aqueles que se interessam por Nina, mas principalmente pelos movimentos e lutas dos negros americanos em nome de reconhecimento - tanto para seus direitos civis quanto para a identidade de um povo negro nos Estados Unidos, um pais que estruturalmente expõe um espírito racista tão violento. Ver este documentário me deu vontade de ver "Selma" - e com certeza essa vai ser o próximo filme que vou assistir ~
"O Teste de Bechdel pergunta/questiona se uma obra de ficção possui pelo menos duas mulheres que conversam entre si sobre algo que não seja um homem. Algumas vezes se adiciona a condição de que as duas mulheres tenham nomes. Muitas obras contemporâneas falham no teste, que é um indicativo de preconceito de gênero" (Wikipédia).
Primeiro ponto positivo de 'Coherence': o filme passa muito bem no teste de Bechdel. Beth, a protagonista da história, experiencia tantos acontecimentos bizarros e, em um primeiro momento, aleatórios que - depois de vê-los tão bem encaixados no decorrer do filme - me fez pensar nesse como um dos roteiros mais ousados e mais surpreendentes nos filmes de ficção científica dos últimos tempos.
Não acredito que o filme seja tão complicado como dizem (poxa, ele é autoexplicativo), mas concordo que é preciso muita atenção - e muita suspensão de descrença - pra pegar a lógica dos acontecimentos malucos dessa história e, a partir daí, montar as pecinhas desse quebra-cabeça muito bem elaborado. É um ótimo filme pra quem se interessa por ficções científicas nada convencionais e teorias malucas que, nesse caso, são intensificadas com um toque final e indispensável de tensão e muito suspense.
Um filme de arrepiar. Ao lado de 'Que horas ela volta?', com certeza coloco 'História da eternidade' como um dos (dois) melhores nacionais de 2015.
De arrepiar até os pelos da alma é a interpretação que Irandhir Santos faz da música 'Fala', dos Secos e Molhados. Assim: fecha os olhos e pensa só na dicotomia entre sertão e mar (ou mesmo entre aridez e chuva/inércia e libido também presentes no filme). Pensando nisso, ter uma banda com o nome ~Secos e Molhados na sua trilha sonora (e o LP da banda no quarto do tio artista) foi uma sacada muito bem pensada. É interessante pensar como o personagem interpretado por Irandhir - ator que já foi poeta em filmes como 'Febre do rato' - personifica aqui o significado 'original' (etimológico) da palavra poesia. Em grego clássico, o verbo 'poiésis' diz respeito a atividade criadora do homem - em que a poesia estaria na vida, no seu modo de agir.
Por fim, não posso deixar de confessar como achei a fotografia desse filme incrível, com referências a outros filmes já consagrados. E não é que a profecia final de 'Deus e o diabo na terra do sol' se realiza nesse filme? O sertão virou mar - e o mar virou sertão.
Humano - Uma Viagem pela Vida
4.7 326 Assista AgoraSe o filmow deixasse eu dava seis estrelas.
Fuga Para a Liberdade
4.0 232Me and this fat kid
We ran we ate and read books
And it was the best.
Adorei esse filme e "O Que Fazemos Nas Sombras", Taika Waititi é um ótimo diretor!
A Noite do Chupacabras
3.4 281 Assista AgoraO filme começa muito bom, mas depois fica muito MANO QUE COISA MAIS ERRADA
"Eu fui expulso. Engravidei uma paciente viciada".
Inclusive, achei bem cansativo a cena de luta com muito sangue, muita gritaria e pancadaria durar simplesmente mais que a metade do filme.
Hot Girls Wanted
3.3 196 Assista Agora"I got hurt yesterday (...) the physical part, it's just temporary. I'm here to put on a show, I'm not here to be comfortable. I come and put on a show and make myself unconfortable, so you can get off [gozar] so I can get paid and be confortable on my own time. The same way, the degradating thing: me, that I do it on camera to somebody who's faking it or... that guy or that woman who's been working at that company, busting their ass for shitty benefits, for how many years? Who can't leave, because then what are their kids gonna eat? You know what I mean? People are in those situations outside of porn, all the time, but they don't see that"
O Guia Pervertido do Cinema
4.3 78Enquanto uma arte de aparências, o cinema tem muito a nos ensinar sobre a realidade.
