Interestelar (Interstellar) é um filme para ser revisto e revisto, pela riqueza de sua ficção científica, sim, mas fundamentalmente pelo modo como o Elemento Humano é trabalhado na história. Literalmente ao estilo Nolan (irmãos e companhia), na certa uma das melhores obras do diretor - difícil mesmo dizer qual é a melhor delas. Batendo de frente com certa corrente crítica, considero a composição para a trilha sonora do longa, de longe, o melhor trabalho de Hans Zimmer até então - inclusive com potencial para ser imortalizada, por assim dizer -, ainda que em dados momentos da produção ela não tenha sido aplicada do modo ideal (reparem bem, em dados momentos). Quanto à experiência visual e de efeitos sonoros, já é exaltada de sobra no primeiro caso e classificada por mim como nada menos do que esplêndida no segundo - aliás, quem tiver a oportunidade de aproveitar a tecnologia do cinema para assistir ao filme, corra. Atuações incríveis, resultando em cenas dramáticas de fazer chorar até o mais macho, também uma extensão do já característico texto afiado dos filmes de Nolan - inclusive nas piadas. Belíssimo trabalho, que, talvez mais do que qualquer outro assinado por Nolan, só não é tão rico em sua ficção quanto na riqueza de sua humanidade. Obs.: O poema citado ao longo do filme é estupendo - que eu saiba, composto especialmente para o longa e, se o foi, temos no mínimo um novo literato prodígio.
Minha crítica do filme para o blog Cinecessário, afiliado ao grupo RBS - amigos do Face que já leram o texto, por favor ignorem o post, minha conta no Face está veiculada a que tenho no Filmow: http://wp.clicrbs.com.br/cinecessario/2014/10/10/as-impressoes-do-lucas/
Continuando minha série crítica sobre Pedro Almodóvar, a habilidade que esse diretor tem para criar roteiros tão eficientes quanto dinâmicos em sua inventividade é impressionante. Certos acontecimentos parecem assumir um papel central na trama - e por algum tempo de fato o fazem -, só para depois passarem a compor a carga histórica de certo personagem quando este já se relaciona com outras figuras, algumas também já desenvolvidas paralelamente em um plano primário. Assim, Almodóvar é mestre em retratar o universo de relações que traçamos, que se tornam parte de nós e que, ironicamente, tão facilmente esquecemos ao longo da vida, mesmo que suas marcas permaneçam em nosso inconsciente e nos influenciem em escolhas decisivas e para momentos inesquecíveis. Mais do que isso, porém, "Fale com ela" é um romance primoroso, forte, que resgata parte do que há de melhor no gênero e é digno de escritores cujas obras provavelmente jamais serão devidamente adaptadas para as telonas. Um romance que, apesar de melancólico, tem tanto a dizer sobre o amor - Javier Cámara, como Benigno em seu auge, é que o diga. Produção que representou em definitivo a exposição de Almodóvar aos holofotes para o grande público, inclusive concedendo ao espanhol o Oscar de melhor roteiro, "Fale com ela" é taxada como "resultado do amadurecimento do cineasta" por sua narrativa. Aqui não só os famosos números musicais de Almodóvar estão presentes, como ele presta uma singela homenagem a músicos brasileiros, inserindo na trilha uma canção interpretada por Elis Regina e, como auge, uma performance ao vivo de Caetano Veloso, além de em dado momento citar Tom Jobim pela boca de um dos personagens. Como se não bastasse, um curta mudo produzido pelo diretor, inserido em certa parte da história, confere mais um adendo à profundidade deste poderosíssimo romance.
