O best-seller religioso de William P. Young chega às telonas em uma adaptação rasa e monocórdia de uma trama que propõe temas como luto, culpa, perdão e espiritualidade. Acompanhamos Mack, um pai devastado pelo assassinato de sua filha caçula. Ele recebe uma carta supostamente escrita por Deus o convidando para um encontro no lugar onde sua filha foi morta: uma cabana na floresta. Lá, ao se deparar com a materialização da Santíssima Trindade, Mack trilha uma jornada de confronto com seus demônios internos, questionando seus conceitos de Deus e de sua própria existência. O principal problema do longa é ter um roteiro que jamais se aprofunda em seus questionamentos: "Por que inocentes são mortos?", "Por que Deus permite que coisas cruéis aconteçam?", "Onde está Deus nos momentos em que mais precisamos?", "Existe justiça no mundo?", "Por que estamos aqui?". As respostas se resumem a diálogos ruins e frases de efeito, sobre como o amor é suficiente e maior que tudo. A direção peca ao desperdiçar momentos-ápice, cenas que poderiam ter força ou impacto, como quando Mack entra na cabana e descobre que sua filha está morta ou seu primeiro encontro com Deus, simplesmente passam. O diretor não consegue também extrair mais do que o óbvio de seu protagonista. Onde está a dor latente de um pai que perdeu sua filha em um crime brutal? Onde está a frustração, confusão e ódio ao estar de frente ao Deus que permitiu que aquilo acontecesse? Fica a sensação de que nada o atravessa. Já Octavia Spencer, a que se sai melhor do elenco, traz uma vivacidade, humor e calor maternal que dão frescor ao personagem, mesmo que sejam coisas muito próprias da atriz. A Cabana infelizmente não vai além do mamão com açúcar, com suas lágrimas de crocodilo e sua teologia florida, embora, claro, não seja impossível que emocione por tratar de algo tão subjetivo quanto a fé.
Cercas são erguidas para demarcar espaços, afirmar posses ou estabelecer limites. Tudo aqui se trata de como o protagonista constrói suas cercas. Troy Maxson é um homem que trabalha na coleta de lixo na Pittsburgh dos anos 60, ressentido com a vida, que fez com que seus sonhos fossem sendo drenados pelo tempo. Temos um papel realista do pai e marido provedor cuja noção de amor se resume a dar o sustento e colocar os filhos no caminho que aprendeu ser certo. Denzel Washington consegue imprimir as diversas facetas e agruras do personagem. Se nos identificamos com o homem que relembra uma infância de abusos, que o forçou a bater de frente com a vida e crescer, é também fácil reprovar seu comportamento autoritário e machista. Mas o que não se pode negar é que Troy é reflexo da época, uma construção do meio. Ele vê nos filhos a oportunidade de corrigir os erros de seu passado, e se enxergar vivendo através deles uma vida oposta àquela. Viola Davis tem um domínio descomunal de sua personagem, conhecendo cada centímetro do interior dessa mulher. Sua Rose é o retrato da resignação, a mulher que abdica de tudo para estar ao lado de seu homem, e abre mão de desejos e sonhos em função de ser mãe e esposa. A cena de seu breakdown, em que ela rebate todas as frustrações do marido com as suas próprias é visceral. A alma do filme está no texto magnífico de August Wilson, que destrincha as relações humanas de uma forma impressionante, deixando nas falas de seus personagens um amargo intrincado de feridas expostas. É um filme textocêntrico e, em alguns momentos, verborrágico. Falta respiro para que absorvamos tudo o que foi dito. Os silêncios que poderiam revelar muito mais são quase inexistentes.Tudo é falado. A natureza teatral do longa não me incomoda, fica a sensação de estar assistindo a algo de outro tempo. A marcação é muito bem feita e preenche o espaço, mesmo que consigamos visualizar que tudo foi marcado, como numa cena teatral. Infelizmente, isso acaba nos privando de uma experiência mais profunda enquanto cinema. A força está no texto e nas atuações. E o elenco, íntimo de seus personagens desde o palco, saboreia o texto e entrega toda a complexidade pedida. As cercas (ou limite, rs) do título estão nas mágoas e medos que vão sendo erguidos ao longo da vida, frutos de traumas e intolerância. O que permanece no espectador ao fim da projeção é a necessidade de digerir tudo e o autoquestionamento sobre família e relações pessoais. Como transpor as próprias cercas?