O mistério dos filmes é o de nos fascinar mesmo sabendo que estamos frente a frente com ficções e histórias inventadas. Apesar de tudo, nos encantamos com o cinema.
Nada impede nossa identificação com as situações encenadas, mesmo quando os filmes se auto-desmascaram enquanto encenações montadas em estúdio (como é o caso de Dogville, em que vemos o cenário reveladamente como uma farsa). Ainda assim nos sensibilizamos diante daquilo que sabemos não ser real; apesar de tudo, a ilusão ainda persiste.
Essa é a mágica fundamental do cinema: apontar como há na ilusão algo mais real que a realidade por trás dela.
A Conspiração da Vaca: O Segredo da Sustentabilidade
4.4 212 Assista AgoraEstava aqui preparando um textão sobre a falta de informações sobre a origem dos dados apresentados no documentário (contas, gráficos, tabelas e afins) - o que é algo que me incomoda em muitos documentários que se sustentam sobre uma enxurrada de números - mas!... Acabei descobrindo que existe sim um site em que os realizadores desse filme deixam muito claro as (muuuitas) fontes de todos os dados apresentados:
www. cowspiracy. com /facts/ (se for acessar, apague os espaços, já que o filmow não permite postar links nos comentários)
- o que me fez gostar ainda mais de 'Cownspiracy'! que é ótimo pra contemporaneidade e ainda mais em um país como o Brasil, em que o agronegócio é responsável pela destruição da amazônia, pelo ataque à agricultura familiar, pelo enorme gasto de água e de grãos, pelo assassinatos de ativistas e pelo massacre de populações indígenas... Um agronegócio desenfreado que, devido a seu grande poder político, pouco se responsabiliza e pouco é penalizado por esses crimes.
Ser vegano não é só uma decisão sobre meu hábito alimentar, nem só sobre a compaixão com a vida de outros animais. Ser vegano também é uma escolha política, um posicionamento político de resistência e de luta.
Diário
4.7 2Apesar do gênero documental, que no senso comum é entendido como não-ficcional, os diários David Perlov deixam claro como, na realidade, a realidade é a maior de todas as ficções. Neste cinema-diário, o cotidiano é apresentado a partir de uma narrativa e de recortes de câmera que fluem de forma literária, em que a linguagem poética e a banalidade do do dia a dia convivem naturalmente. Isso que é o mais bonito de perceber nesse filme e no cinema, de modo geral: que a vida bem como nós a entendemos só existe porque somos capazes de criar ficções que estruturam a realidade, tanto individualmente como no palco da vida social.
David Perlov só é personagem de seus filmes na presença da câmera e do recorte cinematográfico (autobiográfico e autoficcional). Na vida, da mesma forma, só existimos na medida em que criamos narrativas e nos ficcionalizamos como personagens de grandes histórias.
Felicidade
4.1 378SOS, acabei de assistir esse filme! Mano, que experiência mais maluca. Não gostei nem um pouco do que acabei de ver - o que não significa que o filme seja ruim, já que esse desconforto (um baita de um desconforto, diga-se de passagem) faz parte da proposta do filme, que segue a mesma premissa de 'Beleza americana' (que acho que seja um filme mais conhecido): ambos mostram ao espectador - de forma muito explícita e debochada - uma sequência de situações que são moralmente suuuuper condenáveis. Inclusive, a pedofilia como um desejo transbordando num pai de 'família tradicional' por um dos amigos do filho é um tema que destaca em ambos os filmes. Se for pra comparar, no entanto, 'Felicidade' é um filme muito mais repugnante.
Enfim, acho que 'Felicidade' é, de todos os filmes que conheço, aquele que tem o título mais avesso à sensação que se sente ao assisti-lo.
Sr. Ninguém
4.3 2,7KApesar do filme apresentar diferentes teorias científicas (como a abertura sobre a psicologia behaviorista e os programas televisivos de física quântica), todas elas são só armadilhas pra atiçar nossa vontade de encontrar um sentido em todos os fragmentos caóticos da vida de Nemo. Isso que é o mais bonito em 'Mr. Nobody', mostrar que não há teoria que dê conta de explicar toda a experiência humana; que viver ultrapassa todo entendimento.