A homenagem ao poder do cinema é ímpar neste filme. Com o que há de melhor em metalinguagem, o longa leva a confusão entre o que é realidade e ficção e da influência que uma tem sobre a outra para além da tela, não só colocando um mesmo personagem na pele de diferentes atores e misturando trechos de uma suposta ficção com cenas de uma suposta realidade, como também tornando o papel da ficção um elemento central para o próprio desenrolar da trama. A frase "Tudo sobre nós é um filme", declarada nos instantes finais da produção, é a culminância dessa homenagem. O roteiro, no entanto, vale alertar, é cheio de nuances e subentendidos, então mesmo para quem mantenha uma boa concentração pode ser vantajoso assistir ao filme novamente. Apenas um ponto é incompreensível para mim: o modo como legendas fazem as vezes de conclusão e que, dado o seu efeito e a própria cena final que as antecede, nem teriam de existir. Incompreensível como um trabalho tão minucioso tenha não apenas deslizado em um ponto tão minimalista mas ao mesmo tempo tão delicado, por envolver justamente a conclusão da obra. De fato, embora eu saiba que a conclusão é o ponto que tão facilmente pode colocar todo um prodígio a ser abafado, senão perdido, as linhas grosseiras e vagas, aparentemente escritas com precipitação, destoam tanto de tudo o que se vê até aí que me pergunto mesmo se Almodóvar agiu como agiu premeditadamente. Tendo em vista que o próprio diretor admitiu sufoco pelas inúmeras possibilidades vislumbradas por ele ao buscar uma versão definitiva para o roteiro, sou forçado a crer com maior intensidade, embora com grande peso no coração, que o espanhol realmente se precipitou no momento decisivo. Ainda assim, é certo que, felizmente no caso de Almodóvar, essa improvável mas aparente afobação não tira o mérito do universo de possibilidades tão bem exploradas a partir do que se optou por abordar. Embora o contexto da história, creio, não justifique por si só a sua opção de narrativa, sem dúvida recomendo muitíssimo o longa. Obs.: Números musicais característicos da cinebiografia de Almodóvar não faltam aqui - destaque para a bela performance de Nacho Pérez.
Conclusão mais macabra do que propriamente surpreendente. Leandra Leal está realmente ótima em sua doçura obsessiva. Papel perfeito para Milhem Cortaz. Thalita Carauta está sensacional - aliás, ironia ou não o humor é um dos pontos fortes do longa: funciona muito bem em sua natureza desbocada num contexto de tanta falsidade. É certo que não se trata de uma história tão surpreendente quanto se pode fazer crer - a própria premissa de sedução louca é batida ao extremo -, mas muito competente em termos técnicos.
Além do bom apuro técnico - inclusive na captura e na mixagem de áudio - chamou muito minha atenção a inserção do sinistro de forma gradativa. Apesar da atmosfera mais do que sombria desde o começo, num primeiro momento a narrativa é suficientemente inofensiva para que passemos longe de imaginar o final tal qual é apresentado. Consequência: o elemento surpresa e um mergulho cada vez mais profundo no desconhecido em favor do impacto a cada etapa da metamorfose do nosso protagonista, culminando, é claro, no "grand finale". Saudações a Antônio Fagundes. Além de, por si só, combinar muito com o personagem que interpreta em trejeitos, sua experiência pesa claramente para conferir ao mesmo maior autenticidade. PS: Número musical da conclusão é imperdível.
Na certa, o melhor longa com Vin Diesel ao qual já assisti ao lado de Eclipse Mortal, o primeiro da franquia. O motivo é simples: os roteiros sabem aproveitar como nenhum outro o perfil do ator. A grande sacada? Fazer desse perfil o centro de tudo, ironicamente sem qualquer sutileza ou disfarce apesar do contexto futurista. Esse contexto, no entanto, fica ainda mais evidente neste longa, mas tanto em A Batalha quanto em Eclipse a grande marca é a realidade dura, desumana, fria, cheia de intemperes, na qual apenas o mais forte, ou ao menos aquele que aparenta sê-lo, é capaz de sobreviver. Eu falei alguma coisa sobre o perfil de Diesel? Pois bem, como podem ver, aqui Diesel pode ser o que é de melhor sem reservas e o é tão bem que todos os perigos que o cercam perdem a relevância, ao menos na maior parte do tempo, e tudo o que desejamos é observar a marra e a fúria de um personagem que é uma extensão daquele que o representa. A produção, portanto, não esconde que seu único propósito é este, exaltar tanto um anti-herói que, por ser quem é, só parece ainda mais intrigante pela humanidade, essa sim, que nele parece faltar, ser introduzida com sutileza e, afinal, parecer tão leviana e por isso mesmo mais admirável. Grande aventura, que só é ela por quem a vive, realmente convencendo o espectador de que é preciso ter culhões para tanto.
Para variar, aborda o tema de aliens de um jeito bem diferente do tradicional. Roteiro original e satisfatoriamente concretizado. A produção consegue mesmo transformar seres singulares em personagens que nos cativam, não por se relacionarem ou não com seres humanos, mas simplesmente por serem quem são.
