"Iluminação" é a jornada de um cientista sofrendo dos mais urgentes dilemas e angústias que assolam o homem racional. É inédito em seus temas, já que nunca vi uma exploração psicológica tão substancial de um homem da Ciência (de homens de Fé, tem um monte e também costumam ser interessantes), e na sua forma, com um ritmo maluco guiado por uma montagem frenética que opta por cortar arestas e cair de cabeça no cerne da coisa, chegando até a confundir o espectador com o tanto de informação que lhe é transmitida: anos e anos de uma vida, condensados em noventa minutos.
A busca inicial por respostas racionais e finais a tudo que se vê e que se sente, a exploração da biologia, da psicologia e da espiritualidade do Homem como contraponto ao positivismo e à pomposidade acadêmica, a ansiedade causada pela insatisfação das respostas disponíveis e a aceitação de nossa real ignorância. A agoniante necessidade de fazer tudo, conquistar tudo antes dos trinta anos, afinal, as melhores ideias surgem cedo, os ganhadores do Nobel o ganham jovem. O peso do conhecimento do mundo e a busca pela sabedoria de usá-lo corretamente. O que é usá-lo corretamente?
Há diferentes questionamentos propostos aqui, todos igualmente interessantes, alguns que eu, nos meus anos de estudo da Química, tive que lidar pessoalmente. E tudo envolto em uma aula de como fazer cinema (a cena de passagem do tempo por meio de infográficos sobre gravidez é INCRÍVEL). Filme verdadeiramente formidável.
O arco narrativo de Bobby é bem bizarro (do nada, um gerente de bar no programa de proteção a testemunhas se torna um policial, quê? parece que cortaram uns 30 minutos do filme entre esses dois eventos), mas seu arco, digamos, "psicológico", é sensacional: sentimos as emoções que dirigem o personagem em todas as suas escolhas, a indignação pela impunidade, a raiva pela traição, a determinação pela vingança, o amor e o ressentimento que ele tem por suas duas famílias, tanto a real como a escolhida.
Sinto, porém, que alguns temas foram explorados bem superficialmente: as causas do desgaste entre Bobby e a família, a traição sofrida pelo Bobby, seu relacionamento com a Amada, como se deu a aproximação com os russos, etc etc etc... e o título também me incomoda, "Os Donos da Noite" soa como um filme policial noir, com detetives fodões que realmente aterrorizam a cidade, seja os bandidos ou os inocentes, tal qual Denzel Washington em "Dia de Treinamento", e depois daquela abertura, realmente parecia que seria algo do tipo e sei lá, ver o Mark Wahlberg com cara de bonzinho como o "dono da noite" realmente me frustrou rs
Tratando-se do tema que trata, não tem muito a dizer para mim e não me é muito marcante, mas é um filme policial bastante sólido, alçado a "joia cult" pelo trabalho de direção e fotografia e pela atuação excelente do Joaquin Phoenix (como é sempre de se esperar vindo dele).
Momentos marcantes: - A abertura, fotos antigas da polícia de NY em preto e branco, com um jazz tocando ao fundo, seguido da Eva Mendes de lingerie ao som de "Heart of Glass", que coisa linda: cliquei pra ver o filme eram três da manhã, morrendo de sono e desinteressado, mas essa cena inicial me segurou e me fez ficar até o fim. - A perseguição de carro, maravilhosa, mesmo, a atmosfera lembra muito aquela cena aclamada de "The French Connection" e a direção do Gray claramente homenageia seu predecessor, botando um trilho de trem ao lado da estrada e a câmera para trabalhar de dentro do carro, só que na chuva e com um final muito mais impactante, foda!
Você não está sozinho. As pessoas que te amam tentarão te ajudar, da maneira que puderem. Elas explorarão profundas escuridões, lugares gélidos e inóspitos ao seu lado, botando suas próprias vidas em risco para ajudar a salvar a sua. Mas, no final, isso não é o suficiente. Você deverá seguir seu próprio rumo, mesmo que, para isso, você deixe uma estrada limpa e clara para entrar novamente em uma floresta densa e incômoda, como Will ao final do filme (uma das melhores metáforas visuais no cinema nesses últimos tempos). E seria cruel pedir às pessoas que você ama para que te acompanhem mais uma floresta adentro. O máximo que elas podem fazer é deixar uma sacola com comidas e suprimentos e torcer para que você volte para buscá-las. Vencendo ou perdendo, algumas batalhas, nós precisamos disputar sozinhos.
Leave No Trace é o irmão gêmeo de Manchester by the Sea, nesse sentido: sem respostas óbvias e simples para a depressão, tratando-a com um pessimismo real e perfurante.
"Are you a vampire, werewolf, witch, zombie, or alien?"
Usa o sobrenatural como desculpa para discutir sobre o amor, as dificuldades, os sacrifícios e as recompensas que a vida com o outro trazem. Também acho muito válidas as observações sobre ciência e metafísica. Amo demais a naturalidade nos diálogos e nas atuações. Os cenários são de tirar o fôlego, deve ser a praia mais bela que já vi. Não me canso desse filme.
O filme bambeia um pouco na hora de explicar o que está acontecendo. Toda a sutileza que o permeia na maior parte do tempo é deixada de lado por cinco minutos para que possamos entender sobre a anatomia de Louise. O bom é que, logo na sequência, a viagem deles a Nápoles se inicia e eu sou simplesmente apaixonado por tudo que vem depois disso: "Some pizza and a bottle of wine with the right person - that can make the shittiest day better."
Quem diria que, depois de tantas tentativas em filmes pipocas, a maioria de adaptações de livros infanto-juvenis ou de diretores bem mais consagrados (cof cof "A Forma da Água" cof cof), o romance sobrenatural definitivo sairia da cena independente, das mãos de uma dupla de amigos cínicos que faz vídeos pro youtube e redefine filmes de gênero nas horas vagas.
Momentos marcantes: - As cenas com os britânicos no início do filme é o que Eli Roth tentou fazer em "O Albergue", mas falhou miseravelmente: um alívio cômico para introduzir a história; - A primeira conversa, no balcão do bar, entre Evan e Louise; - A ida ao banheiro de Louise na primeira cena no apartamento dela; - A conversa na praia; - Os pobres coelhos; - O "término"; - A revelação do segredo; - Os últimos vinte minutos; - O filme todo, basicamente..
São poucos os que conseguem filmar uma pequena cidade rural do interior dos EUA tão bem quanto a dupla DDG e Tim Orr. Talvez Jeff Nichols em "Mud" e "Shotgun Stories", não sei.
Certos elementos - um vilão caricato, um tesouro amaldiçoado, jovens órfãos, uma longa jornada - dão ao filme um ar fantasioso, quase de fábula, tornando comparações com "O Mensageiro do Diabo" praticamente inevitáveis. A diferença entre os dois filmes é clara, no entanto: a construção da ameaça. A primeira metade do clássico de Charles Laughton é mil vezes mais eficiente e tem, na atuação de Robert Mitchum, um vilão muito mais carismático e aterrorizante, o que justifica - E MUITO - a fuga das crianças, já que ninguém da cidade acreditaria na crueldade de Harry Powell. Em "Undertow", essa fuga é bem menos convincente, pois claramente ninguém culparia os irmãos pelo ocorrido: destruir uma vidraça não é o mesmo que matar o pai, Chris, fique tranquilo. Além disso, falta algo a Josh Lucas que, embora interprete bem o lado "vilanesco" de seu personagem, fica devendo na construção de sua personalidade, na apresentação das mágoas passadas com o irmão e tudo o mais, o que o torna um pouco raso demais.
À exceção de pouquíssimas sequências, como a dos meninos tomando um banho de chuva ou a da refeição com o casal de fazendeiros, a trama se mantém sempre carregada de tensão, com alguns momentos de brutalidade - muito bem construídos, aliás - dispersos aqui e ali. Até mesmo quando Chris aparenta ter encontrado uma garota com quem conversar, o que prometia trazer um pouco de tranquilidade ao filme, o roteiro logo insere alguns ingredientes que nos fazem questionar a integridade da garota e elevar a tensão novamente. Acho que isso prejudicou um pouco a experiência, pois o filme não soube dosar tanto as emoções, mas talvez seja um gosto pessoal, já que eu esperava mais por um drama "coming-of-age" do que por um thriller comedido.
Também não sei o que pensar de algumas escolhas artísticas do DGG aqui: em alguns momentos, como nos créditos iniciais, fica legal e enriquece a experiência, já em outras parece um capricho vago e sem motivo. Mas, ok, acho válido querer experimentar e brincar com o meio.
Cismei, sem motivo algum, que o Jamie Bell tá parecendo muito uma jovem Sigourney Weaver na capa do filme.
Momentos marcantes: - A história de John sobre o barqueiro do inferno; - Os créditos iniciais são excelentes! Apresenta o protagonista, o cenário e o estilo do diretor, tudo isso em apenas dois minutos e enquanto passa um monte de nomes na tela; - O que o balão verde, enchido por um Chris com um furo no pé no início do filme e estourado por seu irmão na cena final, pode representar?; - A cena no ferro-velho é muito boa, assim como toda a sequência com o casal de fazendeiros; - Pare de comer tinta, menino.
Continuação velada de "Resolution", "The Endless" é um filme que se utiliza do mesmo universo, porém abandona um pouco a metalinguagem do primeiro filme em prol de uma tentativa de metáfora a respeito da rotina diária e do significado de livre arbítrio.
Esse é um filme muito mais ambicioso que seu antecessor. É notável a evolução da dupla Benson/Moorhead, muito mais confortáveis por detrás das câmeras, algumas sequências são realmente impressionantes, apesar do baixo orçamento. No entanto, falta o charme, o sarcasmo do primeiro, sem contar que tenta explicar muito as regras daquele universo, o que não me agradou. Novamente, o roteiro opta por abordar muitos temas de uma só vez (o culto, a relação familiar e toda a questão sci-fi/filosófica que o guia), mas o desenvolvimento de todos esses aspectos fica aquém daquele em "Resolution".