O íntimo da alma do Wolverine é esmiuçado no filme mais ousado e adulto da franquia. Bryan Singer, em seus longas, nos mostrou o herói de instinto bestial que, colocado à frente dos X-Men, protege seu grupo ao mesmo tempo em que busca suas origens. Aqui, temos apenas Logan, em sua forma mais honesta e humana, consciente de quem se tornou e tendo que lidar com seus demônios mais obscuros. É 2029, os mutantes estão extintos e Logan tem que trabalhar como chofer para pagar os remédios de seu mestre Charles Xavier, que enfrenta algum tipo de doença neurológica degenerativa. A cena inicial já dita as regras do que vem a seguir: muito gore e violência. E é exatamente por não estar preso à classificação indicativa ou a um público, que James Mangold tem total liberdade para expor o extremo tanto da natureza animalesca do homem com garras, quanto de seu espírito inquieto. Hugh Jackman, que se despede do papel depois de 17 anos, reitera ser a encarnação do personagem, indissociável deste. Ele entrega uma atuação muito mais psicológica, carregada de nuances; um Logan velho, cheio de culpa e perdido em sua eternidade. Patrick Stewart já não traz um Professor Xavier modelo de sobriedade e intelecto, mas um homem que, no fim da vida, não está mais preso a nenhum padrão e tem uma sede absurda de viver. Quando entra em cena a garotinha mutante X-23, o conflito toma forma. Dafne Keen é misteriosa e consegue imprimir toda a revolta instintiva e a inocência da menina feita em laboratório para ser usada como arma. De repente, passamos a acompanhar um road movie árido e denso, repleto de sequências memoráveis. As cenas de ação são dirigidas com maestria, nada é gratuito, nem mesmo a violência demasiadamente gráfica. A ação é intercalada com momentos que nos permitem parar para entender a complexidade dos personagens e suas relações entre si. É gratificante ter um roteiro que se preocupa em aprofundar essas relações, as colocando em primeiro plano. Se Logan tenta se afastar de um possível laço emocional com sua recém-descoberta filha, é em Xavier que ele ainda vê um sentido para estar vivo. Os dois tem uma troca muito natural e profunda, fruto de um passado que os une, visível nas marcas em seus corpos. O universo que nos é apresentado coloca os já extintos X-Men nas páginas dos quadrinhos. E assim o filme insere a história na nossa realidade, fazendo com que nos espelhemos na criança que idealiza heróis e aventuras, quando tudo no mundo em volta é grotesco. O legal da experiência de assistir ao filme é que ele reserva muitas surpresas que foram totalmente escondidas dos trailers. A sensação de que tudo pode acontecer é pungente, os personagens não estão protegidos por serem protagonistas. Tudo é fragilidade em ser humano. Logan durante toda sua duração tem um sabor de encerramento. E isso torna a experiência muito mais emocional e grandiosa. É o filme definitivo para os fãs do Homem de Adamantium, que o acompanharam e tanto esperavam por um longa solo à sua altura. É amargo, visceral e também sensível ao expor as cicatrizes de um homem, na selvageria de sua mutação, encontrando sua humanidade.
"Como se acostumar a ver crianças mortas, mulheres grávidas, mulheres que deram à luz durante naufrágios, cordões umbilicais ainda ligados? Você os coloca em sacos, nos caixões, tem que tirar amostras, precisa cortar um dedo ou uma costela, tem de cortar a orelha de uma criança. Mesmo depois da morte, mais este ultraje. Mas tem de ser feito, então eu faço. Tudo isso dá tanta raiva, deixa um vazio no estômago, um buraco. Faz você pensar, sonhar com eles. São pesadelos que revivo sempre... sempre." Fogo no Mar não é só mais um documentário expositivo sobre os infortúnios dos imigrantes da África e Oriente Médio refugiados na Europa, mas um retrato de realidades distintas, e como elas se cruzam. Acompanhamos o cotidiano de alguns habitantes da pequena ilha italiana de Lampedusa. Samuelle, garoto de 12 anos com problemas de vista, atentamente escuta a avó falar sobre a guerra e as bombas que faziam o mar incendiar. Uma mulher escuta no rádio, enquanto prepara o almoço, o número de pessoas que morreram tentando chegar à ilha. Um médico tenta se comunicar com uma sobrevivente durante um exame de ultrassonografia. Tudo isso se alterna aos dramáticos resgates no mar. Olhares por toda parte. Dor, medo, luto, esperança, desespero... Mortos em sacos pretos chegando a bordo. Uma lágrima de sangue escorrendo. O porão de uma balsa abarrotado de corpos espalhados, jazendo sem vida. A câmera de Rosi nos transforma em testemunhas das cenas. Não é preciso depoimentos ou estatísticas, a força está nas imagens. Fogo no mar é cinematográfico em seu documentar a realidade. A sensibilidade da fotografia captura momentos com uma estética primorosa. Aqui, não se conversa com a câmera. Tudo é capturado quase como num filme ficcional, e embalado por uma passional trilha italiana. É interessante como o diretor contrasta o cotidiano bucólico dos habitantes da ilha com as situações extremas vividas pelos refugiados no mar. O cerne do documentário está exatamente nesse contraponto entre existências. O olhar de Samuelle para o mar e a tormenta que ele traz de longe.