Loucuras de Verão
3.6 160 Assista AgoraCurti muito o filme, principalmente por gostar dessa temática sobre a juventude da juventude norte-americana - quero dizer, o conceito de 'adolescência' é em grande parte uma criação dos anos 50, quando o cinema e a música (o início do rock'n roll, principalmente) começaram a se voltar para esse público jovem específico. Nesse sentido, me fez lembrar do filme 'Juventude Transviada', com James Dean, já que ambos os filmes apresentam uma juventude que, mesmo sem saber muito bem os rumos que vão tomar, tem certeza que não quer ter a mesma vida careta dos seus pais e dos adultos mais velhos - com a ressalva de que o filme com James Dean é muito mais trágico e transgressor ao tratar disso, o que é mostrado sem grandes conflitos existenciais no filme de George Lucas.
Falando em rock, a trilha sonora do filme é ótima - ela e, de modo geral, o filme todo são bons registros dos costumes e valores de uma época. Além disso, é uma história divertida, com personagens bem estereotipados (com um nerd desajeitado, uma gangue encrenqueira e, como não podia faltar, um casal apaixonado). Só um comentário final: agora que parei pra pensar nos personagens, não consegui lembrar de nenhum personagem minimamente relevante no filme que seja negro... O que é de se esperar, sendo o filme o retrato de um mundo da classe média branca nos Estados Unidos, em uma época bem marcada pela segregação racial.
Deus Não Está Morto
2.8 1,4K Assista AgoraQuem é o grande alvo de preconceito e opressão em 'Deus não está morto'? Ninguém menos que um adolescente branco, estadunidense, de classe média, homem, heterossexual e cristão. Ou seja, não é nem um pouco difícil entender como esse é o filme mais ridículo que já assisti.
12 Homens e Uma Sentença
4.6 1,2K Assista Agora"12 homens e uma sentença" é um ótimo exemplo pra abalar o preconceito de quem pensa que filmes antigos - ainda mais em preto e branco - são todos chatos. Falando em preconceito, os diálogos desse filme formam um poderoso texto sobre à intolerância e, principalmente, a como muitas vezes nossos desejos e visões de mundo mais ardentes podem sustentar discursos de ódio muuuito desagradáveis (ri muito da cena em que as pessoas se retiram da mesa enquanto o jurado mais velho falava umas besteiras de revirar o estômago).
"É sempre difícil deixar os preconceitos fora de uma questão dessas. Não importa para que lado vá, o preconceito sempre obscurece aquilo que analisamos".
Nesse sentido, o filme dialoga bem com a atual situação política brasileira. Nunca discutimos acerca de fatos, mas de interpretações que sempre carregam um certo grau de parcialidade.
Beleza Americana
4.1 2,9K Assista AgoraBeleza americana: "meu trabalho consiste em disfarçar meu desprezo pelos babacas no poder e, pelo menos uma vez ao dia, ir ao banheiro me masturbar e imaginar uma vida que não se pareça tanto com um inferno".
A Bruxa
3.6 3,4K Assista AgoraAcabei de voltar do cinema, fui cheio de expectativas depois de ter ouvido tanto a respeito desse filme - muitas opiniões dividias, comentários de amor ou ódio. Inclusive, um comentário que foi importante pra aumentar o prestígio sobre esse filme foi o que Stephen King escreveu em seu twitter, elogiando como 'A Bruxa' consegue ser uma experiência cinematográfica tão assustadora (mesmo assim, sabendo que King tem sérios problemas com 'O Iluminado' de Kubrick, pra mim a opinião dele sobre um filme de terror não fez a menor diferença).
"A Bruxa" é um filme com fotografia, ambientação e atuações muito boas, que conseguem passar muito bem ao espectador a sensação de isolamento e de desconforto que envolve esse ambiente familiar excessivamente religioso. As falas são em inglês arcaico, os seus poucos diálogos são fortemente marcados pelo imaginário católico e seus planos abertos parecem quadros com paisagens cinzas e bastante deprimentes (em momentos que isso reflete bem o interior dos personagens).
Mas se você pretende ir ao cinema e assistir um filme de terror tradicional - aqueles que apelam pra cenas de susto que te fazer pular da cadeira - "A Bruxa" com certeza não é uma escolha nem um pouco boa. Na sessão em que fui hoje, assim que os créditos finais apareceram na tela, a reação de muita gente foi vaiar aquilo que acabaram de assistir. Nesse sentido, acho errado venderem "A Bruxa" como um filme de terror convencional. É importante entender que a proposta aqui é causar muito mais medo e estranhamento do que ficar dando sustos repetitivos no espectador - a proposta seria a de um filme mais 'amedrontador' do que 'assustador'.