Em certo momento, Aaron diz querer continuar no culto pela lógica do "mais vale um pássaro na mão do que dois voando": se for para passar a vida preso a uma rotina, que seja aquela em que eu não tenha que comer miojo diariamente. Mas confesso que não senti tanto o motivo de sua aversão pela "vida real" e nem o motivo do seu amor repentino pela vida dentro do culto. Quando Justin, então, diz que a decisão seria dele, ele muda de ideia e resolve voltar, indicando que sua vontade não era permanecer no culto, mas ser ouvido pelo irmão, ser respeitado o suficiente para tomar suas próprias decisões. Irmão que, como diz o integrante do culto, ama esse papel de liderança, agindo tal qual o monstro na vida de Aaron. OK, acho que entendi, mas não consegui comprar a ideia de que alguém se sujeitaria a passar a eternidade em um ciclo sem fim apenas por uma birra de família.
Requer uma revisitada, pois não acho que absorvi tudo que poderia.
- As cenas do ciclo de cinco segundos são fantásticas - tanto a com o Justin quanto a com o Aaron; - Amo o final, com os membros do grupo olhando, com uma expressão satisfeita, a partida dos irmãos, seguido por aquele diálogo sobre o tanque de gasolina; - As cenas com Chris e Mike; - O suicídio do Shitty Carl: "Goddammit!"; - "Tá vendo aquela lua que brilha lá no céu? Se você me pedir, eu vou buscar só pra te dar" - O monstro curte Exaltassamba.
"When Adlai Stevenson was running for president, a woman came up to him on a rally one night and said, 'Every thinking person will be voting for you.' And Stevenson said, 'Ma'am, that's not enough. I need a majority.'"
O filme tem um sério problema de tom: tenta misturar críticas sérias e contundentes com cenas ridículas de caráter cômico, joguinhos mentais e mais um monte de coisa. E, quando tenta ser uma sátira, não consegue escolher o que realmente ele quer criticar e, assim, resolve apenas sair proferindo montes e montes de citações aleatórias, o que chega a ser irônico, já que as melhores sacadas do roteiro de Peter Straughan são frases escritas por outras pessoas rs
Também é aquele tipo de filme que ama descrever seus personagens nos diálogos, ao invés de desenvolver esses traços de personalidade através de suas atitudes. A personagem da Zoe Kazan não faz o menor sentido na trama, surge do nada, apresentada de maneira grandiosa, com pompa de "Lisbeth Salander", mas não chega nem perto de ser realmente importante em alguma coisa. Nell é citada como uma mãezona que finge ser santa e esconde um lado mais agressivo, mas também não a vemos agir assim durante o filme. Jane se diz traumatizada por experiências anteriores, mas suas escolhas e ações no trabalho não refletem isso, sempre fazendo antes e pensando nas consequências (para um país inteiro) depois. Pat é um "vilão" pelo bel-prazer de ser vilão, parece que foi escrito assim só para que Billy Thornton pudesse fazer umas caretas sarcásticas.
A "política do medo" é a coisa mais interessante e rende uma reflexão a respeito dos tão amados políticos linha-dura aqui na América do Sul. Mas nem é uma reflexão tão bem proposta assim, o filme mal toca nisso, somos nós, mais que o filme, que, com a mentalidade brasileira sobre as engrenagens da política, conseguimos ir além e traçar paralelos.
Momentos marcantes: - A morte da lhama: "It's like he killed himself rather than be in our commercial." - Rivera citando Goebbels no debate; - Racha de ônibus políticos: tão estúpido que não sabia se revirava os olhos ou se entrava na onda e ria; - Jane bêbada montando catapultas de lençol e sutiã com os amigos de Eddie; - A jornada de Eddie, de jovem idealizador a quase um líder de oposição, é uma forte alegoria: suas ações na cena final são justificadas nas quase duas horas anteriores... já as de Jane não.
"I don't have anyone either. Who do I have? When you choose this life, there is no one. It's only you. Every man for himself. And let me tell you something: when you're sitting there, wherever you are, in a dark room, suffering with the pain, guess what? There's still no one. No one answering the phone. No one responding to the letters you send. You're invisible. We're invisible."
Existe uma série/reality show do Comedy Central chamada "Nathan for You". No último episódio de sua quarta temporada, "Finding Frances", o apresentador, impulsionado pela insistência de um sósia do Bill Gates, resolve ir em busca de uma antiga ex-namorada do tal sósia, descrita por ele como "seu amor perdido". Contudo, o episódio - e Nathan - é brilhante ao ir desvendando a realidade dos acontecimentos, descobrindo que ela não casava perfeitamente com o romancismo floreado do velho sósia e, com isso, traça um perfil sensacional a respeito de um homem que, em uma fase crucial de sua vida, na qual se vê entediado e sozinho, apega-se ao passado e tenta reimaginar sua história. É, realmente, um documentário fantástico escondido sob o pretexto de ser um episódio qualquer de TV e vale muito ser visto.
Mas o que isso tem a ver com o filme em questão? Bom, em "Manglehorn", me deparei com uma situação bastante similar. O personagem de Al Pacino insiste e insiste que Clara foi a mulher de sua vida, aquela que simultaneamente fazia o tempo parar e correr duas vezes mais rápido, aquela que "sempre tinha algo interessante a dizer". E eu não conseguia tirar da cabeça: "é o sósia do Bill Gates todinho".
Pois bem, quando nos vemos presos em um presente sufocante, nos aterrorizamos e procuramos tentar fugir olhando para o passado. Mas o passado das nossas lembranças nunca é o verdadeiro. É uma nostalgia falsa, de algo que nunca existiu. A verdade é que éramos iguaizinhos nesse tempo que passou ao que somos hoje e, assim, só nos resta fazer o melhor que pudermos com aquilo que temos.
Angelo lembra muito a mim, uma pessoa cínica, irritável, que diz preferir seu gato - ou cachorro - às pessoas. Mas, mesmo assim, contrariando sua personalidade, ele puxa papo com a balconista do banco, busca por seu filho, leva sua neta ao parque porque, por mais enervante que pessoas como a Dawn sejam, ele sabe que elas estão certas: a vida é melhor quando há "substância" humana.
Só não consigo entender porque o gato do pôster não é o mesmo gato do filme haha
- Manglehorn tapando os ouvidos na cama para não ouvir o alarme e não precisar levantar; - Manglehorn e sua neta no parque, vendo mímicos e conversando sobre o vento; - Toda vez que a Holly Hunter aparecia, em especial no festival de panquecas; - A história do Gary sobre seu técnico: "(...) fire goes right out and he takes his hand up and there's a flame shooting up from his palm and he just looks me in the eyes and goes 'Puff, happy birthday'"; - A conversa entre pai e filho; - O barco cheio de lembranças; ... ... - A cena final com o mímico. A cena final com o mímico é MÁGICA, é cinema em seu auge, é tudo que há de bom! Finalmente, você achou a chave de que tanto precisava, Angelo.
"- How are you going to make me love you? - If your vagina is anything like my hand, there will be no problem."
Até passei um pano para "The Sitter", mas que porra é esse filme? O conceito de "comédia" aqui é proferir palavrões e trocadilhos de cunho sexual em meio a diálogos sérios e rebuscados. Eu amo humor sujo e escrachado, não é esse o problema, mas isso não é desculpa para produzirem um filme tão patético e imbecil como esse. Adoraria ter passado minha vida sem ver o Toby Jones como um vilão eunuco sendo carregado pelado nos ombros do James Franco.
O rei-bebê e o "souvenir genital" do minotauro me tiraram umas risadinhas de descrença. Courtney é um coadjuvante simpático e a Natalie Portman, incrivelmente, leva essa bagunça a sério. Fora isso, é uma bomba indescritível, com uma história ilógica em que nada faz sentido e o senso de humor comparável ao dos seus amigos da quinta série.
O filme trabalha em três frentes: a do drama, tratando de uma longa amizade testada pelo vício em drogas; a do terror, envolvendo as “mensagens” deixadas por um stalker misterioso; e a metalinguística, que resolve entrar na história mais diretamente apenas no terceiro ato. E, na minha opinião, é extremamente bem-sucedido em todas elas.
O que falta em orçamento e glamour sobra em criatividade. O que parecia ser um bom filme de terror se torna um excelente ensaio psicológico sobre expectativas, um pouco aos moldes de “O Segredo da Cabana". Já no final, durante alguns minutos, o filme se desprende das amarras de uma história lógica e direta e parece estar prestes a se tornar abrupto e incompreensível... até aquela cena final que surge como uma revelação e dá um “clique” no cérebro.
Chupinhando um comentário encontrado internet afora: “reflitam sobre o título e seu possível significado: ‘Resolution’ (conclusão, término). Os personagens principais chegam a uma no final e certamente não é aquela que eu esperava, mas será que a força sobrenatural - ou seja nós, o público - que os ameaça permitirá que aquela resolução aconteça?”
Ao final, ficamos divididos entre querer uma conclusão otimista em que Chris resolve se reabilitar e se reaproximar de seu amigo ou exatamente aquilo que esperávamos desde o começo – uma resolução brutal e sangrenta envolvendo cultos, monstros e estranhos antropólogos franceses. É um embate pessoal entre a empatia criada por Mike e Chris na primeira metade e a sede por algo diferente daquilo que estamos acostumados, por algo que só podemos encontrar nos filmes.
Momentos marcantes: - A cena da garota do hospício na janela da cabana: CREEPY PRA CARALHO!!; - As revelações das mensagens: cada uma trazia consigo pelos arrepiados e um nó na cabeça; - A conversa com o francês e sua obsessão com “começos, meios e fins”; - Quando eles percebem a exposição do filme (aquela luz vermelha que aparece entre alguns cortes) enquanto discutem sobre as "diversas histórias que lhes foram apresentadas"; - A sacada do filme em flertar com várias resoluções (traficantes, indígenas, suicídio do Chris, assombrações, cultos, o vídeo final me fez pensar até em viajantes do futuro), em que nenhuma agrada por completo a “entidade” para ser escolhida no final: tem como não lembrar daquele pandemônio de monstros em “O Segredo da Cabana”? - O final excepcional, em especial o "Can we try it another way?"