"You're my only and I'm your only" A certa altura do filme, entorpecida pelas drogas, a mãe do protagonista diz isso ao filho. Essa fala traduz muito bem a pungente sensação de solidão que Moonlight evoca. Chiron é todo silêncio, e por assim ser, é também grito. Seu olhar não se cala durante todo o filme. E é esse mesmo olhar a principal conexão entre as três fases de sua vida que são retratadas. Os três atores conseguem alcançar tal unidade nas interpretações, que conseguimos ver o mesmo Chiron do ínicio sendo moldado pelo tempo e pelo meio e se tornando homem. Todo esse elo entre força e sutileza se deve principalmente à brilhante direção de Barry Jenkins, que consegue capturar momentos e dá-los profundo significado. Sua poesia jamais é pretensiosa, mas muito conveniente e realista. Os silêncios são usados com tamanha maestria que ele consegue deixar cenas inteiras em suspenso, colocando o espectador em estado de quase apneia. A descoberta da sexualidade é inerente ao processo de autoconhecimento humano. O roteiro consegue expor toda a confusão, medo e curiosidade desse algo que Chiron não entende, mas que o acompanha, sendo palpável inclusive pros outros. A primeira experiência sexual é epifânica, em uma cena memoravelmente linda, que reflete o enorme talento de Jenkins. Naomi Harris entrega uma mãe perdida em si mesma, dominada pelo vício e que não sabe como dar amor ao filho. Sua figura é essencial para a construção da personalidade de Chiron. Assim como Juan, interpretado por Mahershala Ali, que é quase uma personificação de quem o menino vem a se tornar. Moonlight é uma prosa sobre a vida, e como somos construídos aos poucos pelas situações que vivenciamos e pelas pessoas que passam. Nossa história é uma linha (ou novelo) com ramificações e cruzamentos, que jamais deixa de tomar forma.
Que bagunça! Tive a sensação que assisti a dois filmes distintos, o primeiro bom e o segundo um desastre total. Não há unidade entre as duas partes. No primeiro ato, o diretor consegue trazer pra tela todo o tumulto e vastidão do país, assim nos fazendo ter noção do quão perdida aquela criança está. A tensão é muito bem construída e o senso de ameaça é iminente, Garth Davis te insere em um mundo onde tudo é hostil e não se deve confiar em ninguém. Os silêncios são muito bem utilizados e intensificam as sensações, como quando Saroo acorda e se vê sozinho na estação. Objetos e caminhos que servirão para auxiliar o protagonista na segunda parte são sutilmente evidenciados. A relação com a mãe e o irmão é explorada de forma sensível, e conseguimos sentir o drama da perda. De repente, tudo muda radicalmente, uma direção promissora desanda em momentos que vão do simplório ao risível. Saroo cresce e o roteiro nos apresenta um jovem que parece amar a vida que leva e quem se tornou, inclusive torcendo para os australianos uhuu! Não me pareceu que a dor o acompanha desde sempre. É quase como se tudo viesse a tona quando ele come uma comida indiana que o faz lembrar da infância. O roteiro falha miseravelmente ao optar seguir a relação pífia de Saroo com a personagem da Rooney Mara (que é totalmente descartável), ao invés da relação dele com a família. Um irmão nos é apresentado junto com um possível conflito, mas acaba por aí. A mãe chega a falar o quanto Saroo se importa e cuida do irmão. Mas a relação dos dois se resume a essa fala, quando poderia ter sido mostrado, desenvolvido. A Nicole é a que mais se esforça, merecendo a indicação. Uma pena o roteiro não dar espaço para que a relação dela com o filho se desenvolva. Dev Patel não me parece atormentado. Os flashbacks em excesso para mim não são lembranças, mas cenas aleatórias jogadas. O diretor nos manipula para que nos emocionemos, não conseguindo chegar perto de criar a atmosfera tão bem construída da primeira parte. O reencontro não chega a ter peso. E explicação do porquê do título me fez rir. No fim, chego a conclusão de que De Volta Pra Minha Terra do Gugu conseguia me emocionar muito mais.
História importante que precisava ser conhecida. E o filme ter um apelo popular mt forte colabora pra que essa história chegue até as pessoas. Mas ao mesmo tempo em que é acessível, é também raso. Não se aprofunda em nada. Utiliza o humor, o que te aproxima das personagens; mas ao mesmo tempo usa e abusa deste mesmo humor, em momentos que poderiam ser mais sérios, fazendo com que o peso de algumas cenas se perda.
A Katherine precisar caminhar apertada quase 1km pra usar o banheiro é tratado como algo hilário (evidenciado pela trilha sonora), em todas as vezes que essa situação se apresenta. Tirando a força da cena ápice da personagem, que desabafa sobre os absurdos que passa quando é confrontada por seu chefe. O diretor não te prepara emocionalmente pra essa cena, logo antes estávamos rindo disso.