O roteiro é poderoso desde a sua versatilidade, creditando a capacidade do elenco de evocar num momento romance, noutro drama e noutro suspense sem que essa instabilidade quebre o ritmo da história em momento algum. Muito ao contrário, torna o longa tão espirituoso, vivo e forte quanto o tema que retrata. Assim, os mocinhos saltam aos nossos olhos e torcemos por eles acreditando que, realmente, tudo pode acontecer, inclusive o pior. Felizmente, a conclusão também pode ser interpretada como o mais gritante dos desafios - mesmo que não tenha sido essa a intenção. Eis aí a força do filme, que apesar de eu não poder comparar com o livro certamente podemos no mínimo associar ao orgulho pelo currículo de trabalhos, por assim dizer, desse nosso diretor.
Tão mediano quanto superficial, como se uma biografia devesse ser contada somente ou, pelo menos, quase exclusivamente apenas do ponto de vista do biografado. Saltos no tempo aleatórios e rápidos demais, de modo que o roteiro apresenta pedaços de um mosaico sem saber como juntá-los apropriadamente. Biografia pobre, a narrativa poderia ser trabalhada para que muito mais se falasse da vida de Coelho até os dias presentes - independente dos motivos pelos quais essa pobreza ocorreu, com certeza falta de tempo não serve como justificativa. Tendencioso, o longa erra desde o marketing inserido em seu subtítulo, que não poderia ser mais ridículo tendo-se em vista que a própria sinopse anuncia que o filme foi inspirado em depoimentos do próprio autor (aquele tal ponto de vista). Só mesmo Lucci Ferreira como nosso Maluco Beleza para engrenar algum ritmo à essa história, que de melhor só leva o nome de pior gosto possível.
Roteiro deselegante em alguns momentos, mas a produção é muito instigante, em grande parte pelo acerto de confiar um personagem tão complexo ao experiente Costner. Sequência de conclusão maravilhosa.
Só mesmo diretores como Finsher para transformar a história de um criador de uma rede social em uma narrativa tão singular. Diálogos rápidos, provocantes e intensos graças a atuações como a do próprio Jesse Eisenberg e Justin Timberlake
Ótima adaptação de Finsher. Exceto pela minúcia investigativa que a linguagem literária permite explorar tão bem, no mais está tudo lá: a tensão, a atmosfera melancólica, o roteiro trabalhando muito bem as nuances do mistério e de seus personagens. Sobre Rooney Mara, nem há o que falar: realmente maravilhosa, escolha mais do que digna para sua personagem. Na certa, recomendo muito mais do que a versão russa.
Apesar do desenrolar bastante previsível e do americanismo nada ou muito pouco ridicularizado a partir do título - culpem quem culpar -, o longa é muito eficiente na inserção de seus personagens na trama e nas relações entre os mesmos por intermédio do elenco, os diálogos fluem com naturalidade; o próprio humor aparece nas horas certas, de modo sutil e nem por isso menos eficiente - salve a direção vinda de Community. Sem falar, é claro, no tão recorrente tema da Guerra ao Terror, muito bem trabalhado pelo roteiro.
Ótimo suspense, apesar de eventuais quebras de ritmo no roteiro - não posso fazer comparação com o livro por não o ter lido. Final deve muito agradar ou frustrar. Trabalho de trilha estupendo.
Fraquíssimo. Humor barato, drama pior ainda e a boa e velha ação desmedida. Tudo que eu queria enquanto assistia ao longa era que ele acabasse o quanto antes. Boa notícia: acabou.
Na certa, o melhor da franquia. Roteiro intrincado e inventivo e o principal vilão, oculto até o último instante, funciona melhor que todos os seus sucessores.