“Why is it that every time you start talking you sound like you’re gonna cry?”
A história não importa aqui. Nem mesmo os diálogos, muitas vezes. É aquele tão famoso filme de sensações. Os personagens assombram uma cidade-fantasma, repletos de dúvidas sobre o que a vida lhes reserva, e nós nos perguntamos se eles, um dia, conseguirão deixá-la. E, mesmo assim, em nenhum momento a cidade é desenhada de modo sombrio e decadente, mas retratada como um lugar autêntico e modesto, um pouco perdido mas deveras romântico, assim como seus habitantes. Eu nunca vi um filme que, simultaneamente, finca os dois pés na realidade... e o resto do corpo num mundo de fantasias.
A companhia perfeita para "A Árvore da Vida". O feito que Green nunca conseguiu (ou mesmo tentou) repetir. A razão da existência do cinema independente. Talvez, a obra-prima estadunidense do século XXI.
Momentos marcantes: - As conversas entre Vernon e Sonya; - O descobrimento do corpo de Buddy; - George e o chapéu de pele de seu tio, o macacão de Buddy e sua capa de herói.
Escolha mais sábia que fiz na vida: esperar sair o torrent pra ver esse filme em casa. Do contrário, eu, com certeza, teria matado um infeliz no cinema por comer pipoca.
Tem dois furos muito graves no roteiro que me incomodaram demais:
1) se era seguro perto de lugares barulhentos, por que eles não se mudaram para algum lugar barulhento ou montaram algum aparato barulhento perto da casa deles? e 2) como os governos descobriram que os monstros tinham uma audição tão sensível e não testaram todas as frequências possíveis para ver se os afetaria? Me parece o caminho lógico a se seguir.
Fora isso e mais alguns jump scares indevidos e uso excessivo de música de fundo em momentos que, para mim, deveriam ser totalmente silenciosos, é tudo tão lapidado, tão redondinho que não tem como não passar os noventa minutos congelado de ansiedade na frente da televisão.
Não, John Krasinski, obviamente, não é o inventor do filme de terror que se aprofunda nos personagens para construir laços emocionais com o espectador, mas que ele - junto com os roteiristas - usou essa fórmula PERFEITAMENTE não dá para negar:
Momentos marcantes: - Tutorial de como fazer uma cena de abertura; - Conversa entre pai e filho à beira do rio: um dos raros momentos em que o filme te deixa respirar um pouco; - Tudo que veio depois daquela pisada no prego; - O nado livre no milho; - E, claro, a morte do Lee.
O conforto religioso é bom enquanto dura. Dos placebos, o melhor. Mas o duro é que, quando seu efeito passa, a dor volta em dobro. E, se o efeito não passa, o resultado é ainda pior: viver em negação pelo resto da vida. Não importa o quanto doa, o luto precisa ser real, o luto é importante. E, quando passa, é mais significativo porque a força para mudar veio de dentro de você.
O filme não é anti-fé, não renega a Deus, mas meramente questiona a religião e suas palavras vazias que, na tentativa de dizer tudo, não dizem nada. Ao começar a ver o filme, não esperava, em nenhum momento, me deparar com essa discussão. Foi uma surpresa grata ver esse aspecto da religião retratado por olhos sul-coreanos.
Gostei do que vi, mas adoraria ter assistido ao filme que me é prometido no primeiro ato: uma mãe e seu filho seguindo suas vidas numa nova cidade, após a perda do marido. Isso já daria uma excelente história, sem precisar de uma tragédia ainda maior para sobrepôr àqueles primeiros quarenta minutos.
Sem contar que eu acho que o Lee Chang-dong pesou um pouco a mão aqui: "Secret Sunshine" tá mais para o Lee de emoções exageradas de "Peppermint Candy" do que o Lee contido e poético de "Poetry" e "Oasis".
Momentos marcantes: - A MELHOR cena entre dois personagens conversando separados por um vidro desde "Paris, Texas": quem Deus pensa que é pra perdoar o assassino antes da própria mãe da vítima?; - A música interrompendo o sermão: "Mentiras... mentiras... MENTIRAS! / O amor é uma mentira / Sorrir é uma mentira (...)" - A sutileza nas transições, como nas cenas pós-sequestro, na morte do menino, na tentativa de suicídio... a história vai sempre se revelando por meio de informações soltas nos diálogos e nas imagens;
O pôster engana, faz o filme parecer muito mais desagradável, ofensivo e condenável do que ele realmente é. Surpreendentemente, o roteiro se preocupa em explorar a história e a personalidade de seus personagens, fazendo a proximidade do Noah com as crianças soar sincera. Não acho que isso é feito com tanto primor assim, mas rende uns poucos momentos adoráveis e uma mensagem bacana de auto-aceitação. Além da conta do que se espera de uma comédia do tipo.
O problema é que o tempo gasto tentando desenvolver a história não corresponde ao tempo gasto explorando as situações potencialmente engraçadas que poderiam surgir dela. Assim, mesmo recorrendo a saídas fáceis do gênero, como mal-entendidos com traficantes, crianças malcriadas e uma eterna imaturidade do personagem principal, as piadas são praticamente inexistentes.
Outra coisa que derruba o filme é que o Jonah Hill não tem carisma pra carregá-lo sozinho. Como figurante? Ótimo. Dividindo protagonismo com Michael Cera, Channing Tatum, Brad Pitt, DiCaprio? Ótimo, também. Agora, sozinho não rola.
O que salva como comédia são alguns momentos brilhantemente ridículos, que flertam com o "tão ruim que fica bom" que eu tanto amo, como
Ele diz que gosta de dormir no lado esquerdo da cama... E DEITA NO LADO DIREITO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! QUÊ?!?!?!?!??!?!?!? Na boa, dá pra levar a sério um filme desses? ksopksposkposkspoksopskposkospksposk
Você só tinha uma função, filme: não reciclar o plot "era tudo invenção de uma mãe superprotetora" de Jimmy Bolha. E, até nisso, você falhou miseravelmente.
Uma estrelinha porque o casal principal é bonito pra caralho e eu sou uma pessoa superficial.
Os conflitos pessoais dos dois personagens principais, especialmente da Erin, elevam demais a qualidade do filme, no início: ambos alçados a papéis aos quais não haviam se candidatado (Erin, a companheira, e Jeff, o herói) e tentando aprender a lidar com isso. Pena que esses conflitos vão se resolvendo com o passar do tempo para dar espaço a um final meloso e meia-bomba, com pitadas daquele tão conhecido patriotismo americano (embora o filme chegue a desafiar um pouco isso em certos momentos).
Sinto que o fato de ser uma história real atrelada a um acontecimento trágico de grandes proporções para os EUA tenha dificultado uma abordagem mais incisiva desses conflitos, já que um final fechadinho e positivo é quase mandatório nesses casos. Ainda assim, o filme consegue fazer uma provocação interessante a respeito de temas como heroísmo e resiliência.
Gosto muito da direção do DGG, também, que consiste basicamente em colar a câmera na cara do Gyllenhaal por longos e longos minutos e deixar o garoto atuar, sempre uma ótima escolha. Brincadeiras à parte, a cena da troca das ataduras é um ótimo exemplo da excelência na direção:
as pernas desfocadas no centro da tela, com os rostos de Jeff e Erin quase fora de quadro, reagindo à situação. Ela não seria nem de perto tão eficaz e angustiante se filmada de qualquer outro jeito.
"Se você quiser, se você se esforçar, se você treinar, se você entrar de cabeça, se você se concentrar, nada garante que você vai conseguir" - Craque Daniel.
"- Ah, the dog likes you. - She has a lot of scars. - Yeah, but all the others... all the others is dead."
Um homem solitário assombrado por seu passado vê, em um jovem também cheio de questões a resolver, sua própria imagem, passando a agir como uma figura paterna para o menino. Até aí, nada que nunca tenhamos visto antes. Mas é o tato que o David Gordon Green tem pra contar essa história que faz o filme. Um filme honesto, "de cara limpa", que divaga por temas como amizade, família e gratidão sem soar brega e que esmiuça os piores sentimentos do homem sem soar moralista.
Tye Sheridan, Nic Cage e Gary Poulter (o falecido ex-mendigo que virou ator por quinze minutos só pra mostrar que tinha mais talento na unha do que muita gente no corpo inteiro) estão realmente muito bem em um filme lamentavelmente pouco reconhecido de um diretor lamentavelmente pouco celebrado.
Momentos marcantes: - Gary e Joe à procura da cachorra (um dos momentos mais leves do filme); - Wade matando por uns trocados e uma garrafa de vinho (novamente, a discrição e naturalidade com que essa cena é filmada só torna tudo mais chocante - méritos pro DGG); - Gary aprendendo a dançar com seu pai bêbado no mato e, depois, dando uma surra no cara que "voou por um pára-brisas às 4h da manhã e tá pouco se fudendo"; - A rinha entre os cachorros (aqui, a força da cena reside no que não é mostrado - um cachorro em cima de uma poça de sangue já foi o bastante para embrulhar o estômago).
O início do filme, que acompanha um homem transtornado e bêbado e sua tentativa de se reintegrar a ex-colegas de classe durante um piquenique, conquista o espectador. Toda a sequência possui um ar intrigante e diferente. Após tentativas falhas de animar (ou perturbar?) a turma com danças e cantorias no karaokê, o homem se joga na frente de um trem. Assim, como flashes que invadem sua mente naquele momento, passamos, então, a acompanhar trechos da vida do rapaz, para que possamos entender melhor o que o levou a cometer ato tão trágico. E é aí que o filme passa a ser um pouco mais usual do que eu esperava, ou desejava.