As personagens, que segundo a premissa são o centro da história, têm espaços muito diferentes dentro do filme. A Katherine é claramente a protagonista, enquanto as personagens Mary Jackson e Dorothy são bem coadjuvante, tendo essa última um espaço mínimo (fiquei me questionando sobre a indicação da Octavia Spencer). Mesmo com esse desequilíbrio entre as três no roteiro, as atrizes têm um entrosamento muito bom, e a Taraji P. Henson está sensacional, com uma força e presença incríveis. A cena em que ela recebe o desenho da filha e a forma como ela reaje, me deixou encantado. Até a questão da segregação racial, embora seja mt bem retratada em cenas como a da biblioteca ou do ônibus, perde sua força. Não me revolta ou mexe comigo como em Selma, por exemplo, embora se passe exatamente no mesmo contexto. Tudo devido ao tom do filme e à direção. É uma história poderosa que merecia uma abordagem melhor, mas que tem o seu valor por trazer à superfície essas figuras escondidas tão geniais, numa época em que tanto batemos na tecla de que representatividade importa.
A trilha arrebatadora e quase macabra, a fotografia evocando um outro tempo, a melancolia dos planos, tudo me fez imergir na atmosfera do filme. Inebriante! A Natalie consegue trazer todas as máscaras sociais e facetas da Kennedy. Uma mulher que era várias em uma só. Mas, principalmente, a Natalie é o reflexo da tristeza e do trauma. Tudo no olhar perdido, no corpo cambaleante, na voz... Só aceito Isabelle perdendo se for pra ela. Um filme extremamente atmosférico.
Visual estonteante, destaque para a reprodução dos lobos. Mas há uma dificuldade clara em achar o tom, indo do bobo e infantil ao cruelmente violento, ou ficando em cima do muro sobre ser um musical ou não. Vale pelo visual e pela nostalgia. P.S.: A cena da cobra é a melhor! Scarlett, me pica.
Incrível como o diretor consegue fazer um filme acerca de um tema difícilimo ser tão divertido. Porém, mesmo com os conceitos que o filme te dá e tudo mais, por ser totalmente leigo em economia me vi bem perdido em determinados momentos. Espero ver de novo em breve. Ah, e Steve Carell tem meu coração.
Mate-me Por Favor não é um filme fácil. É como se apertasse seu pescoço, e depois soltasse, só pra depois voltar a apertar, sem nunca te deixar morrer. Um filme de atmosfera, que causa estranheza e ao mesmo tempo empatia, mexe com o psicológico e te leva a diferentes lugares. O roteiro é repleto de camadas, com ótimas referências, principalmente ao cinema de Lynch. A direção é extremamente precisa, consciente do que quer provocar ao expectador. Depois que acaba, necessita ser digerido, pensado. O cinema nacional em seu melhor.
O novo boa-noite-cinderela. Na festa, a pessoa te mostra pelo celular um trecho desse filme, você apaga na hora. Haha, brincadeiras à parte. Não consegui captar a essência do que o Glauber quis passar, achei indigesto demais, enfastiante, exageradamente metafórico. É possível sentir e ver uma teatralidade belíssima nas obras do Glauber, mesmo na trama séria de Terra em Transe, e na crítica social de Deus e o Diabo, mas nesse parece tudo muito jogado - claro que dá pra ver que é um filme puramente artístico -, o problema é exatamente conseguir sentir. Espero talvez um dia assistir com outros olhos e conseguir captar essa essência, apreciando enfim.
A Cabana
3.6 828 Assista AgoraO best-seller religioso de William P. Young chega às telonas em uma adaptação rasa e monocórdia de uma trama que propõe temas como luto, culpa, perdão e espiritualidade.
Acompanhamos Mack, um pai devastado pelo assassinato de sua filha caçula. Ele recebe uma carta supostamente escrita por Deus o convidando para um encontro no lugar onde sua filha foi morta: uma cabana na floresta. Lá, ao se deparar com a materialização da Santíssima Trindade, Mack trilha uma jornada de confronto com seus demônios internos, questionando seus conceitos de Deus e de sua própria existência.
O principal problema do longa é ter um roteiro que jamais se aprofunda em seus questionamentos: "Por que inocentes são mortos?", "Por que Deus permite que coisas cruéis aconteçam?", "Onde está Deus nos momentos em que mais precisamos?", "Existe justiça no mundo?", "Por que estamos aqui?". As respostas se resumem a diálogos ruins e frases de efeito, sobre como o amor é suficiente e maior que tudo.