História antiga, longa inovador e reflexivo por sua narrativa. Com um roteiro que começa pelo final e segue para trás até terminar pelo princípio, sentimo-nos em parte como o protagonista desmemoriado, que em verdade só sabe onde está e, apenas até certo ponto, com quem está. Já o motivo? Bem, isso o desmemoriado sabe ou acredita saber apenas graças a anotações que ele mesmo faz, em todo lugar possível, inclusive no corpo, e que lhe servem como orientação ou pelo menos como pista. Pois nosso desmemoriado tem um tipo muito específico de amnésia: amnésia recente. Ou seja, nosso homem tem memória curta e a todo instante esquece o que acabou de lhe acontecer. A riqueza de detalhes com que o roteiro retrata e evoca reflexões a partir dessa circunstância é um tributo à profundidade sagaz que envolve trabalhos de Nolan e companhia nas telonas, e que agora começa a ser reconhecida pelo grande público. A narrativa ao contrário não apenas nos ajuda a ficarmos na pele do protagonista, como não tarda a gerar a provocação de que nada tem seu valor além da memória. Ou será que tudo tem um valor muito maior do que podemos imaginar? Se no passado alguém usou e abusou de você, hoje esse mesmo alguém pode fazer as vezes de seu melhor amigo, de seu maior apoio, único socorro, e no íntimo até rir, sonhar e se deliciar pelo que já fez com você, porque você não faz e nunca fará a menor ideia desse passado, porque tudo começa de novo, tudo em branco, não perdoado, mas esquecido. Ora, e o que será o perdão, no final das contas? Todos esses questionamentos são estimulados. Detalhes técnicos também dialogam em minúcia com o espectador atento, por exemplo, alternando entre cenas em preto e branco e coloridas para indicarem momentos temporais específicos. Não deixe de conferir e, se quiser, de perder a memória, ainda que brevemente.
It: A Coisa
3.9 3,0K Assista AgoraMinha crítica do filme, sem spoilers:
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Efeito Borboleta
4.0 2,9K Assista AgoraMinha crítica de Efeito Borboleta para o site Plano Crítico:
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As Aventuras do Avião Vermelho
3.1 12Minha crítica de As Aventuras do Avião Vermelho para o site Plano Crítico:
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As Aventuras de Paddington
3.6 277 Assista AgoraMinha crítica do filme As Aventuras de Paddington para o site Plano Crítico:
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John Wick: De Volta ao Jogo
3.8 1,8K Assista AgoraMinha crítica do filme De Volta ao Jogo para o site Plano Crítico:
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Interestelar
4.3 5,7K Assista AgoraInterestelar (Interstellar) é um filme para ser revisto e revisto, pela riqueza de sua ficção científica, sim, mas fundamentalmente pelo modo como o Elemento Humano é trabalhado na história. Literalmente ao estilo Nolan (irmãos e companhia), na certa uma das melhores obras do diretor - difícil mesmo dizer qual é a melhor delas. Batendo de frente com certa corrente crítica, considero a composição para a trilha sonora do longa, de longe, o melhor trabalho de Hans Zimmer até então - inclusive com potencial para ser imortalizada, por assim dizer -, ainda que em dados momentos da produção ela não tenha sido aplicada do modo ideal (reparem bem, em dados momentos). Quanto à experiência visual e de efeitos sonoros, já é exaltada de sobra no primeiro caso e classificada por mim como nada menos do que esplêndida no segundo - aliás, quem tiver a oportunidade de aproveitar a tecnologia do cinema para assistir ao filme, corra. Atuações incríveis, resultando em cenas dramáticas de fazer chorar até o mais macho, também uma extensão do já característico texto afiado dos filmes de Nolan - inclusive nas piadas. Belíssimo trabalho, que, talvez mais do que qualquer outro assinado por Nolan, só não é tão rico em sua ficção quanto na riqueza de sua humanidade.
Obs.: O poema citado ao longo do filme é estupendo - que eu saiba, composto especialmente para o longa e, se o foi, temos no mínimo um novo literato prodígio.
Garota Exemplar
4.2 5,0K Assista AgoraMinha crítica do filme para o blog Cinecessário, afiliado ao grupo RBS - amigos do Face que já leram o texto, por favor ignorem o post, minha conta no Face está veiculada a que tenho no Filmow:
http://wp.clicrbs.com.br/cinecessario/2014/10/10/as-impressoes-do-lucas/
Fale com Ela
4.2 1,0K Assista AgoraContinuando minha série crítica sobre Pedro Almodóvar, a habilidade que esse diretor tem para criar roteiros tão eficientes quanto dinâmicos em sua inventividade é impressionante. Certos acontecimentos parecem assumir um papel central na trama - e por algum tempo de fato o fazem -, só para depois passarem a compor a carga histórica de certo personagem quando este já se relaciona com outras figuras, algumas também já desenvolvidas paralelamente em um plano primário.