A recorrência de diversos elementos durante os segmentos que compõem o filme, como a relação de Yong-ho com cachorros, os trens e trilhos que "voltam no tempo" junto com o personagem e os doces de hortelã, são tentativas louváveis de uní-los e buscar uma fluidez maior na cronologia, no entanto, não passa muito disso. Os segmentos se estendem por mais tempo que o necessário e muitas das inúmeras pessoas que passam pela vida de Yong-ho falham em deixar a marca no espectador que, talvez, tenham deixado no protagonista.
Ao final, fica claro que o filme quer fazer uma declaração sobre as marcas indeléveis da violência e como o ambiente hostil numa Coreia afetada pela guerra civil ajudou a desmantelar a identidade coreana e a criar fantasmas que assombram sua população até hoje. Mas, infelizmente, até chegar nesse ponto, eu já tinha perdido um pouco o interesse.
- A primeira tortura de Yong-ho e sua tentativa incessante de lavar as mãos. - Toda a sequência da batalha nos trilhos, desde a bota encharcada de sangue até o assassinato da menina. - Os doces de hortelã sendo pisoteados na saída rápida do quartel. - O piquenique inicial e o final, 20 anos antes. É legal ver coreanos cantando. - O reencontro de Yong-ho e Sun-nim no restaurante e as "mãos doces" de Yong-ho sendo corrompidas pela primeira vez.
Todos já nos sentimos sozinhos. Após o término de um namoro, o afastamento de um amigo, a morte de um parente, todos já olhamos para o lado e sentimos aquela sensação de estarmos perdidos em um deserto. Mas essa sensação, embora, muitas vezes, pareça crônica, pode ser mudada, pois podemos buscar formas de sair de uma situação ruim, somos autossuficientes para alterar nossa situação. Mas, e uma pessoa deficiente? Alguém com uma debilidade tão grande a ponto de isolá-la por completo da sociedade; alguém que, por mais que tente, sabe que se encontra em um deserto infinito em todas as direções... como será que essa pessoa se sente? Talvez sua única esperança seja procurar um oásis, momentos de conforto passageiros, em que pode saciar a sede e relaxar por alguns minutos. No entanto, uma hora esse oásis deverá ser deixado para trás para que se possa prosseguir viagem, e só quem realmente compreende a secura de um deserto infinito, saberá que aqueles momentos prazerosos à beira da água deverão ser aproveitados ao máximo, pois não se repetirão com frequência.
Palmas a Lee Chang-dong por ter conseguido trabalhar uma história dessas sem torná-la a obra mais melodramática de todos os tempos. Tarefa dificílima, pois ela dá muitas brechas para isso. Se quer uma prova do que estou falando, veja o filme "Simples como Amar" para um exemplo pavoroso de como Hollywood tratou, basicamente, a mesma história. Felizmente, "Oásis" nos permite realmente conhecer seus personagens. Deixa, em certos momentos, o "coitadismo" de lado para mostrá-los em todas suas facetas, sejam elas boas, ruins, desconfortáveis e, até mesmo, aterrorizantes. Ocorrem algumas deslizadas ao longo do caminho, mas nada que prejudique tanto.
Eu tenho um fraco por cenas escapistas e fantasiosas salpicadas em filmes, até então, fundamentados na realidade e, a meu ver, esse filme tem uma das melhores: quando estamos no metrô e, de repente, vemos Gong-ju, em pé ao lado de Jong-gu, provocando-o com uma garrafa de água, o sentimento de confusão que nos toma primeiramente é logo substituído por uma satisfação de encher o peito. Esses momentos se tornam relativamente frequentes durante o filme, com exceção do final. Esperamos por uma cena em que Gong-ju explique o que aconteceu, resolva aquele mal-entendido e essa cena não vem, nem mesmo em forma de sonho. Entendam como quiser. Eu vejo com otimismo, vejo a Gong-ju, ao colocar o rádio na janela para que Jong-gu a ouvisse, aprendendo a se comunicar sem a necessidade de suas fantasias. Com a ajuda de seu amigo e companheiro, as sombras deixaram seu oásis e, agora, ela pode ser a melhor versão de si mesma.
Um filme marcado por excessos. Os atores exageram suas feições e prolongam seus movimentos. A trilha sonora e o som, no geral, especialmente os tiros, surgem tão altos e repentinos que ressoam nos tímpanos por alguns bons segundos. O vermelho do batom, da blusa, das unhas e do sangue parece destacado da tela de tão contrastante com o resto da imagem. O figurino estereotipado ostenta ao máximo as mudanças de personalidade da Thana ao decorrer de sua trajetória - de mudinha indefesa, com paletós pretos e aparentemente alguns tamanhos mais largos, à femme fatale, terminando numa representação santificada da personagem -, de forma a deixar claro que o objetivo aqui é passar longe de nuances. Tem uma mensagem tão escancarada que eu ainda não sei como os movimentos de igualdade de gênero não o botaram debaixo do braço e chamaram de seu. A câmera exige ser notada, através da filmagem extremamente estilizada, com movimentos bruscos, bastante close-up e câmera lenta, a se destacar a gloriosa cena da festa.
Esses aspectos podem fazer de "Ms. 45" um filme bastante polarizador. Eu, como fã de carteirinha de filmes que focam no que há de mais podre, sujo e grotesco se escondendo por entre as "vielas" da sociedade, gostei demais. Vida longa a Thana!
Duas mulheres se encontram em um campo. Mija, uma idosa que se vê obrigada a batalhar com diversos demônios, e a mãe de Heejin, uma personagem sem nome, vítima do luto recente de sua filha, conversam casualmente sobre roupas, colheitas e damascos tristes, amassados, destruídos, que resolveram "se atirar aos chãos para se prepararem para a vida seguinte". Logo após, Mija se vira e vai embora, com um olhar críptico e um andar hesitante, certamente carregando uma imensa culpa, culpa que não é dela, mas, sim, um fardo alheio que as circunstâncias a forçaram a carregar. Uma mistura de culpa pelo ato do neto, pelo luto da mãe e pelo insucesso na coerção da mesma a aceitar o "suborno".
Durante essa caminhada, acredito que Mija tenha percebido que, pela primeira vez, conseguiu descrever qualidades de algo que não fossem flores. Ao discorrer sobre o damasco, talvez lembre de como as palavras não vinham quando tentou o mesmo com uma maçã, talvez porque não seja bem uma fruta que ela esteja descrevendo, mas Heejin, a algoz de seus pensamentos, aquela que, triste, amassada, destruída, se atirou aos chãos para se preparar para a vida seguinte. Na verdade, tudo que ela vê durante o filme a lembra de Heejin, como percebemos em seu poema final: o vermelho do pôr-do-sol, o canto dos pássaros, suas tão amadas e coloridas flores, o damasco no chão. Tudo que ela creditava como belo tornou-se feio, o próprio significado da palavra "poesia" se alterou, transformando-se agora em sinônimo de dor e desesperança.
Acredito fortemente que o poder do filme gire em torno dessa cena. Ela resume toda a saga de uma senhora que, como o rio que abre e encerra o filme, apresenta uma superfície serena para esconder águas inquietas. Belíssimo e dilacerante.
É, parece que vou ter que passar minha vida inteira defendendo esse filme... que eu, inclusive, demorei esse tempo todo pra ver só por conta dessa nota absurda de vocês, seus hereges hauhauha
Sabem aquela abordagem clássica de filme de horror, em que o vilão é construído de forma a confundir tanto os outros personagens como o espectador quanto à sua "vilanice"? Assim, no início, ele se mostra como uma pessoa centrada, de compostura, até mesmo bondosa; eis que surgem seus primeiros atos questionáveis, expostos pouco a pouco, de forma a começar a criar aquela "pulga atrás da orelha". A loucura vai, então, sendo explorada cada vez mais até culminar no ato de violência, que já não é mais tão inesperado assim, como talvez fosse no início do filme, por conta da gradual evolução (ou "involução") do personagem. Já vimos essa tática usada para compôr um único personagem ("Psicose"), vários ("Corra!"), ou até mesmo uma cidade inteira ("O Homem de Palha"), mas, apesar das variações, o objetivo é sempre o mesmo: manter o suspense/mistério até o clímax, mas sem fazer esse mesmo clímax soar forçado, inesperado, como se tivesse surgido do nada...
Em "Foxcatcher", apesar de não ser propriamente um terror, vejo uma opção clara por esse tratamento quanto ao John Du Pont. A diferença é que, ao contrário do esteriótipo de um vilão de filme de terror, o filme permite que sintamos emoções opostas quanto ao personagem, explorando suas diversas facetas, aprofundando-se nos motivos que o levaram até ali: uma sexualidade reprimida, uma relação familiar tóxica, uma ""superioridade"" financeira que serviu apenas para aguçar seu sentimento de inferioridade física e mental, etc. A escolha do Mark como protagonista, ao invés do Dave (na vida real, muito mais presente e importante para a história do que o irmão caçula, porém também com uma vida muito mais equilibrada), é pautada justamente pelos paralelos entre ele e o Du Pont: duas pessoas vencidas por suas angústias e inseguranças.
Iluminação
3.7 14 Assista Agora"Iluminação" é a jornada de um cientista sofrendo dos mais urgentes dilemas e angústias que assolam o homem racional. É inédito em seus temas, já que nunca vi uma exploração psicológica tão substancial de um homem da Ciência (de homens de Fé, tem um monte e também costumam ser interessantes), e na sua forma, com um ritmo maluco guiado por uma montagem frenética que opta por cortar arestas e cair de cabeça no cerne da coisa, chegando até a confundir o espectador com o tanto de informação que lhe é transmitida: anos e anos de uma vida, condensados em noventa minutos.
