The Fall é uma série que poderia ser só mais uma história de um serial killer, mas não o é pelas particularidades que concede à sua narrativa. Aqui o drama é incorporado à investigação da melhor forma possível, com os personagens sendo aprofundados em minúcias, ainda que gradualmente, com a complexidade que a natureza humana de fato pode atingir - complexidade essa que, ironicamente, apesar de tão debatida é frequentemente retratada com tanta superficialidade. Em The Fall, podemos de fato compartilhar muito do que todos - eu disse todos - os personagens sentem, pois todos parecem muito reais e, acima de tudo, muito humanos mesmo nos momentos em que a perversidade se faz mais latente. É ver o que a segunda temporada nos reserva em sua queda pelo abismo da psicologia humana.
Normalmente, não tenho paciência de acompanhar séries do estilo Caso da Semana, mas com Grimm foi e é diferente. O criador da série Buffy mostra mais uma vez que conhece a popular linguagem ficcional televisiva e a usa em seu favor, assinando uma produção de qualidade. Apesar do Caso da Semana, a trama principal nunca é deixada totalmente de lado. Quem perder alguns episódios pode até pensar que certo caso está mesmo veiculado à questão maior - o que eventualmente, aliás, é verdade e não apenas em princípio ou fins de temporada, nesse aspecto lembrando um pouco bons momentos de Supernatural. As referências aos clássicos contos de fada são sutis, chegando a servir mesmo como alguma piada no bom e velho estilo humor negro - a referência à Bela Adormecida no princípio da segunda temporada é que o diga. Outro ponto incrível é como a série parece sentir prazer em quebrar certos clichês e, mesmo quando não o faz, geralmente os apresenta com elegância. Os personagens reagem às situações de um modo muito mais natural e maduro em comparação com o que vemos em produções semelhantes, os diálogos parecem mais verdadeiros e naturais - destaque para cenas retratando a relação entre Nick e Juliette. E é claro, ressalta-se ainda a boa comédia, o humor tão sutil quanto eficiente, que não precisa roubar cenas para se fazer notar. Ele as integra, torna-se naturalmente uma extensão das mesmas. Sem falar aqui na maravilhosa introdução de uma nova personagem na conclusão desta temporada, que pela sua presença inicial deve prometer grandes momentos. De fato, para uma série inspirada - eu disse inspirada - em contos de fadas, Grimm realmente mostra que tem uma história, a partir de tantas, para contar.
Prova de que uma boa história sempre estará muito acima de orçamentos exorbitantes e da forma além do conteúdo. A minissérie faz o que produções como Avatar - mesmo com três horas de duração - apenas tentam, supostamente, fazer. Independente dos 250 minutos de que dispõe para desenvolver sua narrativa, Dinotopia cativa desde o começo por seus personagens e, principalmente, pela riqueza de seu universo e de suas ideias, que, afinal de contas, nem parecem tão utópicas assim. Ao contrário do que acontece em Avatar, estas ideias parecem muito mais vivas, fortes, verdadeiras, do povo de Dinotopia para nós, telespectadores, já que elas nos são apresentadas aos poucos, entranhadas nos pequenos gestos e costumes, nos livros, no estilo de vida daquela gente, sendo passadas de geração em geração. O roteiro, aliás, não se trata de nenhuma adaptação, para variar, ainda assim sendo digno daquelas grandes obras, que parecem surgir apenas uma vez a cada ciclo de uma geração para outra. Por tudo isso, os ensinamentos, o romance, as aventuras e ameaças, perdas e conquistas dos personagens e da própria Dinotopia nos parecem reais, vivos, refletindo nossas próprias esperanças, medos, amizades e rivalidades, laços familiares, ambições, frustrações, indignações, amadurecimento e recompensas. Vislumbramos nessa terra de dinossauros e humanos convivendo juntos, em equilíbrio com o restante de uma natureza fantástica, o tipo de mundo que talvez todos nós desejássemos que existisse além de nossas imaginações, talvez certos de que, se nele estivéssemos, seríamos melhores, faríamos melhor do que aqueles aos quais assistimos na tela. Até lembrarmos que, se não conseguimos ser supostamente melhores em nossa própria realidade, como podemos acreditar que em outra seria mais fácil? Não vou iludi-los, porém, dizendo que a versão resumida da história chega aos pés da original. Quando reduzida, perde as bases da narrativa que dão a vida, o detalhamento, o vigor necessários a este universo. Também julgo importante observar que não posso manifestar minha opinião sobre as sequências da minissérie, por não ter interagido com elas. Fiquem tranquilos, no entanto, no sentido de que esta primeira produção não deixa nada em aberto em sua conclusão, de modo algum exigindo uma sequência por si só.
Produção com ótimas atuações, com um trabalho de trilha marcante, bom roteiro e, a crítica atesta, com excelente fotografia e eficientíssimos jogos de câmera. Aos poucos, o mistério ganha corpo sobre a exploração dramática - há quem aponte isso como algo negativo, mas as características citadas não se perdem de vista e culminam na sublime obra de arte dedicada ao final da temporada.