Assim, Almodóvar é mestre em retratar o universo de relações que traçamos, que se tornam parte de nós e que, ironicamente, tão facilmente esquecemos ao longo da vida, mesmo que suas marcas permaneçam em nosso inconsciente e nos influenciem em escolhas decisivas e para momentos inesquecíveis. Mais do que isso, porém, "Fale com ela" é um romance primoroso, forte, que resgata parte do que há de melhor no gênero e é digno de escritores cujas obras provavelmente jamais serão devidamente adaptadas para as telonas. Um romance que, apesar de melancólico, tem tanto a dizer sobre o amor - Javier Cámara, como Benigno em seu auge, é que o diga.
Produção que representou em definitivo a exposição de Almodóvar aos holofotes para o grande público, inclusive concedendo ao espanhol o Oscar de melhor roteiro, "Fale com ela" é taxada como "resultado do amadurecimento do cineasta" por sua narrativa. Aqui não só os famosos números musicais de Almodóvar estão presentes, como ele presta uma singela homenagem a músicos brasileiros, inserindo na trilha uma canção interpretada por Elis Regina e, como auge, uma performance ao vivo de Caetano Veloso, além de em dado momento citar Tom Jobim pela boca de um dos personagens.
Como se não bastasse, um curta mudo produzido pelo diretor, inserido em certa parte da história, confere mais um adendo à profundidade deste poderosíssimo romance.
Má Educação
4.2 1,1K Assista AgoraA homenagem ao poder do cinema é ímpar neste filme. Com o que há de melhor em metalinguagem, o longa leva a confusão entre o que é realidade e ficção e da influência que uma tem sobre a outra para além da tela, não só colocando um mesmo personagem na pele de diferentes atores e misturando trechos de uma suposta ficção com cenas de uma suposta realidade, como também tornando o papel da ficção um elemento central para o próprio desenrolar da trama. A frase "Tudo sobre nós é um filme", declarada nos instantes finais da produção, é a culminância dessa homenagem.
O roteiro, no entanto, vale alertar, é cheio de nuances e subentendidos, então mesmo para quem mantenha uma boa concentração pode ser vantajoso assistir ao filme novamente. Apenas um ponto é incompreensível para mim: o modo como legendas fazem as vezes de conclusão e que, dado o seu efeito e a própria cena final que as antecede, nem teriam de existir. Incompreensível como um trabalho tão minucioso tenha não apenas deslizado em um ponto tão minimalista mas ao mesmo tempo tão delicado, por envolver justamente a conclusão da obra.
De fato, embora eu saiba que a conclusão é o ponto que tão facilmente pode colocar todo um prodígio a ser abafado, senão perdido, as linhas grosseiras e vagas, aparentemente escritas com precipitação, destoam tanto de tudo o que se vê até aí que me pergunto mesmo se Almodóvar agiu como agiu premeditadamente. Tendo em vista que o próprio diretor admitiu sufoco pelas inúmeras possibilidades vislumbradas por ele ao buscar uma versão definitiva para o roteiro, sou forçado a crer com maior intensidade, embora com grande peso no coração, que o espanhol realmente se precipitou no momento decisivo.
Ainda assim, é certo que, felizmente no caso de Almodóvar, essa improvável mas aparente afobação não tira o mérito do universo de possibilidades tão bem exploradas a partir do que se optou por abordar. Embora o contexto da história, creio, não justifique por si só a sua opção de narrativa, sem dúvida recomendo muitíssimo o longa.
Obs.: Números musicais característicos da cinebiografia de Almodóvar não faltam aqui - destaque para a bela performance de Nacho Pérez.
O Lobo Atrás da Porta
4.0 1,3K Assista AgoraConclusão mais macabra do que propriamente surpreendente. Leandra Leal está realmente ótima em sua doçura obsessiva. Papel perfeito para Milhem Cortaz. Thalita Carauta está sensacional - aliás, ironia ou não o humor é um dos pontos fortes do longa: funciona muito bem em sua natureza desbocada num contexto de tanta falsidade. É certo que não se trata de uma história tão surpreendente quanto se pode fazer crer - a própria premissa de sedução louca é batida ao extremo -, mas muito competente em termos técnicos.