A busca inicial por respostas racionais e finais a tudo que se vê e que se sente, a exploração da biologia, da psicologia e da espiritualidade do Homem como contraponto ao positivismo e à pomposidade acadêmica, a ansiedade causada pela insatisfação das respostas disponíveis e a aceitação de nossa real ignorância. A agoniante necessidade de fazer tudo, conquistar tudo antes dos trinta anos, afinal, as melhores ideias surgem cedo, os ganhadores do Nobel o ganham jovem. O peso do conhecimento do mundo e a busca pela sabedoria de usá-lo corretamente. O que é usá-lo corretamente?
Há diferentes questionamentos propostos aqui, todos igualmente interessantes, alguns que eu, nos meus anos de estudo da Química, tive que lidar pessoalmente. E tudo envolto em uma aula de como fazer cinema (a cena de passagem do tempo por meio de infográficos sobre gravidez é INCRÍVEL). Filme verdadeiramente formidável.
Os Donos da Noite
3.5 163 Assista AgoraJames Gray (1/6)
O arco narrativo de Bobby é bem bizarro (do nada, um gerente de bar no programa de proteção a testemunhas se torna um policial, quê? parece que cortaram uns 30 minutos do filme entre esses dois eventos), mas seu arco, digamos, "psicológico", é sensacional: sentimos as emoções que dirigem o personagem em todas as suas escolhas, a indignação pela impunidade, a raiva pela traição, a determinação pela vingança, o amor e o ressentimento que ele tem por suas duas famílias, tanto a real como a escolhida.
Sinto, porém, que alguns temas foram explorados bem superficialmente: as causas do desgaste entre Bobby e a família, a traição sofrida pelo Bobby, seu relacionamento com a Amada, como se deu a aproximação com os russos, etc etc etc... e o título também me incomoda, "Os Donos da Noite" soa como um filme policial noir, com detetives fodões que realmente aterrorizam a cidade, seja os bandidos ou os inocentes, tal qual Denzel Washington em "Dia de Treinamento", e depois daquela abertura, realmente parecia que seria algo do tipo e sei lá, ver o Mark Wahlberg com cara de bonzinho como o "dono da noite" realmente me frustrou rs
Tratando-se do tema que trata, não tem muito a dizer para mim e não me é muito marcante, mas é um filme policial bastante sólido, alçado a "joia cult" pelo trabalho de direção e fotografia e pela atuação excelente do Joaquin Phoenix (como é sempre de se esperar vindo dele).
Momentos marcantes:
- A abertura, fotos antigas da polícia de NY em preto e branco, com um jazz tocando ao fundo, seguido da Eva Mendes de lingerie ao som de "Heart of Glass", que coisa linda: cliquei pra ver o filme eram três da manhã, morrendo de sono e desinteressado, mas essa cena inicial me segurou e me fez ficar até o fim.
- A perseguição de carro, maravilhosa, mesmo, a atmosfera lembra muito aquela cena aclamada de "The French Connection" e a direção do Gray claramente homenageia seu predecessor, botando um trilho de trem ao lado da estrada e a câmera para trabalhar de dentro do carro, só que na chuva e com um final muito mais impactante, foda!
Sem Rastros
3.6 191 Assista AgoraVocê não está sozinho. As pessoas que te amam tentarão te ajudar, da maneira que puderem. Elas explorarão profundas escuridões, lugares gélidos e inóspitos ao seu lado, botando suas próprias vidas em risco para ajudar a salvar a sua. Mas, no final, isso não é o suficiente. Você deverá seguir seu próprio rumo, mesmo que, para isso, você deixe uma estrada limpa e clara para entrar novamente em uma floresta densa e incômoda, como Will ao final do filme (uma das melhores metáforas visuais no cinema nesses últimos tempos). E seria cruel pedir às pessoas que você ama para que te acompanhem mais uma floresta adentro. O máximo que elas podem fazer é deixar uma sacola com comidas e suprimentos e torcer para que você volte para buscá-las. Vencendo ou perdendo, algumas batalhas, nós precisamos disputar sozinhos.
Leave No Trace é o irmão gêmeo de Manchester by the Sea, nesse sentido: sem respostas óbvias e simples para a depressão, tratando-a com um pessimismo real e perfurante.
Primavera
3.3 160*Justin Benson / Aaron Moorhead - 3/3*
"Are you a vampire, werewolf, witch, zombie, or alien?"
O filme bambeia um pouco na hora de explicar o que está acontecendo. Toda a sutileza que o permeia na maior parte do tempo é deixada de lado por cinco minutos para que possamos entender sobre a anatomia de Louise. O bom é que, logo na sequência, a viagem deles a Nápoles se inicia e eu sou simplesmente apaixonado por tudo que vem depois disso: "Some pizza and a bottle of wine with the right person - that can make the shittiest day better."
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Momentos marcantes:
- As cenas com os britânicos no início do filme é o que Eli Roth tentou fazer em "O Albergue", mas falhou miseravelmente: um alívio cômico para introduzir a história;
- A primeira conversa, no balcão do bar, entre Evan e Louise;
- A ida ao banheiro de Louise na primeira cena no apartamento dela;
- A conversa na praia;
- Os pobres coelhos;
- O "término";
- A revelação do segredo;
- Os últimos vinte minutos;
- O filme todo, basicamente..
Contra Corrente
3.2 48 Assista Agora*David Gordon Green - 8/12*
São poucos os que conseguem filmar uma pequena cidade rural do interior dos EUA tão bem quanto a dupla DDG e Tim Orr. Talvez Jeff Nichols em "Mud" e "Shotgun Stories", não sei.
Certos elementos - um vilão caricato, um tesouro amaldiçoado, jovens órfãos, uma longa jornada - dão ao filme um ar fantasioso, quase de fábula, tornando comparações com "O Mensageiro do Diabo" praticamente inevitáveis. A diferença entre os dois filmes é clara, no entanto: a construção da ameaça. A primeira metade do clássico de Charles Laughton é mil vezes mais eficiente e tem, na atuação de Robert Mitchum, um vilão muito mais carismático e aterrorizante, o que justifica - E MUITO - a fuga das crianças, já que ninguém da cidade acreditaria na crueldade de Harry Powell. Em "Undertow", essa fuga é bem menos convincente, pois claramente ninguém culparia os irmãos pelo ocorrido: destruir uma vidraça não é o mesmo que matar o pai, Chris, fique tranquilo. Além disso, falta algo a Josh Lucas que, embora interprete bem o lado "vilanesco" de seu personagem, fica devendo na construção de sua personalidade, na apresentação das mágoas passadas com o irmão e tudo o mais, o que o torna um pouco raso demais.
À exceção de pouquíssimas sequências, como a dos meninos tomando um banho de chuva ou a da refeição com o casal de fazendeiros, a trama se mantém sempre carregada de tensão, com alguns momentos de brutalidade - muito bem construídos, aliás - dispersos aqui e ali. Até mesmo quando Chris aparenta ter encontrado uma garota com quem conversar, o que prometia trazer um pouco de tranquilidade ao filme, o roteiro logo insere alguns ingredientes que nos fazem questionar a integridade da garota e elevar a tensão novamente. Acho que isso prejudicou um pouco a experiência, pois o filme não soube dosar tanto as emoções, mas talvez seja um gosto pessoal, já que eu esperava mais por um drama "coming-of-age" do que por um thriller comedido.
Também não sei o que pensar de algumas escolhas artísticas do DGG aqui: em alguns momentos, como nos créditos iniciais, fica legal e enriquece a experiência, já em outras parece um capricho vago e sem motivo. Mas, ok, acho válido querer experimentar e brincar com o meio.
Cismei, sem motivo algum, que o Jamie Bell tá parecendo muito uma jovem Sigourney Weaver na capa do filme.
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Momentos marcantes:
- A história de John sobre o barqueiro do inferno;
- Os créditos iniciais são excelentes! Apresenta o protagonista, o cenário e o estilo do diretor, tudo isso em apenas dois minutos e enquanto passa um monte de nomes na tela;
- O que o balão verde, enchido por um Chris com um furo no pé no início do filme e estourado por seu irmão na cena final, pode representar?;
- A cena no ferro-velho é muito boa, assim como toda a sequência com o casal de fazendeiros;
- Pare de comer tinta, menino.
O Culto
3.2 200 Assista Agora*Justin Benson / Aaron Moorhead - 2/3*
Continuação velada de "Resolution", "The Endless" é um filme que se utiliza do mesmo universo, porém abandona um pouco a metalinguagem do primeiro filme em prol de uma tentativa de metáfora a respeito da rotina diária e do significado de livre arbítrio.
Esse é um filme muito mais ambicioso que seu antecessor. É notável a evolução da dupla Benson/Moorhead, muito mais confortáveis por detrás das câmeras, algumas sequências são realmente impressionantes, apesar do baixo orçamento. No entanto, falta o charme, o sarcasmo do primeiro, sem contar que tenta explicar muito as regras daquele universo, o que não me agradou. Novamente, o roteiro opta por abordar muitos temas de uma só vez (o culto, a relação familiar e toda a questão sci-fi/filosófica que o guia), mas o desenvolvimento de todos esses aspectos fica aquém daquele em "Resolution".
Em certo momento, Aaron diz querer continuar no culto pela lógica do "mais vale um pássaro na mão do que dois voando": se for para passar a vida preso a uma rotina, que seja aquela em que eu não tenha que comer miojo diariamente. Mas confesso que não senti tanto o motivo de sua aversão pela "vida real" e nem o motivo do seu amor repentino pela vida dentro do culto. Quando Justin, então, diz que a decisão seria dele, ele muda de ideia e resolve voltar, indicando que sua vontade não era permanecer no culto, mas ser ouvido pelo irmão, ser respeitado o suficiente para tomar suas próprias decisões. Irmão que, como diz o integrante do culto, ama esse papel de liderança, agindo tal qual o monstro na vida de Aaron. OK, acho que entendi, mas não consegui comprar a ideia de que alguém se sujeitaria a passar a eternidade em um ciclo sem fim apenas por uma birra de família.