Depois do que vi hoje, senti que "A Bruxa" é um filme esteticamente bonito, mas não achei tão amedrontador como andam comentando.
Desculpa Stephen King, mas apenas não.
Spotlight - Segredos Revelados
4.1 1,7K Assista AgoraMais agonizante ainda é ler o artigo que realmente foi publicado no jornal do Boston Globe. É só jogar no google: "Church allowed abuse by priest for years". Ótimo filme, muito poderoso.
(créditos finais) "major abuse scandals have been uncovered in the following places:
Arapiraca (Brazil)
Franca (Brazil)
Rio de Janeiro (Brazil)
Mariana (Brazil)
Creed: Nascido para Lutar
4.0 1,1K Assista AgoraA galerinha do Oscar bobeou mesmo em não ter indicado Michael B. Jordan por esse filme, a atuação dele é uma pancada certeira na emoção do espectador. E a primeira luta - todo um plano-sequência com a câmera fazendo os movimentos rápidos dos lutadores - AH! aquilo foi de arrepiar.
E o que dizer da luta final?
Foi uma conquista que realmente custou o olho da cara (rs).
Nunca assisti os filmes do Rocky, mas depois de ver 'Creed' já acabei me decidindo por reservar meus próximos cinco dias pra ver o Stallone de sunguinha no ringue.
Um Pistoleiro Chamado Papaco
3.5 241Resumo do filme: cenas de baixo orçamento intercalando diálogos debochados com muitos palavrões (como os trechos do filme que ficaram famosos no youtube) e muito sexo explícito ao som de músicas de velho oeste (que são trechos do filme que, claro, não estão no youtube).
"Que triste fim: um herói morrer com o cu cheio de balas''.
O cinema produzido na boca do lixo foi uma coisa muito bizarra.
O Iluminado
4.3 4,0K Assista AgoraNão, o livro de Stephen King não tem explicações mais claras para os acontecimentos desse filme. Não, o filme de Kubrick não é 'fiel ao livro' de King. É preciso entender que a adaptação cinematográfica de um livro - como é o caso de 'O Iluminado' - nem sempre precisa ter 'fidelidade' com a obra literária. Adaptar para o cinema pressupõe apropriar-se de alguns elementos de uma obra e interpretar ela sobre perspectivas e linguagens artísticas (literatura/cinema) diferentes. Assim, o livro de King e o filme de Kubrick devem ser encarados como duas obras diferentes e, portanto, compreendendo duas histórias diferentes - contadas na perspectiva de dois autores com estilos próprios e visões de mundo bem distintas.
Mas calma, com isso não quero dizer que o filme seja melhor que o livro - acho que nem poderia fazer essa comparação, já que as duas obras apresentam temáticas e objetivos tão distintos. Enquanto King constrói uma boa história em torno do sobrenatural e dos aspectos tradicionais do terror, Kubrick já toma outro rumo e mergulha mais a fundo nos aspectos subjetivos (e psicológicos) da trama, se aprofundando em temas como a loucura, o conflito de consciência e o instinto violento do homem; além de apresentar - como não poderia faltar em um filme de Kubrick - seu perfeccionismo estético com a fotografia.
Juro que eu não queria fazer um textão, mas não deu, realmente não consegui me segurar. Kubrick é um dos meus diretores favoritos - e acho que 'O Iluminado' é um dos seus filmes mais poderosos. Uma leitura que acho bastante interessante pra se compreender melhor esse filme é a de um artigo chamado "Writing The Shining", escrito por Diane Johnson (co-roteirista do filme, junto com Kubrick) que foi publicado no livro "Depth of Field: Stanley Kubrick, Film, and the Uses of History". Nesse texto, a autora explica como Kubrick foi buscar em textos de Freud (principalmente no ensaio "O Estranho") um embasamento teórico pra se pensar no mecanismo psicológico do medo e, assim, construir um filme de terror psicológico a partir desses elementos (o cara é ousado, hein).
