Quando o amor pela comida vem antes do amor erótico. O filme é de uma grandeza estética e cenográfica de tirar o fôlego, embora os atores estejam acanhados em muitas passagens (alguns podem dizer que são contidos ou pudicos, devido à época da história. Tenho dúvidas). As cenas com comidas lembram, em diferentes momentos, um clássico dos anos 80 - "A Festa de Babette" - o que traz um certo charme (ou lembrança nostálgica) ao espectador. Assista de coração aberto e com baixas expectativas.
O tema é de extrema relevância, mas o filme é uma cartilha bem novelesca, para agradar públicos de A à Z. Isso acabou enfraquecendo a experiência. Vale, sem dúvida, pela ótima fotografia!
Imaginação como forma de superação. Como preencher um vazio que atravessa de fora para dentro? O luto contado de forma inversa: uma mãe foge na tentativa de sobreviver à ausência dos filhos e do marido.
O que ainda continuará vivo em Clarisse? Resta apenas o impulso de recriar uma nova vida, embalada por devaneios.
Todos os elementos do diretor estão ali, a começar pelo plano de abertura que privilegia uma árvore no jardim: temos o indício de que atravessaremos o tempo. E sem dúvida a trama aborda a finitude, as mágoas reprimidas e os egos feridos. O filme acontece de modo flutuante e se sustenta mais pelas atrizes (as mulheres e uma menina dominam as atuações), fortalecendo um roteiro que por vezes perde o fôlego, mas que convida sempre o espectador a participar da remontagem dessa "porcelana quebrada", ainda bastante valiosa.
Filme conferido na 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (CineSala). Curiosa trama sobre cobiça e transgressão vinda da Índia, narrando a busca de quatro pastores por um "enriquecimento rápido". O ritmo é extremamente lento e o tom contemplativo da história pode afastar os desavisados. A Natureza aparece como uma personagem que também observa o espectador. Não chega a arrebatar, mas o resultado impressiona e as imagens são carregadas de elevada poesia.
Seria memorável se não fosse tão constrangedor. A premissa é boa, mas a noite mágica azeda após 30 minutos apresentando seus personagens. O diretor erra o tom da narrativa e segue com ela até o desfecho. Os atores são caricatos, excessivos e há um deslumbramento que irrita em diferentes momentos. Vale a experiência apenas pelas locações e a boa fotografia. Força ao Cinema Italiano, que sempre irei defender...quando bem feito.
A trama é flutuante e cheia de hesitações, tentando exprimir os sentimentos difusos e a forte angústia da personagem. É praticamente uma releitura de "Cléo das 5 às 7", só que trazendo a eterna Carrie Bradshaw (não tem como não comparar) na longa caminhada pela cidade.
A ideia de uma reconstrução amorosa em meio uma invasão zumbi é ótima, traz uma força inusitada ao roteiro, mas a experiência vai perdendo a intensidade diante dos atores fracos e do clima anti-gore. O casal central é bonito, limpinho e os cenários bastante assépticos, tudo muito solar para um momento apocalíptico. Os zumbis têm maquiagem pobre, sem uma explicação plausível. No fundo, eu diria que se trata mais de uma metáfora sobre um "amor em decomposição" do que propriamente um filme sobre criaturas errantes.
E nasceu o filme que poderá ser Cult Movie em 2046! Claire Denis continua se reinventando e mirando sua câmera para outras esferas, outros mundos. A trama não faz concessões para ninguém, não oferece pistas por onde caminhará e ainda possui uma atmosfera hipnótica que mistura sexualidade delirante, inocência perdida e desejo por redenção. Não agradará a todos, obviamente, mas o objetivo não é trazer respostas, mas sim deixar o espectador em suspensão.
Vendo o filme tive saudade da "outra Gloria". Esse é o perigo dos remakes: apesar de todo o esforço, pode se tornar um tiro no pé ou uma caricatura da boa forma. Paulina García, a Gloria chilena, encarnou de um jeito mais intimista e redentor o papel, dando vazão a emoções que podiam ser compreendidas tanto pelo olhar como pelos silêncios da personagem.
Você acompanha os personagens durante 4 horas e depois eles não desgrudam mais de sua memória. Tive a oportunidade de conferir no cinema e a experiência foi marcante. Há uma atmosfera de angústia e desolação revelando almas petrificadas pela falta de perspectiva e afeto. Talvez o grande cisma do milênio seja esse mesmo: os humanos se perderam e estão tateando por uma salvação que possivelmente não virá, exatamente pela quebra do afeto e sua desvalorização no mundo. O que será de nós? Qual história ainda valerá a pena ser contada?