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Momentos marcantes:
- As cenas do ciclo de cinco segundos são fantásticas - tanto a com o Justin quanto a com o Aaron;
- Amo o final, com os membros do grupo olhando, com uma expressão satisfeita, a partida dos irmãos, seguido por aquele diálogo sobre o tanque de gasolina;
- As cenas com Chris e Mike;
- O suicídio do Shitty Carl: "Goddammit!";
- "Tá vendo aquela lua que brilha lá no céu? Se você me pedir, eu vou buscar só pra te dar" - O monstro curte Exaltassamba.
Especialista em Crise
3.2 105 Assista Agora*David Gordon Green - 7/12*
"When Adlai Stevenson was running for president, a woman came up to him on a rally one night and said, 'Every thinking person will be voting for you.' And Stevenson said, 'Ma'am, that's not enough. I need a majority.'"
O filme tem um sério problema de tom: tenta misturar críticas sérias e contundentes com cenas ridículas de caráter cômico, joguinhos mentais e mais um monte de coisa. E, quando tenta ser uma sátira, não consegue escolher o que realmente ele quer criticar e, assim, resolve apenas sair proferindo montes e montes de citações aleatórias, o que chega a ser irônico, já que as melhores sacadas do roteiro de Peter Straughan são frases escritas por outras pessoas rs
Também é aquele tipo de filme que ama descrever seus personagens nos diálogos, ao invés de desenvolver esses traços de personalidade através de suas atitudes. A personagem da Zoe Kazan não faz o menor sentido na trama, surge do nada, apresentada de maneira grandiosa, com pompa de "Lisbeth Salander", mas não chega nem perto de ser realmente importante em alguma coisa. Nell é citada como uma mãezona que finge ser santa e esconde um lado mais agressivo, mas também não a vemos agir assim durante o filme. Jane se diz traumatizada por experiências anteriores, mas suas escolhas e ações no trabalho não refletem isso, sempre fazendo antes e pensando nas consequências (para um país inteiro) depois. Pat é um "vilão" pelo bel-prazer de ser vilão, parece que foi escrito assim só para que Billy Thornton pudesse fazer umas caretas sarcásticas.
A "política do medo" é a coisa mais interessante e rende uma reflexão a respeito dos tão amados políticos linha-dura aqui na América do Sul. Mas nem é uma reflexão tão bem proposta assim, o filme mal toca nisso, somos nós, mais que o filme, que, com a mentalidade brasileira sobre as engrenagens da política, conseguimos ir além e traçar paralelos.
Uma experiência totalmente esquecível.
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Momentos marcantes:
- A morte da lhama: "It's like he killed himself rather than be in our commercial."
- Rivera citando Goebbels no debate;
- Racha de ônibus políticos: tão estúpido que não sabia se revirava os olhos ou se entrava na onda e ria;
- Jane bêbada montando catapultas de lençol e sutiã com os amigos de Eddie;
- A jornada de Eddie, de jovem idealizador a quase um líder de oposição, é uma forte alegoria: suas ações na cena final são justificadas nas quase duas horas anteriores... já as de Jane não.
Manglehorn
3.0 25*David Gordon Green - 6/12*
"I don't have anyone either. Who do I have? When you choose this life, there is no one. It's only you. Every man for himself. And let me tell you something: when you're sitting there, wherever you are, in a dark room, suffering with the pain, guess what? There's still no one. No one answering the phone. No one responding to the letters you send. You're invisible. We're invisible."
Existe uma série/reality show do Comedy Central chamada "Nathan for You". No último episódio de sua quarta temporada, "Finding Frances", o apresentador, impulsionado pela insistência de um sósia do Bill Gates, resolve ir em busca de uma antiga ex-namorada do tal sósia, descrita por ele como "seu amor perdido". Contudo, o episódio - e Nathan - é brilhante ao ir desvendando a realidade dos acontecimentos, descobrindo que ela não casava perfeitamente com o romancismo floreado do velho sósia e, com isso, traça um perfil sensacional a respeito de um homem que, em uma fase crucial de sua vida, na qual se vê entediado e sozinho, apega-se ao passado e tenta reimaginar sua história. É, realmente, um documentário fantástico escondido sob o pretexto de ser um episódio qualquer de TV e vale muito ser visto.
Mas o que isso tem a ver com o filme em questão? Bom, em "Manglehorn", me deparei com uma situação bastante similar. O personagem de Al Pacino insiste e insiste que Clara foi a mulher de sua vida, aquela que simultaneamente fazia o tempo parar e correr duas vezes mais rápido, aquela que "sempre tinha algo interessante a dizer". E eu não conseguia tirar da cabeça: "é o sósia do Bill Gates todinho".
Pois bem, quando nos vemos presos em um presente sufocante, nos aterrorizamos e procuramos tentar fugir olhando para o passado. Mas o passado das nossas lembranças nunca é o verdadeiro. É uma nostalgia falsa, de algo que nunca existiu. A verdade é que éramos iguaizinhos nesse tempo que passou ao que somos hoje e, assim, só nos resta fazer o melhor que pudermos com aquilo que temos.
Angelo lembra muito a mim, uma pessoa cínica, irritável, que diz preferir seu gato - ou cachorro - às pessoas. Mas, mesmo assim, contrariando sua personalidade, ele puxa papo com a balconista do banco, busca por seu filho, leva sua neta ao parque porque, por mais enervante que pessoas como a Dawn sejam, ele sabe que elas estão certas: a vida é melhor quando há "substância" humana.
Só não consigo entender porque o gato do pôster não é o mesmo gato do filme haha
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Momentos marcantes:
- Manglehorn tapando os ouvidos na cama para não ouvir o alarme e não precisar levantar;
- Manglehorn e sua neta no parque, vendo mímicos e conversando sobre o vento;
- Toda vez que a Holly Hunter aparecia, em especial no festival de panquecas;
- A história do Gary sobre seu técnico: "(...) fire goes right out and he takes his hand up and there's a flame shooting up from his palm and he just looks me in the eyes and goes 'Puff, happy birthday'";
- A conversa entre pai e filho;
- O barco cheio de lembranças;
...
...
- A cena final com o mímico. A cena final com o mímico é MÁGICA, é cinema em seu auge, é tudo que há de bom! Finalmente, você achou a chave de que tanto precisava, Angelo.
Sua Alteza?
2.4 491 Assista Agora*David Gordon Green - 5/12*
"- How are you going to make me love you?
- If your vagina is anything like my hand, there will be no problem."
Até passei um pano para "The Sitter", mas que porra é esse filme? O conceito de "comédia" aqui é proferir palavrões e trocadilhos de cunho sexual em meio a diálogos sérios e rebuscados. Eu amo humor sujo e escrachado, não é esse o problema, mas isso não é desculpa para produzirem um filme tão patético e imbecil como esse. Adoraria ter passado minha vida sem ver o Toby Jones como um vilão eunuco sendo carregado pelado nos ombros do James Franco.
O rei-bebê e o "souvenir genital" do minotauro me tiraram umas risadinhas de descrença. Courtney é um coadjuvante simpático e a Natalie Portman, incrivelmente, leva essa bagunça a sério. Fora isso, é uma bomba indescritível, com uma história ilógica em que nada faz sentido e o senso de humor comparável ao dos seus amigos da quinta série.
Resolution
3.4 81*Justin Benson / Aaron Moorhead - 1/3*
O filme trabalha em três frentes: a do drama, tratando de uma longa amizade testada pelo vício em drogas; a do terror, envolvendo as “mensagens” deixadas por um stalker misterioso; e a metalinguística, que resolve entrar na história mais diretamente apenas no terceiro ato. E, na minha opinião, é extremamente bem-sucedido em todas elas.
O que falta em orçamento e glamour sobra em criatividade. O que parecia ser um bom filme de terror se torna um excelente ensaio psicológico sobre expectativas, um pouco aos moldes de “O Segredo da Cabana". Já no final, durante alguns minutos, o filme se desprende das amarras de uma história lógica e direta e parece estar prestes a se tornar abrupto e incompreensível... até aquela cena final que surge como uma revelação e dá um “clique” no cérebro.
Chupinhando um comentário encontrado internet afora: “reflitam sobre o título e seu possível significado: ‘Resolution’ (conclusão, término). Os personagens principais chegam a uma no final e certamente não é aquela que eu esperava, mas será que a força sobrenatural - ou seja nós, o público - que os ameaça permitirá que aquela resolução aconteça?”
Ao final, ficamos divididos entre querer uma conclusão otimista em que Chris resolve se reabilitar e se reaproximar de seu amigo ou exatamente aquilo que esperávamos desde o começo – uma resolução brutal e sangrenta envolvendo cultos, monstros e estranhos antropólogos franceses. É um embate pessoal entre a empatia criada por Mike e Chris na primeira metade e a sede por algo diferente daquilo que estamos acostumados, por algo que só podemos encontrar nos filmes.
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Momentos marcantes:
- A cena da garota do hospício na janela da cabana: CREEPY PRA CARALHO!!;
- As revelações das mensagens: cada uma trazia consigo pelos arrepiados e um nó na cabeça;
- A conversa com o francês e sua obsessão com “começos, meios e fins”;
- Quando eles percebem a exposição do filme (aquela luz vermelha que aparece entre alguns cortes) enquanto discutem sobre as "diversas histórias que lhes foram apresentadas";
- A sacada do filme em flertar com várias resoluções (traficantes, indígenas, suicídio do Chris, assombrações, cultos, o vídeo final me fez pensar até em viajantes do futuro), em que nenhuma agrada por completo a “entidade” para ser escolhida no final: tem como não lembrar daquele pandemônio de monstros em “O Segredo da Cabana”?
- O final excepcional, em especial o "Can we try it another way?"
George Washington
3.9 8*David Gordon Green - 4/12*
“Why is it that every time you start talking you sound like you’re gonna cry?”