O que consegui entender desse e de outros textos que leem Kubrick a partir de Freud é que o estranhamento e a incerteza são dois elementos que potencializam a atmosfera do terror e são importantes pra se pensar esse filme. 'O Iluminado' tem - nos detalhezinhos espalhados pelos cenários ao longo de todo o filme - vários "erros" de continuidade (acho que os mais evidentes são as cadeiras que somem ao fundo da filmagem no salão principal, enquanto Wendy e Jack conversam) e que na verdade não são erros, mas que estão aí pra confundir o espectados e alimentar ainda mais a sua sensação de estranhamento sobre o filme. Ainda, a todo momento sentimos uma forte incerteza sobre a explicação para os acontecimentos do filme - teriam eles uma causa psicológica ou sobrenatural?
"Kubrick was concerned that the movie be scary. We sought in the works of Freud, especially his essay on the uncanny and in other psychological theories, some explanation for why things are frightening, and what things are frightening, for instance the sudden animation of an inanimate figure [estranhamento]. (...) Kubrick wanted an explanation for the nature of horror, wanting to understand the underlying psychological mechanism but also willing to accept the convention of the supernatural [incerteza]".
E, pra finalizar, esse mesmo sentimento de incerteza perturba os três personagens confinados no hotel Overlook a todo momento, principalmente pelo medo reprimido que eles guardam em relação àqueles mais próximos: "é mais fácil aceitar que há um monstro no estranho que mora longe das nossas casas do que compreender que ele pode residir em alguém de nossa família ou em nós mesmos" (trecho do texto "Quando Kubrick encontra Freud", escrito e publicado na internet por Parcilene Fernandes, que também é muito bom pra se pensar esse filme).
Eu disse que não poderia comparar o filme com o livro do Stephen King - mas depois desse textinho, vocês já devem ter uma ideia de qual deles eu gosto mais (rs).
As Sufragistas
4.1 778 Assista AgoraIncrível, incrível - puta filme poderoso! Seus momentos de tensão são de arrepiar, mas pra bem além de seu aspecto formal, dou destaque principalmente ao espírito empoderador que é aqui transmitido de forma muito bem sucedida, como uma bela pancada na alma: as suas mensagens de desobediência civil e luta por igualdade têm muito a nos dizer atualmente - um momento em que vemos distorções e discursos de ódio sendo tão reproduzidos em relação aos movimentos feministas (quem usa o facebook sabe como é...)
"As sufragistas" é um ótimo filme: tenso e empolgante do começo ao fim, com questões políticas, históricas e sociais poderosas e muito bem representadas ~ "We are here not because we are law-breakers; we are here in our efforts to become law-makers" (Emmeline Pankhurst).
Eu, Você e a Garota Que Vai Morrer
4.0 888 Assista AgoraQuando esse filme acabou, me senti da mesma forma que sinto ao escutar alguma música como as do The Cure: um sentimento que é ao mesmo tempo um pouquinho triste e alegre. "Eu, você e a garota que vai morrer" é um filme muito sensível e inovador na abordagem de um tema que, convencionalmente, é tratado em blockbusters de maneira bem melodramática e apelativa - como é o caso de um filme como "A culpa é das estrelas". Aqui não há grandes romances, paixões profundas, grandes redenções, grandes heróis... Só a vida como ela é, ou melhor, como nela um adolescente se sente em meio a conflitos, situações patéticas e ausências de sentido sem fazer disso um grande drama existencial - vivendo sem grandes projetos e vendo beleza em pequenas e insignificantes coisinhas: em filmes caseiros, no microuniverso escolar, na paixão pelo cinema... (inclusive, as várias referências a outros filmes já consagrados - como "Os incompreendidos" e "Laranja mecânica" - são aqui bem engraçadinhas e divertidas, rs).
Também consigo pensar em "Pequena miss sunshine" como outro filme que acho bastante bonito e sensível nesse sentido - ao mesmo tempo um pouquinho alegre e triste - que faz pesar na alma uma leveza (um tipo de 'Insustentável leveza do ser') e que me ajuda a compreender, por fim, a pequena grande beleza que pode ter o cinema.