Quando Eu Era Vivo
2.9 322Além do bom apuro técnico - inclusive na captura e na mixagem de áudio - chamou muito minha atenção a inserção do sinistro de forma gradativa. Apesar da atmosfera mais do que sombria desde o começo, num primeiro momento a narrativa é suficientemente inofensiva para que passemos longe de imaginar o final tal qual é apresentado. Consequência: o elemento surpresa e um mergulho cada vez mais profundo no desconhecido em favor do impacto a cada etapa da metamorfose do nosso protagonista, culminando, é claro, no "grand finale".
Saudações a Antônio Fagundes. Além de, por si só, combinar muito com o personagem que interpreta em trejeitos, sua experiência pesa claramente para conferir ao mesmo maior autenticidade.
PS: Número musical da conclusão é imperdível.
A Batalha de Riddick
3.1 293 Assista AgoraNa certa, o melhor longa com Vin Diesel ao qual já assisti ao lado de Eclipse Mortal, o primeiro da franquia. O motivo é simples: os roteiros sabem aproveitar como nenhum outro o perfil do ator. A grande sacada? Fazer desse perfil o centro de tudo, ironicamente sem qualquer sutileza ou disfarce apesar do contexto futurista.
Esse contexto, no entanto, fica ainda mais evidente neste longa, mas tanto em A Batalha quanto em Eclipse a grande marca é a realidade dura, desumana, fria, cheia de intemperes, na qual apenas o mais forte, ou ao menos aquele que aparenta sê-lo, é capaz de sobreviver. Eu falei alguma coisa sobre o perfil de Diesel?
Pois bem, como podem ver, aqui Diesel pode ser o que é de melhor sem reservas e o é tão bem que todos os perigos que o cercam perdem a relevância, ao menos na maior parte do tempo, e tudo o que desejamos é observar a marra e a fúria de um personagem que é uma extensão daquele que o representa. A produção, portanto, não esconde que seu único propósito é este, exaltar tanto um anti-herói que, por ser quem é, só parece ainda mais intrigante pela humanidade, essa sim, que nele parece faltar, ser introduzida com sutileza e, afinal, parecer tão leviana e por isso mesmo mais admirável.
Grande aventura, que só é ela por quem a vive, realmente convencendo o espectador de que é preciso ter culhões para tanto.
Distrito 9
3.7 2,0K Assista AgoraPara variar, aborda o tema de aliens de um jeito bem diferente do tradicional. Roteiro original e satisfatoriamente concretizado. A produção consegue mesmo transformar seres singulares em personagens que nos cativam, não por se relacionarem ou não com seres humanos, mas simplesmente por serem quem são.
Clube de Compras Dallas
4.3 2,8K Assista AgoraOscars mais do que merecidos.
O Jardineiro Fiel
3.9 573 Assista AgoraO roteiro é poderoso desde a sua versatilidade, creditando a capacidade do elenco de evocar num momento romance, noutro drama e noutro suspense sem que essa instabilidade quebre o ritmo da história em momento algum. Muito ao contrário, torna o longa tão espirituoso, vivo e forte quanto o tema que retrata. Assim, os mocinhos saltam aos nossos olhos e torcemos por eles acreditando que, realmente, tudo pode acontecer, inclusive o pior. Felizmente, a conclusão também pode ser interpretada como o mais gritante dos desafios - mesmo que não tenha sido essa a intenção. Eis aí a força do filme, que apesar de eu não poder comparar com o livro certamente podemos no mínimo associar ao orgulho pelo currículo de trabalhos, por assim dizer, desse nosso diretor.
Não Pare na Pista - A Melhor História de Paulo …
2.8 141Tão mediano quanto superficial, como se uma biografia devesse ser contada somente ou, pelo menos, quase exclusivamente apenas do ponto de vista do biografado. Saltos no tempo aleatórios e rápidos demais, de modo que o roteiro apresenta pedaços de um mosaico sem saber como juntá-los apropriadamente. Biografia pobre, a narrativa poderia ser trabalhada para que muito mais se falasse da vida de Coelho até os dias presentes - independente dos motivos pelos quais essa pobreza ocorreu, com certeza falta de tempo não serve como justificativa.
Tendencioso, o longa erra desde o marketing inserido em seu subtítulo, que não poderia ser mais ridículo tendo-se em vista que a própria sinopse anuncia que o filme foi inspirado em depoimentos do próprio autor (aquele tal ponto de vista).
Só mesmo Lucci Ferreira como nosso Maluco Beleza para engrenar algum ritmo à essa história, que de melhor só leva o nome de pior gosto possível.