A história não importa aqui. Nem mesmo os diálogos, muitas vezes. É aquele tão famoso filme de sensações. Os personagens assombram uma cidade-fantasma, repletos de dúvidas sobre o que a vida lhes reserva, e nós nos perguntamos se eles, um dia, conseguirão deixá-la. E, mesmo assim, em nenhum momento a cidade é desenhada de modo sombrio e decadente, mas retratada como um lugar autêntico e modesto, um pouco perdido mas deveras romântico, assim como seus habitantes. Eu nunca vi um filme que, simultaneamente, finca os dois pés na realidade... e o resto do corpo num mundo de fantasias.
A companhia perfeita para "A Árvore da Vida". O feito que Green nunca conseguiu (ou mesmo tentou) repetir. A razão da existência do cinema independente. Talvez, a obra-prima estadunidense do século XXI.
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Momentos marcantes:
- As conversas entre Vernon e Sonya;
- O descobrimento do corpo de Buddy;
- George e o chapéu de pele de seu tio, o macacão de Buddy e sua capa de herói.
Um Lugar Silencioso
4.0 3,0K Assista AgoraEscolha mais sábia que fiz na vida: esperar sair o torrent pra ver esse filme em casa. Do contrário, eu, com certeza, teria matado um infeliz no cinema por comer pipoca.
Tem dois furos muito graves no roteiro que me incomodaram demais:
1) se era seguro perto de lugares barulhentos, por que eles não se mudaram para algum lugar barulhento ou montaram algum aparato barulhento perto da casa deles? e 2) como os governos descobriram que os monstros tinham uma audição tão sensível e não testaram todas as frequências possíveis para ver se os afetaria? Me parece o caminho lógico a se seguir.
Não, John Krasinski, obviamente, não é o inventor do filme de terror que se aprofunda nos personagens para construir laços emocionais com o espectador, mas que ele - junto com os roteiristas - usou essa fórmula PERFEITAMENTE não dá para negar:
sua morte foi a mais sentida por mim num filme do gênero.
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Momentos marcantes:
- Tutorial de como fazer uma cena de abertura;
- Conversa entre pai e filho à beira do rio: um dos raros momentos em que o filme te deixa respirar um pouco;
- Tudo que veio depois daquela pisada no prego;
- O nado livre no milho;
- E, claro, a morte do Lee.
Sol Secreto
4.0 30*Lee Chang-dong - 4/6*
Por que o Lee Chang-dong ama tanto karaokê?
O conforto religioso é bom enquanto dura. Dos placebos, o melhor. Mas o duro é que, quando seu efeito passa, a dor volta em dobro. E, se o efeito não passa, o resultado é ainda pior: viver em negação pelo resto da vida. Não importa o quanto doa, o luto precisa ser real, o luto é importante. E, quando passa, é mais significativo porque a força para mudar veio de dentro de você.
O filme não é anti-fé, não renega a Deus, mas meramente questiona a religião e suas palavras vazias que, na tentativa de dizer tudo, não dizem nada. Ao começar a ver o filme, não esperava, em nenhum momento, me deparar com essa discussão. Foi uma surpresa grata ver esse aspecto da religião retratado por olhos sul-coreanos.
Gostei do que vi, mas adoraria ter assistido ao filme que me é prometido no primeiro ato: uma mãe e seu filho seguindo suas vidas numa nova cidade, após a perda do marido. Isso já daria uma excelente história, sem precisar de uma tragédia ainda maior para sobrepôr àqueles primeiros quarenta minutos.
Sem contar que eu acho que o Lee Chang-dong pesou um pouco a mão aqui: "Secret Sunshine" tá mais para o Lee de emoções exageradas de "Peppermint Candy" do que o Lee contido e poético de "Poetry" e "Oasis".
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Momentos marcantes:
- A MELHOR cena entre dois personagens conversando separados por um vidro desde "Paris, Texas": quem Deus pensa que é pra perdoar o assassino antes da própria mãe da vítima?;
- A música interrompendo o sermão: "Mentiras... mentiras... MENTIRAS! / O amor é uma mentira / Sorrir é uma mentira (...)"
- A sutileza nas transições, como nas cenas pós-sequestro, na morte do menino, na tentativa de suicídio... a história vai sempre se revelando por meio de informações soltas nos diálogos e nas imagens;
O Babá(Ca)
2.8 280 Assista Agora*David Gordon Green - 3/12*
O pôster engana, faz o filme parecer muito mais desagradável, ofensivo e condenável do que ele realmente é. Surpreendentemente, o roteiro se preocupa em explorar a história e a personalidade de seus personagens, fazendo a proximidade do Noah com as crianças soar sincera. Não acho que isso é feito com tanto primor assim, mas rende uns poucos momentos adoráveis e uma mensagem bacana de auto-aceitação. Além da conta do que se espera de uma comédia do tipo.
O problema é que o tempo gasto tentando desenvolver a história não corresponde ao tempo gasto explorando as situações potencialmente engraçadas que poderiam surgir dela. Assim, mesmo recorrendo a saídas fáceis do gênero, como mal-entendidos com traficantes, crianças malcriadas e uma eterna imaturidade do personagem principal, as piadas são praticamente inexistentes.
Outra coisa que derruba o filme é que o Jonah Hill não tem carisma pra carregá-lo sozinho. Como figurante? Ótimo. Dividindo protagonismo com Michael Cera, Channing Tatum, Brad Pitt, DiCaprio? Ótimo, também. Agora, sozinho não rola.
O que salva como comédia são alguns momentos brilhantemente ridículos, que flertam com o "tão ruim que fica bom" que eu tanto amo, como
Noah sendo guiado por um “laranja” gay de patins até uma boca escondida atrás de uma academia de body builder.
Tudo e Todas as Coisas
3.3 403 Assista AgoraEle diz que gosta de dormir no lado esquerdo da cama... E DEITA NO LADO DIREITO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! QUÊ?!?!?!?!??!?!?!? Na boa, dá pra levar a sério um filme desses? ksopksposkposkspoksopskposkospksposk
Você só tinha uma função, filme: não reciclar o plot "era tudo invenção de uma mãe superprotetora" de Jimmy Bolha. E, até nisso, você falhou miseravelmente.
Uma estrelinha porque o casal principal é bonito pra caralho e eu sou uma pessoa superficial.
O Que te Faz Mais Forte
3.3 221 Assista Agora*David Gordon Green - 2/12*
Os conflitos pessoais dos dois personagens principais, especialmente da Erin, elevam demais a qualidade do filme, no início: ambos alçados a papéis aos quais não haviam se candidatado (Erin, a companheira, e Jeff, o herói) e tentando aprender a lidar com isso. Pena que esses conflitos vão se resolvendo com o passar do tempo para dar espaço a um final meloso e meia-bomba, com pitadas daquele tão conhecido patriotismo americano (embora o filme chegue a desafiar um pouco isso em certos momentos).
Sinto que o fato de ser uma história real atrelada a um acontecimento trágico de grandes proporções para os EUA tenha dificultado uma abordagem mais incisiva desses conflitos, já que um final fechadinho e positivo é quase mandatório nesses casos. Ainda assim, o filme consegue fazer uma provocação interessante a respeito de temas como heroísmo e resiliência.
Gosto muito da direção do DGG, também, que consiste basicamente em colar a câmera na cara do Gyllenhaal por longos e longos minutos e deixar o garoto atuar, sempre uma ótima escolha. Brincadeiras à parte, a cena da troca das ataduras é um ótimo exemplo da excelência na direção:
as pernas desfocadas no centro da tela, com os rostos de Jeff e Erin quase fora de quadro, reagindo à situação. Ela não seria nem de perto tão eficaz e angustiante se filmada de qualquer outro jeito.
Rocky: Um Lutador
4.1 844 Assista Agora"Se você quiser, se você se esforçar, se você treinar, se você entrar de cabeça, se você se concentrar, nada garante que você vai conseguir" - Craque Daniel.
Joe
3.4 250 Assista Agora*David Gordon Green - 1/12*
"- Ah, the dog likes you.
- She has a lot of scars.
- Yeah, but all the others... all the others is dead."
Um homem solitário assombrado por seu passado vê, em um jovem também cheio de questões a resolver, sua própria imagem, passando a agir como uma figura paterna para o menino. Até aí, nada que nunca tenhamos visto antes. Mas é o tato que o David Gordon Green tem pra contar essa história que faz o filme. Um filme honesto, "de cara limpa", que divaga por temas como amizade, família e gratidão sem soar brega e que esmiuça os piores sentimentos do homem sem soar moralista.
Tye Sheridan, Nic Cage e Gary Poulter (o falecido ex-mendigo que virou ator por quinze minutos só pra mostrar que tinha mais talento na unha do que muita gente no corpo inteiro) estão realmente muito bem em um filme lamentavelmente pouco reconhecido de um diretor lamentavelmente pouco celebrado.
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Momentos marcantes:
- Gary e Joe à procura da cachorra (um dos momentos mais leves do filme);
- Wade matando por uns trocados e uma garrafa de vinho (novamente, a discrição e naturalidade com que essa cena é filmada só torna tudo mais chocante - méritos pro DGG);
- Gary aprendendo a dançar com seu pai bêbado no mato e, depois, dando uma surra no cara que "voou por um pára-brisas às 4h da manhã e tá pouco se fudendo";
- A rinha entre os cachorros (aqui, a força da cena reside no que não é mostrado - um cachorro em cima de uma poça de sangue já foi o bastante para embrulhar o estômago).
Peppermint Candy
4.0 23*Lee Chang-dong - 3/6*
O início do filme, que acompanha um homem transtornado e bêbado e sua tentativa de se reintegrar a ex-colegas de classe durante um piquenique, conquista o espectador. Toda a sequência possui um ar intrigante e diferente. Após tentativas falhas de animar (ou perturbar?) a turma com danças e cantorias no karaokê, o homem se joga na frente de um trem. Assim, como flashes que invadem sua mente naquele momento, passamos, então, a acompanhar trechos da vida do rapaz, para que possamos entender melhor o que o levou a cometer ato tão trágico. E é aí que o filme passa a ser um pouco mais usual do que eu esperava, ou desejava.