Essas são as tramas que valem a pena: a química entre os personagens é bizarra, a história bebe na fonte do folclore escandinavo e o resultado que nasce dessa aproximação é fascinante. Tentar compreender a relação psicológica (e amorosa) da dupla é um dos exercícios mais curiosos que o roteiro propõe. Não recuse essa experiência mística!
Todo o sonho de uma juventude livre de amarras e a angústia de um futuro pintado em negro representados numa obra-prima de 85 minutos. Singelo e imperdível!
Essa foi a grande redenção que Shyamalan aguardava depois de tantos filmes ruins nos últimos anos, com exceção de "Fragmentado". A trama é criativa e repleta de passagens inspiradas, cruzando personagens e momentos já consagrados do diretor. Fica no ar um gosto pela ingenuidade perdida e a aposta no Realismo Fantástico como elementos norteadores das boas histórias, revelando a crença do cineasta de que a vida é feita de cumplicidades e que estas são sustentadas de alguma forma pelo Invisível.
"A rotina tem o seu encanto", como já disse Ozu em seu olhar para a família. Eu diria que a família é o verdadeiro encanto, com suas pequenas alegrias e mazelas que preenchem o cotidiano. Uma das tramas mais inspiradas de Koreeda, quase uma sequência livre-poética de "Ninguém Pode Saber". O filme é uma prova de que a vida acontece nos entreatos e cria possibilidades de realização que somente seriam possíveis no invisível do anonimato.
Apesar da ótima atriz mirim e da boa premissa, o roteiro é sofrível. O cenário lembra um outro filme que já se tornou um clássico entre os cinéfilos, "O Reflexo do Mal", mas não há atmosfera, a relação da personagem com o mundo imaginal é pouco explorada e o tom de fábula se perde rapidamente no meio do milharal. Melhor evitar.
Estranhamente cativante essa trama sobre solitários e soturnos. A filha de Isabelle Huppert é a sua personificação aos 20 anos de idade, mostrando-se à vontade no papel frágil. A química entre ela e um sessentão amargo cria uma história singela sobre pessoas que buscam um sentido na vida: ela por não criar uma sintonia com o mundo moderno e ele por fazer questão de promover uma fuga da realidade. Como bônus, deleite-se com as imagens atemporais de Paris, que sempre vêm para aquecer o espírito dos mais atentos.
Esse foi o meu filme surpresa da MOSTRA 2018! Saí leve da sessão e me emocionei em diferentes passagens, caindo como uma luva às vésperas da decisão eleitoral no país, amenizando o clima pesado e virulento na cidade. A trama traz uma mistura de Éric Rohmer com Eugène Green, revelando personagens angustiados e desejosos por novos rumos, todos ligeiramente anacrônicos. O tom romântico, onírico e amoral é o maior trunfo do diretor, que fecha a experiência sem ser piegas e aponta para uma valorização dos afetos.
Filmes sobre o negrume humano e desejos obscuros que podem brotar de modo violento, geralmente rendem boas histórias. A diretora não gera uma atmosfera fácil e não delimita o espaço entre a sanidade e o terreno do delírio, fazendo o espectador criar a sua própria equação para uma trama carregada de morbidez. Há também um empoderamento do feminino e a mensagem subliminar em apontar a perversidade como uma das características arcaicas do ser humano, que nunca deixa de existir nas relações sociais, a qual se manifesta em diferentes intensidades.
Como se manter vivo em uma existência morta? Talvez esse seja o maior chamado reflexivo para esta nova empreitada de Rampling. Não é um filme fácil, o diretor cria situações enigmáticas que obscurecem ainda mais a trama e todo clima é cru, sem trilha sonora ou desejo de agradar ninguém. O que sabemos é que todo o espaço é de Charlotte, do começo ao fim, a qual penetra a angústia severa e é atravessada por ela como em nenhum filme anterior realizado pela atriz. Apenas assista com atenção, sem criar maiores expectativas, tal como a trama convida o espectador a participar da experiência. Talvez assim o vazio de uma vida possa ser preenchido com alguma humanidade.
O Sabor da Vida
3.8 25Quando o amor pela comida vem antes do amor erótico. O filme é de uma grandeza estética e cenográfica de tirar o fôlego, embora os atores estejam acanhados em muitas passagens (alguns podem dizer que são contidos ou pudicos, devido à época da história. Tenho dúvidas). As cenas com comidas lembram, em diferentes momentos, um clássico dos anos 80 - "A Festa de Babette" - o que traz um certo charme (ou lembrança nostálgica) ao espectador. Assista de coração aberto e com baixas expectativas.
Eu, Capitão
4.0 68O tema é de extrema relevância, mas o filme é uma cartilha bem novelesca, para agradar públicos de A à Z. Isso acabou enfraquecendo a experiência. Vale, sem dúvida, pela ótima fotografia!