A direção peca ao desperdiçar momentos-ápice, cenas que poderiam ter força ou impacto, como quando Mack entra na cabana e descobre que sua filha está morta ou seu primeiro encontro com Deus, simplesmente passam. O diretor não consegue também extrair mais do que o óbvio de seu protagonista. Onde está a dor latente de um pai que perdeu sua filha em um crime brutal? Onde está a frustração, confusão e ódio ao estar de frente ao Deus que permitiu que aquilo acontecesse? Fica a sensação de que nada o atravessa. Já Octavia Spencer, a que se sai melhor do elenco, traz uma vivacidade, humor e calor maternal que dão frescor ao personagem, mesmo que sejam coisas muito próprias da atriz.
A Cabana infelizmente não vai além do mamão com açúcar, com suas lágrimas de crocodilo e sua teologia florida, embora, claro, não seja impossível que emocione por tratar de algo tão subjetivo quanto a fé.
Um Limite Entre Nós
3.8 1,1K Assista AgoraCercas são erguidas para demarcar espaços, afirmar posses ou estabelecer limites. Tudo aqui se trata de como o protagonista constrói suas cercas.
Troy Maxson é um homem que trabalha na coleta de lixo na Pittsburgh dos anos 60, ressentido com a vida, que fez com que seus sonhos fossem sendo drenados pelo tempo. Temos um papel realista do pai e marido provedor cuja noção de amor se resume a dar o sustento e colocar os filhos no caminho que aprendeu ser certo. Denzel Washington consegue imprimir as diversas facetas e agruras do personagem. Se nos identificamos com o homem que relembra uma infância de abusos, que o forçou a bater de frente com a vida e crescer, é também fácil reprovar seu comportamento autoritário e machista. Mas o que não se pode negar é que Troy é reflexo da época, uma construção do meio. Ele vê nos filhos a oportunidade de corrigir os erros de seu passado, e se enxergar vivendo através deles uma vida oposta àquela. Viola Davis tem um domínio descomunal de sua personagem, conhecendo cada centímetro do interior dessa mulher. Sua Rose é o retrato da resignação, a mulher que abdica de tudo para estar ao lado de seu homem, e abre mão de desejos e sonhos em função de ser mãe e esposa. A cena de seu breakdown, em que ela rebate todas as frustrações do marido com as suas próprias é visceral.
A alma do filme está no texto magnífico de August Wilson, que destrincha as relações humanas de uma forma impressionante, deixando nas falas de seus personagens um amargo intrincado de feridas expostas. É um filme textocêntrico e, em alguns momentos, verborrágico. Falta respiro para que absorvamos tudo o que foi dito. Os silêncios que poderiam revelar muito mais são quase inexistentes.Tudo é falado.
A natureza teatral do longa não me incomoda, fica a sensação de estar assistindo a algo de outro tempo. A marcação é muito bem feita e preenche o espaço, mesmo que consigamos visualizar que tudo foi marcado, como numa cena teatral. Infelizmente, isso acaba nos privando de uma experiência mais profunda enquanto cinema. A força está no texto e nas atuações. E o elenco, íntimo de seus personagens desde o palco, saboreia o texto e entrega toda a complexidade pedida.
As cercas (ou limite, rs) do título estão nas mágoas e medos que vão sendo erguidos ao longo da vida, frutos de traumas e intolerância. O que permanece no espectador ao fim da projeção é a necessidade de digerir tudo e o autoquestionamento sobre família e relações pessoais.
Como transpor as próprias cercas?
Logan
4.3 2,6K Assista AgoraO íntimo da alma do Wolverine é esmiuçado no filme mais ousado e adulto da franquia.
Bryan Singer, em seus longas, nos mostrou o herói de instinto bestial que, colocado à frente dos X-Men, protege seu grupo ao mesmo tempo em que busca suas origens. Aqui, temos apenas Logan, em sua forma mais honesta e humana, consciente de quem se tornou e tendo que lidar com seus demônios mais obscuros.
É 2029, os mutantes estão extintos e Logan tem que trabalhar como chofer para pagar os remédios de seu mestre Charles Xavier, que enfrenta algum tipo de doença neurológica degenerativa. A cena inicial já dita as regras do que vem a seguir: muito gore e violência. E é exatamente por não estar preso à classificação indicativa ou a um público, que James Mangold tem total liberdade para expor o extremo tanto da natureza animalesca do homem com garras, quanto de seu espírito inquieto.
Hugh Jackman, que se despede do papel depois de 17 anos, reitera ser a encarnação do personagem, indissociável deste. Ele entrega uma atuação muito mais psicológica, carregada de nuances; um Logan velho, cheio de culpa e perdido em sua eternidade. Patrick Stewart já não traz um Professor Xavier modelo de sobriedade e intelecto, mas um homem que, no fim da vida, não está mais preso a nenhum padrão e tem uma sede absurda de viver.