Instinto Secreto
3.6 442 Assista AgoraRoteiro deselegante em alguns momentos, mas a produção é muito instigante, em grande parte pelo acerto de confiar um personagem tão complexo ao experiente Costner. Sequência de conclusão maravilhosa.
A Rede Social
3.6 3,1K Assista AgoraSó mesmo diretores como Finsher para transformar a história de um criador de uma rede social em uma narrativa tão singular. Diálogos rápidos, provocantes e intensos graças a atuações como a do próprio Jesse Eisenberg e Justin Timberlake
Millennium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres
4.2 3,1K Assista AgoraÓtima adaptação de Finsher. Exceto pela minúcia investigativa que a linguagem literária permite explorar tão bem, no mais está tudo lá: a tensão, a atmosfera melancólica, o roteiro trabalhando muito bem as nuances do mistério e de seus personagens. Sobre Rooney Mara, nem há o que falar: realmente maravilhosa, escolha mais do que digna para sua personagem. Na certa, recomendo muito mais do que a versão russa.
Capitão América 2: O Soldado Invernal
4.0 2,6K Assista AgoraApesar do desenrolar bastante previsível e do americanismo nada ou muito pouco ridicularizado a partir do título - culpem quem culpar -, o longa é muito eficiente na inserção de seus personagens na trama e nas relações entre os mesmos por intermédio do elenco, os diálogos fluem com naturalidade; o próprio humor aparece nas horas certas, de modo sutil e nem por isso menos eficiente - salve a direção vinda de Community. Sem falar, é claro, no tão recorrente tema da Guerra ao Terror, muito bem trabalhado pelo roteiro.
O Escritor Fantasma
3.6 582 Assista AgoraÓtimo suspense, apesar de eventuais quebras de ritmo no roteiro - não posso fazer comparação com o livro por não o ter lido. Final deve muito agradar ou frustrar. Trabalho de trilha estupendo.
Guardiões da Galáxia
4.1 3,8K Assista AgoraFraquíssimo. Humor barato, drama pior ainda e a boa e velha ação desmedida. Tudo que eu queria enquanto assistia ao longa era que ele acabasse o quanto antes. Boa notícia: acabou.
Missão: Impossível
3.5 516 Assista AgoraNa certa, o melhor da franquia. Roteiro intrincado e inventivo e o principal vilão, oculto até o último instante, funciona melhor que todos os seus sucessores.
Amnésia
4.2 2,2K Assista AgoraHistória antiga, longa inovador e reflexivo por sua narrativa. Com um roteiro que começa pelo final e segue para trás até terminar pelo princípio, sentimo-nos em parte como o protagonista desmemoriado, que em verdade só sabe onde está e, apenas até certo ponto, com quem está.
Já o motivo? Bem, isso o desmemoriado sabe ou acredita saber apenas graças a anotações que ele mesmo faz, em todo lugar possível, inclusive no corpo, e que lhe servem como orientação ou pelo menos como pista. Pois nosso desmemoriado tem um tipo muito específico de amnésia: amnésia recente. Ou seja, nosso homem tem memória curta e a todo instante esquece o que acabou de lhe acontecer.
A riqueza de detalhes com que o roteiro retrata e evoca reflexões a partir dessa circunstância é um tributo à profundidade sagaz que envolve trabalhos de Nolan e companhia nas telonas, e que agora começa a ser reconhecida pelo grande público. A narrativa ao contrário não apenas nos ajuda a ficarmos na pele do protagonista, como não tarda a gerar a provocação de que nada tem seu valor além da memória. Ou será que tudo tem um valor muito maior do que podemos imaginar? Se no passado alguém usou e abusou de você, hoje esse mesmo alguém pode fazer as vezes de seu melhor amigo, de seu maior apoio, único socorro, e no íntimo até rir, sonhar e se deliciar pelo que já fez com você, porque você não faz e nunca fará a menor ideia desse passado, porque tudo começa de novo, tudo em branco, não perdoado, mas esquecido. Ora, e o que será o perdão, no final das contas? Todos esses questionamentos são estimulados.
Detalhes técnicos também dialogam em minúcia com o espectador atento, por exemplo, alternando entre cenas em preto e branco e coloridas para indicarem momentos temporais específicos. Não deixe de conferir e, se quiser, de perder a memória, ainda que brevemente.