Hold Me Tight
3.6 13 Assista AgoraImaginação como forma de superação. Como preencher um vazio que atravessa de fora para dentro? O luto contado de forma inversa: uma mãe foge na tentativa de sobreviver à ausência dos filhos e do marido.
A Verdade
3.2 29 Assista AgoraTodos os elementos do diretor estão ali, a começar pelo plano de abertura que privilegia uma árvore no jardim: temos o indício de que atravessaremos o tempo. E sem dúvida a trama aborda a finitude, as mágoas reprimidas e os egos feridos. O filme acontece de modo flutuante e se sustenta mais pelas atrizes (as mulheres e uma menina dominam as atuações), fortalecendo um roteiro que por vezes perde o fôlego, mas que convida sempre o espectador a participar da remontagem dessa "porcelana quebrada", ainda bastante valiosa.
As Ovelhas Douradas e a Montanha Sagrada
2.3 1 Assista AgoraFilme conferido na 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (CineSala). Curiosa trama sobre cobiça e transgressão vinda da Índia, narrando a busca de quatro pastores por um "enriquecimento rápido". O ritmo é extremamente lento e o tom contemplativo da história pode afastar os desavisados. A Natureza aparece como uma personagem que também observa o espectador. Não chega a arrebatar, mas o resultado impressiona e as imagens são carregadas de elevada poesia.
Noite Mágica
2.9 12Seria memorável se não fosse tão constrangedor. A premissa é boa, mas a noite mágica azeda após 30 minutos apresentando seus personagens. O diretor erra o tom da narrativa e segue com ela até o desfecho. Os atores são caricatos, excessivos e há um deslumbramento que irrita em diferentes momentos. Vale a experiência apenas pelas locações e a boa fotografia. Força ao Cinema Italiano, que sempre irei defender...quando bem feito.
Segredos e Despedidas
2.1 32A trama é flutuante e cheia de hesitações, tentando exprimir os sentimentos difusos e a forte angústia da personagem. É praticamente uma releitura de "Cléo das 5 às 7", só que trazendo a eterna Carrie Bradshaw (não tem como não comparar) na longa caminhada pela cidade.
Dor e Glória
4.2 619 Assista Agora"Escute o que eu te peço: quando eu morrer, quero ser enterrada sem os sapatos, descalça, porque para onde eu vou quero chegar leve de tudo!".
Zoo
3.5 11A ideia de uma reconstrução amorosa em meio uma invasão zumbi é ótima, traz uma força inusitada ao roteiro, mas a experiência vai perdendo a intensidade diante dos atores fracos e do clima anti-gore. O casal central é bonito, limpinho e os cenários bastante assépticos, tudo muito solar para um momento apocalíptico. Os zumbis têm maquiagem pobre, sem uma explicação plausível. No fundo, eu diria que se trata mais de uma metáfora sobre um "amor em decomposição" do que propriamente um filme sobre criaturas errantes.
High Life: Uma Nova Vida
3.1 175 Assista AgoraE nasceu o filme que poderá ser Cult Movie em 2046! Claire Denis continua se reinventando e mirando sua câmera para outras esferas, outros mundos. A trama não faz concessões para ninguém, não oferece pistas por onde caminhará e ainda possui uma atmosfera hipnótica que mistura sexualidade delirante, inocência perdida e desejo por redenção. Não agradará a todos, obviamente, mas o objetivo não é trazer respostas, mas sim deixar o espectador em suspensão.
Gloria Bell
3.4 121 Assista AgoraVendo o filme tive saudade da "outra Gloria". Esse é o perigo dos remakes: apesar de todo o esforço, pode se tornar um tiro no pé ou uma caricatura da boa forma. Paulina García, a Gloria chilena, encarnou de um jeito mais intimista e redentor o papel, dando vazão a emoções que podiam ser compreendidas tanto pelo olhar como pelos silêncios da personagem.
Um Elefante Sentado Quieto
4.2 61Você acompanha os personagens durante 4 horas e depois eles não desgrudam mais de sua memória. Tive a oportunidade de conferir no cinema e a experiência foi marcante. Há uma atmosfera de angústia e desolação revelando almas petrificadas pela falta de perspectiva e afeto. Talvez o grande cisma do milênio seja esse mesmo: os humanos se perderam e estão tateando por uma salvação que possivelmente não virá, exatamente pela quebra do afeto e sua desvalorização no mundo. O que será de nós? Qual história ainda valerá a pena ser contada?