Quando entra em cena a garotinha mutante X-23, o conflito toma forma. Dafne Keen é misteriosa e consegue imprimir toda a revolta instintiva e a inocência da menina feita em laboratório para ser usada como arma. De repente, passamos a acompanhar um road movie árido e denso, repleto de sequências memoráveis. As cenas de ação são dirigidas com maestria, nada é gratuito, nem mesmo a violência demasiadamente gráfica. A ação é intercalada com momentos que nos permitem parar para entender a complexidade dos personagens e suas relações entre si.
É gratificante ter um roteiro que se preocupa em aprofundar essas relações, as colocando em primeiro plano. Se Logan tenta se afastar de um possível laço emocional com sua recém-descoberta filha, é em Xavier que ele ainda vê um sentido para estar vivo. Os dois tem uma troca muito natural e profunda, fruto de um passado que os une, visível nas marcas em seus corpos.
O universo que nos é apresentado coloca os já extintos X-Men nas páginas dos quadrinhos. E assim o filme insere a história na nossa realidade, fazendo com que nos espelhemos na criança que idealiza heróis e aventuras, quando tudo no mundo em volta é grotesco. O legal da experiência de assistir ao filme é que ele reserva muitas surpresas que foram totalmente escondidas dos trailers. A sensação de que tudo pode acontecer é pungente, os personagens não estão protegidos por serem protagonistas. Tudo é fragilidade em ser humano.
Logan durante toda sua duração tem um sabor de encerramento. E isso torna a experiência muito mais emocional e grandiosa. É o filme definitivo para os fãs do Homem de Adamantium, que o acompanharam e tanto esperavam por um longa solo à sua altura. É amargo, visceral e também sensível ao expor as cicatrizes de um homem, na selvageria de sua mutação, encontrando sua humanidade.
Fogo no Mar
3.2 69 Assista Agora"Como se acostumar a ver crianças mortas, mulheres grávidas, mulheres que deram à luz durante naufrágios, cordões umbilicais ainda ligados? Você os coloca em sacos, nos caixões, tem que tirar amostras, precisa cortar um dedo ou uma costela, tem de cortar a orelha de uma criança. Mesmo depois da morte, mais este ultraje. Mas tem de ser feito, então eu faço. Tudo isso dá tanta raiva, deixa um vazio no estômago, um buraco. Faz você pensar, sonhar com eles. São pesadelos que revivo sempre... sempre."
Fogo no Mar não é só mais um documentário expositivo sobre os infortúnios dos imigrantes da África e Oriente Médio refugiados na Europa, mas um retrato de realidades distintas, e como elas se cruzam. Acompanhamos o cotidiano de alguns habitantes da pequena ilha italiana de Lampedusa. Samuelle, garoto de 12 anos com problemas de vista, atentamente escuta a avó falar sobre a guerra e as bombas que faziam o mar incendiar. Uma mulher escuta no rádio, enquanto prepara o almoço, o número de pessoas que morreram tentando chegar à ilha. Um médico tenta se comunicar com uma sobrevivente durante um exame de ultrassonografia. Tudo isso se alterna aos dramáticos resgates no mar. Olhares por toda parte. Dor, medo, luto, esperança, desespero... Mortos em sacos pretos chegando a bordo. Uma lágrima de sangue escorrendo. O porão de uma balsa abarrotado de corpos espalhados, jazendo sem vida.
A câmera de Rosi nos transforma em testemunhas das cenas. Não é preciso depoimentos ou estatísticas, a força está nas imagens.
Fogo no mar é cinematográfico em seu documentar a realidade. A sensibilidade da fotografia captura momentos com uma estética primorosa. Aqui, não se conversa com a câmera. Tudo é capturado quase como num filme ficcional, e embalado por uma passional trilha italiana.
É interessante como o diretor contrasta o cotidiano bucólico dos habitantes da ilha com as situações extremas vividas pelos refugiados no mar. O cerne do documentário está exatamente nesse contraponto entre existências. O olhar de Samuelle para o mar e a tormenta que ele traz de longe.
Moonlight: Sob a Luz do Luar
4.1 2,4K Assista Agora"You're my only and I'm your only"
A certa altura do filme, entorpecida pelas drogas, a mãe do protagonista diz isso ao filho. Essa fala traduz muito bem a pungente sensação de solidão que Moonlight evoca. Chiron é todo silêncio, e por assim ser, é também grito. Seu olhar não se cala durante todo o filme. E é esse mesmo olhar a principal conexão entre as três fases de sua vida que são retratadas. Os três atores conseguem alcançar tal unidade nas interpretações, que conseguimos ver o mesmo Chiron do ínicio sendo moldado pelo tempo e pelo meio e se tornando homem.