O Que Fazemos nas Sombras
4.0 662 Assista AgoraMDS ME SEGURA! Que filme magnífico, faz muito tempo que eu não dava tanta risada em uma comédia tão inusitada como essa. "What We Do in the Shadows" é um filme genial! - e não só por ter uma história maluca e super divertida - mas principalmente pelo formato (tão maluco quanto) em que essa história é contada. O que acontece aqui é uma subversão muito muito debochada da maneira como é filmado o tipo mais tradicional (e muitas vezes sensacionalista e melodramático) de programa televisivo confessional (como, em parte, é um programa como o Big Brother) - em que geralmente importa mais a expressividade do testemunho que o próprio conteúdo expresso por ele. O lugar confessional é aquele que se alça na publicização de informações que em princípio pertenceriam ao âmbito privado - no caso desse filme, elas dizem respeito ao dia a dia de um grupo de vampiros que vivem juntos e ocasionalmente dão uns rolês para se divertirem pela cidade.
É um filme nada convencional - mesmo assim ele faz referência a vários outros filmes bem reconhecidos no cinema, tanto academicamente (como 'Nosferatu', que é claramente referenciado na figura do vampiro Petyr) assim como pelo grande público (como quando os vampiros fazem comentários irônicos se comparando com os personagens da saga 'Crepúsculo'). "What We Do in the Shadows" é um filme genial e perfeito pra quem estiver procurado uma comédia divertidida e - ao mesmo tempo - inteligente e super debochada.
"I go for a look which I call: dead but delicious".
What Happened, Miss Simone?
4.4 401 Assista AgoraA atitude de Nina Simone é de deixar qualquer um de boca aberta. 'Goddamn'! que mulher poderosíssima! Esse é um documentário que pode agradar muito bem não só aqueles que se interessam por Nina, mas principalmente pelos movimentos e lutas dos negros americanos em nome de reconhecimento - tanto para seus direitos civis quanto para a identidade de um povo negro nos Estados Unidos, um pais que estruturalmente expõe um espírito racista tão violento. Ver este documentário me deu vontade de ver "Selma" - e com certeza essa vai ser o próximo filme que vou assistir ~
Coerência
4.1 1,3K Assista Agora"O Teste de Bechdel pergunta/questiona se uma obra de ficção possui pelo menos duas mulheres que conversam entre si sobre algo que não seja um homem. Algumas vezes se adiciona a condição de que as duas mulheres tenham nomes. Muitas obras contemporâneas falham no teste, que é um indicativo de preconceito de gênero" (Wikipédia).
Primeiro ponto positivo de 'Coherence': o filme passa muito bem no teste de Bechdel. Beth, a protagonista da história, experiencia tantos acontecimentos bizarros e, em um primeiro momento, aleatórios que - depois de vê-los tão bem encaixados no decorrer do filme - me fez pensar nesse como um dos roteiros mais ousados e mais surpreendentes nos filmes de ficção científica dos últimos tempos.
Não acredito que o filme seja tão complicado como dizem (poxa, ele é autoexplicativo), mas concordo que é preciso muita atenção - e muita suspensão de descrença - pra pegar a lógica dos acontecimentos malucos dessa história e, a partir daí, montar as pecinhas desse quebra-cabeça muito bem elaborado. É um ótimo filme pra quem se interessa por ficções científicas nada convencionais e teorias malucas que, nesse caso, são intensificadas com um toque final e indispensável de tensão e muito suspense.
A História da Eternidade
4.3 448Um filme de arrepiar. Ao lado de 'Que horas ela volta?', com certeza coloco 'História da eternidade' como um dos (dois) melhores nacionais de 2015.
De arrepiar até os pelos da alma é a interpretação que Irandhir Santos faz da música 'Fala', dos Secos e Molhados. Assim: fecha os olhos e pensa só na dicotomia entre sertão e mar (ou mesmo entre aridez e chuva/inércia e libido também presentes no filme). Pensando nisso, ter uma banda com o nome ~Secos e Molhados na sua trilha sonora (e o LP da banda no quarto do tio artista) foi uma sacada muito bem pensada. É interessante pensar como o personagem interpretado por Irandhir - ator que já foi poeta em filmes como 'Febre do rato' - personifica aqui o significado 'original' (etimológico) da palavra poesia. Em grego clássico, o verbo 'poiésis' diz respeito a atividade criadora do homem - em que a poesia estaria na vida, no seu modo de agir.
Por fim, não posso deixar de confessar como achei a fotografia desse filme incrível, com referências a outros filmes já consagrados. E não é que a profecia final de 'Deus e o diabo na terra do sol' se realiza nesse filme?
O sertão virou mar - e o mar virou sertão.