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The Fall (1ª Temporada)
4.3 210The Fall é uma série que poderia ser só mais uma história de um serial killer, mas não o é pelas particularidades que concede à sua narrativa. Aqui o drama é incorporado à investigação da melhor forma possível, com os personagens sendo aprofundados em minúcias, ainda que gradualmente, com a complexidade que a natureza humana de fato pode atingir - complexidade essa que, ironicamente, apesar de tão debatida é frequentemente retratada com tanta superficialidade. Em The Fall, podemos de fato compartilhar muito do que todos - eu disse todos - os personagens sentem, pois todos parecem muito reais e, acima de tudo, muito humanos mesmo nos momentos em que a perversidade se faz mais latente. É ver o que a segunda temporada nos reserva em sua queda pelo abismo da psicologia humana.
Grimm: Contos de Terror (3ª Temporada)
4.3 98Normalmente, não tenho paciência de acompanhar séries do estilo Caso da Semana, mas com Grimm foi e é diferente. O criador da série Buffy mostra mais uma vez que conhece a popular linguagem ficcional televisiva e a usa em seu favor, assinando uma produção de qualidade.
Apesar do Caso da Semana, a trama principal nunca é deixada totalmente de lado. Quem perder alguns episódios pode até pensar que certo caso está mesmo veiculado à questão maior - o que eventualmente, aliás, é verdade e não apenas em princípio ou fins de temporada, nesse aspecto lembrando um pouco bons momentos de Supernatural.
As referências aos clássicos contos de fada são sutis, chegando a servir mesmo como alguma piada no bom e velho estilo humor negro - a referência à Bela Adormecida no princípio da segunda temporada é que o diga.
Outro ponto incrível é como a série parece sentir prazer em quebrar certos clichês e, mesmo quando não o faz, geralmente os apresenta com elegância. Os personagens reagem às situações de um modo muito mais natural e maduro em comparação com o que vemos em produções semelhantes, os diálogos parecem mais verdadeiros e naturais - destaque para cenas retratando a relação entre Nick e Juliette.
E é claro, ressalta-se ainda a boa comédia, o humor tão sutil quanto eficiente, que não precisa roubar cenas para se fazer notar. Ele as integra, torna-se naturalmente uma extensão das mesmas. Sem falar aqui na maravilhosa introdução de uma nova personagem na conclusão desta temporada, que pela sua presença inicial deve prometer grandes momentos.
De fato, para uma série inspirada - eu disse inspirada - em contos de fadas, Grimm realmente mostra que tem uma história, a partir de tantas, para contar.
Dinotopia: A Terra dos Dinossauros
3.1 164Prova de que uma boa história sempre estará muito acima de orçamentos exorbitantes e da forma além do conteúdo. A minissérie faz o que produções como Avatar - mesmo com três horas de duração - apenas tentam, supostamente, fazer. Independente dos 250 minutos de que dispõe para desenvolver sua narrativa, Dinotopia cativa desde o começo por seus personagens e, principalmente, pela riqueza de seu universo e de suas ideias, que, afinal de contas, nem parecem tão utópicas assim.
Ao contrário do que acontece em Avatar, estas ideias parecem muito mais vivas, fortes, verdadeiras, do povo de Dinotopia para nós, telespectadores, já que elas nos são apresentadas aos poucos, entranhadas nos pequenos gestos e costumes, nos livros, no estilo de vida daquela gente, sendo passadas de geração em geração. O roteiro, aliás, não se trata de nenhuma adaptação, para variar, ainda assim sendo digno daquelas grandes obras, que parecem surgir apenas uma vez a cada ciclo de uma geração para outra.
Por tudo isso, os ensinamentos, o romance, as aventuras e ameaças, perdas e conquistas dos personagens e da própria Dinotopia nos parecem reais, vivos, refletindo nossas próprias esperanças, medos, amizades e rivalidades, laços familiares, ambições, frustrações, indignações, amadurecimento e recompensas. Vislumbramos nessa terra de dinossauros e humanos convivendo juntos, em equilíbrio com o restante de uma natureza fantástica, o tipo de mundo que talvez todos nós desejássemos que existisse além de nossas imaginações, talvez certos de que, se nele estivéssemos, seríamos melhores, faríamos melhor do que aqueles aos quais assistimos na tela. Até lembrarmos que, se não conseguimos ser supostamente melhores em nossa própria realidade, como podemos acreditar que em outra seria mais fácil?
Não vou iludi-los, porém, dizendo que a versão resumida da história chega aos pés da original. Quando reduzida, perde as bases da narrativa que dão a vida, o detalhamento, o vigor necessários a este universo. Também julgo importante observar que não posso manifestar minha opinião sobre as sequências da minissérie, por não ter interagido com elas. Fiquem tranquilos, no entanto, no sentido de que esta primeira produção não deixa nada em aberto em sua conclusão, de modo algum exigindo uma sequência por si só.
Les Revenants: A Volta dos Mortos (1ª Temporada)
4.5 318Produção com ótimas atuações, com um trabalho de trilha marcante, bom roteiro e, a crítica atesta, com excelente fotografia e eficientíssimos jogos de câmera. Aos poucos, o mistério ganha corpo sobre a exploração dramática - há quem aponte isso como algo negativo, mas as características citadas não se perdem de vista e culminam na sublime obra de arte dedicada ao final da temporada.