Todo esse elo entre força e sutileza se deve principalmente à brilhante direção de Barry Jenkins, que consegue capturar momentos e dá-los profundo significado. Sua poesia jamais é pretensiosa, mas muito conveniente e realista. Os silêncios são usados com tamanha maestria que ele consegue deixar cenas inteiras em suspenso, colocando o espectador em estado de quase apneia.
A descoberta da sexualidade é inerente ao processo de autoconhecimento humano. O roteiro consegue expor toda a confusão, medo e curiosidade desse algo que Chiron não entende, mas que o acompanha, sendo palpável inclusive pros outros. A primeira experiência sexual é epifânica, em uma cena memoravelmente linda, que reflete o enorme talento de Jenkins.
Naomi Harris entrega uma mãe perdida em si mesma, dominada pelo vício e que não sabe como dar amor ao filho. Sua figura é essencial para a construção da personalidade de Chiron. Assim como Juan, interpretado por Mahershala Ali, que é quase uma personificação de quem o menino vem a se tornar.
Moonlight é uma prosa sobre a vida, e como somos construídos aos poucos pelas situações que vivenciamos e pelas pessoas que passam. Nossa história é uma linha (ou novelo) com ramificações e cruzamentos, que jamais deixa de tomar forma.
Lion: Uma Jornada para Casa
4.3 1,9K Assista AgoraQue bagunça! Tive a sensação que assisti a dois filmes distintos, o primeiro bom e o segundo um desastre total. Não há unidade entre as duas partes.
No primeiro ato, o diretor consegue trazer pra tela todo o tumulto e vastidão do país, assim nos fazendo ter noção do quão perdida aquela criança está. A tensão é muito bem construída e o senso de ameaça é iminente, Garth Davis te insere em um mundo onde tudo é hostil e não se deve confiar em ninguém. Os silêncios são muito bem utilizados e intensificam as sensações, como quando Saroo acorda e se vê sozinho na estação. Objetos e caminhos que servirão para auxiliar o protagonista na segunda parte são sutilmente evidenciados. A relação com a mãe e o irmão é explorada de forma sensível, e conseguimos sentir o drama da perda.
De repente, tudo muda radicalmente, uma direção promissora desanda em momentos que vão do simplório ao risível. Saroo cresce e o roteiro nos apresenta um jovem que parece amar a vida que leva e quem se tornou, inclusive torcendo para os australianos uhuu! Não me pareceu que a dor o acompanha desde sempre. É quase como se tudo viesse a tona quando ele come uma comida indiana que o faz lembrar da infância.
O roteiro falha miseravelmente ao optar seguir a relação pífia de Saroo com a personagem da Rooney Mara (que é totalmente descartável), ao invés da relação dele com a família. Um irmão nos é apresentado junto com um possível conflito, mas acaba por aí. A mãe chega a falar o quanto Saroo se importa e cuida do irmão. Mas a relação dos dois se resume a essa fala, quando poderia ter sido mostrado, desenvolvido.
A Nicole é a que mais se esforça, merecendo a indicação. Uma pena o roteiro não dar espaço para que a relação dela com o filho se desenvolva.
Dev Patel não me parece atormentado. Os flashbacks em excesso para mim não são lembranças, mas cenas aleatórias jogadas. O diretor nos manipula para que nos emocionemos, não conseguindo chegar perto de criar a atmosfera tão bem construída da primeira parte. O reencontro não chega a ter peso. E explicação do porquê do título me fez rir.
No fim, chego a conclusão de que De Volta Pra Minha Terra do Gugu conseguia me emocionar muito mais.
Estrelas Além do Tempo
4.3 1,5K Assista AgoraHistória importante que precisava ser conhecida. E o filme ter um apelo popular mt forte colabora pra que essa história chegue até as pessoas. Mas ao mesmo tempo em que é acessível, é também raso. Não se aprofunda em nada. Utiliza o humor, o que te aproxima das personagens; mas ao mesmo tempo usa e abusa deste mesmo humor, em momentos que poderiam ser mais sérios, fazendo com que o peso de algumas cenas se perda.
A Katherine precisar caminhar apertada quase 1km pra usar o banheiro é tratado como algo hilário (evidenciado pela trilha sonora), em todas as vezes que essa situação se apresenta. Tirando a força da cena ápice da personagem, que desabafa sobre os absurdos que passa quando é confrontada por seu chefe. O diretor não te prepara emocionalmente pra essa cena, logo antes estávamos rindo disso.
As personagens, que segundo a premissa são o centro da história, têm espaços muito diferentes dentro do filme. A Katherine é claramente a protagonista, enquanto as personagens Mary Jackson e Dorothy são bem coadjuvante, tendo essa última um espaço mínimo (fiquei me questionando sobre a indicação da Octavia Spencer). Mesmo com esse desequilíbrio entre as três no roteiro, as atrizes têm um entrosamento muito bom, e a Taraji P. Henson está sensacional, com uma força e presença incríveis. A cena em que ela recebe o desenho da filha e a forma como ela reaje, me deixou encantado.