Border
3.6 219 Assista AgoraEssas são as tramas que valem a pena: a química entre os personagens é bizarra, a história bebe na fonte do folclore escandinavo e o resultado que nasce dessa aproximação é fascinante. Tentar compreender a relação psicológica (e amorosa) da dupla é um dos exercícios mais curiosos que o roteiro propõe. Não recuse essa experiência mística!
O Ano de 1985
4.0 45Todo o sonho de uma juventude livre de amarras e a angústia de um futuro pintado em negro representados numa obra-prima de 85 minutos. Singelo e imperdível!
Vidro
3.5 1,3K Assista AgoraEssa foi a grande redenção que Shyamalan aguardava depois de tantos filmes ruins nos últimos anos, com exceção de "Fragmentado". A trama é criativa e repleta de passagens inspiradas, cruzando personagens e momentos já consagrados do diretor. Fica no ar um gosto pela ingenuidade perdida e a aposta no Realismo Fantástico como elementos norteadores das boas histórias, revelando a crença do cineasta de que a vida é feita de cumplicidades e que estas são sustentadas de alguma forma pelo Invisível.
Assunto de Família
4.2 400 Assista Agora"A rotina tem o seu encanto", como já disse Ozu em seu olhar para a família. Eu diria que a família é o verdadeiro encanto, com suas pequenas alegrias e mazelas que preenchem o cotidiano. Uma das tramas mais inspiradas de Koreeda, quase uma sequência livre-poética de "Ninguém Pode Saber". O filme é uma prova de que a vida acontece nos entreatos e cria possibilidades de realização que somente seriam possíveis no invisível do anonimato.
Diamantino
3.2 33"Piruças você é o meu único amor neste mundo!"
American Fable
2.8 15Apesar da ótima atriz mirim e da boa premissa, o roteiro é sofrível. O cenário lembra um outro filme que já se tornou um clássico entre os cinéfilos, "O Reflexo do Mal", mas não há atmosfera, a relação da personagem com o mundo imaginal é pouco explorada e o tom de fábula se perde rapidamente no meio do milharal. Melhor evitar.
Um Segredo em Paris
2.5 6Estranhamente cativante essa trama sobre solitários e soturnos. A filha de Isabelle Huppert é a sua personificação aos 20 anos de idade, mostrando-se à vontade no papel frágil. A química entre ela e um sessentão amargo cria uma história singela sobre pessoas que buscam um sentido na vida: ela por não criar uma sintonia com o mundo moderno e ele por fazer questão de promover uma fuga da realidade. Como bônus, deleite-se com as imagens atemporais de Paris, que sempre vêm para aquecer o espírito dos mais atentos.
Faca no Coração
3.4 68 Assista AgoraAmar é para poucos, encontrar o seu lugar no mundo, também. Delirante, onírico e pulsante! Foi uma experiência incrível conferir na grande tela!
Love Blooms
3.2 2Esse foi o meu filme surpresa da MOSTRA 2018! Saí leve da sessão e me emocionei em diferentes passagens, caindo como uma luva às vésperas da decisão eleitoral no país, amenizando o clima pesado e virulento na cidade. A trama traz uma mistura de Éric Rohmer com Eugène Green, revelando personagens angustiados e desejosos por novos rumos, todos ligeiramente anacrônicos. O tom romântico, onírico e amoral é o maior trunfo do diretor, que fecha a experiência sem ser piegas e aponta para uma valorização dos afetos.
O Animal Cordial
3.4 616 Assista AgoraFilmes sobre o negrume humano e desejos obscuros que podem brotar de modo violento, geralmente rendem boas histórias. A diretora não gera uma atmosfera fácil e não delimita o espaço entre a sanidade e o terreno do delírio, fazendo o espectador criar a sua própria equação para uma trama carregada de morbidez. Há também um empoderamento do feminino e a mensagem subliminar em apontar a perversidade como uma das características arcaicas do ser humano, que nunca deixa de existir nas relações sociais, a qual se manifesta em diferentes intensidades.
Lucky
3.2 16"Fortunata, quem disse que essa vida é melhor do que a outra? Seja como for, essa é a única que temos agora!"
Hannah
3.4 48Como se manter vivo em uma existência morta? Talvez esse seja o maior chamado reflexivo para esta nova empreitada de Rampling. Não é um filme fácil, o diretor cria situações enigmáticas que obscurecem ainda mais a trama e todo clima é cru, sem trilha sonora ou desejo de agradar ninguém. O que sabemos é que todo o espaço é de Charlotte, do começo ao fim, a qual penetra a angústia severa e é atravessada por ela como em nenhum filme anterior realizado pela atriz. Apenas assista com atenção, sem criar maiores expectativas, tal como a trama convida o espectador a participar da experiência. Talvez assim o vazio de uma vida possa ser preenchido com alguma humanidade.