A recorrência de diversos elementos durante os segmentos que compõem o filme, como a relação de Yong-ho com cachorros, os trens e trilhos que "voltam no tempo" junto com o personagem e os doces de hortelã, são tentativas louváveis de uní-los e buscar uma fluidez maior na cronologia, no entanto, não passa muito disso. Os segmentos se estendem por mais tempo que o necessário e muitas das inúmeras pessoas que passam pela vida de Yong-ho falham em deixar a marca no espectador que, talvez, tenham deixado no protagonista.
Ao final, fica claro que o filme quer fazer uma declaração sobre as marcas indeléveis da violência e como o ambiente hostil numa Coreia afetada pela guerra civil ajudou a desmantelar a identidade coreana e a criar fantasmas que assombram sua população até hoje. Mas, infelizmente, até chegar nesse ponto, eu já tinha perdido um pouco o interesse.
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Momentos a se destacar:
- A primeira tortura de Yong-ho e sua tentativa incessante de lavar as mãos.
- Toda a sequência da batalha nos trilhos, desde a bota encharcada de sangue até o assassinato da menina.
- Os doces de hortelã sendo pisoteados na saída rápida do quartel.
- O piquenique inicial e o final, 20 anos antes. É legal ver coreanos cantando.
- O reencontro de Yong-ho e Sun-nim no restaurante e as "mãos doces" de Yong-ho sendo corrompidas pela primeira vez.
Oasis
4.2 34*Lee Chang-dong - 2/6*
Todos já nos sentimos sozinhos. Após o término de um namoro, o afastamento de um amigo, a morte de um parente, todos já olhamos para o lado e sentimos aquela sensação de estarmos perdidos em um deserto. Mas essa sensação, embora, muitas vezes, pareça crônica, pode ser mudada, pois podemos buscar formas de sair de uma situação ruim, somos autossuficientes para alterar nossa situação. Mas, e uma pessoa deficiente? Alguém com uma debilidade tão grande a ponto de isolá-la por completo da sociedade; alguém que, por mais que tente, sabe que se encontra em um deserto infinito em todas as direções... como será que essa pessoa se sente? Talvez sua única esperança seja procurar um oásis, momentos de conforto passageiros, em que pode saciar a sede e relaxar por alguns minutos. No entanto, uma hora esse oásis deverá ser deixado para trás para que se possa prosseguir viagem, e só quem realmente compreende a secura de um deserto infinito, saberá que aqueles momentos prazerosos à beira da água deverão ser aproveitados ao máximo, pois não se repetirão com frequência.
Palmas a Lee Chang-dong por ter conseguido trabalhar uma história dessas sem torná-la a obra mais melodramática de todos os tempos. Tarefa dificílima, pois ela dá muitas brechas para isso. Se quer uma prova do que estou falando, veja o filme "Simples como Amar" para um exemplo pavoroso de como Hollywood tratou, basicamente, a mesma história. Felizmente, "Oásis" nos permite realmente conhecer seus personagens. Deixa, em certos momentos, o "coitadismo" de lado para mostrá-los em todas suas facetas, sejam elas boas, ruins, desconfortáveis e, até mesmo, aterrorizantes. Ocorrem algumas deslizadas ao longo do caminho, mas nada que prejudique tanto.
Eu tenho um fraco por cenas escapistas e fantasiosas salpicadas em filmes, até então, fundamentados na realidade e, a meu ver, esse filme tem uma das melhores: quando estamos no metrô e, de repente, vemos Gong-ju, em pé ao lado de Jong-gu, provocando-o com uma garrafa de água, o sentimento de confusão que nos toma primeiramente é logo substituído por uma satisfação de encher o peito. Esses momentos se tornam relativamente frequentes durante o filme, com exceção do final. Esperamos por uma cena em que Gong-ju explique o que aconteceu, resolva aquele mal-entendido e essa cena não vem, nem mesmo em forma de sonho. Entendam como quiser. Eu vejo com otimismo, vejo a Gong-ju, ao colocar o rádio na janela para que Jong-gu a ouvisse, aprendendo a se comunicar sem a necessidade de suas fantasias. Com a ajuda de seu amigo e companheiro, as sombras deixaram seu oásis e, agora, ela pode ser a melhor versão de si mesma.
Sedução e Vingança
3.7 151 Assista AgoraUm filme marcado por excessos. Os atores exageram suas feições e prolongam seus movimentos. A trilha sonora e o som, no geral, especialmente os tiros, surgem tão altos e repentinos que ressoam nos tímpanos por alguns bons segundos. O vermelho do batom, da blusa, das unhas e do sangue parece destacado da tela de tão contrastante com o resto da imagem. O figurino estereotipado ostenta ao máximo as mudanças de personalidade da Thana ao decorrer de sua trajetória - de mudinha indefesa, com paletós pretos e aparentemente alguns tamanhos mais largos, à femme fatale, terminando numa representação santificada da personagem -, de forma a deixar claro que o objetivo aqui é passar longe de nuances. Tem uma mensagem tão escancarada que eu ainda não sei como os movimentos de igualdade de gênero não o botaram debaixo do braço e chamaram de seu. A câmera exige ser notada, através da filmagem extremamente estilizada, com movimentos bruscos, bastante close-up e câmera lenta, a se destacar a gloriosa cena da festa.
Esses aspectos podem fazer de "Ms. 45" um filme bastante polarizador. Eu, como fã de carteirinha de filmes que focam no que há de mais podre, sujo e grotesco se escondendo por entre as "vielas" da sociedade, gostei demais. Vida longa a Thana!
Poesia
4.1 189*Lee Chang-dong - 1/6*
Duas mulheres se encontram em um campo. Mija, uma idosa que se vê obrigada a batalhar com diversos demônios, e a mãe de Heejin, uma personagem sem nome, vítima do luto recente de sua filha, conversam casualmente sobre roupas, colheitas e damascos tristes, amassados, destruídos, que resolveram "se atirar aos chãos para se prepararem para a vida seguinte". Logo após, Mija se vira e vai embora, com um olhar críptico e um andar hesitante, certamente carregando uma imensa culpa, culpa que não é dela, mas, sim, um fardo alheio que as circunstâncias a forçaram a carregar. Uma mistura de culpa pelo ato do neto, pelo luto da mãe e pelo insucesso na coerção da mesma a aceitar o "suborno".
Durante essa caminhada, acredito que Mija tenha percebido que, pela primeira vez, conseguiu descrever qualidades de algo que não fossem flores. Ao discorrer sobre o damasco, talvez lembre de como as palavras não vinham quando tentou o mesmo com uma maçã, talvez porque não seja bem uma fruta que ela esteja descrevendo, mas Heejin, a algoz de seus pensamentos, aquela que, triste, amassada, destruída, se atirou aos chãos para se preparar para a vida seguinte. Na verdade, tudo que ela vê durante o filme a lembra de Heejin, como percebemos em seu poema final: o vermelho do pôr-do-sol, o canto dos pássaros, suas tão amadas e coloridas flores, o damasco no chão. Tudo que ela creditava como belo tornou-se feio, o próprio significado da palavra "poesia" se alterou, transformando-se agora em sinônimo de dor e desesperança.
Acredito fortemente que o poder do filme gire em torno dessa cena. Ela resume toda a saga de uma senhora que, como o rio que abre e encerra o filme, apresenta uma superfície serena para esconder águas inquietas. Belíssimo e dilacerante.
Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo
3.3 809 Assista AgoraÉ, parece que vou ter que passar minha vida inteira defendendo esse filme... que eu, inclusive, demorei esse tempo todo pra ver só por conta dessa nota absurda de vocês, seus hereges hauhauha
Sabem aquela abordagem clássica de filme de horror, em que o vilão é construído de forma a confundir tanto os outros personagens como o espectador quanto à sua "vilanice"? Assim, no início, ele se mostra como uma pessoa centrada, de compostura, até mesmo bondosa; eis que surgem seus primeiros atos questionáveis, expostos pouco a pouco, de forma a começar a criar aquela "pulga atrás da orelha". A loucura vai, então, sendo explorada cada vez mais até culminar no ato de violência, que já não é mais tão inesperado assim, como talvez fosse no início do filme, por conta da gradual evolução (ou "involução") do personagem. Já vimos essa tática usada para compôr um único personagem ("Psicose"), vários ("Corra!"), ou até mesmo uma cidade inteira ("O Homem de Palha"), mas, apesar das variações, o objetivo é sempre o mesmo: manter o suspense/mistério até o clímax, mas sem fazer esse mesmo clímax soar forçado, inesperado, como se tivesse surgido do nada...
Em "Foxcatcher", apesar de não ser propriamente um terror, vejo uma opção clara por esse tratamento quanto ao John Du Pont. A diferença é que, ao contrário do esteriótipo de um vilão de filme de terror, o filme permite que sintamos emoções opostas quanto ao personagem, explorando suas diversas facetas, aprofundando-se nos motivos que o levaram até ali: uma sexualidade reprimida, uma relação familiar tóxica, uma ""superioridade"" financeira que serviu apenas para aguçar seu sentimento de inferioridade física e mental, etc. A escolha do Mark como protagonista, ao invés do Dave (na vida real, muito mais presente e importante para a história do que o irmão caçula, porém também com uma vida muito mais equilibrada), é pautada justamente pelos paralelos entre ele e o Du Pont: duas pessoas vencidas por suas angústias e inseguranças.
Trovão Tropical
3.2 966 Assista AgoraPersonagem mais ilustre interpretado pelo Robert Downey Jr. em um filme de 2008:
( ) Tony Stark
( X ) Cinco vezes ganhador do Oscar, Kirk Lazarus