Até a questão da segregação racial, embora seja mt bem retratada em cenas como a da biblioteca ou do ônibus, perde sua força. Não me revolta ou mexe comigo como em Selma, por exemplo, embora se passe exatamente no mesmo contexto. Tudo devido ao tom do filme e à direção.
É uma história poderosa que merecia uma abordagem melhor, mas que tem o seu valor por trazer à superfície essas figuras escondidas tão geniais, numa época em que tanto batemos na tecla de que representatividade importa.
Jackie
3.4 739 Assista AgoraA trilha arrebatadora e quase macabra, a fotografia evocando um outro tempo, a melancolia dos planos, tudo me fez imergir na atmosfera do filme. Inebriante! A Natalie consegue trazer todas as máscaras sociais e facetas da Kennedy. Uma mulher que era várias em uma só. Mas, principalmente, a Natalie é o reflexo da tristeza e do trauma. Tudo no olhar perdido, no corpo cambaleante, na voz... Só aceito Isabelle perdendo se for pra ela. Um filme extremamente atmosférico.
Mogli: O Menino Lobo
3.8 1,0K Assista AgoraVisual estonteante, destaque para a reprodução dos lobos. Mas há uma dificuldade clara em achar o tom, indo do bobo e infantil ao cruelmente violento, ou ficando em cima do muro sobre ser um musical ou não. Vale pelo visual e pela nostalgia.
P.S.: A cena da cobra é a melhor! Scarlett, me pica.
A Mão que Balança o Berço
3.7 898 Assista AgoraNão consegui não torcer pela Peyton.
O Convite
3.3 1,1Ke a Claire?
Além da Ilusão
2.3 91 Assista AgoraPremissa desperdiçadíssima.
A Grande Aposta
3.7 1,3KIncrível como o diretor consegue fazer um filme acerca de um tema difícilimo ser tão divertido. Porém, mesmo com os conceitos que o filme te dá e tudo mais, por ser totalmente leigo em economia me vi bem perdido em determinados momentos. Espero ver de novo em breve.
Ah, e Steve Carell tem meu coração.
Mate-me Por Favor
3.0 231 Assista AgoraMate-me Por Favor não é um filme fácil. É como se apertasse seu pescoço, e depois soltasse, só pra depois voltar a apertar, sem nunca te deixar morrer. Um filme de atmosfera, que causa estranheza e ao mesmo tempo empatia, mexe com o psicológico e te leva a diferentes lugares. O roteiro é repleto de camadas, com ótimas referências, principalmente ao cinema de Lynch. A direção é extremamente precisa, consciente do que quer provocar ao expectador. Depois que acaba, necessita ser digerido, pensado. O cinema nacional em seu melhor.
Aquarius
4.2 1,9K Assista AgoraSonia está a todo momento hipnotizante!
Febre do Rato
4.0 657"Olhe que cachaça e rapariga também é poesia"
Huckabees - A Vida é uma Comédia
3.4 120Esse vídeo é só uma amostra de como o O. Russel é escroto
https://www.youtube.com/watch?v=7SG43wa7Alo
A Idade da Terra
3.6 52 Assista AgoraO novo boa-noite-cinderela. Na festa, a pessoa te mostra pelo celular um trecho desse filme, você apaga na hora.
Haha, brincadeiras à parte. Não consegui captar a essência do que o Glauber quis passar, achei indigesto demais, enfastiante, exageradamente metafórico. É possível sentir e ver uma teatralidade belíssima nas obras do Glauber, mesmo na trama séria de Terra em Transe, e na crítica social de Deus e o Diabo, mas nesse parece tudo muito jogado - claro que dá pra ver que é um filme puramente artístico -, o problema é exatamente conseguir sentir. Espero talvez um dia assistir com outros olhos e conseguir captar essa essência, apreciando enfim.
Virunga
4.5 71 Assista Agora"O país foi vendido"
Quem dera os seres humanos tivessem mesmo a pureza dos primatas.
Salve-me
2.4 6Pensava ia assistir um filme a lá Instinto Selvagem, acabei vendo um Cinquenta Tons de Cinza não-gourmet.
Inimigos Públicos
3.6 1,1K Assista AgoraSó eu achei aquela cena final extremamente constrangedora?
"Bye bye, blackbird!"
Sério mesmo que ele foi até lá só pra dizer isso?
Um Bom Ano
3.5 328 Assista AgoraPara terminar com um sorrisão no rosto.
Marion, só me apaixono mais <3
Macbeth: Ambição e Guerra
3.5 382 Assista AgoraBrasil e seus subtítulos ridículos.
Mad Max: Estrada da Fúria
4.2 4,7K Assista AgoraEsse é pra testemunhar!